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TESTE DE AVALIAÇÃO

Versão 2
Escola Secundária Homem Cristo

2019-2020 Português 11.º A

Nome: ____________________________________________N.º: _______ Duração do teste: 100 minutos

Identifique de forma legível a versão do teste.

Utilize apenas caneta ou esferográfica de tinta azul ou preta.

Não é permitida a consulta de dicionário.

Não é permitido o uso de corretor. Risque aquilo que pretende que não seja classificado.

Para cada resposta, identifique o grupo e o item.

Apresente as suas respostas de forma legível.

Ao responder, diferencie corretamente as maiúsculas das minúsculas.

Apresente apenas uma resposta para cada item.

As cotações dos itens encontram-se no início do enunciado do teste.

COTAÇÕES

Item
Grupo
Cotação (em pontos)
I 1. 2. 3.
Parte A 20 20 20 60
I 1. 2. 3.
Parte B 20 20 20 60
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10.
II
8 8 8 8 8 8 8 8 8 8 80
TOTAL 200
Grupo I

Apresente as suas respostas de forma bem estruturada.

A
Leia o texto.

Era uma hora, e estava Simão defronte do convento, contemplando uma a uma as
janelas. Em nenhuma vira o clarão de luz; luz, só a do lampadário do Sacramento se
coava baça e pálida na vidraça duma fresta do templo. Sentou-se nas escadarias da igreja,
e ouviu ali, imóvel, as quatro horas. Das mil visões que lhe relancearam no atribulado
5 espírito, a que mais a miúdo se repetia era a de Mariana suplicante, com as mãos postas;
mas, ao mesmo tempo, cria ele ouvir os gemidos de Teresa, torturada pela saudade,
pedindo ao Céu que a salvasse das mãos de seus algozes. O vulto de Tadeu de
Albuquerque, arrastando a filha a um convento, não lhe afogueava a sede de vingança;
mas cada vez que lhe acudia à mente a imagem odiosa de Baltasar Coutinho,
10 instintivamente as mãos do académico se asseguravam da posse das pistolas. […]
Momentos depois, viu Simão chegar à portaria Tadeu de Albuquerque, encostado ao
braço de Baltasar Coutinho. O velho denotava quebranto e desfalecimento. O de Castro
Daire, bem composto de figura e caprichosamente vestido à castelhana, gesticulava com
aprumo de quem dá as suas irrefutáveis razões, e consola tomando a riso a dor alheia.
15 – Nada de lamúrias, meu tio! – dizia ele. – Desgraça seria vê-la casada! Eu prometo-
-lhe antes de um ano restituir-lha curada. Um ano de convento é um ótimo vomitório do
coração. Não há nada como isso para limpar o sarro1 do vício em corações de meninas
criadas à discrição. Se meu tio a obrigasse, desde menina, a uma obediência cega, tê-la-
ia agora submissa, e ela não se julgaria autorizada a escolher marido.
20 – Era uma filha única, Baltasar! – dizia o velho, soluçando.
– Pois por isso mesmo – replicou o sobrinho. – Se tivesse outra, ser-lhe-ia menos
sensível a perda, e menos funesta a desobediência. Faria a sua casa na filha mais querida,
embora tivesse de impetrar2 uma licença régia para deserdar a primogénita. Assim, agora
não vejo outro remédio senão empregar o cautério3 à chaga; com emplastros3 é que não
25 se faz nada.
Abriu-se novamente a portaria, e saíram as três senhoras, e após elas Teresa.
Tadeu enxugou as lágrimas, e deu alguns passos a saudar a filha, que não ergueu do
chão os olhos.
– Teresa… – disse o velho.
30 – Aqui estou, senhor – respondeu a filha, sem o encarar.
– Ainda é tempo – tornou Albuquerque.
– Tempo de quê?
– Tempo de seres boa filha.
– Não me acusa a consciência de o não ser.
35 – Ainda mais?!... Queres ir para tua casa, e esquecer o maldito que nos faz a todos
desgraçados?
– Não, meu pai. O meu destino é o convento. Esquecê-lo nem por morte. Serei filha
desobediente, mas mentirosa é que nunca.

