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A PESQUISA EM POLÍTICA EDUCACIONAL: CARACTERÍSTICAS EPISTEMOLÓGICAS DE TESES NO PERÍODO DE 2013 A 2016. View project
All content following this page was uploaded by Altair Alberto Fávero on 05 May 2023.
ABORDAGENS
DIVERSIFICADAS
dos Temas Urgentes na
Educação Contemporânea
Ijuí
2023
2023, Editora Unijuí Rua do Comércio, 3000
Bairro Universitário
Editor 98700-000 – Ijuí – RS – Brasil
Fernando Jaime González
Diretora Administrativa (55) 3332-0217
Márcia Regina Conceição de Almeida
Capa editora@unijui.edu.br
Alexandre Sadi Dallepiane
Responsabilidade Editorial, www.editoraunijui.com.br
Gráfica e Administrativa
Editora Unijuí da Universidade Regional
do Noroeste do Estado do Rio Grande do fb.com/unijuieditora/
Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil)
Conselho Editorial instagram.com/editoraunijui/
• Fabricia Carneiro Roos Frantz
• João Carlos Lisbôa
• Vânia Lisa Fischer Cossetin
Apoio:
Catalogação na Publicação:
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
A154
Abordagens diversificadas dos temas urgente na educação contemporânea
[recurso eletrônico] / organizadores Maria Cristina Pansera-de-Araújo … [et
al.]. – Ijuí : Ed. Unijuí, 2023. 311 p. ; 30 cm. – (Coleção educação em ciências).
Formato digital.
ISBN 978-85-419-0361-5 (digital)
1. Educação contemporânea. 2. Formação docente. 3. Formação continua-
da. 4. Tecnologias da educação. I. Araújo, Maria Cristina Pansera-de.
CDU: 376
Bibliotecária Responsável:
Cristina Libert Wiedtkenper
CRB 10/2651
A Coleção EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS da Editora Unijuí constitui-se em novo esforço para
ampliar a divulgação de trabalhos que se preocupam com a melhora das condições do
ensino das Ciências Naturais e que tenham como foco a formação de professores e pro-
fessoras em todos os níveis da escolarização. Com o crescimento da Pós-Graduação das
áreas da Educação e do Ensino em Ciências e Matemática, aumentou muito o número
de trabalhos que podem contribuir para a formação inicial e continuada dos professores
da área científica, nos diversos campos que compõem os conhecimentos necessários ao
exercício do magistério. Assim, poderão ser publicados livros que tratam de inovação
e produção curricular na área das Ciências Naturais, formação de professores, temas
específicos de formação – aprofundamento de conhecimentos sobre os quais os pro-
fessores são sempre inquiridos e textos de divulgação científica –, aspectos de teorias
de ensino e aprendizagem que sustentam novas abordagens curriculares e metodolo-
gias de pesquisa em educação científica, temas transversais que circundam as Ciências
Naturais – questões ambientais, sexualidade humana, diversidade cultural e outros.
Para a escolha e avaliação de originais é proposto Conselho Editorial interinstitucional
representativo da área.
Conselho Editorial:
Décio Auler (UFSM, RS)
Demétrio Delizoicov (UFSC)
Elizabeth Macedo (UERJ, RJ)
Flávia Maria Teixeira dos Santos (UFRGS, RS)
João Batista Harres (PUC, RS)
Lenir Basso Zanon (Unijuí, RS)
Leonardo Fabio Martinez Pérez (UPN – Colômbia)
Luiz Marcelo de Carvalho (Unesp, SP)
Marcelo Giordan (USP)
Maria do Carmo Galiazzi (Furg, RS)
Maria Emília Caixeta de Castro Lima (UFMG, MG)
Maria Ines Copello (Universidade de Montevideo)
Milton Antonio Auth (UFU)
Olival Freire Jr (Ufba, BA)
Rejane Maria Ghisolfi da Silva (UFSC)
Sílvia Chaves (Ufpa, PA)
Comitê Editorial:
Fernando Jaime González (Editora Unijuí, RS)
Otavio Aloisio Maldaner (Unijuí, RS)
Maria Cristina Pansera-de-Araújo (Unijuí, RS)
Diessica
Que a sua falta mova nossos desejos
Que nossas lágrimas não borrem
as boas lembranças
Nem apaguem os sonhos desta jovem
Que caberá a nós qualificar e defender.
