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ORGANIZADOR
Conhecimento e Formação
no Mestrado Profissional em
Educação Física
Escolar
(ProEF)
Coleção Educação Física
Conhecimento e Formação
no Mestrado Profissional em
Educação Física
Escolar
(ProEF)
Ijuí
2023
2023, Editora Unijuí Rua do Comércio, 3000
Bairro Universitário
Editor 98700-000 – Ijuí – RS – Brasil
Fernando Jaime González
Diretora Administrativa (55) 3332-0217
Márcia Regina Conceição de Almeida
Capa editora@unijui.edu.br
Alexandre Sadi Dallepiane
Imagem de capa:
www.freepik.com www.editoraunijui.com.br
Responsabilidade Editorial,
Gráfica e Administrativa fb.com/unijuieditora/
Editora Unijuí da Universidade Regional
do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil) instagram.com/editoraunijui/
Catalogação na Publicação:
Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí
C749
Conhecimento e formação no Mestrado Profissional em Educação física escolar
[recurso impresso e eletrônico] / organizador Sidinei Pithan da Silva. – Ijuí : Ed. Unijuí,
2023. 190 p. ; il. - (Coleção Educação Física)
Formato impresso e digital.
ISBN 978-85-419-0352-3 (impresso)
ISBN 978-85-419-0353-0 (digital)
1. Formação e pesquisa. 2. Educação física escolar. 3.Mestrado profissional. 4.
Formação continuada. I. Silva, Sidinei Pithan da.
CDU: 37:796
Bibliotecária Responsável:
Cristina Libert Wiedtkenper
CRB 10/2651
A coleção Educação Física é um projeto editorial da Editora Uni-
juí, vinculado a um conselho editorial interinstitucional, que visa a dar
publicidade a pesquisas que buscam um constante aprofundamento da
compreensão teórica desta área que vem constituindo sua reflexão concei-
tual, bem como os trabalhos que garantam uma maior aproximação entre
a pesquisa acadêmica e os profissionais que encontram-se nos espaços
de intervenção. Promover este movimento é sem dúvida o maior desafio
desta coleção.
Conselho Editorial
Carmen Lucia Soares – Unicamp
Mauro Betti – Unesp/Bauru
Tarcisio Mauro Vago – UFMG
Amauri Bassoli de Oliveira – UEM
Giovani De Lorenzi Pires – UFSC
Valter Bracht – Ufes
Nelson Carvalho Marcellino – Unicamp
Paulo Evaldo Fensterseifer – Unijuí
Vicente Molina Neto – UFRGS
Elenor Kunz – UFSC
Victor Andrade de Melo – UFRJ
Silvana Vilodre Goellner – UFRGS
Comitê de Redação
Paulo Evaldo Fensterseifer
Fernando González
Maria Simone Vione Schwengber
Sidinei Pithan da Silva
Sumário
Carta-Prefácio................................................................................................... 9
Fernando Jaime González
Apresentação................................................................................................... 15
Sidinei Pithan da Silva
Capítulo 1
Conhecimento, Formação e Pesquisa em Educação Física Escolar:
A Experiência do Mestrado Profissional em Rede no Proef/Unijuí........................ 17
Sidinei Pithan da Silva, Paulo Evaldo Fensterseifer, Fernando Jaime González,
Maria Simone Vione Schwengber, Paulo Carlan
Capítulo 2
O Protagonismo Docente Como Fio Condutor
do Processo Formativo no Proef/UFMT................................................................ 31
José Tarcísio Grunennvaldt, Ana Carrilho Romero Grunennvaldt, Evando Carlos Moreira,
Cleomar Ferreira Gomes, Márcia Cristina Rodrigues da Silva Coffani
Capítulo 3
O Mestrado Profissional em Educação Física na Universidade Federal de Goiás:
Uma Análise Sobre a Instituição do Programa e da Produção do Saber na Turma
2018-2020.......................................................................................................45
Tathyane Krahenbühl, Humberto Luís de Deus Inácio, Ana Márcia Silva,
Flórence Rosana Faganello Gemente
Capítulo 4
A Construção de Saberes Docentes no Âmbito do Proef/UnB:
Mediação, Interdisciplinaridade e Metodologias................................................ 57
Alexandre Rezende, Rosana Amaro, Alfredo Feres Neto, Jaciara Oliveira Leite,
Jonatas Maia da Costa, Edson Marcelo Húngaro, Alexandre Jackson Chan-Vianna,
Pedro Fernando Avalone Athayde, Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo,
Ingrid Dittrich Wiggers
Capítulo 5
Professor(a)-Pesquisador(a) e o Aprender na e com a Ação:
A Experiência de Formação e Pesquisa do Proef Unesp Bauru............................. 75
Willer Soares Maffei, Andresa de Souza Ugaya, Milton Vieira do Prado Junior,
Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger, Márcio Pereira da Silva, Luciene Ferreira da Silva
Capítulo 6
O Mestrado Profissional em Educação Física em Rede (Proef):
Um Diálogo com a Experiência da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte.....................................................................................91
Aguinaldo Cesar Surdi, Antônio de Pádua dos Santos, Elizabeth Jatobá Bezerra,
Maria Aparecida Dias, Marcio Romeu Ribas de Oliveira
Capítulo 7
Conhecimento e Intervenção na Área da Educação Física Escolar:
As Aproximações Existentes no Núcleo da Universidade de Pernambuco........... 103
Ana Rita Lorenzini, Lívia Tenório Brasileiro, Marcelo Soares Tavares de Melo, Marcílio Souza Júnior
Capítulo 8
Formação Continuada e Ação Docente:
Caminhos, Textos e Contextos na Primeira Turma
de Mestrado Profissional Proef/UEM................................................................ 119
Antonio Carlos Monteiro de Miranda, Vânia de Fátima Matias de Souza,
Luciane Cristina Arantes, Claudio Kravchychyn
Capítulo 9
O Processo Formativo do Proef:
Mudando o Rumo da História e Impactando Vidas............................................ 127
Denise Ivana de Paula Albuquerque, Luiz Rogério Romero
Capítulo 10
Uma Experiência Colaborativa no Proef:
Reflexões Sobre a Parceria Entre Unesp-Rio Claro e UFScar................................137
Osmar Moreira de Souza Júnior, Daniela Godoi-Jacomassi, Fernanda Moreto Impolcetto,
Flávio Soares Alves, Nathan Raphael Varotto, Yara Aparecida Couto, Glauco Nunes Souto Ramos
Capítulo 11
Mestrado Profissional em Educação Física na EEFFTO/UFMG:
Alguns Elementos para Repensar Relações entre Universidade, Escola Básica
e Formação Continuada de Professores/as de Educação Física...........................155
Admir Soares de Almeida Júnior, José Angelo Gariglio
Capítulo 12
Gestão de Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Rede:
O Proef como Foco .......................................................................................... 165
Denise Ivana de Paula Albuquerque, Maria Candida Soares Del-Masso,
Andréia de Carvalho Lopes-Fujihara
Posfácio......................................................................................................... 181
Amauri Aparecido Bassoli de Oliveira
Prezada Suraya, como está? Espero que estas linhas a encontrem bem.
Por meu lado, tudo certo. Apenas a correria de sempre. Aliás, algo que você pressagiou,
lá na Unesp, por volta de 2011 a poucos meses de ter defendido meu Doutorado e por ocasião
de alguma atividade acadêmica realizada em Rio Claro. Lembra-se?
Bom, escrevo para contar com satisfação que fui convidado para prefaciar a primeira
obra coletiva do Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional. Sim! O outrora
projeto de Mestrado Profissional, materializando-se em inúmeras dimensões e, neste caso, num
livro.
O título da obra muito já diz da empreitada, “Conhecimento e Formação no Mestrado
Profissional em Educação Física Escolar (Proef )”, organizado pelo meu colega da Unijuí e
amigo Sidinei Pithan da Silva, com a participação muito ativa das atuais coordenadoras do curso,
Denise Ivana de Paula Albuquerque e Maria Cândida Del-Masso, professoras da Unesp, Campus
de Presidente Prudente. O livro está organizado em 12 capítulos, próximo do número de 11
instituições e 13 núcleos que compunham no início o Mestrado em rede. Hoje são 20 núcleos
e 18 universidades! Sim, a rede está se ampliando, como imaginamos lá em 2015 quando a
primeira lista tinha algo mais de 25 instituições distribuídas em todas as regiões do país. Lembro
quanto foi duro fazer uma revisão minuciosa das propostas institucionais para atender aos
critérios da Área 21 e garantir que o Aplicativo para Proposta de Cursos Novos (APCN) fosse
aprovado pela Capes. Dias tensos aqueles, não é??
Voltando à obra, os capítulos não têm necessariamente a mesma organização, mas
os primeiros se parecem mais em relação à estrutura do texto. Em linhas gerais, entrelaçam
reflexões mais amplas sobre os desafios da Educação Física na contemporaneidade e a descrição
da instalação do Proef em cada polo. Na descrição da instauração do curso em geral há um
destaque à produção científica dos mestrandos, mas também cada grupo de autores enfatizou
aspectos específicos da experiência. Nesse sentido, o livro converte-se num abanico de olhares
sobre os primeiros passos do curso, mas também não deixa de assumir um certo caráter de
registro histórico que poderá ser revisado no futuro para entender os primeiros passos deste
belo projeto.
Na linha da produção dos capítulos, é importante mencionar que a maioria tem
diversos autores de cada instituição, o que, por um lado, é sinal do trabalho em colaboração
dos professores dos polos, aspecto que consideramos sempre como fundamental no caso de
instituição do Proef. Defendemos na época da elaboração do projeto e continuo a pensar da
mesma forma, que diferentemente da organização dos programas de Pós-Graduação acadêmicos
9
CARTA-PREFÁCIO
Fernando Jaime González
da área, caracterizados por uma maior independência dos professores em relação a um projeto
coletivo, um Mestrado Profissional com foco na educação básica exige dos professores do
programa um esforço permanente de se entenderem sobre o papel da Educação Física na
escola e a função desta em sociedades democráticas e republicanas. Por outro lado, não é difícil
notar que na lista de 52 autores encontra-se um número importante de professores com longa
trajetória acadêmica e aportes significativos ao campo da Educação Física, como também a
participação de representantes de uma nova geração de docentes universitários que terão a
responsabilidade de continuar propiciando o desenvolvimento de uma Educação Física valiosa
para todos os alunos da Educação Básica brasileira.
Não vou dar um spoiler sobre o livro, a ideia é que você consiga um tempo para ler
com atenção cada capítulo. Sem dúvidas, vale o investimento. Ainda assim, vou comentar
rapidamente alguns aspectos que me chamaram a atenção, particularmente, quando tomo
como pano de fundo nossas conversas e discussões com diferentes envolvidos na elaboração
do projeto do curso e os desafios que entendo que mobilizam os pesquisadores da Educação
Física escolar. Apenas para você lembrar:
a) Formular um sentido para a Educação Física articulada à função social da escola, no
contexto de uma sociedade democrática e republicana – desafios de legitimação
ético-política.
b) Explicitar e organizar os conhecimentos pelos quais a disciplina é responsável –
desafios curriculares.
c) Elaborar estratégias para ensinar e avaliar velhos e novos conteúdos numa perspectiva
coerente aos propósitos da Educação Física como disciplina escolar, e a complexidade
do conhecimento pelo qual é responsável – desafios didáticos.
d) Articular de forma consistente a Educação Física com a área de Linguagens, bem
como na formulação de princípios epistemológicos e pedagógicos para o trabalho
com os demais componentes curriculares – desafios do trabalho interdisciplinar.
Em linhas gerais, o formato que combinou aulas presenciais e trabalhos a distância é
valorizado como importante, esse ponto aparece em vários capítulos. Entre outras coisas, porque
permitiu que muitos estudantes, após chegarem ao curso via prova nacional, fossem de lugares
afastados das respectivas sedes. Tem gente que viajou de muito longe para fazer o curso! Além
disso, permitiu que os mestrandos continuassem envolvidos em suas tarefas profissionais e
organizassem o estudo com maior flexibilidade.
Outro ponto importante que surge da leitura de alguns capítulos é que a proposta de
iniciar o curso a partir de uma reflexão sobre as Problemáticas da Educação Física Escolar foi
acertada. Lembro que essa decisão foi foco de discussão em vários momentos e até de uma
consulta a colegas da área na identificação dos problemas da Educação Física que necessitavam
de especial atenção. Também implicou a produção de seis textos diferentes e um conjunto de
tarefas pedagógicas. O bom de tudo isso é que dos relatos do livro, em mais de um núcleo, se
depreende que foi uma boa escolha!
10
CARTA-PREFÁCIO
Fernando Jaime González
1
Seja dito de passagem, um terço deles com bolsas! Não é a totalidade, como pleiteamos junto a Capes na época,
em conjunto com vice-reitor da Unesp Eduardo Kokubun, mas sem dúvidas essa possibilidade foi bem importante
para os contemplados.
11
CARTA-PREFÁCIO
Fernando Jaime González
A relação dos trabalhos apresentados nos diferentes núcleos, na maioria dos capítulos,
não deixa de ser um mapa inicial dessa produção científica. Por outro lado, fica o desafio para a
Coordenação Nacional junto com os coordenadores dos demais núcleos reunir num repositório
único todos os trabalhos produzidos, além de divulgar e buscar a sua articulação e socialização.2
A propósito deste último tema, seguramente você deve estar se perguntando se o Proef
mostra sinais de se encaminhar para aquilo que imaginamos em 2015:
Um dos “efeitos colaterais” que pode ser vislumbrado com a instituição do Proef
passa pela possibilidade de conectar professores de todo o país numa rede de
produção de conhecimento profissional com foco na Educação Física escolar. Rede
esta criada e sustentada institucionalmente com potencial para manter professores
vinculados a projetos colaborativos de formação continuada para além dos dois
anos que dura o Mestrado. Um dos tantos problemas que a maioria dos professores
enfrenta no cotidiano profissional diz respeito ao isolamento. Nas pesquisas que
estudam o contexto escolar são recorrentes as queixas dos docentes sobre a falta
de parcerias para discutir, avaliar, construir e intercambiar iniciativas vinculadas aos
desafios de ensinar Educação Física na escola, bem como enfrentar os dilemas que
essa instituição impõe a qualquer docente comprometido com sua função social.
Uma rede, como a planejada pelo Proef, pode se constituir numa alternativa a essa
situação (Darido; González, 2015, p. 181).3
Nesta obra não se aborda diretamente o projeto coletivo do Proef, como comentei,
centra-se mais na descrição do desdobramento da primeira turma em cada núcleo. Quem
sabe, todavia, podemos tomar esta produção como uma parte do esforço centrípeto que todos
os núcleos e professores das diferentes instituições deverão continuar fazendo ao longo do
programa para manter próximos e articulados tanto os mestres formados como os mestrandos,
facilitando o processo de legitimação do Proef como fonte de conhecimento pelos professores
da Educação Básica. Estou seguro que não será fácil, mas também estou igualmente confiante de
que desse esforço vai derivar o valor social do Proef para além dos benefícios individuais que gera.
Para finalizar esta conversa, quero aproveitar a oportunidade para lhe agradecer pela
oportunidade de trabalhar neste projeto com você, bem como manifestar minha satisfação em
poder te contar um pouquinho do valor de tudo o que produziu sua temperança a manter-se
firme na elaboração deste projeto, apesar dos reveses, por momentos infundados, na aprovação
do APCN do Proef. Algum dia teremos de falar um pouco mais sobre esse tema.
2
O site do https://www.fct.unesp.br/#!/pos-graduacao/-educacao-fisica/producoes-intelectuais/ tem os trabalhos
defendidos pelos estudantes da primeira turma, isso é muito importante. Em próximas etapas será necessário, na
minha perspectiva, ter um espaço virtual que permita tanto a socialização do material por temáticas, etapas de
ensino, unidades de conhecimento, como também servir de suporte para manter conectados mestres, mestrandos,
professores universitários e professores da Educação Básica.
3
Darido, S. C.; González, F. J. Pós-Graduação em Educação Física: a proposta do mestrado profissional em rede
(Proef ). In: RECHIA, S. et al. (org.). Dilemas e desafios da Pós-Graduação em Educação Física. Ijuí: Editora
Unijuí, 2015. p. 163-185.
12
CARTA-PREFÁCIO
Fernando Jaime González
Aliás, nas nossas próximas conversas, vamos falar um pouco sobre a sorte que correram
outros projetos em que trabalhamos juntos, como: Coleção Práticas Corporais e a Organização
do Conhecimento (Ministério do Esporte), Base Nacional Comum Curricular (Ministério da
Educação), Relatório Nacional de Desenvolvimento Humano do Brasil – 2017 (Programa de
Nações Unidas para o Desenvolvimento), uma vez que, como você sabe, eles atravessam-se
entre si e também se entretecem com o Proef. Claro, não se preocupe, vou fazer chegar a todos
os autores deste livro e, por seu intermédio, a todos os mestras e mestres da primeira turma do
Proef, uma saudação carinhosa e os parabéns por todo o trabalho desenvolvido.
Cara Suraya, lhe envio um forte abraço. Saudades.
13
Apresentação
15
Ca p í tul o 1
Introdução
O contexto de constituição de um Mestrado Profissional em Educação Física em
rede nacional nos desafia a pensar e configurar um marco epistemológico, metodológico
e pedagógico. De forma mais específica torna-se latente a necessidade de refletir sobre
a experiência em curso desde o lançamento do projeto em 2018. O modo de pensar este
acontecimento na Educação Física brasileira se dá a partir de seus atores, e de forma específica,
sobre como pensam e justificam a partir de seus lugares de ação a emergência de um programa
de Pós-Graduação que objetiva qualificar professores para atuar na Educação Básica.
Do ponto de vista da sua justificação e, da proposta pedagógica, o Mestrado Profissional
em Educação Física (Proef ) se constitui de um modo universal, com uma proposta bem
articulada, na qual a Universidade Estadual Paulista (Unesp) prefigura a coordenação da rede. No
que se refere à operacionalização, ou mesmo à gestão, e à reflexão sobre o sentido da proposta e
de sua operacionalização, cumpre destacar o espírito democrático e colaborativo que impulsiona
a instituição da proposta. Sob este aspecto, o texto que apresentamos constitui-se em um
esforço para explicitar a forma como as questões que envolvem o problema do conhecimento,
da pesquisa e da formação foram concebidas e desenvolvidas no Mestrado Profissional em rede
na Unijuí.
Cumpre, de forma particular, explicitar certos fundamentos teórico-metodológicos
acerca da construção do conhecimento no âmbito da pesquisa sobre a Educação Física Escolar
a partir da experiência do Mestrado Profissional em Educação Física, entre 2018-2021. Nesse
sentido, a abordagem aqui referida procura, em um primeiro momento, demonstrar certo
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CAPÍTULO 1 – CONHECIMENTO, FORMAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A EXPERIÊNCIA DO MESTRADO PROFISSIONAL EM REDE NO PROEF/UNIJUÍ
Sidinei Pithan da Silva – Paulo Evaldo Fensterseifer – Fernando Jaime González – Maria Simone Vione Schwengber –Paulo Carlan
entendimento acerca dos desafios que atravessam a Educação Física Escolar no Brasil, no cenário
de sua inserção na Educação Básica. Isso representa, em sentido pedagógico, em um segundo
momento, um ideal de formação que se coloca como baliza para pensar a formação dos/as
professores/as, durante a passagem pelo Mestrado, bem como para vincular a constituição de
conhecimento e da ótica da pesquisa, conforme as linhas de pesquisa do programa.
Em um terceiro momento, cumpre explicitar questões de método que ampararam a
elaboração das pesquisas e da construção dos produtos no polo. Movimento que nos leva a
evidenciar certo reconhecimento de compromisso com a mudança da realidade escolar da
Educação Básica. Em um quarto momento, tendo em vista esse panorama, cumpre apresentar
os temas e os enfoques que foram aprofundados no polo como formas de objetivações das
pesquisas. Em um quinto momento cabe argumentar acerca do valor da experiência e dos
enfoques que foram utilizados como matrizes fundantes do Mestrado Profissional em Educação
Física.
Figura 1 – Foto dos professores das primeiras turmas do Proef do núcleo Unijuí (maio de 2018)
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CAPÍTULO 1 – CONHECIMENTO, FORMAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A EXPERIÊNCIA DO MESTRADO PROFISSIONAL EM REDE NO PROEF/UNIJUÍ
Sidinei Pithan da Silva – Paulo Evaldo Fensterseifer – Fernando Jaime González – Maria Simone Vione Schwengber –Paulo Carlan
Em relação ao perfil do profissional a ser formado, espera-se que tais professores, que
lecionam Educação Física no Ensino Básico, tenham domínio da matéria e das metodologias
de ensino, inclusive das suas aplicações mais imediatas, bem como os instrumentos necessários
para envolver-se na produção permanente de práticas curriculares inovadoras. Nesse sentido,
dá continuidade aos objetivos de: propiciar a formação continuada em Educação Física, nível
de Mestrado, com formação humanista e crítica, com conhecimentos necessários para intervir
profissionalmente com competência técnica, sustentados em pressupostos científicos, na
reflexão filosófica e na conduta eticamente responsável, consciente de sua responsabilidade
no campo da educação formal.
Há um entendimento comum no polo Unijuí, de que a Educação Física brasileira teve
grandes avanços teóricos no campo pedagógico, por conta disso e pelas mobilizações políticas
da área, conquistou a condição de “disciplina escolar”, o que significa uma ruptura com uma
longa tradição que a manteve na condição de “atividade”, de um fazer descolado de um saber e
sem preocupações de uma relação de continuidade articulada com os objetivos dos diferentes
níveis de ensino da escola. Com base no exposto espera-se que o egresso desse curso seja
capaz de:
Aprofundar a compreensão da educação como direito fundamental do cidadão
e como instrumento de emancipação no contexto de uma sociedade que luta
para reparar as desigualdades de oportunidades em diferentes setores sociais;
Comprometer-se com a qualidade do trabalho pedagógico desenvolvido a partir
das premissas da Educação Física escolar, participando dos processos de elaboração,
implementação e avaliação do Projeto Político-Pedagógico da escola; Criar ações
inovadoras no sentido de atrair alunos, a comunidade e as instituições locais visando
fortalecer o comprometimento de todos com a educação de crianças e jovens;
Valorizar a atitude de investigação e o permanente processo de aperfeiçoamento
profissional por meio da geração de produtos científico-tecnológicos; Participar
em redes colaborativas de formação continuada integrada por pares na busca e
proposição de respostas aos desafios do trabalho docente.
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CAPÍTULO 1 – CONHECIMENTO, FORMAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A EXPERIÊNCIA DO MESTRADO PROFISSIONAL EM REDE NO PROEF/UNIJUÍ
Sidinei Pithan da Silva – Paulo Evaldo Fensterseifer – Fernando Jaime González – Maria Simone Vione Schwengber –Paulo Carlan
Esse entendimento significa que, a partir dos novos aportes teóricos e dos marcos
legais, a formação de licenciados e mestres em Educação Física deva se dar em estreita relação
com a especificidade de uma escola democrática e republicana. Compromisso que se vincula
com a necessidade de desenvolver capacidades intelectuais, éticas, estéticas, comunicativas e
políticas, que possibilitem aos egressos dialogarem com a especificidade desta instituição, mas
também com os contextos em que ela se insere, produzindo propostas pedagógicas que possam
inaugurar modos inovadores de legitimar a Educação Física.
A Proposta Curricular do Mestrado Profissional em Educação Física na Unijuí atende
aos seguintes critérios, os quais se referem à área de concentração – Educação Física Escolar:
Ementa da área de concentração: Educação Física escolar. Propicia o planejamento,
implementação e avaliação de estratégias para o enfrentamento dos problemas
do contexto da atuação profissional nas aulas de Educação Física escolar. Aborda
o conjunto de objetivos, conteúdos e avaliação dos projetos curriculares para a
Educação Física escolar nas diversas etapas da Educação Básica. Discute a Educação
Física como componente curricular obrigatório. Analisa as diferentes manifestações
da cultura corporal de movimento como conteúdo da Educação Física escolar, bem
como os procedimentos metodológicos para o ensino nos diferentes grupos de
escolares.
Para isso faz-se necessário uma formação que potencialize práticas pedagógicas
alicerçadas em um planejamento adequado, o que significa em sintonia com as expectativas mais
amplas da educação escolar e com um desenvolvimento curricular capaz de integrar objetivos
da área de linguagens e específicos da Educação Física. O vínculo pedagógico da proposta de
formação do Proef na Unijuí vincula pesquisa, formação e espaço de intervenção. Sobretudo,
objetiva formar o professor pesquisador, o qual assume compromisso com a Educação Básica:
1) qualificando sua relação com a constituição do conhecimento; 2) ampliando o valor da área,
em seu sentido de possibilidade compreensiva e interventiva; 3) criando formas de reconstrução
cultural e de instituição de uma nova relação com o saber, a educação corporal, o movimento
humano e a cultura corporal, na interface do dinamismo da vida social; 4) possibilitando
modificar ou ressignificar a relação do saber escolar com a vida social e a própria dinâmica da
docência.
