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14 a 18 de dezembro de 2021
RESUMO:
A Educação Profissional interpretada como ação do Estado Gerencial e das classes sociais são temas
que mobilizam a curiosidade científica no campo da Educação. O objetivo deste artigo é analisar a
influência da política de educação profissional na formação de uma classe de profissionais da área de
Segurança do Trabalho. A metodologia que orientou a pesquisa consistiu numa pesquisa bibliográfica
juntamente com a observação das mudanças que colocaram a Zona da Mata de Pernambuco no
circuito da indústria de transformação e da Educação Profissional, em virtude de uma política pública
chamada Programa de Aceleração do Crescimento-PAC. O presente estudo, portanto, pretende uma
breve reflexão sobre a contribuição da Educação Profissional para a redução das desigualdades
educacionais e sociais. Tanto pela sua capacidade de criar oportunidades de estudar e conquistar
trabalho e salário, como também no sentido de fazer o profissional recuperar uma condição de classe
subtraída no contexto da Zona da Mata de Pernambuco e da estrutura produtiva da cana-de-açúcar.
1 INTRODUÇÃO
2 A NATUREZA DO ESTADO
De acordo com Pinto (2013), o sistema Toyota exige mudanças desde o chão
da fábrica até as estruturas políticas do Estado de Bem-estar. No que diz respeito aos
trabalhadores estes devem ser multifuncionais e polivalentes. Isso implica conhecer,
executar e se responsabilizar por várias fases do processo produtivo total.
O sistema Toyota, portanto, afasta o modelo de Estado em bases fordistas em
todos os aspectos. Mudam-se o pertencimento de classe e expõe a qualificação
técnico-escolar como um fator de desigualdade de classe uma vez que em nome de
um modelo de produção flexibilizam-se a cadeia produtiva e determina-se um número
fixo de trabalhadores dos quais se exige qualificação, jornadas flexíveis, metas e
horas extras.
O referido sistema foi rapidamente difundido nos principais países capitalistas.
O objetivo dessa nova forma de organização e controle do trabalho é flexibilização
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dos mercados de trabalho, das relações sociais e de trabalho, dos mercados de
consumo, das barreiras comerciais e do controle do Estado pela iniciativa privada. Os
conflitos de classe e negociação coletiva tornam-se tão distantes que perdem
visibilidade social.
Sendo assim, o sucesso ou fracasso da escola e das políticas de Educação
Profissional podem ser interpretados como uma questão “individual”, já que o sistema
Toyota pretende escolher uma força de trabalho qualificada e, nesse sentido, a EPT
de Nível Médio teria um objetivo determinado pelos arranjos produtivos.
Por outro lado, a ETP de Nível Médio tem suas consequências políticas. Isso
permite inferir sobre o seu papel na organização dos laços de solidariedade de classe.
Razão pela qual o caminho da Educação Profissional como função do Estado pode
ser interpretado como uma precondição que permite a apropriação do conhecimento
pela classe que vive do trabalho e vantagens muito além da condição social de
cidadão consumidor determinada na agenda do Estado Gerencial (BRESSER
PEREIRA, 2001).
É importante lembrar que o Estado é constituído de aparelhos e setores
estratégicos, no caso, a Educação Profissional. Mas, não menos importante é lembrar
que por meio desse aparelho se expressam interesses de classe: leis, normas,
medidas repressivas, organização do trabalho, do conhecimento científico, etc.,
porque o Estado tem uma materialidade institucional. Esta se expressa na divisão
mais geral própria das formações sociais capitalistas. Isto é, a separação entre
trabalho intelectual e trabalho manual (POULANTZAS, 1984).
A referida separação implica luta de classes. Nesse sentido, o Estado numa
formação social capitalista é intrínseco às relações de produção e opera
transformações buscando a hegemonia de uma classe sobre a outra em disputas
permanentes. Nesse sentido, não há classe hegemônica com o poder e o controle
absoluto do Estado. Razão pela qual buscam-se o apoio político das demais classes
para manter-se a hegemonia, isto é, o predomínio político de uma determinada classe
(HERMIDA E LIRA, 2018).
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3 O ESTADO GERENCIAL, LEI DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO ANO DE
2008 E HEGEMONIA
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Segundo MANFREDI (2002) à medida que as sociedades se transformam
mudam também os mecanismos de controle sobre o trabalho, um deles é a
qualificação escolar e técnica. O trabalho assalariado é uma modalidade que se
distingue pelo nível de escolaridade e um distintivo de classe daqueles que vendem
força de trabalho.
Esse argumento é particularmente importante para o presente estudo porque
objetiva entender a Educação Profissional pelo vínculo com a expansão da estrutura
de emprego e aumento de ocupações assalariadas no território de SUAPE. (seja para
sua inclusão seja para sua exclusão do processo produtivo). A Educação Profissional,
portanto, passa a ser interpretada pela sua contribuição com o argumento que
defende a educação e o trabalho como direito social incorporado aos projetos de
escolarização dirigidos a jovens e adultos pertencentes aos grupos populares
(MANFREDI, 2002).
Conforme se percebe, a Educação Profissional é um campo de conhecimento
que para ser compreendido demanda pensar o conceito refletindo a própria
sociedade. No caso das sociedades capitalistas revela contradições entre capital e
trabalho, bem como formas de apropriação do conhecimento pela classe trabalhadora,
que se traduzem em habilidades e competências no formato Toyotismo ou just in time.
Esse argumento deve-se ao fato de que no modelo do capitalismo assentado
no sistema Toyota e na reestruturação produtiva se entende a qualificação para o
trabalho com base no conceito de competência. Esta, por sua vez, torna-se Meta do
Estado Gerencial, na posição do Governo Federal, por meio do desenvolvimento de
políticas de formação profissional e ampliação dos IFs por diversas cidades no interior
do Brasil.
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2- As relações de poder que decorrem dos grupos políticos vinculados a
chamada burguesia agrária – fornecedores de cana, plantadores e usineiros -
controlam as atividades agrícolas, bem como a formação escolar por meio do trabalho,
além de se colocar com força política para impedir uma agenda pautada com o
Governo Federal no sentido de colocar a Zona da Mata fora das vias emergenciais,
assistencialistas e eleitoreiras;
3- A Zona da Mata se caracteriza como área de desemprego. Nesse
sentido, a precarização social provocada pela estrutura produtiva da cana-de-açúcar
e, sobretudo, pela ausência de formação e qualificação profissional contribui para
colocar a falta de formação profissional como uma forma de negar a educação como
direito social e como um mecanismo de roubar a fala de uma classe de profissionais.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BOLTANSKI, Luc & CHIAPELLO, Ève. O Novo espírito do Capitalismo. São Paulo:
Martins Fontes, 2009. pp. 31-81 e pp. 286-333b
DEMO, Pedro. Política social, Educação e Cidadania. São Paulo: Papirus, 1994.
(Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico)
FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. 14 ed. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1983.
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