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PESQUISA EM EDUCAÇÃO

DISCUSSÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DE
PRODUÇÕES DO PPGE/UFPB (2013-2017)
Eduardo Jorge Lopes da Silva
Ana Cláudia da Silva Rodrigues
Organizadores

Silvio Sánchez Gamboa

PESQUISA EM EDUCAÇÃO
DISCUSSÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DE
PRODUÇÕES DO PPGE/UFPB (2013-2017)

EDITORA DO CCTA
JOÃO PESSOA
2019
Capa: Rudah Silva - Foto: “Minimal pencils on yellow”, por Joanna
Kosinska (https://unsplash.com/@joannakosinska)
Projeto gráfico: José Luiz da Silva
Bibliotecária responsável: Suziquine Ricardo da Silva
Ficha catalográfica elaborada na Biblioteca Setorial do CCTA da Universidade Federal da Paraíba

P474 Pesquisa em educação: discussões teórico-metodológicas de


produções do PPGE/UFPB (2013-2017) / Organizadores:
Eduardo Jorge Lopes da Silva, Ana Cláudia da Silva
Rodrigues; prefácio de Sílvio Sánchez Gamboa. – João
Pessoa: Editora do CCTA, 2019.
250 p. : il.

ISBN: 978-85-9559-161-5

1. Educação - Pesquisa. 2. Pesquisas em Educação –


UFPB. 3. Produção Científica – PPGE/UFPB. 4. Educação
Popular. 5. Política Educacional. 5. Educação Geográfica.
I. Silva, Eduardo Jorge Lopes da. II. Rodrigues, Ana Cláudia da
Silva.

UFPB/BS-CCTA CDU:37

Foi feito depósito legal


Todos os textos são de responsabilidade dos autores.
EDITORA DO CCTA/UFPB
Cidade Universitária – João Pessoa – Paraíba – Brasil
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Adriége Matias Rodrigues
Alexandre Nascimento da Silva
Aline Rodrigues de Almeida
Anderson Santos de Santana
Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta
Bruna Kedman Nascimento de Souza Leão
Déborah Kallyne Santos da Silva
Flávia Mayara Félix Dantas
Francisca Natália da Silva Ramos
Gessica Mayara de Oliveira Souza
Iranir Pontes Silva
Jailson Batista dos Santos
João Djane Assunção da Silva
Josilene Rodrigues da Silva
José Rodolfo do Nascimento Pereira
Juliana Maia Tavares
Lívia Maria Montenegro Lins
Marcilane da Silva Santos
Marcondes dos Santos Lima
Maria Liliane Santos da Silva
Maria Selma Santos de Santana
Maria Thais de Oliveira Batista
Nívea Maria do Nascimento da Silva
Rafaela Maria e Silva Ferreira
Rosilda Santos do Nascimento
Rossana Farias Queiroz Ferrer
Tiago Licarião de Melo
Walquíria Nascimento da Silva
Ynakam Luis de Vasconcelos Leal
SUMÁRIO

PREFÁCIO..................................................................................................................11
Silvio Sánchez Gamboa
SOBRE A PESQUISA QUALITATIVA EM EDUCAÇÃO: BREVES APONTAMENTOS
...............................................................................................................................................23
Ana Cláudia da Silva Rodrigues
Eduardo Jorge Lopes da Silva
EDUCAÇÃO POPULAR
A LÓGICA ESTRUTURAL DAS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO: ANÁLISE DA
PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO EM EDUCAÇÃO POPULAR........................45
Aline Rodrigues de Almeida
Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta
Francisca Natália da Silva Ramos
Jailson Batista dos Santos
Marcilane da Silva Santos
Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana
Ynakam Luis de Vasconcelos Leal
AS INTERFACES ENTRE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO NA PESQUISA
ACADÊMICA: UM DEBATE PROFÍCUO NA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
HISTÓRICO-EDUCACIONAL...................................................................................81
Marcondes dos Santos Lima
Rossana Farias Queiroz Ferrer
Tiago Licarião de Melo
POLÍTICAS EDUCACIONAIS
MAPEAMENTO DE DISSERTAÇÕES DO PPGE: MÉTODOS E EPISTEMOLO-
GIAS NA LINHA DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS..............................................105
Adriege Matias Rodrigues
Alexandre Nascimento da Silva
Déborah Kallyne Santos da Silva
Gessica Mayara de Oliveira Souza
Juliana Maia Tavares
PROCESSOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM
A PRÁTICA DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO: CONSIDERAÇÕES SOBRE CINCO
DISSERTAÇÕES (2013-2017) DA LINHA DE PROCESSOS DE ENSINO-APREN-
DIZAGEM DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO DA UFPB. .
.................................................................................................................................133
Flávia Mayara Félix Dantas
Iranir Pontes Silva
João Djane Assunção da Silva
Maria Liliane Santos da Silva
Rosilda Santos do Nascimento
ESTUDOS CULTURAIS DA EDUCAÇÃO
LÓGICA INTERNA DA PESQUISA QUALITATIVA: UM MAPEAMENTO DE
DISSERTAÇÕES PRODUZIDAS PELA LINHA DE ESTUDOS CULTURAIS DA
EDUCAÇÃO DO PPGE/UFPB...............................................................................163
Bruna Kedman Nascimento de Souza Leão
Lívia Maria Montenegro Lins
Walquiria Nascimento da Silva
ANÁLISE DA LÓGICA DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO DE DISSERTAÇÕES
DA LINHA DE PESQUISA DE ESTUDOS CULTURAIS DA EDUCAÇÃO
(2013-2017).........................................................................................................181
José Rodolfo do Nascimento Pereira
Josilene Rodrigues da Silva
Maria Thaís de Oliveira Batista
Rafaela Maria e Silva Ferreira
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DA PARAÍBA LINHA DE PESQUISA EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA
A APLICAÇÃO DA ABORDAGEM EPISTEMOLÓGICA COMO INSTRU-
MENTO DE ANÁLISE NAS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA.. ..
.................................................................................................................................207
Anderson Santos de Santana
OS/AS AUTORES/AS .........................................................................................245
PREFÁCIO

Silvio Sánchez Gamboa1

C om gratificante satisfação aceitei o desafio dos professores


Eduardo Jorge Lopes da Silva e Ana Cláudia da Silva Rodrigues para
prefaciar o livro, Pesquisa em educação: discussões teórico-metodoló-
gicas de produções do PPGE/UFPB (2013-2017) que eles organizaram
com a participação de 28 autores, vinculados aos grupos de pesquisa
dos Programas de Pós-Graduação em Educação e Geografia da Univer-
sidade Federal de Paraíba - UFPB.
Minha satisfação é maior quando, com o objetivo de elaborar
os balanços necessários da produção científica dos grupos de pesquisa
do PPGE os autores tomam como referência, as contribuições sobre os
métodos qualitativos e quantitativos da pesquisa em educação e sobre as
análises epistemológicas da produção científica que venho trabalhando
nos últimos anos.
O livro apresenta oito textos que são resultados de trabalhos aca-
dêmicos que têm como objeto da análise epistemológica, a produção de
seis grupos de pesquisa que integram os Programas de Pós-Graduação
em Educação e Geografia da UFPB. Esses grupos são: Educação Popu-
lar, História da Educação, Políticas Educacionais Processos de Ensino e
Aprendizagem, Estudos Culturais e Educação Geográfica.
Todos os trabalhos apresentados têm em comum a recuperação
das bases teórico-metodológicas da produção científica desses grupos.
Para tanto, tomaram, para o aprofundamento da análise, uma amos-
tra de 31 dissertações produzidas entre 2013 e 2017, identificando sua

1 Professor aposentado da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e professor


visitante da Universidade Federal de Alagoas -UFAL.
11
estrutura interna, reconstituindo as relações entre os dois ingredientes
fundamentais da produção do conhecimento: a) os problemas educa-
cionais abordados e explicitados nas questões e perguntas que orien-
taram as pesquisas e b) os processos da construção das respostas que
integram diversas dimensões, ou níveis de articulação, tais como o téc-
nico-metodológico, o teórico e os pressupostos epistemológicos, gno-
siológicos e ontológicos. A articulação desses ingredientes, presentes,
mais, ou menos explícitos em todo processo de pesquisa científica, são
exemplarmente revelados em cada uma das análises. Os trabalhos tra-
zem nas suas análises referencias, citações, exemplos de cada tópico ou
dimensão recuperada, fundamentando, com cuidadoso rigor científico,
o balanço da produção dos grupos de pesquisa.
Esse exercício acadêmico que ajuda na descoberta dos elementos
essenciais da pesquisa científica, traz como desdobramento um valioso
aprendizado para consolidar a prática da produção do conhecimento
no âmbito dos programas de pós-graduação. As revisões bibliográficas,
os estudos denominados ‘estados da arte’, os balanços qualitativos da
produção interna, são instrumentos que fortalecem os grupos e linhas
de pesquisa dos programas de pós-graduação pois, além de recuperar as
trajetórias percorridas, identificando méritos e dificuldades, sinalizam
estratégias de consolidação da pesquisa no seio dos programas e centros
de pesquisa e de pós-graduação.
Nesse sentido, os organizadores da publicação, assim como os
docentes preocupados com a formação dos futuros pesquisadores, estão
de parabéns pelas eficientes estratégias de aprendizagem com base na
compreensão aprofundada das pesquisas já produzidas nos contextos
dos mesmos programas e centro de pesquisa, esse ‘olhar para si’ para os
processos acumulativos, para os caminhos já percorridos, identificando
criticamente, logros, limites e desafios, redunda na capacitação indivi-

12
dual do pesquisador como ‘leitor cuidadoso’ e ‘assimilador criativo’ da
produção científica acumulada, assim como no fortalecimento dos gru-
pos e linhas de pesquisa que estruturam atualmente os programas de
pós-graduação.
Outra característica comum dos trabalhos aqui apresentados é
sua pretensão pedagógica, considerando um leitor que busca informa-
ções consolidadas sobre análises epistemológicas e balanços qualitativos
da produção do conhecimento. O leitor encontra em cada um dos tra-
balhos, não apenas a fundamentação da matrizes paradigmáticas e epis-
temológicas utilizadas, mas, exemplos concretos das categorias e as di-
versas dimensões da análise, por exemplo encontrará quadros, tabelas,
esquema que explicitam as articulações lógicas, assim como, indicado-
res e registros da dimensão teórica das pesquisas analisadas, identifican-
do, categorias, palavras-chaves, autores mais citados, teorias que susten-
tam a problematização, a interpretação e a discussões dos resultados,
técnicas, procedimentos e estratégias de pesquisa. De igual forma, os
trabalhos, avançam nas análises quando revelam, em muitos dos casos,
dimensões implícitas, identificando pressupostos gnosiológicos, como
formas de delimitação e de construção dos objetos de estudo, a sua in-
terrelação com os sujeitos, localizando na linha movediça da subjeti-
vidade-objetividade interesses de controle, interação e transformação
dos fenômenos estudados. De forma corajosa, mas bem orientados, os
trabalhos mergulham na busca de pressupostos ontológicos presentes
nas dissertações quando procuram, visões de mundo, explicitando cate-
gorias mais abrangentes na área da educação, como concepções mais ge-
rais, tais como, homem, sociedade, tempo e historicidade que embasam
essas visões de mundo, implícitas em toda produção do conhecimento
sobre a problemática da realidade concreta.

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Finalmente, destacamos como elementos comuns dos trabalhos
a valiosa contribuição para o desenvolvimento de uma das práticas mais
consistentes da comunidade científica como é o exercício da ‘vigilân-
cia epistemológica’ sobre a produção, seus procedimentos e resultados.
Prática salutar para os grupos de pesquisas e as instituições e, particu-
larmente, para os novos pesquisadores que encontram no exercício de
rastrear e catalogar trabalhos acadêmicos, a possibilidade de identificar
e conhecer o que tem sido lido, investigado e publicado no campo da
educação, assim como saber quais as temáticas teorias, e autores privi-
legiados nas linhas de pesquisa de Programas de Pós-Graduação, não
apenas da sua própria instituição como no âmbito regional, nacional e
internacional.
O primeiro trabalho, intitulado Sobre a pesquisa qualitativa em
educação: breves apontamentos, escrito pelos organizadores do livro, a
maneira de introdução, destacam a importância histórica para o campo
da educação e das ciências humanas e sociais da aceitação e expansão
dos métodos qualitativos, sem comprometer os traços essenciais das
ciências, no sentido de serem sistemáticas, empíricas e criativas.
Destacam também como ingrediente fundamental da criação e
evolução das ciências ao longo da história da humanidade, a curiosida-
de humana que motivou os primitivos a “fazerem os primeiros registros
rudimentares, utilizando as rochas como papel, bem como a fazer os
primeiros questionamentos sobre nós e sobre o mundo e os seus fenô-
menos naturais” (p. 32). A curiosidade, as indagações, as dúvidas sobre
as explicações oriundas das tradições, as inquietações, frustrações e ne-
cessidades da vida cotidiana motivaram o desenvolvimento das capaci-
dades racionais do homem, começando pela transformação desse ‘mun-
do da necessidade’ de dúvidas e incertezas em indagações e perguntas.
Concomitantemente à capacidade racional de elaborar perguntas, a es-

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pécie humana, também desenvolveu a capacidade de buscar as respostas
para elas e seu potencial para solucionar seus problemas e vencer as
necessidades, transformando assim ‘o mundo da necessidade’ no ‘reino
da liberdade’, segundo a utopia marxiana, capacidade essa atribuída ao
conhecimento, à filosofia e à ciência, cuja maior finalidade, complemen-
ta Brecht, ‘está em aliviar a miséria da existência humana’.
Os autores, destacam também, como uma das formas da avalia-
ção qualitativa da produção, as análises epistemológicas. Essas análises
supõem a construção de processos articulados entre a construção das
perguntas e a elaboração das respostas e a efetivação de uma lógica que
integre diversos instrumentos, procedimentos, concepções, categorias,
teorias e pressupostos científicos e filosóficos. A integração lógica des-
ses diversos elementos no processo de produção do conhecimento redi-
mensiona a autoria do cientista que, não apenas, produz um diagnósti-
co sobre um problema, ou elabora respostas organizadas e pertinentes
para questões científicas, mas constrói uma maneira de fazer ciência, de
desenvolver uma teoria do conhecimento e constituir uma filosofia. O
pesquisador, no exercício da produção científica, se apropria de formas
específicas de relacionar o sujeito e o objeto do conhecimento e revela
sua visão sobre a realidade (visão de mundo) na qual situa e compreen-
de os fenômenos, objetos de seus estudos. Nesse sentido, o pesquisador
elabora, além de respostas para suas perguntas, também, de maneira
explícita ou implícita, uma epistemologia, uma gnosiologia e expres-
sa uma ontologia. Sua autoria se torna mais rica, significativa e segura
quando é consciente dessas outras dimensões da sua produção.
No segundo texto, intitulado A lógica estrutural das pesquisas em
educação: análise da produção de conhecimento em educação popular,
os autores apresentam os resultados da análise epistemológica de uma

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amostra de oito dissertações cujos autores fazem intersecção entre seus
objetos de pesquisa com temáticas no âmbito da Educação Popular.
Os autores buscaram averiguar os aspectos técnico-instrumen-
tais, metodológicos, teóricos, epistemológicos, gnosiológicos e ontoló-
gicos trabalhados dentro das pesquisas em educação na perspectiva da
Educação Popular. Dentre os resultados mais significativos, encontra-
ram que as dissertações, na sua maioria, optaram pelo método qualitati-
vo e dialético, revelando que “as visões de mundo, homem e compreen-
são da ciência dialogam com o entendimento dos homens e mulheres
como sujeitos transformadores, lutando por uma sociedade mais justa e
igualitária através do processo de conscientização” (p. 74).
Neste destaque podemos apreciar que o fato de identificar as ba-
ses teórico-metodológicas predominantes nas pesquisas, a partir desse
nível, é possível reconstituir outros níveis como, o técnico e os pres-
supostos epistemológicos, gnosiológicos e ontológicos, confirmando a
viabilidade, a heurística e a profundidade das avaliações epistemológi-
cas de caráter qualitativo utilizadas nestes estudos.
O terceiro texto intitulado, Interfaces entre história e educação
na pesquisa acadêmica: um debate profícuo na produção do conhecimen-
to histórico-educacional apresenta resultados das análises teórico-me-
todológicas de quatro dissertações de mestrado do Programa de Pós-
-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba (PPGE/
UFPB), desenvolvidas no âmbito da linha de pesquisa História da Edu-
cação e que foram defendidas no marco temporal compreendido entre
2013 a 2017.
A análise, se caracterizando como um ‘estado da arte’, buscou
articular os diversos fatores ou níveis que constituem a estrutura epis-
temológica de uma pesquisa científica, incluindo conteúdos filosóficos,
lógicos, epistemológicos, teóricos, metodológicos e técnicos. Os autores

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justificam inicialmente a importância dos trabalhos denominados “es-
tados da arte” porque ajudam a identificar e conhecer o que tem sido
lido, investigado e publicado nos respectivos campos de estudo, assim
como as temáticas privilegiadas, os autores mais citados e as linhas pes-
quisa mais desenvolvidas no seio dos diversos centros de investigação
científica.
A análise da amostra permite confirmar hipóteses relativas às
mudanças da pesquisa histórica nas últimas décadas, com relação às
bases teórico-metodológicas, visando a superação da historiografia po-
sitivista, respaldada na descrição de fatos eminentemente políticos e ga-
nhando relevância as temáticas relacionadas aos aspectos culturais. “A
partir dessa percepção, conclui-se também que a história não consegue
ser restrita a uma realidade objetiva. Ela requer, a cada tempo, novas
contemplações, novas concepções enriquecedoras mediadas pelos ob-
jetos que acresceram consideravelmente o conceito de fontes ou docu-
mentos, estes, pertinentes ao trabalho do historiador da educação” (p.
97-98).
Nesse sentido, os autores, justificam a permanente realização
de levantamentos e balanços da produção, assim como catalogação de
novas fontes e a discussão de questões teórico-metodológicas, dada à
complexidade do real e dos objetos investigados, numa sociedade cada
vez mais multifacetada.
No quarto texto, intitulado Mapeamento de dissertações do
PPGE: métodos e epistemologias na linha de políticas educacionais, os au-
tores, os autores inicialmente caracterizam os estudos epistemológicos
como uma interface entre a filosofia e a ciência que toma por objeto, a
produção do conhecimento científico e as categorias filosóficas como
instrumentos de análise. Foram selecionadas para a análise cinco dis-

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sertações defendida entre os anos de 2013 e 2017, correspondendo uma
por cada ano.
As pesquisas foram caracterizadas com relação à construção me-
todológica, aos pressupostos e enfoques epistemológicos, observando
os aspectos técnico-instrumental, metodológicos, teóricos, epistemoló-
gicos, gnosiológicos e ontológicos.
Os autores destacam a valiosa contribuição dos balanços da pro-
dução já que compreender a pesquisa já produzidas ajudam a guiar as
futuras dissertações, e a gerar e alimentar bancos de dados que, de forma
direta fortalecerão o desenvolvimento das linhas de pesquisa e dos pró-
prios programas de pós-graduação em educação. Destacam, também,
a contribuições dessas dissertações na compreensão dos problemas da
atual conjuntura política brasileira, tais como, o desempenho escolar e
a qualidade de ensino, as discussões curriculares a partir das questões
afro e indígenas, a nova proposta de reforma política da BNCC, a for-
mação continuada de professores e as políticas de gestão.
No quinto texto, intitulado, A prática da pesquisa em educação:
considerações sobre cinco dissertações (2013-2017) da linha de processos
de ensino-aprendizagem do Programa de Pós-Graduação em educação
da UFPB, os autores, como o título indica, destacam os resultados da
análise de cinco dissertações direcionadas ao processo de ensino-apren-
dizagem. Esse trabalho possibilitou tomar conhecimento das bases cien-
tíficas que norteiam essa linha de pesquisa. Segundo os autores: “Esta
percepção teórico/prática é fundamental para guiar os trabalhos que
nós, pesquisadores da Educação, estamos desenvolvendo, em especial,
a apreensão holística de como ocorre a pesquisa no âmbito do ensino-
-aprendizagem” (p. 156).
Nesse sentido, os pesquisadores, além de responsáveis pelo rigor
científico e pelos resultados das pesquisas, também devem se preocupar

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pela sistematização do conhecimento e pela “sucessiva procura do en-
tendimento do ser humano enquanto sujeito histórico, cultural e social,
que está em constante transformação” (ibidem).
Com o título de Lógica Interna da Pesquisa Qualitativa: um
mapeamento de dissertações produzidas pela linha de estudos culturais
da educação do PPGE/UFPB, os/as autores/as deste sexto trabalho da
coletânea sobre a avaliação qualitativa da produção apresentam o ba-
lanço de três dissertações, vinculadas à linha de pesquisa em Estudos
Culturais da Educação defendidas nos anos de 2014, 2016 e 2017, sendo
duas relacionadas à temática geral Estudos Surdos/Inclusão e uma acer-
ca das Relações de Poder no ambiente escolar.
Os autores defendem a necessidade da coerência lógica das pes-
quisas que articula, a escolha de métodos e procedimentos com os ob-
jetivos e os pressupostos epistemológicos que o pesquisador utiliza para
fazer a leitura e análise de seu objeto de estudo. Também destacam a
importância da avaliação epistemológica para a formação do(a) pesqui-
sador(a) iniciante já que o exercício analítico-metodológico contribui
de forma direta, para vislumbrar a organização de uma pesquisa com
clareza, favorecendo a produção de novos estudos qualitativos mais
bem fundamentados e coerentes com o tipo de investigação desenvol-
vida, possibilitando uma visão crítica acerca dos conhecimentos cons-
truídos no decorrer do processo. Finalmente, os autores consideram
que, nos três trabalhos analisados, os pesquisadores desenvolveram pes-
quisas coerentemente ancoradas à linha de pesquisa, Estudos Culturais
da Educação, possibilitando vislumbrar, dentro dos aspectos analisados,
sua caracterização e suas especificidades próprias, com relação à escolha
de métodos, teorias, concepções de mundo e de homem que embasam a
construção de conhecimento científico.

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Sob o título de Análise da Lógica da Pesquisa em Educação de
DIssertações da LInha de Pesquisa de Estudos Culturais da Educação
(2013-2017), as autoras do sétimo trabalho que compõe esta coletânea,
apresentam uma análise dos aspectos técnico-instrumental, metodoló-
gico, teórico, epistemológico, gnosiológico e ontológico presentes em
dissertações defendidas no período de 2013 a 2017 na linha de pes-
quisa Estudos Culturais da Educação do Programa de Pós-Graduação
em Educação/UFPB. O estudo buscou compreender como os autores
produziram suas pesquisas e se estas estão condizentes com o campo
de estudo no qual estão inseridas. Essas dissertações têm como base as
discussões de gênero, entre outros temas próprios do campo de pesqui-
sa dos Estudos Culturais da Educação. Dentre as conclusões o trabalho
destaca a relevância dos mapeamentos que permitem a percepção da
maneira como as pesquisas foram conduzidas, vislumbrando aproxima-
ções e distanciamentos, contribuindo para a própria linha de pesquisa
perceber a trajetória da sua produção e permitindo aos pesquisadores
como também aos que pretendem ingressar nessa linha, possibilidades
de direcionamentos na construção de seus próprios trabalhos. O traba-
lho, também conclui que a linha de pesquisa dos Estudos Culturais da
Educação está empenhada com perspectivas epistemológicas, gnosioló-
gicas e ontológicas comprometidas com a filosofia da diferença, no caso
mais específico, com as questões de gênero. Esses fenômenos exigem do
pesquisador posicionamentos que enfrentam a realidade desigual.
Finalmente, o oitavo trabalho, vinculado ao Programa de Pós-
-Graduação em Geografia da UFPB e a Linha de Pesquisa Educação
Geográfica e intitulado, A aplicação da abordagem epistemológica como
instrumento de análise nas pesquisas em educação geográfica, avalia uma
amostra das dissertações da linha de pesquisa, encontradas no Reposi-
tório Institucional, defendidas entre 2013 e 2016. Foram selecionadas

20
duas dissertações de mestrado para uma análise mais aprofundada. O
autor destaca a necessidade de avaliar a produção que vêm sendo desen-
volvida numa determinada área do saber, suas tendências metodológi-
cas, pressupostos epistemológicos e ontológicos, concepções de ciência;
assim como os condicionantes socioeconômicos que determinam essa
produção científica, a aplicação e os processos de veiculação e socializa-
ção dos seus resultados.
Dentre as conclusões o autor aponta a importância das inves-
tigações sobre os aspectos internos: lógico-gnosiológicos e metodoló-
gicos, quanto externos: histórico-sociais das pesquisas produzidas na
Educação e sinaliza a importância para a “Educação Geográfica” da re-
flexão epistemológica sobre sua produção que precisa constantemente
ser avaliada, o que exige a reflexão crítica, teórica e filosófica sobre o
próprio conhecimento do pesquisador e sobre o ato de pesquisar. O pró-
prio pesquisador precisa ter uma visão crítica do que está produzindo
e da qualidade da sua própria produção científica. Finalmente, o autor
recomenda que a formação dos futuros pesquisadores deve possibilitar
a construção de práticas de análises, assim como exercícios de criticida-
de, permitindo que esses pesquisadores sejam avaliadores e auto avalia-
dores de suas próprias produções científicas. Dessa forma, a produção
científica e acadêmica poderá melhorar, na medida em que os processos
de formação dos pesquisadores tenham uma sólida base na epistemoló-
gica, na lógica e na metodológica científica.
Finalmente, depois de destacar motivações, justificativas e indi-
cadores desta coletânea, esperamos que os leitores e, particularmente
os interessados na sua formação como pesquisadores, aproveitem da
melhor forma possível, as valiosas contribuições que os diversos textos
oferecem para aprimorar a instrumentalização das análises epistemo-
lógicas das revisões críticas e avaliações qualitativas sobre a produção

21
científica. Certamente que os balanços sistemáticos e a elaboração per-
manente de ‘estados da arte’ sobre a própria produção se constituem
como estratégias fundamentais para o aprimoramento das novas condi-
ções institucionais, estruturadas nos grupos e linhas de pesquisa. Essas
novas condições propiciarão a produção de pesquisas mais rigorosas e
qualificadas para atender os desafios históricos da problemática da edu-
cação brasileira e potencializar sua superação e transformação.

22
SOBRE A PESQUISA QUALITATIVA EM
EDUCAÇÃO: BREVES APONTAMENTOS

Ana Cláudia da Silva Rodrigues


Eduardo Jorge Lopes da Silva

A relação do homem com a natureza foi se estabelecendo


ao longo de sua história, desde o seu contato com o fogo (homo erectus),
passando pelos filósofos da natureza, os quais questionavam as diversas
situações da vida e da natureza que os rodeavam, buscando respostas. Para
isso, no curso da história da humanidade e do conhecimento científico,
foram aperfeiçoando as observações, as experiências, as constatações, as
elaborações, as criações e as recriações, com o intuito de melhorar sua
qualidade de vida e de seu habitat, em síntese, a convivência humana.
É impossível pensarmos hoje, em um mundo globalizado,
qualquer atividade humana que não sofra a influência de resultados
de pesquisas. Porém, a pesquisa científica difere das nossas pesquisas
cotidianas, pois exige mais aprofundamento, rigor, cuidado, organização,
sistematização.
Para ser desenvolvida de forma a atender sua essência, a pesquisa
científica deve ser sistemática, empírica e criativa. Segundo o que
dizem Sampieri, Collado e Lucio (2013), estas características aplicam-
se às abordagens quantitativas e qualitativas, por estas necessitarem de
disciplina para sua realização; organizarem-se, em sua maioria, a partir

23
Ana Cláudia da Silva Rodrigues - Eduardo Jorge Lopes da Silva

de dados que emergem da experiência; e, passarem constantemente


por avaliações e aperfeiçoamento. A esse respeito, cabem as seguintes
palavras dos autores:

A pesquisa científica pode ser entendida como um


conjunto de processos sistemáticos e empíricos
utilizado para o estudo de um fenômeno; é
dinâmica, multável e evolutiva e pode se apresentar
em três formas: quantitativa, qualitativa e mista
(SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013, p. 22).

Neste texto, apresentaremos uma reflexão sobre a abordagem


qualitativa da pesquisa em educação, por esta considerar como uma de
suas mais importantes características a produção (material e imaterial)
dos seres humanos, ou seja, tudo aquilo que o humano é capaz de
produzir, seja através de transformações sobre a natureza, seja a partir
de suas ideias, de seus pensamentos e linguagens. A pesquisa qualitativa
é muito mais oportuna para aquele tipo de investigação que tem, no
sujeito humano e em suas práticas (discursivas e não-discursivas), o
foco principal de suas análises. Este tipo de pesquisa procura centrar seu
alvo “[...] no indivíduo, com toda sua complexidade, e na sua inserção
e interação com o ambiente sociocultural e natural” (D’AMBROSIO,
2003, p. 103).
O ambiente natural e o cotidiano dos sujeitos constituem-se no
interesse dos pesquisadores para aproximarem-se de uma verdade, de
um saber, a partir do que fazem e do que pensam as pessoas no seu
dia-a-dia. Isso é uma das características da abordagem qualitativa da
pesquisa. Essa abordagem possibilita ao pesquisador interagir com
os sujeitos-autores, tanto direta (a partir da realização de entrevistas,
aplicação de questionários, observações etc.) como indiretamente (a
24
Sobre a Pesquisa Qualitativa em Educação: Breves Apontamentos

partir das produções acadêmicas e não-acadêmicas: artigos, livros,


relatórios, pautas de reuniões, de oficinas pedagógicas etc.).
A pesquisa qualitativa aproxima-se de uma concepção de
investigação que não sobrevaloriza o quantitativo, mas, sobretudo,
busca, a partir das produções dos sujeitos humanos, o entendimento
de um discurso disperso, construído sobre o objeto de desejo dos
pesquisadores. Assim, entendemos que a opção pela pesquisa de caráter
qualitativo é uma posição política, assumida pelo sujeito-pesquisador,
para desenvolver uma dada investigação. Por outro lado, não se descarta
que o próprio objeto pode ajudar na escolha da abordagem, no entanto,
onde e como o pesquisador irá tratar de suas informações dependerá de
uma posição, de um modo de observar e conceber a pesquisa. Bogdan
e Biklen (2013, p. 49) ressaltam que: “A abordagem da investigação
qualitativa exige que o mundo seja examinado com a ideia de que nada
é trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos
permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso
objeto de estudo”.
Nessa direção, afirma Richardson (2017, p. 68): “O pesquisador
qualitativo reflete sistematicamente sobre o papel dele na investigação
e a forma como sua biografia pessoal pode moldar o estudo [...] O eu
pessoal torna-se inseparável do eu pesquisador”. Logo, o que se tem é
uma abordagem de pesquisa que possui uma dada dimensão política e
uma especificidade característica de sua própria natureza, uma vez que,
entre outros elementos, as pesquisas de abordagem qualitativa têm no
sujeito humano e em todas as suas produções passíveis de verificação
(seja discursivas e não-discursivas) o foco que possibilita a explicação
sobre determinados fenômenos e a produção de novos conhecimentos.

25
Ana Cláudia da Silva Rodrigues - Eduardo Jorge Lopes da Silva

Para isso, procura-se fugir das explicações regidas pelas leis naturais ou
apenas quantitativas.
Dentre as características apontadas por Bogdan e Biklen (2013),
sobre a pesquisa qualitativa em educação, temos: a) informações
obtidas diretamente do ambiente natural, no qual o pesquisador é
o instrumento principal – entende-se que é no lócus, onde o sujeito
interage com outros socialmente, que é possível conhecer, extrair,
entender e produzir novos conhecimentos, e cabe ao investigador ter
a sensibilidade de observar, para além das aparências, tudo que os
sujeitos estão produzindo e, daí, buscar entender melhor as ações, os
pensamentos e as atitudes desses mesmos sujeitos e, quiçá, a partir
do que é observado, refletido e analisado, poder reconstruir outra
perspectiva de vida cujas interações entre os seres humanos possam ser
melhores. Afinal, qual a finalidade de nossas pesquisas? Para que elas
servem, uma vez que é do meio natural onde os sujeitos interagem que
os dados são obtidos? As pesquisas na grande área “Ciências Humanas”
deveriam retornar ao lócus de onde se buscou respostas, se levantaram
mais indagações, para poder-se dar respostas ou apontar caminhos para
que os sujeitos construam e reconstruam suas práticas cotidianas.
Destarte, as pesquisas têm a responsabilidade em corroborar
o crescimento e a evolução da espécie humana. Concordando com o
filósofo Álvaro Vieira Pinto, em sua reflexão sobre a ciência como um
produto existencial das relações entre o homem e o meio, temos o
seguinte:

A ciência, sendo a forma mais elevada do


conhecimento, participa das mesas condições gerais
que caracterizam a este, isto é, pertence ao complexo
de relações que se estabelecem entre o ser vivo, no

26
Sobre a Pesquisa Qualitativa em Educação: Breves Apontamentos

caso o homem, e a realidade circunstante. Não é


produto arbitrário do pensamento, não é especulativa
por natureza, mas representa a forma mais completa
em que se realiza a integração, a adaptação do
homem na realidade. Constitui-se simultaneamente
como possibilidade de transposição do mundo para
o interior do homem, pelo reflexo dos processos
exteriores que determinam o pensamento, e
pela imersão do homem no mundo, mediante a
capacidade de ação sobre as coisas. A ciência é a
forma de resposta adaptativa de que somente o
homem se revela capaz por ser o animal que vence
as resistências do meio mediante o conhecimento
dos fenômenos, ou seja, mediante a produção da
sua existência a individual e da espécie. Adapta-
se ao mundo porque o adapta a si, ao descobrir as
razões lógicas das coisas e dos acontecimentos, e ao
modificá-las de tal maneira que sirvam ao propósito
de assegurar sua subsistência (PINTO, 1985, p. 83).

Por sua vez, André (2001) faz uma discussão interessante sobre
o rigor e a qualidade da pesquisa em educação, quando questiona sobre
fazer ciência ou política de intervenção. A pesquisa em educação deve
gerar novos conhecimentos ou deve servir de intervenção ou possuir
uma aplicabilidade/utilidade social? A autora entende que não há
consenso acerca dessas questões. Para a autora, essas questões apontam
para uma discussão teórica, sobre a qual a pesquisa não se presta para
solucionar pequenos problemas cotidianos, pois encarar a pesquisa
desse modo significa assumir uma herança técnica e administrativa
dos intelectuais-dirigentes da Escola Nova. Então, temo-nos tornado
pragmatistas em relação às finalidades da pesquisa? André nos lembra
que, atualmente, tem-se supervalorizado a prática em detrimento à

27
Ana Cláudia da Silva Rodrigues - Eduardo Jorge Lopes da Silva

teoria, e que tal ação pode intervir na busca por um rigor que qualquer
tipo de pesquisa requer. Isso ocorre em virtude, talvez, da confusão de
conciliar os papéis de ator e pesquisador ao mesmo tempo.
O campo das possibilidades da pesquisa em educação é amplo, e
ainda não conseguimos conhecer toda a verdade, logo:

[...] sobram espaços para todo o tipo de investigação,


desde que se cuide da sistematização e controle dos
dados. Que o trabalho de pesquisa seja devidamente
planejado, que os dados sejam coletados mediante
procedimentos rigorosos, que a análise seja densa e
fundamentada e que o relatório descreva claramente
o processo seguido e os resultados alcançados
(ANDRÉ, 2001, p. 57).

Portanto, a pesquisa, seja ela qual for, não pode deixar de levar
em conta certos pressupostos que mantenham seu rigor científico.
Assim, compreendemos que quem dará sentido ou aplicabilidade aos
resultados obtidos por uma determinada pesquisa são os próprios
sujeitos interessados nestes resultados. Ao pesquisador cabe seguir as
orientações acima para que sua investigação tenha validade. Entretanto,
cabe ao pesquisador discutir e apresentar os resultados dela, com o
propósito de que os interessados possam assumi-la e fazer uso da
maneira que convier de sua investigação.
Em seguida, Bogdan e Biklen (2013) apresentam como segunda
característica da pesquisa qualitativa em educação, a condição de
ser descritiva – isto porque, as informações obtidas no campo da
investigação, no ambiente natural, são expressas em forma de palavras
e de imagens. As palavras (orais ou escritas) e as imagens revelam um
saber, com o qual o pesquisador irá sistematizar para produzir um

28
Sobre a Pesquisa Qualitativa em Educação: Breves Apontamentos

conhecimento científico no âmbito das Ciência da Educação. Conforme


acrescentar os autores:

A palavra escrita assume particular importância


na abordagem qualitativa, tanto para o registro dos
dados como para a disseminação dos resultados. [...]
A descrição funciona bem como método de recolha
de dados, quando se pretende que nenhum detalhe
escape ao escrutínio (BOGDAN; BIKLEN, 2013, p. 49).

A terceira característica da pesquisa qualitativa em educação está


no processo como elemento mais importante do que os resultados ou o
produto – o que importa na pesquisa qualitativa é analisar o caminho
que determinado fenômeno percorre, como esse mesmo caminho se
comporta em sua trajetória. Com base nesse entendimento é que os
resultados serão obtidos e também analisados. Em outros termos, nas
pesquisas de cunho qualitativo, torna-se necessário um estudo exaustivo
para se obter uma resposta sobre os fenômenos que envolvem seres
humanos. Este estudo pode ocorrer por meio da coleta de dados através
de observações, entrevistas, participação do investigador diretamente
no local do fato etc.
Parêntese a ser aberto, antes de prosseguirmos, encontra eco
na ressalva que André (2001, p. 61) faz sobre as críticas sofridas pelas
pesquisas qualitativas em educação, em virtude de sua fragilidade
metodológica pelos seguintes motivos: 1) considera porções reduzidas
da realidade; 2) número limitado de observações e de sujeitos; 3)
utilização de instrumentos precários nos levantamentos de opiniões;
e, 4) realização de análises pouco fundamentadas e interpretações sem
fundamentação teórica. Para essa autora, a maioria dos problemas
detectados está na produção da pós-graduação e, sendo assim, é neste
29
Ana Cláudia da Silva Rodrigues - Eduardo Jorge Lopes da Silva

espaço que se devem fazer as considerações necessárias sobre esse


assunto, com vistas a corrigi-los.
A quarta característica da pesquisa qualitativa tem lugar na
afirmação de que as análises das informações são mais indutivas – essa
característica reforça a ideia que as informações ou as provas obtidas
no ambiente natural não se destinam necessariamente à testagem ou
à comprovação de hipóteses; “[...] ao invés disso, as abstrações são
construídas à medida que os dados particulares que foram recolhidos
se vão agrupando” (BOGDAN; BIKLEN, 2013, p. 50). Em síntese, as
informações coletadas no campo da investigação vão se somando,
dando corpus teórico ao objeto de estudo do pesquisador. Este o analisa
e faz suas constatações, produzindo conhecimento. Esse conhecimento
produzido, por sua vez, não é definitivo, não está pronto e acabado; ele
abre espaço para outros olhares investigativos.
E, como última característica, os autores destacam que as
pesquisas qualitativas possuem diferentes leituras de mundo, de
acordo com os sentidos atribuídos pelos sujeitos; em outras palavras,
os sujeitos e as suas ações (modo de pensar, agir, intervir etc.) é o foco
mais importante do pesquisador qualitativo. Assim, afirmam Bogdan e
Biklen (2013, p. 51):

Os investigadores qualitativos em educação


estão continuamente a questionar os sujeitos da
investigação [...] Os investigadores qualitativos
estabelecem estratégias e procedimentos que lhes
permitam tomar em consideração as experiências
do ponto de vista do informador. O processo
de condução de investigação qualitativa reflecte
uma espécie de diálogo entre investigadores e os

30
Sobre a Pesquisa Qualitativa em Educação: Breves Apontamentos

respectivos sujeitos, dado estes não serem abordados


por aqueles de uma forma neutra.

Ainda para Bogdan e Biklen (2013), as pesquisas de caráter


qualitativo necessariamente precisam apresentar todas as características
acima. Para eles, trata-se de uma aproximação que a pesquisa possui
com este tipo de abordagem. Outrossim, o próprio objeto pode ajudar
na escolha da abordagem, no entanto, onde e como o pesquisador irá
tratar de suas informações dependerá de uma posição, de um modo
de observar e conceber a pesquisa. Portanto, a postura política do
pesquisador é primordial nesse momento.
Logo, a pesquisa de abordagem qualitativa é um tipo de pesquisa
quetem nos sujeitos humanos e em suas produções sócio-históricas
o foco central do seu alvo. Para esse tipo de pesquisa, não interessa
investigar regularidades ou homogeneidades dos sujeitos humanos de
modo objetivo, com neutralidade científica, ou seja, apenas exprimir a
realidade e não julgá-la. De acordo com Triviños (1987), poucos ainda
defendem a neutralidade da ciência natural. Ela não está preocupada
em quantificar os fatos sociais através da medição dos fenômenos, como
também em testar hipóteses e estabelecer generalizações1. A pesquisa
qualitativa pode ser passível de generalizações, mas esse não é seu foco
principal. Ela leva em consideração as produções cotidianas dos sujeitos

1 Alves-Mazzoti (2006), ao discutir sobre os usos e os abusos dos estudos de casos,


na pesquisa qualitativa, defende a ideia de que este tipo de estudo é passível de
generalizações. No entanto, uma das facetas dos preconceitos que cercam os estudos
de casos é, justamente, julgá-la como um estudo que oferece pouca condição para
generalizações. Assim, “[...] se não pode generalizar a partir de um único caso,
também não se pode generalizar com base em um único experimento (YIN, 1984,
p. 48-49 apud ALVES-MAZZOTI, 2006, p. 646). Aqui o autor tece uma crítica às
pesquisas não qualitativas ou pesquisas experimentais. Em síntese, o que o autor
está revelando é que com “estudos de casos múltiplos” “[...] a partir de um conjunto
particular de resultados, o investigador poderá gerar proposições teóricas que
seriam aplicáveis a outros contextos”.
31
Ana Cláudia da Silva Rodrigues - Eduardo Jorge Lopes da Silva

humanos, sua cultura, forma de vida, suas produções orais e escritas,


seu senso comum e seu senso crítico.
As pesquisas de cunho qualitativo têm no sujeito humano e em
todas as suas produções passíveis de verificação o foco que possibilita
a explicação sobre determinados fenômenos e a produção de novos
conhecimentos. Muito do que a ciência tem hoje como conhecimento
partiu do cotidiano das pessoas, de suas culturas, de suas crenças.
Inclusive, se pensarmos em ir mais longe, na história da humanidade, a
curiosidade humana – uma de suas características – motivou os humanos
primitivos a fazerem os primeiros registros rudimentares, utilizando as
rochas como papel, bem como a fazer os primeiros questionamentos
sobre nós e sobre o mundo e os seus fenômenos naturais.
Os seres humanos, insatisfeitos com explicações oriundas das
tradições, começaram a questionar e a buscar respostas mais próximas
de um saber verdadeiro. De um saber capaz de satisfazer o humano
acerca de suas inquietações, de suas frustrações e de seu cotidiano. É,
em síntese, o nascer da filosofia, como descreve Chauí (2002, p. 23):

[...] admirados e espantados com a realidade [...]


começaram a fazer perguntas e buscar respostas
para elas, demonstrando que o mundo e os seres
humanos, os acontecimentos e as coisas da Natureza,
os acontecimentos e as ações humanas podem ser
conhecidas pela razão humana [...].

A pesquisa qualitativa, que tem nas ações dos seres humanos


o seu alvo principal, também se preocupa com o processo construído
para se chegar à compreensão de um determinado fato. O produto não
se configura em seu foco de preocupação, isto porque se entende que os
sujeitos humanos são seres inconclusos, inacabados, projeto infinito e
32
Sobre a Pesquisa Qualitativa em Educação: Breves Apontamentos

estão em constante movimento (BOFF, 2000; FREIRE, 2005). Os seres


humanos são, portanto, seres criativos e em processo.
Por isso, Minayo (2014, p. 13-15), ao discutir sobre o desafio
da pesquisa social2, aponta características sobre o seu objeto, os quais
sintetizamos no quadro abaixo:
Quadro 1 – Síntese das características do objeto das Ciências Sociais, segundo Minayo
(2014).

CARACTERÍSTICAS DO OBJETO DAS CI- JUSTIFICATIVA


ÊNCIAS SOCIAIS
As sociedades humanas estão marca-
das pela relação tempo/espaço. Vivem o
É histórico “embate entre o que está dado e o que está
sendo construído”. Portanto, as respostas
obtidas nas pesquisas sociais são provi-
sórias, dinâmicas e específicas e influen-
ciam diretamente as teorias das ciências
sociais.
Entende-se que não é apenas o pesquisa-
dor que atribui sentido ao seu trabalho
Possui consciência histórica intelectual. Mas toda a sociedade possui
intencionalidade em suas ações e vali-
dam ou refutam as ações, os achados do
pesquisador. Portanto, “o nível de consci-
ência histórica das Ciências Sociais está
referenciado ao nível de consciência histó-
rica social”.

2 Estamos compreendendo a pesquisa social como sendo aquela que trata dos
fenômenos existentes na sociedade e que são produzidas nas relações entre os seres
humanos. Isto porque o homem é o único ser, da espécie animal, capacitado de
raciocínio, capaz de modificar o seu meio e interagir com os outros da mesma
espécie e domesticar aqueles diferentes (os animais não-humanos), promovendo a
ação coletiva com fins mútuos, divergentes etc. Nas suas relações dialógicas é capaz
de chegar a um consenso, a um objetivo único, mesmo contendo em si convicção
de ideias opostas àquelas consensuais para um determinado fim (SILVA, 2003).
33
Ana Cláudia da Silva Rodrigues - Eduardo Jorge Lopes da Silva

O pesquisador lida com seres humanos


o qual possui um vínculo identitário
com eles. Isso faz com que ambos se
tornem “solidariamente imbricados
Possui identidade entre sujeito e objeto e comprometidos” com a construção
do conhecimento. Ambos são
interdependentes, pois, nas sociedades
humanas, os fenômenos sociais são
produzidos pelos próprios sujeitos
humanos. As investigações desses
fenômenos são feitas por um ser da
mesma espécie (humana). Assim, um
depende do outro para se aproximar
de uma verdade, de uma resposta
para poderem conviver e se relacionar
mutuamente melhor em sociedade.