Os professores que atuam em IFFS e demais espaços da Educação Básica, que
frequentam o Proef, produzem novos entendimentos acerca do Conhecimento, da Mediação,
da Pesquisa e do Ato Educativo e Pedagógico; emergem nesses trabalhadores novas capacidades
intelectuais de contemplação e ação, o que permite produzir novas tecnologias e saberes no
campo do ensino; o que pode possibilitar o enfrentamento de dificuldades no cotidiano de
ação, gerando novas agências pedagógicas e tecnologias educacionais: softwares – livros –
currículos, etc.
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CAPÍTULO 1 – CONHECIMENTO, FORMAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A EXPERIÊNCIA DO MESTRADO PROFISSIONAL EM REDE NO PROEF/UNIJUÍ
Sidinei Pithan da Silva – Paulo Evaldo Fensterseifer – Fernando Jaime González – Maria Simone Vione Schwengber –Paulo Carlan
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CAPÍTULO 1 – CONHECIMENTO, FORMAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A EXPERIÊNCIA DO MESTRADO PROFISSIONAL EM REDE NO PROEF/UNIJUÍ
Sidinei Pithan da Silva – Paulo Evaldo Fensterseifer – Fernando Jaime González – Maria Simone Vione Schwengber –Paulo Carlan
bem como a partir da criação de movimentos situados no interior da escola e com jovens. Foram
feitos 3 estudos nesta Linha: Educação Física no Ensino Médio: Enfoque Crítico-Emancipatório
no Planejamento do Ensino dos Esportes/Atletismo; Avaliação em Educação Física em Uma
Perspectiva Emancipatória: Proposta Para o Ensino Médio Integrado à Educação Profissional;
Sexualidades, Gênero e a Educação Física Escolar: do silenciamento ao lugar de fala em uma
produção audiovisual (Unesp, 2022).
Um dos produtos educacionais dessa Linha 3 foi o produzido pela professora Paula
Mayara, que resultou na construção de um documentário a partir de entrevistas com jovens,
abordando formas educativas de enfrentar o preconceito escolar de questões de corpo, gênero e
sexualidades. O enfoque desenvolvido é altamente inovador e articula potencialidades no âmbito
da atuação de docentes que atuam no Ensino Médio com o tema corpo, gênero e sexualidades.
O documentário que pode ser visto no YouTube inaugura condições concretas para instituir
estratégias para um problema histórico na Educação Básica brasileira, qual seja, a que discrimina
e silencia os jovens que não se enquadram nos padrões corporais e normativos vigentes. Nesse
sentido, o produto educacional também está dentro da ambição do Proef, uma vez que: “Propicia
o planejamento, implementação e avaliação de estratégias para o enfrentamento dos problemas
do contexto da atuação profissional nas aulas de Educação Física Escolar”.
Considerações Finais
A política formativa assumida no Proef, de modo universal, permitiu um movimento de
formação que desafiou os docentes e discentes do polo Unijuí a produzir conhecimento que
tivesse significados local, regional e universal. Nesse sentido, o impacto e o caráter inovador
dos trabalhos desenvolvidos no polo devem-se tanto a uma perspectiva centrada no caráter
local quanto a uma busca de relevância e significado universal. Em seu conjunto as dissertações
e produtos procuraram enfrentar problemas concretos vividos por professores de Educação
Física que atuam na Educação Básica.
Exercício feito sempre à luz de um referencial teórico, mediador, que permitiu instaurar
um sentido de pesquisa e de prática pedagógica com potencial de uma validade para além
do próprio local e da própria prática. O conceito ao fundo que baliza este tipo de busca
ampara-se numa noção de que grande parte dos problemas que vivem os educadores, e a
própria fragilidade da ação docente na Educação Básica, devem-se a uma dicotomia entre teoria
e prática. Procurou-se, a partir disso, enfrentar diferentes problemas, que em seu conjunto
ajudariam a pensar algumas nuances, que seriam importantes para um projeto inovador na
Educação Física Brasileira.
Sem descolar-se da experiência de cada educador/pesquisador, mas colocando a ele
um marco contextual no panorama histórico da Educação Física Brasileira, construíram-se os
caminhos teóricos e metodológicos que resultaram em diferentes produções dos docentes e
discentes. Perspectiva que, ao fundo, sinaliza para uma ideia de um professor que consegue
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CAPÍTULO 1 – CONHECIMENTO, FORMAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A EXPERIÊNCIA DO MESTRADO PROFISSIONAL EM REDE NO PROEF/UNIJUÍ
Sidinei Pithan da Silva – Paulo Evaldo Fensterseifer – Fernando Jaime González – Maria Simone Vione Schwengber –Paulo Carlan
produzir projeto pedagógico próprio, ou seja, com autonomia. O trabalho dissertativo, neste
caso, serviu de fundamento para a construção de um material com potencial pedagógico e
didático.
Importante marcar a ideia de que o perfil do ingressante neste programa é de um
docente com desejo de aprender e de superar práticas pedagógicas ultrapassadas. Acreditamos
que o compromisso social assumido e o modo como as disciplinas foram organizadas abriram
um significado forte da ideia de educação escolar como um direito subjetivo. Tanto do ponto
de vista teórico quanto prático, foi possível perceber um crescimento dos estudantes no sentido
da apropriação de um conceito ampliado de educação, como o de desenvolver inovações
pedagógicas que se coloquem à altura de tal feito.
Cumpre destacar que os egressos do Mestrado Profissional em Rede em Educação Física
– Unijuí/Unesp, em sua totalidade, continuam atuando na escola pública com significativo grau
de compromisso social. Dos seus trabalhos no Proef resultaram grandes mudanças na escola
pública. Um marcante engajamento na conduta em relação à resolução de problemas e uma
capacidade de pensar e problematizar pode ser constatada a partir das atividades dos egressos.
De outra parte, os docentes do Proef envolveram-se de forma integral na formação
dos mestrandos, assumindo o compromisso de formar professores pesquisadores. Tornou-se
possível perceber que os mestrandos, ao problematizar sua prática e incorporar a capacidade de
fazer pesquisa, se desafiaram a apresentar trabalhos em eventos científicos, bem como a publicar
artigos em periódicos e livros. Esta atividade é decorrente de uma finalidade conscientemente
assumida no polo pelos docentes, a qual teve a oferta de disciplinas e grupo de estudos como
forma de criar as condições para estudantes protagonistas e com capacidade inovadora no
campo educacional em geral, bem como no campo da Educação Física na Educação Básica.
Os limites de uma conquista mais satisfatória estão situados na distância geográfica dos
estudantes, nas suas condições de trabalho e nas próprias situações existenciais vividas pelos
estudantes. Mesmo diante de limitantes reais, contudo, percebeu-se que o desafio da proposta
curricular colocou em movimento novos eixos para pensar o trabalho pedagógico e estruturar a
tarefa educacional. Mais do que um treinador ou recreacionista emerge a figura de um educador,
que se envolve com o debate sobre o PPP da escola e com razões e práticas pedagógicas e
curriculares ampliadas e inovadoras.
Referências
BRACHT, V. Educação física e aprendizagem social. 2. ed. Porto Alegre: Magister, 1997.
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
FENSTERSEIFER, P. E. A Educação Física na crise da modernidade. Ijuí: Editora Unijuí, 2001.
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28
CAPÍTULO 1 – CONHECIMENTO, FORMAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A EXPERIÊNCIA DO MESTRADO PROFISSIONAL EM REDE NO PROEF/UNIJUÍ
Sidinei Pithan da Silva – Paulo Evaldo Fensterseifer – Fernando Jaime González – Maria Simone Vione Schwengber –Paulo Carlan
SANTIN, S. Educação Física: uma abordagem filosófica da corporeidade. Ijuí: Editora da Unijuí, 1987.
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UNESP. Universidade Estadual Paulista. Mestrado Profissional em Educação Física. São Paulo, 2022.
Disponível em: https://www.fct.unesp.br/#!/pos-graduacao/-educacao-fisica/ producoes-intelectuais.
Acesso em: 15 maio 2022.
29
Ca p í tul o 2
Introdução
A Educação Física Escolar brasileira tem sido desafiada desde a década de 80 do século
20, principalmente quando se pergunta qual a sua função social na escola, se a de reprodução
ou a reconstrução crítica do conhecimento e da experiência vivida e aprendida pelos sujeitos
junto ao seu envolvimento com práticas corporais paralelas e concomitantes a sua escolarização.
Tendo em vista sua posição, a de localização privilegiada1 no rol do artigo 7º da Lei
5.692/1971, que estabeleceu sua obrigatoriedade, a Educação Física conforma-se por certa
“legitimidade”, ainda que não encarada como “matéria”, naquela acepção que o termo assumia,
nem como “disciplina”, na linguagem tradicional, mas fazia-se como preocupação geral do
processo formativo, algo intrínseco à finalidade da escola e intransferível da educação do homem
comum (Parecer 540/77 apud Betti, 1991).
Tal posição confortável da Educação Física no campo disciplinar teve cobranças advindas
em decorrência de ressignificar as práticas pedagógicas docentes, tendo em vista as necessidades
diante das disparidades ocasionadas pela transformação produzida no campo acadêmico-
-científico e que sinalizaram a reorientação daquilo que se oferecia aos alunos durante as aulas,
colocando-se assim um desafio aos professores, o de exercerem o protagonismo.
Segundo Charlot (2009), ainda que presente na escola, a Educação Física na relação
com a “forma escolar”, teria dificuldades de se articular. Uma dificuldade em relação ao espaço,
pois ela não seria escolar, tendo em vista que as atividades se desenvolvem fora da classe e a
1
A Educação Física mereceu um tratamento diferenciado ao ver sua obrigatoriedade já expressa no texto legal antes
mesmo da definição do núcleo comum, dificultando a compreensão de sua posição dentro da nova estrutura
curricular (Betti, 1991, p. 104).
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CAPÍTULO 2 – O PROTAGONISMO DOCENTE COMO FIO CONDUTOR DO PROCESSO FORMATIVO NO PROEF/UFMT
José Tarcísio Grunennvaldt – Ana Carrilho Romero Grunennvaldt – Evando Carlos Moreira – Cleomar Ferreira Gomes – Márcia Cristina Rodrigues da Silva Coffani
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CAPÍTULO 2 – O PROTAGONISMO DOCENTE COMO FIO CONDUTOR DO PROCESSO FORMATIVO NO PROEF/UFMT
José Tarcísio Grunennvaldt – Ana Carrilho Romero Grunennvaldt – Evando Carlos Moreira – Cleomar Ferreira Gomes – Márcia Cristina Rodrigues da Silva Coffani
Segunda hipótese: como componente curricular, a Educação Física escolar deve atentar
para a difícil e complexa relação entre teoria-prática,2 tendo em vista que o professor não pode
somente aplicar “teoria” na “prática, mas (re)construir (reinventar) sua prática (Caparroz; Bracht,
2007, p. 27), na medida em que “os homens renovam com seu próprio trabalho uma realidade
que os escraviza” e, “a consciência dessa oposição não provém da fantasia, mas da experiência”
(Horkheimer, 1975, p. 142).
Para iniciar a escrever sobre o envolvimento com a experiência de formação do Mestrado
Profissional (Proef ) veio-nos uma instigante provocação acerca da leitura da epígrafe do texto
de González e Fensterseifer (2009), “Entre o ‘não mais’ e o ‘ainda não’: pensando saídas do
não lugar da EF escolar I”. Perguntávamo-nos se de fato [...] somos seres do não mais e do
ainda não. E, se a situação de inquietação por não suportar, de certo modo, o vazio, estaria
afetando somente os professores da Educação Física das Instituições Superiores – IES (campo
acadêmico) ou também afetava os professores de Educação Física das escolas de Educação
Básica (campo disciplinar)?
Entre um contato e outro, quando da realização das disciplinas, pareceu-nos que
essa questão, desde logo, não afetava os professores. No decorrer das leituras e discussões,
entretanto, percebeu-se que o que acontece nas aulas de Educação Física das escolas é algo
que não se refere à diversidade interna dada a uma disciplina, mas de uma diversidade sob a
denominação de “formas diferentes”. Quando da leitura do texto: Educação Física escolar:
entre o “rola bola” e a renovação pedagógica, com o uso do conceito “atuações docentes”,
a afetação começa a se fazer sentir, principalmente com a apresentação das três categorias de
atuações docentes apresentadas: práticas tradicionais; o abandono do trabalho docente (ou
desinvestimento pedagógico) e as práticas inovadoras.
Assim, em nossos encontros, os professores/mestrandos, movidos pelo esforço
metodológico da autocomparação de sua prática com cada uma das categorias apresentadas
pelo texto, começam a manifestar a incerteza, a insegurança, a dúvida e o espanto. Tais condições
fazem-se determinantes de aberturas para outros olhares sobre como se posicionar, ou
responder a esse lugar denominado “entre o não mais” e o “ainda não” e, provocar-se, contun-
dentemente, relendo sua prática social com os diversos textos disponibilizados pelas disciplinas
como respostas à elaboração de projetos/processos de pesquisa sobre a própria prática social.
Em outro momento neste texto essa construção será abordada, como as experiências do Proef.
2
Vale destacar que para Max Horkheimer, é o papel da experiência que vai orientar a teoria crítica, pois tem-se como
pontos de vista, que a teoria crítica retira da análise histórica como metas da atividade humana, principalmente
quando se trata da ideia de uma organização social racional correspondente ao interesse de todos, são imanentes
ao trabalho humano, sem que os indivíduos ou o espírito público os tenham presentes de forma correta. Precisa-se
então, uma determinada direção do interesse para descobrir e assimilar essas tendências (Horkheimer, 1975, p. 142).
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CAPÍTULO 2 – O PROTAGONISMO DOCENTE COMO FIO CONDUTOR DO PROCESSO FORMATIVO NO PROEF/UFMT
José Tarcísio Grunennvaldt – Ana Carrilho Romero Grunennvaldt – Evando Carlos Moreira – Cleomar Ferreira Gomes – Márcia Cristina Rodrigues da Silva Coffani
Ou seja, o movimento de reflexão sobre o que não queremos mais ou “entre o não
mais” e o que gostaríamos de ser o “ainda não” configurou-se como uma demanda acadêmica,
mas que reverberou entre os professores de Educação Física que atuam diretamente no chão
da escola, de maneira que estes passam a questionar suas próprias práticas.
No intuito de reconhecer nos mestrandos a própria “construção social da realidade”,
tendo em vista a consciência da experiência realizada, objetivou-se com o texto apresentar
as possibilidades dos professores/mestrandos em agir com o seu “protagonismo criador” do
processo de formação do Proef/FEF/UFMT.
Tratamos de apresentar os três entraves do autor, que na verdade são quatro, pois enunciado da
nota de rodapé de seu texto tem o qualificativo de ser o quarto dos entraves que se configuram
como desafios na produção do conhecimento pedagógico da disciplina:
1. Formular/[propor] um sentido para a Educação Física em articulação com a
função social da escola, na sociedade democrática e republicana – desafios de
legitimação ético-política;
2. [Apresentar, descrever] explicar e organizar os conhecimentos pelos quais a
disciplina é responsável – desafios curriculares;
3. Elaborar estratégias para ensinar e avaliar velhos e novos conteúdos numa
perspectiva coerente aos propósitos da Educação Física como disciplina
escolar, e a complexidade do conhecimento pelo qual é responsável – desafios
didáticos;
4. [Nota que virou desafio]. Articulação consistente da Educação Física com a
área de Linguagens, bem como na formulação de princípios epistemológicos
e pedagógicos para o trabalho interdisciplinar com os demais componentes
curriculares (González, 2019, p. 16).
Articulados em conjunto, esses quatro entraves que se colocam para a configuração da
Educação Física escolar poderiam minimizar a deslegitimação da disciplina no “sistema escolar
na modernidade”, reiterando-se ainda, na contemporaneidade.
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CAPÍTULO 2 – O PROTAGONISMO DOCENTE COMO FIO CONDUTOR DO PROCESSO FORMATIVO NO PROEF/UFMT
José Tarcísio Grunennvaldt – Ana Carrilho Romero Grunennvaldt – Evando Carlos Moreira – Cleomar Ferreira Gomes – Márcia Cristina Rodrigues da Silva Coffani
geralmente de padrões elitistas. Assim, a Educação Física abre mão de contribuir com o
legado de saberes/conhecimentos constituidores da formação humana. Como lembra René
Maheu3 (1972, p. 15),
[...] vemos os professores de educação física constituírem no conjunto do corpo
docente uma categoria à parte, [...] desempenhando um papel apenas marginal
tanto na educação na maior parte dos jovens como na vida do estabelecimento.
Postos os entraves, resta encarar os desafios aos quais a Educação Física está sendo
solicitada, tendo em vista as multiplicidades de saberes relacionados ao espectro da cultura
corporal de movimento, porque também responde à escola, pois a ela é cobrada uma posição
de acolhimento da complexidade que comporta a base social e epistemológica do conhecimento
escolar.
Nesse aspecto, já em 1972, o discurso do Congresso Científico da Abertura dos XX Jogos
Olímpicos, realizados em Munique, Alemanha, enalteceu a diversidade cultural dos diferentes
povos como criadores de cultura corporal. Diante dessa riqueza genuína de criações culturais
dos povos, Maheu (1972, p. 18) ponderava:
É paradoxal que os povos dotados de um sentido inato da dança, conscientes do
mais alto grau das virtudes catárticas e formadoras do jogo e em quem a cultura
corporal se associa intimamente à vida em comunidade, se limitem a imitar os
desportos de outras nações e precisamente num momento que nestas se esboça
um movimento em favor da libertação das formas e dos ritmos de expressão física.
É importante frisar que a produção acadêmica tem desenvolvido estudos e pesquisas
que resultaram em dissertações, teses, artigos e textos imbuídos do desejo de resgate dos
aspectos da comunidade, do local em constante debate com o âmbito nacional e o universal.
Podemos destacar como resultante dessa insatisfação, diante do determinismo de uma
orientação “elitizada” de movimento que inviabilizava a complexa gama de possibilidades
pudesse ser experimentada, as seguintes produções: Metodologia do ensino de Educação Física
(1992), Educação Física ensino e mudanças (1991), Criatividade nas aulas de Educação Física
(1985), Visão Didática da Educação Física (1991), Concepções abertas no ensino da Educação
Física (1986), Transformação didático-pedagógica do esporte (1994), entre outros tantos que
compuseram o Movimento Renovador, já destacado por González (2019).
Por conta do recorte do texto não nos é possível mencionar a produção mais
contemporânea da Educação Física escolar, que não é pouca, mas vale destacar que na contem-
poraneidade a Educação Física escolar está sendo cobrada a responder aos mais diversos
entendimentos da cultura corporal de movimento e não somente a uma visão eurocêntrica da
cultura e da cultura corporal, a exemplo das orientações da BNCC, PCNs, LDB, entre outras.
3
E, aí, é que se acentua a (des)articulação com a área de Linguagens na escola, bem como a carência da definição
de princípios epistemológicos e pedagógicos para o diálogo interdisciplinar.
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CAPÍTULO 2 – O PROTAGONISMO DOCENTE COMO FIO CONDUTOR DO PROCESSO FORMATIVO NO PROEF/UFMT
José Tarcísio Grunennvaldt – Ana Carrilho Romero Grunennvaldt – Evando Carlos Moreira – Cleomar Ferreira Gomes – Márcia Cristina Rodrigues da Silva Coffani
centros de produção acadêmica da Educação Física escolar, provocados pelas mais recentes
normatizações (BNCC, PCNs, LDB, etc.), instigados pelas realidades concretas das escolas
para uma criação, ou como se diz na leitura mais corrente, professores/mestrandos foram
“protagonistas” de construções possíveis.
De modo que surgiram velhos objetos com novas metodologias, estudos de casos,
pesquisa-ação, etnografia da prática escolar, mas o que se pode constatar é que a realidade
educacional da Educação Física escolar consegue ser terreno fértil para novas investigações.
Desse modo, entendemos que devemos enfrentar/tensionar questões que têm chegado
ao contexto das práticas pedagógicas da Educação Física Escolar, tais como: as questões de
gênero, a formação de professores para a Educação Física infantil, uso e adequação de novas
perspectivas pedagógicas para o esporte como conteúdo escolar, a sensibilidade pedagógica
para dialogar com a cultura juvenil local que estudantes cultuam fora da escola e a proposição
de sistematização para as atividades de aventura para o contexto da Educação Física infantil,
entre outras que serão apresentadas mais adiante.
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CAPÍTULO 2 – O PROTAGONISMO DOCENTE COMO FIO CONDUTOR DO PROCESSO FORMATIVO NO PROEF/UFMT
José Tarcísio Grunennvaldt – Ana Carrilho Romero Grunennvaldt – Evando Carlos Moreira – Cleomar Ferreira Gomes – Márcia Cristina Rodrigues da Silva Coffani
dade. Com efeito, visando a dar vazão ao “formar-se para a mudança e a incerteza” (Imbernón,
2011), apropriamo-nos desse referencial, da teoria fenômeno-estrutural, tendo em vista sua
maleabilidade, de finalidade ao ensino dos esportes segundo Bayer, mas nós nos permitimos
olhar para a formação dos mestrandos do Proef/UFMT e suas linhas de pesquisa e inserção.
Desse modo utilizou-se do método fenomenológico, porque revaloriza o pesquisador,
portanto a iniciativa na investigação, colocando-o no centro das preocupações na condição de
ser atuante que possui a sua originalidade e é responsável pela construção do seu caminho da
pesquisa-ação (cidadão protagonista).
Nesse sentido, o método fenomenológico, tendo em vista sua predisposição à leveza,
poderá na relação orientador/orientando “ensinar a compreensão humana” (Morin, 2021).
Deve-se na relação entre ambos introduzir o tema do conhecimento, mas uma vez que o
conhecimento é sempre “uma tradução seguida de uma reconstrução, sempre existe o risco
do erro, o risco de alucinações...”. Compreender a diversidade de sentidos é necessário, e neste
aspecto Morin (2021) é emblemático:
Eu proponho o método de incluir esses temas, de incluir o tema da compreensão
humana. É preciso ensinar a compreensão humana, porque é um mal do qual todos
sofrem em graus diferentes. Começa na família, onde filhos não são compreendidos
pelos pais e os pais não entendem seus filhos. Pode continuar na escola, com os
professores e os colegas. Continua na vida do trabalho, no amor e acho que temos
que ensinar também a enfrentar as incertezas. Porque em todo destino humano há
uma incerteza desde o nascimento.
Ao mesmo tempo privilegiou-se o método estrutural que facilita as invariantes
da atividade, tendo em vista o ser professor de Educação Física nas diferentes etapas que
configuram a Educação Básica, ainda que diversas em sua construção, mas movidas por
ações que levam em conta princípios operacionais que se valem para a instituição de ações
de práticas pedagógicas. E, nesse quadro, ainda que movido pelas peculiaridades que cada
investigação carregou, e quão diversa é a prática e os fatos de cada escola em seus níveis, o
professor, certamente, vai ter de tratar de peculiaridades inerentes à Educação Infantil, ao Ensino
Fundamental e ao Ensino Médio. Enfim, as diferentes etapas que configuram a Educação Básica,
distintas, mas que, no entanto, carregam invariantes, fazendo-se evidentes quer no ensino, quer
na pesquisa.
O constructo fazendo-se valer pelo método fenômeno-estrutural foi capaz de não deixar
engessar os problemas, a partir de um olhar universal, mas poder perceber nas situações e
orientações estruturais que entrecortam as etapas da educação básica, questões e/ou entraves
que são peculiares a uma ou a outra etapa da Educação Básica.
O olhar do constructo do tipo fenômeno-estrutural nos é razoável, pois valoriza a
alcunha de “assessor de formação”, e viabiliza a relação orientador e orientando “num processo
de compromisso de reflexão na ação” (Imbernón, 2011). Tem-se assim
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CAPÍTULO 2 – O PROTAGONISMO DOCENTE COMO FIO CONDUTOR DO PROCESSO FORMATIVO NO PROEF/UFMT
José Tarcísio Grunennvaldt – Ana Carrilho Romero Grunennvaldt – Evando Carlos Moreira – Cleomar Ferreira Gomes – Márcia Cristina Rodrigues da Silva Coffani
o papel de guia e mediador entre iguais, o de amigo crítico que não prescreve
soluções gerais para todos, mas ajuda a encontrá-las dando pistas para transpor
os obstáculos pessoais e institucionais e para ajudar a gerar um conhecimento
compartilhado mediante uma reflexão crítica, são importantes características da
assessoria educacional [...] a comunicação, o conhecimento da prática, a capacidade
de negociação, o conhecimento de técnicas de diagnóstico, de análises de decisões
e o conhecimento da informação são temas fundamentais na assessoria. Trata-se
de transformar-se em assessores de processo (Schein, 1988) ou em elementos
mediadores entre o conhecimento e o grupo (Imbernón, 2011, p. 94-95).
