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VIII SEMANA INTERNACIONAL DE PEDAGOGIA (VIII SIP)

“A formação docente e a BNCC: resistindo e esperançando em


tempos neoliberais”

II CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE PRÁTICAS DE


APRENDIZAGEM INTEGRADORAS E INOVADORAS (II CIPAII)
"(Trans)formação: saberes necessários para esperançar no
presente e no futuro”

14 a 18 de dezembro de 2021

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – CENTRO DE EDUCAÇÃO


Maceió – Alagoas – Brasil

ISSN: 1981 - 3031

A NOVA ESFERA PÚBLICA DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

RESUMO:
A Educação Profissional interpretada como ação do Estado Gerencial e das classes sociais são temas
que mobilizam a curiosidade científica no campo da Educação. O objetivo deste artigo é analisar a
influência da política de educação profissional na formação de uma classe de profissionais da área de
Segurança do Trabalho. A metodologia que orientou a pesquisa consistiu numa pesquisa bibliográfica
juntamente com a observação das mudanças que colocaram a Zona da Mata de Pernambuco no
circuito da indústria de transformação e da Educação Profissional, em virtude de uma política pública
chamada Programa de Aceleração do Crescimento-PAC. O presente estudo, portanto, pretende uma
breve reflexão sobre a contribuição da Educação Profissional para a redução das desigualdades
educacionais e sociais. Tanto pela sua capacidade de criar oportunidades de estudar e conquistar
trabalho e salário, como também no sentido de fazer o profissional recuperar uma condição de classe
subtraída no contexto da Zona da Mata de Pernambuco e da estrutura produtiva da cana-de-açúcar.

PALAVRAS-CHAVE: Estado. Educação Profissional. Classe.

1 INTRODUÇÃO

O objetivo do presente artigo é compreender a capacidade da política de


educação profissional ofertada pelo IFPE/Ipojuca formar uma classe de profissionais
no campo Segurança do Trabalho. Nesse sentido, busca-se resposta para a seguinte
pergunta: como a política de educação profissional do Estado atua na formação de
uma classe?
Considera-se que essa luta assume contornos práticos. Por isso mesmo a
ampliação do acesso à Educação Profissional é posta como uma estratégia de
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configuração de uma classe com base no conhecimento produzido pela Escola
Pública.
O artigo está organizado em quatro seções. A primeira sistematiza-se o
conceito de Estado Gerencial (BRESSER PEREIRA, 2001) fortalecido pela filosofia
política chamada neoliberalismo, para mostrar como as mudanças que ocorrem na
sociedade do trabalho, sob a hegemonia do sistema Toyota, tem a dupla tarefa de
redimensionar as relações políticas entre as classes que sustentam o capitalismo.
Na segunda seção, faz-se a relação entre o Estado Gerencial e o Toyotismo,
bem como a sua preferência pela Educação Profissional. Ao mesmo tempo, interpreta-
se a Educação Profissional muito além dos interesses do Toyotismo, uma vez que ela
pode se configurar numa precondição para materializar uma classe de profissionais.
Na terceira seção, entende-se a Educação Profissional como uma política de
Estado, uma formação escolar, uma perspectiva de mercado de trabalho, mas,
sobretudo, materializando uma classe de profissionais. Nesse sentido, aponta-se que
ela tem uma institucionalidade e expressa uma concepção de sociedade,
circunstância na qual dialogamos com Manfredi (2002), para esclarecer como o
conceito educação profissional torna-se um distintivo de classe.
Na quarta seção, buscamos encontrar o caminho pelo qual o Estado faz a
política de Educação Profissional pela descentralização dos IFs no território da Zona
da Mata que, marcado pelas estruturas produtivas da cana-de-açúcar, reacende a
indústria de transformação e a reestruturação produtiva em virtude das consequências
do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e apontando o significado político
da Educação Profissional para a classe que vive do trabalho.