Por expressar uma visão de mundo. Uma


postura política e de interesses frente à
sociedade, seja do pesquisador ou do
objeto que eles estejam investigando.
É intrinsecamente e extrinsecamente Ambos possuem relações conflituosas,
ideológico convergentes e de convicções. Suas
ações não se encontram no campo da
neutralidade. Tal referência se constitui
em “uma condição da pesquisa que
deve ser incorporada como critério
de realidade e busca de objetividade”.
Possivelmente, o pesquisador precise ter
clareza dessa característica para não ser
tendencioso por demasia, nos resultados
que expressem uma aproximação do
conhecimento produzido pelos sujeitos
humanos em sociedade.

34
Sobre a Pesquisa Qualitativa em Educação: Breves Apontamentos

Por fim, o objeto de pesquisa das


Ciências Sociais é de natureza qualitativa.
A realidade em sociedade é produzida
mediada pelas relações entre os sujeitos
humanos, portanto, “a realidade social é
o próprio dinamismo da vida individual
É essencialmente qualitativo e coletiva com toda a sua riqueza de
significados dela transbordante”. Ou
seja, as Ciências Sociais, através de suas
teorias e instrumentos, não conseguem
dar conta da amplitude e riqueza da vida,
das ações e relações dos sujeitos humanos
em sociedade. Não é possível quantificar
tal ação humana, mesmo admitindo
que se pode tentar. Pois, o cotidiano
dos sujeitos humanos (individual ou
no coletivo) é extremamente rico de
detalhes e especificidades que justificam
sua natureza qualitativa no trato
investigatório. Por ser também seres
inconclusos e em processo, as Ciências
Sociais tenta se aproximar de uma
parte da verdade, recortada em um
determinado tempo e espaço históricos.

Nessa direção, acostamo-nos ao que apresenta Gamboa (2014),


quando reflete sobre a lógica da pesquisa em educação. Para o autor,
uma dada

[...] abordagem epistemológica poderá esclarecer


as relações entre técnicas, métodos, paradigmas
científicos, pressupostos gnosiológicos e ontológicos,
todos eles presentes, mais ou menos explícitos, em
qualquer pesquisa científica (GAMBOA, 2014, p.
58).

35
Ana Cláudia da Silva Rodrigues - Eduardo Jorge Lopes da Silva

O que se entende, à luz do pensamento de Gamboa, é que a


pesquisa qualitativa em educação, no que diz respeito mais precisamente
ao seu método e demais conteúdos, requer uma relação de interconexão.
Assim, não se pode pensar conteúdo técnico-instrumental dissociado
do rigor metodológico, da concepção de mundo e de homem (ser
humano) do pesquisador etc. Isso, para afirmar que, nas pesquisas em
educação, a associação entre pesquisador-objeto e objeto-pesquisador
são situações indissociáveis. Sob esta perspectiva, observa-se, também,
distanciamento das pesquisas em educação da abordagem positivista. A
primeira oportuniza uma visão mais ampla do objeto da investigação;
a segunda, uma visão de mundo e de sociedade restrita a quantificação
da realidade.

Quando investigamos, não somente produzimos


um diagnóstico sobre um campo problemático, ou
elaboramos respostas organizadas e pertinentes
para questões científicas, mas construímos uma
maneira de fazer ciência e explicitamos uma teoria
do conhecimento e uma filosofia. Utilizamos
uma forma de relacionar o sujeito e o objeto do
conhecimento e anunciamos uma visão de mundo,
isto é, elaboramos, de maneira implícita ou oculta,
uma epistemologia, uma gnosiologia e expressamos
uma ontologia (GAMBOA, 2014, p. 50).

A escolha de uma dada abordagem epistemológica, portanto,


não é algo vago, indissociada de uma visão de mundo e de sociedade do
pesquisador. As pesquisas em educação são desenvolvidas com o objeto
em movimento dinâmico, e, sendo assim, querer encaixá-lo em uma
dada abordagem epistemológica que não permite movimentação e
liberdade é assumir o risco pelo qual descaracteriza a pesquisa qualitativa

36
Sobre a Pesquisa Qualitativa em Educação: Breves Apontamentos

em educação. Na ilustração a seguir, Gamboa (2014)3 expressa melhor


esse argumento.

Fonte: GAMBOA (2014, p. 59).

Com o crescimento e consolidação da pesquisa qualitativa nos


ambientes acadêmicos, uma questão apresenta-se como central na
sua execução: como garantir a qualidade e a ética em pesquisas que
envolvem seres humanos? Para Flick (2009), tais questionamentos
deverão ser discutidos a partir de três ângulos: 1) a qualidade é condição
primeira para a pesquisa eticamente sólida; 2) as questões éticas que
observem e protejam os dados e a privacidade dos participantes devem
ser consideradas em pesquisas com qualidade na abordagem qualitativa;
3) a busca por qualidade deve afetar questões éticas.

3 Vale ressaltar que, referente a cada um dos níveis apresentados na ilustração acima,
nos capítulos subsequentes, os demais autores apresentarão o sentido indicado
por Gamboa (2014). Ou, caso o leitor desejar ir à fonte, a referência deste autor
encontra-se no final do presente artigo.
37
Ana Cláudia da Silva Rodrigues - Eduardo Jorge Lopes da Silva

Ao decidirmos realizar uma pesquisa qualitativa que possibilite


uma reflexão e que seus achados contribuam para compreensão de
novas trilhas para a resolução do problema de pesquisa inicialmente
proposto, os critérios e estratégias utilizadas durante a escolha e
execução dos procedimentos metodológicos devem considerar a ética
como condição primeira da ação do pesquisador. Não basta apenas, ao
pesquisador, observar critérios previamente estabelecidos por entidades
que fomentam a pesquisa e garantem os recursos financeiros à sua
execução, os quais Flick (2009) nomeia como “os de fora”. A ética aqui
defendida encontra sua fonte nas ações e proposições dos pesquisadores
e se refere “aos de dentro” do processo, as primeiras inquietações que já
devem primar incessantemente pela qualidade.
As questões éticas ainda deverão nortear a escolha da
amostragem, ou seja, os sujeitos que participarão da pesquisa. Nessa
etapa, o pesquisador deverá considerar alguns princípios como:
consentimento para a pesquisa, através da utilização do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE e a proteção que confere o
anonimato dos sujeitos; o cuidado no acolhimento das narrativas e no
trato com as informações advindas da pesquisa de campo, visto que os
sujeitos deverão ser preservados e respeitados; a naturalidade no agir do
pesquisador sem a intervenção nos resultados exaltando ou omitindo
dados que compõem os achados da pesquisa.
Quando Flick (2009) ressalta que a busca por qualidade também
deve observar as questões éticas, defende que existe uma linha tênue
entre os achados que são de extremo interesse da pesquisa e, por isso,
deverão ser publicados e problematizados, e certa informação que possa
constranger os sujeitos participantes, limitando com isso sua utilização.
Uma questão que deverá ser considerada sempre é a real necessidade do
38
Sobre a Pesquisa Qualitativa em Educação: Breves Apontamentos

pesquisador, principalmente quando seus sujeitos forem vulneráveis, de


submetê-los, através da memória, a um novo sofrimento, ao reviverem
fatos já vivenciados.
A ética também deverá ser associada à transparência durante
todo o processo de pesquisa e, ao final, na elaboração e divulgação dos
dados. O cuidado de retornar aos investigados os resultados, discutir,
para só então, após a provação do relatório pelos participantes da
pesquisa, publicar em periódicos, contribuindo para reflexões sobre o
objeto investigado, faz parte de uma atitude ética do pesquisador.
À guisa das considerações finais, destaca-se que uma pesquisa
qualitativa em educação, ou em qualquer área do conhecimento,
para ser considerada de qualidade, deverá primar por um exaustivo
aprofundamento teórico, a partir de estudos de pesquisas anteriores;
de um rigor metodológico que utilize técnicas, instrumentos e realize
uma análise precisa, válida e adequada, buscando o atendimento dos
objetivos estabelecidos e apresentando novas respostas e interpretações
acerca do objeto investigado a partir da utilização de um protocolo de
pesquisa que considere questões éticas e contribua para a elaboração de
novos conhecimentos.

REFERÊNCIAS

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Cadernos de Pesquisa, v. 36, n. 129, p. 637-651, set./dez. 2006.

ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: buscando rigor e qualidade.


Caderno Cedes, São Paulo, n. 113, jul. 2001.

BOFF, Leonardo. Ethos mundial: um consenso mínimo entre os


humanos. Brasília: Letraviva, 2000.

39
Ana Cláudia da Silva Rodrigues - Eduardo Jorge Lopes da Silva

BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em


educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Tradução de Maria
João Alvarez, Sara Bahia dos Santos e Telmo Mourinho Baptista.
Porto-Portugal: Porto, 2013 (Colecção Ciência da Educação). Versão
portuguesa. Original americano.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2002.

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10. ed. Campinas/SP: Papirus, 2003.

FLICK, Uwe. Qualidade na pesquisa qualitativa. Porto Alegre:


Bookman, 2009.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à


prática educativa. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005.

GAMBOA, Silvio Sánchez. Pesquisa em educação: métodos e


epistemologias. 2. ed. Chapecó: Argos, 2014.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento:


pesquisa qualitativa em saúde. 14. ed. São Paulo: Hucitec, 2014.

SAMPIERI, Roberto Hernandez; COLLADO, Carlos Fernández;


LUCIO, María del Pilar Baptista. Metodologia de pesquisa. Tradução
de Daisy Vaz Moraes. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2013.

PINTO, Álvaro Vieira. Ciência e existência: problemas filosóficos da


pesquisa científica. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

RICHARDSON, Roberto Jarry Pesquisa social: métodos e técnicas.


Colaboração de Dietmar Klaus Pfeiffer. 4. ed. Rev., atual. e ampl. São
Paulo: Atlas, 2017.

SILVA, Eduardo Jorge Lopes da. O Fórum de educação de jovens


e adultos do estado da Paraíba: uma nova configuração em
movimentos sociais. 2003. 161f. Dissertação (Mestrado em Educação
Popular) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2003.

40
Sobre a Pesquisa Qualitativa em Educação: Breves Apontamentos

TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à Pesquisa em


Ciências Sociais: a Pesquisa Qualitativa em Educação – O Positivismo,
A Fenomenologia, O Marxismo. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2009.

41
EDUCAÇÃO POPULAR

Estudos e investigações dos processos de educação popular


nas políticas sociais (educação de jovens e adultos, saúde, economia
solidária, extensão universitária, entre outras) e nos movimentos sociais.
Fonte: site do PPGE <http://www.ce.ufpb.br/ppge/contents/menu/
linhas-de-pesquisa>.
A LÓGICA ESTRUTURAL DAS PESQUISAS EM
EDUCAÇÃO: ANÁLISE DA PRODUÇÃO DE CONHE-
CIMENTO EM EDUCAÇÃO POPULAR

Aline Rodrigues de Almeida


Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta
Francisca Natália da Silva Ramos
Jailson Batista dos Santos
Marcilane da Silva Santos
Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana
Ynakam Luis de Vasconcelos Leal

INTRODUÇÃO

A pesquisa é uma forma de descobrir e criar, devendo


passar pelas etapas de aprofundamento teórico, busca dos métodos
que serão utilizados durante todo seu desenvolvimento e relação com
a realidade. Por ser uma forma de contribuir para possíveis soluções
das demandas sociais, a pesquisa não pode se limitar ao “exclusivismo
sofisticado” das paredes de uma universidade, devendo romper e
adentrar a realidade a qual se pretende analisar, de modo que teoria e
prática se encontrem, sem cair apenas em um teoricismo, que seria a

45
Aline Rodrigues de Almeida - Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta - Francisca Natália da Silva
Ramos - Jailson Batista dos Santos - Marcilane da Silva Santos - Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana - Ynakam Luis de Vasconcelos Leal

teoria sem a prática, ou limitando-se ao ativismo, que é uma expressão


da prática sem a reflexão (DEMO, 2011).
Ainda de acordo com Demo (2011), a pesquisa também é um
diálogo que necessariamente exige uma comunicação. Esse diálogo nem
sempre é fácil e simples, pelo contrário, apresenta-se como conflitos
a serem estudados. Além disso, a pesquisa também é um fenômeno
político, pois, quem pesquisa questiona e indaga sobre algo ou alguma
coisa. Sendo assim, a neutralidade, em especial nas pesquisas sociais,
deve ser questionada, visto que o/a pesquisador/a é um ser político.
Fundamentando-se nessas definições, no presente trabalho,
tem-se por objetivo analisar dissertações de Mestrado em Educação da
Universidade Federal da Paraíba - UFPB, referentes à linha de pesquisa
em Educação Popular. Para tanto, foram selecionadas oito dissertações
de autores que fazem intersecção entre seus objetos de pesquisa
com temáticas no âmbito da Educação Popular (BANDEIRA, 2017;
BATISTA, 2016; DANTAS, 2015; FREITAS, 1986; NASCIMENTO, 2015;
RODRIGUES, 2016; SILVA, 2017; SOARES, 2016). Assim, as análises
tiveram como foco temporal os últimos cinco anos (2013-2017). Apenas
uma das dissertações foi defendida em 1986. Nessa direção, buscou-se
averiguar os aspectos técnico-instrumentais, metodológicos, teóricos,
epistemológicos, gnosiológicos e ontológicos trabalhados dentro das
pesquisas em educação na perspectiva da Educação Popular.
O presente trabalho torna-se relevante por possibilitar aos
discentes da disciplina Pesquisa em Educação a oportunidade de
aquisição de certos aprendizados, como aprender a destacar e observar
aspectos importantes que devem existir em uma dissertação de nível de
mestrado. Nesse sentido, corrobora-se positivamente para a construção
de futuras dissertações, uma vez que o olhar já estará mais direcionado
46
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

para esses importantes aspectos. Outro ponto de relevância do referido


trabalho encontra-se na contribuição para o próprio curso de Mestrado,
pois, apesar de ser um pequeno recorte de dissertações, permite uma
compreensão preliminar dos estudos nas linhas de pesquisa do curso
em questão.

METODOLOGIA

Literalmente falando, o termo “metodologia” significa “estudo


sistemático e lógico dos métodos” empregado na produção científica;
conforme explica Richardson (1999), o método é o caminho ou a
maneira para se chegar a determinado objetivo. Nesse sentido, a
metodologia pode ser compreendida como procedimentos e regras
utilizadas por determinado método (RICHARDSON, 1999). Sendo
assim, a metodologia do presente trabalho é pautada nessa direção.
A primeira etapa foi a seleção de oito dissertações de mestrado
disponíveis no portal do Programa de Pós-Graduação em Educação
(PPGE) da UFPB, de modo que cada integrante da equipe ficou
responsável por analisar os seis critérios em cada pesquisa, tomando
por base o autor Gamboa (2012). Assim, os seis aspectos específicos
destacados para análises foram os técnico-instrumentais, metodológicos,
teóricos, epistemológicos, gnosiológicos e ontológicos.
Em primeiro lugar, foram analisados as técnicas e instrumentos
utilizados em cada dissertação, como os processos de coleta, tratamentos
dos dados, e como a pesquisa foi organizada. Em segundo lugar,
foram analisados os aspectos metodológicos, em que se verificaram os
procedimentos das pesquisas. Depois foram destacados os principais
teóricos apontados e que fundamentaram cada estudo. Em seguida, foram
47
Aline Rodrigues de Almeida - Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta - Francisca Natália da Silva
Ramos - Jailson Batista dos Santos - Marcilane da Silva Santos - Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana - Ynakam Luis de Vasconcelos Leal

averiguados os aspectos epistemológicos que, segundo o que diz Gamboa


(2012), referem-se à cientificidade e seus critérios. Posteriormente,
foram averiguados os traços gnosiológicos, correspondentes à relação
do/a pesquisador/a com seu objeto e, por fim, os aspectos ontológicos,
referindo-se à concepção de mundo e de homem do/a pesquisador/a
(GAMBOA, 2012).
As oito pesquisas apresentavam os seguintes títulos, objetivos e
autores:

Quadro 01 - Dissertações analisadas na Linha de Pesquisa Educação Popular

TÍTULO OBJETIVO AUTOR (A) /


ANO
“A dimensão organizativa em Identificar princípios da edu- Clara Ma-
uma organização popular” cação popular nas atividades ria Silvestre
do Conselho de Moradores Monteiro de
de Brasília Teimosa. Freitas (1986)
“Cenopoesia, a arte em todo ser: Propor trazer a prática ceno- Maria Jose-
das especificidades artísticas poética para um diálogo aca- vânia Dantas
às interseções com a educação dêmico, permitindo um olhar (2015)
popular” crítico para essa linguagem.

“O processo de aproximação da Relacionar a educação Vânia Barbosa


educação popular com as práticas popular com as práticas de Nascimento
de educação em saúde no SESC e educação em saúde. (2015)
o seu significado”
“Nóis é terrívi, se nóis fala que Compreender as relações so- Tessy Priscila
faz, nóis faz: o acampamento ciais mais determinantes que Pavan de Pau-
Elizabeth Teixeira em Limeira-SP possibilitaram a construção la Rodrigues
e a construção da escola como de uma escola no acampa- (2016)
espaço público de auto-organiza- mento Elizabeth Teixeira
ção e Educação Popular” (ET).
“A Educação Popular nas Conhecer as temáticas e Ellaila
pós-graduações em Educação: abordagens dominantes e Andrius de
análises das dissertações e teses emergentes na área da Educa- Moraes Soares
produzidas entre 2000 e 2014 na ção Popular. (2016)
Região Nordeste”

48
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

“Trajetórias de sucesso escolar Conhecer e analisar proces- Nilcione Ma-


dos jovens oriundos de escolas sos que favorecem o ingresso ciel Lacerda
públicas no ensino superior” e a permanência de estudan- Batista (2016)
tes oriundos de escolas públi-
cas em cursos de graduação
considerados de alto prestígio
social na Universidade Fede-
ral da Paraíba.
“A dimensão educativa do tra- Investigar e discutir a dimen- Francikely da
balho dos agentes comunitários são educativa do trabalho Cunha Ban-
de saúde: nos passos de ACS de dos agentes comunitários de deira (2017)
Mari – PB” saúde
“A prática educativa da extensão Analisar as práticas educa- Conceição
rural no campo da reforma agrá- tivas dos Agentes Extensio- Cristina Pe-
ria: aproximações com a educa- nistas da assessoria Técnica e reira da Silva
ção popular” Extensão Rural. (2017)
Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as), 2018.

Em síntese, observa-se nos trabalhos e seus respectivos objetivos


que no âmbito da linha de pesquisa em Educação Popular podem
ser encontrados técnicas, instrumentos, procedimentos e diversas
abordagens desenvolvidas ao longo dos últimos cinco anos. Nessa
perspectiva, interessa saber: quais são os aspectos técnico-instrumentais,
metodológicos, teóricos, epistemológicos, gnosiológicos e ontológicos
mais recorrentes nos estudos desenvolvidos na linha de pesquisa em
questão? A resposta ao enunciado pressupõe uma análise descritiva
sobre essas produções.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Segundo o que diz Gamboa (2012), existe uma lógica que compõe
toda pesquisa em educação, de modo que sua recuperação interna
supõe a reconstituição das articulações entre vários fatores intrínsecos
ao processo de produção do conhecimento. Nesse processo, ocorre uma

49
Aline Rodrigues de Almeida - Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta - Francisca Natália da Silva
Ramos - Jailson Batista dos Santos - Marcilane da Silva Santos - Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana - Ynakam Luis de Vasconcelos Leal

manifestação estrutural de pensamento que, ainda conforme Gamboa


(2012, p. 58) “inclui conteúdos filosóficos, lógicos, epistemológicos,
teóricos, metodológicos e técnicos”. Nessa perspectiva, justifica-se a
necessidade da realização do mapeamento de dissertações no âmbito
da linha de pesquisa Educação Popular, para apreensão dessa lógica e
análise de seus aspectos estruturais mais relevantes nesse processo.

Aspectos Técnico-Instrumentais

A parte técnico-instrumental de uma pesquisa configura-se como


um nível de amplitude importante no processo de desenvolvimento
de qualquer estudo, pois uma investigação se constitui por meio de
coleta, registro, organização, sistematização e tratamento de dados e
informações, para posteriormente se dar início às análises (GAMBOA,
2012). Nesse sentido, Richardson (2017) afirma que o/a pesquisador/a
deve escolher os instrumentos mais adequados para efetuar a coleta de
informações.
Em consonância com esses pressupostos, na pesquisa intitulada
“A dimensão organizativa em uma educação popular”, Freitas (1986)
apoiou-se em estudo de caso de suas próprias anotações, em relatórios,
em reuniões do Conselho de Moradores de Brasília Teimosa (CMBT)
- PE, atas de assembleias e em entrevistas semiestruturadas com os
moradores de Brasília Teimosa. Em paralelo a isso, realizou também
uma revisão bibliográfica (grifo nosso), utilizando como aportes a
perspectiva urbana de Manuel Casttels, uma pesquisa documental
no arquivo da Secretaria do Trabalho e Ação Social do Estado do
Pernambuco, e Relatório de Estudos Exploratórios.

50
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

Sob a temática “Cenopoesia, a arte em todo ser: das especificidades


artísticas às interseções com a educação popular”, Dantas (2015) realiza
um levantamento bibliográfico e documental, bem como a observação
participante (grifo nosso) e questionário aberto aplicado a 10 (dez)
cenopoetas, analisados à luz da técnica análise de conteúdo (estruturada
em três fases: a pré-análise, a exploração do material e a fase de
tratamento dos resultados obtidos, a inferência e a interpretação); para
a categorização, foi utilizado o critério semântico proposto por Bardin.
Já no trabalho intitulado “O processo de aproximação da
educação popular com as práticas de educação em saúde no SESC e o
seu significado”, Nascimento (2015) destaca, em seu aspecto técnico-
instrumental, a pesquisa bibliográfica (grifo nosso), entrevista
semiestruturada, observação participante e a análise de conteúdo (grifo
nosso) para o tratamento dos dados.
Com efeito, Soares (2016), em seu estudo intitulado “A Educação
Popular nas pós-graduações em Educação: análises das dissertações e
teses produzidas entre 2000 e 2014 na Região Nordeste”, adota como
técnicas o mapeamento, a seleção e a análise de documentos digitais e
impressos. Nesse sentido, tal estudo realizou-se a partir de levantamento
de dissertações de mestrado e de doutorado das Pós-Graduações em
Educação da região Nordeste, que abordam a Educação Popular, sendo
selecionados os resumos para posterior análise. Durante a análise de
conteúdo (grifo nosso), a pesquisa passou pela pré-análise, exploração
do material e pelo tratamento e interpretação dos resultados.
Já o trabalho desenvolvido por Rodrigues (2016), sob título
“Nóis é terrívi, se nóis fala que faz, nóis faz: o acampamento Elizabeth
Teixeira em Limeira-SP e a construção da escola como espaço público
de auto-organização e Educação Popular”, a autora apoia-se em pesquisa
51
Aline Rodrigues de Almeida - Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta - Francisca Natália da Silva
Ramos - Jailson Batista dos Santos - Marcilane da Silva Santos - Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana - Ynakam Luis de Vasconcelos Leal

documental, vídeos elaborados por apoiadores do acampamento,


entrevistas em círculos de Memória Investigativos e diário de campo
(grifo nosso). Segundo a autora, tal técnica para coleta de dados foi
utilizada devido sua participação durante anos naquele assentamento,
como extensionista.
Contudo, na dissertação de Batista (2016), que tem como título
“Trajetórias de sucesso escolar dos jovens oriundos de escolas públicas no
ensino superior”, verifica-se, quanto a seu aspecto técnico-instrumental,
a revisão de literatura, aplicação de questionário e entrevistas
semiestruturadas, a partir de uma amostra selecionada de forma casual
e aleatória. Desta maneira, realizaram-se entrevistas semiestruturadas
(grifo nosso) com seis estudantes que frequentavam cursos considerados
de alto prestígio social na Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Segundo o que diz Batista (2016), tais técnicas e instrumentos foram
utilizados para organizar um perfil socioeconômico e educacional dos
sujeitos interlocutores da pesquisa, a fim de se construírem percursos
biográficos que favorecessem a compreensão das disposições singulares
de sucesso escolar no ensino superior.
No tocante ao estudo sobre “A prática educativa da extensão
rural no campo da reforma agrária: aproximações com a educação
popular”, Silva (2017) adota “uma triangulação de dados”, priorizando
a “observação participante, grupo focal (grifo nosso) e a entrevistas
semiestruturadas”, realizadas tanto de forma individual, quanto coletiva,
com registros através de gravação de áudios e fotografias. Por meio
desses procedimentos, foram entrevistadas vinte e três (23) pessoas,
sendo quatorze (14) homens e nove (09) mulheres. A pesquisa apoiou-
se também em estudo documental e revisão bibliográfica, com vistas a

52
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

uma fundamentação e embasamento teórico mais consistente (SILVA


2017, p. 24).
No que pese às técnicas e instrumentos presentes na dissertação
intitulada “A dimensão educativa do trabalho dos agentes comunitários
de saúde: nos passos dos ACS de Mari-PB”, Bandeira (2017) vale-se de
grupos focais, entrevistas semiestruturadas, pesquisa bibliográfica e
documental (grifo nosso) e diário de atividades de campo dos Agentes
Comunitários de Saúde.

Aspectos Metodológicos

A parte metodológica de uma pesquisa tem a ver com os passos,


procedimentos e maneiras de abordar e tratar o objeto investigado
(GAMBOA, 2012). Em concordância a esse pressuposto, Minayo (2000)
afirma que a metodologia se constitui como o caminho do pensamento
para prática exercida na abordagem da realidade.
Nesse contexto, com relação ao aspecto metodológico norteador
da pesquisa “A dimensão organizativa em uma educação popular”
(FREITAS, 1986), este se configura como qualitativo (grifo nosso),
com um caráter observatório dialético (grifo nosso), trabalhando-se as
interações entre as instâncias e as fases que constituem a pesquisa, com
embasamento freiriano.
Sobre a pesquisa “Cenopoesia, a arte em todo ser: das
especificidades artísticas às interseções com a educação popular”
(DANTAS, 2015), verifica-se uma abordagem também qualitativa (grifo
nosso), de finalidade exploratória (grifo nosso). Nessa linha, Dantas
(2015) recorre à revisão histórica e aos fundamentos da educação
popular, ponderando as percepções dos cenopoetas quanto às suas
53
Aline Rodrigues de Almeida - Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta - Francisca Natália da Silva
Ramos - Jailson Batista dos Santos - Marcilane da Silva Santos - Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana - Ynakam Luis de Vasconcelos Leal

concepções sobre a cenopoesia e as suas aproximações com a educação


popular.
No caso do estudo intitulado “O processo de aproximação da
educação popular com as práticas de educação em saúde no SESC e o seu
significado” (NASCIMENTO, 2015), trata-se de uma pesquisa também
com enfoque qualitativo (grifo nosso), de caráter exploratório e método
dialético (grifo nosso). De acordo com Nascimento (2015, p. 19), “A
dialética nos possibilita perceber o homem como um ser histórico e
social. Nesse sentido, é de fundamental importância considerar a
história dos fenômenos estudados, bem como sua relação”.
A metodologia da dissertação “Nóis é terrívi, se nóis fala que
faz, nóis faz: o acampamento Elizabeth Teixeira em Limeira-SP e a
construção da escola como espaço público de auto-organização e
Educação Popular” (RODRIGUES, 2016) é documental e se dá a partir
de revisão bibliográfica, utilizando-se como fonte parte da bibliografia
produzida sobre o acampamento Elizabeth Teixeira, Pedagogia do
Movimento Sem Terra, Educação do Campo, Educação Popular e
Auto-organização, bem como relatos de participantes do assentamento,
por meio dos Círculos de Memória Investigativos. Segundo o que
diz Rodrigues (2016), a metodologia é resumida como uma pesquisa
sistematizante de uma ação cultural desenvolvida coletivamente,
construída a partir do envolvimento da pesquisadora com o seu objeto
de estudo.
A despeito do estudo sobre as “Trajetórias de sucesso escolar dos
jovens oriundos de escolas públicas no ensino superior”, Batista (2016)
adota a metodologia qualitativa mesclada à quantitativa (grifo nosso).
De acordo com a autora, a escolha dessas duas formas de tratamento
para análise do objeto deu-se pelo entendimento de que a articulação
54
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

entre essas duas abordagens contribui para uma maior compreensão do


objeto estudado (BATISTA, 2016). Dessa forma, apoia-se no método
de narrativas biográficas para análise das trajetórias de escolarização
dos jovens universitários oriundos da escola pública, com vistas à
compreensão das contingências a que estão submetidos.
Soares (2016), por sua vez, em seu estudo sobre “A Educação
Popular nas pós-graduações em Educação: análises das dissertações
e teses produzidas entre 2000 e 2014 na Região Nordeste” adotou
a metodologia “quanti-qualitativo” (grifo nosso), com estratégia
metodológica dialética, a partir do estudo de Demo (1995), sobre a
totalidade dialética. Nessa perspectiva, o processo metodológico da coleta
de dados foi realizado a partir dos sítios das pós-graduações e banco de
teses da CAPES, relatório dos PIBIC, Trabalhos de Conclusão de Curso
e os sites das pós-graduações de Educação, sendo os procedimentos de
análise desses dados baseados em parte nos estudos de Bardin (1977),
passando por três polos cronológicos: pré-análise, exploração do
material e tratamento dos resultados obtidos e interpretação.
Já a pesquisa intitulada “A dimensão educativa do trabalho dos
agentes comunitários de saúde: nos passos dos ACS de Mari-PB” (BAN-
DEIRA, 2017), esta se caracteriza como qualitativa e exploratória (grifo
nosso), apoiada no viés da etnometodologia. Essa escolha foi fundamen-
tada em Minayo (2007) que, segundo o que apresenta Bandeira (2017),
define a fase exploratória de investigação de uma pesquisa como sendo
tão importante que por si só já se considera “Pesquisa Exploratória”, as-
sim, a preferência por etnometodologia vem do trato com atividades
práticas do cotidiano, conforme aborda Coulon (1995).
No tocante ao estudo sobre “A prática educativa da extensão
rural no campo da reforma agrária: aproximações com a educação
55
Aline Rodrigues de Almeida - Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta - Francisca Natália da Silva
Ramos - Jailson Batista dos Santos - Marcilane da Silva Santos - Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana - Ynakam Luis de Vasconcelos Leal

popular”, Silva, (2017) utiliza o método qualitativo e exploratório


(grifo nosso), pois sua pesquisa envolve um amplo e expressivo
universo dinâmico, repleto de valores humanos e culturais, que estão
em constante transformação; com significados diversos e impossíveis
de serem quantificados. A autora afirma, que este método de pesquisa
utiliza “técnicas qualitativas utilizadas nas ciências sociais”, ao passo
que desenvolve o diálogo em uma “perspectiva crítico/dialética” para
melhor compreender o fenômeno estudado ( SILVA, 2017 p. 25).

Aspectos Teóricos

Com relação aos aspectos teóricos de uma pesquisa, Gamboa


(2012) explica que estes abarcam os fenômenos educativos e sociais
privilegiados, núcleos conceptuais básicos, pretensões críticas a
outras teorias, tipo de mudança proposta, autores citados etc. Nessa
perspectiva, as dissertações que se sucedem utilizam as mais variadas
correntes teóricas em suas fundamentações.
Nessa direção, ao analisar “A dimensão organizativa em uma
educação popular”, Freitas (1986) trabalha os conceitos de Educação
Popular; Educação de Adultos; Pedagogia do Movimento; Auto-
organização; Sistematização de Experiências; e Práxis (grifo nosso),
apoiando-se em Paulo Freire (grifo nosso).
Sobre a dissertação “Cenopoesia, a arte em todo ser: das
especificidades artísticas às interseções com a educação popular”
(DANTAS, 2015), dentre os autores utilizados para teorizar acerca
da cenopoesia, Dantas (2015) menciona com mais frequência: Freire,
através das manifestações e meio de aprendizado do oprimido, do
popular, como modo de resistência, como negação cultural dos saberes
56
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

dominantes; Minayo “a poesia e a arte continuam a desvendar lógicas


profundas e insuspeitadas do inconsciente coletivo, da vida cotidiana e
do destino humano”; e Paludo, trazendo a literatura popular enquanto
transformadora da realidade social, frente aos impactos da globalização,
do neoliberalismo e do pensamento capitalista, que submete as relações
sociais à lógica mercantil. Também são recorrentes no trabalho, Brandão
(grifo nosso), Richardson, Bertold Brechet, entre outros.
Já na pesquisa sobre “O processo de aproximação da educação
popular com as práticas de educação em saúde no SESC e o seu
significado” (NASCIMENTO, 2015), entre os diversos estudiosos
citados, Nascimento (2015) traz para discorrer sobre a educação popular
Paulo Freire, Gadotti e Brandão, abordando a ideia de que “a educação
popular é uma metodologia educacional que valoriza os saberes do
povo, voltado para conquista dos direitos sociais, culturais e políticos na
construção de novos saberes” (NASCIMENTO, 2015, p. 38), partindo
da educação para compreensão sobre a saúde.
No que concerne o estudo sob o título “Nóis é terrívi, se nóis
fala que faz, nóis faz: o acampamento Elizabeth Teixeira em Limeira-SP
e a construção da escola como espaço público de auto-organização e
Educação Popular”, Rodrigues (2016) apoia-se em autores como Carlos
Rodrigues Brandão (1981); Paulo Freire (2001), Oscar Jara Holliday
(2006); Karl Marx (1979); (grifo nosso), e Conceição Paludo (2015),
os quais foram necessários para fundamentar as questões referentes
à Educação Popular; Educação de Jovens e Adultos; Pedagogia do
Movimento; Auto-organização; Sistematização de Experiências; Práxis.
A despeito das “Trajetórias de sucesso escolar dos jovens
oriundos de escolas públicas no ensino superior” analisadas por Batista
(2016), a pesquisa referida fundamenta-se em estudos sociológicos
57
Aline Rodrigues de Almeida - Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta - Francisca Natália da Silva
Ramos - Jailson Batista dos Santos - Marcilane da Silva Santos - Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana - Ynakam Luis de Vasconcelos Leal

a partir de autores estruturalistas e pós-modernos como Bourdieu


(1964-1998) (grifo nosso), que aborda os conceitos de “habitus, capital
cultural, social e econômico”; Lahire (1997, 2004), que trata sobre os
conceitos de “sucesso escolar, escolarização e meios populares”; e
Charlot (2000, 2002, 2009). Nessa direção, o trabalho aborda também o
conceito de educação popular, trajetória de sucesso (grifo nosso), acesso
e permanência, ensino superior, e alto prestígio social. Batista (2016)
ressalta a base teórica do presente estudo como sendo relevante para a
análise e compreensão das trajetórias singulares de sucesso escolar dos
jovens oriundos de escolas públicas em cursos elitistas no âmbito da
Universidade Federal da Paraíba.
Na pesquisa sobre “A Educação Popular nas pós-graduações em
Educação: análises das dissertações e teses produzidas entre 2000 e 2014
na Região Nordeste”, Soares (2016) fundamenta-se nos conceitos de
educação, popular, história, movimentos de cultura e Educação Popular
(grifo nosso), assim como no diálogo sobre a história da Pós-Graduação
no Brasil e das Pós-Graduações em Educação da região Nordeste,
CAPES e CNPq. Sendo assim, a dissertação apresenta o Estado da Arte
acerca da Educação Popular nas pós-graduações em Educação da região
Nordeste. São utilizados como pressupostos teóricos os estudos de
Haddad (2000), Ferreira (2002), Teixeira (2006) e a análise de conteúdo
elucidada por Bardin (1977), assim como Demo (1995), Coelho (2002),
Brandão (1981, 2006), Beisiegel (1982, 1986), Bezerra (2001), Góes
(1980), Porto e Lage (1995) e Scocuglia (2000).
Bandeira (2017), ao estudar “A dimensão educativa do trabalho
dos agentes comunitários de saúde: nos passos dos ACS de Mari-PB”,
fundamenta-se em diversos expoentes, apresentando como principais:
Paulo Freire (2001), amparando-se no conceito de prática educativa;
58
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

Gohn (1999), Werthein (1985) e Torres (1992), no conceito acerca da


educação não-formal. Desta maneira, todo trabalho é embasado nos
pressupostos da educação popular, a partir dos teóricos citados e de
outros da área, como Brandão (1981), Carrillo (2013), destacando os
que tratam da educação popular em saúde: Valla (2003), Vasconcelos
(1989), Mialhe (2011), Gonçalves (2011), entre outros. Ao longo do
estudo, é possível perceber definições importantes de: educação popular;
educação formal e não formal; prática educativa (grifo nosso); e espaços
alternativos.
Por fim, no estudo “A prática educativa da extensão rural no
campo da reforma agrária: aproximações com a educação popular”,
Silva (2017) toma como referência diferentes autores entre eles:
Freire (1983), que trata sobre uma educação que liberta o oprimido e
transforma a sociedade, tornando o homem construtor da sua história;
Batista (2007), que evidencia a Educação Popular como forma de
democratização, emancipação humana (grifo nosso), libertação,
resistência e enfrentamento frente as políticas educacionais oficiais
impostas, bem como a negação dos direitos educacionais; Holliday
(2006) que trata sobre a Educação Popular vinculada à criticidade
e a busca pela plenitude do desenvolvimento das aptidões do ser
humano,considerando-o, como sujeito transformador; Scocuglia (2015),
o qual enfatiza sobre novas práticas pedagógicas que contribuem para a
autonomia e democratização do indivíduo: Aron (2005), que traz uma
reflexão de acordo com Marx, que enfatiza sobre as lutas de classes e as
desigualdades sociais; e Brandão (2006), que comenta sobre “o fruto
do trabalho, o homem em si, e sua relação com o meios ambiente como
um todo.

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Aline Rodrigues de Almeida - Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta - Francisca Natália da Silva
Ramos - Jailson Batista dos Santos - Marcilane da Silva Santos - Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana - Ynakam Luis de Vasconcelos Leal

Aspectos Epistemológicos

Os aspectos epistemológicos de uma pesquisa referem-se aos


critérios de “cientificidade”. Nesse sentido, Gamboa (2012) destaca
a concepção de ciência como concepção dos requisitos da prova ou
validez do estudo, tipo de mudança proposto, autores citados, dentre
outros critérios.
Com efeito, no que concerne à epistemologia da pesquisa sobre
“A dimensão educativa do trabalho dos agentes comunitários de saúde:
nos passos dos ACS de Mari-PB” (BANDEIRA, 2017), este estudo tem
sua validade científica por meio da etnometodologia e da hermenêutica
dialética (grifo nosso). De acordo com Bandeira (2017), a aderência
à etnometodologia se deu por esta se ocupar de atividades práticas
do cotidiano com o mesmo trato dado aos grandes acontecimentos,
afirmando-se como a corrente metodológica da sociologia que busca
compreender as práticas sociais a partir de sua própria dinâmica. Assim,
utilizou-se a indicialidade como um dos conceitos-chave para avançar
na compreensão da vida em suas minúcias; esta escolha possibilitou
compreender como os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) percebem
e utilizam os elementos que se lhe apresentam cotidianamente, tais
como as relações sociais por meio das variadas formas de linguagem:
verbal e não verbal.
No estudo sobre “A dimensão organizativa em uma educação
popular” (FREITAS, 1986), destacam-se o Materialismo Histórico
Dialético (grifo nosso), Espaço Urbano, Emancipação humana, Direito
à moradia, Direito à Educação, Busca pelas condições para viver em

60
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

sociedade, e os Movimentos Sociais, representando uma clara reação


das camadas populares, diante das precárias condições de existência
como aspectos epistemológicos da pesquisa.
No que pese o estudo sobre “A Educação Popular nas pós-
graduações em Educação: análises das dissertações e teses produzidas
entre 2000 e 2014 na Região Nordeste” (SOARES, 2016), o materialismo
histórico dialético (grifo nosso) é utilizado por Soares (2016) a partir
do estudo de Demo (1995) sobre a totalidade dialética. Ela assume
intencionalidade em sua investigação e aproximação com o objeto
de pesquisa, através de estudo e análise aprofundada de seu objeto
de conhecimento – a Educação Popular e a Pós-Graduação no Brasil.
A partir da análise e interpretação desse objeto de estudo, a referida
pesquisadora pretende ampliar o debate acerca da Educação Popular
nas Pós-Graduações em Educação na região Nordeste.
Em relação ao estudo sobre “A prática educativa da extensão
rural no campo da reforma agrária: aproximações com a educação
popular” (SILVA, 2017), nos seus aspectos epistemológicos, percebe-
se que predomina o materialismo histórico dialético, tendo em vista
que a autora explica claramente sua intenção de aproximação com o
objeto de estudo, seu interesse em analisá-lo e conhecê-lo de forma mais
aprofundada, com o intuito de interpretar os fenômenos sociais, que
apresentam a necessidade de ampliação do conhecimento de mundo ,
da consciência e emanicipação humana (grifo nosso).
Já na pesquisa sobre “Cenopoesia, a arte em todo ser: das
especificidades artísticas às interseções com a educação popular”
(DANTAS, 2015), constam o Materialismo Histórico dialético, Educação
Popular, artes, cenopoesia. A autora acredita que o Materialismo
dialético (grifo nosso) é a epistemologia que caracteriza seu trabalho,
61
Aline Rodrigues de Almeida - Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta - Francisca Natália da Silva
Ramos - Jailson Batista dos Santos - Marcilane da Silva Santos - Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana - Ynakam Luis de Vasconcelos Leal

pois ele pode abarcar os dilemas históricos, socioeconômicos e as


relações sociais do fenômeno analisado.
Sobre a dissertação intitulada “Nóis é terrívi, se nóis fala que
faz, nóis faz: o acampamento Elizabeth Teixeira em Limeira-SP e a
construção da escola como espaço público de auto-organização e
Educação Popular” (RODRIGUES, 2016), aparecem o Materialismo
Histórico Dialético (grifo nosso); Emancipação humana; Direito
à moradia; Direito à Educação; Busca pelas condições para viver em
sociedade; e Reconhecimento da criança como sujeito ativo na sociedade
como aspectos epistemológicos de investigação.
Em Nascimento (2015), sobre “O processo de aproximação da
educação popular com as práticas de educação em saúde no SESC e o seu
significado”, percebe-se a utilização também do materialismo histórico-
dialético (grifo nosso), como estudo e respaldo dos seus métodos e
como forma de fundamentar sua visão de mundo e de homem.
No tocante à pesquisa “Trajetórias de sucesso escolar dos jovens
oriundos de escolas públicas no ensino superior”, Batista (2016) utiliza
a corrente de pensamento estruturalista (grifo nosso). Por meio desse
viés, traz para o campo de análise elementos que compõem o sucesso
escolar a partir das concepções dos sujeitos, como sua trajetória escolar,
o fato de serem de origem popular e suas escolhas por cursos de alto
prestígio social, depreendendo-se assim a realidade social dos sujeitos
interlocutores da pesquisa.

Aspectos Gnosiológicos

Acerca dos aspectos gnosiológicos de uma pesquisa, Gamboa


(2012) explica que tem a ver com o entendimento do/a pesquisador/a
62
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

sobre a realidade, o abstrato e o concreto no processo de investigação


científica. Assim, para o referido autor, isso implica variadas formas
de abstrair, conceituar, classificar e formatar. Referindo-se, assim, aos
critérios sobre a “construção do objeto” no processo de construção do
conhecimento científico (GAMBOA, 2012).
Em consonância ao exposto, na dissertação sobre “A dimensão
organizativa em uma educação popular”, o primeiro contato de Freitas
(1986) com o objeto de pesquisa (Associação de Moradores Brasília
Teimosa – Recife/PE) se deu entre 1960 e 1964, pela Graduação em
Ciências Sociais na Universidade Católica de Pernambuco, onde foi
desenvolvido um trabalho de campo de três anos, retomando-o na
década de 80 para realizar algo mais específico, destinado ao mestrado
em educação no PPGE.
No estudo sobre “Cenopoesia, a arte em todo ser: das especifici-
dades artísticas às interseções com a educação popular”, Dantas (2015)
evidencia que teve contato com a cenopoesia desde a adolescência, na
década de noventa, e o encantamento com uma manifestação que é po-
pular e que possui finalidade pedagógica, social e representa resistência,
a qual o fez transcender e buscar um modo de levar à academia uma
parte importante da nossa cultura, que, no entanto, ainda possui pouca
visibilidade e teorização. Sua missão foi unir a pedagogia à sua paixão
pela arte, que se concretiza na cenopoesia.
Ao analisar “O processo de aproximação da educação popular
com as práticas de educação em saúde no SESC e o seu significado”,
Nascimento (2015) parte intimamente de suas experiências profissionais,
relatando que o encontro com a educação popular surgiu antes dos
estudos na área e experiência profissional. A pesquisadora relata também
certas experiências que a possibilitaram desenvolver uma prática mais
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Aline Rodrigues de Almeida - Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta - Francisca Natália da Silva
Ramos - Jailson Batista dos Santos - Marcilane da Silva Santos - Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana - Ynakam Luis de Vasconcelos Leal

sensível, com uma escuta humanizada, de modo que foram fortalecidas


as práticas em promoção de saúde; dentre essas experiências, cita o
Estágio Multiprofissional Interiorizado – EMI no hospital municipal
de Juazeirinho – PB; atividades junto ao Serviço Social do Comércio –
SESC/PB; e as experiências vividas na clínica médica no Hospital São
Vicente de Paula em João Pessoa-PB.
Em “Nóis é terrívi, se nóis fala que faz, nóis faz: o acampamento
Elizabeth Teixeira em Limeira-SP e a construção da escola como espaço
público de auto-organização e Educação Popular”, Rodrigues (2016)
esclarece que teve seu primeiro contato com o objeto de pesquisa
(Assentamento do MST em Limeira-SP) em 2007, pelo Coletivo de
Extensão Universidade Popular (UP), da Universidade Estadual de
Campinas-SP, no qual a pesquisadora atuou ainda como estudante de
2007 a 2012. Em 2014, retornou ao assentamento para a realização da
pesquisa, então como estudante do curso de mestrado do Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba-PB.
Já Batista (2016), sobre as “Trajetórias de sucesso escolar dos
jovens oriundos de escolas públicas no ensino superior”, demonstra que
seu interesse por esse estudo parte da compreensão dos sujeitos como
jovens de sucesso pela superação da realidade social desfavorável a qual
pertenciam. Nesse sentido, a categoria “sucesso escolar” aparece como
elemento abstrato e, ao mesmo tempo, norteador na relação com a
percepção dos sujeitos interlocutores da pesquisa inseridos na realidade
observada.
Já Soares (2016), esta desenvolveu o estudo sobre “A Educação
Popular nas pós-graduações em Educação: análises das dissertações e
teses produzidas entre 2000 e 2014 na Região Nordeste”, a partir de sua
participação no Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Popular,
64
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

Serviço Social e Movimentos Sociais (GEPEDUPSS); a pesquisadora


tece estudos e discussões, levando em conta seu entendimento de
mundo, sua identidade, os teóricos que fizeram/fazem parte de sua linha
de pesquisa e sua forma de compreender o próprio objeto e de colocar-
se diante dele. Sendo assim, a pesquisa traz à tona a compreensão de
que a Educação Popular, nas produções analisadas, é tida como temática
secundária, pois se tem dado pouca ênfase à temática referida, além de
permitir o entendimento de que a Educação Popular no país não deve se
findar em uma definição, pois “ela vai além de um tempo, de um espaço,
de um sujeito, e até mesmo de uma perspectiva teórica” (SOARES, 2016,
p. 136).
O interesse de Bandeira (2017) em desenvolver um estudo
sobre “A dimensão educativa do trabalho dos agentes comunitários de
saúde: nos passos dos ACS de Mari-PB” está atrelado à sua experiência
profissional (grifo nosso) como ACS e à sua formação inicial no curso
de Pedagogia, de forma paralela. Ela ampliava sua formação na área da
educação enquanto exercia a função de Agente Comunitária de Saúde,
profissão entendida como componente da área da saúde. Nessa vivência
dual, ela encontrou a relação entre ambos os campos, que relata ter se
dado a partir da concepção freireana de que “educação está além dos
muros escolares”.
Silva (2017), por sua vez, em sua pesquisa intitulada “A prática
educativa da extensão rural no campo da reforma agrária: aproximações
com a educação popular”, explica que sua formação pessoal e militância
(grifo nosso) estão intimamente relacionada à sua convivência com
pessoas pelas quais ela tinha grande admiração, e as considera como
referência. Dentre estas pessoas, ela destaca primeiramente a sua
mãe e, em seguida, as “educadoras e educadores militantes”, por isso,
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Aline Rodrigues de Almeida - Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta - Francisca Natália da Silva
Ramos - Jailson Batista dos Santos - Marcilane da Silva Santos - Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana - Ynakam Luis de Vasconcelos Leal

em seu discurso, acrescenta que estes atores se constituíram sujeitos


muito importantes em sua formação acadêmica, uma vez que muito
contribuíram, incentivando-a a problematizar questionamentos que
a inquietavam enquanto militante e participante (grifo nosso) de
formações políticas, e dos movimentos sociais do campo (p. 17, 18 e
19).