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Ca p í tul o 3
Tathyane Krahenbühl
Humberto Luís de Deus Inácio
Ana Márcia Silva
Flórence Rosana Faganello Gemente
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CAPÍTULO 3 – O MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS:
UMA ANÁLISE SOBRE A INSTITUIÇÃO DO PROGRAMA E DA PRODUÇÃO DO SABER NA TURMA 2018-2020
Tathyane Krahenbühl – Humberto Luís de Deus Inácio – Ana Márcia Silva – Flórence Rosana Faganello Gemente
[...] compreende a Educação Física escolar como uma disciplina que introduz e
integra o aluno na cultura corporal, auxiliando na formação do cidadão que vai
produzi-la, reproduzi-la e transformá-la e que o instrumentaliza para usufruir dos
jogos, esportes, danças, lutas e ginásticas em benefício do exercício crítico da
cidadania e da melhoria da qualidade de vida (Unesp, 2014, p. 31).
Nesta perspectiva, ao docente capacitado pelo Proef caberia não apenas ensinar
as práticas corporais constituintes da cultura corporal, mas também auxiliar para que os
estudantes percebessem os sentidos e significados presentes nestas práticas, conforme o mesmo
documento citado anteriormente. Para tanto, uma das disciplinas obrigatórias mais importantes
desta proposta era denominada Metodologia do Ensino das Práticas Corporais e todas as 12
disciplinas eletivas eram denominadas Práticas Corporais, abarcando os esportes, as ginásticas,
as danças, as práticas circenses, entre outras.
Esta concepção de conhecimento e intervenção docente, porém, não foi aceita e
precisou ser alterada, a partir da diligência da Comissão de Avaliação (Capes, 2015, p. 1), em
seu Quesito nº 2 acerca da Proposta do Curso, em seu item 2 solicitava “ajustar a nomenclatura
do termo “práticas corporais” ao longo da proposta”, ajuste exigido como condição para sua
aprovação, o que vem a ocorrer apenas em sua reapresentação em 2015.
Nesta nova versão da proposta, em nenhum dos títulos das disciplinas aparece a
expressão práticas corporais sendo, em alguns casos, substituído por “atividade física”, como
é o caso da disciplina Ensino das Atividades Físicas de Aventura. Tal questão indica que a
Educação Física ainda é um campo em consolidação, com disputas de concepção acerca de
seus fundamentos teórico-metodológicos.
Os agentes do campo começam a forjar novos conceitos, colocando-os em
contraponto a termos já consolidados. Isso reflete o movimento do campo na
disputa de formas de ver e de fazer valer formas de ver o próprio campo, com
novas interpretações que traduzem disputas, inclusive pelo poder de nomeação
e de classificação dos objetos e das práticas do campo acadêmico-científico da EF
(Lazzarotti Filho; Silva; Mascarenhas, 2014, p. 76).
Depois deste processo as matrículas e o início efetivo das aulas ocorrem em abril
de 2018, contando com a colaboração de 13 docentes orientadores e 15 discentes que
desenvolveram suas pesquisas em temáticas variadas, proporcionando um grande enriqueci-
mento na atuação e reflexão sobre a Educação física escolar.
A seguir apresentaremos uma síntese analítica sobre as pesquisas e dissertações
desenvolvidas pela primeira turma, pioneira e desbravadora do nosso programa.
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CAPÍTULO 3 – O MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS:
UMA ANÁLISE SOBRE A INSTITUIÇÃO DO PROGRAMA E DA PRODUÇÃO DO SABER NA TURMA 2018-2020
Tathyane Krahenbühl – Humberto Luís de Deus Inácio – Ana Márcia Silva – Flórence Rosana Faganello Gemente
Ainda de acordo com a BNCC, a organização dos componentes curriculares deve ser
formulda a fim de fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares (Brasil, 2018).
Visto isso, as decisões sobre o trabalho pedagógico devem atender aos princípios da escola plural
e democrática, ou seja, devem partir ou estar minimamente alinhadas com o protagonismo
daqueles que constituem a comunidade acadêmica local, incluindo seus professores e
professoras.
Nesse sentido,
o ponto que nos interessa reforçar é que a escola não tem mais possibilidade de ser
dirigida de cima para baixo e na ótica do poder centralizador que dita as normas e
exerce o controle técnico burocrático. A luta da escola é para a descentralização em
busca de sua autonomia e qualidade (Veiga, 1998, p. 3).
Com isso, entendemos que as diferenças entre as formas de se conduzir a elaboração
e efetivação dos documentos orientadores para a prática pedagógica entre os estudos
desenvolvidos com essa temática no programa, oportunizam a reflexão sobre a importância da
redação desses documentos e reforçam a necessidade da colaboração e atuação dos professores
e professoras sobre esses processos de elaboração.
Seguindo com a análise das dissertações, temos a categoria com maior quantidade de
produções em nosso programa, Ensino do Esporte, com cinco pesquisas. Foi necessário dividir
em três subcategorias, a saber: Ensino dos esportes individuais, Ensino dos Esportes Coletivos
e Ensino do Esporte em escola de campo.
Na primeira subcategoria de ensino do esporte temos o trabalho intitulado “E-book
interativo para o ensino do tênis de campo na Educação Física escolar”, do professor Edymar
Patryk Madureira, que buscou elaborar e avaliar a utilização de um e-book interativo para o
ensino de tênis na Educação Física escolar. A partir de uma pesquisa-ação, com entrevistas
para levantar os problemas iniciais, a elaboração do e-book e a sua utilização em uma escola
pública em Palmas – TO – permitiu apresentar novas possibilidades do ensino da modalidade
na escola, com a utilização e confecção de recursos materiais adaptados à Tecnologias Digitais
de Informação e Comunicação.
A subcategoria “Esportes Coletivos” foi a que, quantitativamente, mais apresentou
trabalhos. Foram três pesquisas envolvendo esportes coletivos de invasão, em especial a
modalidade handebol, presente em todas as pesquisas. A pesquisa intitulada “O ensino de
esportes de invasão na Educação Física escolar: construção e análise de uma proposta de ensino
pautada nos jogos desportivos coletivos e nos estilos de ensino”, de autoria de João Arlindo dos
Santos, objetivou elaborar e aplicar uma unidade didática de ensino do futsal e handebol a partir
dos princípios da teoria dos Jogos Desportivos Coletivos e dos Spectrum dos Estilos de Ensino,
especificamente os estilos Recíproco (R), Produção Divergente (PD) e Descoberta Guiada (DG),
princípios propostos por Mosston (1966). Foi realizada uma pesquisa-ação, e como resultados
o pesquisador encontrou que o estilo R mostrou-se adequado, enquanto os estilos PD e DG
podem ser mais benéficos para turmas com conhecimentos mais avançados sobre esporte.
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CAPÍTULO 3 – O MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS:
UMA ANÁLISE SOBRE A INSTITUIÇÃO DO PROGRAMA E DA PRODUÇÃO DO SABER NA TURMA 2018-2020
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CAPÍTULO 3 – O MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS:
UMA ANÁLISE SOBRE A INSTITUIÇÃO DO PROGRAMA E DA PRODUÇÃO DO SABER NA TURMA 2018-2020
Tathyane Krahenbühl – Humberto Luís de Deus Inácio – Ana Márcia Silva – Flórence Rosana Faganello Gemente
Considerações Finais
A instituição do programa de Mestrado Profissional em Educação Física em rede, em
conjunto com realização da primeira turma, trouxe grandes aprendizados ao corpo docente
e à nossa Instituição de Ensino Superior. As novidades do programa stricto sensu voltado à
formação de professoras e professores efetivos, os quais pesquisam concomitantemente com
a prática da docência nas escolas públicas de Educação Básica, promoveram e promovem uma
constante reflexão sobre as necessidades do aperfeiçoamento profissional e sobre a importância
da aproximação entre a universidade e a escola.
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CAPÍTULO 3 – O MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS:
UMA ANÁLISE SOBRE A INSTITUIÇÃO DO PROGRAMA E DA PRODUÇÃO DO SABER NA TURMA 2018-2020
Tathyane Krahenbühl – Humberto Luís de Deus Inácio – Ana Márcia Silva – Flórence Rosana Faganello Gemente
A síntese dos estudos e pesquisas desenvolvidos permite traçar uma ideia dos interesses
e necessidades quanto à a prática dessas professoras e professores, lembrando que, no caso
da UFG, a turma foi composta por estudantes advindos de diversas regiões próximas e
Centro-Oeste, compreendendo os Estados de Goiás, Tocantins e Minas Gerais.
Além disso, a síntese analítica nos permitiu ter uma ideia das temáticas presentes que
envolveram pesquisas com métodos de ensino esportivo e as manifestações esportivas (como os
eventos competitivos escolares), estudos com o trabalho docente na elaboração de documentos
norteadores e na elaboração de mídia e tecnologias, além de estudos sobre práticas corporais
e gênero.
Visto isso, observamos uma grande diversidade de contextos e objetivos, contudo
também uma proximidade nas formas de condução das pesquisas, seja pela escolha da
pesquisa-ação e pesquisas participantes.
Vale lembrar que as produções dos materiais, produtos dessas pesquisas, podem
contribuir significativamente para a prática docente nas diferentes temáticas de análise aqui
apresentadas. Consideramos, no entanto, a necessidade de divulgação desses materiais para
que cheguem ao conhecimento dos professores atuantes nas escolas.
Por fim, a experiência na primeira turma foi bastante significativa para o aprendizado de
todos os personagens envolvidos no programa, norteando as ações para as turmas seguintes,
além de bastante produtiva para o cenário da Educação Física escolar brasileira.
Referências
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BALBINO, Hermes Ferreira; GALATTI, Larissa Rafaela; FERREIRA, Henrique Barcellos; PAES,
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FUNDAÇÃO VUNESP. Estatística geral de candidatos inscritos. Processo de seleção – Programa
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55
CAPÍTULO 3 – O MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS:
UMA ANÁLISE SOBRE A INSTITUIÇÃO DO PROGRAMA E DA PRODUÇÃO DO SABER NA TURMA 2018-2020
Tathyane Krahenbühl – Humberto Luís de Deus Inácio – Ana Márcia Silva – Flórence Rosana Faganello Gemente
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THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2009.
56
Ca p í tul o 4
Alexandre Rezende
Rosana Amaro
Alfredo Feres Neto
Jaciara Oliveira Leite
Jonatas Maia da Costa
Edson Marcelo Húngaro
Alexandre Jackson Chan-Vianna
Pedro Fernando Avalone Athayde
Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo
Ingrid Dittrich Wiggers
Com o distanciamento, porém, que somente é possível para aqueles que se dedicam a
uma análise histórica, os autores apontam para a demarcação de um campo acadêmico aberto,
na definição proposta por Demo (1985), à “discutibilidade”, ou seja, ao reconhecimento de
que a pesquisa pedagógica pode ser, de acordo com o objeto de estudo e as teorias que o
interpretam: qualitativa ou quantitativa; realizada por professores ou por acadêmicos; que
estudam as salas de aula, mas que também podem estudar o currículo, a legislação educacional,
a cultura escolar, a gestão pedagógica e assim por diante. Não se tem, portanto, no campo
da Educação Física escolar, a expectativa de consensos, mas a disputa de inteligibilidades que
enriquecem a compreensão da realidade.1
Para a universidade, pelo menos para a UnB no contexto do Distrito Federal, o Proef
é uma oportunidade de aproximação com a realidade escolar, que cria vínculos estratégicos
para ampliar as possibilidades de estágio supervisionado e para a formulação de projetos de
extensão que contemplem interesses comuns, iniciativas acadêmicas que fortalecem a qualidade
da formação inicial de professores. No campo de pesquisa, interesse central da Pós-Graduação,
o Proef/UnB dá ensejo para constituição de grupos de pesquisa que congreguem acadêmicos
e professores dedicados à Educação Física escolar, mas, principalmente, permite que os
acadêmicos passem a dirigir a sua produção para um diálogo com a comunidade escolar, ao
invés de ficarem aprisionados na “cultura acadêmica” e distantes da realidade social.
Sendo assim, o Proef nos coloca diante de muitos desafios. O desafio de encontrar
caminhos e maneiras de se fazer ciência que possam ser percorridos em conjunto por
acadêmicos e professores, de maneira a exercitar as possibilidades explicativas de suas teorias,
mas também de criar a possibilidade de teorizações sobre as práticas sociais e os significados
atribuídos à Educação Física escolar, na busca de respostas para as inquietações, tanto as teóricas
quanto as práticas, sem descuidar da discussão crítica dos limites dos saberes construídos, que
não pretendem simplesmente “buscar algo que tenha funcionado”, mas, entender porque e
como funcionou, a fim não de prescrever “receitas” que limitam docência, mas compreender
processos que podem ser reinterpretados por outros professores para dar conta das caracterís-
ticas e necessidades de sua realidade escolar.
Essa aproximação, em si mesma, já implica mudanças recíprocas. Enquanto os
acadêmicos devem realizar adaptações metodológicas que contemplem as vicissitudes da
realidade escolar e os interesses dos pós-graduandos, como também construir nexos teóricos
1
Convém destacar que o Proef é parte do Proeb, ou seja, de uma política de Pós-Graduação que se dedica à
capacitação de professores das redes públicas de ensino. O Proeb está organizado em torno de diretrizes que
regulam o alcance de suas finalidades e definem um escopo, que deve ser respeitado. Logo, as colocações sobre
a importância de um olhar abrangente na demarcação do campo da pesquisa pedagógica aplicado à Educação
Física escolar não entram em conflito com o direcionamento do Proef para realização de estudos voltados para as
questões afetas à “sala de aula”. Essa diretriz apenas indica o foco e o caráter indutivo que caracteriza o Proeb como
um todo. Se considerarmos que a Educação Física escolar não é uma temática exclusiva do Mestrado Profissional,
nada impede, por exemplo, que programas acadêmicos assumam o compromisso com outras linhas de estudo que
diversifiquem a produção de conhecimentos para outros aspectos da Educação Física escolar.
59
CAPÍTULO 4 – A CONSTRUÇÃO DE SABERES DOCENTES NO ÂMBITO DO PROEF/UNB: MEDIAÇÃO, INTERDISCIPLINARIDADE E METODOLOGIAS
Alexandre Rezende – Rosana Amaro – Alfredo Feres Neto – Jaciara Oliveira Leite – Jonatas Maia da Costa – Edson Marcelo Húngaro
Alexandre Jackson Chan-Vianna – Pedro Fernando Avalone Athayde – Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo – Ingrid Dittrich Wiggers
com novas abordagens presentes no currículo escolar e na proposta pedagógica das escolas,
os professores, por sua vez, precisam dedicar-se ao aprofundamento de estudos, retomando
o contato com a literatura científica, mas também mostrarem-se dispostos a adquirir disciplina
no registro sistemático e rigoroso de dados para subsidiar a análise teórica sobre a Educação
Física escolar.
Romper, dialeticamente, com a divisão entre educação e ciência, entre professores e
acadêmicos, entre prática e teoria, são elementos-chave que dão ensejo à formação de uma
rede de reflexão e estudo, comprometida com a valorização de boas práticas na educação, com
a problematização das dificuldades e insuficiências para a excelência na educação. No caso
específico do Proef/UnB os seguintes temas estão sendo explorados.
2
Contato: jaciara.leite@unb.br
60
CAPÍTULO 4 – A CONSTRUÇÃO DE SABERES DOCENTES NO ÂMBITO DO PROEF/UNB: MEDIAÇÃO, INTERDISCIPLINARIDADE E METODOLOGIAS
Alexandre Rezende – Rosana Amaro – Alfredo Feres Neto – Jaciara Oliveira Leite – Jonatas Maia da Costa – Edson Marcelo Húngaro
Alexandre Jackson Chan-Vianna – Pedro Fernando Avalone Athayde – Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo – Ingrid Dittrich Wiggers
3
Contato: rosanaead@unb.br
61
CAPÍTULO 4 – A CONSTRUÇÃO DE SABERES DOCENTES NO ÂMBITO DO PROEF/UNB: MEDIAÇÃO, INTERDISCIPLINARIDADE E METODOLOGIAS
Alexandre Rezende – Rosana Amaro – Alfredo Feres Neto – Jaciara Oliveira Leite – Jonatas Maia da Costa – Edson Marcelo Húngaro
Alexandre Jackson Chan-Vianna – Pedro Fernando Avalone Athayde – Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo – Ingrid Dittrich Wiggers
4
Contato: alfredo.feres@gmail.com
62
CAPÍTULO 4 – A CONSTRUÇÃO DE SABERES DOCENTES NO ÂMBITO DO PROEF/UNB: MEDIAÇÃO, INTERDISCIPLINARIDADE E METODOLOGIAS
Alexandre Rezende – Rosana Amaro – Alfredo Feres Neto – Jaciara Oliveira Leite – Jonatas Maia da Costa – Edson Marcelo Húngaro
Alexandre Jackson Chan-Vianna – Pedro Fernando Avalone Athayde – Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo – Ingrid Dittrich Wiggers
que mobilizam a atenção dos pesquisadores, e que pode, inclusive, abranger outras formas de
saber e novas mentalidades, que demonstrem possuir esquemas interpretativos da realidade
humana e social.
5
Contato: jonatascosta01@gmail.com
6
O professor Pedro F. A. Athayde participou como orientador da primeira turma do Proef. Contato: pedroavalone@
gmail.com
63
CAPÍTULO 4 – A CONSTRUÇÃO DE SABERES DOCENTES NO ÂMBITO DO PROEF/UNB: MEDIAÇÃO, INTERDISCIPLINARIDADE E METODOLOGIAS
Alexandre Rezende – Rosana Amaro – Alfredo Feres Neto – Jaciara Oliveira Leite – Jonatas Maia da Costa – Edson Marcelo Húngaro
Alexandre Jackson Chan-Vianna – Pedro Fernando Avalone Athayde – Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo – Ingrid Dittrich Wiggers
7
Contato: alexandrejackson@gmail.com
64
CAPÍTULO 4 – A CONSTRUÇÃO DE SABERES DOCENTES NO ÂMBITO DO PROEF/UNB: MEDIAÇÃO, INTERDISCIPLINARIDADE E METODOLOGIAS
Alexandre Rezende – Rosana Amaro – Alfredo Feres Neto – Jaciara Oliveira Leite – Jonatas Maia da Costa – Edson Marcelo Húngaro
Alexandre Jackson Chan-Vianna – Pedro Fernando Avalone Athayde – Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo – Ingrid Dittrich Wiggers
Flexibilização Educacional
O grupo de estudo do professor Alexandre Rezende8 dedica-se à reflexão sobre a
flexibilização educacional, conceito-chave para operacionalização do paradigma da Educação
Inclusiva, pois refere-se ao processo dinâmico que envolve professor e estudantes em torno da
construção de atividades educativas que contribuam para o sucesso da aprendizagem e para a
promoção do desenvolvimento humano. O estudo da mediação docente deve ocorrer em duas
direções complementares: uma voltada para as questões de caráter sociológico, relacionadas
com a conjuntura na qual a escola está inserida, e outra voltada para as questões de caráter
psicopedagógico, relacionadas com o papel e as possibilidades didáticas de ação do professor
na articulação entre o estudante e o conhecimento a ser aprendido.
Partimos do princípio de que todos os estudantes possuem potencial para aprendizagem
efetiva, de acordo com o conceito de modificabilidade cognitiva estrutural. Acreditamos que o
professor é o principal responsável pela construção de experiências de aprendizagem significa-
8
Contato: rezende1965@gmail.com
65
CAPÍTULO 4 – A CONSTRUÇÃO DE SABERES DOCENTES NO ÂMBITO DO PROEF/UNB: MEDIAÇÃO, INTERDISCIPLINARIDADE E METODOLOGIAS
Alexandre Rezende – Rosana Amaro – Alfredo Feres Neto – Jaciara Oliveira Leite – Jonatas Maia da Costa – Edson Marcelo Húngaro
Alexandre Jackson Chan-Vianna – Pedro Fernando Avalone Athayde – Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo – Ingrid Dittrich Wiggers
tivas, logo, deve dedicar-se à descrição e à análise dialética das relações dinâmico-causais desse
processo de mediação, com destaque para as interações bidirecionais e recíprocas que estão
potencialmente presentes nessa díade. Nosso foco está dirigido para intervenção na Educação
Física escolar e pressupõe que a aprendizagem ocorre como a ação consciente de um sujeito
(estudante), que se forma ao longo de uma experiência sociocultural de mediação com outro
sujeito (professor).
A pesquisa, metodologicamente, reúne estratégias que se complementam na análise da
prática educativa. Inicia pelo relato autobiográfico do professor, sua formação e experiências;
depois, pela descrição do cenário educacional no qual está inserido, o que abrange a realidade
sociocultural, comunitária e escolar; em seguida, fazemos a descrição e a análise da mediação
docente em situações educativas específicas, que explicitam como é realizada a construção de
experiências de aprendizagem lúdicas e significativas; ao final, realizamos uma reflexão sobre
o uso de recursos que podem auxiliar o professor a adaptar ou criar novas estratégias que
possibilitem a individualização do ensino às necessidades e ao potencial de cada estudante.
Se em um primeiro momento essa demanda se confunde com o caso dos estudantes
com deficiências, por isso a referência à Educação Inclusiva, essa, no entanto, é uma
compreensão reduzida do paradigma da inclusão. Na verdade, a inclusão ressalta a responsabi-
lidade de todos os professores em promover, de maneira efetiva, o desenvolvimento de todas
as crianças, de uma maneira geral, e daquelas com algum tipo de deficiência, em particular. Para
transformar em realidade esses preceitos-chave da inclusão, não é possível manter a escola e o
currículo inalterados e simplesmente inserir os estudantes com deficiência junto aos demais. A
individualização do processo ensino-aprendizagem é um reconhecimento do direito de todos
à educação, independentemente de suas necessidades educativas especiais, logo, aponta para
necessidade do enriquecimento da qualidade de ensino da escola como um todo, como também
requer a análise crítica do seu papel político e social.
9
Contato: pedro.figueiredo@edu.se.df.gov.br
10
O professor Edson M. Húngaro participou como orientador da primeira turma do Proef. Contato: marcelohun-
garo66@gmail.com
66
CAPÍTULO 4 – A CONSTRUÇÃO DE SABERES DOCENTES NO ÂMBITO DO PROEF/UNB: MEDIAÇÃO, INTERDISCIPLINARIDADE E METODOLOGIAS
Alexandre Rezende – Rosana Amaro – Alfredo Feres Neto – Jaciara Oliveira Leite – Jonatas Maia da Costa – Edson Marcelo Húngaro
Alexandre Jackson Chan-Vianna – Pedro Fernando Avalone Athayde – Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo – Ingrid Dittrich Wiggers
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Alexandre Rezende – Rosana Amaro – Alfredo Feres Neto – Jaciara Oliveira Leite – Jonatas Maia da Costa – Edson Marcelo Húngaro
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11
Contato: ingridwiggers@gmail.com
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integrativas, tais como: ioga, meditação, relaxamento, dança circular, massagem e práticas
corporais chinesas. A partir da descrição dos tipos de atividade, da forma de organização e das
estratégias de ensino utilizadas, foi elaborado um material pedagógico sobre o trato das práticas
corporais integrativas na escola, no sentido de abordar as diferentes dimensões do ser humano,
considerando sua corporeidade, o autoconhecimento e os princípios éticos e morais.
Com o título “A mediação de conflitos como práxis pedagógica na Educação Física
Escolar”, Marisa Goreti Schmitt realizou uma pesquisa-ação com o propósito de identificar
limites e possibilidades para a inserção da mediação de conflitos como práxis pedagógica da
Educação Física escolar. Os resultados indicam que as estratégias de mediação utilizadas, a saber,
jogos cooperativos e assembleias de classe, aliadas à técnica de Comunicação Não Violenta
(CNV), mostraram-se eficazes na mediação de conflitos nas aulas de Educação Física escolar.
O estudo também destaca que a formação dos professores para atuarem como mediadores é
insuficiente, e que a pequena quantidade de aulas de Educação Física compromete a formação
de competências nos alunos. Tais dificuldades, no entanto, não impedem a instituição de uma
proposta de mediação nas aulas de Educação Física.
Com o título “Festival de cultura corporal: uma proposta de intervenção pedagógica
para os jogos internos da escola”, José Henrique de Almeida Costa tomou como ponto de
partida as contradições presentes nos Jogos Internos da escola, geralmente pautados em
uma perspectiva esportivista. A pesquisa, de natureza interventiva, mobilizou os estudantes
na construção de uma proposta de Jogos Internos, a partir de outra perspectiva, na qual o
empoderamento juvenil e a participação dos estudantes fossem os aspectos mais valorizados. Ao
longo do processo, a dinâmica de organização do evento terminou por envolver todos os atores
da escola – estudantes, professores e servidores – no processo de planejamento, execução e
avaliação de um evento que deve primar pela valorização das atitudes éticas de estudantes no
trato com a cultura corporal.
Com o título “Indisciplina na escola: a Educação Física como mecanismo de castigo”,
Hadamo Fernandes de Souza partiu da inconformidade com a prática comum, em algumas
escolas, de punir os alunos que cometeram algum tipo de indisciplina, com a sua retirada das
aulas de Educação Física. A discussão dessa questão contribuiu para que estudantes tomassem
consciência de que a escola é um espaço formativo no qual se espera atitudes de sociabilidade,
pautadas em uma ética de convívio, como também, que isto guarda relação com o propósito do
aprender e de se desenvolver em consonância às regras e normas sociais da escola. À guisa de
conclusão a escola como um todo tomou consciência de que a solução para os problemas de
indisciplina não está na retirada dos estudantes das aulas, ao contrário, é das aulas de Educação
Física que se pode construir as soluções para a indisciplina escolar.