2 A NATUREZA DO ESTADO

2.1 O ESTADO GERENCIAL E A INVISIBILIZAÇÃO DAS CLASSES SOCIAIS

Na esteira do debate teórico mais recente desenvolve-se o conceito de Estado


Gerencial. Nessa perspectiva, o Estado assume novas funções econômicas e retira-
se de outras, principalmente na área social. Os Gerentes ou Gestores Públicos lutam
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sistematicamente em defesa da execução de uma agenda de reformas na
administração pública, fazem a política dos técnicos e da neutralidade, bem como
agem em nome das entidades públicas não-estatais e pela competição entre elas para
ofertar os serviços públicos, inclusive Educação Profissional através do processo de
terceirização.
Compreende-se que para entender o campo da Educação Profissional na
qualidade de política social, torna-se importante situar o contexto do Estado Gerencial,
uma vez que, conforme já se apontou, ele surge numa circunstância histórica
provocada pela globalização, sistema Toyota de controle do trabalho, desmonte do
Estado de bem-estar, crise econômica, fiscal e administrativa dos Estados Nacionais,
assim como uma pluralidade de concepções organizacionais da administração pública
(ABRUCCIO, 1997).
Bresser Pereira (1994), partidário do Estado Gerencial, um dos teóricos e
idealizador do Estado Gerencial no Brasil nos anos 1990, entende que a sociedade
civil e o Estado devem assumir novas formas de relações e papéis políticos no sentido
de promover uma agenda pública pautada na eficiência dos gastos públicos,
principalmente na área social.
Sendo assim, o referido autor entende que se trata de um novo Estado. Como
organização política demanda descentralização e terceirização de atividades em
serviços públicos como Educação Profissional. Razão pela qual fala-se em gestão
pública, contrato de gestão, metas, cidadão consumidor, dentre outros conceitos e
propostas que contribuem sobremaneira para a desqualificação das profissões e das
classes que vivem do trabalho assalariado.
O fato é que essa nova forma de Estado provoca mudanças na materialidade
do Estado e da Educação Profissional. A estratégia de tornar-se mais moderno,
eficiente e capaz de satisfazer os consumidores e, simultaneamente, tornar o setor
público mais ágil, leve e competitivo surge por meio da associação de três medidas
práticas, quais sejam:
A primeira medida diz respeito à descentralização, onde se parte do
entendimento de que aproximar o serviço público do consumidor é colocar mais
fiscalizado pela população; a segunda medida tem como área de abrangência
desenvolver a competição entre as organizações públicas; finalmente, a terceira
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medida prática trata da adoção de um modelo contratual para os serviços públicos
(BRESSER PEREIRA, 2001).
Para efeito desse estudo é importante a crítica mais geral ao conceito de
consumidor dos serviços públicos (ABRUCCIO, 1995) defendendo-se participação
política, igualdade e justiça social em virtude da pobreza socioeconômica e política
própria da realidade social das formações capitalistas. (DEMO,1994).
Por essas razões, transformar o desempregado sem qualificação profissional
num consumidor é algo que não se processa automaticamente, nem tampouco
Educação Profissional é uma questão de consumo dos bens e serviços públicos. É
preciso constituir-se condições efetivas que se convertam numa política estatal de
criação de emprego fundamentada institucionalmente.
Logo, não se pode conceber o processo de reforma do setor público estatal e
sua materialização no Estado Gerencial, dissociado da sua função política de
constituir a força de trabalho que está dispersa (OFFE, 1984), sobretudo numa era de
novas exigências provocadas pelo sistema de controle do trabalho Toyota ou just in
time.

2.2 ESTADO GERENCIAL, TOYOTISMO E NOVA ESTRATÉGIA DE CLASSE (A


VALORIZAÇÃO DO CONHECIMENTO PROFISSIONAL)

De acordo com Pinto (2013), o sistema Toyota exige mudanças desde o chão
da fábrica até as estruturas políticas do Estado de Bem-estar. No que diz respeito aos
trabalhadores estes devem ser multifuncionais e polivalentes. Isso implica conhecer,
executar e se responsabilizar por várias fases do processo produtivo total.
O sistema Toyota, portanto, afasta o modelo de Estado em bases fordistas em
todos os aspectos. Mudam-se o pertencimento de classe e expõe a qualificação
técnico-escolar como um fator de desigualdade de classe uma vez que em nome de
um modelo de produção flexibilizam-se a cadeia produtiva e determina-se um número
fixo de trabalhadores dos quais se exige qualificação, jornadas flexíveis, metas e
horas extras.
O referido sistema foi rapidamente difundido nos principais países capitalistas.
O objetivo dessa nova forma de organização e controle do trabalho é flexibilização