Aspectos Ontológicos


Os aspectos ontológicos de uma pesquisa referem-se às
concepções de ser humano, de sociedade, de história, de educação
e da realidade frente ao objeto de investigação que, segundo o que
diz Gamboa (2012), articulam-se na visão de mundo implícita em
toda produção científica, visão esta que o referido autor chama de
“cosmovisão”. A cosmovisão expressa por Gamboa (2012) compõe uma
metodologia integradora e totalizadora que colabora para a elucidação
de outros paradigmas.
Nessa perspectiva, a ontologia expressa na pesquisa sobre “A
dimensão organizativa em uma educação popular” (FREITAS, 1986)
está presente no ato de aprender pela observação de suas práticas (grifo
nosso) e tomar consciência da luta dos movimentos populares, para
conduzir a criação, reprodução e redistribuição do saber, oferecendo em
troca aos demais pesquisadores as contribuições possíveis dentro de um
campo específico de conhecimento.
Acerca da pesquisa “Cenopoesia, a arte em todo ser: das
especificidades artísticas às interseções com a educação popular”,
Dantas (2015) entende que a cenopoesia “Busca a superação da
excepcionalidade artística de modo a restaurar a condição ontocriativa
66
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

das pessoas”. Sua prática caracteriza-se pela articulação de repertórios


humanos (grifo nosso) e suas composições efetivam-se por meio de
diversas modalidades. Desse modo, a partir de uma visão pedagógica,
preocupada com questões sociais, a pesquisadora viu nessa manifestação
artística a possibilidade de produzir visibilidade e enfrentar as barreiras
hegemônicas que se levantam.
Sobre o estudo intitulado “O processo de aproximação da
educação popular com as práticas de educação em saúde no SESC e o
seu significado”, Nascimento (2015) fundamenta-se no materialismo
histórico-dialético e na educação popular especialmente em Freire,
compreendendo o ser humano como transformador e protagonista
da sua história, não dissociado desta. Sendo assim, os sujeitos
conscientizados lutam para romper uma história de vida ditada pelo
interesse da elite dominante. Em suma, dentro da educação popular,
na perspectiva freireana e como a autora traz, homens e mulheres são
sujeitos condicionados (grifo nosso), porém não determinados, uma
vez que, dentro de um espaço que os possibilite a tomada de consciência,
possuem a capacidade de romper com essa força ditadora.
No que concerne ao ontológico exposto por Rodrigues (2016),
em “Nóis é terrívi, se nóis fala que faz, nóis faz: o acampamento Elizabeth
Teixeira em Limeira-SP e a construção da escola como espaço público
de auto-organização (grifo nosso) e Educação Popular”, destacam-se os
aspectos crítico-reflexivo e problematizador; produção e transformação;
educação libertadora; busca pelo ser mais; e homem como sujeito da
própria história.
Quanto ao estudo sobre as “Trajetórias de sucesso escolar dos
jovens oriundos de escolas públicas no ensino superior, Batista (2016)
infere que as trajetórias escolares dos estudantes oriundos de escolas
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Aline Rodrigues de Almeida - Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta - Francisca Natália da Silva
Ramos - Jailson Batista dos Santos - Marcilane da Silva Santos - Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana - Ynakam Luis de Vasconcelos Leal

públicas não são homogêneas e apresentam diversos recursos, como a


interdependência entre família, escola, relação com o saber e o desejo
de mobilidade social (grifo nosso), que corroboram para seu sucesso
acadêmico. Nesse sentido, a visão de ser humano expressa na referida
pesquisa é de um ser humano emancipado, de sujeitos emancipados, de
estudantes de origem popular e suas histórias singulares de superação.
Soares (2016), em sua dissertação intitulada “A Educação
Popular nas pós-graduações em Educação: análises das dissertações e
teses produzidas entre 2000 e 2014 na Região Nordeste”, em sua ótica
ontológica, compreende que a Educação Popular não se apresenta de
maneira homogênea, ou seja, não existe um modelo definido que venha
traçar um padrão acerca de suas práticas, pelo contrário, ela é concebida
a partir de múltiplas concepções e entendida de acordo com os seus
sujeitos, mediatizados pelos variados espaços e tempos nos quais ela é
constituída. Dessa forma, de acordo com Soares (2016), não existe um
consenso para se estudar e entender a Educação Popular.
Bandeira (2017), ao estudar sobre “A dimensão educativa do
trabalho dos agentes comunitários de saúde: nos passos dos ACS de
Mari-PB”, expressa o aspecto ontológico na ideia de que “a educação
é um processo complexo e dinâmico”, demonstrando que comunga
com Brandão (1981), quando fala que a educação está em nós como
“pedaços da vida”. Portanto, defende que não existe educação, e sim
educações (grifo nosso), podendo ocorrer tanto na escola, como fora
dela. Ao assumir esse entendimento, a pesquisadora afirma que a
educação possibilita ao homem construir seu conhecimento por meio
das relações existentes em sua vida, assim, o estudo de Bandeira (2017)
considera o homem como sujeito crítico, conhecedor da realidade

68
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

em que convive e disposto a buscar ou criar formas alternativas de


sobrevivência, crescimento ou transformações nos espaços em que vive.
A respeito do estudo sobre “A prática educativa da extensão rural
no campo da reforma agrária: aproximações com a educação popular”,
em seus aspectos ontológicos, Silva (2017) ressalta que o saber popular
(grifo nosso) vincula-se ao conhecimento acadêmico, e este por sua
vez ao conhecimento popular, contribuindo para a reensignificação de
novos conhecimentos, uma maior interação entre os seres humanos e
destes com a natureza.
Segundo o que diz Gamboa (2012), uma investigação constitui-
se por meio de coleta, registro, organização, sistematização e tratamento
de dados e informações, para posteriormente dar início às análises. Nesse
sentido, Richardson (2017) afirma que o/a pesquisador/a deve escolher
os instrumentos mais adequados para efetuar a coleta de informações.
Nesse contexto, sobre a dimensão técnico-instrumental, des-
tacam-se, nas produções que permeiam a linha de pesquisa Educação
Popular, as entrevistas semiestruturadas como sendo o procedimento
utilizado, seguido de revisões bibliográficas e documentais, dentre ou-
tros procedimentos conforme ilustrado no gráfico a seguir.

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Aline Rodrigues de Almeida - Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta - Francisca Natália da Silva
Ramos - Jailson Batista dos Santos - Marcilane da Silva Santos - Nívea Maria do Nascimento da Silva
Maria Selma Santos de Santana - Ynakam Luis de Vasconcelos Leal

Gráfico 01 - Frequência quanto às Técnicas e Procedimentos utilizados nas Dissertações


analisadas

Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as) 2018.

Quanto à abordagem metodológica, dentre as dissertações


analisadas, percebe-se a predominância da metodologia qualitativa,
presente em todas as dissertações. Identifica-se um caráter quantitativo
apenas em duas das dissertações analisadas, a saber, a de Batista (2016) e
a de Soares (2016), porém, sempre somado a uma abordagem qualitativa,
no entendimento de que o uso dessas duas abordagens possibilitaria
uma compreensão maior do objeto de estudo.
Gráfico 02 - Frequência quanto à Metodologia utilizada nas Dissertações analisadas

Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as) 2018.

Com relação ao aspecto metodológico, o caráter exploratório foi


utilizado em quatro das pesquisas e o método dialético esteve presente
70
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

em quatro das dissertações analisadas, sendo, em uma delas, citado o


embasamento teórico freireano. Já o método de narrativas biográficas foi
utilizado em dois dos trabalhos. Sendo assim, foi possível compreender, a
partir dessa análise, que a escolha pelo tipo de abordagem metodológica
requer do/a pesquisador/a o entendimento sobre o caminho que deseja
percorrer e decorre de seu contato e aproximação com o seu objeto de
pesquisa. Dessa maneira, as dissertações analisadas apresentam um
caráter majoritariamente qualitativo; a pretensão que os pesquisadores
em Educação Popular têm é a de possibilitar a ampliação da visão
de homem, de mundo e de sociedade, no tempo e espaço, em que se
constroem as suas pesquisas.
Quanto ao aspecto teórico, certos autores fizeram-se
recorrentes, como é o caso de Paulo Freire e Brandão. Freire foi citado
em seis dissertações, conforme ilustrado no gráfico 03. Em termos
metodológicos e técnico-instrumentais, também se fizeram presentes
Minayo (2001), Gamboa (2012) e Richardson (1999). A depender da
temática abordada, percebemos que há uma variação de teóricos, os
quais apareceram apenas em um trabalho específico, como é o caso de
Bourdieu (1998), Bardin (2011), Marx (1979), dentre outros.
Gráfico 03 - Frequência quanto aos Teóricos utilizados nas Dissertações analisadas

Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as) 2018.

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Em relação aos aspectos epistemológicos, que correspondem à


cientificidade da pesquisa e seus critérios, através das análises foi possível
perceber mais ênfase no materialismo histórico dialético, de modo que,
das oito dissertações, seis apresentaram essa forma epistemológica.
Apenas a pesquisa “Trajetórias de sucesso escolar dos jovens oriundos
de escolas públicas no ensino superior” fundamentou-se na corrente de
pensamento estruturalista e o trabalho intitulado “A dimensão educativa
do trabalho dos agentes comunitários de saúde: nos passos dos ACS de
Mari-PB” compreendeu as práticas sociais partindo do contexto e da
realidade.
Gráfico 04 - Frequência quanto aos aspectos Epistemológicos empregados nas
Dissertações analisadas

Fonte: Elaborado pelos(as) autores(as) 2018.

Em relação aos aspectos gnosiológicos, podemos perceber


uma tendência gnosiológica muito clara do relacionamento dos
sujeitos e objetos a partir das vivências, de modo que, em quatro
dissertações analisadas, os sujeitos e objetos confundem-se, pois, os/
as pesquisadores/as, em um dado momento, fazem parte do próprio
objeto, sendo ao mesmo tempo, sujeitos. Em outras quatro situações, os
sujeitos aproximam-se dos objetos, a partir de uma vivência acadêmica,
por meio do desenvolvimento de atividades de pesquisa na graduação
e aprofundamento dessas atividades na pós-graduação. O que fica claro
72
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

é que, mesmo com enfoques diferentes, posições geográficas distintas,


objetos de pesquisa diversos, há uma ligação entre conhecimento a ser
desenvolvido e interesse do/a pesquisador/a (GAMBOA, 2012).
No que se refere aos aspectos ontológicos observados nas
dissertações, estas apresentam o ser humano como sujeito questionador
e transformador (grifo nosso), que ao longo dos anos vem construindo
uma trajetória de luta por sua emancipação e libertação (grifo nosso).
Os autores estudados, em sua totalidade, fundamentam seus trabalhos
na Educação Popular, sendo a maioria na perspectiva freireana, e
utilizam diferentes expressões para afirmar que homens e mulheres
são sujeitos condicionados (grifo nosso), mas explicam que estes, uma
vez inseridos em espaços que possibilitem a tomada de consciência,
tornam-se capazes de romper com as forças opressoras, pois, ao serem
conscientizados, lutam contra a opressão e a dominação e constituem-
se sujeitos da sua própria história.
Pelo exposto, as pesquisas analisadas evidenciam que o saber
popular propicia uma articulação entre o conhecimento acadêmico e
o conhecimento popular, contribuindo para a construção da relação
do ser humano com o outro e com a natureza, promovendo melhoria
da qualidade de vida do homem e da mulher e das suas relações
com a natureza, favorecendo a interação no processo construtivo de
ressignificação de novos conhecimentos, fundamentados no diálogo e
na contextualização da realidade.

73
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da maioria dos trabalhos apresentarem os mesmos


aspectos, tanto teóricos, metodológicos, técnico-instrumentais, quanto
os epistemológicos, gnosiológicos e ontológicos, foi possível perceber
uma variabilidade do objeto e do fenômeno, mesmo dentro da mesma
linha de educação popular, de modo que as pesquisas envolveram desde
as práticas educativas ao sucesso escolar, passando pela educação em
saúde e pela cenopoesia. Essa característica de amplitude e variação dos
pontos pesquisados apresenta, dentro do recorte realizado, um curso
de pós-graduação que abrange diversos fazeres, práticas e dizeres,
possibilitando perceber o quanto a educação popular pode engajar-se
em diversos espaços.
Em síntese, as dissertações centram-se no método qualitativo e
dialético, característico das pesquisas em educação e da educação popu-
lar. A maioria também se fundamenta epistemologicamente no materia-
lismo histórico e dialético. Assim, entende-se que as visões de mundo,
homem e compreensão da ciência dialogam com o entendimento dos
homens e mulheres como sujeitos transformadores, lutando por uma
sociedade mais justa e igualitária através do processo de conscientiza-
ção.
Sobre os principais teóricos, técnicas e instrumentos, também
é perceptível uma hegemonia voltada para autores com uma base mar-
xista e instrumentos e técnicas dos métodos qualitativos, apresentando
um distanciamento dos métodos quantitativos, usados apenas de forma
secundária. Com efeito, foi possível entender os seis aspectos de forma

74
A Lógica Estrutural das Pesquisas em Educação: Análise da Produção
de Conhecimento em Educação Popular

mais clara por meio do exercício de identificação nas dissertações, pos-


sibilitando um olhar apurado para a futura construção das dissertações
dos discentes que participaram das análises.
Apesar de ser um pequeno recorte em relação à quantidade total
das dissertações, foi possível perceber também uma ênfase sobre a com-
preensão de mundo e de ser humano presente nas discussões, permi-
tindo perceber que, dentro da linha de pesquisa em educação popular,
os sujeitos são compreendidos como protagonistas e transformadores
de suas realidades. Assim, esse trabalho contribuiu positivamente para
o reconhecimento das produções desenvolvidas no âmbito da pesquisa
em Educação Popular, por trazer para o centro das discussões um arca-
bouço teórico-metodológico rico em seus mais variados aspectos.
Diante do exposto, conclui-se que o presente trabalho se
configura importante por contribuir tanto para o curso de Mestrado em
Educação quanto para as pesquisas dos próprios alunos integrantes da
disciplina “Pesquisa em Educação”, no sentido de dar subsídio para que
estes possam definir a base epistemológica de suas respectivas pesquisas
em desenvolvimento.
Contudo, sugere-se que novos trabalhos sejam realizados com
um recorte maior sobre as dissertações para ampliar as análises e para
uma maior compreensão sobre o âmbito da Pesquisa em Educação.

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Graduações em Educação: análises das dissertações e teses produzidas
entre 2000 e 2014 na região nordeste. 2016. 133f. Dissertação
(Mestrado em Educação) - Universidade Federal da Paraíba, João
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handle/tede/8743> Acesso em: 16 de maio 2018.

77
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Estudos e pesquisas sobre as memórias e as histórias da


educação brasileira, tomando como principal lócus de discussão
as experiências educacionais nordestinas e, mais particularmente,
paraibanas. Tais estudos e pesquisas fundamentam-se na pluralidade
teórica e metodológica dos campos da história e da educação. História
da educação nos períodos imperial e republicano nos níveis primário,
secundário e superior. História da educação popular.
Fonte: site do PPGE <http://www.ce.ufpb.br/ppge/contents/menu/linhas-de-
pesquisa>.
AS INTERFACES ENTRE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO NA
PESQUISA ACADÊMICA: UM DEBATE PROFÍCUO NA
PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO-EDUCA-
CIONAL

Marcondes dos Santos Lima


Rossana Farias Queiroz Ferrer
Tiago Licarião de Melo

Para conseguir um domínio confiável das técnicas,


os investigadores necessitam entender suas relações
com os métodos e os procedimentos, e destes
com os correspondentes pressupostos teóricos e
metodológicos [...]

Silvio Sánchez Gamboa (2014)

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

O escopo deste construto é esboçar uma discussão e análise


teórico-metodológica em torno de quatro produções acadêmicas,
especificamente, as dissertações de mestrado do Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba (PPGE/

81
Marcondes dos Santos Lima - Rossana Farias Queiroz Ferrer - Tiago Licarião de Melo

UFPB), desenvolvidas no âmbito da linha de pesquisa História da


Educação e que foram defendidas no marco temporal compreendido
entre 2013 a 20171.
Entendemos que materializar textualmente o que vem sendo
produzido no campo da historiografia da educação nos últimos anos,
principalmente o processo de construção dessas pesquisas, é também
uma produção de conhecimento relevante para compreendermos
como são estruturados os processos investigativos e as tendências do
pensamento educacional na área da pesquisa em educação.
As quatro dissertações selecionadas e analisadas têm os respec-
tivos títulos: Os anúncios do Jornal A União (1904-1937): a propa-
gação da modernidade pedagógica na Paraíba, de Arruda (2015); A
escolarização da população pobre na Parahyba do Norte: instruir para
civilizar (1855-1889), de Santos (2016); História de vida professoral de
Mário Moacyr Porto: a cultura jurídica em favor dos Direitos Huma-
nos (1950-1969), de Lima (2016); e, por fim, Primaveras de destinos
da Revista de Ensino no Estado da Paraíba: as prescrições na História
da Educação e as representações do Ensino de História (1932-1942),
de Assunção (2016).

Na leitura e compreensão da escrita de tais dissertações listadas


acima, fomos guiados pela tese de que, na pesquisa em Educação, há
uma lógica interna de produção do conhecimento científico. Conforme
o que diz Gamboa (2014), a pesquisa em Educação deve articular os
diversos fatores ou níveis que constituem a estrutura epistemológica de
um estudo científico educacional. E complementa que “Suponhamos
1 Este texto teve a sua primeira versão quando foi solicitado e apresentado na
disciplina de Pesquisa em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação
da Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Para esta coletânea (segunda versão), o
mesmo texto passou por uma (re)leitura por seus autores no sentido de modificar,
acrescentar e aprofundar a discussão.
82
As Interfaces entre História e Educação na Pesquisa Acadêmica: Um Debate Profícuo na
Produção do Conhecimento Histórico-Educacional

que todo processo de produção do conhecimento se manifesta numa


estrutura de pensamento que inclui conteúdos filosóficos, lógicos,
epistemológicos, teóricos, metodológicos e técnicos (GAMBOA, 2014,
p. 58).
Para o autor, esses conteúdos, citados acima, podem ainda
ser organizados em níveis de amplitude, iniciando por fatores que se
comportam na pesquisa de forma explícita até chegar aos fatores que
se comportam de forma implícita. É a partir destas considerações
preliminares em torno da lógica da pesquisa em educação, esboçada
por Gamboa (2014), em diálogo com outros autores, que a nossa leitura
das dissertações foi orientada no sentido de identificar e problematizar
teoricamente tais aspectos que dão forma e substância ao processo
de produção do conhecimento científico, e, em nosso caso, do saber
histórico-educacional, considerando os elementos como: 1) Técnico-
instrumental; 2) Metodologia; 3) Teoria ou teóricos; 4) Epistemologia;
5) Gnosiologia; e 6) Ontologia.
Compreendemos que este modelo metodológico imprime
questões conceituais rigorosas que dão critério de cientificidade nas
pesquisas. Neste sentido, as ciências humanas gozam de um estatuto
qualitativo, pois buscam significar acontecimentos que revelam uma
construção histórica. E, na construção do objeto de pesquisa, os
historiadores desenvolvem métodos que visam a auxiliar os processos
investigativos, por isso, na historiografia da educação, o leque de
possibilidades metodológicas é amplo.
O método qualitativo difere, em princípio, do quantitativo, na
medida em que não emprega um instrumental estatístico como base do
processo de análise de um problema. Não pretende numerar ou medir
unidades ou categorias homogêneas (RICHARDSON, 2017).
83
Marcondes dos Santos Lima - Rossana Farias Queiroz Ferrer - Tiago Licarião de Melo

Partindo do pressuposto de que toda pesquisa acadêmica


deve perseguir esta lógica de investigação, isto é, os elementos/níveis
que dão forma e conteúdo à escrita científica, tentaremos perscrutar
e demonstrar ao leitor se as pesquisas (dissertações) construídas na
área de História da Educação têm considerado estes aspectos desde o
técnico-instrumental até a ontologia. Vale ressaltar que, a partir dos
resultados obtidos, não queremos imprimir ao leitor generalizações no
sentido de apontar se há ou não na escrita dessas produções acadêmicas
uma estrutura epistemológica interna. Isto, porque, a nossa análise tem
como materialidade apenas quatro dissertações de mestrado de uma
instituição. Logo, o nosso olhar analítico partirá de indícios (singular/
particular) sem cair na sedução da generalização.
Ressaltamos que a relevância deste construto está em dar
continuidade à tradição que há na prática de mapeamento de dissertações
de mestrado e doutorado, bem como de artigos em periódicos. Este
exercício de rastrear e catalogar trabalhos acadêmicos de natureza
diversificada, conhecido como “Estado da Arte” (SANTOS; BARROS,
2012), tem possibilitado aos estudiosos da área de educação identificar e
conhecer o que tem sido lido, investigado e publicado no campo, assim
como saber quais objetos de estudo e temáticas têm sido privilegiados
nas linhas de pesquisa de Programas de Pós-Graduação em Educação
no país.
A autora Ferreira (2002), que define esse procedimento
bibliográfico também como “Estado do Conhecimento”, permite-
nos entender que esta prática de mapeamento traz em comum o
desafio de discutir certa produção acadêmica em diferentes campos
do conhecimento, tentando responder que aspectos e dimensões vêm
sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares.
84
As Interfaces entre História e Educação na Pesquisa Acadêmica: Um Debate Profícuo na
Produção do Conhecimento Histórico-Educacional

Complementamos ainda que a leitura do texto em apreço pode


ser concebida como uma possibilidade de suscitar discussões, ou, em
outras palavras, conscientizar os iniciantes e experientes na pesquisa
em educação sobre a relevância de se prezar pelo rigor científico na
produção do conhecimento acadêmico, pois, segundo o que Bittar (2009)
identificou, em um estudo sobre os quarenta anos de pós-graduação
no Brasil, que desde a década de 1990 houve uma tendência crescente
de produções que têm perdido o rigor teórico-metodológico em
decorrência da massificação dos trabalhos, bem como do crescimento
dos programas de pós-graduação no país.
Após a localização das dissertações de mestrado defendidas, o
primeiro procedimento foi a pré-análise que, segundo o que diz Bardin
(2011), é o momento da escolha dos documentos que serão submetidos
à análise. Nesta etapa, realizou-se a “leitura flutuante” que “[...] consiste
em estabelecer contato com documentos a analisar e em conhecer o
texto deixando-se invadir por impressões e orientações” (BARDIN,
2011, p. 126). A partir das primeiras impressões obtidas com a “leitura
flutuante”, pudemos adentrar no conteúdo das dissertações, a fim de
rastrear a existência ou não dos elementos concernentes à estrutura
epistemológica interna de uma pesquisa (GAMBOA, 2014).

APRESENTAÇÃO DAS PROPOSTAS DAS DISSERTAÇÕES DE MESTRADO EM


HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NA PARAÍBA

A dissertação da linha de pesquisa de História da Educação,


intitulada Os anúncios no Jornal A União (1904-1937): a propagação da
modernidade pedagógica na Paraíba, foi defendida pela Mestra Kalyne
Barbosa Arruda, em 2015, sob a orientação da Professora Dra. Fabiana

85
Marcondes dos Santos Lima - Rossana Farias Queiroz Ferrer - Tiago Licarião de Melo

Sena, tendo as seguintes questões de pesquisa: Como as escolas, os


professores e métodos de ensino eram anunciados? Que história da
educação esses anúncios desvelam? Quais as representações por meio
de anúncios de educação no período? Havia anúncios que tratavam da
pedagogia moderna? Se sim, como era o discurso? Como os anúncios
eram formulados para convencer os leitores dos serviços anunciados?
Como se dava a circulação desses textos no jornal? Partindo desses
problemas, a autora levantou a seguinte questão: qual a representação
deles nesse suporte e qual era o papel dos anúncios na difusão da
modernidade pedagógica no período de 1904 a 1937? Para tanto, a
investigação teve como objetivo geral analisar as representações de
educação presentes nos anúncios sobre os professores, escolas e métodos
de ensino no Jornal A União, nos anos de 1904 a 1937.
A dissertação A escolarização da população pobre na Parahyba
do Norte: instruir para civilizar (1855-1889), de Lays Regina Batista
de Macena Martins dos Santos (2016), sob orientação da Profa. Dra.
Mauricéia Ananias, apresenta como proposta investigar o processo de
institucionalização da escolarização da população pobre na Parahyba do
Norte no marco temporal compreendido entre 1855, por ser a primeira
menção encontrada sobre a existência de alunos pobres nas aulas de
primeiras letras no Império, e 1889, em virtude da transição do regime
da monarquia para o regime republicano.
O argumento central que a autora defende em sua pesquisa é a
frequência de sujeitos pobres e negros nas aulas de primeiras letras da
província paraibana no século XIX. Segundo o relato da autora, o seu
argumento surgiu a partir da constatação de que pesquisas em História
da Educação têm defendido por um longo tempo a ideia de que a escola
pública foi um espaço de formação frequentado somente pela elite.
86
As Interfaces entre História e Educação na Pesquisa Acadêmica: Um Debate Profícuo na
Produção do Conhecimento Histórico-Educacional

A dissertação História de vida professoral de Mário Moacyr


Porto: a cultura jurídica em favor dos Direitos Humanos (1950-1969),
de Lima (2016), possui como objeto de pesquisa a história de vida
professoral de Mário Moacyr Porto, tendo em vista que, em histórias de
vida professoral, a figura do professor ganha destaque, constituindo-se
objeto de pesquisa em favor de estudos sobre a profissão docente.
Dessa forma, a história de vida do professor Mário Moacyr Porto
apresenta-se como fonte de informações que buscam a reflexão acerca da
formação da identidade profissional docente e suas práticas educativas
na perspectiva da pesquisa-formação e de seu entrelaçamento entre
história-memória por meio da História Oral.
Possui como objetivo geral verificar o papel desempenhado
por Mário Moacyr Porto na constituição da cultura jurídica paraibana.
Justifica-se pela participação do referido autor em momentos
importantes do cenário educacional na luta pela federalização da
Universidade da Paraíba e elaboração e ensino da 1ª Cadeira de Direito
Civil, corroborando para a formação educacional.
A dissertação Primaveras de destinos da Revista de Ensino
no Estado da Paraíba: as prescrições na História da Educação e as
representações do Ensino de História (1932-1942), de Albanisa Maria
de Assunção, defendida no ano de 2016, visou compreender quais
discursos e sobre como estes se apresentaram nos periódicos da Revista
de Ensino do Estado da Paraíba. A investigação pautava-se no modelo
de educação trazida pela visão educacional escolanovista, a partir de
uma nacionalização do sujeito educando e no reforço dos interesses do
Estado e educação.

87
Marcondes dos Santos Lima - Rossana Farias Queiroz Ferrer - Tiago Licarião de Melo

OS (DES)ENCONTROS ENTRE OS ASPECTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS


NAS PESQUISAS ACADÊMICAS EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NA PARAÍBA

Uma das teses centrais que o autor Silvio Sánchez Gamboa


defende em sua obra Pesquisa em educação: métodos e epistemologias de
2014, é que, na produção do conhecimento educacional, o pesquisador
deve se atentar à existência de uma lógica interna da própria pesquisa que
implica no reconhecimento das articulações entre os diversos fatores/
níveis que integram os processos da construção do saber científico.
Todavia, o autor, nas entrelinhas de sua reflexão filosófica, permite-
nos entender que, concomitante à existência desta lógica, nos estudos
acadêmicos tem-se evidenciado a perda da lógica da pesquisa e, portanto,
a necessidade de seu resgate no âmbito da pesquisa educacional.
Em sua acepção, Gamboa (2014) compartimenta a lógica
da pesquisa em cinco aspectos, pressupondo a sua relação de
interdependência, como pode ser definido no excerto abaixo2:

1. técnico-instrumental: refere-se aos processos de


coleta, registro, organização, sistematização e
tratamento do dados e informações;
2. metodológico: faz alusão aos passos, procedi-
mentos e maneiras de abordar e tratar o objeto
investigado;
3. teóricos: entre eles, citamos os fenômenos edu-
cativos e sociais privilegiados, núcleos concei-

2 Em virtude de partirmos do pressuposto de que nem todos os leitores tem o


conhecimento da lógica interna da pesquisa, conforme posto por Gamboa (2012),
principalmente, acerca do significado dos aspectos que integram esta lógica,
apresentamos ao leitor na citação abaixo os níveis de amplitude e seus respectivos
sentidos, tendo em vista auxiliar o leitor na compreensão da análise das dissertações
de mestrado na linha de pesquisa de História da Educação.
88
As Interfaces entre História e Educação na Pesquisa Acadêmica: Um Debate Profícuo na
Produção do Conhecimento Histórico-Educacional

tuais básicos, pretensões críticas a outras teorias,


tipo de mudança proposta, autores citados etc.;
4. epistemológicos: referem-se aos critérios de
‘cientificidade” como concepção de ciência,
concepção requisitos da prova ou validez, con-
cepção de causalidade etc.;
5. gnosiológicos: correspondem ao entendimento
que o pesquisador tem do real, do abstrato e
do concreto no processo de pesquisa científica;
o que implica diversas maneiras de abstrair,
conceituar, classificar e formalizar, ou seja,
diversas formas de relacionar o sujeito e o
objeto da pesquisa e que se refere aos critérios
sobre a “construção do objeto” no processo de
conhecimento;
6. ontológicos: referem-se a concepções de
homem, sociedade, da história, da educação
e da realidade, que se articulam na visão de
mundo implícita em toda produção científica;
esta visão de mundo (cosmovisão) tem uma
função metodológica integradora e totalizadora
que ajuda a elucidar os outros elementos de
cada modelo ou paradigma (GAMBOA, 1987,
p. 66 apud GAMBOA, 2014, p. 58-59).

Em termos de aspecto técnico-instrumental, a dissertação


intitulada Os anúncios do jornal A União (1904-9137): a propagação
da modernidade pedagógica na Paraíba, de Arruda (2015), utilizou a
metodologia da pesquisa documental como orientação para o processo
de coleta, seleção, distribuição e análise das fontes rastreadas, neste caso,
os impressos do século XX. Assim, a pesquisa assumiu uma abordagem
qualitativa. Os dados coletados foram sistematizados em tabelas,
destacando-se os tipos de anúncios presentes no impresso/objeto e,
89
Marcondes dos Santos Lima - Rossana Farias Queiroz Ferrer - Tiago Licarião de Melo

concomitante a isto, identificando-se as representações educacionais, os


sujeitos, os métodos e as práticas pedagógicas de uma época.
Em relação à dissertação A escolarização da população pobre na
Parahyba do Norte: instruir para civilizar (1855-1889), de Santos (2016),
os dados utilizados foram as fontes históricas, a saber: relatórios de
presidentes da Província da Parahyba do Norte; os relatórios do diretor
geral da instrução pública; as leis e regulamentos da instrução pública;
os jornais O Imparcial, Jornal da Parahyba, A Regeneração, O Publicador,
O Arauto Parahybano e o Correio Noticioso; requerimentos, ofícios
e abaixo-assinados. Os respectivos documentos foram coletados no
Arquivo Público do Estado da Paraíba e foram catalogados e transcritos
pelo Grupo de Pesquisa História da Educação no Nordeste Oitocentista
(GHENO), da Universidade Federal da Paraíba.
Embora a autora, na dissertação, informe em qual referencial
teórico se fundamentou para o tratamento das fontes, qual seja, a
História Social Inglesa, entrementes, não explica o nível metodológico,
isto é, os passos ou etapas desse tratamento dos dados, ou seja, em que
aspectos a teoria selecionada foi útil no sentido de abordagem das fontes.
Desta feita, percebe-se que, enquanto que, na dissertação de
Arruda (2015), são evidenciadas as formas de tratamento dos dados,
por outro lado, em Santos (2016), não conseguimos identificar este
elemento que integra o nível técnico-instrumental. O mesmo se procede
na dissertação Primaveras de destinos da Revista de Ensino no Estado
da Paraíba: as prescrições na História da Educação e as representações
do Ensino de História (1932-1942), de Assunção (2016). A autora faz
menção de forma generalista ao conteúdo das fontes no sentido de
justificar a seleção de tais documentos que possibilitará responder ao

90
As Interfaces entre História e Educação na Pesquisa Acadêmica: Um Debate Profícuo na
Produção do Conhecimento Histórico-Educacional

problema da pesquisa e que foram localizadas no Instituto Histórico e


Geográfico da Paraíba (IHGPB).
Em História de vida professoral de Mário Moacyr Porto: a cultura
jurídica em favor dos Direitos Humanos (1950-1969), de Lima (2016),
é informado que as entrevistas foram transcritas e, em sequência,
analisadas, tendo em vista que, na interlocução com o entrevistador e
entrevistado, desencadearam-se ações que produziram memórias. Os
procedimentos adotados para tratar do objeto em apreço foram às fontes
orais, para além das fontes de natureza imagética e bibliográficas, que
serviram de apoio para a compreensão do passado e atravessamentos
inerentes à subjetividade desta história profissional.
No tocante ao aspecto/nível técnico-instrumental, podemos ver
que as quatro dissertações fazem referência aos documentos/fontes
selecionados para a pesquisa, entretanto, somente o estudo de Arruda
(2015), além de citar as fontes, também considera o nível em que
sistematiza em forma de tabelas a amostra dos dados e seu tratamento.
No que tange ao nível metodológico, a pesquisa de Arruda (2015)
é caracterizada pelos métodos qualitativos e exploratório, tendo como
estratégia metodológica a coleta e análise de dados a partir da abordagem
da Nova História Cultural, na qual, segundo a autora, proporcionou-se
a ampliação do conceito de fonte, bem como da apropriação do que se
pode fazer, tornando possível o surgimento de outras perspectivas de
investigações histórica.
Dessa forma, tal abordagem possibilitou a reivindicação do
individual, do subjetivo, do simbólico como ângulos legítimos para
a análise histórica. Por outro lado, ressignificou a noção de tempo
de fato histórico, sugerindo uma história problematizadora, na qual

91
Marcondes dos Santos Lima - Rossana Farias Queiroz Ferrer - Tiago Licarião de Melo

a compreensão do presente se dê pelo conhecimento do passado, e o


desvelamento deste se faça a partir das exigências daquele.
Na dissertação de Lima (2016), o procedimento metodológico
adotado foi a pesquisa de cunho biográfico que, ao ser aplicado à
história de vida professoral de Mário Moacyr Porto, constituiu a
relevância da pesquisa. Por meio dos discursos colhidos das fontes,
houve a articulação destes com depoimentos obtidos, assim como com
leitura de documentos oficiais e iconográficos. A metodologia utilizada
foi a História Oral, que possibilitou o entrelaçamento entre as categorias
história e memória e consoante a isto o tratamento das fontes orais.
Em Assunção (2016), após a catalogação das fontes no Instituto
Histórico e Geográfico da Paraíba (IHGPB), foi realizada a fotografia de
todos os periódicos, tomando o cuidado no manuseio de suas páginas,
as quais, devido ao tempo, mostravam sinais de desgaste. A autora
privilegiou os impressos para desenvolver suas pesquisas. Neste ínterim,
podemos compreender como os arquivos são importantes na pesquisa
historiográfica, pois contêm informações inestimáveis, muitas vezes
inéditas, necessárias ao cotejo e crítica de informações provenientes de
outras fontes e da própria historiografia já produzida.
Na sequência, houve o tratamento das imagens, considerando a
cronologia das publicações. Com o intuito de salvaguardar o material,
as imagens dos periódicos foram salvas em arquivos midiáticos (PDF),
para torná-las posteriormente impressas, podendo viabilizar futuras
pesquisas. Concluído o trabalho com as fontes, o próximo passo foi a
composição dos capítulos, dando início à escrita da dissertação, segundo
tratamento das fontes primárias.
Por outro lado, na pesquisa de Santos (2016), não conseguimos
identificar menção em torno do aspecto metodológico, mas somente
92
As Interfaces entre História e Educação na Pesquisa Acadêmica: Um Debate Profícuo na
Produção do Conhecimento Histórico-Educacional

quais fontes foram analisadas à luz da História Social Inglesa, sem


contudo apresentar as etapas de análise das fontes como indica o nível
metodológico.
No que diz respeito ao aspecto teórico, a dissertação de Arruda
(2015) fundamenta-se teoricamente na análise de Chartier (1988; 1990;
1991), nas abordagens do movimento da Nova História Cultural e na
corrente pós-estruturalista, assim como nos estudos literários sobre a
imprensa do século XX (BENCOSTTA, 2005; FRANCO, 1999; IBAMA,
2011; MELLO, 1956; NICOLAU, 2012; PINSKY, 2006). Sobre a história
cultural, Barros (2012) aponta-nos que não é em absoluto uma corrente
da historiografia francesa, nem é uma escola historiográfica à parte, e
muito menos é um paradigma teórico metodológico. Podemos definir
este campo histórico como aquele que estuda as formas coletivas de
pensar e de sentir.
O trabalho também utilizou o paradigma indiciário do
historiador italiano Carlo Guinzburg (1989) que aponta os aspectos do
trabalho da pesquisa em que compara os fios que compõem a pesquisa
aos fios de um tapete. Chegados a este ponto, vemo-los a compor-se
numa trama densa e homogênea, uma vez que, segundo a autora, foram
úteis o faro e a intuição durante a pesquisa com os anúncios sobre a
educação no jornal.
Tal paradigma foi desenvolvido a partir das leituras sobre o
contexto histórico estudado, em seguida com a catalogação da fonte
documental, a partir dos registros encontrados, e, por fim, com a análise
das fontes catalogadas. A autora ainda ressalta a relevância do referencial
teórico adotado para a compreensão dos modos de funcionamento da
imprensa no campo educacional e suas práticas pedagógicas, permitindo

93
Marcondes dos Santos Lima - Rossana Farias Queiroz Ferrer - Tiago Licarião de Melo

conhecer as representações construídas sobre os sujeitos e conteúdo da


educação.
No estudo de Santos (2016), a autora lança mão do conceito de
“escolarização” teorizada pelo historiador da educação Luciano Mendes
de Faria Filho, que o define como uma “rede, ou rede de instituições, mais
ou menos formais, responsáveis seja pelo ensino elementar da leitura,
escrita e cálculo”. A apropriação de tal conceito justifica-se em razão de
o tema da pesquisa ser a escolarização de sujeitos pobres e negros na
Parahyba do Norte no Império. Outros autores utilizados são Edward
P. Thompson, com a História Social Inglesa, que serviu de referencial
teórico para a pesquisa, assim como a discussão sobre a escolarização
de sujeitos desvalidos com Cinthya Greive Veiga.
Já Lima (2016), como embasamento teórico, adotou autores
como Antônio Nóvoa (2007), com as concepções de vida de professores,
biografias e autobiografias docentes e suas carreiras para debate
educacional; Chizotti (2006), em que histórias de vida proporcionam
narração de expectativas significativas; Halbawchs (2006), com
concepções de memória individual e coletiva. Bacherlard (1994)
balancear os conhecimentos objetivos e sociais aos conhecimentos
subjetivos e pessoais. Dessa forma, traçam-se como linha de raciocínio
percepções sobre as possíveis maneiras de se fazer da subjetividade um
objeto que permite ser explorado como campo das ciências.
E em Assunção (2016), o marco teórico é composto a partir
dos conceitos e discussões teórico-conceituais através de: Chartier
(1990), conceito de representação social; Hobsbawn (2008), história
das tradições; Ricoeur (1994), sobre o tipo de narrativa; Burke (1992),
trabalhando os múltiplos pontos de vista das abordagens do historiador;
e Certeau (1982), sobre o historiador e o tratamento das fontes
94
As Interfaces entre História e Educação na Pesquisa Acadêmica: Um Debate Profícuo na
Produção do Conhecimento Histórico-Educacional

primárias. As fontes dos dados históricos são classificados em primária


e secundária. Compreendemos, conforme explicado por Richardson
(2012, p. 253) que “Uma fonte primária é aquela que teve urna relação
física direta com os fatos analisados, existindo um relato ou registro da
experiência vivenciada”.
O quarto aspecto esboçado por Gamboa (2012) é o
epistemológico. O critério epistemológico adotado por Arruda (2015)
em sua dissertação corresponde ao campo da corrente historiográfica
da Nova História Cultural. Nessa perspectiva, a concepção de ciência na
historiografia corresponde ao conjunto de acontecimentos, situações ou
fatos que ocorrem em um tempo, podendo ser definida como a produção
dos historiadores sobre a interpretação de fatos históricos, assumindo
critérios para o direcionamento da investigação. Critérios esses que
estão baseados na concepção epistemológica e científica que se tem do
objeto de estudo e da própria história. Tal corrente adota a amplitude
da historiografia no uso da imprensa, oferecendo ao pesquisador(a) o
entendimento de sua complexidade e de sua composição, com base nas
suas temáticas e personagens.
O uso de tal fonte caracteriza-se pela concepção da historiografia
difundida pela Nova História Cultural, em que, em relação às novas fontes
e os indivíduos antes ignorados como sujeitos da história, muda-se o
foco, saindo do macro para a micro narrativa, ultrapassando a utilidade
de fontes consideradas oficiais para qualquer tipo de documentos que
seja indício da presença do homem em qualquer época histórica. Assim,
os critérios da Nova História Cultural favorece o reconhecimento de
diversos artefatos culturais como fonte, já que esta é uma história em
construção social e sempre em movimento; desse modo, a imprensa
é caracterizada como uma delas, sendo este um importante meio de
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Marcondes dos Santos Lima - Rossana Farias Queiroz Ferrer - Tiago Licarião de Melo

comunicação pelo fato de ter uma grande visibilidade por parte da


população.
Quanto ao critério epistemológico, Santos (2016) não faz
referência direta à concepção de ciência adotada em sua pesquisa. No
entanto, como nos lembra Gamboa (2014), nem sempre nas pesquisas
científicas os níveis de amplitude se comportam de forma explícita. Sendo
assim, neste caso específico, entendemos que o aspecto epistemológico
se encontra de forma implícita. Então, inferimos que a concepção de
ciência apropriada pela pesquisadora seria a História Social Inglesa,
enquanto uma corrente historiográfica e um modelo de fazer ciência
em Historiografia.
No estudo de Lima (2016), o objeto de estudo foi bem definido
e de natureza empírica com a delimitação e descrição objetiva e
eficiente de realidade empiricamente observável, isto é, daquilo que se
pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar no caso em análise
a vida professoral de Mário Porto. Verifica-se a análise da realidade
caracterizada pelos aspectos da Nova História que contemplam as
ampliações dos objetos, as estratégias de pesquisa e de reivindicação
dos indivíduos, tornando possível a legitimação da história. Em seus
argumentos, promove afirmações em sua apresentação demonstrando
um conhecimento teórico, um conhecimento real de algo que existe por
si mesmo e pode ser conhecido, um vínculo epistemológico e dialético
entre presente e passado.
No gnosiológico, Arruda (2015) apresenta a partir da corrente
pós-estruturalista, em que o real (realidade) é considerado de acordo com
as construções sociais e subjetivas, nesse caso a pluralidade instaurada
pelas representações de educação e de professores presentes no jornal
analisado. O critério é identificado com base no pós-estruturalismo por
96
As Interfaces entre História e Educação na Pesquisa Acadêmica: Um Debate Profícuo na
Produção do Conhecimento Histórico-Educacional

caracterizar a análise das formas simbólicas dos enunciados do objeto


de estudo, tal como a subjetividade constituída por meio dos discursos.
Nesse sentido, com a aproximação da pesquisadora com o seu
objeto de estudo, apontam-se as reflexões a partir das representações ou
da realidade de uma época, onde foram produzidos conhecimentos que
levaram ao entendimento sobre a divulgação e implantação de questões
relativas à educação, sendo este um recurso de divulgação e consolidação
presente nos enunciados do jornal para ressaltar as identidades escolares,
em que os professores e colégios eram apresentados como elementos de
qualidade, constatando, por muitas vezes, o sucesso da modernidade
pedagógica difundida.
No estudo da vida professoral de Mário Moacyr Porto de Lima
(2016), procura-se perceber as relações sociais e políticas estabelecidas
e verificar se suas ideias trouxeram contribuição para a melhoria do
processo educativo, para disseminação dos Direitos Humanos, bem
como para o estabelecimento da democracia.
O interesse pelo estudo deve-se à participação em Projeto de
Iniciação Científica e projetos de Monitoria, desenvolvendo estudos
sobre histórias de vida professorais; participação de grupos de estudos
como “Memória, História e Educação” que contribuíram para a
compreensão das questões que envolvem a memória, como também
a participação no grupo da área de Direitos Humanos “Memórias da
Educação e DH: do Dever e do Direito à Memória e à Verdade oferecida”
pelo Programa de Pós Graduação em Direitos Humanos (PPGDH/
UFPB). O tema da monografia de conclusão de curso versava sobre
Ensino Local e o Cotidiano: relações para o Ensino Fundamental I que
buscou embasamento na Nova História Cultural.