Com o título “Hoje a aula não é na quadra: as Tecnologias Digitais na Educação Física
Escolar”, Gustavo Rocha Dutra, para enfrentar um cenário de desmotivação discente diante
de conteúdos conceituais nas aulas de Educação Física, recorre às Tecnologias Digitais da
Informação e Comunicação (TDICs), a fim de transformar as ações pedagógicas e envolver
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CAPÍTULO 4 – A CONSTRUÇÃO DE SABERES DOCENTES NO ÂMBITO DO PROEF/UNB: MEDIAÇÃO, INTERDISCIPLINARIDADE E METODOLOGIAS
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Considerações Finais
O Proef deve ser entendido como resultado de uma reivindicação coletiva e, portanto,
como parte de um anseio histórico: a consolidação de linhas de pesquisa dedicadas às questões
da Educação Física escolar nos programas brasileiros de Pós-Graduação stricto sensu. A
relevância social e o impacto que o Proef pode gerar na qualidade do ensino da Educação Física
brasileira, no entanto, depende da capacidade de acadêmicos e professores, em um trabalho
coletivo, serem capazes de superar a falsa dicotomia entre a dimensão profissional e a científica,
o que não deve ser difícil, pois uma das principais finalidades do desenvolvimento científico é
fornecer subsídios para o desenvolvimento profissional, de acordo com a meta de “compreender
a realidade para melhor intervir nela”.
O Proef concede um destaque especial para o conceito de “pesquisa pedagógica”, que
passa a ocupar o centro do debate acadêmico. A pesquisa pedagógica refere-se à iniciativa de
professores, em conjunto com acadêmicos, dedicarem-se à análise e teorização acerca de sua
própria prática educativa, dispostos a refletir sobre a articulação da Educação Física com outras
áreas do conhecimento, a avaliar o seu papel político e social dentro do currículo escolar, a
construir saberes docentes diretamente relacionados com as necessidades locais.
No âmbito da UnB, o grupo de orientadores do Proef se coaduna em torno de uma
perspectiva crítica da realidade histórico-social brasileira, comprometida com a realização de
mudanças qualitativas das práticas pedagógicas da Educação Física na escola, cuja referência é
a construção de uma escola socialmente referenciada.
O diferencial do Mestrado Profissional é a elaboração do produto educacional, que deve
ter o formato e uma linguagem familiar aos professores, bem como atender às necessidades
prementes da escola, que na opinião deles deve ser alvo da reflexão científica. A Pós-Graduação,
ao aceitar o desafio do Proef, aproxima-se de um princípio-chave da extensão universitária,
a efetividade social. Estamos, portanto, diante de uma proposta voltada para a produção de
conhecimentos, mas que, ao mesmo tempo, preconiza: a indissociabilidade entre universidade
e escola; o ensino centrado no aluno como sujeito do seu aprender; a adoção de métodos ativos
de aprendizagem; o compromisso com a discussão sobre a realidade social. Na condição de
ciência aplicada, o Proef está a serviço da solução de problemas demandados pela comunidade
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CAPÍTULO 4 – A CONSTRUÇÃO DE SABERES DOCENTES NO ÂMBITO DO PROEF/UNB: MEDIAÇÃO, INTERDISCIPLINARIDADE E METODOLOGIAS
Alexandre Rezende – Rosana Amaro – Alfredo Feres Neto – Jaciara Oliveira Leite – Jonatas Maia da Costa – Edson Marcelo Húngaro
Alexandre Jackson Chan-Vianna – Pedro Fernando Avalone Athayde – Pedro Osmar Flores de Noronha Figueiredo – Ingrid Dittrich Wiggers
Referências
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RUDDUCK, J.; HOPKINS, D. (ed.). Research as a basis for teaching: readings form the work of
Lawrence Stenhouse. London: Heinemann, 1985.
73
Ca p í tul o 5
Professor(a)-Pesquisador(a)
e o Aprender na e com a Ação:
A Experiência de Formação e Pesquisa do Proef Unesp Bauru
Introdução
Perspectivas e Desafios da Educação Física Escolar
Não há como falar sobre perspectivas e desafios sem considerar o caminho já trilhado
pela Educação Física nesse mais de um século de sua presença na escola. Ao longo de sua
caminhada, par e passo com as mudanças ocorridas na sociedade e, consequentemente na
escola, o componente curricular Educação Física assumiu diferentes finalidades e esteve atrelado
a distintos interesses, como nos mostra o Quadro 1.
Quadro 1 – Diferentes perspectivas para a Educação Física na Escola
MOVIMENTO MÉTODOS INTERESSES FINALIDADE
HIGIENISTA Ginásticos Médicos Saúde/Trabalho
(Séc. 19 e 20)
EUGENISTA Ginásticos Militares Saúde/Trabalho/
(1930-1945) Defesa Nacional
MDG Esporte/Lúdico/ Política Educacional Biopsicossocial /Saú-
1946-1968 Valor Educativo de/Trabalho
ESPORTIVISTA Esporte Política Nacional Nacionalismo
(1969-1979
RENOVADOR Crítica Questionamento das Apropriação Crítica da
(1980) Finalidades Cultura
MDG = Movimento Desportivo Generalizado.
Fonte: Os autores.
75
CAPÍTULO 5 – PROFESSOR(A)-PESQUISADOR(A) E O APRENDER NA E COM A AÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E PESQUISA DO PROEF UNESP BAURU
Willer Soares Maffei – Andresa de Souza Ugaya – Milton Vieira do Prado Junior – Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger
Márcio Pereira da Silva – Luciene Ferreira da Silva
1
Mundo social relativamente autônomo em que diferentes atores “enfrentam-se em lutas que têm como alvo a
imposição de princípios legítimos de visão e de divisão do mundo natural e do mundo social” (Bourdieu, 1996, p.
83).
2
Uma proposição teórico-metodológica é um projeto para Educação Física, algo que se pretende concretizar com
ela [...] não é necessariamente algo que já está realizado, mas uma intenção que se lança para o futuro. [...] expressa
concepções de ser humano, sociedade, escola, cultura, esporte, movimento, corpo; vale-se de certas categorias
teóricas, de certas interpretações da realidade; elege certos valores para concretizar. E, claro, seleciona conteúdos
e estratégias de ensino coerentes com aquelas concepções e valores (Betti, 2011 apud Maffei, 2019).
76
CAPÍTULO 5 – PROFESSOR(A)-PESQUISADOR(A) E O APRENDER NA E COM A AÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E PESQUISA DO PROEF UNESP BAURU
Willer Soares Maffei – Andresa de Souza Ugaya – Milton Vieira do Prado Junior – Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger
Márcio Pereira da Silva – Luciene Ferreira da Silva
3
Desnaturalização entendida como o rompimento com a hegemonia das Ciências Naturais na área; com a forma
única de se concebe a Educação Física; retirada da Educação Física daquilo que lhe era natural, e que possibilitou
a revisão dos seus próprios fundamentos (Machado, 2012).
78
CAPÍTULO 5 – PROFESSOR(A)-PESQUISADOR(A) E O APRENDER NA E COM A AÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E PESQUISA DO PROEF UNESP BAURU
Willer Soares Maffei – Andresa de Souza Ugaya – Milton Vieira do Prado Junior – Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger
Márcio Pereira da Silva – Luciene Ferreira da Silva
4
Segundo Bourdieu (1996, p. 22), “habitus são princípios geradores de práticas distintas e distintivas – o que o
operário come e sua maneira de comer, o esporte que pratica e sua maneira de praticá-lo [...] mas são também
esquemas de classificatórios, princípios de classificações, princípios de visão e de divisão e gostos diferentes”. No
caso do professor de Educação Física, o que ele faz e sua maneira de fazer.
79
CAPÍTULO 5 – PROFESSOR(A)-PESQUISADOR(A) E O APRENDER NA E COM A AÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E PESQUISA DO PROEF UNESP BAURU
Willer Soares Maffei – Andresa de Souza Ugaya – Milton Vieira do Prado Junior – Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger
Márcio Pereira da Silva – Luciene Ferreira da Silva
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CAPÍTULO 5 – PROFESSOR(A)-PESQUISADOR(A) E O APRENDER NA E COM A AÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E PESQUISA DO PROEF UNESP BAURU
Willer Soares Maffei – Andresa de Souza Ugaya – Milton Vieira do Prado Junior – Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger
Márcio Pereira da Silva – Luciene Ferreira da Silva
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CAPÍTULO 5 – PROFESSOR(A)-PESQUISADOR(A) E O APRENDER NA E COM A AÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E PESQUISA DO PROEF UNESP BAURU
Willer Soares Maffei – Andresa de Souza Ugaya – Milton Vieira do Prado Junior – Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger
Márcio Pereira da Silva – Luciene Ferreira da Silva
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CAPÍTULO 5 – PROFESSOR(A)-PESQUISADOR(A) E O APRENDER NA E COM A AÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E PESQUISA DO PROEF UNESP BAURU
Willer Soares Maffei – Andresa de Souza Ugaya – Milton Vieira do Prado Junior – Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger
Márcio Pereira da Silva – Luciene Ferreira da Silva
alunos do 6.º e 7.º anos do Ensino Fundamental. Foi observado que as mudanças no ambiente
das aulas geraram a participação e o envolvimento dos alunos; favoreceram a aquisição de
conhecimentos para a continuidade dos estudos; envolveram professores de outras áreas, além
de proporcionarem uma aprendizagem significativa e prazerosa para os alunos.
“O ensino e a aprendizagem do handebol na educação física escolar: o entendimento da
lógica do jogo a partir da implementação de minijogos”, desenvolvido com alunos do 9.º ano do
Ensino Fundamental, teve como objetivo identificar e analisar o entendimento dos alunos sobre
a lógica do jogo a partir da introdução da estratégia de ensino minijogos/jogos reduzidos, no
processo de ensino e de aprendizagem da modalidade esportiva handebol. Constatou-se que
houve aumento das ações táticas tanto no ataque quanto na defesa, entre o pré, o pós teste e o
reteste, bem como o entendimento do jogo por meio das descrições obtidas na autoavaliação
realizada pelos sujeitos e durante as observações das aulas. Concluiu-se que o trabalho com
os minijogos/jogos reduzidos é uma estratégia favorável para a aprendizagem, melhorando a
aprendizagem, a tomada de decisão, a participação ativa dos alunos e a melhor compreensão
sobre lógica interna do jogo.
Com objetivo de investigar a dinâmica do processo de ensino compreendido pelos
encontros formativos, planejamento, execução e avaliação da unidade didática sistematizada
pelos aportes teóricos relacionados à Teoria Educacional, Pedagógica e de Ensino da Educação
Física/Esportes, a pesquisa “Educação física escolar: possibilidades de ensino dos esportes a
partir da perspectiva progressista” foi desenvolvida por duas professoras de Educação Física
que atuam em uma escola pública do interior do Estado de São Paulo e com duas turmas
de estudantes matriculados na mesma instituição de ensino. Neste percurso considerou-se
que, mesmo as professoras demonstrando certa capacidade técnica relacionada ao trato com
o conhecimento e com o processo didático-metodológico para o ensino dos esportes, em
razão das problemáticas advindas da normalização e da organização escolar, percebeu-se
certo conformismo ou adaptação, demonstrando-se resistentes à propositura do ensino dos
esportes a partir da perspectiva progressista em educação na unidade escolar em que atuavam.
Diante disto, conclui-se que: é positivo protagonizar o aluno e sua realidade social e apresentar
compromisso com a organização científica do conhecimento, por meio da ampliação das
dimensões do conteúdo. A resistência apresentada pelas professoras, contudo, na realização
do ensino dos esportes a partir da perspectiva progressista, pode ser motivada pela tecnificação
e precarização do trabalho docente, alinhado teoricamente a partir da concepção de Educação
Física referenciada pelo senso comum. Torna-se necessário aos professores de Educação Física
que atuam em escolas públicas acometidas pela desigualdade social, que reflitam sobre a
função social da Educação Física referenciada pela perspectiva progressista, e assim de maneira
teleológica, busquem possibilidades formativas que os auxiliem a construir uma prática
pedagógica que contribua para a transformação da realidade sociocultural dos estudantes.
Na pesquisa “Danças tradicionais brasileiras: uma experiência no ensino médio de tempo
integral”, com objetivo de identificar e compreender os significados de uma prática pedagógica
de ensino e aprendizagem das danças tradicionais brasileiras no Ensino Médio, a professora-
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CAPÍTULO 5 – PROFESSOR(A)-PESQUISADOR(A) E O APRENDER NA E COM A AÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E PESQUISA DO PROEF UNESP BAURU
Willer Soares Maffei – Andresa de Souza Ugaya – Milton Vieira do Prado Junior – Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger
Márcio Pereira da Silva – Luciene Ferreira da Silva
Física e Esporte por parte dos gestores, tanto devido ao que experienciaram como alunos quanto
ao que observam nas aulas de Educação Física na Rede Municipal de Educação da cidade em
que atuavam.
Na pesquisa “Atividades curriculares desportivas: o esporte educacional e as inferências
do esporte competição na legislação e na visão dos professores e gestores”, realizada com
51 professores de Educação Física, 25 diretores de escola e 1 professora coordenadora do
núcleo pedagógico vinculados a uma Diretoria de Ensino os resultados indicaram diminuição de
turmas no período analisado em razão das mudanças ocorridas na legislação. Os colaboradores
da pesquisa demonstraram conhecimento superficial da legislação, muitos com uma visão do
esporte de rendimento, com foco na participação nos jogos escolares semelhante às antigas
Turmas de Treinamento, enquanto outros apresentaram uma visão do esporte educacional
voltada para a promoção da cidadania. Apesar das Atividades Curriculares Desportivas (ACDs)
estarem presentes há quase 19 anos nas escolas estaduais, sua permanência é constantemente
questionada. A perspectiva de futuro pauta-se na definição de uma legislação clara em relação
aos seus objetivos e na superação dos problemas identificados pelos participantes do estudo.
Na pesquisa “Educação física escolar: o conhecimento do estilo de vida e do perfil
antropométrico dos escolares”, participaram 621 alunos, dos quais 302 meninas e 319 meninos,
com idades entre 10 e 18 anos, matriculados entre o 6.º ano do Ensino Fundamental e 3.º
ano do Ensino Médio. O objetivo do estudo foi identificar o perfil de estilo de vida global e
individual, bem como o perfil antropométrico dos alunos. Segundo a professora-pesquisadora,
a maioria dos alunos (64,4%) encontravam-se entre os perfis intermediário e positivo (33%) e
a minoria no perfil negativo (2,6%) quanto ao estilo de vida global. Analisando individualmente
os fatores, percebeu-se grande número de participantes com perfil negativo para os fatores
nutrição e atividade física. Quanto às dimensões antropométricas, apesar de a maior parte os
alunos estar classificada na faixa ideal para a idade/sexo, quase 30% apresentavam sobrepeso.
Segundo a literatura pesquisada, crianças e adolescentes com sobrepeso terão grandes chances
de se tornarem adultos obesos, propensos ao desenvolvimento de Diversas Doenças Crônicas
Não Transmissíveis (DCNTs), como diabetes e hipertensão.
O estudo “Estratégias de professores de educação física para a superação dos problemas
na carreira docente: experiências de um município do interior paulista” buscou identificar
os problemas que marcam os docentes, em especial os professores de Educação Física, nos
diferentes ciclos de vida profissional, revelando as estratégias de enfrentamento utilizadas por
eles. Desenvolvido com 30 professores de Educação Física da Educação Básica da rede municipal
de ensino de um município do interior paulista, os resultados apontaram que os professores
pesquisados (iniciantes, experientes e em encerramento da carreira) enfrentaram problemas
relacionados à formação, ao isolamento social, à falta de infraestrutura, às questões pedagógicas,
à indisciplina, ao vínculo profissional, à não valorização na escola e à falta de incentivo. A
análise realizada apontou que os problemas pedagógicos podem ser observados do início até o
encerramento da carreira e que os docentes se apoiaram em diferentes ações/estratégias para
enfrentá-los: isolamento,; importância do outro, mudança de prática e de postura profissional,
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CAPÍTULO 5 – PROFESSOR(A)-PESQUISADOR(A) E O APRENDER NA E COM A AÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E PESQUISA DO PROEF UNESP BAURU
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Márcio Pereira da Silva – Luciene Ferreira da Silva
Considerações Finais
A instituição do Proef pelo núcleo da Unesp/Bauru atingiu o objetivo desejado de
formação dos professores de Educação Física escolar, ao mesmo tempo que aprofundou
conhecimentos sobre as problemáticas para a proposição de mudanças pelos professores-
-pesquisadores em suas unidades de ensino.
A formação acadêmico-científica dos docentes foi positiva, considerando a diversidade
de temáticas estudadas, confirmando-se assim a viabilidade da proposta do Mestrado Profissional
(Proef ). Isso reafirma a necessidade de qualificação profissional para a reflexão, síntese e análises
que consubstanciam o planejamento e as práticas de forma contextualizada, com a adoção dos
melhores percursos metodológicos para a valorização da disciplina de Educação Física nos
sistemas escolares. Tarefa que potencializa o ensino/aprendizagem da cultura corporal para os
estudantes nos diferentes níveis de ensino.
Fica evidente que a proposta do curso foi significativa e alterou as práticas dos
profissionais, bem como houve o reconhecimento do avanço profissional, relatado pelos
mestrandos ao final do curso. Os egressos da primeira turma do Proef Núcleo Bauru
participaram de congressos nacionais para divulgação dos trabalhos desenvolvidos. Também
foram convidados para realização de palestras e minicursos e reconhecidos com promoção
na carreira, aprovação em concursos, para direção de escolas, coordenação e vice-direção das
unidades escolares. Além disso, o curso abriu novas perspectivas de envolvimento acadêmico
na área e com a universidade, com a participação em eventos em níveis regional, estadual,
nacional e internacional, bem como para a publicação dos resultados e divulgação dos produtos
educacionais, frutos da pesquisa realizada, no seu contexto de trabalho.
Para além destes resultados, por iniciativa própria, os professores-pesquisadores
participaram de concursos e receberam premiações em nível nacional, o que colocou em
evidência o papel da Educação Física no sistema escolar, elevou a autoestima dos professores,
alunos e das escolas e reafirmou socialmente a qualidade dos trabalhos realizados.
Por tudo que foi exposto, afirmamos a assertividade da criação do Mestrado Profissional
em Rede Nacional por proporcionar a articulação da teoria com a prática e da prática com
as várias perspectivas teóricas que refletem sobre a educação, a Educação Física e o ensino,
indicando perspectivas de enfrentamento nos diferentes contextos e gerando novas sínteses a
partir da realidade da Educação Física no sistema escolar.
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CAPÍTULO 5 – PROFESSOR(A)-PESQUISADOR(A) E O APRENDER NA E COM A AÇÃO: A EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E PESQUISA DO PROEF UNESP BAURU
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Márcio Pereira da Silva – Luciene Ferreira da Silva
Referências
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(Série corpo em movimento).
MAFFEI, Willer Soares. Proposições teórico-metodológicas e práticas pedagógicas da Educação
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de professores: idéias e práticas. Lisboa: Educa, 1993.
89
Ca p í tul o 6
O Mestrado Profissional em
Educação Física em Rede (Proef):
Um Diálogo com a Experiência da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte
Introdução
Os Mestrados Profissionais são uma política de formação que se relaciona com
as demandas do mundo do trabalho. No início das suas primeiras discussões havia uma
compreensão de que suas rotinas acadêmicas promoveriam um rebaixamento na formação
e no sentido dos programas de Pós-Graduação.1 Como argumentam Saupe e Wendhausen
(2005):
Desde então esta modalidade de pós-graduação vem sendo implementada em
várias instituições gerando, paralelamente, muitas divergências quanto a sua
aceitação, bem como restrições ao seu reconhecimento no espaço acadêmico,
com consequente transmissão desses posicionamentos para setores de serviços
e áreas profissionais.
Nesse percurso é possível pensarmos que o Mestrado Profissional é visto como uma
atividade não tão glamurosa no mundo acadêmico, percebido como uma formação menor e
que se caracteriza como um desperdício, o que atrasa o seu reconhecimento como uma política
pública de formação profissional de qualidade. Isso pode ter sido influenciado pelo que Saupe e
1
As críticas que envolvem os Mestrados Profissionais apontam para uma articulação entre os bancos de desenvolvi-
mento mundiais e uma nova organização da educação mundial, e nesse novo cenário de enfrentamento da educação
nacional a criação dos Mestrados estaria acordada na reformulação da oferta da Pós-Graduação como uma forma
de alcance de melhores rendimentos da aprendizagem dos estudantes e deixando de lado aspectos que envolvem
a carreira docente (Ostermann; Rezende, 2015).
91
CAPÍTULO 6 – O MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA EM REDE (PROEF):
UM DIÁLOGO COM A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Aguinaldo Cesar Surdi – Antônio de Pádua dos Santos – Elizabeth Jatobá Bezerra – Maria Aparecida Dias – Marcio Romeu Ribas de Oliveira
Wendhausen (2005) escrevem a respeito dos processos de avaliação dos Mestrados Profissionais,
que precisariam de critérios diferentes dos Mestrados Acadêmicos. Dessa forma, para as autoras
uma das principais críticas para o desenvolvimento dos mestrados profissionalizantes era uma
fratura no sentido da formação docente no Ensino Superior, visto que o Mestrado Profissional
apontava um percurso diferente na formação especializada na Pós-Graduação.
Os Mestrados Profissionais iniciam nos anos 90, como afirmam Ramos et al. (2010)
e Viniegra et al. (2019), a partir de regulamentação da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes), especificamente “para formação de lideranças para desenvol-
vimento de tecnologias capazes de dar respostas aos problemas observados na prestação de
serviços, aprofundando a interface entre teoria e prática, além de abordar temas relacionados
à pesquisa e à docência” (Viniegra et al., 2019).
De acordo com Lacerda e Andre (2019, p. 132) os Mestrados Profissionais na educação
iniciam suas atividades no ano de 2009 e os Mestrados Profissionais em rede no ano de 2011,
“com o objetivo de conceder apoio à formação continuada em nível de pós-graduação stricto
sensu a professores das redes públicas da educação básica”, no sentido da melhoria da Educação
Básica.
Desse modo, no campo da Educação Física, o Mestrado Profissional em rede (Proef )
é uma realidade que atende à maioria das regiões do Brasil, desde o ano de 2018, mas com
tratativas que remetem ao ano de 2012 (Oliveira, A. A. B., 2020) como uma política de formação
continuada que discute o ensino da Educação Física nas escolas brasileiras, organizadas em áreas
de concentração na Educação Infantil, nos Ensinos Fundamental e Médio.
Entendemos que os mestrados profissionais trazem uma possibilidade de os professores
da Educação Básica refletirem sobre sua prática, situá-la no contexto social e criticá-la, com a
intenção de buscar e encaminhar soluções para os problemas enfrentados em seus cotidianos
escolares. Esse entendimento projeta a prática pedagógica dos professores-pesquisadores como
referência central do desenvolvimento do curso. A perspectiva de formação está alicerçada em
um planejamento adequado, com as expectativas mais amplas e contemporâneas da educação
escolar. Partindo desses pressupostos, o Proef busca articular as ações no sentido de contribuir
para a transformação do contexto escolar em diferentes dimensões.
92
CAPÍTULO 6 – O MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA EM REDE (PROEF):
UM DIÁLOGO COM A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Aguinaldo Cesar Surdi – Antônio de Pádua dos Santos – Elizabeth Jatobá Bezerra – Maria Aparecida Dias – Marcio Romeu Ribas de Oliveira
Nossa primeira atividade foi a aula inaugural no dia 27 de abril de 2018;2 ali nós
iniciamos uma rotina de aulas, encontros, orientações, leitura, escrita, debate, entre milhares
de quilômetros que nossos/as estudantes rodavam entre as cidades de Natal e Fortaleza, e
entre Natal e Patos, na Paraíba. Nesses caminhos em que fomos enredados a educação e a
escola pública brasileira foram o fio condutor de nossos diálogos. Eram 15 estudantes, 4 deles
professoras e 11 professores, vindos do Ceará 8, do Rio Grande do Norte 6 e 1 da Paraíba. Nesta
primeira turma nós estávamos em 7 professores e professoras permanentes do programa.
As propostas curriculares dos polos do Mestrado Profissional em rede, como comentam
Lacerda e Andre (2019, p. 134), garantem uma certa autonomia, pois suas “propostas (...) não
indicam uma matriz curricular comum para os cursos, garantindo a autonomia das instituições
para fazerem as adequações necessárias conforme a realidade da área”. Essa proposição fica mais
relacionada com as disciplinas que estão presentes nas áreas de concentração e com os temas
que emergem nas discussões presenciais no polo.
O Mestrado Profissional em rede é realizado por meio do Ambiente Virtual de
Aprendizagem (AVA) da Universidade do Estado de São Paulo, 3 vinculado ao Instituto
de Educação e Pesquisa em Práticas Pedagógicas (IEP3). Ao entrarmos no ambiente de
aprendizagem é que acessamos as disciplinas e o material pedagógico de cada componente.