FORMAÇÃO DOCENTE:
Desafios e Demandas da Formação
de Professores na Contemporaneidade.................................................194
Francieli Meotti Oliveira
Sidinei Pithan da Silva
RELACIÓN PROFESOR-ESTUDIANTE:
La Violencia Simbólica Como Aspecto Constitutivo del Tema................222
Alisson Vercelino Beerbaum
Eva Terezinha de Oliveira Boff
Maria Cristina Pansera-de-Araújo
Edi Branco da Silva
EM DEFESA DA PALAVRA:
Linguagem, Educação, Psicanálise e Democracia...................................242
Emanuel dos Santos
Luiz Felipe Vieira Amaral
Patrícia Feiten Pinto
PRÁTICAS INCLUSIVAS MEDIADAS PELAS TECNOLOGIAS DIGITAIS
DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA ÓTICA DOS PROFESSORES
DO ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO.........................250
Claudia Escalante Medeiros
Paula Vanessa Bervian
AS CIÊNCIAS HUMANAS NA ESCOLA, A FORMAÇÃO
PARA A CIDADANIA E AS DESIGUALDADES SOCIAIS:
Um Olhar Para a Escola Pública.............................................................. 259
Carina Copatti
Carla Riethmüller Haas Barcellos
Cláudia Eliane Ilgenfritz Toso
A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DA ESCOLA
BÁSICA EM CONTEXTO DE EDUCAÇÃO HÍBRIDA:
Desafios do Ensino e Potencialidades Formativas a Partir
das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs)............268
Maria Regina Johann
Sirlei Rigodanzo
Franciele da Silva dos Anjos Strohhecker
Sabrina Corrêa da Silva
EDUCACIÓN EN CIENCIAS Y CIUDADANÍA AMBIENTAL:
Un Encuentro Plural con Numerosos Retos y Oportunidades................277
Mónica Ofelia García Calvo
Isabel Garzón Barragán
MUSICALIZAÇÃO NA CRECHE:
De Que Forma é Trabalhada a Música com Crianças de 0 a 2 Anos?.....289
Adriana Silveira Campanharo
Mário Sergio Vasconcelos
Mariana Gallon
Vilma Aparecida Bianchi
CONSTITUIÇÃO DE ESPAÇOS INTEGRATIVOS DO PROCESSO DE
FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO CONTEXTO DA LICENCIATURA...298
Taiz Speroni
Adão Caron Cambraia
Renira Carla Soares
Lenir Basso Zanon
POSFÁCIO – O DESAFIO DA EDUCABILIDADE CIENTÍFICA.................. 307
Altair Alberto Fávero Gepes
PARA ALÉM DA EFICIÊNCIA E DA EFICÁCIA:
Em Defesa de uma Cultura Humanista Como Antídoto
ao Empresariamento da Educação
INTRODUÇÃO
A educação, no modelo empresarial, é compreendida como um
investimento para o rendimento individual. Autores como Laval (2003),
Dardot e Laval (2016), Masschelein e Simons (2018), Pacheco (2003),
Martins (2016), entre outros, já apresentaram detalhados diagnósticos da
incursão da ideologia empresarial sobre a educação. Os problemas dessa
incursão são variados: o aprisionamento da educação formal ao capital
econômico mundial, a redução da escola e da universidade à formação
para o emprego, a transformação do conhecimento em fator de produção
e, ainda, a fragmentação da cultura humanista e a ascensão de uma subje-
tividade empresarial. Ao empregar a terminologia “ideologia empresarial
1
PhD pela Universidad Autónoma del Estado de México, doutor em Educação pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul, graduado em Filosofia Licenciatura Plena pela Universidade de Passo Fundo.
Atualmente é professor titular III e pesquisador da Universidade de Passo Fundo. favero@upf.br
2
Doutorando em Educação pelo PPGEdu/UPF. Mestre em Educação pelo PPGEdu/UPF. Especializa-
ção em Espiritualidade pela Itepa Faculdades; Licenciatura em Filosofia pela UPF (2016). junior.
centenaro@bol.com.br
3
Graduado em Filosofia (bacharelado) pelo Instituto Superior de Filosofia Berthier. Licenciatura
plena em Filosofia na Universidade de Passo Fundo. Mestre em Educação no Programa de Pós-
-Graduação em Educação da Universidade de Passo Fundo. antoniops1993@gmail.com
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Altair Alberto Fávero – Junior Bufon Centenaro – Antonio Pereira dos Santos
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Uma versão anterior da versão dos tópicos a seguir foi publicada pelos autores Fávero, Centenaro
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Essa visão utilitarista e pragmática de educação se faz sentir no atual cenário das políticas edu-
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modelo para a educação de base e cujo efeito mais certo é uma produção
de desigualdades entre aqueles que dela mais se beneficiam, os chefes, e
aqueles que dela menos se aproveitam, os assalariados”.