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dos mercados de trabalho, das relações sociais e de trabalho, dos mercados de
consumo, das barreiras comerciais e do controle do Estado pela iniciativa privada. Os
conflitos de classe e negociação coletiva tornam-se tão distantes que perdem
visibilidade social.
Sendo assim, o sucesso ou fracasso da escola e das políticas de Educação
Profissional podem ser interpretados como uma questão “individual”, já que o sistema
Toyota pretende escolher uma força de trabalho qualificada e, nesse sentido, a EPT
de Nível Médio teria um objetivo determinado pelos arranjos produtivos.
Por outro lado, a ETP de Nível Médio tem suas consequências políticas. Isso
permite inferir sobre o seu papel na organização dos laços de solidariedade de classe.
Razão pela qual o caminho da Educação Profissional como função do Estado pode
ser interpretado como uma precondição que permite a apropriação do conhecimento
pela classe que vive do trabalho e vantagens muito além da condição social de
cidadão consumidor determinada na agenda do Estado Gerencial (BRESSER
PEREIRA, 2001).
É importante lembrar que o Estado é constituído de aparelhos e setores
estratégicos, no caso, a Educação Profissional. Mas, não menos importante é lembrar
que por meio desse aparelho se expressam interesses de classe: leis, normas,
medidas repressivas, organização do trabalho, do conhecimento científico, etc.,
porque o Estado tem uma materialidade institucional. Esta se expressa na divisão
mais geral própria das formações sociais capitalistas. Isto é, a separação entre
trabalho intelectual e trabalho manual (POULANTZAS, 1984).
A referida separação implica luta de classes. Nesse sentido, o Estado numa
formação social capitalista é intrínseco às relações de produção e opera
transformações buscando a hegemonia de uma classe sobre a outra em disputas
permanentes. Nesse sentido, não há classe hegemônica com o poder e o controle
absoluto do Estado. Razão pela qual buscam-se o apoio político das demais classes
para manter-se a hegemonia, isto é, o predomínio político de uma determinada classe
(HERMIDA E LIRA, 2018).

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3 O ESTADO GERENCIAL, LEI DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO ANO DE
2008 E HEGEMONIA

A Educação Técnica Profissional (EPT) de Nível Médio, objeto da presente


análise, foi normatizada pela Lei No. 11.892/2008 que cria os Institutos Federais – Ifs
vira Meta 11 no Plano Nacional de Educação- PNE. Na qualidade de política pública
do campo educacional, é possível identificar um dos seus elementos pela sua relação
com a realidade, qual seja: distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que
efetivamente materializa na busca pela hegemonia. (SOUZA, 2006).
O PNE 2014-2024 foi discutido com amplos segmentos da sociedade civil e da
sociedade política. Nesse sentido, se planejou a Educação Profissional como Meta
11. O objetivo é “triplicar o número de matrículas da Educação Profissional Técnica
(EPT) de nível médio, garantindo não só a qualidade da oferta, mas também a
expansão em pelo menos 50% dessa modalidade no segmento público” (PNE 2014-
2024, p, 187), bem como formação profissional, sobretudo aos mais pobres no sentido
de contribuir com a formação profissional e redução das desigualdades sociais no
Brasil (PNE 2014-2024, p, 188). A referida Lei, portanto, ajuda a entender que, de fato,
a ação do Estado com política educacional tem uma materialidade institucional.
É sabido que a ETP de Nível Médio, na qualidade de política social de Estado,
o seu limite é reproduzir a sociedade, isto é, existe uma perspectiva de classe e de
relações sociais de classe que expressam a ocorrência de conflitos provocados pelas
exigências dos processos de trabalho e pela forma como o Estado opera buscando
qualificar a força de trabalho para as (novas) exigências do chamado mundo do
trabalho. (OFFE, 1984).
No entanto, essa mesma política de EPT de Nível Médio além de ampliar a
função do Estado no campo da educação pública, numa época de implantação de
uma agenda de reformas dos seus aparelhos, cria a possibilidade de (re) desenhar o
padrão de proteção social, uma vez que sua intervenção tende a diminuir as
desigualdades e o nível do conflito entre capital e trabalho. (HOFLING, 2001, p, 31).
Logo, por meio da política de educação profissional seria possível requalificar
os conflitos entre classes sociais podendo gerar resultados diferentes dos esperados
e elaborados dentro do aparelho de Estado, uma vez que a política de educação
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profissional traduz lutas sociais em torno de uma concepção de mundo e desmembra
uma classe de profissões cujos profissionais tendem a manifestar interesse pela
redução das desigualdades educacionais e sociais.
É assim que o Estado preserva as relações sociais que caracterizam a
sociedade de classes, mas também transforma mão de obra desqualificada e sem
poder de organização política em possível trabalho assalariado com proteção social e
um amplo processo de socialização, conforme observações de Offe (1984).