Nós temos os componentes nacionais e os componentes que são optativos de cada polo da rede.
O cotidiano do curso ocorre por meio do AVA e dos encontros presenciais, o que o
caracteriza como um curso semipresencial. Nesta primeira turma não tínhamos tutores das
disciplinas, o que fazia com que professores ficassem responsáveis pela mediação entre tarefas
organizadas pelos professores das disciplinas e as tarefas organizadas na plataforma, o que gerou
uma série de problemáticas na verificação desses materiais e criando uma sobrecarga de trabalho
para os docentes dos polos.
Ainda nesse aspecto da primeira turma é visível algumas problemáticas sobre a
quantidade excessiva de tarefas nos fóruns, sobreposição de textos e temas, quantidade
excessiva de materiais para leitura, entre outros aspectos que foram apontados por estudantes
e professores/as que estavam vinculadas/os aos componentes curriculares.4
A organização curricular, como apontam Lacerda e Andre (2019, p. 134), investe no
estabelecimento dos vínculos com a produção de problemáticas cotidianas como geradoras
do saber que é produzido nas escolas, o que para as autoras “Entende-se que o conhecimento
pedagógico se configura aos conhecimentos voltados para a docência, o ensino e a
aprendizagem, envolvendo aqueles da área específica articulados aos saberes da experiência
e saberes didáticos”.
2
Mestrado Profissional em Rede realiza aula inaugural, ver a notícia em: https://sigaa.ufrn.br/sigaa/public/programa/
noticias_desc.jsf?lc=pt_BR&id=5591¬icia=129973808
3
https://www2.unesp.br/portal#!/iep3
4
Essas problemáticas estão visíveis nos Mestrados Profissionais, visto que os/as estudantes estão trabalhando em
suas unidades de ensino, o que implica uma formação em trabalho.
93
CAPÍTULO 6 – O MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA EM REDE (PROEF):
UM DIÁLOGO COM A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Aguinaldo Cesar Surdi – Antônio de Pádua dos Santos – Elizabeth Jatobá Bezerra – Maria Aparecida Dias – Marcio Romeu Ribas de Oliveira
Dos dois trabalhos que trataram das tecnologias digitais, o estudo de Pereira (2020)
“Educação na era digital: relato de experiência sobre as conectividades pedagógicas nas
aulas de Educação Física” teve como objetivo o desenvolvimento, efetivação e avaliação
de uma proposta de aulas de EF (unidade temática) utilizando-se de metodologias ativas de
aprendizagem e das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) para o ensino
dos Esportes de Precisão (EPs) no Ensino Fundamental no município de São Mamede/PB.
Constatou-se que o uso de metodologias ativas nas aulas de EF, bem como o diálogo com
as TDICs, proporcionou um ensino mais significativo e de maior relevância. No decorrer do
processo participativo foi oportunizada uma integração de diferentes visões e contextos sociais.
No trabalho de Silva (2019) “Classificação dos esportes e o uso das mídias: desenvolvendo uma
unidade didática nas aulas de Educação Física no Ensino Médio noturno”, o objetivo foi a
construção coletiva, a implementação e a avaliação de uma unidade didática com a utilização
das mídias como ferramenta pedagógica no ensino da classificação dos esportes para o Ensino
Médio Noturno. Foi observado que o planejamento participativo tem muito a ajudar no
processo de ensino-aprendizagem, assim como, na intervenção pedagógica é possível notar a
participação dos alunos no processo de construção dos saberes, seja na relação dialógica, nas
vivências das modalidades esportivas ou no uso das mídias. Os resultados apresentam elementos
que mostram um aumento na aprendizagem dos alunos, demonstrando que a relação práxis
pedagógica facilita na aprendizagem, tanto do aluno como do professor.
Nos estudos sobre a temática Luta, o trabalho de L. H. de L. Silva (2020), “A Capoeira
como conteúdo da Educação Física Escolar: uma construção a partir da narrativa de
formação de um capoeirista professor”, teve como objetivo revelar, por meio da história de vida
de um capoeirista professor, a partir da sua formação e prática docente, elementos pedagógicos
para uma proposta de inclusão deste conteúdo da Educação Física Escolar, nos anos iniciais do
Ensino Fundamental. Dessa forma, foi apresentada uma possibilidade metodológica para se
trabalhar com a capoeira nas aulas de Educação Física Escolar, especificamente nos anos iniciais
do Ensino Fundamental, resultado das experiências vivenciadas dentro do universo capoeirístico
e da academia. Foi elaborada uma possibilidade metodológica, de fácil aplicabilidade, utilizando
a capoeira como conteúdo da Educação Física Escolar, que se caracteriza pelo uso de jogos e
brincadeiras contextualizados com seus aspectos históricos e culturais.
No estudo de Nascimento M. P. (2020) “A Educação Física como componente
curricular no Ensino Médio: vivenciando o conteúdo lutas na escola”’, objetivou elaborar
um material didático como produto de um trabalho do ensino das lutas utilizando a Metodologia
de Jogos. Após as intervenções práticas e teóricas foi constatada uma mudança na percepção da
disciplina por meio dos Jogos de Lutas, pois estes viram que a cultura de movimento também
pode proporcionar uma leitura de mundo, assim como os outros componentes curriculares,
pois mais de 90% deles assimilaram satisfatoriamente os elementos didáticos presentes nessa
vivência de acordo com a proposta metodológica adotada.
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CAPÍTULO 6 – O MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA EM REDE (PROEF):
UM DIÁLOGO COM A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Aguinaldo Cesar Surdi – Antônio de Pádua dos Santos – Elizabeth Jatobá Bezerra – Maria Aparecida Dias – Marcio Romeu Ribas de Oliveira
O estudo de C. C. Silva (2020), que tratou das Práticas Corporais de Aventura, “Práticas
Corporais de Aventura nos anos iniciais: a organização e a sistematização curricular nas
aulas de Educação Física”, emerge de discussões e reflexões individuais e coletivas a partir
da publicação da Base Nacional Comum Curricular quanto à temática das Práticas Corporais
de Aventura (PCA) e de sua proposição e ampliação no currículo da Rede Municipal de Ensino
do Natal, que passa a introduzir as PCAs já nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Por meio
de uma pesquisa-ação, foi identificada a presença de alguns limitantes, como: a necessidade
de apoio em alguns momentos de aulas para gerenciamento dos riscos, bem como o entrave,
diante da falta de alguns equipamentos específicos, situações possíveis de serem administradas
e superadas com algumas adaptações, tendo em vista as possibilidades que as PCAs trazem
para diversificar as práticas corporais da cultura de movimento dos alunos, apresentando um
mundo novo de aprendizados que possuem, em sua energia, o poder de cativar, transformar e
envolver a todos da escola.
No estudo de Nascimento J. K. (2020) “Planejamento participativo: uma possibilidade
para superação do afastamento dos estudantes das práticas corporais nas aulas de Educação
Física”, o autor traçou como objetivo verificar a eficiência da utilização do planejamento
participativo como uma possibilidade para superação do afastamento dos estudantes das
práticas corporais vivenciadas nas aulas de Educação Física. Os resultados indicam que é possível
utilizar o planejamento participativo como uma possibilidade bastante eficiente para superação
do afastamento das práticas corporais nas aulas de Educação Física, pois permitiu construir
um ambiente caracterizado pela sensação de pertencimento, envolvimento e motivação dos
estudantes com as práticas corporais experienciadas nas aulas.
Sobre os motivos da não adesão dos alunos nas aulas de Educação Física, o estudo de
B. H. Cavalcanti (2020) “A não adesão às aulas de Educação Física em uma escola pública
do Rio Grande do Norte: quais são os motivos que influenciam essa situação?”, objetivou
analisar os motivos que levam à não adesão nas Aulas de Educação Física Escolar (Aefe) dos
alunos do 9º ano Ensino Fundamental 2. Segundo os resultados, a não adesão dos alunos é
causada por três principais motivos: a infraestrutura da escola, o tipo de conteúdo nas aulas e
a preguiça. Por fim, uma das constatações com nossa investigação foi que a Aefe, comparada
aos outros componentes curriculares da escola, apresentou-se como o de maior participação,
para nossa surpresa.
O estudo de R. N. G. Cavalcanti (2020) “Educação Física e competências socioemo-
cionais: experimentos didático-pedagógicos para uma resolução de conflitos assertiva” teve
como objetivo analisar um conjunto de aulas de Educação Física Escolar, nas séries finais do
Ensino Fundamental, com o conteúdo esporte e seu diálogo com as competências socioemo-
cionais. Como instrumentos de pesquisa utilizamos o questionário da Escala Children’s Action
Tendency Scale (Cats). Ao utilizar a Cats antes da intervenção, encontramos como resultados a
tendência assertiva em primeiro lugar, seguida da submissa e da agressiva. Após a intervenção,
a tendência submissa surgiu em primeiro lugar, seguida da assertiva e da agressiva. Embora o
resultado encontrado não tenha sido tão positivo, ressaltamos que uma experiência longitudinal
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CAPÍTULO 6 – O MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA EM REDE (PROEF):
UM DIÁLOGO COM A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Aguinaldo Cesar Surdi – Antônio de Pádua dos Santos – Elizabeth Jatobá Bezerra – Maria Aparecida Dias – Marcio Romeu Ribas de Oliveira
Considerações Finais
A experiência do Mestrado Profissional em Rede trouxe uma ressignificação no modo de
compreender e efetivar a orientação das pesquisas vinculadas, a partir dos nossos trabalhos de
orientação. Ao ter que, juntos, configurarmos um formato de orientação tendo sempre como
pano de fundo a realidade à qual nossos orientandos estavam atrelados, considera-se a sua
atuação profissional como elemento instituinte das suas práticas de pesquisa.
Este desafio deu início a um exercício de compreensão da realidade dos espaços
escolares em que os/as professores estavam. Feito isso, procuramos sistematizar encontros
virtuais e presenciais, organizados entre os componentes obrigatórios e optativos vinculados
ao Mestrado Profissional.
No que se refere aos componentes curriculares, participamos das disciplinas curriculares,
duas obrigatórias e uma optativa. Queremos chamar a atenção para o componente optativo que
tratava da pessoa com deficiência e entre os 15 mestrandos que compunham a turma do nosso
núcleo, 13 deles optaram por fazê-lo, o que nos chamou muito a atenção, pois o interesse por
esta discussão tão necessária na área de Educação Física ficou evidente. Vale salientar que no
trabalho final da disciplina foram escritos artigos com esta temática e um deles foi publicado em
livro. Outro aspecto que é necessário destacar foi a participação dos/as estudantes em eventos,
entre eles o Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte (Conbrace), no ano de 2019, que foi
realizado no Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
De outra maneira e também de forma exitosa, os trabalhos dos/os nossos/as estudantes
participaram e participam de concursos nacionais, como o trabalho da professora Cybele Silva,
que teve seu trabalho sobre as Práticas Corporais de Aventura na Escola classificado entre os
melhores do país no prêmio Educador Nota 10.
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CAPÍTULO 6 – O MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA EM REDE (PROEF):
UM DIÁLOGO COM A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Aguinaldo Cesar Surdi – Antônio de Pádua dos Santos – Elizabeth Jatobá Bezerra – Maria Aparecida Dias – Marcio Romeu Ribas de Oliveira
Referências
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100
CAPÍTULO 6 – O MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA EM REDE (PROEF):
UM DIÁLOGO COM A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Aguinaldo Cesar Surdi – Antônio de Pádua dos Santos – Elizabeth Jatobá Bezerra – Maria Aparecida Dias – Marcio Romeu Ribas de Oliveira
MOURA, P. M. A aderência nas aulas de Educação Física no Ensino Médio: o caso do Colégio
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Grande do Norte, Universidade Estadual Paulista Programa de Mestrado Profissional em Educação
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Norte, Universidade Estadual Paulista, Programa de Mestrado Profissional em Educação Física em
Rede Nacional, Natal, 2020.
101
CAPÍTULO 6 – O MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA EM REDE (PROEF):
UM DIÁLOGO COM A EXPERIÊNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Aguinaldo Cesar Surdi – Antônio de Pádua dos Santos – Elizabeth Jatobá Bezerra – Maria Aparecida Dias – Marcio Romeu Ribas de Oliveira
102
Ca p í tul o 7
Conhecimento e Intervenção
na Área da Educação Física Escolar:
As Aproximações Existentes no Núcleo
da Universidade de Pernambuco
Neste capítulo temos como objetivo refletir sobre a produção do conhecimento diante
das pesquisas-intervenções, realizadas por meio das dissertações do Mestrado Profissional
em Educação Física (Proef ), nas características do núcleo da Universidade de Pernambuco
(UPE). Elencamos argumentos referentes ao referencial que os pesquisadores (professores-
-mestrandos e professores-orientadores) da referida instituição anunciaram em suas produções,
desenvolvidas entre 2018 e 2020, em sua primeira turma.
Para contextualização inicial acerca da caracterização do núcleo UPE, situamos os
desafios centrais que precisamos enfrentar no âmbito da Educação Física (EF) e sua inserção
na Educação Básica. Nisso, nosso marco legal demarca a origem do Proef em âmbito nacional,
mediante a Resolução da Universidade Estadual Paulista nº 22 (Unesp, 2016) e, no âmbito
estadual, o núcleo UPE ocorreu via Resolução do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão
(Cepe) nº 28 (UPE, 2016).
Do ponto de vista estrutural o núcleo UPE passou a funcionar nas instalações da
Escola Superior de Educação Física – Esef/UPE –, integrando uma Rede de 12 instituições.
Atendendo aos critérios de um Programa em Rede, sua execução contou/conta com uma
infraestrutura mediante sala de aula específica, biblioteca, secretaria de curso e Laboratório
de Estudos Pedagógicos em Educação Física (Laped). Credenciou inicialmente, atendendo
aos critérios nacionais, 7 (sete) professores-orientadores e 10 (dez) professores-mestrandos
aprovados no primeiro processo seletivo de 19 de junho de 2016 com início, devido a exigências
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em 2018. Os
professores-orientadores e os professores-mestrandos constituíram neste núcleo duas linhas
de pesquisa – Educação Física no Ensino Fundamental e Educação Física no Ensino Médio.
103
CAPÍTULO 7 – CONHECIMENTO E INTERVENÇÃO NA ÁREA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR:
AS APROXIMAÇÕES EXISTENTES NO NÚCLEO DA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
Ana Rita Lorenzini – Lívia Tenório Brasileiro – Marcelo Soares Tavares de Melo – Marcílio Souza Júnior
O Proef é um programa que funciona num modelo híbrido, com disciplinas oferecidas à
distância e com encontros presenciais, e disciplinas totalmente presenciais, sendo reconhecido
pela Capes, do Ministério da Educação, como programa com área de concentração em Educação
Física Escolar. É imprescindível, no entanto, destacar que em sua fase final, em 2020, o curso
passou a funcionar no formato remoto, devido à pandemia de Covid 19,1 de forma que todas as
suas bancas de defesa aconteceram on-line via plataforma do G-Suite.
Compreendemos que o Proef tem como desafio central a formação de professores
de Educação Física em exercício na Educação Básica de escolas públicas, revelando-se mais
uma referência e ação de enfrentamento aos problemas educacionais que assolam nosso país.
Focados na melhoria da qualidade da prática pedagógica docente, no processo de ensino-
-aprendizagem-conhecimento de estudantes e, também, nas condições de trabalho, e por
que não dizer, da ascensão salarial, os professores-mestrandos da 1ª turma do Proef, a partir
de um olhar crítico, foram desafiados a aprofundar conhecimentos que instrumentalizassem
suas intervenções como professores engajados e comprometidos com políticas e ações sociais
afirmativas para a maioria da população.
Por via de planejamentos, intervenções e avaliações de experiências no chão da escola,
enfrentando as dificuldades do contexto da atuação profissional nas aulas de Educação Física,
os professores-mestrandos foram se instrumentalizando para tratar o conjunto de objetivos,
conteúdos, métodos pedagógicos, recursos, avaliação, dos projetos curriculares da referida
disciplina escolar. Neste rumo, o Proef núcleo UPE formou a 1ª turma em 2020, com 10 (dez)
mestres em Educação Física, na área da Educação Física Escolar, provenientes dos Estados da
Paraíba (1), Sergipe (2) e Pernambuco (7).
Estudos de Gamboa (2007) e Minayo, (2013), entre outros, nos conduziram a
aproximações iniciais com uma teoria do conhecimento, a partir da qual se estabelecem as
concepções de sociedade, de ser humano em processos de conhecimento, tendo a ciência
como a expressão desenvolvida da capacidade humana de conhecer a realidade e de expressá-la
na forma de conceito. Assim como Freitas (1994), Saviani (2011), Galvão, Lavoura e Martins
(2019), nos orientam nas explicitações sobre a teoria educacional, a qual requer explicações
científicas sobre como se estabelecem, consolidam e se reproduzem ou se transformam as
relações sociais que imprimem rumos à formação humana na sociedade, reconhecendo como
tudo isto se dá nas escolas. Também explicitam sobre a teoria pedagógica, que é constituída de
explicações científicas as quais refletem, problematizam e propõem sobre como se dá o ensino-
-aprendizagem na escola, e particularmente em campos específicos como o da Educação Física.
1
Esta etapa da formação atendeu à declaração de Emergência em Saúde Pública de Interesse Internacional pela
Organização Mundial da Saúde, de 30.1.2020, em decorrência da Infecção Humana pelo novo Corona Vírus
(Covid-19); a Portaria nº 188/GM/MS, de 4.2.2020, que Declara Emergência em Saúde Pública de Importância
Nacional (Espin), em decorrência da Covid-19; e a publicação de Medidas de Contenção e Prevenção Covid-19,
adotadas por tempo indeterminado, no âmbito da Universidade de Pernambuco.
104
CAPÍTULO 7 – CONHECIMENTO E INTERVENÇÃO NA ÁREA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR:
AS APROXIMAÇÕES EXISTENTES NO NÚCLEO DA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
Ana Rita Lorenzini – Lívia Tenório Brasileiro – Marcelo Soares Tavares de Melo – Marcílio Souza Júnior
questionário durante o processo, para analisar a perspectiva dos estudantes e realizar alterações
no documento. Utilizou a análise de conteúdo categorial por temática, baseada em Souza Junior,
Melo e Santiago (2010), tratando as categorias analíticas: a gamificação na educação; a Luta como
conteúdo nas aulas de Educação Física; as categorias empíricas: materialização (introdução da
gamificação) e o ensino do judô com suas respectivas unidades de contexto e registro.
O estudo reconhece que a utilização da gamificação, como estratégia didático-
-metodológica, mostrou-se eficiente, não apenas no engajamento, mas também para abordar
as habilidades e competências do conteúdo luta, orientadas nos documentos curriculares do
estado de Pernambuco. Seu processo envolveu: uma diagnose, por meio de nuvem de palavras;
uso do App IJudô, para ampliar o conhecimento dos estudantes e auxiliando o professor na
demonstração das técnicas; storytelling, com construção coletiva entre outras estratégias, tendo
o cuidado de se caracterizar como uma gamificação analógica ou gamificação humanizada,
facilitando assim a possibilidade de sua materialização em escolas públicas. Tal estudo gerou um
produto educacional apresentado no formato de sequência didática, permitindo aos professores
tomá-las como inspiração para organização de suas aulas (Nascimento, 2020b).
Em suas singularidades, as duas investigações supracitadas reportaram-se ao processo
do professor, o qual ocorre do abstrato ao concreto, da síntese para a superação da síncrese nos
estudantes, dos conceitos científicos confrontados com os conceitos espontâneos. Assim, R. R.
Silva (2020a) investigou o problema do método pedagógico, o qual é necessário ao processo de
ensino-aprendizagem nas aulas de Educação Física. É o método pedagógico do professor que
possibilita ao estudante fazer a passagem do conhecimento empírico ao concreto no pensamento,
pela mediação do abstrato, ou seja, da síncrese à síntese pela mediação da análise. Por sua vez,
Nascimento (2020a) desenvolveu uma estratégia metodológica que motivou o trabalho nas aulas
de Educação Física, possibilitando refletir sobre aspectos do método pedagógico.
Nas investigações referentes ao conteúdo jogo reconhecemos três produções. A primeira
versou sobre “Aprendizagem do jogo nas aulas de Educação Física no I ciclo do Ensino
Fundamental” (Oliveira, 2020), a qual analisou como os estudantes do Ensino Fundamental
aprendem o conteúdo jogo nas aulas de Educação Física no nível de organização da identidade
dos dados da realidade. Houve pesquisa-ação, numa escola da rede estadual sergipana, com
três turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental, com sistematização de uma sequência
didática de 20 horas/aula para cada turma, subsidiada na Educação Física Crítico-Superadora.
Via atividades dos jogos de papéis sociais e de estudo, o professor-pesquisador orientou os
estudantes na identificação dos jogos e brincadeiras, contextualizando-os, relacionando-os
ao lazer, à saúde e ao estudo, refletindo sobre atitudes e habilidades, com extrapolação do
conhecimento para a comunidade escolar por ocasião de um seminário final e um festival de
jogos e brincadeiras.
Conforme Oliveira (2020), os estudantes do 1º ano deram início à formação de represen-
tações sobre o jogo e brincadeiras; os do 2º ano ampliaram as representações e os do 3º ano
deram um salto qualitativo, consolidando a formação de representações sobre o conteúdo,
107
CAPÍTULO 7 – CONHECIMENTO E INTERVENÇÃO NA ÁREA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR:
AS APROXIMAÇÕES EXISTENTES NO NÚCLEO DA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
Ana Rita Lorenzini – Lívia Tenório Brasileiro – Marcelo Soares Tavares de Melo – Marcílio Souza Júnior
mediada por signos, orientada pelo docente, assentada nas apropriações efetivadas por cada
estudante, mostrando-se essencial a compreensão e explanação de como o discente aprende
articulada ao conteúdo aprendido (Martins, 2015; Martins; Abrantes; Facci, 2017).
A temática da avaliação esteve presente no estudo intitulado “Avaliação em Educação
Física: desafios à prática pedagógica do professor na escola” (Sobral, 2020a). A professora-
-pesquisadora partiu de inquietações a respeito do que efetivamente estamos avaliando, como
avaliamos, o que pretendemos com essa avaliação e o que o estudante fará com este resultado
para melhorar sua aprendizagem, e apontou como objetivo: analisar os limites e as possibilidades
presentes em um processo de avaliação de aulas de Educação Física de uma turma de Ensino
Médio da Rede Estadual de Ensino da Paraíba. Com base em uma reflexão sobre o papel da
avaliação escolar, do sistema educacional brasileiro e das perspectivas avaliativas na Educação
Física, reconhece que, com base em Freitas (1994, p. 91), “[...] a avaliação é um momento real,
concreto e, com seus resultados, permite que o aluno se confronte com o momento final
idealizado, antes, pelos objetivos”.
Por intermédio de uma pesquisa-ação, realizou sua intervenção com uma turma do
Ensino Médio de uma Escola da Rede de Ensino, situada em Campina Grande/PB, em um
processo que envolveu três etapas: um seminário inicial, quando foram apresentadas aos
estudantes as questões referentes ao processo de investigação em ação; uma unidade de ensino
no 4º bimestre do ano de 2019 com o conteúdo Dança e Luta, com nove aulas cada, finalizando
com um seminário de avaliação junto aos estudantes e a comunidade escolar. Com base no
diário de campo as narrativas das aulas foram apresentadas por meio de episódios que permitem
explicitar o debate sobre a dimensão da avaliação em discussão, sendo explicitado na sequência
a dinâmica avaliativa apresentando todos os instrumentos orientadores da rede de ensino, da
proposta da escola e da professora-pesquisadora no componente curricular Educação Física,
com apresentação de registros dos estudantes. Analisou, ainda, diálogos com a equipe gestora
da escola, por meio de entrevista, bem como retorno dos estudantes, via questionário, sobre
a avaliação.
A intervenção-investigação permitiu perceber que ao repensar a avaliação nas aulas, a
partir do reconhecimento do par dialético objetivo-avaliação, os estudantes compreenderam
como se chegou a uma nota ou conceito no seu processo de aprendizagem. Eles “[...] nos
mostraram que compreenderam que a avaliação é realizada através de ações desenvolvidas
em diversos momentos da aula, ressaltando que os mesmos são apresentados através de uma
diversidade de momentos durante o processo avaliativo do bimestre” (Sobral, 2020a, p. 115).
Tal estudo gerou um produto educacional denominado “E por falar em avaliação
nas aulas de Educação Física”, no qual a autora apresenta um livreto que reflete, de forma
animada, sobre o processo vivido com os estudantes, declarando que “Entre idas e vindas experi-
mentamos diferentes processos avaliativos e colocamos todos em discussão neste processo de
qualificação de nossa prática pedagógica” (Sobral, 2020b, p. 5).