A transformação do conhecimento em mercadoria e em fator de
produção também pode ser percebido na configuração das “universidades-
-empresas” ou nas “novas indústrias do saber”. Conforme análise de Laval
(2003, p. 33), as instituições de educação superior estão se tornando “um
novo campo de acumulação do capital, com transformação das universi-
dades em indústrias de produção do saber eficaz” em que “a produção
do conhecimento e o próprio saber” passam a ser modelados como uma
espécie de “capitalismo universitário”, onde “toda a cadeia de produção
dos conhecimentos” passa a “se transformar segundo os imperativos de
valorização do capital”. Neste percurso, “a pesquisa universitária” transfor-
ma-se em uma “produção de bens submetidos ao regime de direitos de
propriedade e comerciáveis no mercado”, gerando com o tempo “uma sub-
versão das relações entre empresas e universidade”. Neste cenário, observa
Laval (2003, p. 34), os laboratórios que desenvolvem pesquisa de ponta se
transformam em “centros de aproveitamento”, “as universidades criam
filiais privadas encarregadas de comercializar as patentes e operar investi-
mentos financeiros”, as “parcerias com a indústria se multiplicam” e onde
“os riscos e os custos permanecem amplamente socializados” enquanto
que “os benefícios são privatizados”. Como consequência deste processo,
temos um “profundo desequilíbrio entre a “pesquisa comercializada” e
as atividades pedagógicas” que passam a ser reduzidas ao mínimo, onde
“vários pesquisadores se desinteressam pelo ensino”, “departamentos mais
afastados das atividades rentáveis viram seus meios diminuir rapidamente,
baixar os salários e aumentar o número de alunos por curso” (Laval, 2003,
p. 34).
Outro efeito perverso dessa instrumentalização mercantilista da
educação analisada por Laval (2003, p. 36) se faz sentir na forma como se
precariza o trabalho docente impondo “aos professores normas pedagógi-
cas sob a forma e a base de produtos pedagógicos cada vez mais calibrados
e aumentar sua carga de trabalho”, em vista da acumulação de capital.
“Esses ‘produtos’ pedagógicos comercializados”, ressalta Laval (2003, p.
36), “escapam ao domínio dos produtores e podem circular sob o único
controle da administração como mercadorias rotuladas pela instituição
universitária”. As consequências deste processo ainda não são amplamente
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O próprio Laval (2003, p. 37) cita como exemplo o fato de que a “Nike ‘suspendeu’ recentemente
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seu suporte financeiro a três universidades (Michigan, Oregon e Brown) sob o pretexto de que
seus estudantes haviam criticado algumas de suas práticas em países pobres, em particular no
tocante ao emprego de crianças”.
O campo de investigação de Nussbaum não se restringe apenas aos Estados Unidos. A filósofa
7
conhece o sistema educacional da Índia, país em que desenvolveu trabalhos de pesquisa ao lado
de Amartya Sen, vencedor do Prêmio Nobel de Economia; e também apresentou dados a partir
de pesquisas na Alemanha, Suécia e Inglaterra. Embora diversos entre si, em termos históricos,
culturais e políticos, em todos esses países a autora observa a submissão da educação ao lucro.
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Essa tendência ficou explícita nos discursos oficiais durante a tramitação da Reforma do Ensino
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Médio no Brasil, entre 2016 e 2017. Por exemplo, o senador Pedro Chaves (PSC-MS) – relator
da Reforma no Senado Federal – afirmou que a reforma “muda radicalmente a cara do Ensino
Médio” e as “disciplinas hoje são engessadas e fragmentadas, o que torna as aulas maçantes e
provoca evasão escolar”. Além disso, o senador afirmou que o novo Ensino Médio representa
uma adequação a uma agenda internacional “em que a educação é uma fonte de desenvolvi-
mento econômico e social” (Torres, 2017).
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De acordo com Nussbaum, pesquisas empíricas desenvolvidas por Jean Drèze e Amartya Sen no
início dos anos 2000 mostram que o progresso econômico de um país não está necessariamente
associado à igualdade distributiva e social, à qualidade das relações de gênero, à qualidade de
vida e à própria democracia. Na África do Sul, por exemplo, o período de maior expansão eco-
nômica foi aquele do apartheid. A China é um país em constante ascensão econômica, porém a
liberdade política e a democracia não são garantidas. Na Índia, alguns Estados (Gujarat e Andhra
Pradesh) adotaram um desenvolvimento econômico baseado em investimentos externos, “pouco
fazendo pela saúde, pela educação e pela condição dos pobres”, enquanto outros (Kerala, Déli
e Bengala Ocidental) “adotaram estratégias mais igualitárias, tentando assegurar que a saúde e
a educação estejam disponíveis para todos” (Nussbaum, 2015, p. 14-15).
10
Na economia, Amartya Sen, um dos maiores interlocutores de Nussbaum, tem trabalhado e
alargado a noção de “desenvolvimento” para além da esfera econômica, em Desenvolvimento
como liberdade (2000) e Desigualdade Reexaminada (2001).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A concepção de educação empresarial que coloniza a escola e a
universidade, que transforma a própria educação numa mercadoria e num
insumo econômico, pauta-se pelo ideário neoliberal da eficiência e da efi-
cácia. A lógica é a do produzir, comercializar e consumir; o conhecimento,
bem como a ação pedagógica, passam a circular nessa órbita, legitimando
uma “cultura útil” em detrimento de uma cultura ampliada, humanística
e democrática. Os autores que foram requisitados para este estudo nos
mostram esse preocupante diagnóstico da deterioração da educação como
direito humano de apropriação e recriação da cultura. A concepção de
educação funcional e utilitária, difundida e legitimada pelas políticas educa-
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REFERÊNCIAS
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