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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


FILOSOFIA DA CIÊNCIA I

2° AVALIAÇÃO
BEATRIZ SOUZA ANDRADE

Dezembro/2023
Belém-PA
1. Tomás Kuhn afirma que “a aquisição de um paradigma e do tipo de
pesquisa mais esotérico que ele permite é sinal de maturidade no
desenvolvimento de qualquer campo científico.” Tendo por base essa
afirmativa de Kuhn explique:
a) Como se dá a evolução de um campo de estudo até atingir o status de
ciência madura.
O desenvolvimento de um campo científico até atingir o status de ciência
madura, conforme a perspectiva de Thomas Kuhn, segue um processo que envolve
fases distintas. Inicialmente, o campo pode se encontrar em um estágio pré-
paradigmático, caracterizado pela ausência de consenso sobre teorias e métodos.
Diferentes escolas de pensamento coexistem, cada uma defendendo abordagens
diversas. Durante essa fase, a competição entre essas abordagens pode ser intensa,
refletindo a falta de uma estrutura teórica unificada.
À medida que a pesquisa avança, uma escola ou abordagem pode começar a
ganhar destaque, marcando o início do período paradigmático. Durante o período
pré-paradigmático, diversas escolas de pensamento coexistiam, exemplificadas por
escolas alquímicas nas ciências naturais, onde alquimistas buscavam compreender a
natureza da matéria por meio de práticas místicas; escolas galênicas e hipocráticas
na medicina, onde diferentes teorias diagnósticas e terapêuticas eram praticadas,
como a teoria dos quatro humores; e escolas geocêntricas e heliocêntricas na
astronomia, representadas pela Escola de Ptolomeu e ideias revolucionárias de
Copérnico, respectivamente. Essas escolas não compartilhavam uma estrutura
teórica unificada, resultando em uma falta de consenso metodológico e teórico no
desenvolvimento científico, marcando o estágio pré-paradigmático antes da
eventual emergência de paradigmas aceitos na ciência normal.
Esse estágio é caracterizado pela adoção de um paradigma dominante, que
fornece um conjunto compartilhado de teorias, métodos e padrões para a
comunidade científica. A ciência normal ocorre dentro dos limites desse paradigma,
com os cientistas resolvendo problemas específicos de acordo com os
princípios estabelecidos. No entanto, à medida que a ciência normal progride,
podem surgir anomalias – fenômenos inexplicáveis dentro do paradigma existente.
Essas anomalias, se persistentes, podem desencadear crises, levando a uma
reavaliação fundamental do paradigma estabelecido. Uma revolução científica pode
ocorrer, resultando na substituição do paradigma antigo por um novo. Com o
tempo, a comunidade científica consolida-se em torno do novo paradigma,
marcando a transição para a maturidade científica.
Assim, a evolução de um campo científico até atingir o status de ciência
madura envolve a superação de estágios pré-paradigmáticos e paradigmáticos,
seguidos por revoluções científicas que redefinem as bases teóricas. A consolidação
em torno de um paradigma estabelecido indica a maturidade da ciência,
caracterizada pela estabilidade, consenso e orientação para a resolução de
problemas dentro dos limites do paradigma aceito.
b) A natureza dessa ciência madura considerando seu caráter esotérico,
especializado e os problemas que estuda.
O caráter esotérico, segundo Thomas Kuhn, caracteriza a natureza especializada
e técnica do conhecimento em uma ciência madura. Ao atingir a maturidade, uma
disciplina científica desenvolve uma linguagem técnica, métodos específicos e conceitos
altamente especializados, formando uma barreira de compreensão que torna o
conhecimento difícil de acessar para aqueles fora do campo. Essa especialização
contribui para a distinção e identidade da comunidade científica madura,
proporcionando uma base sólida de conhecimento compartilhado.
A especialização, conforme Kuhn, implica no desenvolvimento de
conhecimentos e habilidades altamente específicos dentro de uma disciplina científica
madura. Em campos especializados, os pesquisadores adquirem uma compreensão
profunda dos conceitos, métodos e técnicas associados ao paradigma estabelecido. Essa
expertise permite que os cientistas enfrentem problemas complexos dentro da área,
contribuindo para o avanço contínuo do conhecimento dentro dos limites do paradigma
compartilhado pela comunidade científica especializada.
Kuhn identifica três classes de problemas enfrentados pelos cientistas durante o
desenvolvimento científico. A primeira classe envolve a determinação do fato
significativo, exigindo a seleção criteriosa dos eventos e observações mais relevantes. A
segunda classe trata da harmonização dos fatos com a teoria, buscando ajustar e
interpretar dados para manter coerência com as estruturas conceituais estabelecidas. Por
fim, a terceira classe aborda a articulação da teoria, concentrando-se na expansão e
desenvolvimento das estruturas teóricas para enfrentar novas questões. Esses problemas
destacam a complexidade e a interconexão entre observações empíricas, teorias
científicas e o processo evolutivo do conhecimento científico.
2. Tendo por base a polêmica Popper-Kuhn apresente e comente as
divergências entre os dois filósofos quanto aos testes no âmbito da(s)
ciência(s).
As divergências entre as perspectivas de Thomas Kuhn e Karl Popper sobre a
natureza da ciência estão refletidas em suas concepções sobre testes e método científico.
Popper defende o falsificacionismo como critério central para demarcar a
ciência. Para ele, uma teoria científica deve ser formulada de maneira a ser
empiricamente refutável. Os testes na prática, segundo Popper, envolvem a tentativa de
falsificar ou refutar uma teoria por meio de observações ou experimentos. Se uma teoria
resiste a testes rigorosos e não é falsificada, ela ganha aceitação provisória.
Popper destaca a importância de testes que possam potencialmente contradizer a
teoria, enfatizando a necessidade de abordagens críticas e experimentais.
Para Thomas Kuhn, por outro lado, argumenta que durante a ciência normal, os
cientistas não buscam principalmente falsificar suas teorias. Em vez disso, eles
trabalham dentro de um paradigma aceito, resolvendo problemas específicos de acordo
com as normas e métodos estabelecidos.
Os testes durante a ciência normal são mais voltados para a resolução de quebra-
cabeças dentro do quadro teórico existente, em vez de para a refutação total da teoria.
Durante a ciência extraordinária, os testes assumem uma forma diferente. Uma
crise no paradigma vigente pode levar a uma reavaliação fundamental, onde novos
testes e experimentos são realizados para avaliar alternativas paradigmáticas. Em
resumo, enquanto Popper enfatiza a importância da falsificação como método central na
prática científica, Kuhn destaca que, na ciência normal, os cientistas geralmente operam
dentro de um paradigma aceito, resolvendo problemas específicos de acordo com as
normas estabelecidas. As divergências entre essas perspectivas refletem diferentes
abordagens sobre como a ciência avança e como as teorias são testadas e aceitas.
BIBLIOGRAFIA
POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 1972, cap. I
Texto: Falseabilidade e falsificação
KUHN, T. A rota para a ciência normal. In KUHN, T. A estrutura das
revoluções científica. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1975.
Texto: Ciência normal e paradigma
KUHN, T. “Lógica da descoberta ou Psicologia da pesquisa?”. In LAKATOS,
I. e MUSGRAVE, A. A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo:
Cultrix/EDUSP, 1979.
Texto: Pontos em comum e divergências entre Popper e Kuhn

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