110
CAPÍTULO 7 – CONHECIMENTO E INTERVENÇÃO NA ÁREA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR:
AS APROXIMAÇÕES EXISTENTES NO NÚCLEO DA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
Ana Rita Lorenzini – Lívia Tenório Brasileiro – Marcelo Soares Tavares de Melo – Marcílio Souza Júnior
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115
CAPÍTULO 7 – CONHECIMENTO E INTERVENÇÃO NA ÁREA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR:
AS APROXIMAÇÕES EXISTENTES NO NÚCLEO DA UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO
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117
Ca p í tul o 8
Introdução
A Educação Física, como componente curricular, constitui o rol de conhecimentos
que compõem a Educação Básica, cujo objetivo centra-se na formação integral dos sujeitos e
estímulo às condições de agir de forma autônoma com relação às práticas corporais (Bagnara;
Fensterseifer, 2019). O cenário escolar “deve favorecer a apropriação, problematização,
compreensão e uso criativo dos conhecimentos de sua especificidade” (p. 53). Em outras
palavras, a Educação Física Escolar constitui-se no aceno do “ser e estar” em um espaço e
tempo que requer olhares minuciosos sobre a realidade e a diversidade em que a escola e seus
estudantes se inserem.
Partindo dessas reflexões, surge a seguinte problemática para o desenvolvimento deste
ensaio: qual a percepção dos professores/mestres formados na primeira turma do Proef/UEM
sobre o programa e as implicações na/para a prática e ação docente? Para isso foi eleito como
objetivo apresentar as relações estabelecidas entre a formação continuada e a ação docente na
contemporaneidade e o papel do Proef/UEM na formação dos professores da primeira turma
de Mestrado Profissional.
Partimos do pressuposto de que para que o almejado seja contemplado, faz-se
necessário o rompimento do pensar estereotipado do ser professor da prática e o ser professor
pesquisador, isto porque passamos a compreender o professor que atua na Educação Básica
como um profissional cujo espaço, tempo e condições didático-pedagógicas proporcionam-lhe
uma diversidade de vivências, experiências com sentidos e significados distintos que o levam
119
CAPÍTULO 8 – FORMAÇÃO CONTINUADA E AÇÃO DOCENTE:
CAMINHOS, TEXTOS E CONTEXTOS NA PRIMEIRA TURMA DE MESTRADO PROFISSIONAL PROEF/UEM
Antonio Carlos Monteiro de Miranda – Vânia de Fátima Matias de Souza – Luciane Cristina Arantes – Claudio Kravchychyn
a romper com os paradigmas postos, e possibilitando que sua sala de aula seja o cenário, o
laboratório de pesquisa e transformação, no qual os saberes e conteúdos possam influenciar
na transposição do aprendido para além dos muros da escola.
Segundo Kullok (2000, p.18), precisamos compreender que “nada é mais permanente,
tudo muda, tudo passa” e na educação e no processo formativo educacional essa ação é ainda
mais latente. Como consequência deste fato, Cerezer (2011, p. 41) vai além e destaca que a
escola é um espaço integrante da educação, espaço formal de ensinamentos e aprendizagens
recíprocas, espaço no qual acontece um “interjogo de forças conscientes e inconscientes” que
tentam dar conta na “formação” de nossos iguais de uma potente barreira de “repressão” a fim
de tornar o infante um adulto capaz de sublimar e, por conseguinte, civilizar-se.
Cerezer (2011, p. 43) argumenta que na atualidade um novo valor de competência
profissional é a habilidade de readaptação rápida aos contextos. A rapidez exigida neste processo
é proporcional ao não questionamento das atitudes necessárias para a manutenção do lucro
das empresas, inclusive “as de educação”, pois isto cada vez mais também é visto e tratado
como mercadoria. Como consequência, o processo formativo passa a integrar-se como a
ação fundamental para que a ação docente torne-se significativa aos envolvidos no processo
educativo, na qual todos – professores, estudantes, comunidade escolar – passam a desenhar
os contextos da diversidade de saberes que rompem com o pragmatismo da inércia, passando
a sustentar-se na ação.
Nesse viés o professor, considerado o sujeito que atua em uma sociedade em um
constante movimento político, cultural, social e econômico que promove mudanças cada vez
mais velozes, que modificam, (re)modelam e estruturam todos os aspectos da vida cotidiana dos
envolvidos, passa a ser o sujeito que é cada dia mais chamado a (re)aprender como se colocar
diante das demandas, situações e diversidades que ocorrem à sua volta, a volta da escola, dos
estudantes, enfim de toda comunidade escolar.
Diante de tais circunstâncias o professor precisa ser o profissional cujas práticas
obrigam-no a caminhar em busca da incessante tarefa de (re)pensar a sociedade, a escola e
seu papel nesse contexto. Nessa direção, partindo da compreensão de que a Educação Física
Escolar é ambígua e associada a divergentes opiniões educacionais e abordagens pedagógicas
(Fraga, 2005), associada ao fato de as inquietudes lançadas acerca das ações didático-pedagógicas
serem planejadas e organizadas de forma a trabalharem os conteúdos específicos da área com
significado para os estudantes envolvidos, o professor da área necessita de um movimentar-se
rumo ao “constante aprender”. O professor de Educação Física passa a ocupar na escola o espaço
de agente de transformação que traz enraizados em suas aulas conteúdos que possibilitam pelo
movimento, pela experimentação e exploração da diversidade da cultura das práticas corporais
extrapolar ou romper com a estagnação de uma situação posta.
Essa tarefa, entretanto, é árdua, e esse (re)aprender constante tem se dado de forma
efetiva por meio do processo de formação continuada, afinal o ser professor significa ser um
profissional em constante construção, em um movimento de aprendizado constante, em uma
120
CAPÍTULO 8 – FORMAÇÃO CONTINUADA E AÇÃO DOCENTE:
CAMINHOS, TEXTOS E CONTEXTOS NA PRIMEIRA TURMA DE MESTRADO PROFISSIONAL PROEF/UEM
Antonio Carlos Monteiro de Miranda – Vânia de Fátima Matias de Souza – Luciane Cristina Arantes – Claudio Kravchychyn
reflexão e consciência crítica a partir das ações formativas e dos processos que configuram a
práxis como sendo uma ação de indissociabilidade entre a pesquisa e a prática docente, consti-
tuindo-se como uma práxis educativa do real e do vivido junto a produção científica da área.
124
CAPÍTULO 8 – FORMAÇÃO CONTINUADA E AÇÃO DOCENTE:
CAMINHOS, TEXTOS E CONTEXTOS NA PRIMEIRA TURMA DE MESTRADO PROFISSIONAL PROEF/UEM
Antonio Carlos Monteiro de Miranda – Vânia de Fátima Matias de Souza – Luciane Cristina Arantes – Claudio Kravchychyn
Reforçaram as minhas convicções acerca da neces- Após essa etapa de formação, eu consegui com-
sidade de lutar por uma educação democrática. preender os propósitos político-pedagógicos
O que vem contribuindo para que eu cada vez da Educação Física com maior clareza. Ampliei
mais coloque as minhas ideias perante a equipe minhas possibilidades de atuação pedagógica,
pedagógica. No âmbito prático, as vivências rela- escolhas dos conteúdos e didática. Minha rede
cionadas ao circo, ginástica e dança favoreceram o de troca de experiência profissional ampliou
trabalho com os conteúdos no ambiente escolar. significativamente também.
O Mestrado trouxe contribuições importantes na Mais competência para sistematizar os conheci-
forma de compreender a atividade docente, na mentos abordados pela Educação Física. Elabo-
sua organização e no trato com o conhecimento. ração de melhores estratégias avaliativas. Visão
Estreitou os laços entre a universidade e a escola mais crítica sobre o objeto de conhecimento da
trazendo reflexões pertinentes e necessárias para Educação Física. Mais valorização do componen-
mudanças significativas no chão da escola. te curricular no processo de escolarização básica.
Maior comprometimento no planejamento das au- Contribuições no modo de ver e agir docente.
las. Busca de leituras para embasar meus pensamen-
tos/convicções pedagógicas. Aprendi a apreciar os
processos e fazeres cotidianos, pois o resultado nem
sempre é evidente ou o mais importante.
Fonte: Organizado pelos autores a partir das respostas dos egressos (grifos nossos).
A partir das respostas e dos excertos em destaque podemos observar que a formação
no Mestrado Profissional teve grande impacto na vida profissional dos estudantes/professores/
pesquisadores. A frequência e repetição de termos como mudanças na ação docente; ampliação
dos conhecimentos sobre os conteúdos a serem trabalhados nas aulas; mais segurança ao
ministrar os conteúdos; planejamentos mais organizados e ligados à cultura e realidade em
que atuam; melhor relação com a equipe pedagógica e coordenação; percepção da autonomia
como pesquisador e também do papel social que exercem como educadores; aproximação da
universidade com a realidade escolar e as mudanças que eles e elas percebem no cotidiano
escolar depois de toda essa trajetória de formação, nos mostram que o caminho percorrido
tem e teve seus objetivos como programa atendidos.
Considerações Finais
O processo de escrita deste ensaio surge como uma forma de registro e manutenção
da memória da primeira turma de Mestrado Profissional em Rede Nacional em Educação Física
– Proef – no polo da Universidade Estadual de Maringá/PR. É válido destacar que para que
chegássemos à primeira turma, um longo caminho foi trilhado por professores de diferentes
instituições, mas que tinham o mesmo foco na valorização da Educação Física Escolar como
um campo de atuação e acima de tudo formação humana de nossos estudantes. A inclusão do
Programa em nossa instituição passou por momentos difíceis tendo em vista a dificuldade de
espaços, funcionários e todo o desmanche que a universidade pública tem vivido em nosso país
há décadas. Mesmo assim os professores e professoras do Departamento envolvidos na proposta
não mediram esforços para que o programa se efetivasse e pudesse iniciar em nossa instituição.
125
CAPÍTULO 8 – FORMAÇÃO CONTINUADA E AÇÃO DOCENTE:
CAMINHOS, TEXTOS E CONTEXTOS NA PRIMEIRA TURMA DE MESTRADO PROFISSIONAL PROEF/UEM
Antonio Carlos Monteiro de Miranda – Vânia de Fátima Matias de Souza – Luciane Cristina Arantes – Claudio Kravchychyn
Referências
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TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 16. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
126
Ca p í tul o 9
A Educação Física como área de formação é demarcada por uma identidade plural,
construída historicamente em diferentes momentos, que retrataram seus conceitos,
metodologias e interferências das diretrizes do marco regulatório. Nesse percurso busca cumprir
sua função social, valorizando as diferentes concepções de seus princípios epistemológicos.
Nesse cenário, o professor de Educação Física da Educação Básica é um personagem
em destaque, pois assume a importante função de mediar os contextos educacional e social.
Assim, é imprescindível não desconsiderar que o professor é fruto de um determinado contexto
histórico e social, e nesse sentido o seu papel precisa explicitar este compromisso, não se atendo
apenas às questões técnicas de reprodução de conteúdo, mas sim refletir sobre a construção de
conhecimentos, princípios e valores, na escola e na sociedade.
A profissão docente engloba um conhecimento pedagógico específico, um compromisso
ético e moral e a necessidade de dividir a responsabilidade com outros agentes sociais, uma
vez que exerce influência sobre outros seres humanos e, portanto, não pode ser uma profissão
meramente técnica de especialistas infalíveis que transmitem unicamente conhecimentos
acadêmicos (Imbernón, 2000).
Ao compreendermos a relevância dessa disciplina, é significativo que os professores
que atuam nas aulas de Educação Física defendam os pressupostos que já estão legitimados
nessa área e assim reivindicar uma prática politizada no contexto escolar. Essa articulação com
o que está expresso no marco regulatório, e as demandas que emanam do contexto social,
poderão subsidiar o planejamento de práticas pedagógicas que serão desenvolvidas com e
para os estudantes.
Os professores são cotidianamente confrontados com as mudanças complexas que
afetam a sociedade, demandando uma atitude crítico-reflexiva e avaliativa diante dessas
mudanças. Para Fusari e Franco (2005), a reflexão sobre a prática institui-se a partir de uma
necessidade de tornar a prática cotidiana, que acontece no contexto de atuação mais reflexiva e
compreendida em seu contexto, e se constitui uma forma definidora da identidade do professor
e de seu desenvolvimento profissional.
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CAPÍTULO 9 – O PROCESSO FORMATIVO DO PROEF: MUDANDO O RUMO DA HISTÓRIA E IMPACTANDO VIDAS
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Luiz Rogério Romero
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CAPÍTULO 9 – O PROCESSO FORMATIVO DO PROEF: MUDANDO O RUMO DA HISTÓRIA E IMPACTANDO VIDAS
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Luiz Rogério Romero
Fonte: Proef.
Neste ambiente são propostas as disciplinas do eixo comum, das linhas de pesquisa e
uma eletiva.
Figura 2 – Disciplinas do eixo comum, das linhas de pesquisa e uma eletiva
Fonte: Os autores.
Cada uma das disciplinas é atribuída para um docente do Núcleo, que será o responsável
por acompanhar os mestrandos no AVA, e também nas atividades presenciais. O material das
disciplinas é elaborado por autores que são docentes do programa. Desse modo é essencial
que o docente se aproprie dos conteúdos para mediar a construção de conhecimentos dos
mestrandos.
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CAPÍTULO 9 – O PROCESSO FORMATIVO DO PROEF: MUDANDO O RUMO DA HISTÓRIA E IMPACTANDO VIDAS
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Luiz Rogério Romero
Além dessas disciplinas em rede, o Núcleo oferece duas disciplinas eletivas concentradas,
apresentadas a seguir.
Figura 3 – Disciplinas eletivas concentradas
Fonte: Os autores.
Podemos citar como outro exemplo desta positiva aproximação uma dinâmica instituída
ao final da disciplina D 04 – Metodologia de Ensino de Educação Física. Esta atividade tem
como título “Carta aos Residentes”. Trata-se de um dos instrumentos de avaliação do segundo
encontro presencial da disciplina. Nesta ação o mestrando deve redigir um texto similar a uma
carta, destinada ao jovem professor em formação inicial, neste caso, estudantes do terceiro e
quarto ano do curso de Licenciatura em Educação Física do Programa Residência Pedagógica.
Indicamos nesta redação que o mestrando apresente subsídios, sugestões e orientações ao
futuro profissional. Solicitamos que o professor-pesquisador ofereça essas contribuições,
sobretudo enfocando o aprendizado acumulado com sua experiência de atuação na escola,
assim como apontamentos relacionados ao percurso realizado nesta disciplina e seu aprendizado
sobre Metodologia de Ensino de Educação Física Escolar.
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CAPÍTULO 9 – O PROCESSO FORMATIVO DO PROEF: MUDANDO O RUMO DA HISTÓRIA E IMPACTANDO VIDAS
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Luiz Rogério Romero
As narrativas apontam que o Proef pode ter um papel determinante na progressão dos
mestrandos, em várias dimensões, mas para além das conquistas individuais, também pode
ser uma referência consistente para todos os envolvidos, na construção de um programa que
tem entre seus propósitos a equidade, a inclusão, e uma formação que possibilite processos de
aprendizagem consistentes, que possam garantir as mesmas oportunidades para os diferentes
perfis dos mestrandos.
O desafio que se faz presente no Proef é formar um professor que seja capaz de
transformar e de inovar o seu próprio contexto.
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CAPÍTULO 9 – O PROCESSO FORMATIVO DO PROEF: MUDANDO O RUMO DA HISTÓRIA E IMPACTANDO VIDAS
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Luiz Rogério Romero
Considerações Finais
Esse percurso traçado no Núcleo da FCT/Unesp de Presidente Prudente permitiu que os
alunos demonstrassem seus anseios e expectativas, e conduziu o trabalho do corpo docente para
a estruturação de estratégias que visassem à apropriação e a contextualização de conhecimentos,
com o objetivo de fortalecer e consolidar a qualificação das práticas pedagógicas dos discentes
do Programa.
Ao adentrar em nosso Programa de Mestrado Profissional, identificamos uma
reaproximação destes profissionais com a universidade. Desse modo, entendemos que o
processo de formação permanece ativo, mesmo após a entrega da dissertação e do produto
educacional. Este estreitamento configura-se no acompanhamento de egressos, atuação na
figura de tutores da nova turma no ambiente virtual de aprendizagem, participação em eventos
e outras ações no curso de Licenciatura em Educação Física da unidade, grupo de estudos e do
Programa de Residência Pedagógica em Educação Física Escolar.
Identificamos neste cenário diversas potencialidades para o aperfeiçoamento
permanente de nossos mestres em Educação Física Escolar e qualificação do processo
de formação inicial docente. Reconhecemos neste, deste modo, a reafirmação do nosso
compromisso com a qualidade da Pós-Graduação brasileira e seu constante aprimoramento,
considerando a junção do aprendizado construído e novos desafios para o Proef, Educação
Física Escolar e Educação Básica, escola e sociedade.
Referências
ALBUQUERQUE, Denise I. P.; DEL-MASSO, Maria Candida Soares; FUJIHARA, Andreia C. Lopes.
Motricidades: o que os mestrados profissionais têm a nos ensinar: análise de uma proposta. Rev.
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2021-v5-n1-secesp-p146-161
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exercício de formadores para a docência virtual. Presidente Prudente: [s.n.], 2014. 247 f.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Editora
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MORAN, José Manuel. Mudando a educação com metodologias ativas. In: SOUZA, Carlos Alberto
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aproximações jovens. Ponta Grossa, PR: Foca Foto-Proex/UEPG, 2015. V. II. (Coleção Mídias Contem-
porâneas).
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Ca p í tul o 10
Introdução
Este texto traz reflexões sobre a experiência colaborativa que se constituiu entre os
núcleos da Unesp, campus Rio Claro e da UFSCar, no Programa de Mestrado Profissional
em Educação Física em Rede Nacional (Proef ). Para tanto, parte da seguinte indagação: Que
movimentos essa interação promoveu no âmbito deste programa de Mestrado Profissional?
Para começar a gravitar ao redor desta questão, é particularmente importante trazer
alguns traços da história deste programa e a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” – Unesp, campus de Rio Claro (Unesp-RC) – encontra-se nas origens desta história.
Pode-se afirmar, inclusive, que essa instituição é a “mãe” do Proef, ou melhor, para sermos mais
precisos, o Proef foi concebido e gestado a partir dos esforços da professora Suraya Cristina
Darido, docente deste campus.
A primeira proposta de criação de um Mestrado Profissional em Rede de Educação Física
foi idealizada e coordenada pela professora Suraya e submetida à avaliação da Coordenadoria de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em 2013. Àquela época a proposta fora
concebida em parceria com a Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social
(Snelis) do Ministério do Esporte, por meio da rede de colaboradores do Programa Segundo
Tempo, ao qual a professora prestava assessoria e que contava com uma ampla rede de docentes
vinculados a universidades públicas federais e estaduais espalhadas por todas as regiões do país.
Esta primeira proposta, que contou com a pré-adesão formal de 34 instituições públicas
de Ensino Superior, teve como área de concentração a Educação Física e as linhas de pesquisa
de Educação Física Escolar e Esporte Educacional. A proposta foi reprovada e precisou ser
reformulada para atender às exigências dos pareceristas.
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CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
Osmar Moreira de Souza Júnior – Daniela Godoi-Jacomassi – Fernanda Moreto Impolcetto – Flávio Soares Alves
Nathan Raphael Varotto – Yara Aparecida Couto – Glauco Nunes Souto Ramos
Uma nova submissão da proposta com ajustes para atender às recomendações dos
pareceristas foi realizada em 2014. Na nova proposta o número de instituições associadas
foi reduzido para 19 e o enfoque voltou-se exclusivamente para a área de concentração em
Educação Física Escolar e as linhas de pesquisa direcionadas a cada uma das três etapas de
escolarização: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Também foram realizados
outros ajustes, vinculados com: a) a redução do número de docentes e de IESs associadas, b)
indicação de docentes com produção específica na área de Educação Física Escolar, c) redução
do número de vagas, d) redução da carga horária e f ) melhor identificação da produção
acadêmica e técnica da área. Após uma diligência em março de 2015, o número de instituições
associadas sofreu ainda mais uma redução, de 19 para 14, e foi proposto um ajuste aumentando
o número de disciplinas optativas ofertadas. Por mais contraditório que possa parecer, esta
segunda proposta, com todos os ajustes solicitados efetivados, também foi rejeitada pelo
Conselho Técnico Científico (CTC) da Educação Superior da Capes, sob a alegação de ter sofrido
muitas alterações em julho de 2015. Após interposição de recurso, o programa foi finalmente
aprovado pela Capes em outubro do mesmo ano.
O processo seletivo para o ingresso da 1ª turma ocorreu nos 14 núcleos da rede em
julho de 2016. Em virtude de impasses relacionados à assinatura do convênio entre a Unesp e a
Capes, no entanto, o início do curso aconteceu apenas em abril de 2018. Durante esse período
de quase dois anos, houve muito esforço da parte da professora Suraya nos trâmites com a
Capes, mas sua aposentadoria em meados de 2017 marcou o afastamento dela do programa. O
Instituto de Biociências da Unesp de Rio Claro assumiu a coordenação por aproximadamente
seis meses e não tendo conseguido viabilizar o início do programa, entregou-o à Pró-Reitoria
de Pós-Graduação. Esta, por sua vez, buscou no campus de Presidente Prudente, junto ao
Departamento de Educação Física, outro(a) docente para assumir a coordenação do Proef. Dessa
forma, a professora doutora Denise Ivana de Paula Albuquerque tornou-se coordenadora do
Programa no final de 2017, com o apoio da professora doutora Maria Cândida Soares Del-Masso
como vice-coordenadora e docente aposentada pela Unesp, vinculada ao IEP3 (Instituto de
Educação e Pesquisa em Práticas Pedagógicas – Unesp/São Paulo), onde atualmente o Programa
está alocado. Num grande esforço de gestão junto a Capes e aos demais núcleos da rede, a 1ª
turma do Proef iniciou o curso em abril de 2018.
Em Rio Claro, na última versão do APCN (versão aprovada), o núcleo contava com a
participação de cinco docentes do Instituto de Biociências e a proposição de 19 vagas. Do envio
dessa versão até o início do curso, entretanto, duas docentes se aposentaram e uma mudou de
universidade. Como a proposta previa que para funcionar um núcleo precisava de ao menos
três docentes, procedemos ao credenciamento de um professor do Departamento de Educação
Física e ficamos com a seguinte situação: o maior núcleo do Proef em número de vagas (19),
com o menor número de docentes (3): professora Fernanda Moreto Impolcetto e professores
Roberto Tadeu Iaochite e Flávio Soares Alves.
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CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
Osmar Moreira de Souza Júnior – Daniela Godoi-Jacomassi – Fernanda Moreto Impolcetto – Flávio Soares Alves
Nathan Raphael Varotto – Yara Aparecida Couto – Glauco Nunes Souto Ramos
Pelo histórico de relação de colaboração acadêmica entre os(as) docentes dos núcleos
Unesp-Rio Claro e UFSCar e a proximidade entre as cidades de Rio Claro e São Carlos (cerca
de 65 km), optamos por tentar uma parceria no sentido de ampliar o corpo docente e buscar
relações dentro da rede.
Importante destacar que tal parceria teve o aval da Coordenação Nacional para as
atividades presenciais e, a partir daí, consultamos todos(as) os(as) alunos(as) envolvidos(as)
– 11 da UFSCar e 19 da Unesp-Rio Claro – sobre as vantagens: diversidade de docentes
envolvidos(as) no processo, ampliação das trocas de experiências entre os(as) professores(as)-
-pesquisadores(as), contar com as infraestruturas das duas IESs e por conseguinte diversificação
dos ambientes e contextos pedagógicos, etc., e desvantagens, como: deslocamento de uma
cidade para outra, gasto com transporte e/ou hospedagem, etc.
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CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
Osmar Moreira de Souza Júnior – Daniela Godoi-Jacomassi – Fernanda Moreto Impolcetto – Flávio Soares Alves
Nathan Raphael Varotto – Yara Aparecida Couto – Glauco Nunes Souto Ramos
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CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
Osmar Moreira de Souza Júnior – Daniela Godoi-Jacomassi – Fernanda Moreto Impolcetto – Flávio Soares Alves
Nathan Raphael Varotto – Yara Aparecida Couto – Glauco Nunes Souto Ramos
Para além das disciplinas obrigatórias que eram cursadas por todos os(as) mestrandos(as)
tanto no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) como nos encontros presenciais, foram
ofertadas disciplinas optativas de práticas corporais. A título de exemplo, daremos destaque a
duas dessas disciplinas que foram oferecidas de forma colaborativa por docentes de ambos os
núcleos. A disciplina “Ensino dos esportes de invasão e de rede ou parede”, ministrada pela
professora Fernanda (Unesp-Rio Claro) e pelo professor Osmar (UFSCar) e a disciplina “Ensino
da Dança”, pela professora Yara (UFSCar) e pelo professor Flávio (Unesp-Rio Claro).
A disciplina “Ensino dos esportes de invasão e de rede ou parede” foi ministrada de
forma presencial e condensada (30 horas, divididas em três dias – quinta, sexta e sábado – de
janeiro de 2019) nas dependências da Unesp de Rio Claro. Promoveu aos(às) participantes
uma imersão nos pressupostos das tendências atuais da Pedagogia do Esporte, adaptadas para
o contexto das aulas de Educação Física Escolar e o ensino dos esportes de invasão e rede ou
parede. Além do trabalho em sala de aula com vídeos, textos e conteúdo teórico, as aulas práticas
foram o ponto alto da disciplina, envolvendo todos os(as) professores(as)-pesquisadores(as) que
assumiram protagonismo na elaboração e apresentação de propostas de ensino das modalidades
estudadas. De modo geral, a disciplina foi muito bem avaliada e pretendemos seguir com a sua
oferta para as próximas turmas do programa.