Camilo Castelo Branco, Amor de perdição (cap. X),Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2006.

1
imundice; 2 requer, pedir; 3 cautério e emplastros: métodos curativos por meio de queima ou de pensos,
respetivamente (significando "matar o mal pela raiz").




1. Explicite as críticas às convicções sociais da época evidentes neste excerto.

2. Demonstre que o sentimento que une Teresa e Simão exemplifica o tema do “amor-paixão”.

3. Explicite três traços caracterizadores de Teresa, à luz do tópico “herói romântico”.

Leia o excerto de Frei Luís de Sousa. Se necessário, consulte as notas.

CENA VIII

MADALENA, MANUEL DE SOUSA, JORGE

MADALENA – Jorge, meu irmão, meu bom Jorge, vós, que sois tão prudente e refletido, não dais nenhum peso
às minhas dúvidas?

5 JORGE – Tomara eu ser tão feliz que pudesse, querida irmã.

MADALENA – Pois entendeis?...

MANUEL – Madalena… senhora! Todas estas coisas são já indignas de nós. Até ontem, a nossa desculpa, para
com Deus e para com os homens, estava na boa fé e seguridade de nossas consciências. Essa acabou. Para nós
já não há senão estas mortalhas (tomando os hábitos de cima da banca) e a sepultura de um claustro. A resolução
10 que tomámos é a única possível; e já não há que voltar atrás… Ainda ontem falávamos dos condes de Vimioso...
Quem nos diria... oh! Incompreensíveis mistérios de Deus!... Ânimo, e ponhamos os olhos naquela cruz! – Pela
última vez, Madalena... pela derradeira vez neste mundo, querida... (Vai para a abraçar e recua). Adeus, adeus!
(Foge precipitadamente pela porta da esquerda.)

CENA IX
15
MADALENA, JORGE; coro dos frades dentro

MADALENA – Ouve, espera; uma s., uma s. palavra, Manuel de Sousa!... (Toca o órgão dentro.)

CORO (dentro) – De profundis clamavi ad te, Domine; Domine, exaudi vocem meam1.

MADALENA (indo abraçar-se com a cruz) – Oh, Deus, Senhor meu! pois já, já? Nem mais um instante, meu
Deus? – Cruz do meu Redentor, ó cruz preciosa, refúgio de infelizes, ampara-me tu, que me abandonaram
20 todos neste mundo, e já não posso com as minhas desgraças... e estou feita um espetáculo de dor e de espanto
para o céu e para a terra! – Tomai, Senhor, tomai tudo...
A minha filha também?... Oh! a minha filha, a minha filha... também essa vos dou, meu Deus. E, agora, que
mais quereis de mim, Senhor? (Toca o órgão outra vez.)

CORO (dentro) – Fiant aures tuae intendentes; in vocem deprecationis meae2.

25 JORGE – Vinde, minha irmã, é a voz do Senhor que vos chama. Vai começar a santa cerimónia.

MADALENA (enxugando as lágrimas e com resolução) – Ele foi?

JORGE – Foi sim, minha irmã.

MADALENA (levantando-se) – E eu vou. (Saem ambos pela porta do fundo).

Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa (ato III), Porto, Edições Caixotim, 2004, pp. 144-146.

1 do mais profundo do ser clamo a ti, Senhor; Senhor, ouve a minha voz
2 estejam os teus ouvidos atentos à voz da minha súplica
1. Estabeleça uma comparação entre o ponto de vista de D. Madalena e de Manuel de Sousa Coutinho face à
situação que estão a viver.