4 UMA CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

Indica-se a Educação Profissional ofertada pelos Institutos Federais-IFs com


proteção legal, como política educacional PNE – Meta 11, mas também como
estratégia de organização política do sistema capitalista que permite a criação de
alternativas e a própria crítica ao projeto de sociedade que desenha a desigualdade
educacional a partir da Escola (MARTINS, 1994).
Compreende-se a Educação Profissional Técnica- EPT de Nível Médio, como
política de Estado. Nesse sentido, busca-se identificá-la com a luta política mais global
da sociedade e dos interesses de classes. Razão pela qual ingressamos numa
discussão na qual o Estado materializa funções que expressam concepções e
princípios filosóficos de Educação Profissional (MANFREDI, 2002).
No campo do debate teórico, portanto, a produção do conhecimento sobre
Educação Profissional coloca aspectos diferentes quanto a sua própria natureza,
principalmente quando está em discussão interesses de classe: trabalhadores,
empresários e gestores do Estado, bem como a luta política em defesa da escola
pública como direito social.
Nesse sentido, orienta-se a presente análise na concepção que entende a
formação para o trabalho integrada ao nível médio orientada pela “ideia de uma
educação tecnológica numa perspectiva de trabalhadores como sujeitos coletivos e
históricos” (MANFREDI, 2002). Assim, se contrapõe à Educação Profissional numa
perspectiva compensatória e assistencialista direcionada para os pobres.

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Segundo MANFREDI (2002) à medida que as sociedades se transformam
mudam também os mecanismos de controle sobre o trabalho, um deles é a
qualificação escolar e técnica. O trabalho assalariado é uma modalidade que se
distingue pelo nível de escolaridade e um distintivo de classe daqueles que vendem
força de trabalho.
Esse argumento é particularmente importante para o presente estudo porque
objetiva entender a Educação Profissional pelo vínculo com a expansão da estrutura
de emprego e aumento de ocupações assalariadas no território de SUAPE. (seja para
sua inclusão seja para sua exclusão do processo produtivo). A Educação Profissional,
portanto, passa a ser interpretada pela sua contribuição com o argumento que
defende a educação e o trabalho como direito social incorporado aos projetos de
escolarização dirigidos a jovens e adultos pertencentes aos grupos populares
(MANFREDI, 2002).
Conforme se percebe, a Educação Profissional é um campo de conhecimento
que para ser compreendido demanda pensar o conceito refletindo a própria
sociedade. No caso das sociedades capitalistas revela contradições entre capital e
trabalho, bem como formas de apropriação do conhecimento pela classe trabalhadora,
que se traduzem em habilidades e competências no formato Toyotismo ou just in time.
Esse argumento deve-se ao fato de que no modelo do capitalismo assentado
no sistema Toyota e na reestruturação produtiva se entende a qualificação para o
trabalho com base no conceito de competência. Esta, por sua vez, torna-se Meta do
Estado Gerencial, na posição do Governo Federal, por meio do desenvolvimento de
políticas de formação profissional e ampliação dos IFs por diversas cidades no interior
do Brasil.