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CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
Osmar Moreira de Souza Júnior – Daniela Godoi-Jacomassi – Fernanda Moreto Impolcetto – Flávio Soares Alves
Nathan Raphael Varotto – Yara Aparecida Couto – Glauco Nunes Souto Ramos
Figura 4 – Aula da disciplina “Ensino dos esportes de invasão e de rede ou parede” na Unesp-RC
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CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
Osmar Moreira de Souza Júnior – Daniela Godoi-Jacomassi – Fernanda Moreto Impolcetto – Flávio Soares Alves
Nathan Raphael Varotto – Yara Aparecida Couto – Glauco Nunes Souto Ramos
Outro aspecto que merece destaque diz respeito ao trabalho de tutoria realizado pelo
então mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSCar, Nathan Raphael
Varotto, que relata de maneira sucinta os processos de ser tutor.
A atuação de tutoria da primeira turma do Mestrado Profissional em Educação Física
em Rede Nacional (Proef ) ocorreu entre os anos de 2018 e 2020, no núcleo da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar).
O Proef é um Programa de Pós-Graduação presencial, com modelo híbrido, ou seja,
ocorre parte com encontros presenciais e parte em Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA).
Em razão deste modelo a principal função do tutor se desenvolveu no AVA, pois realizava a
interação com os(as) mestrandos(as), lia e tecia considerações sobre trabalhos, fóruns de
discussão e avaliava os respectivos trabalhos por meio da referida plataforma.
O diálogo com os(as) mestrandos(as) e os(as) docentes do núcleo era constante e,
por isso, o tutor era convidado a participar do planejamento dos encontros presenciais tendo
em vista trazer as situações dos(as) estudantes nas atividades do AVA, a fim de os(as) docentes
planejarem a melhor maneira de conduzir a aula, relacionando o que vinha sendo estudado e
produzido pelos(as) estudantes. O fato de o núcleo da UFSCar contar com tutor – cabe salientar
que essa não era uma realidade para todos os núcleos do Proef na primeira turma – contribuiu
para o desenvolvimento do curso, pois a carga de atividades, trabalhos e fóruns era grande e
necessitava de uma pessoa para organizar a rotina do AVA e interagir com os(as) mestrandos(as),
principalmente sobre suas dúvidas.
O processo de tutoria possibilitou incorporar a experiência de planejar, atuar, conduzir,
avaliar e construir um caminho na educação, mas sobretudo na Educação Física Escolar,
contribuindo para a formação do(a) tutor(a), no que tange à docência no Ensino Superior.
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CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
Osmar Moreira de Souza Júnior – Daniela Godoi-Jacomassi – Fernanda Moreto Impolcetto – Flávio Soares Alves
Nathan Raphael Varotto – Yara Aparecida Couto – Glauco Nunes Souto Ramos
No núcleo de Rio Claro a tutoria das disciplinas foi coordenada num primeiro momento
pela Andréia de Carvalho Lopes, funcionária do IEP3 (Unesp-São Paulo) e depois por um
bolsista, na época doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Unesp-Rio
Claro (professor Roraima Alves da Costa Filho).
um vídeo de animação no estilo “Draw my life” com uma linguagem acessível para atingir um
público que não é familiarizado com a linguagem acadêmica e assim amplificar a discussão acerca
da avaliação em Educação Física entre professores que estão na atuando no chão da quadra.
O professor Glauco (UFSCar) orientou três alunos, a saber: 1) Luiz Antonio Pereira,
desenvolveu sua dissertação com o título: “Os jogos sociomotrizes de cooperação e a
construção de valores acerca da indisciplina discente”, na qual os objetivos foram identificar
situações de indisciplina e analisar percepções e reflexões de uma turma de 25 alunos(as) do
5º ano do Ensino Fundamental de uma escola da rede pública municipal de uma cidade do
interior de São Paulo, a partir de ações didático-pedagógicas do professor-pesquisador. Em seu
produto educacional, “Unidade didática: jogos sociomotrizes de cooperação”, o professor Luiz
faz breve conceituação sobre a indisciplina e apresenta, com linguagem acessível e exemplos
de atividades práticas, a unidade didática elaborada para as aulas de Educação Física. 2) “A
educação física e as dimensões do conhecimento na BNCC: um estudo a partir dos planos
do ensino dos professores de uma rede municipal de ensino”, foi o título da dissertação
desenvolvida por Pedro Henrique Carbone Vidotti. Tratou de uma das novidades previstas pela
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a Educação Física, ou seja, as oito dimensões do
conhecimento (Experimentação, Uso e Apropriação, Fruição, Reflexão sobre a Ação, Construção
de Valores, Análise, Compreensão e Protagonismo Comunitário). Teve como objetivos: construir
uma compreensão das dimensões do conhecimento, identificar como elas já são abordadas
pelos(as) professores(as), analisar e propor conjuntamente com os(as) docentes de uma rede
pública municipal de ensino do litoral de São Paulo suas possibilidades pedagógicas. Com a
expectativa de contribuir com os profissionais da área no desenvolvimento e qualificação das
práticas pedagógicas, na elaboração das sequências didáticas e/ou na construção dos currículos
escolares das redes de ensino, foi elaborado o produto educacional: “Rota para reflexão e ação:
sobre as dimensões do conhecimento da Educação Física”, entendendo que as dimensões
do conhecimento são ferramentas efetivas na ampliação das possibilidades de abordagens das
unidades temáticas. 3) O professor-pesquisador Julio Cesar de Lucca Junior, com o objetivo de
analisar as perspectivas de professores de Educação Física sobre o ensino desse componente
curricular na Educação Infantil na rede municipal de ensino de São Carlos/SP, elaborou sua
dissertação de Mestrado com o título: “Perspectivas docentes sobre o ensino da educação
física na educação infantil”. Utilizou-se de dois instrumentos de coleta de informações: um
questionário que atingiu 22 professores(as) de Educação Física do município pesquisado,
seguido por entrevista semiestruturada com 5 docentes para aprofundamento das questões.
Desta forma, destacamos a relevância de estudos que busquem mapear as perspectivas do
ensino e despertar a necessidade de elaboração de documentos norteadores e de cursos
de formação continuada. Já com o produto educacional “Ideias e reflexões sobre a prática
pedagógica na Educação Física Infantil”, o professor Julio organizou um material didático
que trata de elementos relacionados ao processo de ensino e de aprendizagem (conteúdos,
estratégias de ensino e avaliação) de professores(as) de Educação Física na Educação Infantil.
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CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
Osmar Moreira de Souza Júnior – Daniela Godoi-Jacomassi – Fernanda Moreto Impolcetto – Flávio Soares Alves
Nathan Raphael Varotto – Yara Aparecida Couto – Glauco Nunes Souto Ramos
Nele há alguns conceitos e exemplos de atividades que podem e são trabalhadas nas aulas de
Educação Física Infantil e que os(as) professores(as) interessados(as) podem acessar através
de alguns QR code, com o celular.
O professor Osmar (UFSCar) orientou três trabalhos de investigação da prática docente
e coorientou o trabalho do professor-pesquisador Fábio de Moraes, orientado e descrito neste
texto pela professora Yara. Os três trabalhos orientados foram dos professores-pesquisadores
Antonio Jorge Martins Malvar e Tiago Grifoni e da professora-pesquisadora Ana Cristina
Gabriel Pereira. Todas as pesquisas foram orientadas pelos pressupostos da pesquisa-ação,
com a similaridade de partirem da instituição de unidades didáticas que visavam a mediar o
enfrentamento de problemas como a exclusão das meninas nas aulas (Ana Cristina e Antonio
Jorge) e os conflitos atitudinais nas relações entre estudantes (Tiago). A dissertação “Processos
educativos emergentes de uma unidade didática com o Fútbol Callejero nas aulas de
Educação Física” apresenta a forma como a intervenção por meio da metodologia do Fútbol
Callejero redesenhou a prática do futebol e estabeleceu relações mais democráticas entre alunos
e alunas de uma turma de 9º ano do Ensino Fundamental. Além da dissertação, a pesquisa
originou um vídeo de animação no formato whiteboard ou draw my life. A pesquisa de Antonio
Jorge resultou na dissertação “A participação das meninas nas aulas de Educação Física:
dilemas de um professor no ensino do futsal” e o produto educacional no formato de um livreto
de cordel “‘E a gente teve que aprender a conviver’: a peleja de um professor no ensino do
futsal”. Em ambos os casos o professor-pesquisador narra a intervenção com metodologias ativas
para o ensino do futsal (Teaching Games for Understand e Sport Education) e revela como os
saberes atitudinais se sobressaem à metodologia de ensino. Por fim, a pesquisa da professora Ana
Cristina resultou na dissertação “Ensaios de uma Metodologia da Experiência Crítico-Afetiva
nas aulas de Educação Física: impactos sobre as relações de gênero e o empoderamento das
meninas” e no produto educacional na forma de um vídeo de animação em whiteboard ou
draw my life “Meca – gênero e empoderamento nas aulas de Educação Física”. A metodologia
autoral citada no título de ambas as produções revelou-se uma importante ferramenta para o
empoderamento tanto discursivo como de jogo das meninas, conforme apontam os resultados
da pesquisa.
A professora Yara (UFSCar) orientou três alunos, a saber: 1) Maloá de Fátima Francisco
com a dissertação intitulada “Ressignificação da Ginástica na Escola: proposta da ‘Ginástica
Para Todos’ na Educação Física anos iniciais”, que propôs uma investigação da sua prática
docente no sentido de focalizar os processos pedagógicos de ensino a partir de uma metodologia
minuciosa e consistente para dar subsídios e visibilidade às novas proposições da ‘Ginástica Para
Todos’. A construção e proposição de uma Unidade Didática mediou a intervenção pedagógica
com a participação de 18 alunos do 3º ano do Ensino Fundamental dos anos iniciais de uma
escola pública municipal do interior paulista. O estudo realizado demonstrou que a ‘Ginástica
para Todos’ tanto revela potencial educativo e formativo como estabelece um caminho
pedagógico que contribui para que esta prática possa ser incorporada à Educação Física no
âmbito escolar. Além da dissertação, foi elaborado um produto em formato manual ilustrativo
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CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
Osmar Moreira de Souza Júnior – Daniela Godoi-Jacomassi – Fernanda Moreto Impolcetto – Flávio Soares Alves
Nathan Raphael Varotto – Yara Aparecida Couto – Glauco Nunes Souto Ramos
com foco na Unidade Didática com as etapas da prática da “Ginástica Para Todos’ em suas
diversas manifestações: Ginástica Rítmica, Ginástica Artística, Ginástica Acrobática, Dança e
demais elementos da cultura corporal de movimento. 2) Fábio de Moraes desenvolveu sua
dissertação intitulada “Educação Física Escolar e a Contribuição da Metodologia Callejera nos
Conhecimentos Atitudinais”, com o objetivo de verificar os saberes atitudinais que emergiram a
partir das intervenções em aulas de Educação Física e organizou e aplicou uma Unidade Didática
em Esportes de Invasão por meio da Metodologia Callejera. A pesquisa-ação foi realizada com
alunos/as do 5º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública da rede estadual na cidade
de São Carlos, São Paulo. Nesse estudo focalizou os processos educativos e troca de saberes
no campo atitudinal por meio da Metodologia Callejera. Apresentou também seu produto em
formato de manual ilustrativo delineando a Unidade Didática e toda sua proposição pedagógica.
Vale ressaltar que este trabalho contou com a coorientação do professor Osmar, que pôde
auxiliar nas especificidades do objeto de pesquisa. 3) Tálita Cristina Dardes Dezotti em sua
dissertação intitulada “Planejamento em Educação Física Escolar: perspectiva x realidade”
teve como objetivo investigar como os professores de Educação Física de uma rede pública
municipal do interior do Estado de São Paulo realizam seus planejamentos, dialogando com
suas perspectivas e necessidades na prática docente. Esse estudo buscou debater sobre a
formação profissional e sua relação junto ao Projeto Político-Pedagógico e os documentos que
regem a educação brasileira, os quais se inter-relacionam com o planejamento no exercício da
docência. Seu produto foi organizado no formato de um manual ilustrativo focalizando algumas
orientações para a elaboração de um planejamento pedagógico em Educação Física.
No núcleo de Rio Claro, como mencionado anteriormente, o fato de haver 18 estudantes
concluintes (houve uma desistência ao longo da primeira disciplina) e com apenas 3 docentes,
foi necessário contar com orientadores(as) de outros núcleos, a saber: Unesp-Bauru, Unesp-
-Presidente Prudente e UFSCar.
Foram desenvolvidos dissertações e produtos educacionais nas três linhas de pesquisa
do programa: 4 na Educação Infantil, 13 no Ensino Fundamental (8 nos anos iniciais e 5 nos
anos finais) e apenas 1 no Ensino Médio.
Os trabalhos desenvolvidos na Educação Infantil abordaram temáticas referentes ao
ensino da dança (por Priscila Rosseto Costa, orientada por Flávio Soares Alves) e atividades
circenses (de Adria Maria Messias, orientada por Fernanda Moreto Impolcetto), além de duas
propostas de organização curricular (desenvolvidas por Christian Viana, sob orientação de
Roberto Tadeu Iaochite e Daniella de Luca Goes, sob orientação de Luciene Ferreira da Silva,
da Unesp de Bauru).
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental houve o desenvolvimento e análise de
Unidades Didáticas para o ensino de valores (por Amanda Gabriele Milani, sob orientação de
Luciene Ferreira da Silva, da Unesp de Bauru), das danças relacionadas às questões de gênero
(por Erika de Souza Zanata, sob orientação de Flávio Soares Alves), dos esportes de invasão a
partir de livro didático e do rúgbi a partir das habilidades propostas na BNCC (desenvolvidos
147
CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
Osmar Moreira de Souza Júnior – Daniela Godoi-Jacomassi – Fernanda Moreto Impolcetto – Flávio Soares Alves
Nathan Raphael Varotto – Yara Aparecida Couto – Glauco Nunes Souto Ramos
respectivamente João Paulo Hernandez e Tiago de Souza Megale, orientados por Fernanda
Moreto Impolcetto). Dois estudos trabalharam com o desenvolvimento de instrumentos de
avaliação (pela Flávia Fernanda Viana Gonçalves, sob orientação da Daniela Godoi Jacomassi,
docente da UFSCar – já citada anteriormente) e de recursos didático-pedagógicos (por Rogério
Nativio, orientado por Jaqueline Costa Castilho Moreira, da Unesp de Presidente Prudente).
Houve um estudo sobre HTPC e formação continuada (de Vinicius Gonçalves da Silva, sob
orientação de Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger, da Unesp de Bauru) e outro sobre
planejamento participativo nas aulas de Educação Física Escolar (de Rosângela Aparecida Matias
Andriatti, orientada por Maria Candida Soares Del-Masso, da Unesp de Presidente Prudente).
Para os anos finais do Ensino Fundamental foram desenvolvidos trabalhos sobre o
ensino da capoeira (por Dayane Maria de Oliveira, sob orientação de Luciene Ferreira da Silva,
da Unesp de Bauru), e de esportes não convencionais (de Sabrina Miguel da Silva, orientada
por Luiz Rogério Romero, da Unesp de Presidente Prudente), sobre a inclusão de alunos com
necessidades especiais (de Vasco Moreira Pires, orientado por Maria Candida Soares Del-Masso,
da Unesp de Presidente Prudente), questões de gênero (de Jaqueline Cristina Freire Siqueira, sob
orientação de Luciene Ferreira da Silva, da Unesp de Bauru) e formação de professores associada
a modelos instrucionais para o ensino do esporte (por Márcio Silva Paiva, sob orientação de
Maria Candida Soares Del-Masso, da Unesp de Presidente Prudente). O único trabalho no ciclo
do Ensino Médio investigou o uso de Tecnologias de Informação e Comunicação na formação de
professores (foi desenvolvido por Celso Luis Cury Ferreira, sob orientação de Dagmar Aparecida
Cynthia França Hunger, da Unesp de Bauru).
Considerações Finais
Consideramos que a experiência colaborativa de parceria entre Unesp-RC e UFSCar
pode ser tomada como um autêntico exemplo do trabalho em rede idealizado e desenvolvido
pelo Proef.
A iniciativa levada a cabo a partir das circunstâncias favoráveis, tais como a proximidade
geográfica das cidades sedes dos núcleos e as relações de afinidade profissional e pessoal dos(as)
docentes das instituições associadas, constitui-se em uma importante ação no sentido de suprir
uma fragilidade que se anunciava logo no alvorecer dos trabalhos da primeira turma do Proef,
em virtude do número reduzido de docentes em ambos os núcleos.
Foram experiências de amadurecimento e aprendizagem dialógica (Freire, 1987) que
deixaram marcas e memórias afetivas e acadêmicas que nos fazem ter esperança (Freire, 2020)
em uma Educação Física Escolar progressista, crítica, humanizadora e emancipadora visando à
justiça social e à valorização da Educação Física no contexto escolar.
Ao nos referirmos à parceria como uma experiência colaborativa, nos inspiramos nas
palavras de Jorge Larrosa Bondía, segundo o qual: “a experiência é o que nos passa, o que nos
acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca. A cada dia se
passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece” (Bondía, 2002, p. 21).
148
CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
Osmar Moreira de Souza Júnior – Daniela Godoi-Jacomassi – Fernanda Moreto Impolcetto – Flávio Soares Alves
Nathan Raphael Varotto – Yara Aparecida Couto – Glauco Nunes Souto Ramos
Neste sentido, compreendemos que a experiência colaborativa não foi algo que
apenas se passou, ou que simplesmente aconteceu para ajudar no cumprimento de tarefas
relativas ao Proef, mas foi algo que vivemos intensamente, tocando-nos de maneira genuína,
de modo a ampliar nosso potencial de ação, tanto em âmbito institucional quanto no que se
refere à dinâmica relacional estabelecida entre alunos e professores da Unesp-RC e da UFSCar.
Diante dessa tão bem-sucedida parceria, nem mesmo cogitou-se a divisão dos núcleos para a
segunda turma, mesmo com o credenciamento de novos docentes em ambos os núcleos aqui
envolvidos. A propósito, a partir da segunda turma contamos com o ingresso dos professores
Fábio Ricardo Mizuno Lemos, na UFSCar, Maria Candida Soares Del-Masso, Hugo Paula Almeida
da Rocha e Luiz Gustavo Bonatto Rufino, na Unesp-RC. Assim, com a inclusão desses novos(as)
parceiros(as), a “família Proef UFSCar e Unesp-RC” se multiplicou, e o compromisso com o
trabalho colaborativo, estabelecido entre os membros desta grande família, foi reatualizado.
Sabemos que outros desafios virão, no entanto a cada novo encontro colaborativo
traçado, as demandas referentes ao Proef se mostram – e certamente se mostrarão – ainda mais
convidativas, instigando-nos ao exercício do Mestrado Profissional, em suas diferentes frentes.
Que venham, portanto, novas e potentes interações, pois abertos às comovências cá estamos!
Referências
BONDÍA, Jorge L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de
Educação, [S.l.], n. 19, p. 20-28, jan./abr. 2002. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbedu/a/
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Carlos, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, São Carlos, 2020.
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149
CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
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DIAS DE ARRUDA, Caroline. Avaliação na educação física: análise sobre uma planilha de
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intervenção e reflexão na educação física escolar. 2020. 174 p. Dissertação (Mestrado) – Programa
de Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional – Proef da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), Instituto de Biociências, Rio Claro, 2020.
FRANCISCO, Maloá de F. Ressignificação da ginástica na escola: proposta da ginástica para todos
na educação física anos iniciais. 2020. 164 p. Dissertação (Mestrado em Educação Física em Rede
Nacional) – Universidade Federal de São Carlos, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, São
Carlos, 2020.
FRANCISCO, Maloá de F.; COUTO, Yara A. Ginástica para todos: ressignificação, conhecimentos
e possibilidades pedagógicas na educação física escolar. 2020. 24 p. (Desenvolvimento de material
didático ou instrucional – Apostila didático-pedagógica).
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GOES, Daniella L. O ensino da educação física na educação infantil: desafios contemporâneos.
2020. 81 p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista (Unesp), Programa de Mestrado
Profissional em Educação Física em Rede Nacional – Proef, Instituto de Biociências, Rio Claro, 2020.
GONÇALVES, Flávia F. V. A sistematização da avaliação em educação física: análise das percepções
docentes sobre um instrumento para o ensino fundamental. 2020. 141 p. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Programa de Mestrado Profissional em Educação Física em
Rede Nacional – Proef, Instituto de Biociências, Rio Claro, 2020.
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GRIFONI, Tiago. Processos educativos emergentes de uma unidade didática com o fútbol callejero
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GRIFONI, Tiago; SOUZA JÚNIOR, Osmar M. Processos educativos emergentes de uma unidade
didática com o fútbol callejero nas aulas de educação física. 2020. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=IzmmDl3E_kU&list=PLIa6e78HjaRh05jHHe3oZPmwSCBEFvkq. Acesso
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150
CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
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um livro didático para o 3º ano do Ensino Fundamental. 2020. 105 p. Dissertação (Mestrado) –
Universidade Estadual Paulista (Unesp), Programa de Mestrado Profissional em Educação Física em
Rede Nacional – Proef, Instituto de Biociências, Rio Claro, 2020.
MALVAR, Antonio J. M. A participação das meninas nas aulas de Educação Física: dilemas de um
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MALVAR, Antonio Jorge M.; SOUZA JÚNIOR, Osmar M. “E a gente teve que aprender a conviver”:
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Rede Nacional – Proef, Instituto de Biociências, Rio Claro, 2020.
MEGALE, Tiago S. Rúgbi nas aulas de educação física escolar: análise de uma proposta de ensino
a partir da BNCC. 2020. 89 p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista (Unesp),
Programa de Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional – Proef, Instituto de
Biociências, Rio Claro, 2020.
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Biociências, Rio Claro, 2020.
151
CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
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Nacional – Proef ) – Universidade Federal de São Carlos, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde,
São Carlos, 2020.
152
CAPÍTULO 10 – UMA EXPERIÊNCIA COLABORATIVA NO PROEF: REFLEXÕES SOBRE A PARCERIA ENTRE UNESP-RIO CLARO E UFSCAR
Osmar Moreira de Souza Júnior – Daniela Godoi-Jacomassi – Fernanda Moreto Impolcetto – Flávio Soares Alves
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SUZINI, Estevan R.; GODOI, Daniela. Papel do professor de educação física no desenvolvimento
motor de escolares da educação infantil. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
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VIDOTTI, Pedro H. C. A educação física e as dimensões do conhecimento na BNCC: um estudo
a partir dos planos de ensino dos professores de uma rede municipal de ensino. 2020. 207 f.
Dissertação (Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional – Proef ) – Universidade
Federal de São Carlos, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, São Carlos-SP, 2020.
VIDOTTI, Pedro H. C.; RAMOS, Glauco N. S. Rotas para reflexão e ação sobre as dimensões do
conhecimento da educação física. 2020. (Desenvolvimento de material didático ou instrucional –
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educação física escolar. 2020. 63 p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista (Unesp),
Programa de Mestrado Profissional em Educação Física em Rede Nacional – Proef, Instituto de
Biociências, Rio Claro, 2020.
153
Ca p í tul o 11
Nesse contexto, apesar de não ser uma temática nova – haja vista que vem sendo
pautada desde a década de 60 – a formação continuada dos docentes ganhou relevância.
É possível afirmar que o tema se faz presente em quase todas as propostas e programas
educacionais construídos pelos diferentes sistemas de ensino, sobretudo a partir da década
de 90 do século 20, em um cenário específico das reformas do Estado de natureza neoliberal.
Assim, parece-nos correto afirmar que a formação continuada de professores/as foi (re)
inserida na agenda política a partir de uma tendência denominada de “clássica”, cuja ênfase era
dada na “reciclagem” e/ou “atualização” dos docentes. De um modo geral, o local de realização
das ações e projetos de “formação” era a universidade e/ou outros espaços a ela articulados,
como no caso das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação. Nessa tendência, professores/
as, em momentos determinados, retornavam à universidade ou às Secretarias de Educação para
realizarem cursos de diferentes naturezas (Candau, 1997).
Para Candau (1997), ao longo da década de 90, a tendência “clássica” predominou nas
propostas elaboradas e desenvolvidas no âmbito das parcerias firmadas entre universidades
e Secretarias de Educação. A autora destaca ainda que nessa tendência está explícita uma
concepção de formação que reafirma os espaços das universidades e secretarias como lócus
de produção de conhecimento (teórico), e considera os docentes como sujeitos que aplicarão
(na prática) esse conhecimento nas escolas. Na verdade, por trás dessa perspectiva pode-se
encontrar uma concepção dicotômica muito forte entre teoria e prática.