2. Caracterize a evolução do estado de espírito de D. Madalena, considerando as suas intervenções.

3. Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando da tabela a opção adequada a cada espaço.
Neste excerto, estão presentes algumas características estilísticas e linguísticas recorrentes em Frei Luís de Sousa,
como, por exemplo, em: «...e estou feita um espetáculo de dor e de espanto para o céu e para a terra! – Tomai,
Senhor, tomai tudo...» (linhas 20 e 21). Nesta citação ocorrem ____a)____ para enfatizar ____b)____.

a) b)

1. a anáfora, a frase exclamativa e a metáfora 1. a alienação de Madalena e a sua


decisão de encetar uma vida religiosa
2. a audição, as frases suspensas e o pleonasmo
2. a surpresa dos circunstantes e a sua
3. a repetição, o vocativo, a frase exclamativa e a
piedade
metáfora
3. a compaixão do Senhor e a sua
4. as frases entrecortadas, a metonímia e a metáfora
misericórdia
4. o desespero da personagem, a sua dor
e a sua aceitação do destino que lhe
está reservado


























Grupo II

Leia o texto. Se necessário, consulte as notas.

Guia para 2020. Uns puxões de orelha de Camilo


Outros hão de preferir começar o ano com as banais e desoladoras frases de motivação, essas
que como passas se engolem e não afetam o paladar nem dão trabalho ao estômago. Nós não.
O mundo pode estar velho, agastado, a sentir-se exausto, mas se lhe prometem algo novo, e fresco,
algo por estrear, ainda se aperalta, põe uma expressão doce, mostra-se ingénuo, disposto a perdoar tudo.
5 Tornou-se pródigo no que toca a esquecer. Finge-se se preciso, risca-se, vira-se a página, tentando
quebrar o tempo... Só depois nos damos conta do quanto a nossa cabeça parece estremecer com todo o
esquecimento, como se não lembrar fosse o seu grande cuidado, criar uma barragem, impedindo o
passado de afogar essa réstia de encantamento que mantemos em relação ao futuro. Mas e se nos
virássemos logo no arranque deste ano para um fantasma incandescente, um monstro de lembranças?
10 Afinal, a memória foi já a maior herança, e não deixa de nos lembrar que a vida não corre num sentido
apenas, mas nos atinge como um turbilhão.
Assim, tomando em mãos as 1000 frases de Camilo Castelo Branco, uma edição do ano que findou,
com seleção de Luís Naves, escolhemos algumas. Não as mais encorajantes, nem os estribilhos1 que se
usam para dar o grito de partida, mas algumas que nos sacudam da ressaca, frases das que sabem como
15 bons puxões de orelha. Um guia para 2020 ou outro ano qualquer. Umas poucas achas para se criar, não
um fogo de lareira, mas um farol. É um convite para a abrasadora obra que se divide em dramas mais
sentimentais ou burlescos2, pedras de afiar de um génio que nos diverte e entretém, nos ganha a
confiança e surpreende; embebeda-nos, dá-nos sovas, diz-nos o pior e o melhor da vida, trata a morte
sem pavor nem cerimónias, e uma obra que, passado bem mais de um século, mesmo nessas
20 cristalizações que, se inicialmente nos parecem datadas, acabam por converter-nos, afeiçoar-nos a um
modo de narrar muitíssimo matreiro, cheio de recados, que nos passa um braço sobre os ombros, e que
se parece mais, afinal, com uma forma de companheirismo. Naquela prosa está não apenas «o verniz
dos mestres», mas encontra-se a língua portuguesa «genuína, opulentada de todos os vocábulos que uma
retentiva3 paciente é capaz de ir colher aos vernaculismos4 do povo e das bibliotecas», mas está ainda,
25 como vincou Fialho de Almeida, «o instrumento vivo e acirrante5 dum espírito de artista, que por
profundo e multíplice, houve mister6, como os órgãos das catedrais, de exprimir por tubos de cobre a
potência orquestral da sua voz».
Por tudo isso, por outras tantas coisas mais, e por aquilo de que Camilo chegou a desculpar-se ao
leitor do seu tempo – «o estilo esfalfado7 com que venho a depravar-lhe o paladar, afeito8 às apimentadas
30 iguarias do romance» –, vale a pena hoje recuperar esta presença animadora, mesmo (ou até mais)
quando nos diz coisas terríveis. Uma prosa para desenjoar, por ser dura, às vezes molesta, mas que
teimou no seu romantismo, na sua sagaz tradição em que o erudito e o popular trocam fogo e se refletem
como o céu e o inferno. «Eu canto o que escrevo», gabava-se ele, «e, se a toada me destoa no tímpano,
desmancho a oração em partes, ajusto-a de novo, calafeto-as9 de artigos, e pronomes, e conjunções, o
35 mais afrancesadamente que posso, e sai-me uma coisa um pouco ininteligível, mas harmoniosa como
um clarinete de romeiro em S. Torcato de Guimarães». […]

