Doutorado em Administração e Controladoria | Semestre 2023.1
Docente: José Carlos Lázaro da Silva Filho Discente: Francisco Wellington Ribeiro
Resenha 3* Cientificidade e Kuhn
*KUHN, T. S. A prioridade dos paradigmas. In: KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. 12. ed. São Paulo: Editora Perspectiva, 2013. cap. 4
A construção da ciência, para Kuhn (2013), sucede a formulação dos paradigmas, na
medida que estes funcionam como uma base sobre a qual a pesquisa científica ocorre e evolui. Então, para o autor, as bases ou os fundamentos do conhecimento científico, acumulado historicamente, consistem em importante e imprescindível força para o progresso da ciência, mas não a única. Para Kuhn, os cientistas, além da exigência dos paradigmas, também podem ser guiados por regras (leia-se, pressupostos ou racionalização), ou seja, a ideia de que a ciência se constrói e evolui fundamentalmente sobre regras é apenas parcialmente verdadeira. Para o autor, uma influência muito significativa para o direcionamento da ciência é o conhecimento científico acumulado ao longo do tempo, que define determinados paradigmas. E sob um mesmo paradigma, que é a base, Kuhn afirma que uma comunidade científica pode concordar, mas, sem entrar em acordo sobre as regras ou as formas de interpretação e racionalização associadas ao paradigma. Portanto, podemos perceber que existe algo basilar na concepção de Kuhn, que é a premissa de que o conhecimento existente é coletivo e derivado de conhecimento anterior. Assim, a questão do contexto científico vigente desempenha forte papel na construção da pesquisa científica, a qual resulta do paradigma assumido e pode resultar também (não condicionante) do contorno originado de regras assumidas pela comunidade científica em determinado campo. Kuhn, então, aponta quatro razões para se admitir que uma comunidade científica pode se enquadrar em determinado paradigma, mesmo sob a ausência de regras relacionadas à pesquisa científica campo desta comunidade. Um primeiro apontamento do autor, expressa que existe uma dificuldade em se descobrir as regras que guiam as tradições da ciência normal. Em seguida, ele aponta para a natureza da educação científica, a qual ocorre em dado contexto, o qual dar uma noção de peculiaridade às teorias e aos conceitos que são evidenciados por diferentes conjuntos de paradigmas que fundamentam essas próprias teorias e próprios conceitos. Ou seja, são os diferentes paradigmas que justificam ou validam as diferentes teorias e conceitos, sob o imperativo da contextualização ou aplicação prática à resolução de um problema. Continuando com os enunciados das razões para a prioridade dos paradigmas, Kuhn aponta as que regras não são necessárias enquanto a comunidade científica aceita as soluções propostas para os problemas, ou seja, a desconfiança de um paradigma justificaria um aumento da importância das regras usadas para pesquisa melhores soluções. Por fim, conforme o autor, uma última razão seria a possibilidade que revoluções científicas ocorressem apenas em especializações de um determinado campo de estudo. Então, para Kuhn, revoluções grandes e revoluções pequenas dependem sobretudo da perspectiva de quanto é ou não é especializado um determinado conhecimento em um dado campo de estudo, fazendo com que uma descoberta possa ser uma verdadeira revolução para uma área especializada de um campo científico específico. Na visão de Kuhn, muitas regras estabelecidas na ciência já estão, em alguma medida, intrinsecamente incorporadas pelos cientistas, entretanto, a existência de paradigmas não implica necessariamente na existência dessas regras. Além do mais, para o autor, diferentes comunidades científicas, com suas respectivas experiências, proporcionam diferentes teorias, leis e conceitos sobre um mesmo fenômeno, tendo respaldo em diferentes paradigmas científicos. Assim, percebe-se que Kuhn sugere que um mesmo fenômeno pode ser percebido e descrito teórica e conceitualmente sob diferentes perspectivas científicas, o que parece ser verdadeiro em todos os espectros das ciências – exatas, naturais, sociais etc. Neste caso, os paradigmas funcionam como modeladores das noções abstrata e concreta daquilo que se debruça em buscar se conhecer. Nesse sentido, o que é bastante caro para Kuhn, é que a ciência não busca uma verdade sobre um fenômeno, e sim, a proposição de soluções para um determinado problema. E a pesquisa científica empreendida para se alcançar determinada solução tem como base paradigmas e pode ter como suporte um conjunto de regras (novamente, leia-se, pressupostos ou racionalização). Daí ser plausível e factível que diferentes cientistas, de um mesmo campo de estudo ou de campos de estudo diferentes, divirjam na forma de compreensão de um mesmo fenômeno, como bem menciona Kuhn.
MALIK, Kenan. O espelho da raça: o pós-modernismo e a louvação da diferença. In: WOOD. Ellen e FOSTER. John Bellamy (orgs.) Em defesa da história: marxismo e pós-modernismo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.