No âmbito da formação continuada de professores/as de Educação Física, Molina
Neto et al. (2009) e Molina Neto e Molina (2010) identificaram que essa perspectiva também
predominou em muitos programas desenvolvidos ao longo da década de 90 do século 20 e
primeira década do século 21. Segundo os autores, as experiências com as quais os docentes,
em geral, mais se identificavam e consideravam relevantes eram eventos com carga horária
reduzida, temática específica e de natureza procedimental. Os dados apresentados por esses
autores coincidem e reafirmam a relação dicotômica entre teoria e prática: de um lado os
ministrantes dos cursos, alçados à condição de produtores do conhecimento (teórico), de outro
os professores/as que recebem o conhecimento com a tarefa de aplicá-los (na prática).
Muitas críticas a esse modelo de formação vêm sendo feitas nos últimos anos. No
campo da pesquisa em educação, tanto no contexto brasileiro como em outros países, diversas
investigações vêm sendo produzidas pretendendo, ao mesmo tempo, explicitar e superar a
insuficiência da racionalidade técnica para responder à complexidade de ações encontradas e
características na/da prática educativa (André et al., 1999; André, 2000, 2010; Brzezinski; Garrido,
2001; Zeichner, 2010). No campo da Educação Física, pode-se destacar os estudos desenvolvidos
por Melo, Lorenzini e Souza Junior (2018), Marcassa, Pinto e Dantas (2013), Molina Neto et al.
(2009), entre outros.
Nesse sentido, alinhamo-nos a esses autores/as e estudos e temos nos referenciado
numa compreensão de formação docente como apresentada por Souza (2010) que a considera
156
CAPÍTULO 11 – MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA EEFFTO/UFMG:
ALGUNS ELEMENTOS PARA REPENSAR RELAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE, ESCOLA BÁSICA E FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES/AS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Admir Soares de Almeida Júnior – José Angelo Gariglio
1
Temos nos ancorado nas proposições de Fanfani (2005) e Diniz Pereira (2015) para compreendermos a condição
docente, que também pode ser lida como a condição do trabalho docente.
157
CAPÍTULO 11 – MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA EEFFTO/UFMG:
ALGUNS ELEMENTOS PARA REPENSAR RELAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE, ESCOLA BÁSICA E FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES/AS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Admir Soares de Almeida Júnior – José Angelo Gariglio
158
CAPÍTULO 11 – MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA EEFFTO/UFMG:
ALGUNS ELEMENTOS PARA REPENSAR RELAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE, ESCOLA BÁSICA E FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES/AS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Admir Soares de Almeida Júnior – José Angelo Gariglio
realizam um importante exercício de reflexão que, ao mesmo tempo, permite que os sentidos
da docência e da escolarização sejam revisitados e se reconheçam como autores e autoras das
diversas tramas e enredos de sua prática profissional (Suárez, 2007).
Ao narrarem histórias sobre a escola e suas práticas pedagógicas, sobre as aprendizagens
dos alunos e das alunas, sobre as vicissitudes e incertezas escolares, sobre as estratégias de
ensino e de gestão escolar que adotam e os ensinamentos que provocaram horas e horas de
trabalho escolar, os docentes falam de si mesmos, de seus sonhos, de suas expectativas e de
suas realizações (Suárez, 2007, p. 10).
Dessa forma, concordamos com Prado e Damasceno (2007) quando apontam que
[...] a narrativa é um modo de organização legítimo para que os professores e professoras
exponham seus saberes e experiências e construam instâncias de trocas a partir destas, e nestas,
maneiras de dizer. Os saberes docentes se constroem pelo significado que cada professor/
professora, enquanto autor/autora, confere à atividade docente no seu cotidiano a partir de seus
valores, de seu modo de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações,
de seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida o ser professor
e professora (p. 25).
Considerações Finais
Até o momento podemos perceber nas pesquisas que tomaram como referência a
produção de narrativas docentes a potencialidade desses escritos no modo como os professores/
as pensam e repensam sua prática. Dessa forma, compreendemos que descrever as experiências
vividas no chão da escola, narrar a sua vida na condição sujeito social é também constitutivo da
formação e desenvolvimento profissional de cada professor/a. Vida, profissão e narrativa estão
entrecruzadas, na medida em que remetem o sujeito a (re)viver e refletir sua singularidade,
como ator e autor, investindo em sua interioridade e conhecimento de si questionando suas
identidades, reveladas nas escritas do eu (Souza, 2011, p. 213).
A utilização de narrativas articulada à constituição de coletivos e/ou grupos como
estratégia metodológica tem sido uma das trilhas escolhidas por nós para a configuração de
um terceiro espaço de formação no âmbito de nossa atuação na Pós-Graduação. Há que se
destacar que esse movimento vem se dando de forma coletiva, baseado em um intenso e, por
vezes, tenso processo de diálogo, trocas, escritas, reescritas e reflexões sobre os conhecimentos
produzidos pelos docentes de Educação Física no cotidiano escolar.
Parece-nos que a dinâmica de produção de conhecimentos adotada por nós no contexto
da Pós-Graduação também pode ser caracterizada por um conjunto de estudos e pesquisas com
e por professores e professoras. Temos buscado construir com os docentes espaços, tempos e
práticas em que esses sujeitos vão, gradativamente, se reconhecendo como docentes/estudantes/
pesquisadores/críticos, constituindo-se em uma experiência de formação continuada que pode,
gradativamente, servir de referência para outras experiências.
161
CAPÍTULO 11 – MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA EEFFTO/UFMG:
ALGUNS ELEMENTOS PARA REPENSAR RELAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE, ESCOLA BÁSICA E FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES/AS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Admir Soares de Almeida Júnior – José Angelo Gariglio
Por fim, gostaríamos de apresentar, ainda que sumariamente, alguns pontos que
consideramos os mais desafiantes nessa trajetória de pesquisa com e dos professores/as de
Educação Física no âmbito do Proef. Um primeiro ponto relaciona-se ao modo como pensamos
e desenvolvemos até o momento as pesquisas em nosso polo/núcleo. Tem-se constituído um
grande desafio assumirmos política e epistemologicamente a perspectiva da Pesquisa-Ensino
– buscando enfatizar o desenvolvimento da capacidade de reflexividade, de autonomia, de
elucidação da própria experiência e as possíveis intervenções nos contextos profissionais dos(as)
mestrandos/as. Por outro lado, temos buscado compreender as possibilidades e implicações
dessa perspectiva de pesquisa ao assumirmos com alguns mestrandos/as outra “via” de produção
de conhecimento, denominada provisoriamente de “produção de conhecimento aplicado”
(Oliveira; Zaidan, 2018). Parece-nos bastante promissora a possibilidade de construirmos com
os/as mestrandos/as percursos e trajetórias de pesquisa que enfatizem, como sugerem Oliveira
e Zaidan (2018), “o desenvolvimento de processos ou produtos de natureza educacional que
se constitua em material que possa ser utilizado por outros profissionais para melhoria da
educação” (p. 44).
Desta forma, temos dialogado e refletido com algumas resistências (endógenas e
exógenas) endereçadas à dimensão da produção de conhecimento aplicado no âmbito dos
Mestrados Profissionais e ao mesmo tempo tentado caminhar em direção a uma configuração
singular das dissertações e dos produtos educacionais. Quando tomamos como referência as
12 pesquisas realizadas no polo/núcleo da UFMG, no âmbito da primeira turma de egressos/as,
ainda é possível perceber uma dada diferenciação entre a dissertação e o produto educacional,
com a primeira sendo determinante da forma e conteúdo do segundo. O desafio apontado para
a continuidade do programa, mais especificamente no contexto do polo/núcleo da UFMG, é de
ampliarmos as possibilidades epistêmicas e metodológicas de produção de conhecimento que
considerem o produto educacional como objeto de estudo da dissertação, o que implica uma
substancial mudança e inversão da tradição no campo acadêmico da Educação Física.
Referências
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162
CAPÍTULO 11 – MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA EEFFTO/UFMG:
ALGUNS ELEMENTOS PARA REPENSAR RELAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE, ESCOLA BÁSICA E FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES/AS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Admir Soares de Almeida Júnior – José Angelo Gariglio
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163
CAPÍTULO 11 – MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO FÍSICA NA EEFFTO/UFMG:
ALGUNS ELEMENTOS PARA REPENSAR RELAÇÕES ENTRE UNIVERSIDADE, ESCOLA BÁSICA E FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES/AS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Admir Soares de Almeida Júnior – José Angelo Gariglio
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164
Ca p í tul o 12
165
CAPÍTULO 12 – GESTÃO DE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM REDE: O PROEF COMO FOCO
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Maria Candida Soares Del-Masso – Andréia de Carvalho Lopes-Fujihara
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CAPÍTULO 12 – GESTÃO DE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM REDE: O PROEF COMO FOCO
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Maria Candida Soares Del-Masso – Andréia de Carvalho Lopes-Fujihara
Fonte: As autoras.
1
O Conselho de Programa do Proef na Unesp é constituído a partir das orientações contidas na Portaria Unesp Nº
196, de 11 de setembro de 2020 (Unesp, 2020b).
169
CAPÍTULO 12 – GESTÃO DE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM REDE: O PROEF COMO FOCO
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Maria Candida Soares Del-Masso – Andréia de Carvalho Lopes-Fujihara
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CAPÍTULO 12 – GESTÃO DE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM REDE: O PROEF COMO FOCO
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Maria Candida Soares Del-Masso – Andréia de Carvalho Lopes-Fujihara
De forma democrática, toda a rede tem colaborado para a efetivação das ações no
programa. As disciplinas obrigatórias semipresenciais em rede são atribuídas para os 13
Núcleos das IESs Associadas, e em cada IES um ou mais docentes assumem a disciplina, ficando
responsáveis pelos Planos de Ensino e seus conteúdos junto a Secretaria de Pós-Graduação
de seu Núcleo. Para a oferta das disciplinas obrigatórias semipresenciais no biênio 2018-2019
e 2021-2022, primeira turma e segunda turma respectivamente, todos os docentes das IESs
Associadas foram consultados quanto ao interesse em construir o conteúdo para a Rede.
171
CAPÍTULO 12 – GESTÃO DE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM REDE: O PROEF COMO FOCO
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Maria Candida Soares Del-Masso – Andréia de Carvalho Lopes-Fujihara
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CAPÍTULO 12 – GESTÃO DE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM REDE: O PROEF COMO FOCO
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Maria Candida Soares Del-Masso – Andréia de Carvalho Lopes-Fujihara
Fonte: As autoras.
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CAPÍTULO 12 – GESTÃO DE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM REDE: O PROEF COMO FOCO
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Maria Candida Soares Del-Masso – Andréia de Carvalho Lopes-Fujihara
instituições educacionais, fossem substituídas pelos encontros e reuniões virtuais. Embora tenha
sido um ponto de tensão para muitas instituições educacionais de todo o país em suas diferentes
modalidades acadêmicas, para as equipes docente, discente e profissional do Proef não teve
impacto, haja vista que a proposta já era realizada usando o ambiente virtual de aprendizagem
e suas diferentes ferramentas tecnológicas.
O conjunto de disciplinas associado a outras ações do programa, por exemplo, eventos,
atividades complementares, acompanhamento em projetos, orientações, proporcionam aos
mestrandos oportunidades singulares no seu percurso formativo, de modo que ele possa atuar
no seu contexto educacional considerando amplamente elementos fulcrais do processo ensino
e aprendizagem como currículo, material didático, avaliação, formação e prática pedagógica.
Compreendemos que essa formação exige uma sistematização, que não apenas dê conta
dos aspectos formais de um programa de Mestrado, mas que a produção de estudos e pesquisas
sejam direcionada para uma real aplicabilidade na prática profissional. Nessa perspectiva, o
desenvolvimento da pesquisa no Proef tem o propósito de impactar o contexto escolar, ou seja,
o “chão da escola”, e assim possa superar os limites da quadra, alcançando espaços mais altos,
por isso o modelo científico adotado é uma pesquisa de intervenção.
Conforme está normatizado pela Instrução Normativa nº 10, que apresenta os critérios
para os trabalhos finais dos mestrandos, em seu Artigo 1º define:
O Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, deverá descrever em detalhes o
planejamento, o desenvolvimento e os resultados de uma pesquisa e/ou intervenção
com implicação no campo profissional da Educação Física no contexto escolar.
Deverá estar vinculado em uma das três linhas do programa escolhida pelo aluno
no ato da matrícula (Unesp, 2019, p. 1).
Diante dessa demanda, ainda ficou estabelecido no parágrafo primeiro, que além do
TCC, organizado no formato de um texto dissertativo ou relatório científico, os mestrandos
devem apresentar um Produto Educacional, de natureza aplicável, que poderá ser desenvolvido
em diferentes formatos a partir da proposta entre mestrando e seu orientador de pesquisa.
Esse planejamento para a formação de professores de Educação Física objetiva fomentar
a inovação no contexto escolar, desde o debate sobre as políticas públicas, perpassando pela
atualização dos currículos e suas premissas pedagógicas até as práticas pedagógicas na escola.
Por isso, para muito além da reflexão, o Proef visa a criar um processo formativo instrumental
devidamente fundamentado nas bases epistemológicas da área, estabelecendo um diálogo com
as necessidades reais que emanam do contexto educacional e que possibilite um uso prático
que possa reverberar em outras dimensões desse processo educacional.
Para Alarcão (2008), uma formação não se pode reduzir a sua dimensão acadêmica ou
teórica, mas deve integrar um componente prático e reflexivo. Só esse componente permite
o reconhecimento dos principais caminhos a percorrer, no contato com o terreno da prática
174
CAPÍTULO 12 – GESTÃO DE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM REDE: O PROEF COMO FOCO
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Maria Candida Soares Del-Masso – Andréia de Carvalho Lopes-Fujihara
2
Portaria FCT nº 18/2018, de 19 de março de 2018, que dispõe sobre a designação da coordenação do Programa às
professoras Denise Ivana de Paula Albuquerque – Coordenadora, e Maria Candida Soares Del-Masso – Vice-Coorde-
nadora, retroagindo seus efeitos a 8 de março de 2018.
175
CAPÍTULO 12 – GESTÃO DE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM REDE: O PROEF COMO FOCO
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Maria Candida Soares Del-Masso – Andréia de Carvalho Lopes-Fujihara
Programa. Durante as reuniões pudemos conhecer a equipe docente das IESs Associadas, seus
interesses acadêmicos e apontar para cada grupo de docentes o atual estado da arte do Proef na
Unesp e informar sobre a indução da Coordenação Nacional, ou seja, indicação da Pró-Reitoria
de Pós-Graduação da Unesp, para que as ações fossem ágeis e eficazes. Interessante destacarmos
que não houve qualquer objeção, assim como impedimentos para essa ação, quer por parte
das IESs Associadas, que por parte dos diferentes órgãos envolvidos na execução do programa.
Assim, primeiro desafio superado, situações-problema resolvidas, estrutura do Proef organizada
nas IESs Associadas para o início das aulas no dia 2 de abril de 2018.
Ao longo dos dois primeiros anos, outras demandas surgiram, as quais precisaram da
intervenção da coordenação nacional. Na proposta inicial do Proef o valor orçamentário era
bem significativo e para a efetiva realização do curso o valor orçamentário disponibilizado pela
Capes era bem inferior ao proposto. A partir disso, a questão orçamentária foi reorganizada com
ênfase na manutenção da equipe de trabalho para que o curso pudesse ser realizado e executado
no AVA. No orçamento inicial do Proef já constavam valores para as duas primeiras turmas do
programa. Para a execução foi necessária uma readequação de valores de modo a contemplar
e manter a equipe de trabalho e as devidas ações administrativas.
Outra ação que demandou reorganização da coordenação nacional foi a distribuição
de bolsas, pois na proposta inicial todos os estudantes teriam bolsas de estudo da Capes.
Em decorrência dos ajustes financeiros da Capes foram atribuídas bolsas de estudos para o
contingente de 30% do total de vagas. Assim, considerando as 181 vagas para o Proef, recebemos
54 bolsas cuja concessão aos mestrandos ocorreu após realização de processo seletivo com base
na Instrução Normativa do Proef nº 02/2018, de 20 de abril de 2018, para a primeira turma, cujo
documento foi atualizado para a concessão de bolsas para a segunda turma do Programa, que
teve início em março de 2021.
Para a efetiva ação de um programa em rede, o Regimento Interno do Proef (Unesp,
2020a) foi revisto, analisado pelos Colegiados de Curso de cada IES Associada e suas respectivas
Pró-Reitorias de Pós-Graduação, e após sugestões e adequações, foi votado e aprovado pelo
Conselho Gestor do Programa. O Regimento Interno estabelece as normativas gerais do
Proef e cada IES Associada deve também se respaldar nos Regimentos de suas Pró-Reitorias
de Pós-Graduação. Somado a isso, cada IES Associada pode elaborar o seu Regulamento de
Programa considerando as especificidades de cada Instituição sem perder a perspectiva da Rede.
No primeiro ano do Proef, coincidindo com a aula inaugural do curso, a Coordenação
Nacional organizou o 1º Encontro Nacional com todos os Coordenadores de IESs Associadas
de forma presencial e os docentes e discentes dos Núcleos de forma virtual transmitido pelo
canal de streaming da Unesp. Foi um momento marcante e de enorme felicidade para os
181 mestrandos que aguardavam, já há quase 2 anos, pelo início do curso. O 2º Encontro
Nacional do Proef ocorreu na Universidade Federal do Espírito Santo, na cidade de Vitória, onde
localiza-se um dos Núcleos do programa. O evento ocorreu no período de 7 a 9 de maio de 2019,
contando com a participação de representantes da Capes, dos coordenadores de Colegiados das
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CAPÍTULO 12 – GESTÃO DE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM REDE: O PROEF COMO FOCO
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IESs Associadas, dos representantes Discentes Titulares de cada uma das IESs e a participação
de mais três docentes de cada Núcleo, para que fosse possível a reflexão e diálogo sobre o
Proef após 1 ano de atividades. Os três dias de evento trouxeram várias sugestões de avanços
para o curso, inclusive com possibilidade de parcerias com Secretarias de Educação visando
à ampliação do Proef. Nesse evento esteve presente a docente representante do Fórum dos
Mestrados Profissionais com o objetivo de juntos analisarmos os impactos que esses programas
enfrentam no atual contexto acadêmico brasileiro, inclusive em sua forma de avaliação pelos
Comitês da Capes. Em março de 2021 o Proef realizou o 3º Simpósio Nacional de Educação
Física denominado “O Proef frente aos desafios da Educação Física Escolar”, que coincidiu com
a aula inaugural da segunda turma e o lançamento do livro, em acesso aberto, denominado
Desafios da Educação Física Escolar: temáticas da formação em serviço no Proef.3
Em 2021 foi realizado o 1º Congresso Internacional de Educação Física Escolar,4 evento
acadêmico-científico organizado pelo Programa de Mestrado Profissional em Educação Física em
Rede Nacional – Proef – com a finalidade de reunir os mestres egressos da primeira turma, os
professores que participam da segunda turma, professores da Educação Básica, pesquisadores da
Educação Física Escolar e demais interessados, para o debate de temas relacionados à área. Esses
encontros ocorreram em Etapas Preliminares nos meses de julho, agosto, outubro com dois
encontros e a Etapa de Culminância de 25 a 27 de novembro de 2021 com mesas e conferências
sobre a temática do evento e apresentações de trabalhos dos egressos do Proef consistindo no
produto educacional e relatos de experiências advindos dos participantes do evento. O ponto
alto do evento foi a entrega do Prêmio Suraya Darido de Educação Física Escolar aos melhores
Produtos Educacionais dos Mestres egressos da 1ª turma do Proef.
Apesar das dificuldades iniciais do Proef, a primeira turma foi finalizada com total êxito
no prazo proposto pelo Programa com a conclusão e defesa dos textos dissertativos e dos
produtos educacionais. Esses trabalhos estão disponíveis nos Repositórios e/ou Bibliotecas das
IESs Associadas e, em breve, no repositório institucional da Capes. Os Produtos Educacionais
do Proef estão disponíveis no site do Programa no endereço https://www.fct.unesp.br/#!/
pos-graduacao/-educacao-fisica/producoes-intelectuais/ distribuídos conforme suas IESs de
origem.
No que tange ao suporte às ações acadêmico-administrativas, foram instituídas
Comissões de Apoio à Coordenação Nacional para analisar e propor documentos para
orientarem a rede, entre as quais as Comissões de Planejamento Estratégico, Credenciamento
e Recredenciamento, Projeto Pedagógico e Estrutura Curricular do Programa e de Publicações,
que geraram Instruções Normativas para o Proef, além de outros documentos orientadores.
3
https://acervodigital.unesp.br/handle/unesp/381384.
4
https://www.fct.unesp.br/#!/pos-graduacao/-educacao-fisica/1-ciefe/
177
CAPÍTULO 12 – GESTÃO DE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM REDE: O PROEF COMO FOCO
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Maria Candida Soares Del-Masso – Andréia de Carvalho Lopes-Fujihara
Considerações Finais
O Proef vem marcar um novo capítulo na história da Educação Física no país, trazendo
novos conceitos, novos caminhos e um importante olhar para a formação dos professores. Com
o propósito de congregar as melhores experiências para os mestrandos, o Programa tem o firme
propósito de qualificar os cenários educativos nas diferentes regiões do Brasil.
178
CAPÍTULO 12 – GESTÃO DE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM REDE: O PROEF COMO FOCO
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Maria Candida Soares Del-Masso – Andréia de Carvalho Lopes-Fujihara
Para tanto pauta-se na formação de um professor reflexivo, aquele que pensa e analisa
constantemente a sua prática, identifica os seus êxitos e os seus fracassos, seus limites e possibi-
lidades, e utiliza a reflexão para se adequar à metodologia e lançar mão de estratégias, e assim
buscar melhorar sua prática (Albuquerque, 2014).
E neste caminho, que ainda é percorrido, que trazemos para nossa concepção o
pensamento do grande educador Paulo Freire (Freire, 1997), destacando que é refletindo sobre
nossa prática de hoje que podemos transformar nossa próxima prática.
Essa é a história do Proef, que queremos deixar registrada e que cada um, que por ele
tenha passado deixou um pouco de si, contribuindo para a preservação da jornada trilhada até
este momento. Assim se constrói a educação, inovando a cada dia, a cada época, em todos os
contextos.
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179
CAPÍTULO 12 – GESTÃO DE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM REDE: O PROEF COMO FOCO
Denise Ivana de Paula Albuquerque – Maria Candida Soares Del-Masso – Andréia de Carvalho Lopes-Fujihara
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Interdisciplinar, v. 8, n. 1, 2019.
180
Posfácio
183
Sobre os Autores
UNIJUÍ
• Sidinei Pithan da Silva – Doutor em Educação (UFPR). Professor na Universidade Regional
do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. sidinei.pithan@unijui.edu.br; https://orcid.
org/0000-0001-6400-4631
• Paulo Evaldo Fensterseifer – Professor na Universidade Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul. fenster@unijui.edu.br; https://orcid.org/0000-0002-4914-5281
• Fernando Jaime González – Professor na Universidade Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul. fjg@unijui.edu.br; https://orcid.org/0000-0002-7033-663X
• Maria Simone Vione Schwengber – Professora na Universidade Regional do Noroeste do Estado
do Rio Grande do Sul. simone@unijui.edu.br; https://orcid.org/0000-0002-3583-1408
• Paulo Carlan – Professor na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande
do Sul. carlan@unijui.edu.br; https://orcid.org/0000-0003-2745-8647
UFMT
• Ana Carrilho Romero Grunennvaldt – Doutora em Educação (Unicamp). Professora da
Universidade Federal de Mato Grosso. anacarrilho12@yahoo.com.br; https://orcid.org/0000-
0002-4509-2610
• Cleomar Ferreira Gomes – Doutor em Educação (USP). Professor da Universidade Federal
de Mato Grosso. gomescleo.cg@gmail.com; https://orcid.org/0000-0003-0451-1011
• Evando Carlos Moreira – Doutor em Educação Física (Unicamp). Professor da Universidade
Federal de Mato Grosso. ecmmoreira@uol.com.br; https://orcid.org/0000-0002-5407-7930
• José Tarcísio Grunennvaldt – Doutor em Educação (PUC/SP). Professor da Universidade
Federal de Mato Grosso. jotagrun@uol.com.br; https://orcid.org/0000-0002-5040-2679
• Márcia Cristina Rodrigues da Silva Coffani – Doutora em Educação (UFMT). Professora da
Universidade Federal de Mato Grosso. marciacoffani@hotmail.com; https://orcid.org/0000-
0002-5008-3380
UFG
• Tathyane Krahenbühl – Doutora em Ciências (Unicamp). Professora da Universidade Federal
de Goiás (UFG). tathykrahenbuhl@ufg.br; https://orcid.org/0000-0001-6801-4861
• Ana Marcia Silva – Doutora em Ciências Humanas (UFSC). Pesquisadora Labphysis
(UFG). amarciasi@gmail.com; https://orcid.org/0000-0002-8509-9817
185
SOBRE OS AUTORES
189
II Encontro dos Coordenadores do
Mestrado Profissional em Educação Física
em Rede Nacional (Proef)
Fonte: Unesp.