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REVISÃO

1. O período de pré-ciência é caracterizado pela existência de várias escolas e


investigadores com diferentes perspetivas sobre a natureza do seu campo de investigação, dos
pressupostos teóricos e metafísicos a adotar, bem como dos métodos, instrumentos e técnicas
e utilizar. Não se distinguindo o que é acidental do que é relevante para a investigação, nem
existindo um esforço concertado entre os investigadores para a chegada a um consenso, estes
não têm qualquer garantia de que estão a percorrer o caminho certo. Assim, a investigação
neste período pouco ou nada se afasta do ponto de partida.
2. A passagem do período de pré-ciência para a investigação propriamente dita acontece
com a emergência de um paradigma que é capaz de unificar os investigadores de um
determinado campo numa comunidade científica. A confiança no paradigma agora surgido
coloca fim ao debate entre as diferentes escolas acerca dos fundamentos da disciplina e
permite que os teóricos, convictos de que poderão estar no caminho certo, deixem de se
preocupar com aspetos gerais da sua área de estudo e se concentrem em projetos de maior
envergadura, mais específicos e direcionados, desenvolvendo instrumentos e equipamentos
que permitam um estudo mais preciso e rigoroso da natureza. Deste modo, o paradigma
transforma um determinado campo de investigação em ciência propriamente dita, ou seja,
numa atividade sistemática e orientada, empenhada na solução de problemas concretos e não
na reavaliação permanente dos seus fundamentos.
3. Um paradigma é uma teoria amplamente aceite e com grande poder explicativo, que
põe fim ao desacordo profundo existente entre as escolas e os investigadores, favorecendo a
constituição de uma comunidade científica. Podemos também dizer que um paradigma é um
modelo, ou uma matriz disciplinar, adotado pela comunidade científica durante um
determinado período, ao abrigo do qual é realizada a investigação em ciência.
4. Um paradigma inclui, pressupostos teóricos fundamentais, aplicações-tipo, princípios
metafísicos, instruções técnicas e metodológicas e orientações gerais.

DISCUSSÃO
5. Opção A: Sim. Poderá existir ciência sem paradigma se assumirmos que algumas das
maiores descobertas científicas da humanidade aconteceram através dos estudos de um
investigador isolado na ausência de uma comunidade científica e de um paradigma pelo qual
devia direcionar e orientar toda a sua investigação.
Opção B: Não. Não poderá existir ciência sem paradigma porque o paradigma, sendo uma
estrutura teórica que oferece uma visão do mundo, é o que vai indicar à comunidade científica
o que investigar e como investigar, à luz dos seus pressupostos, pelo que é a aceitação de um
paradigma que orienta a comunidade de investigadores para o sucesso da prática científica.

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REVISÃO
1. Durante o período de ciência normal, os cientistas estão empenhados em consolidar o
paradigma tornando-o cada vez mais preciso, consistente e de acordo com a natureza. A
função do cientista neste período será, portanto, alargar o âmbito e o alcance do paradigma.
Como tal, o trabalho do cientista consiste na resolução de puzzles e enigmas, numa tentativa
de melhorar a afinação entre a realidade e o paradigma e na sua aplicação a novas áreas e na
construção de equipamento adequado às exigências experimentais.