Diogo Vaz Pinto, Jornal i, 2/1/2020


(disponível em: http://ionline.sapo.pt, consultado em janeiro de 2020).
1
estribilhos: palavras ou expressões que alguém repete com frequência. 2burlescas: que incitam o riso por serem ridículos. 3retentiva: faculdade de reter na memória.
4
vernaculismos: purezas da linguagem. 5acirrante: estimulante. 6mister: necessidade. 7esfalfado: cansado; sem força. 8afeito: acostumado. 9calafeto-as: vedo-as
(frestas ou fendas).
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

1. De acordo com Diogo Vaz Pinto, na entrada de um ano novo,


(A) suprimimos todas as memórias, mudando a forma de agir.
(B) é-nos difícil deixar o passado e encantarmo-nos com o futuro.
(C) imediatamente nos apercebemos que as memórias persistem.
(D) procuramos esquecer o passado, crentes num futuro melhor.

2. As frases selecionadas da edição 1000 frases de Camilo Castelo Branco


(A) produzem em nós um efeito de alerta, uma consciencialização.
(B) correspondem a lugares-comuns pelo seu cariz corrente.
(C) provocam-nos uma sensação de bem-estar e de otimismo.
(D) proporcionam-nos alento pelo conteúdo encorajador.

3. Do ponto de vista do autor, o leitor afeiçoa-se à obra de Camilo Castelo Branco pela
(A) visão pessimista e derrotista que transpõe para a abordagem dos temas.
(B) forma como dá a conhecer formas de agir muito diferentes da sua.
(C) diversidade temática e de abordagens que a aproximam da atualidade.
(D) constância no tratamento dos temas, mesmo nos mais incomodativos.

4. Relativamente à língua portuguesa, a prosa de Camilo Castelo Branco


(A) acerca-se, pelo seu vernaculismo, da linguagem popular.
(B) ostenta uma multiplicidade e pureza vocabular de origens diversas.
(C) caracteriza-se pela escassez de vocabulário erudito.
(D) aproxima-se, no domínio vocabular, do romance cultivado na época.

5. A expressão «...e não deixa de nos lembrar que a vida não corre num sentido apenas, mas nos atinge como um
turbilhão.» (ll. 10 e 11) está presente a coesão
(A) gramatical frásica.
(B) gramatical referencial.
(C) gramatical interfrásica.
(D) gramatical temporal.

6. Identifique as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões:


a) «de encantamento» (linha 8).
b) «em dramas mais sentimentais ou burlescos» (linhas 16 e 17).

7. Identifique a formação das seguintes palavras:


a) “arranque” (l.9).
b) “lembrar” (l.7).

8. Classifique os deíticos sublinhados em «Eu canto o que escrevo» (linha 33).

9. Indique a função sintática do pronome presente no seguinte segmento “...e sai-me uma coisa um pouco ininteligível,”
(l. 35).

10. Identifique e classifique as orações presentes na seguinte frase: “...nem os estribilhos que se usam para dar o grito
de partida, mas algumas que nos sacudam da ressaca, ...” (l. 13 e 14).

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