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Marcondes dos Santos Lima - Rossana Farias Queiroz Ferrer - Tiago Licarião de Melo

Assunção (2016) esboça que prevalece a tese de que “tudo tem


uma história”. Neste caso, “toda a atividade humana” (BURKE, 1992,
p. 11) torna-se história e, ao invés de ser vista como sendo imutável,
para Roberton Darnton (1992), pode ser analisada na perspectiva da
“construção cultural”, a qual, para Burke (1992), está subjugada a variações
tanto no tempo como no espaço. Por conseguinte, estas variações no
escopo de um trabalho acadêmico podem ser consideradas relevantes
pelas possibilidades que fornecem de eleger certos pressupostos teóricos
para uma melhor adequação dos objetivos.
Por fim, o critério ontológico. No trabalho de Arruda (2015),
é exposto através das concepções do pós-estruturalismo, em que a
articulação entre essas concepções apresentam uma visão geral sobre
o sujeito, a sociedade e a realidade estudada, sendo esta expressada
na referida pesquisa a partir do entendimento de conhecimento
como construção subjetiva e social que está carregado pelos discursos
educacionais para reforçar ou favorecer as trajetórias da modernidade
pedagógica nos primeiros anos do século XX, apresentando conceitos
que legitimam as representações educacionais no processo de
consolidação da escola moderna.
Para Santos (2016), por sua vez, o aspecto ontológico referente
à concepção de História, de homem e de sociedade apresentada é
orientada pela História Social que propõe a narrativa de uma história
“vista de baixo”. Os homens comuns produzem a sua história na mesma
proporção que produzem a história de suas sociedades. Consoante a
isto, essa corrente tem por finalidade debruçar-se sobre os diversos
aspectos da sociedade, enfocando não apenas nas dimensões econômica
e política, mas, também, as dimensões socioculturais.

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As Interfaces entre História e Educação na Pesquisa Acadêmica: Um Debate Profícuo na
Produção do Conhecimento Histórico-Educacional

Lima (2016) apropria-se da abordagem fenomenológico-


hermenêutica em que o sujeito é quem interpreta e dá sentido ao
texto a partir do contexto histórico que ocorre, buscando investigar o
mundo pessoal das experiências e não algo independente do sujeito.
Em Assunção (2016), a concepção de sujeito investigada pela autora
é pautada no modelo de educação trazida pela visão educacional
escolanovista, a partir de uma nacionalização do sujeito educando e de
um reforço dos interesses estado e educação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O âmbito da pesquisa histórica vivenciou, no decorrer das últimas


décadas, uma transformação teórico-metodológica impelida pelo vigor
de superação de uma historiografia respaldada na descrição de fatos
eminentemente políticos sob espectro positivista para a relevância das
temáticas relacionadas aos aspectos culturais.
Diante disto, ressalta-se a importância do empreendimento em
inquirir e inventariar os trabalhos concretizados na área, permitindo
detalhar e compreender o que tem sido contemplado como objetos
de estudo e temáticas nas Linhas de Pesquisa de Programas de Pós-
Graduação em História da Educação, ressaltando-se nesse sentido,
a importância do papel do historiador de escrever a história fazendo
enunciados que não puderam ser materializados no momento em que
ocorreu.
A partir dessa percepção, conclui-se também que a história não
consegue ser restrita a uma realidade objetiva. Ela requer, a cada tempo,
novas contemplações, novas concepções enriquecedoras mediadas
pelos objetos que acresceram consideravelmente o conceito de fontes ou

99
Marcondes dos Santos Lima - Rossana Farias Queiroz Ferrer - Tiago Licarião de Melo

documentos, estes, pertinentes ao trabalho do historiador da educação.


Portanto, é crucial realizar um levantamento e catalogação de tais fontes
dada à complexidade do real, no que tange aos objetos investigados e
às questões teórico-metodológicas em uma sociedade cada vez mais
multíplice.

REFERÊNCIAS

ARRUDA, Kalyne Barbosa. Os anúncios no Jornal A União (1904-


1937): a propagação da modernidade pedagógica na Paraíba. 2015.
76f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa, 2015.

ASSUNÇÃO, Albanisa Maria de. Primaveras de destinos na revista


do ensino no estado da paraíba: as prescrições na história da
educação e as representações do ensino de história (1932 a 1942). 2016.
166f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa, 2016.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70,


2011.

BARROS, José D’Assunção. Teoria da história. Petrópolis, RJ: Vozes,


2012.

BITTAR, Marisa. A pesquisa em Educação no Brasil e a Constituição


do Campo Científico. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n. 33,
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FERREIRA, Norma Sandra de Almeida. As Pesquisas Denomindas


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100
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Nacional de Estudos e Pesquisas, UFPB, João Pessoa, v. 1., p. 3476-
3485, 2012.

101
POLÍTICAS EDUCACIONAIS

Perspectivas de análise sobre Estado e Sociedade. Políticas e


práticas sociais, educativas e escolares. Políticas de gestão, participação
e controle social na educação. Políticas de formação de professores, de
financiamento e de avaliação da educação.
Fonte: site do PPGE <http://www.ce.ufpb.br/ppge/contents/menu/linhas-de-
pesquisa>.
MAPEAMENTO DE DISSERTAÇÕES DO PPGE:
MÉTODOS E EPISTEMOLOGIAS NA LINHA DE
POLÍTICAS EDUCACIONAIS

Adriege Matias Rodrigues


Alexandre Nascimento da Silva
Déborah Kallyne Santos da Silva
Gessica Mayara de Oliveira Souza
Juliana Maia Tavares

INTRODUÇÃO

O trabalho objetiva analisar as dissertações do Programa


de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), no tocante às Políticas Educacionais, com o objetivo de
compreender as linhas de pesquisa, bem como, os objetos estudados. O
tema justifica-se pela grande contribuição para a compreensão de como
se elabora uma dissertação, partindo-se da ideia de que é na escolha dos
métodos que todos os outros aspectos estarão sendo compreendidos, e
se articulando dentro do contexto de estudo do objeto investigado.
Esse mapeamento também é de grande relevância para que se
possa compreender o que está sendo produzindo na linha de pesquisa
objeto do estudo, além de subsidiar as percepções de como estão
105
Adriege Matias Rodrigues - Alexandre Nascimento da Silva - Déborah Kallyne Santos da Silva - Gessica
Mayara de Oliveira Souza - Juliana Maia Tavares

sendo elaboradas as dissertações dentro dessa discussão de Políticas


Educacionais.
O estudo baseia-se no livro “Pesquisa em educação: métodos
e epistemologias”, do autor Silvio Sánchez Gamboa (2012), com
concentração no capítulo “Tendências da pesquisa em educação: um
enfoque epistemológico”, que traz uma discussão sobre epistemologias,
caracterizado por seguir uma determinada lógica analítica e articulada.
Segundo o que diz o autor:

O termo epistemologia da pesquisa educacional,


significa que tomamos como objeto a produção do
conhecimento gerado como pesquisa cientifica na
área de educação e a analisamos à luz das categorias
filosóficas, utilizando para isso esquemas conceituais
que propiciam o estudo das articulações entre os
elementos constitutivos da investigação (GAMBOA,
2012, p. 55).

Neste século, o fazer ciência no campo da educação é construir


hipóteses e análises de profundidade, não sendo, portanto, permitido a
construção dos conhecimento de maneira factual e descritiva.
Karl Marx (1818-1883), citado por Barros (2015), demostra que
se tem tomado atenção redobrada no tocante ao fazer científico desde
quando se elaborava as análises sociológicas e históricas, relacionada
aos problemas das lutas de classes e de sua inserção em um modo de
produção específico, demostrando que os pesquisadores não deve
apenas descrever características e fatos da sociedade, mas analisá-los,
compreendê-los e decifrá-los, conduzindo as pesquisas por hipóteses.
Para Santos (2008), há um novo embate no campo científico;
mesmo com complexidades, sugere-se voltar o olhar para as coisas

106
Mapeamento de Dissertações do PPGE: Métodos e Epistemologias na Linha de Políticas Educacionais

simples, formular perguntas simples, para uma tomada de consciência


sobre o fazer científico. O rigor científico aponta para o rigor
inultrapassável, mas deve-se ter em mente que a objetividade não
implica necessariamente neutralidade.
No campo das ciências sociais, os obstáculos são enormes,
mas não insuperáveis. As ciências sociais reivindicam um estatuto
metodológico próprio, pois tem natureza diferente. Com isso, observa-se
o comportamento humano que não pode ser quantificado e classificado
da mesma forma que nas ciências naturais. Essa concepção de ciência
reconhece uma postura antipositivista que entra na tradição da filosofia
fenomenologia.
O conhecimento avança à medida que emerge a revolução social,
baseada na violência, na dominação e na escravatura, fazendo surgir
outros objetos mais variados que tendem a dialogar entre si.
A ciência pós-moderna não segue um estilo único, com
características de cientista, pois o senso comum passa a auxiliar de
forma prática, orientando as ações que darão significado à vida dos
sujeitos. Deste modo, pode-se questionar se a linha de pesquisa em
políticas educacionais está conseguindo produzir trabalhos coerentes
com as referidas linhas de pesquisa, se estão produzindo conhecimentos
significativos, e, principalmente, se estão de fato construindo
conhecimento científico.
Desta forma, esse estudo analisou cinco dissertações do banco
de Teses e Dissertações do PPGE, nas quais se observaram as seguintes
categorias: Aspectos Técnico-Instrumentais, Metodológicos, Teóricos,
Epistemológicos, Gnosiológicos e Ontológicos. O estudo subsidiou a
aproximação e o entendimento sobre qual tipo de pesquisa está sendo
produzida pelo programa de Pós-graduação em Educação da UFPB,
107
Adriege Matias Rodrigues - Alexandre Nascimento da Silva - Déborah Kallyne Santos da Silva - Gessica
Mayara de Oliveira Souza - Juliana Maia Tavares

especificamente na linha de Políticas Educacionais. Para melhor


entendimento das categorias analisadas baseadas nos estudos de
Gamboa (2012), organizou-se o mapeamento em forma de tabela.

METODOLOGIA

Para a realização do mapeamento, inicialmente foi feita a


seleção das dissertações produzidas no Programa de Pós-Graduação
em Educação da Universidade Federal da Paraíba. Os critérios para a
escolha das pesquisas foram: produção na linha de pesquisa Política
Educacional; ter sido realizada durante os últimos cinco anos; e ter o
objeto de estudo similar ao das dissertações produzidas pelos autores
deste texto. Com base em tais critérios, realizou-se a busca no acervo
de Teses e Dissertações disponível no PPGE, bem como na plataforma
SIGAA e biblioteca digital UFPB. Selecionou-se uma dissertação de
cada ano, entre 2013 e 2017, totalizando assim cinco dissertações para
o mapeamento.
Após a seleção do material, organizou-se um quadro com o fim
de identificar a proveniência das pesquisas, observando-se os seguintes
itens: Autor(a); Orientador(a); e Ano da pesquisa. Com relação à cons-
trução metodológica, identificam-se os pressupostos e o enfoque dado
pelos autores, observando-se os aspectos Técnico-instrumental; Meto-
dológicos; Teóricos; Epistemológicos; Gnosiológicos; e Ontológicos.
Em acordo com Richardson (2012, p. 33), observa-se que
toda pesquisa científica se fundamenta em uma rede de pressupostos
ontológicos, ou seja, baseia-se no ponto de vista que o autor tem do
mundo que o rodeia; desta forma, “é absolutamente necessário que
possam ser identificados os pressupostos do pesquisador em relação

108
Mapeamento de Dissertações do PPGE: Métodos e Epistemologias na Linha de Políticas Educacionais

ao homem, a sociedade e ao mundo em geral. Fazendo isso, pode-se


identificar a perspectiva epistemológica utilizada pelo pesquisador”.
Neste sentido, foi possível realizar interpretações à luz de Gamboa
(2012), a partir da análise epistemológica dos métodos, por meio de
um processo hermenêutico-crítico. A priori, analisou-se cada estudo
e cada método adotado, posteriormente, elaboraram-se considerações
gerais sobre o conjunto de todos os dados, favorecendo, deste modo, a
compreensão de um panorama das produções realizadas no PPGE na
linha de Políticas Educacionais.
Portanto, essa pesquisa encaixa-se na abordagem qualitativa.
Segundo o que dizem Deslandes e Gomes (2009, p. 21):

A pesquisa qualitativa responde a questões muito


particulares. Ela se ocupa nas ciências sociais, com
um nível de realidade que não pode ser quantificado.
Ou seja, ela trabalha com o universo dos significados,
dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores
e das atitudes. (2009, p,21)

Essa abordagem possibilita um diálogo relacionado a algo


que não se quantifica, o que é justamente o que os autores trazem, ao
trabalharem a partir dos significados. Por isso a escolha em contemplar
esta linha de pesquisa, devido à necessidade de se compreender a
abrangência da abordagem e suas possibilidades de compreensão dos
significados, tanto os que estão explícitos, quanto os não explícitos.
De acordo com Richardson (2017, p. 67), a pesquisa qualitati-
va é utilizada “como um meio para explorar e para entender o signifi-
cado que os indivíduos ou os grupos atribuem a um problema social
ou humano”, endossado por Gonsalves (2011, p. 70), que afirma que “a
pesquisa qualitativa preocupa-se com a compreensão, com a interpreta-
109
Adriege Matias Rodrigues - Alexandre Nascimento da Silva - Déborah Kallyne Santos da Silva - Gessica
Mayara de Oliveira Souza - Juliana Maia Tavares

ção do fenômeno, considerando o significado que os outros dão às suas


práticas”.
Como instrumento de pesquisa, foi utilizada a análise documental
das dissertações da linha de pesquisa do PPGE. A propósito, Martins
(2008, p. 46) ressalta a importância da pesquisa documental como
sendo “necessária para o melhor entendimento do caso e também para
corroborar evidências coletadas por outros instrumentos e outras fontes,
possibilitando a confiabilidade de achados através de triangulação de
dados e resultados”. Segundo o que Bardin (2011, p. 51) apresenta, a
análise documental seria assim compreendida:

Uma operação ou um conjunto de operações visando


representar o conteúdo de um documento sob
uma forma diferente do original, a fim de facilitar
num estado ulterior, a sua consulta e referenciação.
Enquanto tratamento da informação contida nos
documentos acumulados, a análise documental tem
por objetivo dar forma conveniente e representar
de outro modo essa informação, por intermédio de
procedimentos de transformação (BARDIN, 2011,
p.51).

Para a autora, a análise documental tem por objetivo


a representação condensada da informação, para consulta e
armazenamento (BARDIN, 2011. p. 52). Nesse sentido, as ações
relacionadas à análise documental teve um valor fundamental na
organização e compreensão do que se propôs para a elaboração
do presente capítulo, uma vez que a discussão gira em torno do
mapeamento dessas dissertações.
Sendo assim, busca-se neste trabalho compreender os aspectos
epistemológicos das pesquisas produzidas no PPGE nos últimos cinco
110
Mapeamento de Dissertações do PPGE: Métodos e Epistemologias na Linha de Políticas Educacionais

anos, a partir das categorias elencadas por Gamboa (2012), buscando-


se compreender a visão de mundo e de homem dos autores, a relação
sujeito e objeto de pesquisa, a cientificidade dos trabalhos e outros
aspectos que caracterizam a pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para uma melhor compreensão das análises, foi organizado um


quadro com as características de cada dissertação, de acordo com cada
categoria elencada por Gamboa (2012).
Tabela 01: Análise das dissertações do PPGE – Linha de Políticas Educacionais

Título: POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E O RESULTADO DO


IDEB DAS ESCOLAS DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA: REFLEXÕES
SOBRE O DESEMPENHO ESCOLAR E A QUALIDADE DO ENSINO
Autor(a): Patrícia Montenegro Freire de Carvalho
Orientador(a): Luiz de Sousa Júnior
Ano: 2013
Técnico-instru- O trabalho da pesquisadora envolve uma reflexão sobre resul-
mental tados do IDEB, desempenho escolar e políticas de avaliação
de qualidade na educação no município de João Pessoa. Para
construção da sua argumentação, a autora utilizou recursos
técnicos-instrumentais de investigação, como a observação
e a aplicação de questionários aos professores e gestores de
cada escola selecionada, além dos documentos relacionados
ao estudo do seu objeto de pesquisa.
Metodológicos O “caminho metodológico”, como definido pela própria au-
tora, seguiu pela abordagem qualitativa, aderente aos pro-
pósitos de sua pesquisa, a qual se caracterizou pela revisão
bibliográfica, levantamento e análise documental, observação
da realidade, das escolas selecionadas como amostras da pes-
quisa e aplicação de questionários.

111
Adriege Matias Rodrigues - Alexandre Nascimento da Silva - Déborah Kallyne Santos da Silva - Gessica
Mayara de Oliveira Souza - Juliana Maia Tavares

Teóricos A análise teórica da publicação levou em consideração os au-


tores que dão sustentação à argumentação da pesquisadora.
Na página 29, há o seguinte fragmento: “Neste capítulo, uti-
lizamos como referência teórica as contribuições de Ravitch
(2011), Enguita (1995), Casassus (2007), Paiva (2001), Olivei-
ra e Araújo (2005), Dourado, Oliveira e Santos (2007), Demo
(2001), Beisiegel (1982), Gadotti (1992), Pereira e Pereira
(2010), Gentili (1995), Silva (1995), Rossi (2011), além de
documentos nacionais e internacionais acerca do tema.”. Em
sua maioria, os autores citados são marxistas e de correntes
Humanistas da Pedagogia, sendo diversos os autores citados
defensores da pedagogia crítica.
Epistemológicos Analisando a vertente epistemológica da publicação, verifi-
ca-se que foi utilizada a crítico-dialética, a considerar que a
autora analisa a coletividade, as estruturas e tece críticas ao
modelo vigente. Ainda parte de uma análise do todo com
as partes, identificando parte do real objetivo percebido por
meio de categorias abstratas para se chegar à construção do
concreto no pensamento.
Gnosiológicos Ao analisar os aspectos gnosiológicos presentes na publica-
ção, percebeu-se que a autora apresenta o entendimento de
que o resultado da avaliação deve ser analisado, consideran-
do-se as especificidades quanto aos aspectos geográficos, so-
ciais, econômicos, de infraestruturas, de gestão e de forma-
ção dos profissionais da educação, fatores que interferem de
forma efetiva no processo pedagógico. A autora ainda desen-
volve a reflexão de que se percebem nas escolas pesquisadas
diferenças relevantes no tocante a estes indicadores, que in-
fluenciaram o resultado de cada uma nos exames realizados.
Os resultados do IDEB, portanto, não podem ser considera-
dos um fim em si mesmo. Desse modo, o objeto e o sujeito da
pesquisa estão claramente definidos.
Ontológicos Os aspectos ontológicos observados são expostos na publica-
ção em diversos pontos, como, por exemplo, quando a autora
questiona quais aspectos devem ser levados em consideração
para melhor se avaliarem o professor e os conceitos apresen-
tados para se definir “qualidade no ensino”. Acrescenta a au-
tora: (...) “Como vimos no tópico anterior deste trabalho, o
termo qualidade na educação não possui uma definição única
e precisa, haja vista que a construção do conceito está sobre-
maneira atrelada ao processo histórico, político e cultural.”.
Assim, ao se imergir essa problemática em um contexto eco-
nômico, político e cultural, é possível observar uma vez mais
traços epistemológicos dentro um contexto dialético.

112
Mapeamento de Dissertações do PPGE: Métodos e Epistemologias na Linha de Políticas Educacionais

Título: INCLUSÃO OBRIGATÓRIA DA HISTÓRIA E CULTURA AFRI-


CANA, AFROBRASILEIRA E INDÍGENA NO CURRÍCULO: VOZES E
TENSÕES NO PROJETO CURRICULAR DO ESTADO DE PERNAMBU-
CO
Autor(a): Geonara Marisa de Souza Marinho
Orientador(a): Maria Creusa de Araújo Borges
Ano: 2014
Técnico-instrumen- Para realizar a pesquisa, utilizaram-se como instrumentos a
tal análise documental e a entrevista semiestruturada. A prio-
ri, a pesquisadora utilizou a carta de anuência e o termo de
consentimento livre e esclarecido para aplicar o instrumento
entrevista.
Metodológicos A abordagem utilizada é qualitativa, realizando-se também
a pesquisa bibliográfica. Os procedimentos teórico-metodo-
lógicos adotados pela pesquisadora foram os da sociologia
das ausências, das emergências e do trabalho de tradução
(Santos, 2007, 2008, 2010). As categorias de análise foram
incompletude cultural, igualdade e diferença, currículo e diá-
logo. Utilizou-se a carta de anuência para realizar a pesquisa
na instituição e o termo de consentimento livre e esclarecido
para os participantes.
Teóricos O principal teórico recorrido pela pesquisadora foi Boaven-
tura de Souza Santos, o qual possui estreita vinculação com
o campo jurídico. Assim, a pesquisadora utiliza as Leis n°
10.639/03 e n° 11645/08 para subsidiar sua discussão. A pes-
quisadora ainda utiliza teóricos específicos para tratar das
categorias de análise. Para a categoria incompletude cultural
e igualdades e diferenças, valeu-se dos aportes teóricos de San-
tos (2007, 2008, 2010); para currículo, utilizou Giroux (1986,
1999), Apple (2008, 2011) e Arroyo (2007; 2011); e para a ca-
tegoria diálogo, baseou-se em Paulo Freire (2012, 2003, 1996,
1987).

113
Adriege Matias Rodrigues - Alexandre Nascimento da Silva - Déborah Kallyne Santos da Silva - Gessica
Mayara de Oliveira Souza - Juliana Maia Tavares

Epistemológicos Os procedimentos utilizados pela pesquisadora, com base em


Boaventura de Souza Santos, com a teoria situada na gramáti-
ca do tempo, apresentam-se em consonância com a proposta
e objetivos da pesquisa, bem como a abordagem adequada,
atendendo às necessidades do problema do seu objeto de es-
tudo. Os procedimentos adotados pela pesquisadora estão
em consenso com o que prega o Conselho Nacional de Saúde,
Resolução n°. 466/12 do CNS/MS, bem como as análises rea-
lizadas foram fundamentadas por procedimentos sustentados
cientificamente por André e Lüdke (1986) e Minayo (2012).
Assim, a pesquisadora conseguiu atender aos objetivos pro-
postos.
Gnosiológicos O encontro da pesquisadora com o objeto de estudo se dá
em uma realidade concreta que parte do campo de trabalho
da pesquisadora, das vivências no âmbito escolar, no estado
de Pernambuco, onde ela é. O lócus da pesquisa é uma região
que conta com uma grande diversidade de povos indígenas,
o que legitima a conexão da pesquisadora com seu objeto de
estudo. A escolha das escolas pesquisadas se deu por meio de
uma pesquisa informal da Gerência de Ensino de Pernambu-
co para identificar quais escolas colocam em prática a reinter-
pretação das leis em estudo. Percebe-se o interesse intrínseco
da pesquisa em buscar a efetivação da valorização da cultura
dos povos indígenas e negros no currículo.
Ontológicos Na dissertação, a pesquisadora posiciona-se constantemen-
te em defesa aos direitos humanos, trazendo no seu discurso
raízes históricas do problema de pesquisa e a valorização do
protagonismo dos povos negros e indígenas na cultura, ao
mesmo tempo em que evidencia como estas questões preci-
sam ser postas em prática no currículo escolar com subsídio
de leis que já existem. Por meio dessa discussão, a pesqui-
sadora indica caminhos por meio da formação continuada,
demonstrando uma visão otimista quanto à problemática. A
pesquisadora busca então desconstruir esse processo de invi-
sibilização dos sujeitos e sua cultura dando voz aos envolvi-
dos no processo educacional.

114
Mapeamento de Dissertações do PPGE: Métodos e Epistemologias na Linha de Políticas Educacionais

Título: FORMAÇÃO DE PROFESSORES/AS: UMA ANÁLISE DA FOR-


MAÇÃO CONTINUADA A PARTIR DA PROPOSTA DE FORMAÇÃO
PERMANENTE DE EDUCADORES/AS EM PAULO FREIRE
Autor(a): Taíssa Santos de Lima
Orientador(a): Profa. Dra. Rita de Cassia Cavalcanti Porto.
Ano: 2015
Té c n i c o - i n s t r u - Antes de iniciar a investigação, a pesquisadora fez um mapea-
mental mento das escolas da rede municipal de João Pessoa, para sa-
ber se ocorriam formações continuadas e se tais escolas eram
pautadas, na formação permanente, na perspectiva freiriana.
Assim, fez toda a sondagem e sistematizou como iria coletar
essas informações. A princípio, iniciou com uma análise dos
documentos legais para se familiarizar com as propostas dos
programas e também para evidenciar se de fato traziam as
premissas de freire. A pesquisadora organiza seus dados por
meio de categorias, as quais, assim como toda a análise, são
feitas de acordo com as categorias de estudo e paradigmas de
Paulo Freire. E foi a partir das análises da Proposta Curricu-
lar da Rede Municipal de Ensino de João Pessoa (2004) e da
Proposta de Formação de Professores da Educação de Jovens
e Adultos (EJA) que a pesquisadora evidenciou categorias
elencadas nas obras de Freire, como o diálogo, a reflexão e
a formação como um processo permanente. Desse modo, o
tratamento dos dados e informações sobre o objeto investi-
gado se deram a partir dessas palavras-chave resgatadas das
obras de Freire e encontradas nos documentos das propostas
de formação continuada do município de João Pessoa.

115
Adriege Matias Rodrigues - Alexandre Nascimento da Silva - Déborah Kallyne Santos da Silva - Gessica
Mayara de Oliveira Souza - Juliana Maia Tavares

Metodológico A organização metodológica em termos de estrutura está


bem explicativa. A pesquisadora destaca os recursos utili-
zados, nesse caso, a análise documental e bibliográfica. Os
instrumentos, por sua vez, foram a entrevista, questionário
e a carta pedagógica. E a pesquisa tem como abordagem a
qualitativa: “pesquisa qualitativa ancorada na práxis freirea-
na que pressupõe o processo de ação-reflexão-ação”, que se
justifica pela a dialética que chega a possibilitar e por permi-
tir uma reflexão teórica e também um olhar mais crítico da
formação em concomitância com os achados da pesquisa. O
que chama bastante a atenção é a forma como a pesquisadora
contextualiza na metodologia todos os passos de coleta de
dados, então, ela estabelece uma divisão por tópicos, deixan-
do bem implícitos os motivos que a levaram a tais escolhas.
Inicialmente, faz um apanhado histórico da cidade de João
Pessoa, em seguida, sobre a educação do município, trazen-
do a quantidade de escolas, índices do Ideb etc. Logo depois,
aborda o período da pesquisa, explicando o processo e os
respectivos anos da coleta de dados. Traz também um tópico
sobre os sujeitos, como foi feita a seleção dos participantes da
pesquisa e que critérios foram utilizados para o mesmo, além
do espaço da pesquisa. Assim, pontua os recursos e instru-
mentos utilizados, justificando o seu uso de acordo com seu
objeto. Fazendo um apanhado dos principais pontos desta-
cados, a pesquisadora utilizou como critérios para escolha
das professoras: professoras do Ensino Fundamental I, com
tempo de magistério superior a um ano na rede municipal
de ensino, que participam ou participaram das formações
continuadas oferecidas pela rede, seja pela formação no CE-
CAPRO ou por outras formas de formação realizadas pelas
instituições de ensino superior. Os instrumentos ficaram
divididos da seguinte forma: as entrevistas foram realizadas
com os gestores das escolas, as quais também contaram com
a participação dos professores; e o questionário e a carta pe-
dagógica foram aplicados aos professores. O que se percebe
é que a pesquisadora abordou o método de materialismo
dialético, o qual busca apreender o real a partir das relações
de singularidades com o objeto pesquisado.

116
Mapeamento de Dissertações do PPGE: Métodos e Epistemologias na Linha de Políticas Educacionais

Teóricos Já de início, a pesquisadora deixa evidente que sua pesquisa


assim como o próprio título pautou-se nas teorias de Paulo
Freire. Foram selecionadas as principais obras que nortea-
ram toda a discussão do trabalho e que assim dialogaram
com os resultados e com o objeto da pesquisa. Além de Paulo
Freire, a pesquisa também foi embasada nas políticas edu-
cacionais de formação continuada. Na parte dos fundamen-
tos teóricos, buscou-se dialogar, incialmente, partindo do
contexto histórico das políticas de formação de professores,
como ocorreu esse processo, por meio de um recorte da dé-
cada de 1990. A pesquisadora traz os elementos de formação
anterior que tinha como principal ponto formar professores
com habilidades e competências, desse modo uma formação
técnica e, com isso, foi dado visibilidade aos cursos aligei-
rados, os quais se voltavam justamente para atender aos re-
quisitos do mercado. Então, esse apanhado é necessário para
que, em seguida, compreenda-se o contexto da formação
continuada e, logo depois, as propostas freirianas para a edu-
cação, fazendo uma crítica a esses métodos técnicos e que em
nada valorizam o sujeito, discutindo justamente a pedagogia
do oprimido, da autonomia e ressaltando a importância de
educação que não seja bancária, que, ao invés disso, priori-
ze a dialogicidade, a participação efetiva, a contextualização
para assim se ter uma educação de qualidade que considere
os sujeitos como parte da história. Assim, a pesquisadora vai
se colocando na discussão a partir de Freire.

117
Adriege Matias Rodrigues - Alexandre Nascimento da Silva - Déborah Kallyne Santos da Silva - Gessica
Mayara de Oliveira Souza - Juliana Maia Tavares

Epistemológicos O trabalho é bem coerente com o que se propõe realizar,


no sentido de fundamentos e abordagem metodológica,
pois toda a sua discussão é em torno dos estudos de Freire
e a pesquisadora procura sempre se posicionar como co-
mungando do mesmo pensamento que o referindo autor. É
um trabalho de extrema relevância para a comunidade ora
pesquisada, pois possibilita repensar como está ocorrendo
essas formações, a partir dos próprios participantes, ou seja,
os professores trazem elementos em sua escrita pertinentes
para se reverem certos aspectos, que servem como um meio
para se avaliar se realmente essa formação continuada con-
tribui para a prática reflexiva dos professores, ou se a propos-
ta está coerente com a prática executada nessas formações.
Dessa forma, a pesquisadora vai traçando esse caminho para
que os leitores compreendam as propostas traçadas pelos
programas na perspectiva de Paulo Freire e o que realmente
e como se aplicam na prática, isso por meio de inferências
realizadas por ela no decorrer de cada narrativa apontada,
transformando-se em novos conhecimentos a partir do que
já sabia e do que foi construindo após a pesquisa, os estudos
para a realização da dissertação.
Gnosiológicos Complementando o aspecto anteriormente abordado do
estudo, a pesquisadora tem uma compreensão de que a
realidade não condiz com que Paulo Freire propõe e o que
está posto nos documentos legais de formação continuada.
O estudo consegue lidar com essas constatações com um
discurso teórico, um estudo de fato da realidade, de algo
concreto, dessa forma, podendo ser entendido como um co-
nhecimento, no qual se reflete o sujeito e o objeto. Assim,
busca-se relacionar o objeto da pesquisa com as categorias
elencadas, dialogando, para se ter um resultado significativo
na produção de novos conhecimentos, questionando-se os
próprios resultados de maneira crítica e precisa, tendo em
vista a conceptualização desses resultados.

118
Mapeamento de Dissertações do PPGE: Métodos e Epistemologias na Linha de Políticas Educacionais

Ontológicos A pesquisadora buscou, por meio do método escolhido e a


forma de análise para a abordagem dessa pesquisa, deixar
claro como a política de formação continuada nas escolas
municipais de João Pessoa está sendo implementada e como
de fato os professores e gestores a estão recebendo, ou seja, o
estudo do objeto por aquilo que é e como realmente é. Então,
a abordagem, os instrumentos e os recursos de fato subsi-
diaram a pesquisa para que se chegasse a tais considerações
sobre o objeto investigado. A pesquisa traz essa problemática
desde a década de 1990, um contexto histórico de grandes
lutas e modificações na estrutura educacional, incluindo a
formação docente, desde a formação inicial à continuada;
em seguida, traz os aspectos freirianos de como o educador
pensa uma educação de fato, que considere o sujeito, que seja
transformadora e, logo em seguida, traz os dados da realida-
de posta pelas escolas do município de João Pessoa a partir
das formações continuadas, dessa forma, consegue elucidar
os elementos de cada paradigma.

119
Adriege Matias Rodrigues - Alexandre Nascimento da Silva - Déborah Kallyne Santos da Silva - Gessica
Mayara de Oliveira Souza - Juliana Maia Tavares

Título: BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E MICROPOLÍTICA:


ANALISANDO OS FIOS CONDUTORES.
Autor(a): Nathália Fernandes Egito Rocha
Orientador(a): Maria Zuleide da Costa Pereira
Ano: 2016
Técnico instru- A pesquisa utiliza o método científico, analisando o objeto de
mental estudo a partir da lógica pós-estrutural. A pesquisa foi feita
em uma escola da Rede Municipal de Ensino de João Pessoa/
PB, por meio de entrevistas semiestruturadas e armazenadas
em um gravador. A pesquisadora transcreveu a entrevista e
a analisou a partir do ciclo de políticas de Stephen Ball e co-
laboradores (1992), valendo-se dos contextos de influência,
produção de texto e prática.
Metodológico Pesquisa de caráter qualitativa e exploratória; a estratégia
metodológica escolhida foi o estudo de caso; os instrumen-
tos de coleta de dados foram entrevistas semiestruturadas,
observação e análise documental; a análise dos dados foi
realizada a partir do ciclo de políticas de Stephen Ball e cola-
boradores (1992).
Teóricos O referencial teórico aborda a temática das políticas curri-
culares a partir dos estudos críticos e pós-críticos; os princi-
pais teóricos utilizados pela pesquisadora foram: Ball (1992-
1987), Gadotti (2014), Pereira (2010), Paterman (1992), e
Santos (2002).
Epistemológicos A autora apresenta o conhecimento enquanto prática social
situada na dimensão teórico-política (SANTOS, 2010). A
pesquisadora consegue responder ao seu problema de pes-
quisa e aos objetivos propostos, utilizando técnicas de análi-
se e métodos de pesquisa.
Gnosiológicos O referencial adotado na pesquisa parte da compreensão de
que realidade é interna a um sistema de representação e po-
der, e que, fora dela, tudo é considerado incognoscível.
Ontológicos A dissertação parte da ideia de que o sujeito é constituído
pela correlação que o ele estabelece consigo e com a histori-
cidade, mediatizados pelas subjetividades e pelas relações de
poder da sociedade em cada época.

120
Mapeamento de Dissertações do PPGE: Métodos e Epistemologias na Linha de Políticas Educacionais

Título: EDUCAÇÃO GERENCIAL E AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO:


UM ESTUDO SOBRE A POLÍTICA EDUCACIONAL DO MODELO DE
GESTÃO TODOS POR PERNAMBUCO
Autor(a): Sérgio Andrade de Moura
Orientador(a):Ângela Maria Dias Fernandes
Ano: 2017
Técnico-instru- Para realizar o estudo, o autor utilizou pesquisa bibliográfica
mentais e documental para construir os elementos essenciais sobre o
estudo das Políticas Educacionais Gerencias e de Avaliação
do Desempenho Educacional.
Metodológicos Foi utilizada uma abordagem qualitativa, realizando tam-
bém a pesquisa bibliográfica. Os procedimentos teórico-me-
todológicos adotados pela pesquisadora foram à busca pela
compreensão crítica da realidade social, considerando-se o
contexto da aliança neoliberal-conservadora, das políticas
neoliberais, do gerenciamento das influências dos organis-
mos internacionais e suas repercussões sobre o Estado, sobre
as políticas públicas e políticas educacionais. O referencial
teórico metodológico foi fundamentado na Abordagem do
Ciclo das Políticas (BALL; BOWE; GOLD, 1992).
Teóricos O referencial teórico tem função potencial para o estudo das
políticas educacionais a partir da articulação entre a produ-
ção da política, passando por sua materialização no texto
legal, até sua repercussão na prática escolar. A abordagem
do Ciclo de Políticas criado por Ball e seus colaboradores
foi apresentada a partir da obra “Reforming Educationand
Chaning Schools”, de 1992. Outros autores serviram também
como aporte teórico para o estudo.
Epistemológicos A investigação fundamentou-se no referencial teórico-me-
todológico da Abordagem do Ciclo das Políticas (BALL;
BOWE; GOLD, 1992). Destacando dentre esse Ciclo de po-
líticas, o contexto da influência e o contexto da produção do
texto. Como ferramenta para subsidiar a contextualização
das políticas educacionais, utilizou-se gerencialismo e per-
formatividade (BALL, 2001, 2004, 2005).
Gnosiológicos A escolha do pesquisador pelo objeto de estudo se deu em
virtude de sua trajetória como professor da Rede Estadual do
Estado de Pernambuco. No exercício da profissão, acompa-
nhou e vivenciou todo processo de constituição e implemen-
tação da reforma gerencial do Modelo de Gestão todos por
Pernambuco. Nesse contexto, percebeu as tensões causadas
pelas metas a serem alcançadas pela polícia do IDEB/IDE-
PE. A fim de elucidar seus questionamentos, lança-se na pes-
quisa sobre Políticas Educacionais Gerencias e de Avaliação
do Desempenho Educacional.

121
Adriege Matias Rodrigues - Alexandre Nascimento da Silva - Déborah Kallyne Santos da Silva - Gessica
Mayara de Oliveira Souza - Juliana Maia Tavares

Ontológicos O pesquisador identificou no modelo de gestão com forte


caráter neoliberal e conservador, multiplicando as facetas da
economia capitalista presentes na teoria do capital humano.
Dessa forma, forja-se uma formação para promover a cida-
dania, abrindo-se espaço para o desenvolvimento econômi-
co e alimentar a cadeia produtiva da acumulação do capi-
tal, dentro da lógica de modelos de avaliação verticalizados,
focado no desempenho usado em larga escala pelos órgãos
reguladores IDEB, IDEPE, PISA e outros.
Fonte: Elaboração própria, 2018.

Nesta seção, procurou-se discutir as categorias elencadas por


Gamboa (2012), a partir de uma análise geral do que foi encontrado nas
dissertações do período de 2013 a 2017 do PPGE, a fim de responder a
questionamentos bastante pertinentes para o atual momento educacional
no Brasil, a saber: Existe comprometimento educacional nas pesquisas
realizadas? O que de fato a linha de pesquisa em políticas educacionais
vem construindo dentro desse programa de pós-graduação? O que a
linha está produzindo em relação à educação?
São elementos discursivos que o estudo tenta responder nesse
trabalho, a partir das dissertações analisadas seguindo os métodos
apresentados por Gamboa. Segundo o que esse autor diz, a pesquisa
em educação supõe articulações, ou seja, possui uma estrutura de
pensamento e assim de organização dos conteúdos: “os conteúdos podem
ser organizados por níveis de amplitude e por grau de explicitação,
começando pelos fatores que se apresentam de forma explícita até
recuperar aqueles que se encontra em formas de pressupostos”
(GAMBOA, 2012, p. 58).
De acordo com as observações, foi possível perceber que os
aspectos técnico-instrumentais e metodológicos estão bem próximos,
sendo às vezes quase impossível colocá-los em categorias separadas,

122
Mapeamento de Dissertações do PPGE: Métodos e Epistemologias na Linha de Políticas Educacionais

mas, ao seguir as indicações de Gamboa (2012), obtém-se uma análise


mais detalhada.
Os aspectos técnico-instrumentais utilizados nas publicações
selecionadas privilegiam, em sua maioria, técnicas não quantitativas,
como análise documental, entrevistas e revisão bibliográficas,
encontradas em quatro das cinco publicações; além disso, é possível
verificar que entrevistas não estruturadas, investigação, observação
e questionário foram utilizados também na maioria das publicações.
Há que se observar que em duas pesquisas se encontra o tratamento
de dados como técnica utilizada, o que remete ao entendimento de
que há diversas vertentes epistemológicas, tais como as classificadas
por Gamboa (2012, p. 52) em empírico analíticas, fenomenológico-
hermenêuticas e crítico dialético.
Ao analisar os aspectos metodológicos das cinco dissertações
mapeadas, percebe-se que todas se caracterizam pelo caráter qualitativo
e bibliográfico. Duas valem-se da pesquisa documental; uma, de um
estudo de caso; e quatro das pesquisas foram realizadas em escolas onde
se utilizaram entrevistas semiestruturadas e questionário.
Observa-se que a pesquisa qualitativa “preocupa-se com
a compreensão, com a interpretação do fenômeno, considerando
o significado que os outros dão as suas práticas, o que impõe ao
pesquisador uma abordagem hermenêutica” (GONSALVES, 2003, p.
68). Percebe-se, então, que os pesquisadores buscaram compreender
e entender certo fenômeno da sociedade, em sua maioria, dentro das
escolas, com a finalidade de analisar esse fenômeno no campo em que
ele/ela estava inserido/a. Portanto, destaca-se a importância da pesquisa
de campo, a fim de que o pesquisar chegue mais perto de seu objeto
e possa entender e compreendê-lo, subsidiando a tomada de decisões

123
Adriege Matias Rodrigues - Alexandre Nascimento da Silva - Déborah Kallyne Santos da Silva - Gessica
Mayara de Oliveira Souza - Juliana Maia Tavares

com o objetivo de criar estratégias para dar suas contribuições para


aquela determinada realidade.
Já a parte teórica do trabalho, esta exerce uma função fundamental,
consiste em dar suporte ao objeto estudado. Nela, dialoga-se com
diversos autores e procura-se deixar o mais claro possível o que se busca
discutir nos resultados. De uma maneira geral, nessa parte específica
da pesquisa são apresentadas definições, origens, características, teorias
e, assim, a relação que essas teorias têm com o objeto estudado pelo
pesquisador, mostrando o caminho que irá trilhar nas discussões dos
resultados obtidos.
Gamboa (2012, p. 59), apresenta a seguinte caracterização:
“Teóricos: entre eles, citamos os fenômenos educativos e sociais
privilegiados, núcleos conceituais básicos, pretensões críticas e outras
teorias, tipo de mudanças proposta, autores citados etc.”.
Sobre o referencial teórico encontrado nos trabalhos ora analisa-
dos, especificamente nessa linha de pesquisa em Políticas Educacionais,
a primeira parte dos trabalhos é um recorte das políticas educacionais,
fazendo um marco teórico de como se constituíram, e como são pensa-
das, além da própria definição do que viriam a ser essas políticas.
Outro elemento que pode ser explicitado é a coerência com o
que se propõe pesquisar, levando-se em consideração o diálogo que se
estabelece com os autores utilizados. As pesquisas são diversificadas,
desde as Políticas públicas educacionais de inclusão; Resultados do
IDEB; Formação continuada de professores; BNCC; Políticas de modelo
de gestão, enfim, para a discussão desses temas, os pesquisadores valem-
se de autores renomados, que vêm pesquisando sobre tais fenômenos.
Os aspectos epistemológicos da produção científica e seu vínculo
com os outros aspectos é uma necessidade, com objetivo de conferir
qualidade à pesquisa e para planejar adequadamente novas pesquisas. No

124
Mapeamento de Dissertações do PPGE: Métodos e Epistemologias na Linha de Políticas Educacionais

que se refere aos aspectos epistemológicos das dissertações analisadas,


é notável a presença de técnicas e métodos que tornam possível ao
pesquisador responder ao seu problema de forma coerente.
A análise gnosiológica corresponde à  teoria geral do conhe-
cimento humano, voltada para uma reflexão em torno da origem,  ao
sentido do real, tanto ao abstrato quanto ao concreto, no processo de
pesquisa científica, o que possibilita relacionar o sujeito e o objeto de
diversas formas. Abstrair, conceituar, classificar e formalizar, os aspec-
tos referidos a construção da pesquisa nos trabalhos analisados, sendo
pontos necessários no aspecto gnosiológico.
Ao analisar as dissertações do Programa de Pós-Graduação
em Educação (PPGE) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
na linha de pesquisa de Políticas Educacionais, observa-se que os
pesquisadores conseguem dialogar com os teóricos que contemplam
em suas discussões, ou seja, com todos os fundamentos discursivos, os
quais trazem elementos propícios para o diálogo. Assim, conseguem
construir o seu objeto de pesquisa, dialogando com a realidade, com
o concreto, além de estabelecer critérios para a constituição do próprio
objeto da pesquisa.
Para Gamboa (2012), os pressupostos ontológicos correspondem
à visão de mundo do pesquisador subentendida na pesquisa, bem como
às suas concepções de homem, de sociedade, de história e de realidade.
Compreender estes pressupostos implica compreender outros elementos
de modelos ou paradigmas.
Com base nos achados das dissertações analisadas, o que se
produz no Programa de Pós-graduação em Educação, em relação aos
pressupostos ontológicos, gira em torno da consideração dos processos
histórico, político e cultural para os sujeitos e fenômenos pesquisados,
125
Adriege Matias Rodrigues - Alexandre Nascimento da Silva - Déborah Kallyne Santos da Silva - Gessica
Mayara de Oliveira Souza - Juliana Maia Tavares

considerando os sujeitos como protagonistas das modificações da


realidade.
Na maioria das dissertações analisadas, percebe-se como os
autores se posicionam, considerando a relação da historicidade com os
sujeitos, bem como a cultura como fator relevante para compreensão
dos fenômenos. Assim, as posições em defesa aos direitos humanos e
valorização da educação como transformadora ficam claras. O homem
não é tido como acabado, pronto, mas sim em constante mudança,
tendo em vista a realidade em que está inserido, a qual influencia e por
ela é influenciado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização deste trabalho possibilitou compreender o que se


vem produzindo na linha de Políticas Educacionais do PPGE, tendo sua
importância no fato de que este pode vir a guiar as futuras produções
de dissertações, com o acréscimo deste banco de dados, contribuindo
de forma direta para o desenvolvimento do próprio programa de pós-
graduação em Educação.
As pesquisas analisadas têm um viés de contribuição muito
significativa para as discussões que giram em torno das políticas públicas
de educação. São pesquisas que contemplam desde o desempenho
escolar e a qualidade de ensino, as discussões curriculares a partir das
questões afro e indígenas, assim como a nova proposta de reforma
política da BNCC, indo ao encontro também à formação continuada de
professores e políticas de gestão. De fato, são temáticas que conseguem
ser cada vez mais atuais na atual conjuntura política brasileira e trazem

126
Mapeamento de Dissertações do PPGE: Métodos e Epistemologias na Linha de Políticas Educacionais

grandes problemáticas para nossa reflexão enquanto professores e


pesquisadores.
Observa-se que as dissertações que estão sendo produzidas,
embora com ausências de determinados elementos importantes para a
discussão, assim como no que se diz a questões metodológicas, como
a própria justificativa do método, dos instrumentos de coleta de dados
e de sua análise, são produções que conseguem dialogar com o que foi
proposto na problemática, nos objetivos elencados pelos pesquisadores
e possibilitam aos leitores um contato direto com uma discussão bem
fundamentada.
A parte metodológica do trabalho exerce uma grande função
nas pesquisas sociais, é o meio pelo qual passa-se a delimitar o percurso
para a construção da teoria que responderá à problemática. Ressalte-
se que o termo Metodologia significa “[...] estudo dos caminhos, dos
instrumentos usados para se fazer ciência” (DEMO, 1995, p. 11).
É justamente esse caminho que foi traçado no processo científico,
implicando conhecer os limites da ciência sobre a interferência de uma
determinada realidade investigada.
Desse modo, metodologia difere-se de métodos científicos: “o
método científico é o caminho da ciência para chegar a um objetivo.
A metodologia são as regras estabelecidas para o método científico
(RICHARDSON, 2012, p. 22).
Considera-se também que as pesquisas possuem um rigor de
cientificidade e procuram articular o processo metodológico ao todo
da pesquisa. Os teóricos estão coerentes com os temas escolhidos,
assim como também seguem uma linha de raciocínio metodológico
relacionado à sua visão de sujeito e de mundo.