2. Nem sempre o trabalho de resolução de enigmas, característico do período de ciência


normal, decorre de acordo com o esperado. Por vezes, os cientistas tropeçam em
acontecimentos que o paradigma vigente pode não conseguir explicar de modo adequado. No
entanto, uma vez que estes percalços experimentais fazem parte de um qualquer processo de
investigação, pequenas anomalias são normalmente vistas com repúdio pela comunidade
científica. Contudo, quando o fracasso se torna persistente de tal forma que ponha em causa as
convicções ou maneiras de proceder aceites, a confiança no paradigma vigente é naturalmente
abalada e a ciência entra em crise.
3. Durante o período de ciência extraordinária, os acordos intersubjetivos desaparecem e
a comunidade científica divide-se em duas fações: os conservadores – que continuam a seguir
o velho paradigma mesmo perante a iminência do seu fracasso – e os revolucionários – que
procuram uma revisão completa dos fundamentos do paradigma, de modo a traçar um novo
paradigma capaz de solucionar as anomalias anteriormente detetadas.
4. Kuhn deu o nome de “revolução científica” ao processo através do qual se opera a
substituição de um paradigma por outro, ou seja, quando os defensores do novo paradigma
triunfam sobre os partidários do velho paradigma e este é substituído.
5. Kuhn estabelece uma analogia entre as revoluções políticas e as revoluções científicas.
De facto, ambas começam da mesma forma, ou seja, um sentimento crescente restrito a um
segmento da comunidade de que os moldes em que se circunscreve o trabalho, quer político,
quer científico começa a não se enquadrar com as exigências da realidade envolvente, como é
referido no texto: “a sensação de que as coisas não estão a funcionar bem”. E é precisamente
essa sensação que se apresenta como um pré-requisito para uma possível mudança – neste
caso, uma revolução, seja em que contexto for.

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REVISÃO
1. A tese da incomensurabilidade de paradigmas mostra-nos que não existe uma medida
comum, ou um padrão neutro que permita objetivamente estabelecer a superioridade de um
paradigma em relação a outro.
2. De acordo com Kuhn, os critérios que devemos utilizar na avaliação ou escolha de
teorias são: a precisão, a consistência, a abrangência, a simplicidade e a fecundidade. Estes são
critérios objetivos que qualquer boa teoria científica deve respeitar.
3. Kuhn considera que os critérios objetivos não são suficientes para ditar a preferência
por um paradigma em vez de outro, pois a sua vagueza e a ausência de uma orientação
concreta acerca do peso relativo a cada um deles faz com que cientistas diferentes tomem
decisões diferentes utilizando os mesmos critérios.
4. Os argumentos apresentados por Kuhn a favor da tese da incomensurabilidade de
paradigmas mostram-nos que, se os paradigmas fossem comensuráveis, seria possível justificar
a preferência por um paradigma através de critérios puramente objetivos. Mas, como isso não
é possível, então os paradigmas são incomensuráveis. Por outro lado, o facto de os termos
científicos adquirirem o seu significado através de uma rede de significados no seio de um
dado paradigma faz com que Kuhn reforce a sua crença de que os paradigmas são
incomensuráveis, pois os mesmos termos têm significados diferentes em paradigmas
diferentes. Tudo isto mostra que a comparação objetiva entre dois paradigmas para declarar a
superioridade de um em relação ao outro é impossível.

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REVISÃO
1. C.
2. A.
3. De entre os principais contributos de Kuhn para a compreensão da atividade científica
destacam-se os seguintes: o filósofo mostrou que a ciência é influenciada não apenas por
fatores objetivos, mas também por fatores subjetivos; mostrou que o cientista é visto como
alguém que soluciona puzzles e não como um explorador do desconhecido. Por fim, mostrou
que a fé e convicção depositadas no paradigma promovem no cientista uma profunda
resistência à mudança mesmo na presença de severas anomalias.
DISCUSSÃO
4. Opção A: Sim. Os paradigmas são efetivamente incomensuráveis porque não existe
uma medida comum ou um padrão neutro que permita objetivamente estabelecer a
superioridade de um paradigma em relação a outro. Como tal, a passagem de um paradigma
para outro é uma forma radicalmente nova e única de olhar para o mundo.
Opção B: Não. Os paradigmas não são incomensuráveis porque se eles fossem de facto
incomensuráveis não podíamos afirmar que as teorias atuais estão mais próximas da verdade
do que as suas antecessoras; mas é inegável que, olhando para a forma como atualmente é
possível, através da ciência, explicar e prever os fenómenos da natureza, estamos hoje mais
perto da verdade do que antes, o que nos mostra que os paradigmas não são incomensuráveis.

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