5 O SIGNIFICADO DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA ZONA DA MATA DE


PERNAMBUCO

É na perspectiva de descentralização dos IFs que entendemos o impacto do


IFPE/Campus Ipojuca na redução das desigualdades educacionais e sociais. Situado
na Zona da Mata de PE esse território tornou-se alvo das transformações produzidas
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pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o primeiro lançado em 2007 e
o segundo no ano de 2010.
Dentre os objetivos do PAC podemos ressaltar o estímulo aos investimentos
públicos e privados, geração de emprego e renda e ampliação da capacidade
produtiva dos Portos, dentre os quais destaca-se o Porto de SUAPE. Nesse contexto,
a referida política do Governo Federal redesenha o complexo de empresas, ganha
força política na agenda dos governos subnacionais e, de uma certa forma, articula a
relação de colaboração federativa para implantação do sistema de ensino federal ao
nível local simbolizado pelo IFPE/Campus Ipojuca.
Tanto em si mesma como também quando posta no quadro do trabalho
qualificado da ETP de Nível Médio para a formação de competências, no contexto do
Brasil e da região Nordeste, SUAPE é alvo de críticas. O desafio era qualificar
trabalhadores e reduzir a quantidade com baixo nível de escolaridade.
Acredita-se que a ETP de Nível Médio é um desafio para a realidade local, uma
vez que significa a possibilidade do primeiro emprego cuja formação profissional é a
chave para o mundo do trabalho vendido e comprado.
Historicamente o município de Ipojuca, no contexto da Zona da Mata, é
marcado por programas e projetos assistencialistas de caráter compensatório. Nesse
sentido, as pessoas que vivem do trabalho assalariado tendem ao afastamento da
Educação Profissional como distintivo de classe, uma vez que a estrutura produtiva
da cana-de-açúcar procura esconder o papel da formação escolar na redução das
desigualdades sociais produzidas pela concentração da terra, renda e poder político,
evasão escolar, analfabetismo, desemprego, trabalho infantil, dentre outros
problemas sociais.
Nesse contexto chama-se atenção para três aspectos do quadro sócio-político
da Zona da Mata no sentido de entender como a ampliação do Porto de SUAPE ao
demandar uma nova institucionalidade da Educação Profissional materializada no
IFPE/IPOJUCA influencia na redução das desigualdades educacionais e sociais.
1- A cana-de-açúcar é a principal cultura agrícola desse território. O papel
do setor sucro-alcooleiro na incorporação da força de trabalho destituída de formação
e qualificação profissional é significativo;

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2- As relações de poder que decorrem dos grupos políticos vinculados a
chamada burguesia agrária – fornecedores de cana, plantadores e usineiros -
controlam as atividades agrícolas, bem como a formação escolar por meio do trabalho,
além de se colocar com força política para impedir uma agenda pautada com o
Governo Federal no sentido de colocar a Zona da Mata fora das vias emergenciais,
assistencialistas e eleitoreiras;
3- A Zona da Mata se caracteriza como área de desemprego. Nesse
sentido, a precarização social provocada pela estrutura produtiva da cana-de-açúcar
e, sobretudo, pela ausência de formação e qualificação profissional contribui para
colocar a falta de formação profissional como uma forma de negar a educação como
direito social e como um mecanismo de roubar a fala de uma classe de profissionais.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pergunta colocada nesse estudo, isto é, como a política de educação


profissional do Estado atua na formação de uma classe? é uma preocupação que
talvez se justifique pela possibilidade da expansão da EPT de Nível Médio viabilizar
mobilidade e uma relativa redução das desigualdades educacionais e sociais.
Compreende-se que a implantação do IF/Campus Ipojuca ofertando EPT de
Nível Médio coloca o Estado diante de suas próprias contradições. O modelo do
Estado Gerencial e sua agenda de reformas faz o PAC oferecer as condições para a
reprodução das práticas capitalistas. Ao mesmo tempo, redimensiona a ação do
Estado: das práticas assistencialistas no território da Zona da Mata à oferta de ETP
de Nível Médio Pública e formação de classe. O que revela a classe que vive do
trabalho com oportunidade de estudar e se qualificar para a indústria de transformação
que cresce com a ampliação da capacidade produtiva do Porto de Suape.
Esse fato nos permite inferir que não se pode explicar a formação profissional
apenas na esfera do consumo, como proclamam os novos gestores públicos e sua
filosofia neoliberal. Pelo contrário, esse processo de descentralização dos IFs tende a
contribuir para redefinir as estruturas administrativas e decisórias do Estado
mediatizados por estruturas internas ao sistema político.
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Se, por um lado, o Estado em bases fordistas coloca a representação da classe
trabalhadora de forma clara e expõe a sociedade civil na defesa de profissão, trabalho
e salário enquanto elementos constitutivos da categoria cidadão. Por outro lado, esse
modelo de Estado supostamente depreciado pelo Toyotismo parece útil na
valorização da EPT de Nível Médio ofertada pelo poder público.
Sendo assim, colocar a força de trabalho da Zona da Mata na Escola é possível
o reconhecimento do seu direito a profissão, como também ao aprendizado do seu
pertencimento de classe social e os possíveis conflitos no processo de sociabilidade.

REFERÊNCIAS

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Martins Fontes, 2009. pp. 31-81 e pp. 286-333b

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mecanismo de controle. Trabalho apresentado à Segunda reunião do Círculo de
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MARTINS, Clélia. O que é política educacional. 2ª Edição, São Paulo: Editora


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