127
Adriege Matias Rodrigues - Alexandre Nascimento da Silva - Déborah Kallyne Santos da Silva - Gessica
Mayara de Oliveira Souza - Juliana Maia Tavares

No mais, ressalta-se que há certos casos em que as dissertações


não trazem de maneiras tão explícitas os motivos para a escolha de certa
abordagem. Considerando que, após a definição do objeto de pesquisa,
a parte metodológica do trabalho exerce uma função primordial para
o levantamento dos dados sobre o fenômeno que irá se pesquisar, é
necessário um estudo aprofundado para a justificativa de tais escolhas
dentro do que se está propondo.
Propõe-se agora, ao final do trabalho, ressaltar o quanto foi
relevante esse mapeamento para a construção enquanto pesquisador
do programa, refletindo e observando a maneira como é abordada a
construção do trabalho como um todo, desde os temas, passando
pelas problemáticas levantadas, até os direcionamentos teóricos e
metodológicos das próprias dissertações, o que aproximou os presentes
autores deste capítulo tanto de seu próprio objeto de pesquisa, como
da sua relação com a linha para cujos debates se propuseram a trazer
acréscimos.
Assim, este estudo contribui para as discussões que estão sendo
realizadas na linha de Políticas em Educação, por compreender que, ao
se dialogar sobre as políticas atuais, estas precisam ser melhor debatidas
e compreendidas dentro do cenário da educação contemporânea.

REFERÊNCIAS

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução de Luís Antero


Reto e Augusto Pinheiro. São Paulo: Edições 70, 2011.

BARROS, José de Assunção. Projeto de Pesquisa em História – da


escolha do tema ao quadro teórico. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2015.

128
Mapeamento de Dissertações do PPGE: Métodos e Epistemologias na Linha de Políticas Educacionais

CARVALHO, Patrícia Montenegro Freire de. Políticas públicas


educacionais e o resultado do IDEB das escolas do município de
João Pessoa: reflexões sobre o desempenho escolar e a qualidade
do ensino. 2013. 165f. Dissertação (Mestrado em Educação) -
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2013. Disponível
em: <http://sigaa.ufpb.br/sigaa/public/programa/defesas.jsf?lc=pt_
BR&id=1906>. Acesso em: 1 maio 2018.

DESLANDES, S. F.; GOMES, R. (Orgs.). Pesquisa Social: teoria,


método e criatividade. 25. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.

DEMO, Pedro. Metodologia científica em ciências sociais. 3. ed. rev. e


atual. São Paulo, SP: Atlas, 1995.

GAMBOA, Silvio Ancisar Sánchez. Pesquisa em Educação: métodos e


epistemologias. 2. ed. Chapecó: Argos, 2012.

GONSALVES, Elisa Pereira. Conversando sobre iniciação a pesquisa


cientifica. 3. ed. Campinas, SP: Editora Alínea, 2003.

LIMA, Taíssa Santos de. Formação de professores/as: uma análise da


formação continuada a partir da proposta de formação permanente
de educadores/as em Paulo Freire. 2015. 144f. Dissertação (Mestrado
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Disponível em: <http://sigaa.ufpb.br/sigaa/public/programa/defesas.
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MARINHO, Geonara Marisa de Souza. Inclusão Obrigatória da


História e Cultura Africana, Afrobrasileira e Indígena no Currículo:
Vozes e Tensões no Projeto Curricular do Estado de Pernambuco.
2014. 202f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 2014. Disponível em: <http://tede.
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MARTINS, G. A. Estudo de caso: uma reflexão sobre a aplicabilidade


em pesquisas no Brasil. Revista de Contabilidade e Organizações, v.
2, n. 2, p. 9-18, jan./abr. 2008.

129
Adriege Matias Rodrigues - Alexandre Nascimento da Silva - Déborah Kallyne Santos da Silva - Gessica
Mayara de Oliveira Souza - Juliana Maia Tavares

MOURA, Sérgio Andrade de. Educação gerencial e avaliação do


desempenho: um estudo sobre a política educacional do modelo de
gestão todos por Pernambuco. 2017. 322f. Dissertação (Mestrado
em Educação) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa,
2017. Disponível em: <http://tede.biblioteca.ufpb.br:8080/handle/
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ROCHA, Nathália Fernandes Egito. Base Nacional Comum


Curricular e Micropolítica: analisando os fios condutores. 2016.
181f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa, 2016. Disponível em: <http://sigaa.ufpb.br/sigaa/
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2018.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 5. ed.


São Paulo: Cortez, 2008.

130
PROCESSOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Investigações de metodologias, práticas educativas e processos


de ensino-aprendizagem voltados para a produção do conhecimento
nos campos das ciências sociais e humanas, da saúde e das ciências
exatas e da natureza. Estudos e pesquisas sobre os processos envolvidos
na formação professores e agentes multiplicadores inseridos em práticas
educativas, em projetos de educação formal e informal. Investigações
sobre o desenvolvimento humano, corpo e ambiente em práticas
educativas.
Fonte: site do PPGE <http://www.ce.ufpb.br/ppge/contents/menu/linhas-de-
pesquisa>.
A PRÁTICA DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO: CON-
SIDERAÇÕES SOBRE CINCO DISSERTAÇÕES (2013-
2017) DA LINHA DE PROCESSOS DE ENSINO-APREN-
DIZAGEM DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
EDUCAÇÃO DA UFPB

Flávia Mayara Félix Dantas


Iranir Pontes Silva
João Djane Assunção da Silva
Maria Liliane Santos da Silva
Rosilda Santos do Nascimento

INTRODUÇÃO

O processo de ensino-aprendizagem é envolto por uma


vasta demanda de indagações e discussões. Definir o que de fato é e
como se realiza o ato de ensinar e aprender são complexas e inesgotáveis
questões que norteiam muitas das pesquisas científicas inseridas
no campo da Educação. Elementos constituintes de um mesmo
procedimento educativo, despertam inúmeras reflexões das quais
suscitam-se diferentes correntes teórico-práticas.

133
Flávia Mayara Félix Dantas - Iranir Pontes Silva - João Djane Assunção da Silva - Maria Liliane Santos da
Silva - Rosilda Santos do Nascimento

Referindo-se especificamente ao processo de ensino, mas o en-


tendendo como intrínseco ao da aprendizagem, consideramos se tratar
das “atividades do professor e dos alunos, tendo em vista a assimilação
de conhecimentos e desenvolvimento de habilidades, através dos quais
os alunos aprimoram capacidades cognitivas (pensamento indepen-
dente, observação, análise, síntese e outras)” (LIBÂNEO, 2006, p. 54).
Julgamos que a maneira de ensinar, isto é, os métodos, metodologias e
estratégias utilizadas, além da sua forma de avaliação, deve ir ao encon-
tro das necessidades e habilidades do educando para se alcançar uma
aprendizagem de qualidade.
Quando direcionamos nossa reflexão sobre a trajetória do
processo educativo formal, aquele que se desenvolve no ambiente
escolar, vemos que são constantes as barreiras que o educador enfrenta,
pedras no caminho que dificultam a consolidação e eficácia do ensino-
aprendizagem. Acreditamos que o ato de ensinar deve oferecer ao
estudante caminhos para que se possa adquirir uma significativa
apreensão do conhecimento através de ações educativas e coletivas.
Esta concepção nos distancia da visão de um saber tradicional, em
que a transmissão mecânica de conteúdos é tida como suficiente para
que os alunos aprendam (SAVIANI, 2005). Antes de tudo, entendemos
a educação como ponte para que o ser humano se torne capaz de
questionar, refletir, construir e reconstruir o mundo que o cerca.
Enquanto local de fala que nos cabe, ou seja, professores e pro-
fissionais da educação, cremos que é cada vez mais necessário produ-
zirmos pesquisas que se aprofundem na reflexão sobre o processo de
ensino-aprendizagem, pois, é a prática científica que nos possibilita de-
senvolver conhecimento para realizar intervenções educativas e saciar
nossas inquietações epistemológicas. Ressaltamos a face social e huma-
134
A Prática da Pesquisa em Educação: Considerações Sobre Cinco Dissertações (2013-2017) da Linha de
Processos de Ensino-Aprendizagem do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPB

nizadora que a educação tem, o caráter heterogêneo tão necessário para


que se supra a necessidade individual de cada ser. Ademais, atentamos
para uma visão baseada na vertente histórico e sociocultural que con-
sidera a bagagem de conhecimento que o aluno traz antes de estar no
chão da escola, e ainda, as considerações pelas suas dificuldades com
relação aos conteúdos discutidos em sala de aula, que, muitas vezes, são
trabalhados de maneira superficial, apenas para cumprir um quadro de
notas exigido por uma política educacional arbitrária.
Nós, aluno(as) de Mestrado do Programa de Pós-Graduação
em Educação (PPGE) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
objetivamos contribuir de certa maneira para a construção do
conhecimento sobre educação, em especial, no que se refere à Linha
de Pesquisa em Processos de Ensino-Aprendizagem (PEA), na qual
atuamos.
Suscitados pelas indagações propostas na disciplina de Pesquisa
em Educação, na qual pudemos nos aprofundar no debate sobre ensino-
aprendizagem e aprimorar nossos objetos de estudo, principalmente
no que concerne à realização da investigação in loco, tomamos
conhecimento da exposição feita por Gamboa (2012) a respeito da
lógica interna da Pesquisa em Educação. O autor explica os fatores que
estão explícitos e implícitos na produção do conhecimento na prática de
pesquisa, elucidando cada fator como integrante de uma “estrutura de
pensamento que inclui conteúdos filosóficos, lógicos, epistemológicos,
teóricos, metodológicos e técnicos.” (GAMBOA, 2012, p. 58).
Os fatores que formam o construto de uma pesquisa em
educação, especificados pelo autor, são: (1) Metodológico - trata-se do
conjunto de ideias de como foi feita a pesquisa, ou seja, a sistematização
dos dados que permite o pesquisador trabalhar cientificamente o seu
135
Flávia Mayara Félix Dantas - Iranir Pontes Silva - João Djane Assunção da Silva - Maria Liliane Santos da
Silva - Rosilda Santos do Nascimento

objeto em estudo; (2) Técnico-instrumental - que se refere às técnicas


e instrumentos utilizados para realização da pesquisa; (3) Teórico - são
as teorias que guiam o pesquisador na busca por responder o problema
de pesquisa, as fundamentações dos fenômenos e conceitos educativos
que têm perpassado os estudos de diversos teóricos desta área; (4)
Epistemológico - diz respeito à concepção do que seja conhecimento
para a pesquisa. São as comprovações teóricas e filosóficas que embasam
o pesquisador enquanto produtor de conhecimento científico; (5)
Gnosiológico - são as diversas formas de relacionar sujeito e objeto
pesquisado na construção do saber científico; e (6) Ontológico - aponta
para a concepção de mundo do pesquisador, ou seja, a partir de que
visão, implícita em toda produção científica, ele enxerga a formação dos
processos históricos e socioculturais.
Com esta compreensão teórica, coube-nos identificar de maneira
prática a aplicação destes fatores enquanto categorias para análise de
cinco dissertações produzidas entre os anos de 2013 e 2017 pela linha
de PEA do PPGE.
Após um processo de investigação e análise dos trabalhos,
disponíveis no banco digital de dissertações da UFPB, optamos
por analisar as seguintes pesquisas e seus respectivos autores(as) e
orientadores(as):
1. Sexualidade, parentalidade e doenças sexual-
mente transmissíveis/aids: análises em livros
didáticos de ciências naturais. Escrita por Cle-
milson Cavalcanti da Silva (2015a). Orientação
do Professor Dr. José Antônio Novaes da Silva.

2. As caatingas do Cariri Paraibano: mapa con-


ceitual como ferramenta para aprendizagem
significativa no ensino de biologia. Escrita por

136
A Prática da Pesquisa em Educação: Considerações Sobre Cinco Dissertações (2013-2017) da Linha de
Processos de Ensino-Aprendizagem do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPB

Ronnie Wesley Sinésio Moura (2014). Orien-


tação do Professor Dr. José Antônio Novaes da
Silva.

3. Gráficos e tabelas no ensino fundamental:


uma análise com base em elementos da teoria
da atividade. Escrita por Alissá Mariane Garcia
Grymuza (2015). Orientação da Professora Dra.
Rogéria Gaudencio do Rêgo.

4. Formação do professor de matemática: um


olhar sobre a construção dos saberes da pes-
quisa. Escrita por Joselma Ferreira Lavôr Lima
(2014). Orientação da Professora Dra. Rogéria
Gaudencio do Rêgo.

5. Aprendizagem no jogo Equilíbrio Geométrico


(PNAIC): por uma analítica existencial do
movimento. Escrita por Micaela Ferreira dos
Santos Silva (2015b). Orientação do Professor
Dr. Pierre Normando Gomes da Silva.

METODOLOGIA

Quando falamos de metodologia da pesquisa, estamo-nos


referindo ao tracejo do caminho para se chegar a um determinado fim
- o conhecimento científico. Neste contexto, a metodologia consiste nos
seguintes aspectos:

[...] procedimentos e regras utilizadas por determi-


nado método. Por exemplo, o método científico é
o caminho da ciência para chegar a um objetivo. A
metodologia são as regras estabelecidas para o mé-
todo científico, por exemplo: a necessidade de ob-
servar, a necessidade de formular hipóteses, a elabo-

137
Flávia Mayara Félix Dantas - Iranir Pontes Silva - João Djane Assunção da Silva - Maria Liliane Santos da
Silva - Rosilda Santos do Nascimento

ração de instrumentos etc. (RICHARDSON, 2012,


p. 22).

Os aspectos citados por Richardson (2012), que norteiam o


desenvolvimento da metodologia da pesquisa científica, serão discutidos
adiante, sendo analisados em suas construções e aproximando-os aos
fatores estabelecidos por Gamboa (2012) e que foram usados como
fundamento para a nossa análise.
Destacamos ainda que, para analisar o trajeto metodológico das
dissertações mapeadas neste estudo, devemo-nos atentar para o que
explica Gatti (2012):

Para se discutir a construção metodológica da


pesquisa em educação, é necessário se perguntar
sobre os conceitos utilizados na caracterização do
campo, distinções que podem clarificar significados
e contribuir para sua autoafirmação, e perguntar
sobre identidade e formas investigativas (GATTI,
2012, p. 14).

Partindo deste pressuposto, quanto à natureza da pesquisa,


realizamos um estudo de cunho qualitativo. Minayo (2002) explica
que as pesquisas qualitativas no âmbito das ciências sociais lidam
com uma realidade que não pode ser quantificada nem restrita a uma
operacionalização de variáveis. Assim, este é um enfoque metodológico
que prioriza o conhecimento holístico do fenômeno, buscando não
limitar os significados de uma experiência a uma generalização.
Com relação ao nosso objeto de pesquisa, isto é, o mapeamento
das cinco dissertações produzidas pela linha de PEA do PPGE,
partimos de uma análise bibliográfica de leitura analítica de acordo
com o que sustenta Gil (2002). O referido autor explica que as pesquisas
138
A Prática da Pesquisa em Educação: Considerações Sobre Cinco Dissertações (2013-2017) da Linha de
Processos de Ensino-Aprendizagem do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPB

bibliográficas possibilitam ao investigador a organização de fenômenos


de maneira mais ampla, e esta seria a sua principal vantagem em relação
aos estudos que são feitos em contato direto com o objeto.
No entanto, é importante atentar-se para o que diz Fonseca
(2012), já que ao se debruçar com a vastidão de dados presentes nos
bancos digitais de artigos, livros, manuais digitais e todo o tipo de
impresso científico, o pesquisador deverá ter “o cuidado de selecionar
e analisar cuidadosamente os documentos a pesquisar de modo a evitar
comprometer a qualidade da pesquisa com erros resultantes de dados
coletados ou processados de forma equívoca” (FONSECA, 2012, p. 31-
32).
Em relação às pesquisas bibliográficas de leitura analítica, Gil
(2002) elucida que, para serem realizadas de maneira eficiente, deve-se
seguir certas etapas, as quais o autor define como sendo: leitura integral
do texto selecionado; identificação das ideias-chaves; hierarquização
das ideias; sintetização das ideias. Este tipo de análise “é feita nos textos
selecionados. Sua finalidade é a de ordenar e sumariar as informações
contidas nas fontes, de forma que estas possibilitem a obtenção de
respostas ao problema da pesquisa” (GIL, 2002, p. 79).
O construto metodológico de cada uma das cinco dissertações
analisadas busca ser subsídio para se demonstrar a relevância do
percurso científico intrínseco às investigações no campo da Educação.
Temos, portanto, um esforço de caracterização de uma linha de pesquisa
muito abrangente, uma vez que, para se trabalhar na perspectiva do
processo de ensino-aprendizagem, é preciso compreender que se trata
de um âmbito mutável, continuamente aberto a novas observações e
ressignificações.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Levando-se em consideração o exposto pelos fatores


definidos por Gamboa (2012), apresentamos neste capítulo um
estudo sobre cada uma das cinco investigações pertencentes à
linha de PEA do PPGE. O resultado foi um mapeamento para que
nós, pesquisadores(as), tomemos consciência das abstrações e
rigor científico que envolve a pesquisa em educação. Este exercício
reflexivo provoca-nos a experimentar as complexas articulações
que permeiam a construção do conhecimento direcionado ao
processo de ensino-aprendizagem.

O CAMPO METODOLÓGICO DA PRODUÇÃO


ACADÊMICA ANALISADA

A primeira dissertação analisada, escrita por Clemilson


Cavalcanti da Silva (2015a) e intitulada Sexualidade, parentalidade e
doenças sexualmente transmissíveis/aids: análises em livros didáticos
de ciências naturais, traz como objetivo principal a investigação das
abordagens conceituais sobre sexualidade, parentalidade e DST/aids em
duas coleções didáticas da área das Ciências Naturais, que têm como
títulos Projeto Teláris: Ciência nosso corpo e Projeto Velear: construindo
consciência, ambas direcionadas para o 8º ano do ensino fundamental.
Nos procedimentos para o trabalho investigativo, tomou-se
primeiramente conhecimento, por meio de leituras, do aporte teórico
que ajudou na compreensão das três temáticas abordadas nas duas
coleções. Foram selecionados três capítulos do livro do Projeto Teláris
e um capítulo do livro do Projeto Velear. Usou-se uma perspectiva
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Processos de Ensino-Aprendizagem do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPB

descritiva, detalhando e avaliando a maneira de abordagem, nas duas


coleções, das três temáticas de interesse a serem analisadas, isto é,
sexualidade, parentalidade e DST/aids.
A segunda dissertação analisada, foi escrita por Ronnie Wesley
Sinésio Moura (2014) e está intitulada como As caatingas do Cariri
Paraibano: mapa conceitual como ferramenta para aprendizagem
significativa no ensino de biologia. O objetivo geral é investigar a
percepção de 24 alunos(as) da 3ª série do Ensino Médio de uma Escola
da Rede Estadual de Monteiro-PB no tocante à construção e ao uso
dos Mapas Conceituais, enquanto ferramenta para uma Aprendizagem
Significativa acerca do conteúdo Bioma Caatinga.
O autor baseia-se metodologicamente em Appolinário (2006)
para dizer que, de acordo com a finalidade da pesquisa, ela é considerada
básica porque não possui finalidade comercial nem resultados imediatos.
Quanto aos procedimentos, trata-se de uma pesquisa de campo e
exploratória com um monitoramento rígido dos dados coletados em
relação às variáveis situadas in loco e onde a fonte de informação são os
sujeitos participantes do processo investigativo. A natureza da pesquisa
é quantiqualitativa e buscou investigar a percepção dos sujeitos de
pesquisa em relação ao objeto de estudo. A abordagem quantitativa está
presente na estruturação e exposição dos dados, obtidos por meio de
procedimentos técnico-instrumentais como questionários e entrevistas
semiestruturadas.
A terceira dissertação analisada foi escrita por Alissá Mariane
Garcia Grymuza (2015) e está intitulada como Gráficos e tabelas no
ensino fundamental: uma análise com base em elementos da teoria da
atividade. Objetivou-se, com base em elementos da Teoria da Atividade,
analisar as ações didáticas seguidas ou propostas por docentes de
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Matemática do 5º ano do Ensino Fundamental para o ensino de gráficos e


tabelas. Caracterizado como um estudo de natureza qualitativa, em uma
perspectiva analítica, apresenta uma discussão a respeito da relevância
do conteúdo de gráficos e tabelas para a formação do estudante do
Ensino Básico. Para isso, a autora baseia-se nos Parâmetros Curriculares
Nacionais e considera elementos da Teoria da Atividade, bem como
trabalhos de pesquisadores da educação estatística.
A quarta dissertação analisada, escrita por Joselma Ferreira La-
vôr Lima (2014) e intitulada Formação do professor de matemática:
um olhar sobre a construção dos saberes da pesquisa, é considerada
como um estudo qualitativo de natureza descritivo-exploratória. A pes-
quisadora adotou como referência Lüdke e André (2013) a partir de
uma perspectiva em que:

os caminhos norteadores do conhecimento cientí-


fico privilegiam a informação interpretativa sobre a
realidade, centrada na construção de dados. Nele, se
por um lado tem-se um sujeito que traz indagações
de pesquisa a partir de suas concepções de mundo,
por outro, o objeto é também um objeto-sujeito que
fala e se posiciona conforme o seu contexto histó-
rico-social (LÜDKE; ANDRÉ, 2013 apud LIMA,
2014, p. 16).

A quinta dissertação analisada foi escrita por Micaela Ferreira


dos Santos Silva (2015b) e está intitulada como Aprendizagem no
jogo Equilíbrio Geométrico (PNAIC): por uma analítica existencial do
movimento. O estudo teve como finalidade investigar o processo de
aprendizagem social, através dos modos de comunicação corporal de
alunos, no momento do jogo “Equilíbrio Geométrico”, do Pacto Nacional

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pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). A pesquisa é classificada


como descritiva e analítica, de natureza qualitativa, caracterizada como
estudo de caso.
O jogo Equilíbrio Geométrico foi desenvolvido na rotina escolar
em quatro aulas, com a colaboração de 24 crianças com idades entre
sete e oito anos do 3º ano do Ensino Fundamental I, da Escola Estadual
Gilberto Rola, situada na zona rural da cidade de Mossoró-RN. As
aulas foram ministradas pela professora alfabetizadora, acompanhada
pela professora pesquisadora. O estudo indicou que, durante o
desenvolvimento do jogo Equilíbrio Geométrico, a aprendizagem social
ocorre pela comunicação corporal, por meio das interações entre os
jogadores, o que contribui para o desenvolvimento da criatividade e
competitividade entre os sujeitos.

O CAMPO TÉCNICO-INSTRUMENTAL DA PRODUÇÃO ACADÊMI-


CA ANALISADA

Nesta categoria, a primeira dissertação, de Clemilson Cavalcanti


da Silva (2015a), utilizou como técnica de análise de dados a Análise
Temática para compreender como duas das coleções de conteúdo
distribuídas na rede pública de ensino abordam a educação sexual,
problemas parentais e DST.
Com relação à Análise Temática, que é uma das técnicas
utilizadas na Análise do Conteúdo, e foi suporte metodológico para esta
pesquisa, propõe-se a “descobrir os núcleos de sentido que compõem
uma comunicação cuja presença ou frequência signifiquem alguma coisa
para o objetivo analítico visado” (BARDIN, 2004 apud SILVA, 2015a,
p. 25). Optou-se por fazer recortes de citações dos livros investigados,

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títulos, subtítulos, para a observação e considerações das categorias


sexualidade, parentalidade e DST/aids. Este exercício faz jus à Análise
Temática que “funciona em etapas, por operações de desmembramento
do texto em unidade de registro que é entendida como unidade de
significação a codificar, ou seja, é a unidade base a ser categorizada”
(BARDIN, 2004 apud SILVA, 2015a, p. 25).
Nesta categoria, a segunda dissertação, de Ronnie Wesley
Sinésio Moura (2014), traz uma pesquisa empreendida, em um primeiro
momento, a partir de uma intervenção pedagógica. Para tanto, aplicou-
se um questionário estruturado com perguntas objetivas fechadas. Na
sequência, foi trabalhada uma aula expositiva sobre o Bioma Caatinga,
organizada de acordo com a Teoria da Aprendizagem Significativa. Logo
depois, foi realizada uma visita guiada à Manga do Forno, localidade
do município de Monteiro, que está inserida no cariri paraibano e,
consequentemente, no Bioma Caatinga.
Em seguida, foram feitas atividades pedagógicas, utilizando
Mapas Conceituais. Por fim, foi realizada uma entrevista semiestruturada
direcionada a cinco dos alunos participantes. A entrevista foi desenvolvida
para analisar a percepção desses discentes sobre o Mapa Conceitual,
principalmente no que diz respeito à construção e estruturação do
conhecimento. Para análise dos dados, também foi utilizada a Análise de
Conteúdo, especificamente na perspectiva adotada por Bardin (2011).
Nesta categoria, a terceira dissertação, de Alissá Mariane Garcia
Grymuza (2015), faz uso dos instrumentos de coleta e produção de
dados que se constituem como sendo: o levantamento de materiais
produzidos e utilizados pelos professores de Matemática de duas escolas
do município de João Pessoa com realidades diferentes, ou seja, uma
com maior índice nas avaliações do Índice de Desenvolvimento da
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A Prática da Pesquisa em Educação: Considerações Sobre Cinco Dissertações (2013-2017) da Linha de
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Educação Básica (IDEB) de 2013 e outra com menor; os questionários


e entrevistas aplicados com os professores; e a observação direta de suas
práticas.
O processo analítico dos dados coletados deu-se a partir do
cruzamento destes com a Teoria da Atividade. Conforme o que diz
Grymuza (2015), esta teoria teve origem nas pesquisas desenvolvidas
por Lev Semenovich Vygotsky, no Instituto Estatal de Medicina de
Moscou, na atual Rússia, durante a década de 1930, mas foi desenvolvida
por Alexei Nikolaevich Leontiev, que afirmou que o desenvolvimento
da consciência se dá a partir de atividades específicas, isto é “[...] para
Leontiev, o papel da atividade prática dos sujeitos, as relações práticas
com o mundo, eram mais importantes que os processos de comunicação,
pois para ele, a comunicação se dá na atividade prática” (NÚÑEZ, 2009,
p. 63).
Para a realização deste procedimento, foi necessário delimitar
certas categorias de análise. A primeira delas refere-se às concepções
que os professores têm do ensino de Matemática e do conteúdo de
gráficos e tabelas, tendo como base as respostas apresentadas por estes
no questionário e na entrevista aplicados. A segunda categoria, fundada
durante a observação das aulas, está relacionada às ações didáticas dos
professores, ou seja, se estas refletem-se em uma atividade, baseando-
se na Teoria da Atividade. E a terceira categoria procurou analisar e
verificar os aspectos de convergência e de divergência apontados nas
duas categorias supracitadas, objetivando analisar a relação entre a
concepção dos professores e a produção de uma atividade por eles.
Diante disso, a autora constatou que, “uma vez que a motivação tem
papel de destaque no processo educativo, é preciso que o professor
avance em sua compreensão acerca desse elemento, considerando suas
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Flávia Mayara Félix Dantas - Iranir Pontes Silva - João Djane Assunção da Silva - Maria Liliane Santos da
Silva - Rosilda Santos do Nascimento

especificidades, sejam elas curriculares, sociais ou de outra natureza”


(GRYMUZA, 2015, p. 8).
Nesta categoria, a quarta dissertação, de Joselma Ferreira Lavôr
Lima (2014), destaca como principais instrumentos de produção e coleta
de dados: o questionário aberto; a entrevista semiestruturada; a oficina
didático-pedagógica para aplicação da atividade/diagnóstico; e a análise
documental. Como referência para o instrumento questionário, utiliza
Gil (2002, p. 128) que o define “como a técnica de investigação composta
por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por
escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões,
crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas
etc.”.
Para o questionário aberto, foram utilizadas seis questões para
os docentes e sete para os discentes. A entrevista semiestruturada
buscou identificar as concepções dos professores sobre o papel da
pesquisa na sua formação profissional. A oficina didático-pedagógica
representou um grande espaço na pesquisa para o levantamento inicial
de informações, identificando-se elementos acerca dos saberes que
são construídos ao longo dos processos de ensino-aprendizagem dos
pesquisados. A análise documental foi obtida por meio do Projeto
Pedagógico do Curso de Matemática, considerado como principal fonte
de informação para esse instrumento na pesquisa.
Nesta categoria, a quinta dissertação, de Micaela Ferreira dos
Santos Silva (2015b), valeu-se dos seguintes instrumentos para produzir
e coletar os dados: a análise dos documentos (Caderno de apresentação,
Documento orientador das ações de formação em 2014 e o Caderno
de Atividades “Jogos na Alfabetização Matemática”); a observação
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A Prática da Pesquisa em Educação: Considerações Sobre Cinco Dissertações (2013-2017) da Linha de
Processos de Ensino-Aprendizagem do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPB

participante; o diário de campo; o protocolo de observação; e o grupo


dialogal, que foi direcionado às crianças que participaram do jogo.
Destarte, o jogo Equilíbrio Geométrico foi introduzido na
rotina escolar no decorrer de quatro aulas, conduzidas pela professora
alfabetizadora, acompanhada pela professora pesquisadora. As
informações coletadas durante o período de observação participante,
bem como as que se consubstanciaram no diário de campo foram
analisadas pela Analítica Existencial do Movimento de Gomes-da-Silva
(2001, 2011, 2012) e pela Teoria Social Cognitiva na visão de Bandura
(1977, 1986, 2008). Em seguida, os dados obtidos no grupo dialogal
foram tratados pela Análise de Conteúdo, sob a ótica de Bardin (2011),
e, para analisar o conteúdo, foi utilizada a Análise Categorial.

O CAMPO TEÓRICO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA


ANALISADA

O autor da primeira dissertação, Clemilson Cavalcanti da Silva


(2015a), ao falar sobre as temáticas analisadas nos dois livros didáticos,
elucida que, considerando a complexidade que envolve a temática em
estudo, não se pode mais trabalhar a sexualidade em sala de aula com
um olhar fixo e reducionista. A sexualidade não é apenas uma questão
pessoal, mas também social e política. O autor parte da Teoria Queer
para falar dos diversos aspectos que envolve a temática referente à
sexualidade e identidade de gênero, com concepções de Foucault (2005,
2012, 2013) e Butler (1999).
Para fundamentar as concepções que envolvem a temática
da sexualidade e parentalidade, são utilizados os estudos de Castro,
Abramovay e Silva (2004), Heilborn (1999, 2002, 2006), Altmann (2001,

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2002, 2013), César (2004, 2009), Louro (2000, 2003, 2008) e Taquette
(2011, 2013).
O autor da segunda dissertação, Ronnie Wesley Sinésio Moura
(2014), utiliza em seu trabalho três abordagens teóricas. A primeira é a
respeito da Aprendizagem Significativa e o Ensino de Biologia, e o aporte
baseia-se na teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel
(2003). A segunda abordagem é sobre a utilização da técnica dos Mapas
Conceituais como ferramenta que possibilita ao(a) aluno(a) aprender a
aprender e como estruturadora do conhecimento, e o aporte tem como
foco os estudos de David Novak (2000). A terceira abordagem traz a
discussão sobre estudo dos meios, mais especificamente acerca da visita
de campo guiada, e foi utiliza como aporte teórico a obra de Myriam
Krasilchik (2011).
A autora da terceira dissertação, Alissá Mariane Garcia Grymuza
(2015), em busca de analisar as práticas e metodologias utilizadas por
professores de duas escolas de realidades distintas, para o ensino de
gráficos e tabelas, traz em seu aporte teórico certos autores que tratam
da Educação Estatística, Educação Matemática e a Teoria da Atividade.
Entre eles merecem destaque: Borba e Guimarães (2009), que tratam
da pesquisa em Educação Matemática; Campos, Wodewotzki e Jacobini
(2013), trazendo concepções sobre a Educação Estatística; e Leontiev
(1978), fundamentando a Teoria da Atividade.
A autora da quarta dissertação, Joselma Ferreira Lavôr Lima
(2014), utiliza teorias sobre a formação de professores que fundamentam
os saberes dos processos de ensino-aprendizagem. Ela encontra em
Pimenta (2005) referencial para dizer que o saber do professor se
fundamenta na tríade saberes das áreas, saberes pedagógicos e saberes
experimentais. Em Tardif (2002), ela ressalta que a formação docente
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deve contemplar saberes sociais e saberes pedagógicos, portanto,


saberes docentes e profissionais. Com Saviani (1996), ela afirma que
há uma inversão dos termos, a saber, que, “em lugar de os saberes
determinarem a formação do educador, é a educação que determina
os saberes que entram na formação do educador” (1996 apud LIMA,
2014, p. 27). Já em Freire (2001), a autora subtende-se que os saberes
docentes se configuram em uma nova ótica, a partir da qual se passa a
considerar o professor como um profissional que adquire e desenvolve
conhecimentos, cujos saberes são retraduzidos.
Com relação especificamente à formação de professores de
matemática a autora traz estudos de D’Ambrosio (1998) e de Borba
(2010). De D’Ambrosio, ela destaca a “consciência como o impulsionador
da ação do homem em direção à sua sobrevivência e transcendência, ao
seu saber fazendo e fazer sabendo”, ou seja, “o processo de aquisição
do conhecimento é, portanto, essa relação dialética saber/fazer” (1998
apud LIMA, 2014, p. 36). Já com Borba, a autora quer mostrar que
“o pressuposto subjacente é que tais focos matemáticos poderiam ser
incluídos na formação matemática e no desenvolvimento profissional
contínuo dos professores, e isso fará diferença em suas habilidades para
ensinar matemática” (2010 apud LIMA, 2014, p. 39).
A autora da quinta dissertação, Micaela Ferreira dos Santos Silva
(2015b), parte do princípio de que o modo de comunicação corporal
é o elemento mais eficaz da Analítica Existencial do Movimento
para o desenvolvimento da modelação social, consequentemente,
influenciando na aprendizagem social da criança, especificamente no
momento do jogo Equilíbrio Geométrico.
Com efeito, no embasamento teórico da pesquisa, a autora
utiliza a categoria comunicação em Paulo Freire (2011), ao passo que,
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Silva - Rosilda Santos do Nascimento

em seus estudos, identifica a comunicação como elemento fundamental


para a aprendizagem social em sala de aula. Concomitantemente,
pautou-se em Gomes-da-Silva (2001, 2011, 2012) para afirmar que o
movimento humano é sempre um movimento comunicativo, pois, para
o sujeito se reconhecer como construtor de conhecimentos, é necessário
a interação com o outro. Assim, com Bandura (1977, 1986, 2008), ela
afirma que as experiências anteriores à experiência educacional formal
são imprescindíveis na construção de novos comportamentos que
geram “modelações sociais” e, simultaneamente, a aprendizagem social.
Segundo apresentam os estudos da Pedagogia da Corporeidade
de Gomes-da-Silva (2012 apud SILVA, 2015b), o ato de velar ou desvelar
ações e pensamentos têm muito a dizer. Assim, para que o sujeito se
reconheça como construtor de conhecimentos, deve interagir com o
outro, e quanto mais ele tem suporte (situações motivadoras/“processo
vicariante”), para exercitar sua capacidade reflexiva, maior será a
capacidade de perceber a realidade com o outro. Do mesmo modo,
Rosa (2003 apud SILVA, 2015b) defende que a Aprendizagem
Social desenvolvida por Bandura supõe que os sujeitos são agentes
de intencionalidade e de reflexão, o que sugere que eles têm uma
autodireção, que irá influenciar seu comportamento.

O CAMPO EPISTEMOLÓGICO DA PRODUÇÃO


CIENTÍFICA ANALISADA

A epistemologia da primeira dissertação, de Clemilson Caval-


canti da Silva (2015a), parte do campo da ciência pós-culturalista, na
qual o multiculturalismo vem ao cerne do estudo, ao se considerarem
as inter-relações estabelecidas entre diversos processos culturais, per-

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mitindo que os “diferentes” sejam vistos e reconhecidos em toda sua


essência. Em um processo dialético, as concepções sobre sexualidade,
DST e parentalidade foram se modificando e essas ideologias são mos-
tradas neste estudo.
A segunda dissertação, de Ronnie Wesley Sinésio Moura
(2014), está dentro do campo da epistemologia histórica, uma vez que
visa à produção científica, partindo dos aspectos lógico, ideológicos e
históricos. Dessa maneira, a educação é entendida na pesquisa como
prática social construída historicamente, de modo que os aspectos
relacionados aos contextos social, político e econômico não podem ser
deixados de lado, pois são indicadores da estreita relação entre a forma
de organização da sociedade e o modelo educacional vigente. A partir
desta percepção, o autor aprofunda-se na questão de uma aprendizagem
que se relaciona com o conhecimento que o aprendiz já traz, adentrando
de maneira específica o campo dos estudos sobre educação e psicologia
cognitiva.
A epistemologia na terceira dissertação, de Alissá Mariane Garcia
Grymuza (2015), tem, por sua vez, aportes ideológicos do Marxismo e
teóricos da Teoria histórico-social, por se tratar de uma pesquisa à luz
da Teoria da Atividade, sendo esta, “[...] vinculada diretamente à ideia
de necessidade, ou seja, de se ter um motivo para aprender. Assim, é o
motivo que impulsiona a ação do aluno, de modo que ele seja responsável
por sua aprendizagem” (GRYMUZA, 2015, p. 59).
Na quarta dissertação, de Joselma Ferreira Lavôr Lima (2014),
o aspecto marxista aparece por meio da ideia de “práxis” como ponto
central na teoria do conhecimento presente na compreensão da
formação do professor, trazendo a prática de pesquisa como processo

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de ensino, fato este que é entendido como ferramenta para a construção


do processo de ensino-aprendizagem.
Na quinta dissertação, de Micaela Ferreira dos Santos Silva
(2015b), a epistemologia está voltada para a teoria explicativa do pro-
cesso de aprendizagem, tendo em vista que os pressupostos teóricos di-
recionam para a reflexão acerca dos processos da aprendizagem social,
por meio das interações e comunicações corporais no exercício do jogo
Equilíbrio Geométrico, nesse contexto, a aprendizagem é realizada por
meio da comunicação e observação do outro.

O CAMPO GNOSIOLÓGICO DA PRODUÇÃO


CIENTÍFICA ANALISADA

Na primeira dissertação, de Clemilson Cavalcanti da Silva


(2015a), deve-se levar em conta, neste aspecto, que as lutas de classes, as
lutas feministas, o movimento LGBTQ, as reivindicações étnico-raciais
e, na América Latina, as lutas contra os regimes ditatoriais, configuram
a visão moderna de mundo inclusiva e pós-moderna, ideal para estudar
sexualidade e suas reverberações nos tempos atuais. É válido considerar
que “ao mesmo tempo em que a sexualidade é explicada pelo conceito
biológico como essência da vida humana, ela também é alterada pelas
trocas com o mundo, que empresta um novo sentido e significado a
cada vida” (GUIMARÃES, 1995 apud SILVA, 2015a, p. 47).
Entendendo que o objeto de pesquisa da segunda
dissertação, de Ronnie Wesley Sinésio Moura (2014), é o uso dos
Mapas Conceituais no Ensino de Biologia, a pesquisa apresenta
aspecto gnosiológico definido pela pretensão de “que os(as)
professores(as) possam reorganizar suas convicções, sentidos

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e valores a partir do conhecimento novo produzido e aplicá-lo


nas salas de aulas numa forma de rejuvenescimento em todos os
sentidos, a saber: espiritual, profissional, social, dentre outros”
(MOURA, 2014, p. 23).
Considerando o Ensino de Gráficos e Tabelas no Ensino Fun-
damental, objeto de estudo da pesquisadora Alissá Mariane Garcia
Grymuza (2015), foi possível perceber, no que se refere ao aspecto gno-
siológico, uma visão de mundo pautada no capitalismo que permeia o
sistema de educação do Brasil. Assim, em discurso com os teóricos Lon-
garezi e Franco (2013), a autora conclui que “as práticas desse modelo
estão apoiadas em ações e não em atividades”. E, neste sentido, Grymuza
(2015, p. 64) afirma que “um modelo educacional com base em ações,
e não, em atividades tende a promover a alienação, tendo em vista que
o sentido pessoal não está associado à significação social (educação)”.
Na quarta dissertação, Joselma Ferreira Lavôr Lima (2014), ao
analisar seu objeto de estudo, traz a visão de um mundo complexo,
um olhar mais atento para o contexto e a importância da cultura de
aprendizagem e ensino, um mundo que considere a pesquisa como
premissa fundamental para ir “além do ensinar”. A prática da pesquisa
nas formações de professores aparece como um dos fatores principais
para transformação da realidade social.
Na quinta dissertação, de Micaela Ferreira dos Santos Silva
(2015b), os aspectos gnosiológicos desvelam uma visão de mundo
a partir de um sujeito que se reconhece como um ser inconcluso em
contínuo processo de aprendizagem. Nesse sentido, a autora enfatiza
que o ponto de partida é a tomada de consciência de si, do outro e
do mundo, posto que “não se pode considerar esse processo de modo
individual, mas como um fator coletivo e social, ou seja, uma ação com
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Silva - Rosilda Santos do Nascimento

o outro” (SILVA, 2015b, p. 27). A autora situa, assim, que a compreensão


acerca da concepção do fenômeno do diálogo corresponde a um olhar
articulado para a realidade concreta da sociedade e da educação do
pensamento a que se originam.

O CAMPO ONTOLÓGICO DA PRODUÇÃO


ACADÊMICA ANALISADA

Do ponto de vista ontológico, para o autor da primeira


dissertação, Clemilson Cavalcanti da Silva (2015a), o homem deve ser
considerado como ser mutável, que na contemporaneidade é dono de
uma outra visão de sujeito ou indivíduo, em suas construções identitárias
e atitudinais. Se há diferenças, tem-se que reinventar a forma de como
trabalhar na educação escolar, abordando-se temas que tragam à tona
realidades contemporâneas da sexualidade, parentalidade e DST/
aids, saindo do âmbito das ciências naturais que se reduzem a fatores
biológicos e imergindo-se no campo das ciências humanas.
A segunda dissertação, de Ronnie Wesley Sinésio Moura (2014),
parte de um entendimento que afirma não haver uma um único modelo
de educação. Assim, a escola não é o único lugar onde ela acontece e
talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática
e o professor enquanto profissional não é o seu único praticante. Em
uma sociedade diversificada como a brasileira, várias são as diferenças
sociais, culturais, econômicas, e vários são os grupos em que a educação
pode ocorrer. Por isso, os diversos saberes (filosófico, teológico, da
opinião, da experiência), as identidades social e cultural, a situação
socioeconômica, não devem ser desconsiderados nem minimizados.
Desta forma, ele afirma que não se pode pensar sobre um Ensino de

154
A Prática da Pesquisa em Educação: Considerações Sobre Cinco Dissertações (2013-2017) da Linha de
Processos de Ensino-Aprendizagem do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPB

Ciências, no caso específico o Ensino de Biologia, de qualidade, sem que


se articulem as atividades de classe com as de campo. E esta qualidade
no ensino e, consequentemente, na aprendizagem, não pode ser pensada
dissociada da relação escola-aluno(a)-professor(a).
Alissá Mariane Garcia Grymuza (2015), autora da terceira dis-
sertação analisada, defende a ideia de homem enquanto um ser ativo,
crítico e reflexivo na sociedade, um ser capaz de construir seu próprio
conhecimento, questionar determinadas situações observadas e chegar
a suas próprias conclusões. Nesta perspectiva, ao enfatizar um ensino
pautado nos fundamentos da Teoria da Atividade, e partir dos princí-
pios desta, a autora destaca que é função da escola promover condições
para a formação de cidadãos capazes de apresentar as características su-
pracitadas.
A quarta dissertação, de Joselma Ferreira Lavôr Lima (2014),
tem o sujeito em processo contínuo, visando o seu desenvolvimento
por meio da observação científica, da prática de pesquisa, da busca
por formações e do pensar científico. O campo ontológico pode, neste
caso, interagir e criar, possibilitando o desejo de pesquisar em diversas
situações, um sujeito em evolução. Nesse aspecto, a pesquisa traz
vários conceitos de pesquisa no campo da formação de professores,
associando-os às competências e saberes construídos que contribuem
para a evolução do sujeito.
A quinta dissertação, de Micaela Ferreira dos Santos Silva
(2015b), do ponto de vista ontológico, apresenta, como visão de aluno/
escola, o contexto em que o projeto Pacto Nacional pela Alfabetização
na Idade Certa (PNAIC) se desenvolve. Toma por base a realidade da
escola pública brasileira, bem como a metodologia para a alfabetização
matemática, mais precisamente, no jogo Equilíbrio Geométrico, tendo
155
Flávia Mayara Félix Dantas - Iranir Pontes Silva - João Djane Assunção da Silva - Maria Liliane Santos da
Silva - Rosilda Santos do Nascimento

por amostragem uma turma no ciclo de alfabetização, na zona rural da


cidade de Mossoró-RN.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando nos aprofundamos nos estudos sobre o processo de


ensino-aprendizagem, necessitamos compreender que este se desenvolve
em diversos contextos educativos, os quais envolvem sujeitos em
mudança, em contínua apreensão e ressignificação do conhecimento. É
na troca de informações entre os sujeitos, na reconstrução cotidiana do
saber sobre o mundo, seja ele institucionalizado ou não, que o ensino e
a aprendizagem ocorrem.
Este trabalho analítico, a partir do qual nos debruçamos nos
fatores expostos por Gamboa (2012), correlacionando-os às cinco
dissertações analisadas, possibilitou-nos tomar conhecimento das bases
científicas que norteiam a linha de PEA do PPGE. Esta percepção teórico/
prática é fundamental para guiar os trabalhos que nós, pesquisadores da
Educação, estamos desenvolvendo, em especial, a apreensão holística de
como ocorre a pesquisa no âmbito do ensino-aprendizagem.
Entendemos que a nossa contribuição, guiada por um estudo
bibliográfico de caráter analítico, é importante para ilustrar o caráter
identitário atribuído à linha de PEA do PPGE. O contato com as cinco
dissertações proporcionou um aprofundamento metodológico em
muitas das inquietações que permeiam a pesquisa em Educação no
Brasil. Desta forma, somos instigados a enxergar nos nossos estudos,
isto é, na nossa posição de pesquisador do campo, os vários aspectos
que constituem o ato educativo. Atentamos para a necessidade constante
de analisar o trabalho que cerca o nosso campo de atuação, buscando

156
A Prática da Pesquisa em Educação: Considerações Sobre Cinco Dissertações (2013-2017) da Linha de
Processos de Ensino-Aprendizagem do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPB

alternativas para ultrapassar as inúmeras barreiras que dificultam


a pesquisa científica, por meio de intervenções educativas seja na
educação formal ou não-formal.
Em relação aos fatores analisados, ao dar início ao mapeamento,
foi logo observado que toda a produção acadêmica analisada é de
caráter qualitativo. As pesquisas de cunho qualitativo são as bases para
a pesquisa científica realizada no âmbito da linha de PEA, já que são
capazes de responder como funciona um processo específico, situá-lo
histórico e temporalmente sob a perspectiva de singularidade, o que torna
coerente a escolha desta abordagem. Assim, os aspectos relacionados
ao campo técnico-instrumental da produção acadêmica analisada
fundamentaram-se a essa proposta qualitativa, e, embora identifiquemos
a presença de ferramentas quantitativas utilizadas, o enfoque analítico
dos dados quantitativos foi aplicado como representações numéricas e
elementos de caracterização dos aspectos qualitativos.
As bases teóricas analisadas posicionam o processo de ensino-
aprendizagem a partir da constituição de um sujeito inserido em
contextos socioeducativos baseados na relação do homem com o meio
em que vive. Desta maneira, o papel de quem ensina e o de quem
aprende são compreendidos como um aspecto interligado, e que, ainda
que tenham suas próprias construções teóricas individuais, caminham
para o mesmo objetivo: a construção de um campo educativo em que o
saber é conquistado no interior das relações democráticas entre mestre
e aprendiz.
Os fatores epistemológico, gnosiológico e ontológico estão in-
seridos nas vertentes histórica e sociocultural, nas quais se levam em
conta o tempo em que ocorreu o fenômeno analisado, o espaço, suas re-
lações sociais, políticas, percepções dos pesquisados, entre outros tipos
157
Flávia Mayara Félix Dantas - Iranir Pontes Silva - João Djane Assunção da Silva - Maria Liliane Santos da
Silva - Rosilda Santos do Nascimento

de singularidades situacionais não genéricas. Além disso, todas as dis-


sertações consideraram o ser humano de forma fluida e singularmente.
À vista disso, a reflexão acerca das produções analisadas conduz-
nos à relevância da formação epistemológica dos pesquisadores,
consequentemente, na organização concatenada de métodos, técnicas
e epistemologias. Nesse viés, Gamboa (2003) ressalta que, na condução
do processo da pesquisa, deve estar compreensível a concepção
epistemológica na qual o pesquisador está pautado.
Logo, ao voltarmos nosso olhar para as pesquisas referidas, são
nítidas as perspectivas políticas, filosóficas e ideológicas trazidas por
esses pesquisadores, ao ratificarem seu compromisso com o meio social
no qual estão inseridos, no sentido de acrescentarem com seus estudos
conhecimentos, visibilidade, e por que não dizer transformar realidades.
A pesquisa científica, e seus construtos teórico/metodológicos,
não só inerente à linha de PEA, mas a todas as outras pertencentes
ao PPGE, deve ser constantemente analisada para que fique lúcida a
caracterização identitária de cada âmbito de estudo. Por fim, ressaltamos
que ser pesquisador no campo da Educação é, antes de mais nada,
estar responsável pela sistematização do conhecimento, pela sucessiva
procura do entendimento do ser humano enquanto sujeito histórico,
cultural e social, que está em constante transformação.

REFERÊNCIAS

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FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza:


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Geométrico (PNAIC): por uma analítica existencial do movimento,
2015. 108 f. Dissertação (Mestrado em Educação) -Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa, 2015b.

160
ESTUDOS CULTURAIS DA EDUCAÇÃO

Fundamentos dos estudos culturais da educação e suas


interfaces nos processos culturais e comunicacionais. Espaço público e
democracia; gestão do conhecimento e acesso universal à informação;
diversidade e diferença cultural; construções de gênero e sexualidade,
raça/etnia e idade/geração. Culturas populares. Produção de saberes e
práticas educativas mediadas por artefatos simbólicos e tecnológicos.
Comunicação e cognição. Implicações implicativas das mídias. Cultura
digital. Produção de saberes e práticas educativas mediadas pela
competência inter-relacional de educadoras/es em contextos de crise,
conflito e mudança.
Fonte: site do PPGE <http://www.ce.ufpb.br/ppge/contents/menu/linhas-de-
pesquisa>.
LÓGICA INTERNA DA PESQUISA QUALITATIVA:
UM MAPEAMENTO DE DISSERTAÇÕES PRODUZIDAS
PELA LINHA DE ESTUDOS CULTURAIS DA EDUCAÇÃO
DO PPGE/UFPB

Bruna Kedman Nascimento de Souza Leão


Lívia Maria Montenegro Lins
Walquiria Nascimento da Silva

INTRODUÇÃO

D urante muito tempo, fazer ciência significou representar


quantitativamente a realidade pesquisada. No seio das Ciências Moder-
nas, os critérios de validação das pesquisas científicas foram elaborados
e norteados por um paradigma dominante que permeou, com mais evi-
dência, o século XIX, conhecido como o século da nova racionalidade
científica totalitária (SANTOS, 2010). Esse paradigma dominante en-
trou em crise por desconsiderar a mutabilidade e complexidade do real:
seria possível quantificar todo e qualquer fenômeno que se pretende
investigar? Se as questões das ciências são feitas pelo homem a partir
de suas demandas, por que não considerar os aspectos da subjetividade
humana e suas contingências no desenvolvimento das ciências?

163
Bruna Kedman Nascimento De Souza Leão - Lívia Maria Montenegro Lins
Walquiria Nascimento Da Silva

Assim, instalou-se a crise paradigmática, possibilitando o


caminho de convergência entre as ciências naturais e sociais. Isso
modificou (está modificando) a relação sujeito-objeto nas pesquisas,
assim como a consideração e a relevância do que é ou não é quantificável.
Estamos em meio a essa transição, ou seja, o novo paradigma que
emerge ainda levará tempo para ser totalmente consolidado. O processo
de rompimento e (re)construção está em um constante ir e vir.
Desse modo, a qualidade das pesquisas de cunho qualitativo é
um fator que corrobora a construção do paradigma emergente, pelo fato
de significar aspectos antes desconsiderados. Nesse tocante, a formação
do pesquisador é crucial para o desenvolvimento de uma pesquisa
cientificamente válida, compromissada com a geração de conhecimento
e saberes. A escolha de métodos e procedimentos coerentes com os
objetivos da pesquisa está diretamente relacionada aos pressupostos
epistemológicos que o pesquisador pretende utilizar para fazer a leitura
e análise de seu objeto de estudo. Então, a organização da pesquisa
científica requer do pesquisador posicionamento, sobretudo, político
(DEMO, 2011).
Gamboa (2012) afirma que a pesquisa possui uma lógica interna
que reflete as articulações feitas pelo investigador no processo de
produção do conhecimento. Segundo o autor, os conteúdos filosóficos,
lógicos, epistemológicos, teóricos, metodológicos e técnicos da pesquisa
precisam estar dispostos de forma integrada em níveis de amplitude, em
que alguns fatores são mais implícitos, outros, mais explícitos. A definição
clara desses aspectos e a coerência entre eles facilitam a percepção das
abordagens que influenciam ou influenciaram determinada área do
conhecimento, em determinado contexto.

164
Lógica Interna da Pesquisa Qualitativa: Um Mapeamento de Dissertações Produzidas Pela Linha de
Estudos Culturais da Educação do PPGE/UFPB

Os níveis de amplitude que integram a pesquisa são, segundo o


que o referido autor apresenta: o técnico-instrumental, que diz respeito
aos instrumentos utilizados para geração de dados; o metodológico,
que diz respeito ao percurso e aos procedimentos selecionados pelo
pesquisador; o teórico, nível relacionado às teorias que subsidiarão
a leitura do fenômeno estudado, assim como às aproximações com o
objeto de estudo; o epistemológico, refere-se à concepção de ciência
adotada no estudo; o gnosiológico, que correspondem ao envolvimento e
conhecimento do objeto por parte do pesquisador, relação pesquisador-
objeto; e o ontológico, o qual, por sua vez, representa a concepção de
homem que o pesquisador possui (GAMBOA, 2012).
A clareza da abordagem epistemológica, por exemplo, facilita
a definição dos pressupostos teóricos, métodos e instrumentos mais
adequados para o alcance dos objetivos da pesquisa. A partir da
visualização desses aspectos, é possível verificar o comprometimento
político e a subjetividade do pesquisador, que parte de uma demanda
social, histórica e cultural, evidenciando em sua produção sua visão
de mundo e de homem. A percepção da lógica interna que estrutura
uma pesquisa em educação também permite-nos conhecer a concepção
de educação do(a) pesquisador(a). Essa concepção não é isolada,
mas interdepende de outros fatores que influenciam na formação
investigativa e é extremamente importante para o desenvolvimento de
um estudo científico.
Considerando a importância da clareza desses aspectos, o
presente artigo objetiva analisar a lógica interna da pesquisa em Estudos
Culturais da Educação, a partir de três dissertações produzidas na linha
de pesquisa em Estudos Culturais da Educação do Programa de Pós-
Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal da Paraíba,
165
Bruna Kedman Nascimento De Souza Leão - Lívia Maria Montenegro Lins
Walquiria Nascimento Da Silva

Campus I. Selecionou-se pesquisas dos anos de 2014, 2016 e 2017,


sendo duas relacionadas à temática geral Estudos Surdos/Inclusão e
uma acerca das Relações de Poder no ambiente escolar.
As dissertações selecionadas foram: Acessibilidade, barreiras e
superação: estudo de caso de experiência de estudantes com deficiência
na educação superior (2014); Regras Escolares: estudo de caso sobre
as relações de poder no cotidiano escolar (2016); e Pedagogia surda: o
papel de professoras surdas na construção de identidades de alunas
surdas e alunos surdos (2017). Essas pesquisas foram coletadas no site
do PPGE, no qual pode ser encontrada a produção acadêmica final
discente de cada linha de pesquisa. Selecionaram-se dissertações da
linha de Estudos Culturais da Educação (ECE), cujas temáticas são do
interesse das autoras deste capítulo, que investigam as relações de poder
e a educação de surdos, a fim de possibilitando uma visão dos estudos
que vêm sendo desenvolvidos acerca de cada tema, além de perceber as
principais tendências teóricas e epistemológicas que os cerceiam.
A seguir, será apresentado o modo como o presente estudo foi
metodologicamente conduzido, assim como uma breve apresentação
dos aspectos analisados em cada dissertação em forma de tabela.
Por fim, discorreu-se sobre os resultados e considerações acerca das
contribuições desse exercício de mapeamento de lógica interna da
pesquisa qualitativa, para formação do(a) pesquisador(a) e para a linha
de pesquisa de Estudos Culturais da Educação do Programa de Pós-
Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB).

166
Lógica Interna da Pesquisa Qualitativa: Um Mapeamento de Dissertações Produzidas Pela Linha de
Estudos Culturais da Educação do PPGE/UFPB

PERCURSO METODOLÓGICO

A escolha de um método coerente que ajude a responder


aos objetivos almejados em uma investigação é uma das principais
preocupações dos(as) pesquisadores(as). Para aqueles que se propõem a
fazer pesquisa em Estudos Culturais, a escolha metodológica constitui-
se em uma etapa bastante desafiante, por se tratar de um campo que
se desenvolve por meio da transdisciplinaridade, da desconstrução do
que está posto e valorização da contextualidade, a temporalidade e a
particularidade do grupo investigado, sempre promovendo articulações
entre o particular e o geral, o singular e o plural. Tudo isso para se
pensar sobre a cultura e sua produção, sob a ótica do poder (COSTA;
WORTMAN, 2016).
Diante do compromisso ético e político com o contexto, na busca
de fazer uma leitura crítica e oferecer pistas ou propor novos modos
de ver e agir, o percurso metodológico das pesquisas desse campo são
sempre diversificadas e flexíveis, sem que se perca o rigor científico
necessário a toda pesquisa. Assim, antes de descrever as etapas desta
investigação, recorremos a uma citação de Meyer e Paraíso (2014, p. 17),
para que possamos refletir sobre o percurso metodológico enquanto
uma ação pedagógica:

Uma metodologia de pesquisa é sempre pedagógica


porque se refere a um como fazer, como fazemos ou
como faço minha pesquisa. Trata-se de caminhos
a percorrer, de percursos a trilhar, de trajetos a
realizar, de formas que sempre têm por base um
conteúdo, uma perspectiva ou uma teoria. Pode se
referir a formas mais ou menos rígidas de proceder
ao realizar uma pesquisa, mas sempre se refere

167
Bruna Kedman Nascimento De Souza Leão - Lívia Maria Montenegro Lins
Walquiria Nascimento Da Silva

a um como fazer. Uma metodologia de pesquisa


é pedagógica, portanto, porque se trata de uma
condução: como conduzo ou conduzimos nossa
pesquisa.

Para alcançar o objetivo pretendido neste estudo, realizamos uma


pesquisa documental de caráter qualitativo, no qual nos orientamos da
seguinte forma: inicialmente, buscamos a literatura acerca da coesão da
pesquisa qualitativa; nesse processo, elencamos a perspectiva de Gamboa
(2012), que aponta os aspectos internos de uma pesquisa científica.
Depois, partimos para a parte empírica: buscar por dissertações da linha
de Estudos Culturais da Educação. Essa busca foi feita por meio do site
do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da UFPB, mais
especificamente, na área de arquivos na qual constam as dissertações e
teses defendidas pelos(as) estudantes do programa.
O critério utilizado para selecionar as dissertações relacionou-se
ao tema e à época de realização das pesquisas. As temáticas precisavam
estar relacionadas aos Estudos Surdos/Inclusão e às Relações de
Poder, na perspectiva de Norbert Elias, ambos os temas sendo de
interesse de pesquisa das autoras deste capítulo. Em relação à época,
optamos por pesquisas realizadas nos últimos quatro anos, a fim de
identificar pesquisas recentes, haja vista que a temporalidade é uma das
características mais importantes nos estudos culturais, por se considerar
a mutabilidade dos processos, a realidade como um sistema vivo; nesse
sentido, o que fora descrito, analisado e sugerido em uma época pode
tornar-se obsoleto para outra.
Mediante esses critérios, selecionamos as seguintes dissertações:
Acessibilidade, barreiras e superação: estudo de caso de experiência de
estudantes com deficiência na educação superior, de Jackeline Susann
168
Lógica Interna da Pesquisa Qualitativa: Um Mapeamento de Dissertações Produzidas Pela Linha de
Estudos Culturais da Educação do PPGE/UFPB

Souza da Silva (2014); Regras Escolares: estudo de caso sobre as relações


de poder no cotidiano escolar, de Rejanira Alves Gertudres (2016);
e Pedagogia surda: o papel de professoras surdas na construção de
identidades de alunas surdas e alunos surdos, de Lucas Romário da Silva
(2017). Após a leitura das pesquisas, mapeou-se os níveis de amplitude
propostos por Gamboa (2012) em cada uma e, posteriormente,
comparamos e analisamos os dados produzidos no mapeamento dos
três trabalhos.
A análise consistiu-se na busca por regularidades que possibi-
litassem enxergar, minimamente, uma coesão (aproximações e distan-
ciamentos) dos trabalhos produzidos na linha em relação àquelas temá-
ticas. A seguir, apresentamos os resultados da exploração, assim como
uma breve discussão acerca dos níveis de amplitude que constituem as
dissertações investigadas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

As três dissertações analisadas propuseram-se a investigar em


ambientes escolares, sendo duas delas com foco na questão da inclusão
e escolarização das pessoas com deficiência e as pessoas surdas; e uma,
nas relações de poder que circundam as regras escolares. A seguir,
organizou-se um quadro que aponta os níveis de amplitude mapeados
em cada pesquisa, possibilitando a visualização dos aspectos técnicos-
instrumentais, metodológicos, teóricos, epistemológicos, gnosiológicos
e ontológicos.

169
Bruna Kedman Nascimento De Souza Leão - Lívia Maria Montenegro Lins
Walquiria Nascimento Da Silva

Quadro 1: Aspectos Técnico-Instrumental e Metodológicow

DISSERTAÇÕES TÉCNICO- INSTRUMENTAL METODOLÓGICO


Regras escolares: Procedimento técnico: estudo Objeto de estudo: as rela-
estudo de caso de caso, desenvolvido na Escola ções de poder nas regras
sobre as relações de Estadual de Ensino Fundamen- de uma escola.
poder no cotidiano tal e Médio Francisca Marti- Período da pesquisa: 2014
escolar (2016) niano da Rocha, popularmente a 2015.
chamada de “Chica”, localizada Metodologia: Abordagem
no município de Lagoa Seca, qualitativa, na modalidade
cidade interiorana do estado da etnográfica, uma vez que
Paraíba. se vale das observações
A coleta de dados: foi realizada atentas e detalhadas do
por meio de três instrumentos: contexto, levando em con-
observação, questionário e pes- sideração a interação/ex-
quisa de arquivo interno. periência da pesquisadora
Tratamento dos dados: Trian- com o lugar e as pessoas
gulação, justificando que esse estudadas.
tipo de análise permite aces-
sar o dinamismo próprio do
cotidiano escolar, ao passo que
supera a perspectiva limitada
de um único método.
Acessibilidade, Procedimento técnico: estudo Objeto de estudo: aces-
barreiras e supe- de caso, desenvolvido na Uni- sibilidade dos estudantes
ração: estudo de versidade Federal da Paraíba. com deficiência no âmbito
caso de experiên- A coleta de dados: entrevis- da universidade.
cia de estudantes ta semiestruturada; roteiro Período da pesquisa: 2012
com deficiência na semiestruturado; diário de a 2014.
educação superior pesquisa. Metodologia: Pesquisa
(2014) Tratamento dos dados: a partir qualitativa a partir da
da triangulação, foi possível metodologia de Estudo de
coletar distintas fontes de dados Caso. Utilizou a técnica
e informações. shadowing, acompanhan-
do os sujeitos como se
fosse uma “sombra”, com-
partilhando as atividades
do dia a dia. A autora
também coletou falas de
pessoas que fizeram parte
da cena de investigação,
que tiveram certa ligação
com os estudantes com
deficiência, os colegas,
parentes e professores.

170
Lógica Interna da Pesquisa Qualitativa: Um Mapeamento de Dissertações Produzidas Pela Linha de
Estudos Culturais da Educação do PPGE/UFPB

Pedagogia surda: o Procedimento técnico: estudo Objeto de estudo: o autor


papel de professoras de caso desenvolvido nas salas de trata das relações pedagógi-
surdas na constru- Atendimento Educacional Espe- co-culturais durante o Aten-
ção de identidades cializado (AEE) em algumas es- dimento Educacional Espe-
de alunas surdas colas municipais de João Pessoa. cializado (AEE) entre três
e alunos surdos professoras Surdas com alu-
(2017) nas Surdas e alunos Surdos,
em escolas comuns de João
A coleta de dados: o autor uti- Pessoa-PB.
lizou como técnicas de coleta de
dados a observação não partici-
pante das práticas pedagógicas
(durante 3 meses), pois estas que Período da pesquisa: 2015
iriam servir de sustentáculo para a 2016
a análise dos discursos proferidos
nas entrevistas, e também utilizou
a entrevista semiestruturada em
Libras às professoras surdas, com Metodologia: A pesquisa
gravação em vídeo (possibilitan- foi embasada de acordo com
do uma aproximação das subjeti- uma abordagem qualitativa,
vidades dos sujeitos pelos quais a percorrendo as seguintes
pesquisa se interessa). etapas: (1) providências em
relação às questões éticas; (2)
Tratamento dos dados: Como fase exploratória da pesqui-
técnica de análise de dados, utili- sa; (3) obtenção dos dados
zaram-se a ordenação dos dados, empíricos; (4) transcrições/
categorização e a análise, articu- traduções dos dados; (5) or-
lando os dados empíricos com os denação; e (6) análises.
referenciais teóricos dos Estudos
Culturais e dos Estudos Surdos.

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2018.

Quadro 2: Aspectos teóricos e epistemológicos

DISSERTAÇÕES TEÓRICOS EPISTEMOLÓGICOS


Regras escolares: Utiliza um teórico que desenvolveu O trabalho tem como
estudo de caso uma teoria que contempla o estudo base epistemológica a Te-
sobre as relações das relações de poder, o sociólogo oria dos Processos dwwe
de poder no Norbert Elias. Os demais teóricos Norbert Elias; além dis-
cotidiano escolar utilizados dialogam com a linha de so, a autora enfatiza que
(2016) pensamento do teórico principal. o estudo faz parte de um
campo mais abrangente,
dos Estudos Culturais, o
que a ajuda a justificar a
escolha por essa corrente
teórica.

171
Bruna Kedman Nascimento De Souza Leão - Lívia Maria Montenegro Lins
Walquiria Nascimento Da Silva

Acessibilidade, Partindo da perspectiva dos Na pesquisa, as discus-


barreiras e supe- Estudos Culturais e da teorização sões sobre acessibilida-
ração: estudo de pós-estruturalista, e abordando de do estudante com
caso de experiên- as relações de poder, identidade, deficiência são pautadas
cia de estudantes diferença, cultura, certos teóricos nas teorias do pós-estru-
com deficiência foram fundamentais para elucidar turalismo e nos estudos
na educação a relação com o processo de acessi- culturais da educação.
superior (2014) bilidade da pessoa com deficiência, Abordam-se questiona-
sendo eles: Foucault, Hall, Costa, mentos envolvendo o
Woodward, Escosteguy, Louro. meio social com relação
à forma de dominação,
resultando na exclusão
dos estudantes com defi-
ciência. Tem como base
epistemológica o estudo
a respeito do sujeito em
diferentes contextos, a
maneira como os estu-
dantes com deficiência
encontram-se estrutura-
dos no meio social.
Pedagogia surda: O autor considera, a partir das O autor toma como base
o papel de pro- ideias de Costa, Silveira e Sommer epistemológica as ideias
fessoras surdas (2003), os Estudos Culturais como da Pedagogia da Dife-
na construção um tumulto teórico por não ser rença, que permite às
de identidades um conjunto articulado de ideias pessoas assumirem suas
de alunas surdas e pensamentos. Mas sinaliza um diferenças, sutis ou mar-
e alunos surdos ponto de partida que dá base às cadas, dando ao Outro o
(2017) suas investigações: a desnaturaliza- direito de ser ele mesmo
ção de normas oriundas do poder no ato de educar e de ser
instituído. educado.

Fonte: Elaborado pelas autoras, 2018.

172
Lógica Interna da Pesquisa Qualitativa: Um Mapeamento de Dissertações Produzidas Pela Linha de
Estudos Culturais da Educação do PPGE/UFPB

Quadro 3: Aspectos Gnosiológicos E Ontológicos

DISSERTAÇÕES GNOSIOLÓGICOS ONTOLÓGICOS


Regras escolares: A pesquisadora foi estudante e A concepção de homem
estudo de caso so- estagiária do campo de estudo, da pesquisadora está re-
bre as relações de logo, também participou, nou- lacionada à interdepen-
poder no cotidia- tros papéis, da história daquela dência dos sujeitos entre
no escolar (2016) instituição e, desta, surgiu sua si e o contexto em que
inquietação em relação ao objeto: se inserem; percebe-se a
as relações de poder implícitas nas valorização da identidade
regras de conduta da escola lócus e o entendimento do di-
de sua pesquisa. Sendo assim, a namismo desta, ou seja,
autora revela em vários momen- constrói-se o tempo todo
tos do texto a preocupação de nas relações que o sujeito
distanciar-se do objeto, haja vista estabelece com outrem
que sua aproximação, experiência e com o ambiente social.
íntima como aluna e estagiária, Esta percepção, como
poderia “contaminar”, influenciar os demais aspectos, está
de forma pretensiosa os rumos da fortemente relacionada
pesquisa a ser desenvolvida. à teoria que embasa o
estudo.
Acessibilidade, O envolvimento da pesquisadora A concepção de homem
barreiras e supe- com a temática foi a partir de da pesquisadora está
ração: estudo de suas experiências anteriores em relacionada aos sujeitos
caso de experiên- projetos de pesquisas, trabalho que apresentam cltura e
cia de estudantes de TCC realizado na graduação, identidade decorrentes
com deficiência na participação de grupos envol- de suas diferenças, valo-
educação superior vidos com as discussões sobre rizando a capacidade, e
(2014) a pessoa com deficiência. A não a falta, o limite ou a
pesquisa foi realizada, portanto, incapacidade.
por meio de um olhar não apenas
como pesquisadora, mas como
militante.

173
Bruna Kedman Nascimento De Souza Leão - Lívia Maria Montenegro Lins
Walquiria Nascimento Da Silva

Pedagogia surda: De acordo com o pesquisador, o A visão de homem que o


o papel de pro- que o instigou a desenvolver uma pesquisador possui está
fessoras surdas pesquisa com essa temática foi a ligada ao processo de
na construção sua experiência enquanto assis- construção de identida-
de identidades tente social e intérprete de Libras, des, pois compreende
de alunas surdas quando então exercia práticas as pessoas surdas como
e alunos surdos equivocadas e incoerentes para a sujeitos que devem ser
(2017) função de intérprete. A partir daí, autônomos e ocupar uma
buscou se aprofundar na educação posição ativa na socieda-
de surdos, passando a cursar Pe- de, onde a sua diferença
dagogia e, no decorrer da gradua- Surda é um fator mar-
ção, surgiu um interesse acadêmi- cante naquilo que elas
co-pessoal em compreender como consideram ser pessoa.
ocorre a construção de identida-
des Surdas em alunas Surdas e
alunos Surdos, especialmente em
crianças, mediadas por professo-
ras Surdas e/ou professores Surdos
no processo pedagógico. Chegou a
participar de projetos de pesqui-
sa voltados para essa temática e
enxergou na leitura do livro As
Imagens do Outro Sobre a Cultura
Surda, da autora Surda, Karin
Strobel, um despertar para as suas
inquietações por esse objeto de
estudo.
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2018.

Uma das principais características das pesquisas em Estudos


Culturais é a consideração da contextualidade, e esse aspecto foi
enfatizado nas três dissertações analisadas, em que desenvolveram-se
estudos de caso e etnográficos. Sobre isso, Weller e Pfaff (2010) afirmam
ser a etnografia umas das tendências das pesquisas qualitativas, visto que
as primeiras investigações dessa abordagem desdobraram-se por meio
de observações etnográficas. Ambas as modalidades de pesquisa, estudo
de caso e etnografia, permitem aos(às) pesquisadores(as) aprofundarem
o conhecimento de conceitos teóricos em relação a grupos específicos
e admitirem, conforme apresentado por Hall (2003), que investigar
sob a ótica da cultura é considerar o contexto como um campo de
deslocamento.
174
Lógica Interna da Pesquisa Qualitativa: Um Mapeamento de Dissertações Produzidas Pela Linha de
Estudos Culturais da Educação do PPGE/UFPB

Em relação ao nível instrumental, dos mais utilizados para


a coleta de dados, prevaleceram a observação (participante e não
participante), questionário e entrevista semi-estruturada. Apenas um
dos trabalhos norteou-se pela técnica Shadowing, por meio da qual o
pesquisador acompanha o(s) sujeito(s) da pesquisa como uma “sombra”.
A gravação em vídeo também foi uma das estratégias utilizadas. Para
tratar os dados, utilizou-se em dois dos trabalhos a Triangulação, que,
segundo os autores, permite acessar o dinamismo próprio do cotidiano
escolar, ao passo que supera a perspectiva limitada de um único método.
Em duas das dissertações analisadas, os autores apontaram
o tempo em que permaneceram no campo coletando dados para
realização das respectivas análises. O tempo foi de um ano em ambas.
Em todas, é demonstrado o percurso metodológico, o passo a passo
de cada pesquisador, assim como suas expectativas, dificuldades e
reformulações do percurso.
Em relação ao nível teórico, foi possível perceber que os
pesquisadores fundamentaram suas análises a partir de teorias coerentes
com os objetos de pesquisa e, principalmente, aos objetivos almejados.
Percebeu-se também que a escolha teórica está diretamente associada
às categorias de análise elencadas como fulcrais em cada investigação.
Considerando certas variáveis, pode-se caracterizar as pesquisas
de acordo com suas particularidades, sendo assim, na dissertação
“Regras escolares: estudo de caso sobre as relações de poder no cotidiano
escolar”, foi identificado um teórico principal, Norbert Elias, cujos
estudos, embora não tenham sido no campo específico da educação,
foram pertinentes para se alcançar o objetivo da autora sob a ótica
da teoria dos jogos de poder. Em outra dissertação, “Acessibilidade,
barreiras e superação: estudo de caso de experiência de estudantes com
175
Bruna Kedman Nascimento De Souza Leão - Lívia Maria Montenegro Lins
Walquiria Nascimento Da Silva

deficiência na educação superior”, foram atribuídas referências, no


contexto da garantia igualitária dos direitos humanos do indivíduo na
história do seu grupo social, tais como: Farias (2011) e Santos (2011). Na
terceira dissertação, “Pedagogia surda: o papel de professoras surdas na
construção de identidades de alunas surdas e alunos surdos”, ao mesmo
tempo em que o pesquisador considera, a partir das ideias de Costa,
Silveira e Sommer (2003 apud ROMÁRIO, 2017), o campo dos Estudos
Culturais um tumulto teórico, por não ser um conjunto articulado de
ideias e pensamentos, identifica um ponto de partida que serve como
base às pesquisas dessa linha: a desnaturalização de normas provenientes
do poder instituído. Com isso, utiliza ideias de Foucault (1995), Hall
(2011) e Silva (2014), além de autores referentes aos Estudos Surdos,
como Dorziat (2008), Perlim (2000), entre outros.
Com relação ao nível gnosiológico, constatou-se que o vínculo
entre os pesquisadores e os objetos estudados existia desde antes do início
das pesquisas. Nesse caso, pode-se dizer que o(a) pesquisador(a) possui
não só o caráter ativo no processo de conhecimento, mas, especialmente,
o fato de ter participação direta no processo de significação do objeto
estudado. Assim, verificou-se que o aspecto gnosiológico relaciona-se
com várias dimensões concernentes ao ato de pesquisar, dentre elas as
dimensões política e afetiva.
Esse contato prévio pode possibilitar aos(às) pesquisadores(as)
mais facilidade para conceituar e se relacionar com o objeto de pesquisa,
precisando até, como consta na primeira dissertação analisada,
distanciar-se para perceber o que antes não se percebia. Assim, essa
facilidade deve ser questionada, demandando do pesquisador um certo
afastamento do objeto para não influenciar os rumos da pesquisa, no

176
Lógica Interna da Pesquisa Qualitativa: Um Mapeamento de Dissertações Produzidas Pela Linha de
Estudos Culturais da Educação do PPGE/UFPB

sentido de direcioná-la por interesses que dificultam ou impedem a


construção de novos conhecimentos.
No tocante aos pressupostos ontológicos, pôde-se perceber que
os pesquisadores capturam e traduzem as determinações mais essenciais
dos sujeitos da pesquisa. Na primeira, sobre as regras escolares, fica clara
a concepção de homem interdependente, cuja identidade se constrói à
medida que o sujeito se relaciona com outros sujeitos e se insere em
diferentes lugares. Na segunda dissertação analisada, tem-se uma visão
de realidade tomada por fatores históricos, sociais e culturais, de modo
que a realidade excludente existe, porém é um fator que consolida a
militância da pesquisadora para atuar na perspectiva de mudança desse
paradigma. Já na terceira dissertação, o paradigma excludente também
existe, mas o pesquisador fundamenta a sua visão de homem em um
sujeito surdo autônomo, livre das amarras que o processo histórico
atrelou à sua identidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Identificar e analisar os níveis de amplitude propostos


por Gamboa (2012) mostraram-se como um exercício analítico-
metodológico que contribui de forma direta para a formação do(a)
pesquisador(a) iniciante, pois permite vislumbrar a organização
de uma pesquisa com clareza, favorecendo a produção de novos
estudos qualitativos mais bem fundamentados e coerentes com
o tipo de investigação desenvolvida, possibilitando uma visão
crítica acerca dos conhecimentos construídos no decorrer do
processo. A partir dessa compreensão, foi possível retornarmos
aos nossos projetos de pesquisa e buscarmos aplicar esses níveis

177
Bruna Kedman Nascimento De Souza Leão - Lívia Maria Montenegro Lins
Walquiria Nascimento Da Silva

de amplitude, viabilizando a sistematização de uma lógica


própria e articulando elementos no decorrer da produção textual,
tornando-os conexos.
Esse exercício também implicou um aspecto bastante importante
na produção de conhecimento, sobretudo no campo dos Estudos Culturais
da Educação: a valorização do contexto. Fazer parte de um programa
e, consequentemente, uma linha de pesquisa, implica conhecer suas
idiossincrasias, no que diz respeito às metodologias, correntes teóricas,
epistemologias, concepções de homem, de mundo e, principalmente, no
que diz respeito à educação, com as quais os indivíduos daquele grupo têm
operado. Isso não significa uniformizar e estabelecer um padrão, como
reclamam os Estudos Culturais em seu próprio paradigma emergente,
mas possibilitar um diálogo relacionado ao conteúdo e rigor científico
das investigações, possibilitando, consequentemente, o fortalecimento
da linha. Vale salientar: esse fortalecimento não é sinônimo de construir
fronteiras, mas permitir conhecer os fundamentos, princípios e modos
de operar no campo, reconhecendo suas singularidades e contribuições
para o fenômeno educativo.
Em suma, consideramos que, nos três trabalhos analisados, os
pesquisadores desenvolveram pesquisas coerentemente ancoradas à
linha de pesquisa, Estudos Culturais da Educação, o que nos possibilitou
vislumbrar, dentro dos aspectos analisados, sua caracterização e
especificidades próprias, no que tange à escolha de métodos, teorias,
concepções de mundo e de homem que embasam a construção de
conhecimento científico.

178
Lógica Interna da Pesquisa Qualitativa: Um Mapeamento de Dissertações Produzidas Pela Linha de
Estudos Culturais da Educação do PPGE/UFPB

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179
Bruna Kedman Nascimento De Souza Leão - Lívia Maria Montenegro Lins
Walquiria Nascimento Da Silva

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180
ANÁLISE DA LÓGICA DA PESQUISA EM EDUCAÇÃO
DE DISSERTAÇÕES DA LINHA DE PESQUISA DE
ESTUDOS CULTURAIS DA EDUCAÇÃO (2013-2017)

José Rodolfo do Nascimento Pereira


Josilene Rodrigues da Silva
Maria Thaís de Oliveira Batista
Rafaela Maria e Silva Ferreira

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

E ste trabalho tem por finalidade apresentar uma análise


dos aspectos técnico-instrumental, metodológico, teórico, epistemoló-
gico, gnosiológico e ontológico presentes em dissertações escritas no
período de 2013 a 2017 na linha de pesquisa Estudos Culturais da Edu-
cação do Programa de Pós-Graduação em Educação/UFPB. Buscou-se
compreender como os pesquisadores das dissertações selecionadas den-
tro dessa linha produziram suas pesquisas e se estas estão condizentes
com o campo de estudo no qual estão inseridas.
As dissertações analisadas foram: Discursos docentes sobre
crianças cujos pais/mães vivem em condição de conjugalidade
homoafetiva, de Anna Luzia de Oliveira (2016); Aprendendo a ser
mulher? Construção de identidade de gênero: Memórias da relação

181
José Rodolfo Do Nascimento Pereira - Josilene Rodrigues da Silva
Maria Thaís de Oliveira Batista - Rafaela Maria e Silva Ferreira

de mulheres com suas bonecas, de Isis Aluska dos Santos Silva (2016);
Gênero e perspectivas de escolha de cursos superiores: análise a partir
de uma escola de ensino médio integrado a cursos técnicos na área da
computação, de Daiane Lins da Silva Firino (2017); e Gênero e Educação
Superior: perspectivas de alunas de Física”, de Valquíria Gila de Amorim
(2017).
Tais dissertações têm como base as discussões de gênero, entre
outros temas próprios do campo de pesquisa dos Estudos Culturais da
Educação.
A relevância desse mapeamento permite a percepção da maneira
como estes trabalhos foram conduzidos, vislumbrando aproximações e
distanciamentos, contribuindo para a própria linha de pesquisa perceber
sua própria produção de conhecimento científico, assim como permite
aos alunos e às alunas da linha, como também aos que pretendem nela
ingressar, possibilidades de direcionamentos na construção de seus
próprios trabalhos.

METODOLOGIA

A pesquisa ancora-se na abordagem qualitativa, uma vez que


a análise das dissertações mencionadas não fez uso da linguagem
estatística ou numérica. Buscou-se interpretar os dados produzidos por
meio da construção de significados, valores, motivações, usando como
subsídio a teoria própria do campo dos Estudos Culturais da Educação.
Minayo (2001) revela que “a pesquisa qualitativa trabalha com
o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e
atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações,

182
Análise da Lógica da Pesquisa Em Educação de Dissertações da Linha de
Pesquisa de Estudos Culturais da Educação (2013-2017)

dos processos e dos fenômenos” sendo assim, os processos e fenômenos


não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.
Nesse mesmo sentido, a pesquisa qualitativa, segundo Richardson
(2012), caracteriza-se como tentativa de compreender significados e
características situacionais de forma mais pormenorizada. Sendo assim,
fez-se o levantamento das dissertações, dentro do recorte temporal
indicado, no banco de dados do repositório de teses e dissertações da
Universidade Federal da Paraíba.
Diante disso, deram-se as análises de cada dissertação,
procurando evidenciar os aspectos: técnico-instrumental, metodológico,
teórico, epistemológico, gnosiológico e ontológico, orientados por
Gamboa (2012). Em seguida, apresentamos um quadro demonstrativo
e comparativo dos resultados encontrados para, por fim, indicar os
resultados advindos das análises.
A pesquisa fez uso de elementos do método comparativo,
tentando confrontar os dados analisados para, assim, indicar possíveis
aproximações e distanciamentos encontrados. De acordo com Lakatos e
Marconi (2003, p. 107), entendem que o “método comparativo permite
analisar o dado concreto, deduzindo do mesmo os elementos constantes,
abstratos e gerais”.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A pesquisa é uma das principais atividades que sustentam o


mundo acadêmico. Segundo o sítio eletrônico Significados (2018), a
etimologia da palavra “pesquisa” deriva do termo em latim perquirere, que
significa “procurar com perseverança”. Compreende-se pesquisa como
um substantivo essencial quando se pretende construir conhecimento,

183
José Rodolfo Do Nascimento Pereira - Josilene Rodrigues da Silva
Maria Thaís de Oliveira Batista - Rafaela Maria e Silva Ferreira

pois há nela a equação entre observação e reflexão. “O pesquisador


age como sujeito colaborador direto no processo de construção do
conhecimento de forma a intervir no seu mundo e construí-lo da forma
mais adequada a sua vivência” (PEREIRA, 2018, p. 214).
Gamboa (2012), por sua vez, revela profunda preocupação com
a superação da prescrição dos manuais de investigação e pesquisa,
buscando novas formas de compreendê-la. Defende que as questões
do rigor metodológico, teórico e epistemológico têm como objetivo
melhorar a formação do/a pesquisador/a. Sendo assim, o autor resgata
a importância da recuperação da lógica interna da pesquisa, já que esta
se estrutura em uma produção de conhecimento que é formada por
conteúdos filosóficos, lógicos, epistemológicos, teóricos, metodológicos
e técnicos.
Diante disso, Gamboa (2012), reconciliando os elementos
rígidos da pesquisa com suas origens filosóficas, discrimina os seguintes
níveis de amplitude de uma pesquisa, conforme já mencionado: a)
técnico-instrumental; b) metodológico; c) teórico; d) epistemológico; e)
gnosiológico; e f) ontológico. O autor nos informa, quanto ao primeiro
aspecto, refere-se aos passos da coleta dos dados; já o metodológico
se refere aos procedimentos e maneiras de tratamento do objeto
estudado; já o teórico diz respeito aos conceitos, fenômenos educativos,
posicionamentos críticos, teorias, entre outros aspectos; no tocante ao
epistemológico condiz à cientificidade da pesquisa, à concepção de
ciência do/a pesquisador/a e/ou os requisitos necessários para provar ou
não a validade de determinado fenômeno; o gnosiológico se relaciona
à concepção do/a pesquisador/a sobre o real, sua compreensão do
abstrato e concreto no processo de investigação científica; e, finalmente,
os fatores ontológicos são, basicamente, a concepção de homem e de
184
Análise da Lógica da Pesquisa Em Educação de Dissertações da Linha de
Pesquisa de Estudos Culturais da Educação (2013-2017)

sociedade que o/a investigador/a tem seu entendimento e compreensão


de educação, de mundo, de história, bem como da realidade na qual seu
objeto de pesquisa está inserido (GAMBOA, 2012). Esses níveis, ao se
articularem, produzem uma lógica de pensamento harmônica.
Partindo dessa concepção, deram-se as presentes análises
de quatro dissertações na linha de pesquisa de Estudos Culturais da
Educação no Programa de Pós-Graduação em Educação/UFPB.

“DISCURSOS DOCENTES SOBRE CRIANÇAS


CUJOS PAIS/MÃES VIVEM EM CONDIÇÃO DE
CONJUGALIDADE HOMOAFETIVA”, DE ANNA
LUZIA DE OLIVEIRA (2016)

A dissertação de Oliveira (2016) representa uma pesquisa


qualitativa pós-crítica que teve por finalidade objetiva analisar os
discursos de professores/as, de escolas municipais da cidade de Campina
Grande-PB, sobre as crianças cujos pais/mães vivem em condição de
conjugalidade homoafetiva. Para construir os dados da pesquisa, a autora
realizou entrevistas semiestruturadas e contou com a colaboração 12
professoras e 16 alunos/as inseridos/as em famílias homoafetivas, todas
as entrevistadas do sexo feminino, cujas idades variam de 29 a 54 anos.
Inserida na linha de pesquisa Estudos Culturais, a autora faz
uma discussão sobre as novas configurações familiares que vêm se
modificando ao longo da história, em decorrência de transformações
ocorridas na sociedade. Nessa conjuntura de transformações, surge
uma multiplicidade de arranjos familiares, dentre eles a parentalidade,
comumente circundada por polêmica por escapar à heteronormatividade
vigente na sociedade. E problematiza o fato de que muitas crianças

185
José Rodolfo Do Nascimento Pereira - Josilene Rodrigues da Silva
Maria Thaís de Oliveira Batista - Rafaela Maria e Silva Ferreira

hoje já estão inseridas nesses novos formatos de famílias, o que requer


reflexão a esse respeito para que a escola possa lidar com as situações
de preconceito e discriminação que muitas dessas crianças enfrentam.
Desta forma, os discursos dos/as docentes são muito importantes para
compreensão e reflexão acerca de preconceitos e discriminações que
algumas crianças sofrem na escola.
Conforme já mencionado, de acordo com Gamboa (2012),
propomos que seja feita uma análise desses fatores, presentes na
dissertação ora analisada, tais como: No que diz respeito ao aspecto
Técnico-instrumental utilizou entrevista semiestruturada para coleta
dos dados.
Metodologicamente, a pesquisa pauta-se na abordagem
qualitativa pós-crítica e os dados foram tratados a partir da teoria da
Análise do Discurso. Teve como base teórico-metodológica Gil (2014).
Quanto ao aporte teórico, a pesquisa apoia-se em autores/as
próprios/as do campo dos Estudos Culturais, bem como de referências
específicas, tais como: Flakset et al., (1995); Mello ( 2005a); Uziel, (2007,
2009); Garcia et al., (2007); Zambrano, 2008; Mello; Grossi; Uziel,
(2009), que foram base para os argumentos de que crianças inseridas
nos contextos de famílias homoafetivas se desenvolvem sem problemas
diferentes daquelas criadas por famílias heterossexuais. Opera com o
conceito de poder, figuração, subjetivação, a partir do entendimento de
Elias (2008).
Epistemologicamente, a autora faz uso de teorias e discussões
próprias dos estudos sobre homoafetividade e assume que a escola, como
campo investigativo, é um ambiente atravessado por relações de poder,
sendo, então, um lugar de negociação de identidade e dos processos de

186
Análise da Lógica da Pesquisa Em Educação de Dissertações da Linha de
Pesquisa de Estudos Culturais da Educação (2013-2017)

subjetivação (OLIVEIRA, 2016). Desse modo, a escola tem um papel


fundamental na formação da personalidade dos discentes.
A visão gnosiológica da pesquisa é marcada pelo entendimento
de família, educação e sociedade como processos em construção que
têm organização bastante variada e muda de cultura para cultura e
ressalta que a família tradicional não é mais um modelo a ser seguido.
Ontologicamente, pensa que o processo civilizatório em nossa
sociedade sugere refletir sobre as interações entre a família e a escola
nesse processo. A escola é o lócus de pesquisa da autora e para ela a
escola vem desempenhando um papel ativo e central na perpetuação
da heteronormatividade, mostrando-se incapaz de lidar com as
diversidades de gênero e sexual.

“APRENDENDO A SER MULHER? CONSTRU-


ÇÃO DE IDENTIDADE DE GÊNERO: MEMÓRIAS
DA RELAÇÃO DE MULHERES COM SUAS BONE-
CAS”, DE ISIS ALUSKA DOS SANTOS SILVA (2016)

A presente dissertação tem como principal foco de pesquisa


analisar as relações existentes entre educação e a aprendizagem do
gênero feminino, de modo que apresenta o artefato cultural boneca
como aspecto central do trabalho. Disserta, ainda, acerca do processo
de construção da autoimagem do ser mulher, tendo como parâmetro o
modo como isto é apreendido por meio de um objeto específico, o qual
define como sendo a boneca este objeto de interferência. A pesquisa
foi desenvolvida a partir do estudo da memória, no que diz respeito à
relação de um grupo de mulheres com suas bonecas em suas respectivas
infâncias.

187
José Rodolfo Do Nascimento Pereira - Josilene Rodrigues da Silva
Maria Thaís de Oliveira Batista - Rafaela Maria e Silva Ferreira

A análise apresentada no presente capítulo se deu por meio


de uma caracterização dos seguintes critérios, os quais se baseiam na
produção de Gamboa (2012): técnico-instrumental; metodológico;
teóricos; epistemológicos; gnosiológicos e ontológicos.
Com relação ao primeiro critério, referente ao técnico-
instrumental, esta diz respeito a uma pesquisa empírica com abordagem
qualitativa - ancorada na área da Educação, na linha de Estudos
Culturais e nos Estudos de Gênero. Encontramos o percurso de coleta
de dados, sistematização e desenvolvimento da pesquisa, sendo que,
na dissertação ora analisada, a autora fez uso da produção de textos
biográficos e autobiográficos junto as mulheres da sua pesquisa, nesse
caso, mulheres, bem como promoveu a realização de uma oficina de
intervenção ao final da pesquisa realizada - sendo registrada por meio
de filmagens e fotos. Participaram da pesquisa 16 alunas da turma de
Pedagogia, pela qual a autora fez seu Estágio Docência, que auxiliaram
na elaboração de documentos primários que serviram como corpus
para as análises ora apresentadas. A autora disserta, assim, “[...] sobre
histórias de mulheres a partir de suas próprias escritas” (SILVA, 2016,
p. 15).
No que se refere à metodologia, debruça-se na categorização a
partir da análise de conteúdo, de modo que as principais categorias que
surgem ao longo do trabalho são: Aprendizagem de gênero; Gênero;
Identidade; Corpo/corporeidade. Silva (2016) inicia seu percurso
metodológico com a solicitação de produção de um texto descritivo,
tendo como tema: “Como eu me sinto como mulher”. Para ela, “o
tema/título dessa escrita teve como intenção captar mesmo antes da
problematização de gênero em sala de aula, a visão delas [das alunas]
sobre elas mesmas como mulheres já adultas.” (SILVA, 2016, p. 17-18).
188
Análise da Lógica da Pesquisa Em Educação de Dissertações da Linha de
Pesquisa de Estudos Culturais da Educação (2013-2017)

O segundo momento contou com a elaboração de um texto narrativo,


em que as alunas foram solicitadas a relembrarem uma antiga memória
da época de suas infâncias, com temática intitulando-se “Minha
primeira boneca”. Esta etapa oportunizou relacionar o objeto cultural e
lúdico boneca, à aprendizagem do gênero feminino discutida a partir da
elaboração do primeiro texto. Por último, foi realizada uma oficina de
intervenção, em que foram confeccionados certos materiais em formato
de corpo de boneca, que deram visibilidade à discussão, de modo que
possibilitou que as alunas viessem a “[...] explicar [em] porque escolheu
o corpo da boneca de determinada cor, porque elaborou a boneca
daquela forma e, consequentemente, dar um nome à boneca.” (SILVA,
2016, p. 18).
No que diz respeito ao aporte teórico, a dissertação ora
apresentada faz uso dos Estudos de Gênero relacionados à Educação,
com a contribuição dos Estudos Culturais, a partir dos quais realiza
pesquisas bibliográficas em torno da história das bonecas e da mulher,
bem como afirma a ideia de que “ocorre igualmente uma autodestruição
da memória feminina. [...] Todas essas razões explicam que haja uma
falta de fontes não sobre as mulheres nem sobre a mulher; mas sobre sua
existência concreta e sua história singular” (PERROT, 2007, p. 22). As
concepções de gênero da autora ancoram-se nos trabalhos de Moreno
(1999), Carvalho (2008, 2010) e Louro (1997), quando discutem
aprendizagem de gênero; Silva (2012), quando da análise do processo
identitário; e Le Breton (2007), quando da discussão sobre Corpo/
corporeidade.
A pesquisa, em seu caráter epistemológico, ao fazer uso dos
Estudos de Gênero e Estudos Feministas, estabelece uma relação
da mulher com a boneca por meio da memória, pela qual analisa o
189
José Rodolfo Do Nascimento Pereira - Josilene Rodrigues da Silva
Maria Thaís de Oliveira Batista - Rafaela Maria e Silva Ferreira

processo em que tal relação se estabeleceu ao longo da formação de cada


aluna participante da pesquisa. A autora liga-se a uma epistemologia
feminista ao abordar a boneca enquanto objeto cultural motivador e
reprodutor de uma aprendizagem do ser menina e mulher nos diferentes
contextos e tempos. Para Silva (2016, p. 22), é importante analisar como
a boneca detém de um “[...] poder simbólico e representativo na vida
das mulheres desde tempos remotos e a importância de se analisar a
relação da aprendizagem de gênero feminino com a boneca.”
Do ponto de vista gnosiológico, a pesquisa se caracteriza de uma
visão de reprodução de uma realidade em que a mulher é condicionada
desde a infância a exercer certos papéis sociais nas diferentes esferas do
vivido, a ponto de atribuir o caráter de estereotipação e estigmatização
do ser mulher e reconhecer-se nesse gênero. O texto traz a ideia de
um modelo de comportamento baseado em normas aprendidas e
apreendidas de como ser mulher, mas que, contudo, ainda encontra
espaço para reafirmação de uma identidade em construção e resistência
dos moldes apresentados histórico e culturalmente na sociedade.
Ontologicamente, o texto abarca uma ideia de sociedade
demarcada por estigmas, estereótipos e segregações de gênero. Para
a autora, “a família, a escola, a política, os meios de comunicação, o
mercado e tantos outros meios reforçam a cada dia a idealização do
que é ser mulher” (SILVA, 2016, p. 114). Desse modo, por meio das
brincadeiras nos diferentes contextos - família, escola e comunidade -,
normas, valores, regras e aprendizagens, são apresentados às crianças os
papéis sociais do ser menino/menina ou homem/mulher.

190
Análise da Lógica da Pesquisa Em Educação de Dissertações da Linha de
Pesquisa de Estudos Culturais da Educação (2013-2017)

“GÊNERO E PERSPECTIVAS DE ESCOLHA DE


CURSOS SUPERIORES: ANÁLISE A PARTIR DE
UMA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO INTEGRADO A
CURSOS TÉCNICOS NA ÁREA DA COMPUTAÇÃO”,
DE DAIANE LINS DA SILVA FIRINO (2017)

A referida dissertação teve o objetivo de analisar a relação


com a tecnologia e as perspectivas de escolha de cursos superiores de
jovens estudantes do Ensino Médio integrado à área da Computação
da Escola Estadual Estudante Rebeca Cristina Alves Simões/PB,
mais conhecida como Escola da Polícia Militar (CPM), buscando
compreender se são influenciadas por naturalizações e/ou estereótipos
de gênero, levando as mulheres a escolherem cursos/ocupações/
especializações tradicionalmente femininos e os homens a buscarem
carreiras de prestígio social em redutos considerados masculinos. A
análise evidenciou que os/as estudantes possuem uma forte ligação
com a tecnologia e que há diferenças de gênero na forma como estes/
estas se relacionam com ela, sendo uma dessas diferenças a propensão
das meninas a buscarem informações e dos meninos a buscarem o
entretenimento quando navegam na internet. Além disso, verificou-
se que a naturalização dos estereótipos de gênero nas relações sociais
parece influenciar as identificações dos/as jovens com as áreas do
conhecimento e refletir nas escolhas de cursos superiores. Tais escolhas
estavam associadas a atributos de gênero, levando as meninas a
escolherem carreiras da área de Ciências Humanas, Sociais e Biológicas,
ligadas ao cuidado, e direcionando os meninos para as carreiras de
Ciências Exatas e Tecnologia. Dessa forma, percebeu-se que as meninas,
mesmo estando inseridas em cursos técnicos da área da Computação,
191
José Rodolfo Do Nascimento Pereira - Josilene Rodrigues da Silva
Maria Thaís de Oliveira Batista - Rafaela Maria e Silva Ferreira

integrados ao Ensino Médio, não pretendem seguir carreira na


referida área, mas também o percentual de meninos que pretendem
prosseguir nessa área foi baixo, suscitando questionamentos para novas
investigações. Também se observou a influência da cultura militar,
presente na escola investigada, nas pretensões de escolhas profissionais,
pois o Curso de Formação de Oficiais (CFO) obteve destaque entre as
escolhas declaradas por ambos os sexos.
Segundo o que diz Gamboa (2012), “O estudo que analisa
as articulações entre o processo de investigação científica e os
pressupostos filosóficos, nos quais tal processo se embasa, podemos
denominar ‘epistemologia da pesquisa’, ou simplesmente, ‘abordagem
epistemológica da pesquisa’”. Partindo desse princípio, analisaremos a
dissertação a partir das lentes epistemológicas segundo as categorias: a)
técnico-instrumental; b) metodológico; c) teórico; d) epistemológico; e)
gnosiológico; e f) ontológico.
No que toca a questão técnico-instrumental, segundo o que
apresenta Firino (2017), foram aplicados questionários com estudantes
(do 1° ao 3° ano do ensino médio), sendo mulheres e homens. A pesquisa
assumiu uma abordagem quanti/qualitativa e um caráter exploratório
e descritivo. Os dados foram sistematizados em tabelas e gráficos,
destacando-se o sexo e série/ano, e como caráter analítico, a priori, os
dados foram analisados com base na Análise de Conteúdo de Bardin e
nas teorizações sobre gênero.
Com relação à metodologia, a pesquisa assumiu uma abordagem
empírica quanti/qualitativa e um caráter exploratório e descritivo. Os
questionários foram aplicados na aula inaugural do ano letivo citado,
sendo a amostra casual, ou seja, todos os/as alunos/as que estavam
presentes no auditório da escola foram convidados a preencher o
192
Análise da Lógica da Pesquisa Em Educação de Dissertações da Linha de
Pesquisa de Estudos Culturais da Educação (2013-2017)

questionário. Dessa forma, alunos/as do 1° ao 3° ano do ensino médio


participaram da pesquisa. Adotaram-se certas estratégias para garantir o
sucesso da aplicação, a saber: a) mesmo sendo questionários identificados,
garantiu-se resguardar a identificação na divulgação dos resultados; b)
solicitou-se que não deixassem nenhuma questão sem responder; c)
alocou-se o tempo necessário para que o questionário fosse respondido
sem pressa; d) permaneceu-se durante a aplicação no auditório para
auxiliar em caso de dúvidas a respeito das questões. Como sinalizado,
os sujeitos participantes da pesquisa foram estudantes, de ambos os
sexos, do primeiro ao terceiro ano do ensino médio integrado a cursos
técnicos na área da Computação da escola já citada, localizada em João
Pessoa/PB. O método utilizado para a análise dos dados foi a Análise de
Conteúdo (AC), baseado em Laurence Bardin. Para categorização dos
dados a partir desta técnica a organização da análise, os quais, segundo
Bardin (2011), são: pré-análise, exploração do material e tratamento dos
resultados para inferências e interpretação. A pré-análise tem o objetivo
de organizar o material para o início das reflexões. Nessa etapa, foram
tabulados os dados dos questionários em planilhas do Excel, em que
foram inseridas todas as perguntas do questionário e as respostas dos/
as estudantes, e feito o que Bardin (2011, p. 126) denomina de “leitura
flutuante”, que “consiste em estabelecer contato com os documentos
a analisar e em conhecer o texto deixando-se invadir por impressões
e orientações” . O cruzamento dos dados foi feito, levando-se em
consideração o enfoque desta pesquisa, ou seja, as questões de gênero
presentes nas respostas dos/as estudantes. Esses cruzamentos geraram
novas planilhas e foram realizados por meio da Tabela Dinâmica que é
uma funcionalidade do Excel que permite ir colocando em uma tabela,
de forma automática, os dados agrupados por categorias que vão sendo
193
José Rodolfo Do Nascimento Pereira - Josilene Rodrigues da Silva
Maria Thaís de Oliveira Batista - Rafaela Maria e Silva Ferreira

selecionados pela pesquisadora. Ainda nesta etapa, foi feito o que Bardin
(2011) denomina de categorização dos dados, ou seja, foram elaboradas,
a partir dos dados tabulados, unidades temáticas que serviram de norte
para a análise desses dados. A segunda etapa foi a exploração do material
que, segundo o que diz Bardin (2011), é “a fase de análise propriamente
dita”, que nada mais é do que “a aplicação sistemática das decisões
tomadas”. Por fim, foi feito o tratamento dos resultados obtidos, fazendo
inferências e interpretações, buscando tornar os “resultados brutos” em
achados “significativos [‘falantes’] e válidos”.
As matizes teóricas que a priori foram usadas pela autora para
embasar a dissertação, partiram de autores pós-estruturalistas, autores
que lidam com as perspectivas de gênero, tecnologias e educação. Os
conceitos que operaram de forma primária foram gênero e tecnologias.
Louro (1997) sobressaiu-se com os conceitos de gênero e do olhar
posicionado para uma educação voltada para a equidade e igualdade de
gênero, assim como bem se colocam os Estudos Culturais.
Com relação ao aspecto epistemológico, a autora faz uso das
teorizações próprias de gênero nas quais os autores e as autoras defendem
de maneira científica que culturalmente, na maioria dos casos, o sexo é
algo que naturaliza as funções, condiciona as identidades e normatiza
os corpos de maneira a se inscreverem em lócus pertencentes ao seu
sexo, por exemplo, segundo o que é posto por Bruschini e Lombardi
(1999), às mulheres são destinadas funções mais ligadas aos “atributos
femininos” que, coincidentemente ou não, são as de menor prestígio
social e remuneração; e, ademais, elas encontram muitos obstáculos
para chegar aos postos mais elevados, o que indica a presença do “teto
de vidro”. A autora se debruça em Olinto (2011) para dizer explicar o
termo teto de vidro, que segundo o mesmo significa “processos que
194
Análise da Lógica da Pesquisa Em Educação de Dissertações da Linha de
Pesquisa de Estudos Culturais da Educação (2013-2017)

se desenvolvem no ambiente de trabalho que favorece a ascensão


profissional dos homens”. Fazendo assim uma espécie de segregação
vertical de gênero.
Gnosiologicamente, a pesquisa traz uma visão posicionada, de
uma realidade social demarcada e hierarquizada. A divisão sexual opera
de maneira muito potente na vida dos sujeitos e a discussão não poderia
ser outra senão a busca pela equidade e igualdade de gênero.
O caráter ontológico, por seu turno, é aquele que tem como foco
o sujeito, a sua trajetória. Partindo disso, podemos dizer que o sujeito
nessa pesquisa é marcado pela divisão. A escola é um lócus que, por
muitos fatores, colabora para a classificação e hierarquização dos corpos.
Cotidianamente, a luta por igualdade é intensa, e, no que diz respeito
à igualdade sexual e de gênero, é algo que ontologicamente buscamos
diariamente.

“GÊNERO E EDUCAÇÃO SUPERIOR: PERSPEC-


TIVAS DE ALUNAS DE FÍSICA”, DE VALQUÍRIA GILA
DE AMORIM (2017)

Essa dissertação teve como escopo questionar os motivos por


que a Física é um campo majoritariamente masculino, apresentando
números reduzidos de mulheres. Denuncia que esse fenômeno ainda não
é suficientemente investigado e objetiva analisar experiências vivenciadas
pelas alunas no curso de graduação de Física na Universidade Federal
da Paraíba – UFPB. A pesquisa trouxe como resultados falas femininas
que revelam constrangimentos, debilidades e desafios, desnudando uma
barreira de gênero. Do clima hostil e frio a assédios sexuais, a autora
concluiu que a permanência feminina de discentes da graduação de

195
José Rodolfo Do Nascimento Pereira - Josilene Rodrigues da Silva
Maria Thaís de Oliveira Batista - Rafaela Maria e Silva Ferreira

Física enfrenta o estereótipo de gênero, o preconceito, a discriminação,


o sexismo e o assédio sexual, que se apresentam invisibilizados e
naturalizados em inúmeras situações (AMORIM, 2017).
Seguindo os critérios de Gamboa, o primeiro se refere ao técnico-
instrumental e, na presente dissertação, identificamos como técnica de
coleta de dados entrevistas estruturadas presencial e online. O registro
foi feito por meio de diário de campo. Houve transcrição dos áudios
das entrevistas presenciais e do uso do próprio documento redigido
pelos/as entrevistados/as. A sistematização se deu no agrupamento do
material empírico em categorias: gendramento nas disciplinas escolares
e questões de gênero nos cursos masculinizados; e, em seguida,
reuniram-se as respostas em similares, opostas e específicas. Já a técnica
de análise de dados utilizada foi a análise de discurso.
Quanto à metodologia, trata-se de uma pesquisa empírica de
método qualitativo, uma vez que se trata de uma análise aportada nos
estudos culturais, mais especificamente em estudos feministas. Seus
passos metodológicos, segundo seu diário de campo, iniciam-se com
a construção de um roteiro de entrevista, seguido pela identificação e
busca dos sujeitos (que passou por certos percalços), que culminam
na entrevista de cinco mulheres e três homens, para a qual se fez uso
da técnica de Flick (AMORIM, 2017), da bola de neve, que solicita
aos sujeitos iniciais indicações de contatos de outros possíveis
sujeitos da pesquisa. A análise dos dados baseou-se no agrupamento
das informações coletadas em categorias já elucidadas, assim como
o novo agrupamento em respostas similares opostas e específicas,
conforme já dito. Foi empregada como técnica de análise a de discurso
e teve como resultados efeitos elucidativos da desigualdade de gênero e
invisibilização/naturalização dessa realidade.
196
Análise da Lógica da Pesquisa Em Educação de Dissertações da Linha de
Pesquisa de Estudos Culturais da Educação (2013-2017)

Já quanto ao aporte teórico, conforme já elucidado quando


apresentada a metodologia, é uma pesquisa que faz uso dos estudos
feministas e de gênero e dos estudos culturais da ciência. O uso de
conceitos e categorias como gendramento, androcentrismo, sexismo e
gênero, por exemplo, denunciam a escolha teórica da autora. A visão de
gênero é ancorada, principalmente, em Scott e Haraway, que enfatizam
as relações de poder que causam diferenciações entre homens e mulheres
com suas mais diversas intersecções: raça, geração, classe, origem e
muito mais. Faz uso também da teoria crítica do Pierre Bourdieu,
especificamente de seus estudos sobre a dominação masculina.
Do ponto de vista epistemológico, faz uso de epistemologia
própria feminista que insere um novo modo de fazer ciência que se
afasta do tradicionalmente aceito, característica própria dos estudos
culturais. Nesse ponto, a autora posiciona-se e é afetada politicamente
quanto à relação sujeito-objeto, rompendo com a suposta necessidade de
afastamento do objeto. A pesquisa feminista precisa ser comprometida
e, por isso, inaugura epistemologia própria. Liga-se a uma epistemologia
feminista mais tradicional que toma a mulher como sujeito/objeto
de estudos – ela que fora ocultada na produção científica tradicional
(LOURO, 2010). A autora denuncia que o “ser mulher” seria antagônico
às ciências diante da perspectiva epistemológica do paradigma
tradicional cartesiano e preconizando que a elas caberia o mundo
privado (família, filhos e o lar) e aos homens, “superiores”, caberiam
o poder e as ciências (SCHIENBINGER apud AMORIM, 2017). Por
isso, para se opor epistemologicamente a essa ideia, autoras ligadas aos
feminismos criaram uma epistemologia própria e feminista.
A gnosiologia que a pesquisa retrata é a visão de uma realidade
marcada pela desigualdade baseada na diferença sexual. Denuncia a
197
José Rodolfo Do Nascimento Pereira - Josilene Rodrigues da Silva
Maria Thaís de Oliveira Batista - Rafaela Maria e Silva Ferreira

divisão sexual do trabalho, a exclusão, a discriminação e os impasses que


mulheres físicas perpassam. Perante essa realidade, a forma de conhecer,
conceituar, classificar e formalizar não poderia ser outra que não a de
denúncia das desigualdades de gênero e de busca pela equidade.
O caráter ontológico, por sua vez, é uma visão de ser humano,
de sociedade, da história, da educação e da realidade de equidade de
gênero. Revela que as desigualdades advindas dessas diferenças não
se justificam por meios naturais ou biológicos, mas sim por meio de
uma cultura androcêntrica, patriarcal, sexista e desigual. Ou seja,
a visão ontológica é aquela que denuncia as relações de poder nas
“naturalizações” percebidas entre homens e mulheres e suas demais
intersecções e que luta por uma justa equidade de gênero.

ARTICULAÇÃO DOS RESULTADOS

Na pretensão de melhor dar visibilidade aos resultados das


dissertações analisadas nesta pesquisa, construiu-se uma tabela com
o resumo dos resultados dos níveis de amplitude que constituem uma
pesquisa.
Cada dissertação foi nomeada pela letra D seguida pelo número
correspondente à ordem em que ela se apresenta no texto e foram
colocadas nas linhas da tabela. Nas colunas, estão os níveis de amplitude,
segundo apresentado por Gamboa (2012), que uma pesquisa possui.

198
Análise da Lógica da Pesquisa Em Educação de Dissertações da Linha de
Pesquisa de Estudos Culturais da Educação (2013-2017)

Tabela 1 – Resultados das análises

Disserta- Técnico- Metodoló- Teóricos Episte- Gno- Onto-


ções -instru- gico mológi- siológi- lógi-
mental cos cos cos
D1 Entrevistas Abordagem Estudo de Episte- Há Socie-
semiestru- qualitativa gênero, mologia enten- dade e
turadas. pós-crítica homoafe- social. dimen- orien-
e o método tividade, to de tação
utilizado família, família, sexu-
análise do parentali- educa- al.
discurso. dade. ção, e
socie-
dade
como
proces-
sos em
cons-
trução.
D2 Pesquisa Categoriza- Estu- Episte- Estere- Equi-
empíri- ção – ela- dos da mologia otipa- dade
ca com boração memória, feminis- ção e de
abordagem de textos de gênero, ta. estig- gêne-
qualitativa. – oficina de identitá- mati- ro.
Produ- intervenção rios e de zação
ção pelos – análise de corpo re- do ser
sujeitos conteúdo. lacionados mulher.
de textos à educa-
biográficos ção e aos
e autobio- estudos
gráficos. culturais.
Oficina de
interven-
ção com
uso de
imagens e
fotos.
Análise de
conteúdo.

199
José Rodolfo Do Nascimento Pereira - Josilene Rodrigues da Silva
Maria Thaís de Oliveira Batista - Rafaela Maria e Silva Ferreira

D3 Pesquisa Elaboração Estudos Episte- Desi- Equi-


empíri- do ques- de gênero. mologia gualda- dade
ca com tionário feminis- des de de
abordagem - categoriza- ta. gênero. gêne-
quanti/ ção – Inter- ro.
qualitativa. cruzamento
Questio- dos dados e
nário com inferências
questões – análise de
abertas e conteúdo.
fechadas.
Análise de
conteúdo.

D4 Pesquisa Construção Estudos Episte- Desi- Equi-


empíri- do roteiro feminis- mologia gualda- dade
ca com de entrevis- tas e de feminis- des de de
abordagem ta – busca gênero e ta. gênero. gêne-
qualitativa. e entrevista estudos ro.
Entrevistas dos sujeitos culturais
estru- – categoriza- das ciên-
turadas ção – análise cias.
presencial de discurso.
e online.
Análise de
discurso.
Fonte: Dados das dissertações analisadas (2018).

Segundo a presente tabela, é possível fazer uma análise


comparativa dos resultados obtidos. Primeiramente, percebemos que
todas as pesquisas são empíricas, duas com abordagem qualitativa e
uma quanti/qualitativa. A predominância da abordagem qualitativa é
própria das ciências humanas, tendo uma delas abordagem qualitativa
pós-crítica.
A técnica de coleta de dados é diversa, característica própria dos
Estudos Culturais que questionam a rigidez metodológica tradicional e
opera com inovações, não somente quanto a seus objetos, mas também
quanto à sua própria forma de fazer ciências. Percebemos também o

200
Análise da Lógica da Pesquisa Em Educação de Dissertações da Linha de
Pesquisa de Estudos Culturais da Educação (2013-2017)

uso de entrevistas, questionários, textos (auto) biográficos, oficina de


intervenção, e outros.
A técnica de análise variou entre análise de conteúdo e a análise
de discurso. Esses tipos de análises são pertinentes quando se pretende
estudar fenômenos próprios da esfera social e, especificamente, da
educação. Elas permitem dar mais ênfase aos sujeitos participantes da
pesquisa, centralizando suas falas como produtoras de conhecimento
científico. Essa característica é fundamental ao/à pesquisador/a dos
Estudos Culturais.
Metodologicamente, os passos foram semelhantes. Primeiro,
constrói-se o próprio instrumento de coleta de dados, seja questionário
ou roteiro de entrevista, ou mesmo o tema objeto da produção textual.
Depois, faz-se uso da categorização baseada nos resultados da coleta.
Na última etapa, parte-se para a análise. D2 diferencia-se, apresentando,
por fim, oficina de intervenção.
Todas as pesquisas versam, predominantemente, sobre a temática
de gênero e, portanto, fazem o uso teórico dos Estudos de Gênero. Uma
faz uma análise mais a respeito da sexualidade, mas o gênero atravessa
sua abordagem. Acrescentam certas Teorias Feministas, identitárias,
de Corpo e Memória. Por esta razão temática, incluem-se dentro
da epistemologia feminista, da visão gnosiológica de uma realidade
marcada por desigualdades e apresentam a perspectiva ontológica de
uma relação entre objeto e sociedade pautada na igualdade/equidade
de gênero.
O tema de gênero e sexualidade faz com que essas pesquisas
rompam com a forma tradicional cartesiana de compreensão do
conhecimento e do modo de fazer ciência. Sendo assim, apresentam

201
José Rodolfo Do Nascimento Pereira - Josilene Rodrigues da Silva
Maria Thaís de Oliveira Batista - Rafaela Maria e Silva Ferreira

similitudes que exigem do/a pesquisador/a posturas posicionadas e


comprometidas com a mudança da realidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As dissertações estudadas nessa produção indicam que a linha


de pesquisa dos Estudos Culturais da Educação está empenhada
com perspectivas epistemológicas, gnosiológicas e ontológicas
comprometidas com as diferenças, no caso mais específico, com
o marcador gênero. Este fenômeno exige um modo de pesquisar
posicionado e que busca o enfrentamento da realidade desigual.
Quanto às técnicas-instrumentais, estas variam. Isso é próprio dos
Estudos Culturais, haja vista que a escolha da técnica depende do campo
dos pesquisadores, onde se desenvolve a pesquisa que é extremamente
rico e diverso. Variedade não significa descomprometimento com um
rigor metodológico que caracteriza esses estudos como científicos.
Conclui-se que a linha vem produzindo dissertações que estão
harmônicas com suas perspectivas teóricas e que tem exigido um modo
de pesquisar filosoficamente comprometido com seus sujeitos e objetos.

REFERÊNCIAS

AMORIM, Valquíria Gila de. Gênero e educação superior:


perspectivas de alunas de Física. 2017. 112 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2017.

Firino, Daiane Lins da Silva. Gênero e perspectivas de escolha de


cursos superiores: análise a partir de uma escola de ensino médio
integrado a cursos técnicos na área da computação. 2017. 157 f.
Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa, 2017.
202
Análise da Lógica da Pesquisa Em Educação de Dissertações da Linha de
Pesquisa de Estudos Culturais da Educação (2013-2017)

GAMBOA, Silvio Sanchez. Tendências da pesquisa em educação: um


enfoque epistemológico. In: GAMBOA, Silvio Sanchez. Pesquisa em
educação: métodos e epistemologias. 2. ed. Chapecó: Argos, 2012, p.
49-67.

LAKATOS, Eva M.; MARCONI, Marina de A. Fundamentos de


metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: Uma


perspectiva pós-estruturalista. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 2010.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa Social: teoria,


método e criatividade. 18 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

OLINTO, G. A inclusão das mulheres nas carreiras de ciência e


tecnologia no Brasil. Inc. Soc. Brasília, DF, v. 5, n.1, p.68 – 77, jul./dez.
2011.

OLIVEIRA, Anna Luzia de. Discursos docentes sobre crianças cujos


pais/mães vivem em condição de conjugalidade homoafetiva. 2016.
123. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal da
Paraíba, João Pessoa, 2016.

PEREIRA, José Rodolfo N. Novas configurações para a construção


do conhecimento na contemporaneidade: riscos e possibilidades. In:
Anais Eletrônicos do Congresso Epistemologias do Sul, Foz do
Iguaçu, v. 2, n. 1, 2018. Disponível em: <https://revistas.unila.edu.br/
aeces/article/view/843/868>. Acesso em: 14 maio 2018.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3.


ed. São Paulo: Atlas, 2012.

SIGNIFICADOS. Pesquisa. 2018. Disponível em: <https://www.


significados.com.br/pesquisa/>. Acesso em: 14 maio 2018.

203
José Rodolfo Do Nascimento Pereira - Josilene Rodrigues da Silva
Maria Thaís de Oliveira Batista - Rafaela Maria e Silva Ferreira

SILVA, Isis Aluska dos Santos. Aprendendo a ser mulher? Construção


de identidade de gênero: memórias da relação de mulheres com
suas bonecas. 2016. 119f. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2016.

204
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

LINHA DE PESQUISA EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA

Analisar as relações entre Estado, sociedade e educação, mediante


investigações sobre as políticas públicas e as práticas sociais escolares.
Fonte: site do PPGG: <http://www.ccen.ufpb.br/ppgg/contents/menu/apresenta-
cao-1>
A APLICAÇÃO DA ABORDAGEM EPISTEMOLÓGICA
COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE NAS PESQUISAS
EM EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA

Anderson Santos de Santana

INTRODUÇÃO

A realidade pedagógica hoje não é a mesma de séculos


atrás; a globalização modificou a sociedade e a forma como as pessoas
vivem, transformando a realidade econômica, cultural e política. Na
educação, surgiram novos paradigmas e novos tipos de aprendizagens,
como as novas tecnologias, transformando aceleradamente o sistema
educacional. Vimos nas últimas décadas um maior interesse das
ciências nos assuntos da educação; na Geografia, isso está presente em
sua história, principalmente no campo acadêmico.
A importância dada aos assuntos educacionais foi tardia nas
ciências geográficas; o primeiro programa de Pós-Graduação em
Geografia no Brasil só foi criado em 1971 na Universidade de São
Paulo (USP), depois foram se instituindo outros programas, como na
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1972, na Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE) em 1976 e na Universidade Estadual de

207
Anderson Santos de Santana

São Paulo em 1977. É nos anos 70 que começam a se fazer pesquisa


científica na Geografia; é dessa época que surgem os primeiros mestres
e doutores em Geografia no país. De lá para cá, muita coisa mudou.
De acordo com Bauzys e Ribeiro (2014), houve uma grande expansão
na criação e institucionalização de programas de pós-graduação em
Geografia no Brasil; atualmente existem 57 cursos de mestrado e 29 de
doutorado, o que mostra a preocupação e o desejo de se fazer pesquisa
na Geografia.
Porém, o que se pretende destacar é que, em seu processo de
construção inicial e histórico, dentro dos cursos de Pós-Graduação em
Geografia no país, não foi dada uma maior relevância, em um primeiro
momento, em se fazerem pesquisas nas áreas de ensino de Geografia,
pois a preocupação nessa fase era outra: “com relação especificamente
ao contexto da pesquisa sobre ensino realizada em Programas de Pós-
Graduação em Geografia no Brasil, observa-se que ela acompanha o
movimento geral da área, de pouca demonstração quantitativa nos
anos de 1970 e de 1980” (CAVALCANTI, 2016, p. 407). As primeiras
linhas de pesquisa e suas áreas de concentração eram voltadas ao
urbano, à natureza, à cartografia, à geomorfologia, às questões agrárias
e aos recursos naturais, sendo, portanto, carros-chefes nas pesquisas
geográficas. Essa presença marcante, dessas categorias de conhecimento,
predominou até a década de 1990; foi nesse período que surgiu um
olhar mais geográfico no ensino da Geografia nos programas de pós-
graduação.
Autores da área, como Cavalcanti (1998), Callai (1999), Pereira
(1995), Santos (1995) e Vesentini (1987), foram os que se preocuparam
em investigar a Geografia escolar, abrindo debates e discussões sobre
o ensino de Geografia; esses geógrafos merecem grande destaque, pois
208
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

suas pesquisas deram mais significação e importância aos temas ligados


à Educação Geográfica, de modo que ela deixa de ser vista pela mera
definição dos conteúdos escolares, ganhando destaque nas reflexões
pedagógicas dentro das Universidades. A própria forma de pensar a
teoria e a prática também avançou, provocando grandes mudanças no
campo da Ciência Geográfica no Brasil como destaca Zanatta:

Desde então, os geógrafos que assumiram a posição


antipositivista passaram, com base nos pressupostos
teóricos e metodológicos da Geografia Crítica, a
questionar os fundamentos epistemológicos da
Geografia Positivista e a propor novos caminhos
para a ciência geográfica e a prática do seu ensino.
Dentre eles, podem-se destacar os nomes de
Antônio Carlos R. Moraes, Ariovaldo Umbelino de
Oliveira, Armando Correia da Silva, Carlos Walter
P. Gonçalvez, José W. Vesentini, Milton Santos, Ruy
Moreira, Wanderley M. Costa, que contribuíram
para repensar a ciência geográfica (ZANATTA,
2010, p. 288).

Com essa nova tendência do pensamento geográfico, no final dos


anos 80 e início dos anos 90, pôde-se refletir as relações do ensino com
os conceitos geográficos; iniciava-se uma consolidação das pesquisas
em educação na pós-graduação, ganhando espaço nas universidades
em se preocupar com a realidade do ensino, da escola básica, e com
a formação de professores, em uma perspectiva geográfica: “essa área
ganhou espaço acadêmico, profundidade teórica, amplitude temática”.
A pesquisa passou a focar temas diversificados e a sugerir abordagens”
(CAVALCANTI, 2016, p. 405). Abordagens essas que foram diversas à
realidade do ensino no Brasil.

209
Anderson Santos de Santana

É só nos anos 1990 e 2000 que as pesquisas sobre o ensino de


Geografia nos programas de pós-graduação ganham maior expansão;
isso se deve à realidade na época, em que mudanças estavam ocorrendo
na Educação Brasileira. Em 1995, é criado o Conselho Nacional de
Educação (CNE), tendo um papel consultivo e deliberativo, ajudando
a propor ideias na educação, visando fazer uma aproximação com
a realidade educacional no país; em 1996, é aprovada a Nova Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB); em 1997, são
apresentados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de 1ª
a 4ª séries e de 5ª a 8ª séries e, em 1998, são aprovadas as primeiras
Diretrizes Nacionais Curriculares para o Ensino Médio que mais tarde
foram atualizadas e renovadas. Essas mudanças educacionais em nível
nacional mudaram todo o contexto da escola e do ensino, como também
dos cursos de graduação e da pós-graduação.
O tema sobre o ensino na área geográfica aumentou em nível
de debates, discussões e pesquisas “devido à responsabilidade social da
Universidade pela formação de quadros capacitados para o ensino. Para
o ensino da geografia e, no caso em pauta, para a formação de docentes
para o ensino superior e de pesquisadores de alto nível” (LENCIONI,
2013, p. 17).
Pesquisas feitas por Cavalcanti (1998), Pontuschka (1999),
Zanatta (2010) e Pinheiro (2005) apontam que houve uma distribuição
mais equitativa na ampliação dos programas de Pós-Graduação em
Geografia no Brasil como também um avanço na institucionalização
de linhas de pesquisas voltadas ao ensino de Geografia. Em recentes
estudos, Cavalcanti (2017) identificou 62 programas no ano de 2015,
tendo 17 linhas específicas ligadas ao Ensino de Geografia. Outro fator
relevante nessa nova realidade nos programas de pós-graduação são
210
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

as diversidades temáticas apresentadas nas linhas de pesquisas sobre


Educação Geográfica. Pinheiro (2005, p. 53) constatou 10 categorias
temáticas das pesquisas acadêmicas sobre o ensino de Geografia, que
são: Prática Docente Educativa; Educação Ambiental; Formação de
Professores; Representações Espaciais; Características dos Alunos; Livro
Didático; Currículos e Programas; Formação de Conceitos; História da
Geografia; e Conteúdo - Método.
Reafirmando essa multiplicidade no campo acadêmico, levanta-
mentos feitos por Callai, Castellar e Cavalcanti (2012) comprovam que
nos dias atuais existe um grande interesse pela pesquisa nos programas
de Pós-Graduação em Geografia no Brasil; elas identificaram diversas
categorias que são estudadas nesses programas, que são: Ensino em con-
textos diferenciados; Formação de conceitos; História da Geografia Es-
colar; Metodologias; Diferentes Linguagens; Formação, Saberes e Práti-
cas Docentes; Currículos e Políticas Públicas; e Livros didáticos. Toda
essa pluralidade só comprova a importância em se pesquisar, consolidar
e melhorar a teoria e a prática no ensino da Geografia, como afirma
Lana de Souza Cavalcanti:

Com essas novas orientações, reafirmou-se o papel


relevante da Geografia na formação das pessoas,
mas reconhecendo que mudanças relacionadas ao
cotidiano espacial de uma sociedade globalizada,
urbana, informacional, tecnológica, requerem uma
compreensão do espaço que inclua a subjetividade,
o cotidiano, a multiescalaridade, a comunicação,
as diferentes linguagens do mundo atual (CAVAL-
CANTI, 2017, p. 405).

211
Anderson Santos de Santana

Diante dessa nova realidade, ocorreu uma integralização entre


os conceitos geográficos (Espaço, Território, Região, Paisagem e Lugar)
com o ensino de Geografia, fazendo e produzindo pesquisas relacio-
nadas à educação com essas categorias de análises; o fazer pesquisa na
Geografia também mudou com essas mudanças, como destaca Beatriz
Aparecida Zanatta:

Essa tendência chamou a atenção dos especialistas


do ensino de Geografia para a importância da
valorização da dimensão afetiva, do significado
do lugar, do sentimento de pertencimento e das
representações do espaço vivido no processo de
conhecimento do aluno. Nessa linha, o trabalho
pedagógico deve estar relacionado ao espaço vivido,
a realidade do aluno deve ser a referência para a
compreensão do espaço em suas diferentes escalas,
as representações, o espaço vivido e a Geografia da
percepção constituem um belo campo de pesquisa
contemporânea para o ensino de Geografia
(ZANATTA, 2010, p. 290).

Diante disso, o campo de pesquisa dessa ciência ampliou-se


no país, a Geografia passa a melhorar e qualificar na sua concepção
didático-pedagógica, ao fazer uma relação entre o global e o local,
integrando a realidade natural e social com a educação e ampliando
suas abordagens em se fazer pesquisa. Um levantamento feito por
Pontuschka (1999) corrobora essas afirmações; a autora analisou o
acervo de teses e dissertações do departamento de Geografia da USP
e observou que, nessas últimas décadas, houve mais interesse dos
acadêmicos em fazer pesquisa em educação Geográfica, pesquisas
voltadas ao ensino envolvendo assuntos como: educação ambiental na

212
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

visão do geógrafo, desenvolvimento de conceitos como o de paisagem,


a linguagem de imagens na construção de conceitos, o ensino de
Geografia e os métodos interdisciplinares, a importância do vídeo em
sala de aula,o que comprova que existem muitos problemas no campo
do ensino de Geografia no Brasil que necessitam de ideias e propostas
para a melhoria da qualidade na educação geográfica.
Contudo é importante observar que mesmo com esses avanços,
ainda vemos entraves em melhorar esse cenário no campo da pesquisa no
ensino de Geografia. Estudos feitos por Silva e Dantas (2005) mostram
que as distribuições dos programas de Pós-Graduação em Geografia
no Brasil apresentam grandes disparidades em termos regionais e
estaduais. De acordo com esses autores, as regiões Sul, Sudeste e Centro-
Oeste são as que mais contemplam programas de pós-graduação dessa
ciência no Brasil, existindo lacunas nas regiões Norte e Nordeste. Há
ainda a presença marcante de áreas de concentração da Geografia Física
e Geografia Humana: “a pouca visibilidade existente em relação ao
ensino, dispersa a produção acadêmica, dificultando sua divulgação. A
concentração geográfica da pesquisa ocorre ao mesmo tempo, dispersa
e diluída, tornando-a desapercebida no contexto da pesquisa geral da
Geografia” (PINHEIRO, 2005, p. 101). Há ainda outro fator, quando se
têm áreas de concentração ligadas à educação, as linhas de pesquisas
que as compõem não detêm grande número de vagas, ficando um maior
quantitativo para áreas ligadas ao urbano, à geomorfologia e aos estudos
ambientais.
Em relação à Região Nordeste, inicialmente as pesquisas acadê-
micas sobre o ensino de Geografia eram investigadas e realizadas nos
Programas de Pós-Graduação em Educação; esse contexto muda com o
tempo, como afirmam Ramalho e Madeira:
213
Anderson Santos de Santana

Olhando para a área da educação, e especificamente


para as regiões Norte e Nordeste, os desafios são
grandiosos. Ao contrário, porém, de outras épocas,
hoje essas regiões dispõem de capacidade instalada
em condições de responder a essa demanda,
apesar dos históricos desequilíbrios regionais
e intraregionais do país, que se reproduzem na
mentalidade e na visão da própria academia. De toda
forma, percebe-se um amadurecimento no discurso
das representações regionais. Antes, o enfoque
estava muito mais nas discrepâncias regionais; hoje,
volta-se de preferência para as políticas públicas da
educação (RAMALHO E MADEIRA, 2005, p. 74).

A partir das necessidades de se mapear e conhecer as proble-


máticas na escola básica, na educação superior e nos assuntos gerais do
ensino, as universidades públicas dessas regiões preocuparam-se em
investir mais nos temas pedagógicos. Pinheiro (2017) identificou quatro
programas na região Nordeste que abordam o ensino de Geografia, três
são acadêmicos e um é profissional, que são: Universidade Federal da
Paraíba com a linha de Pesquisa “Educação Geográfica”, Universidade
Federal de Pernambuco, tendo como linha de pesquisa “Educação, cul-
tura, política e inovação na produção contemporânea do espaço”, Uni-
versidade Federal do Piauí com a linha de pesquisa em “Ensino de Geo-
grafia”, Universidade Federal do Rio Grande do Norte com suas linhas
de pesquisas “Saberes geográficos no espaço escolar” e “Metodologia do
Ensino de Geografia”.
No estado da Paraíba, há na Universidade Federal da Paraíba
o Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG/UFPB), que
apresenta como área de concentração: Território, Trabalho e Ambiente,
compondo em umas das suas três linhas a “Linha de Pesquisa em

214
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

Educação Geográfica”. Além disso, o programa tem a perspectiva de


formar mestres e doutores com os seguintes objetivos: Investigar os
processos de reprodução do espaço e as dinâmicas socioambientais
espaciais de modo a fortalecer a ciência geográfica; Analisar as relações
entre Estado, sociedade e educação, mediante investigações sobre as
políticas públicas e as práticas sociais escolares; e Analisar a relação
entre o campo e a cidade, bem como as relações de trabalho que
permeiam essas duas dimensões espaciais, em suas diferentes escalas
geográficas e cartografias sociais. A existência dessa linha de Educação
Geográfica em um curso de Pós-Graduação traz muita relevância e
importância para o ensino de geografia no estado da Paraíba, pois
possibilita aos profissionais da educação a se qualificarem em suas áreas
com a preocupação em solucionarem problemas ligados ao ensino de
Geografia em contextos locais, regionais e nacionais.
Tendo uma linha ligada ao ensino, o programa de Pós-Graduação
em Geografia tem a responsabilidade de analisar os diversos desafios
que a educação vive atualmente, como também refletir as múltiplas
indagações na área do ensino na contemporaneidade, como defendem
Madeira e Ramalho:

Ao refletirmos sobre os desafios contemporâneos e


as demandas recebidas pela área de educação, não
podemos deixar de considerar os compromissos
que lhe são inerentes: a construção da cidadania, a
emancipação humana e a conquista da transforma-
ção da sociedade. Toda ação no campo educacional,
inclusive a pesquisa, tem o compromisso funda-
mental com a formação do povo e a consolidação
da cidadania, fato que se expressa no referencial das
temáticas que dão sustentação pesquisas (MADEI-
RA E RAMALHO, 2005, p. 80).
215
Anderson Santos de Santana

É esse o caminho que a linha de pesquisa em Educação


Geográfica busca, em ter a perspectiva de produzir conhecimentos por
meio de pesquisas e formar pesquisadores que estejam empenhados com
a melhoria da sociedade em que eles vivem. Além disso, as pesquisas
“devem provocar mudanças na forma de o pesquisador conceber e agir
em seu trabalho de docente formador ou em formação nos variados
campos de inserção da educação” (MADEIRA; RAMALHO, 2005,
p. 80). As atuais temáticas e categorias que a linha estuda e pesquisa
atualmente são: Formação de Professores de Geografia e Práticas
Educativas; Metodologias para o Ensino de Geografia; Práticas
Pedagógicas; Relação Cidade e Educação e Ensino de Geografia. Isso
mostra o desejo do Programa de Pós-Graduação em Geografia da
UFPB em melhorar as disparidades regionais no contexto do ensino de
Geografia, consolidando-se como referência nas pesquisas no campo
da educação. Outro fator importante e que merece destaque são os
números de dissertações de mestrado defendidas na linha de Educação
Geográfica; de acordo com Pinheiro (2017), do ano de 2007 até o ano
de 2017, foram defendidas 39 dissertações dentro do Programa de
Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba. A
quantidade de pesquisas em tão pouco tempo revelam o interesse de
muitas pessoas em fazer pesquisas voltadas para o ensino de Geografia,
contudo, a qualidade das produções acadêmicas também é um fator que
merece grande importância.
Pesquisas sobre as produções acadêmicas nas pós-graduações
possibilitam refletir e debater sobre as potencialidades e fragilidades
dessas pesquisas em relação a suas bases metodológicas e epistemológicas,
conforme aponta André (2007). Porém, sabe-se que escrever e
desenvolver uma pesquisa se torna uma grande responsabilidade
216
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

que o pesquisador tem em mãos, pois pesquisar, analisar, investigar e


escrever se transformam em um desafio na construção desse trabalho
científico. Fazer pesquisa em Educação torna-se muito mais desafiador,
e a concretização dessa produção deve ser realizada com seriedade,
pois não é tarefa fácil obter uma pesquisa que tenha uma relevância na
comunidade científica e ainda assim com qualidade.
Para uma pesquisa tornar-se relevante, é preciso articular o
problema com as metodologias, o referencial teórico e o método.
Gamboa (2012) afirma que é muito comum nas práticas das produções
das pesquisas se encontrarem diversos problemas no processo de
elaboração. “Ao mesmo tempo em que a insuficiência de produção
científica engendra problemas, a geração de conhecimentos sem
criticidade, fragmentada, também os cria, haja vista que muitas vezes
não propicia uma leitura precisa da realidade” (SILVA; GAMBOA, 2014,
p. 51), problemas esses relacionados às sistematizações, aos resultados
e a níveis epistemológicos. Gamboa (1998) defende a importância de se
terem estudos reflexivos sobre a qualidade das produções das pesquisas
científicas nos programas de pós-graduação, já que ele entende que
existem grandes problemas a níveis epistemológicos:

Desse modo, faz-se necessária a realização frequente


de avaliações a respeito do que tem sido desenvol-
vido, em termos de pesquisa científica, nas diversas
áreas do conhecimento e, mais precisamente, nos
programas de pós-graduação stricto sensu, uma vez
que estes concretizam espaços privilegiados pelo sis-
tema educacional brasileiro para o desenvolvimento
da pesquisa científica (GAMBOA, 1998, p. 51).

217
Anderson Santos de Santana

Ainda segundo Silva e Gamboa (2014, p. 51), é necessário que o


pesquisador faça uma reflexão teórica, filosófica e crítica do seu próprio
conhecimento:

Primeiro, pela contribuição que podem trazer para a


superação de inúmeros problemas que enfrentamos
na realidade, especialmente na área educacional.
Segundo, e no mesmo sentido, se a pesquisa é
importante para auxiliar o homem a superar os
problemas que encontra, é preciso que se analise
a própria pesquisa, que se investigue os caminhos
adotados para o seu desenvolvimento, que se
identifiquem os interesses e determinantes sócio-
político-econômicos que a norteiam e, ainda, que
se explicitem as suas principais tendências numa
esfera específica do conhecimento. Isso para que
não apenas os problemas identificados pelo homem
na realidade sejam superados, mas também para
que possam ser superados os problemas percebidos
no próprio ato de investigar (SILVA E GAMBOA,
2014, p. 51).

Para isso, é necessário fazer a “Pesquisa da Pesquisa”, ou, como


propõem os autores, fazer uma “Análise Epistemológica” das pesquisas
científicas. Gamboa (2013), por sua vez, diz que o esquema paradigmático
ou “Investigações Epistemológicas” caracterizam-se como:

Tipos, estilos ou formas de organizar e articular


procedimentos que os pesquisadores privilegiam
e desenvolvem para produzir as respostas para
os problemas abordados por suas investigações.
As maneiras como são abordados os problemas
de pesquisa, ou a forma como o sujeito trata o
objeto na relação cognitiva, ou a organização de
procedimentos que definem os pontos de partidas
218
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

dos projetos determinam as escolhas metodológicas


e teóricas. Daí por que a utilização do termo tem
sentido e é pertinente para definir modelos ou
paradigmas científicos (GAMBOA, 2013, p. 269).

Esses estudos epistemológicos preocupam-se com as tendências


teórico-filosóficas, as opções paradigmáticas e os diferentes modos
de interpretar a realidade. Além disso, preocupam-se tanto com os
múltiplos estilos do desenvolvimento do objeto científico, nas formas de
como se comunicam os sujeitos e os objetos na sociedade, e tratam o real,
o abstrato e o concreto na construção desse conhecimento, quanto pelos
critérios de cientificidade com os quais se fundamentam as pesquisas,
pois “os estudos epistemológicos procuram na filosofia seus princípios e
na ciência seu objeto, tendo como função não só abordar os problemas
gerais das relações entre a tradição filosófica e a tradição científica, mas
ainda servem como ponto de encontro entre elas” (GAMBOA, 1998, p.
47).
As contribuições da Análise Epistemológica de Gamboa que
possibilitam avaliar as dissertações permitem conhecer os seguintes
elementos:

a) os diversos pressupostos implícitos nas pesquisas;


b) os tipos de pesquisas que vêm sendo desenvol-
vida numa determinada área do saber; c) suas ten-
dências metodológicas; d) pressupostos epistemoló-
gicos e ontológicos; e) concepções de ciência; assim
como os condicionantes socioeconômicos que de-
terminam, à produção científica, a aplicação dos
seus resultados e processos de veiculação (SILVA;
GAMBOA, 2014, p. 54).

219
Anderson Santos de Santana

Isso é essencial para o desenvolvimento das ciências, pois,


além de desenvolver a criticidade como umas de suas atividades
fundamentais, essa análise conduz ao processo de conhecimento para
novas conceituações teóricas, revisões epistemológicas, destruição de
mitos, como também para a elaboração de novas metodologias. Dessa
forma como defende Gamboa (2014) se torna mais essencial fazer
análises dando importância aos aspectos internos (lógico-gnosiológicos,
metodológicos e ontológicos), como os aspectos externos (histórico-
sociais) das pesquisas produzidas na área de Educação.
Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo fazer uma
análise preliminar das produções acadêmicas do Programa de Pós-
Graduação em Geografia da UFPB, da linha de Pesquisa “Educação
Geográfica”, destacando-se nessas reflexões a lógica estrutural das
pesquisas dessas dissertações segundo os estudos de Gamboa (2012),
objetivando assim conhecer e analisar nessas produções suas qualidades
que mostram consistência teórica, a partir das contribuições do esquema
paradigmático de Gamboa (2006). As repostas dessas análises envolverão
certos níveis, que serão: técnico, metodológico, teórico, epistemológico,
gnosiológico e ontológico. Esse estudo torna-se importante, pois
reflexões desse tipo ainda são novas no campo da Educação Geográfica,
podendo, então, oferecer subsídios para a formação de pesquisadores
do ensino de Geografia e servir de instrumento para o ensino na
universidade nos espaços da pós-graduação.

METODOLOGIA

Por se tratar de uma proposta de investigação e retroalimentação


de saberes, optou-se por uma abordagem qualitativa. A pesquisa

220
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

qualitativa foca na interpretação do mundo real, privilegiando a “análise


de micro processos, através do estudo das ações sociais individuais e
grupais. Realizando um exame intensivo dos dados, tanto em amplitude
quanto em profundidade” (MARTINS, 2004, p. 292); ela aproxima
o sujeito ao objeto do conhecimento, tornando um fator central de
sua metodologia. A análise dos dados no método qualitativo permite
trabalhar todo o material coletado, os registros das observações de sala de
aula, os questionários, as análises dos documentos e outras informações
disponíveis de um modo particular, a partir de um contexto específico.
Esse tipo de pesquisa permite a investigação ter um maior critério,
uma confiabilidade da pesquisa, articulação do micro e macrossocial e
subjetividade na análise da pesquisa.
De acordo com Pimenta (2005/2006), os métodos qualitativos
aproximam-nos da realidade do mundo empírico, a concepção da
pesquisa qualitativa segue uma regra básica para a investigação. Bogdan
e Biklen (1994), por sua vez, fazem certas observações; segundo o que
dizem esses autores, a fonte direta de coleta de dados é o ambiente
natural observado e o pesquisador é o instrumento primordial, nada
é desconsiderado pelo investigador e tudo que acontece no espaço de
estudo da pesquisa pode ser uma fonte para conhecer e entender o objeto
de estudo que vai ser analisado e, também, o processo da investigação,
da observação, é mais valorizado do que os resultados. Por valorizar o
sujeito e sua subjetividade, a busca e a construção dos resultados e o
seu significado tem uma importância maior, a construção dos dados
não é feita de forma rápida, a pesquisa qualitativa determina que o
pesquisador analise, fazendo um detalhamento maior a partir dos dados
encontrados. Desta forma, a classificação da presente pesquisa é um

221
Anderson Santos de Santana

estudo descritivo, bibliográfico-exploratório e analítico, possibilitando


apresentar e analisar os dados a serem desvendados.
Com base nessas orientações, este trabalho é fruto também de
uma pesquisa do tipo “Estado da Arte” ou “Estados do Conhecimento”.
Ferreira (2002) afirma que nos últimos anos tem-se produzido
consideráveis pesquisas desse tipo no Brasil; a autora ainda conceitua
esse tipo de pesquisa, fazendo o seguinte destaque:

Definidas como de caráter bibliográfico, elas parecem


trazer em comum o desafio de mapear e de discutir
uma certa produção acadêmica em diferentes
campos do conhecimento, tentando responder
que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e
privilegiados em diferentes épocas e lugares, de que
formas e em que condições têm sido produzidas
certas dissertações de mestrado, teses de doutorado,
publicações em periódicos e comunicações em
anais de congressos e de seminários. Também são
reconhecidas por realizarem uma metodologia
de caráter inventariante e descritivo da produção
acadêmica e científica sobre o tema que busca
investigar, à luz de categorias e facetas que se
caracterizam enquanto tais em cada trabalho e no
conjunto deles, sob os quais o fenômeno passa a ser
analisado (FERREIRA, 2002, p. 258).

Nesse sentido, a presente pesquisa pretende fazer um recorte das


dissertações do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPB
na Linha de Pesquisa “Educação Geográfica”. Para isso, foi utilizado
como orientações para a investigação a pesquisa bibliográfica e análise
documental, recorrendo às bases e aos estudos teóricos de Silvio Sánchez
Gamboa.

222
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

Diante disso, o processo pelas buscas das respostas envolverá


os níveis de análises propostas por Gamboa (2006): o técnico,
metodológico, teórico, epistemológico, gnosiológico e ontológico. O
nível técnico-instrumental refere-se aos processos de coleta, registro,
organização, sistematização e tratamento dos dados e das informações.
O metodológico faz alusão aos passos, procedimentos e maneiras
de abordar e tratar o objeto investigado. O teórico diz respeito aos
fenômenos educativos e sociais privilegiados, núcleos conceituais
básicos, pretensões críticas a outras teorias, tipo de mudança proposta,
autores citados. O epistemológico faz referência aos critérios de
“cientificidade”, como concepção de ciência, concepção dos requisitos
da prova ou validez, concepção de causalidade. O gnosiológico refere-se
ao entendimento que o pesquisador tem do real, o abstrato e o concreto
no processo da pesquisa científica, o que implica diversas maneiras de
abstrair, conceituar, classificar e formalizar, ou seja, diversas formas de
relacionar o sujeito e o objeto da pesquisa e que se referem aos critérios
sobre a “construção do objeto” no processo de conhecimento. E, por
fim, o nível ontológico que tem a ver com as concepções de homem,
da sociedade, de história, da educação e da realidade, que se articulam
na visão de mundo implícita em toda produção científica. Esta visão
de mundo (cosmovisão) tem uma função metodológica integradora e
totalizadora que ajuda a elucidar os outros elementos de cada modelo
ou paradigma.
Dessa maneira, compõem o universo de estudo o programa do
PPGG/UFPB e as informações das produções de dissertações ligadas à
Linha de Pesquisa “Educação Geográfica”. Sendo assim, para o presente
estudo realizou-se no primeiro semestre de 2018 um levantamento de

223
Anderson Santos de Santana

dissertações presentes no Repositório Eletrônico Institucional (REI) da


UFPB.
Com isso, foi feita uma triagem que consistiu na localização,
tabulação e análise das produções de dissertações encontradas no
Repositório Institucional, sendo coletadas as dissertações defendidas
entre 2013 e 2016. Com estes critérios, foram elegidas duas dissertações
de mestrado que fazem parte dos estudos dessa pesquisa. Posteriormente,
realizou-se a leitura atenta dos resumos desses trabalhos, utilizando os
referenciais de Gamboa (2012).
Para o tratamento dos dados, empregou-se a análise epistemológica
de Gamboa (2006) denominada de Esquema Paradigmático. Por meio
desse instrumento de análise, buscou-se conhecer sua estrutura básica
de pesquisa, ou seja, sua estrutura paradigmática.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesta seção, apresentamos a descrição de duas dissertações,


quanto ao título, instituição e ano de publicação. Dando prosseguimento,
realizamos uma análise geral dessas produções, seguindo a categoriza-
ção de Silvio Sánchez Gamboa, fazendo observações de duas produções
acadêmicas a partir dos seguintes critérios: a) técnico-instrumental; b)
metodológico; c) teórico; d) epistemológico; e) gnosiológico; e f) onto-
lógico (GAMBOA, 2014, p. 58).

224
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

A) TÉCNICO-INSTRUMENTAL

Para o processo de coleta de dados, durante a pesquisa, foram


utilizados questionários, para possibilitar a verificação das diferenças
e semelhanças entre as informações obtidas, realizados trabalho de
campo, para uma observação direta das atividades do grupo, e entrevistas
com informantes, para captar suas explicações e interpretações sobre o
que ocorre no grupo. Para a tabulação das respostas objetivas, foram
realizados registros estatísticos, organizando-se as informações por
meio de gráficos, quadros e tabelas. Para os dados subjetivos, todas as
respostas foram transcritas e organizadas de modo que o ponto de vista
dos professores e alunos envolvidos pudesse ser interpretado pelo leitor

B) METODOLÓGICO

A pesquisa teve um estudo do tipo etnográfico e uma abordagem


qualiquantitativa, uma vez que se pretendeu analisar tanto aspectos
subjetivos quanto objetivos,valendo-se dos métodos: Levantamento
Bibliográfico e Trabalho de Campo.

225
Anderson Santos de Santana

I. Levantamento Bibliográfico: Nessa etapa, foi realizada uma pes-


quisa bibliográfica de autores que abordam o tema relacionado
às novas tecnologias e também de literaturas que discutem sobre
questões relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem de
Geografia, e se estudaram obras de autores da Pedagogia, Psi-
cologia e Didática.A pesquisadora dividiu essa fase do levanta-
mento Bibliográfico em dois eixos: o primeiro deles refere-se às
novas tecnologias; o segundo eixo, ao aspecto teórico. Buscou-se
refletir sobre o ensino de Geografia.
II. Trabalho de Campo: Nessa fase, foi feita a observação direta nas
redes públicas de ensino, fazendo um recorte dos espaços que a
pesquisa desejou analisar, tendo o propósito de fazer uma verifi-
cação das teorias estudadas. Para isso, o Trabalho de Campo da
Pesquisa foi dividido em três fases:
• 1ª fase – Caracterização da Área de Estudo;
• 2ª fase – Caracterização dos Professores de Geografia; e
• 3ª fase – Caracterização dos Alunos.
1ª fase – Caracterização da Área de Estudo: Buscou-se mostrar a
localização da área de estudo que faz parte da pesquisa, no caso,
a cidade de João Pessoa-PB. A pesquisa em pauta foi realizada
em oito escolas públicas municipais, nos seguintes bairros: Ban-
cários, Jardim Cidade Universitária e Mangabeira.
2ª fase – Caracterização dos Professores de Geografia: Foram
analisados inicialmente os questionários que foram aplicados
aos professores.Os elementos investigados foram: a formação
acadêmica, a instituição em que fizeram o curso de graduação,
o tipo de modalidade de ensino usada pela instituição durante o

226
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

período em que cursaram a graduação, o tempo de atuação no


magistério e a quantidade de tempo que lecionavam na escola
envolvida nessa pesquisa.
3ª fase – Caracterização dos Alunos: Foram analisados inicial-
mente os questionários que foram aplicados aos alunos. Os ele-
mentos investigados foram: os bairros onde moravam, há quan-
to tempo estudavam nas escolas pesquisadas, idade dos alunos.

C) TEÓRICO

Na análise teórica, foram identificados na dissertação “A”: os


fenômenos educativos e sociais privilegiados; os núcleos conceituais
básicos; as pretensões críticas e outras teorias utilizadas; o tipo de
mudança proposta e os autores citados conforme os núcleos propostos
pelo autor da dissertação.

I. Fenômenos Educativos e Sociais Privilegiados:


• Produtos de Sensoriamento Remoto.
II. Núcleos Conceituais Básicos: Foram realizadas discussões ba-
seadas em teóricos que abordam as temáticas:
• Sensoriamento Remoto;
• Paisagem e Espaço;
• Processo de Ensino-aprendizagem;
• Geografia Escolar.
III. Pretensões Críticas e Outras Teorias: O trabalho critica as teorias
da Geografia tradicional. A Geografia, na sua perspectiva meto-
dológica, deve assumir uma postura de mudança, de repensar
velhas formas de ver o mundo, de buscar novos sentidos para a

227
Anderson Santos de Santana

existência humana, de resgatar a vida em todas as suas dimen-


sões e de assumir como parte integrante desta sociedade e res-
ponsável pelo seu futuro. Os métodos e as teorias da Geografia
tradicional, baseados em levantamentos empíricos, tornaram-se
insuficientes para dar conta de uma nova perspectiva de ensino.
Os avanços da tecnologia e um novo modelo de produção im-
posto pelo capitalismo suscitavam emergência de um novo per-
fil de profissional que pudesse dar conta dessa nova realidade. A
educação, então, assumiu o papel de qualificar esse profissional
para que atendesse aos padrões de qualificação exigida por esse
mercado (MARTINS, 2011, p. 65).
IV. Tipo de Mudança Proposta: O trabalho não definiu claramente
sua proposta de mudança, no entanto, o debate e diagnóstico
das potencialidades do uso do sensoriamento remoto na sala de
aula podem gerar uma reflexão sobre o uso dessas tecnologias e
provocar uma mudança na prática pedagógica dos professores
de Geografia.
V. Autores Citados:

228
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

D) EPISTEMOLÓGICO (CRITÉRIOS DE CIENTIFICIDADE)

I. Concepção de Ciência: O objeto da pesquisa, no caso da disser-


tação escolhida para análise, são os produtos de sensoriamento
remoto. O Sensoriamento Remoto é uma ferramenta bastante
recorrente em diversas ciências, inclusive nas Ciências Geo-
gráficas. Por se tratar de um instrumento utilizado em diversos
processos metodológicos, existe uma vasta produção científica
sobre o tema. O trabalho segue uma lógica científica, com levan-
tamento bibliográfico, entrevistas e aplicação de questionário in
loco, análise dos dados e resultados, entre outras etapas exigi-
das para se atingir rigor científico. Dessa forma, nota-se que o
estudo é um produto científico. Sendo assim, o Sensoriamento
Remoto irá propiciar novos caminhos no ensino-aprendizagem
dos conceitos geográficos aos alunos e professores de Geografia
do Ensino fundamental II.
II. Concepção dos Requisitos da Prova ou Validez: Para a prova/
validez da pesquisa, a pesquisadora fez a realização dos seguin-
tes procedimentos metodológicos: pesquisa bibliográfica; levan-
tamento de dados por meio da construção de questionários e
entrevistas; trabalho de campo, onde o pesquisador observou a
realidade empírica dos alunos e professores; caracterização da
área de estudo, o que possibilitou um diagnóstico estrutural e
funcional das escolas; caracterização dos professores de Geogra-
fia e dos alunos.
III. Concepção de Causalidade: No trabalho, a causalidade se dá na
ação do uso dos produtos de Sensoriamento remoto no processo
de ensino-aprendizagem de Geografia no ensino fundamental
II.

229
Anderson Santos de Santana

E) GNOSIOLÓGICOS

O trabalho relaciona o sujeito e o objeto da pesquisa de forma a


não tirar o foco principal do sensoriamento remoto, que na pesquisa foi
o objeto estudado. No nível gnosiológico, o autor procurou: Analisar as
potencialidades e limitações dos produtos de sensoriamento remoto para
o processo de ensino e aprendizagem de Geografia no ensino fundamental
II; Conhecer as concepções dos alunos e professores de Geografia a
respeito do sensoriamento remoto e seus produtos; Identificar como
os alunos e professores vêem os produtos do sensoriamento remoto no
processo de aprendizagem dos conteúdos da disciplina de Geografia;
Diagnosticar o papel que os produtos de sensoriamento remoto pode
desempenhar no ensino da cartografia na disciplina de Geografia a
partir dos olhares de alunos e professores; e, por fim, buscou verificar
como os alunos e professores percebem os produtos de sensoriamento
remoto no estudo dos problemas socioambientais do bairro onde se
localiza a escola, promovendo, assim, a relação da ação do sujeito sobre
o objeto da pesquisa.

F) ONTOLÓGICOS

No trabalho, o autor tem uma concepção do homem como um


agente modificador do espaço, onde altera de forma significativa a fauna
e a flora. O objeto da pesquisa servirá para destacar as alterações do
homem no espaço, possibilitando ou não, o entendimento dos conceitos
Geográficos pelos alunos. Ressalta-se no texto a concepção de mundo
integradora, em que o conhecimento é formado por meio da soma dos
conhecimentos científicos, dos saberes filosóficos, dos conhecimentos

230
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

empíricos e dos saberes populares. O sensoriamento remoto contribui


para representar os usos e ocupações do solo, de uma geração à outra;
indicar as marcas e limites de cada grupo social e as dinâmicas de suas
atividades socioculturais. Nesse processo de transformação, os aspectos
culturais do homem na sociedade podem servir de base para que seja
realizada uma leitura e análise da realidade.

A) TÉCNICO-INSTRUMENTAL

Nesse critério foram feitas entrevistas transcritas, notas de campo,


fotografias, produções pessoais, depoimentos e observação participante,
entrevistas minuciosas, apontamentos por escrito, registros de diálogo
e conversas, uso de vídeos, fotografia, análise de documentos e história
de vida.

B) METODOLÓGICO

A pesquisa teve uma abordagem qualitativa e foram utilizados


os seguintes métodos:

231
Anderson Santos de Santana

• Estudo de Caso;
• Entrevista semiestruturada;
• Grupo focal;
• Levantamento Bibliográfico.
I. Estudo de Caso: Esse método foi realizado em 3 fases, para tratar
o objeto pesquisado:
• Fase Exploratória;
• Fase de delimitação do estudo e de coleta dos dados;
• Fase de análise sistemática dos dados e de elaboração do
relatório.

II. Entrevista Semiestruturada: Nessa etapa, foram utilizadas en-


trevistas semidiretivas e semiabertas com os coordenadores dos
cursos de Geografia e com os professores das universidades pes-
quisadas ligados ao uso das geotecnologias, a fim de se analisar a
formação que o curso de licenciatura em Geografia tem ofereci-
do aos futuros professores, bem como o uso das geotecnologias
no ensino de Geografia. Para esse momento, foi feito um roteiro
previamente elaborado com perguntas principais, complemen-
tadas por outras questões inerentes às circunstâncias momentâ-
232
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

neas à entrevista, com a finalidade de fazer emergir informações


de forma mais livre.
III. Grupo Focal: Foi feito um grupo de discussão informal e de ta-
manho reduzido com os alunos que estavam no último período
dos cursos de licenciatura em Geografia da UFPB, Campus I,
João Pessoa-PB, e na UFCG, Campus I, Campina Grande-PB,
com o propósito de se obterem informações de caráter qualita-
tivo em profundidade, tendo o propósito de não ser meramente
uma entrevista de grupo, e sim de promover a interação do gru-
po para gerar dados. Cada grupo foi organizado com pequeno
número de pessoas para incentivar a interação entre os mem-
bros; cada sessão durou de uma a duas horas; a conversação
concentrou-se em poucos tópicos (no máximo cinco assuntos);
as pessoas foram convidadas para participar da discussão sobre
determinado assunto. O moderador do Grupo Focal levantou
assuntos identificados em um roteiro de discussão, usando téc-
nicas de investigação para buscar opiniões, experiências, ideias,
observações, preferências, necessidades e outras informações
com o propósito de captar informações e não dar informações.

IV. Levantamento Bibliográfico: Nessa fase, foi feita a leitura de li-


vros, artigos e periódicos, fazendo-se o uso e acesso do site da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e da Revista Brasileira de Educação em Geografia para
se pesquisarem bibliografias que ajudariam no embasamento
teórico-metodológico da pesquisa. Nesse momento, também se
buscou ler especialistas que trabalhavam as seguintes temáticas:
formação inicial e continuada de professores de Geografia; do-
cência no Ensino Superior; Diretrizes Curriculares Nacionais

233
Anderson Santos de Santana

para a formação de professores; currículo; ensino de Geografia;


Geotecnologias; e o uso de geotecnologias no ensino-aprendiza-
gem de Geografia.

C) TEÓRICOS

Na análise teórica, foram identificados na dissertação “B”: os


fenômenos educativos e sociais privilegiados; os núcleos conceituais
básicos; as pretensões críticas e outras teorias utilizadas; o tipo de
mudança proposta; e os autores citados conforme os núcleos propostos
pelo autor da dissertação.

I. Fenômenos Educativos e Sociais Privilegiados:


• Geotecnologias.
II. Núcleos Conceituais Básicos: Foram Realizadas discussões ba-
seadas em teóricos que abordam as temáticas:
• Formação inicial e continuada de professores de Geogra-
fia;
• Docência no Ensino Superior;
• Currículo;
• Ensino de Geografia;
• Geotecnologias e o seu uso no ensino-aprendizagem de
Geografia.
III. Pretensões Críticas a Outras Teorias: Critica a teoria/princípio
da autonomia dos alunos de Geografia no processo de aprendi-
zagem:

Segundo Khaoule & Souza (2013), apesar de ser


recorrente a ideia de que os alunos das universidades

234
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

são capazes, sozinhos, de estabelecerem essa


relação, vários estudos baseados na teoria histórico-
cultural de Vigotsky, como o de Couto (2005), o
de Cavalcanti (2005), o de Souza (2009), dentre
outros, apontam que, no processo de formação do
professor de Geografia, é primordial a mediação do
professor formador na construção do conhecimento
desse profissional. Para esses autores, essa mediação
é decorrente da interferência nos processos
intelectuais, afetivos e sociais dos alunos. Com
isso o professor de Geografia precisa ter uma
sólida formação teórico-conceitual na disciplina
para, então, cumprir esse papel. De mesma forma
pode-se inferir que a intervenção do professor
na aprendizagem deve estar presente também no
Ensino Superior (SILVA, 2016 p. 86).

IV. Tipo de Mudança Proposta:

• Mudança nos currículos dos cursos de Geografia;


• Melhoria na qualidade do ensino das geotecnologias no
ensino superior;
• Reflexão e mudança das práticas pedagógicas dos docen-
tes dos cursos de Geografia.
V. Autores Citados:

235
Anderson Santos de Santana

D) EPISTEMOLÓGICOS (CRITÉRIOS DE CIENTIFICIDADE):

I. Concepção de Ciência: O objeto da pesquisa, no caso da disser-


tação escolhida para análise, é a Geotecnologia. A Geotecnologia
é um instrumento bastante estudado nas ciências Geográficas e
outras ciências, como: a Cartografia, a Geologia, a Biologia etc.
O trabalho segue uma lógica científica, com levantamento bi-
bliográfico, entrevistas e aplicação de questionário in loco, aná-
lise dos dados e resultados, entre outras etapas exigidas no rigor
cientifico. Assim, fica claro que o estudo é um produto científico.
Sendo assim, a Geotecnologia irá propiciar novas possibilidades
nas práticas pedagógicas dos professores para o ensino de Geo-
grafia.

236
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

II. Concepção dos Requisitos da Prova ou Validez: Para a prova/


validez da pesquisa, a pesquisadora realizou o levantamento bi-
bliográfico, a identificação dos Projetos Pedagógicos dos Cur-
sos de licenciatura em Geografia, a utilização do grupo focal e
a aplicação de questionários com os discentes das Instituições
de Ensino Superior (IES) pesquisadas e entrevistas com coorde-
nadores e docentes das IES pesquisadas. A partir da reflexão e
avaliação da metodologia utilizada no trabalho, podemos dizer
que a pesquisadora fez a contextualização e análise dos PPC dos
cursos de geografia das universidades pesquisadas e observou o
olhar do aluno no contexto de sua formação.
III. Concepção de Causalidade: Nesse trabalho, a causalidade se dá
na ação do uso das Geotecnologias no ensino-aprendizagem de
Geografia sobre a formação dos licenciandos em Geografia.

E) GNOSIOLÓGICOS

O trabalho relaciona o sujeito e o objeto da pesquisa, buscando


investigar se, durante sua formação acadêmica, os sujeitos da pesquisa
tiveram acesso a algum componente curricular e a algum tipo de
geotecnologia (dados referentes ao sensoriamento remoto, ao Sistema de
Posicionamento Global - GPS, softwares de SIG - Sistema de Informação
Geográfica, cartografia digital, dentre outros) e se os futuros professores
entrevistados se sentem habilitados em utilizar esses recursos em suas
práticas pedagógicas, promovendo, assim, a relação da ação do sujeito
sobre o objeto da pesquisa.

237
Anderson Santos de Santana

F) ONTOLÓGICOS

Nesse trabalho, a pesquisadora tem uma concepção do homem


como sujeito ativo, transformador da realidade, porque, por meio do
uso dessas Geotecnologias na formação inicial, ele pode inserir em suas
práticas pedagógicas novas possibilidades para o ensino da Geografia. A
pesquisa tem uma visão de mundo integradora, porque ela é constituída
por conhecimentos que foram adquiridos a partir de experiências, de
saberes e informações, obtidos dos sujeitos pesquisados, da história, da
ciência e da educação, compartilhados entre diversos grupos sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo mostra a importância de haver mais pesquisas sobre


análises epistemológicas das dissertações acadêmicas. Nos dias atuais,
tornam-se cada vez mais importantes investigações de aspectos internos:
lógico-gnosiológicos e metodológicos, quanto externos: histórico-
sociais, sobre as pesquisas produzidas na Educação. Como afirma
Silva (2011, p. 231), há “a inexistência de estudos que se propusessem
a analisar as tendências e implicações epistemológicas das pesquisas
desenvolvidas no âmbito dos programas de pós-graduação stricto-sensu
e relacioná-las com contextos mais abrangentes”.
Como foi verificado neste trabalho, existem poucos estudos que
analisam a própria concepção das pesquisas nas áreas de “Educação
Geográfica” que visem a uma reflexão epistemológica sobre essas
produções. Portanto, faz-se necessário debater e até mesmo questionar
os pressupostos teóricos e epistemológicos que orientam esses trabalhos
acadêmicos ligados ao ensino de Geografia no Brasil. Silva (2011) e

238
A Aplicação da Abordagem Epistemológica
Como Instrumento de Análise nas Pesquisas em Educação Geográfica

Gamboa (2006) defendem que as pesquisas precisam constantemente


ser avaliadas, o que exige ter uma reflexão crítica, teórica e filosófica do
próprio conhecimento do pesquisador e do ato de pesquisar.
Esses autores afirmam que existe em muitas pesquisas dos
Programas de Pós-Graduação uma diversidade de dados que podem
ser analisados, a fim de se conhecerem os múltiplos elementos que há
nesses estudos, além de se identificarem as principais características
epistemológicas e metodológicas que orientam essas produções nesses
programas. O próprio pesquisador também tem que ter uma visão
crítica do que está sendo produzido na sua pesquisa, um dos grandes
problemas gira em torno da qualidade de fazer ciência e na própria
produção científica.
Sendo assim, é necessário que esses pesquisadores tenham
uma formação de qualidade em fazer pesquisa; é importante que os
Programas de Pós-Graduação formem seus pesquisadores com bases
filosóficas, epistemológicas e metodológicas com o foco em se fazer
investigação científica eficiente. E uma boa investigação constrói-se
pelo comprometimento que vai embasar a produção e a investigação do
trabalho científico. Os processos formativos desses futuros pesquisadores
devem possibilitar a construção de práticas de análises, assim como
exercícios de criticidades, permitindo que esses pesquisadores sejam
avaliadores e autoavaliadores de suas próprias produções científicas.
Dessa forma, a análise Gamboa (2006) com os seus procedimentos
tem muito a contribuir para a construção e formulação das produções
científicas acadêmicas, melhorando os processos da formação
epistemológica e metodológica dos trabalhos científicos.

239
Anderson Santos de Santana

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244
OS/AS AUTORES/AS

Adriege Matias Rodrigues


Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba, Mestranda em
Educação pela Universidade Federal da Paraíba na linha de Pesquisa Políticas
Educacionais (PPGE-UFPB). Pesquisadora em Currículo e Práticas Educati-
vas (GEPPC da UFPB). E-mail: adriege_matias@hotmail.com

Alexandre Nascimento da Silva


Graduado em Economia pela UFPB e Administração pela UEPB, Pós-Gra-
duado em Recursos Humanos pela FATEC, com MBA em Data WareHouse
Business Inteligence. Mestrando em Administração pela FG - Laureate e em
Educação pela UFPB. E-mail: bbalexandre1@gmail.com

Aline Rodrigues de Almeida


Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação
(PPGE), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na Linha de Pesquisa em
Educação Popular. Graduada em Pedagogia com área de aprofundamento em
Educação de Jovens e Adultos pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Pesquisadora do Observatório de Educação Popular (UFPB) e do Grupo de
Pesquisa Pedagogia Social Crítica e Direitos Humanos (GPESCDH/UFPB).
E-mail: aline.ralmeidas2@gmail.com

Ana Cláudia da Silva Rodrigues


Doutora em Educação, docente vinculada ao Departamento de Funda-
mentação da Educação, Centro de Educação/UFPB. Professora Perma-
nente do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPB (Campus
I). Líder do grupo de Pesquisa Currículo e Práticas Educativas. Orienta-
dora de Iniciação Científica.

Anderson Santos de Santana


Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Fe-
deral da Paraíba (PPGG/UFPB). Pesquisador do Grupo de Pesquisa Ciência,
Educação e Sociedade. Colaborador do Grupo de Pesquisa Sobre Formação
Docente. Graduado em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco.
Fui voluntário no GIERSE- Grupo Interdisciplinar de Estudos em Represen-
tações Sociais e Educação, no Centro de Educação-CE/UFPE. Participei como
245
colaborador do Laboratório de Ensino de Geografia e Profissionalização Do-
cente (LEGEP-UFPE). E-mail: santosantana89@hotmail.com

Beatriz Xavier Macedo da Luz Bisneta


Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação
(PPGE), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na Linha de Pesquisa
em Educação Popular. Graduação em Letras, com habilitação em Língua Por-
tuguesa, pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: bia.xxavier@
gmail.com

Bruna Kedman Nascimento de Souza Leão


Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Espe-
cialista em Psicopedagogia Institucional pelo Centro Integrado de Tecnologia
e Pesquisa (CINTEP). Atualmente é mestranda em Educação na UFPB e Bol-
sista CAPES/FAPESQ - BRASIL. E-mail: brunakedmanl@gmail.com

Déborah Kallyne Santos da Silva


Graduada em Psicopedagogia pela Universidade Federal da Paraíba, especia-
lista em Neuropsicopedagogia e Educação Especial e Mestranda em Educação
pela Universidade Federal da Paraíba na linha de Pesquisa Políticas Educacio-
nais (PPGE-UFPB), Pesquisadora em Educação, Políticas Públicas e o Mundo
do Trabalho, da Universidade Federal da Paraíba, Psicopedagoga do Municí-
pio de Lagoa de Dentro - PB. E-mail: kall.ld@hotmail.com

Eduardo Jorge Lopes da Silva


Doutor em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco. Mestre e Pe-
dagogo pela Universidade Federal da Paraíba. Professor lotado no Departa-
mento de Fundamentação da Educação/Centro de Educação/UFPB. Professor
permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE/CE/UFPB).
Membro do Comitê Científico ASESOR da Aliança Iberoamericana de Enfer-
midades Raras (ALIBER), Tortana/Murcia/Espanha. Líder do Grupo de Es-
tudos e Pesquisas Educação de Jovens e Adultos e Diversidade (GEPEJAD/
CNPq/UFPB) E-mail: eduardojorgels@gmail.com

Flávia Mayara Félix Dantas


Licenciada em Letras Língua Portuguesa e Literatura pela Universidade Fede-
ral do Rio Grande do Norte (UFRN). Especialista em Literatura e Ensino pelo
Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN); Graduanda em Pedagogia-
-Licenciatura pela UFRN; Especializanda em Ensino de Língua Portuguesa e

246
Matemática numa perspectiva transdisciplinar pelo IFRN. Mestranda do Pro-
grama de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB). E-mail: finha_flavinha@hotmail.com

Francisca Natália da Silva Ramos


Bacharel em psicologia pelo Centro Universitário Doutor Leão Sampaio,
como bolsista do Programa Universidade para Todos (PROUNI). Pós-
-graduada em Docência do ensino superior pela Faculdades Integradas
de Patos. Militante do movimento social Levante Popular da Juventude,
com a função de coordenação da frente de mulheres do movimento e
célula territorial. Experiência profissional na área da educação e clínica.
E-mail:nataliaramospsi@gmail.com

Géssica Mayara de Oliveira Souza


Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba, Mestranda em
Educação pela Universidade Federal da Paraíba na linha de Pesquisa Políticas
Educacionais (PPGE-UFPB). Pesquisadora em Currículo e Práticas Educati-
vas – Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Curriculares
(GEPPC-UFPB). E- mail: gessicamayara04@gmail.com

Iranir Pontes Silva


Licenciada em Matemática pela Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG). Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Univer-
sidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: iranir-bsr@live.com

Jailson Batista dos Santos


Mestrando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação
(PPGE), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na Linha de Pesquisa
em Educação Popular. Graduação em Pedagogia com área de aprofundamento
em Educação do Campo pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Exten-
sionista em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) pela Universidade Federal da
Paraíba (UFPB). Integrante/Militante do Movimento LGBT da Paraíba/Movi-
mento do Espírito Lilás (MEL). Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisa
em Educação Superior e Sociedade (GEPESS/UFPB). E-mail: jaylsonbatysta@
gmail.com

João Djane Assunção da Silva


Bacharel em Comunicação Social com linha de formação em Educomunica-

247
ção pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Mestrando do
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraí-
ba (UFPB). E-mail: joaodjane@gmail.com

José Rodolfo do Nascimento Pereira


Graduado em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mes-
trando do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE) inserido na Li-
nha de Pesquisa dos Estudos Culturais da Educação, membro do Grupo de
Estudos de Gênero e Sexualidade(s) o GESSEX sob a coordenação da profª
draª Jeane Félix da Silva e professor da educação básica; busco pesquisar no
mestrado como o currículo como dispositivo pode (re)produzir, (re) articular
as aprendizagens sobre corpo, gênero e sexualidade(s) na educação. E-mail:
rodolfonp2016@gmail.com

Josilene Rodrigues da Silva


Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba-UFPB (2014) e
especialista em Gênero e Diversidade na Escola -GDE (2015) também UFPB.
Possui experiência com formação de professores. Atualmente é aluna do Pro-
grama de Mestrado em Educação pela Universidade Federal da Paraíba e atua
como monitora de oficinas pedagógicas no Ponto de Cultura da Paraíba no
município de Bananeiras-PB. E-mail: josi-rodrigues69@hotmail.com

Juliana Maia Tavares


Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba, Graduada em
Processos Gerencias pela Faculdade Estácio da Paraíba, Pós-graduada em Edu-
cação Global pela FESPE, Pós-graduanda em Docência do Ensino Superior
pela Faculdade Estácio da Paraíba e mestranda em Educação pela Universida-
de Federal da Paraíba, Coordenadora da Faculdade Estácio da Paraíba, Profes-
sora da Escola Constructor Sui Sistema de Ensino, Pesquisadora em Avaliação
da Educação Superior – (GAES – UFPB). E-mail: jmaiatavares@gmail.com

Lívia Maria Montenegro Lins


Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Atual-
mente, mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educa-
ção da UFPB. E-mail: liviamontenegro@gmail.com

Marcilane da Silva Santos


Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação
(PPGE), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na Linha de Pesquisa

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em Educação Popular. Graduação em Fisioterapia pela Universidade Federal
da Paraíba (UFPB). Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Extensão Popular
(EXTELAR/UFPB). E-mail: marcilane.santos@gmail.com

Marcondes dos Santos Lima


Mestrando em Educação, em específico, na linha de pesquisa História da
Educação pela Universidade Federal da Paraíba e Bolsista da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.(CAPES)/Fundação de Apoio
a Pesquisa do Estado da Paraíba (FAPESQ) Brasil - Licenciado em Pedagogia
pelo Centro de Educação da Universidade Federal de Alagoas (2018). Inte-
grante do Grupo de Estudo e Pesquisa História da Educação, Cultura e Lite-
ratura (GEPHECL) do Centro de Educação - UFAL. Integra também os gru-
pos de pesquisa: História da Educação no Nordeste Oitocentista (GHENO) e
História da Educação da Paraíba (HISTEDBR/PB), Ambos da UFPB. Possui
estudo sobre Educação, Instituições Escolares, Sujeitos Escolares e Cultura Es-
colar; e Fundamentos Historiográficos no Ensino de História nos anos iniciais.
E-mail: mcds1@outlook.com

Maria Liliane Santos da Silva


Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Es-
pecialista em Ciências da Linguagem com ênfase no Ensino de Língua Portu-
guesa (CLELP) pela UFPB virtual; Especialista em Educação para as Relações
Étnico-Raciais na Educação Infantil pela Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB). Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Univer-
sidade Federal da Paraíba (UFPB). E-mail: lilisantosufpb@gmail.com

Maria Selma Santos de Santana


Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação
(PPGE), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na Linha de Pesquisa
em Educação Popular. Graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia, com
habilitação em Supervisão e Orientação escolar, pela UFPB. Especialista em
Educação Profissional Integrada a modalidade de Educação de Jovens e Adul-
tos (EJA) pela UFPB. Professora da Educação Básica da Rede Municipal de
Ensino de João Pessoa e da Rede Municipal de Ensino de Sapé/Paraíba. Inte-
grante do Grupo de Pesquisa Educação de Jovens e Adultos e Educação Po-
pular: a Pesquisa a Serviço da Prática Educativa (UFPB). E-mail: professora.
selminha@gmail.com

249
Maria Thaís de Oliveira Batista
Graduada em Pedagogia (UFCG), atualmente mestranda em educação
(UFPB), especialista em Docência do Ensino Superior (IESMIG), especialista
em Educação Infantil e Anos Iniciais (IESMIG). Atualmente é professora da
Faculdade São Francisco da Paraíba e Formadora da Educação Infantil do Mu-
nicípio de Cajazeiras/PB. E-mail: thaisoliveirabst@gmail.com

Nívea Maria do Nascimento da Silva


Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação
(PPGE), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), da Linha de Pesquisa de
Educação Popular. Graduação em Letras Português pela Faculdade Evangélica
Cristo Rei (2013) e graduação em Pedagogia - Licenciatura Plena pela Univer-
sidade Estadual Vale do Acaraú, UVA-CE, Sobral, Brasil (2005). Pesquisadora
do grupo de pesquisa Educação Popular e Movimento Sociais do Campo, da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professora da Rede Pública de En-
sino da Prefeitura Municipal de Mari - PB. E-mail:niveasilva.pb@outlook.com

Rafaela Maria e Silva Ferreira


Graduada em Direito, graduanda em Pedagogia e mestranda da Linha de Es-
tudos Culturais da Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação,
tendo toda sua trajetória acadêmica desenvolvida na Universidade Federal da
Paraíba (UFPB). É membro do Grupo de Estudos de Gênero e Sexualidade(s)
(GESSEX) e do Grupo de Pesquisa do CNPq Gênero, Educação, Diversidade e
Inclusão (GEDI). Desenvolve pesquisa no campo da Educação, Ensino Supe-
rior, Gênero, Diversidade(s) e Estudos Culturais da Educação. E-mail: rafaela-
mariaferreira@gmail.com

Rosilda Santos do Nascimento


Licenciada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Mes-
tranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal
da Paraíba (UFPB). E-mail: rosildaanizio@gmail.com

Rossana Farias Queiroz Ferrer


Graduada em Ciências Biológicas (2008), possui Especialização em Educação
Ambiental (2010), Graduanda em Pedagogia pela UFPB (2018) e Mestranda
em História da Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação –
PPGE, na Universidade Federal da Paraíba – UFPB. E-mail: rossanafs@hot-
mail.com

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Tiago Licarião de Melo
Mestrando em História da Educação pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação – PPGE, na Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Desenvolve
pesquisas sobre os Manuais de Filosofia do séc. XIX no Brasil Imperial e Pri-
meira República. Graduado no curso de Licenciatura Plena em História pela
UPE - Universidade de Pernambuco, Campus Nazaré da Mata (2013). Possui
Pós-Graduação em Metodologia do Ensino de História e Geografia e Comple-
mentar Magistério Superior. Atualmente é Graduando no Curso de Bacharela-
do em Ciências Sociais pela UFRPE - Universidade Federal Rural de Pernam-
buco. Cursa licenciatura em Filosofia pela Uninter – Centro Universitário /PR
na modalidade educação EAD. E-mail: tiagolicariao@hotmail.com

Walquiria Nascimento da Silva


Graduada em Letras-Libras pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Es-
pecialista em Língua Brasileira de Sinais pela Sociedade Educacional de Santa
Catarina (SOCIESC). Atualmente, mestranda em Educação pelo Programa de
Pós-graduação em Educação da UFPB. E-mail: wal_ns@hotmail.com

Ynakam Luis de Vasconcelos Leal


Possui graduação em Licenciatura em Geografia pela Universidade Estadual
da Paraíba (2011). Especialização em Educação Continuada. Atualmente é
professor efetivo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da
Paraíba (IFPB, Coordenador de Formação Geral no Campus Avançado Ca-
bedelo Centro (CACC). Mestrando em Educação no PPGE-UFPB na linha de
Educação Popular, membro pesquisador do Observatório da Educação Popu-
lar (UFPB). Tem experiência na área de Geografia, com ênfase em Educação.
E-mail; ynakam.leal@ifpb.edu.br

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