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Somente os pretos podem transmitir a ideia

revolucionária de que os pretos conseguem


fazer as suas próprias coisas.

Kwame Ture

Nós precisamos de um programa de [auto-]ajuda,


um programa... uma filosofia do faça-você-mesmo,
uma filosofia do faça-agora-mesmo, uma filosofia
do já-está-tarde-demais.

Malcolm X

De pé, raça poderosa! Você pode realizar


o que quiser!

Marcus Garvey
Povo Preto, Pan-Africanismo e Poder Preto –
por um esboço de uma agenda e/ou programa...

Ponto de partida – como manda o lema da UNIA:

1. “Um Deus! Um Objetivo! Um Destino!”

“Um Deus!” – Povo Preto – Afrocentricidade –


Deificação da História Africana –África como
“motor da história” – por uma “filosofia da história”
Africanocentrada: África no centro da testa!...
“Um Objetivo!” – Pan-Africanismo –
Nacionalismo Preto – Unificação dos Preto,
dentro e fora de África – dito de outra forma, e
por usar outro conceito, Consciência Preta –
“Raça Primeiro!” – o entendimento de que somos
Africanos, em casa (África) ou no exterior/exílio
(Diáspora) – Unidade na Diversidade ou
Unidade Cultural da África Preta (apud Diop)...
“Um Destino!” – Nacionalismo Africano, ou seja,
Poder Preto, para além do slogan “De Pé, Raça
Poderosa!”: você pode realizar o que quiser!...
Povo Preto Pan-Africanismo Poder Preto
Marcus ‘Filosofia e Fundamentalismo
UNIA
Garvey Opiniões’ Africano

‘Mensagem ao
Elijah
Homem Preto na Supremacia Preta NOI
Muhammad
América’

‘Autobiografia Nacionalismo
Malcolm X OAAU
de Malcolm X’ Preto
‘Eu escrevo o
Steve Biko Consciência Preta AZAPO
que Eu quero’

‘Stokely Fala: Do
Nkrumahismo- Black Power
Kwame Ture Poder Preto ao
Toureismo Movement
Pan-Africanismo’

Ou ainda:

História/ Filosofia/ Economia/


Cultura Psicologia Política
OAAU/Egoísmo
John Henrik Africano- Estrutura Familiar
Essencial para a
Clarke centricidade Africana
Sobrevivência
Molefi Kete Afro- Conscientização/ Departamento de
Asante centricidade Agência etc. Africologia
Teatro do
Abdias Afro- Sentenciado/
Quilombismo
Nascimento descendência Experimental do
Negro

Na primeira coluna (primeiro esquema) tem-se conceito


seguido da ideologia e o exemplo, na prática, na terceira
– na segunda tabela, dá-se o mesmo, apenas substitui-
se o conceito – Povo Preto por História/Cultura etc....
1.1 - metas e objetivos, na prática:

a) tradução e difusão de discursos, textos etc.,


que partam duma perspectiva de agência, seja ela
fraca ou forte (Molefi Kete Asante diz que,
quando não existe agência, rola a condição de
“marginalidade” – e ele diz: “E não há nada pior
do que ser marginal em sua própria história.”);
b) pautar as questões da comunidade, sempre
visando unificá-la; buscar coesão de pensamento
– Malcolm X diz, sobre o Nacionalismo Preto, que
“Essa é uma filosofia que elimina a necessidade
de divisão e discussão” – o entendimento é que
comungamos de um objetivo em comum, visto que
partilhamos duma experiência histórica em comum,
para além do fato de termos um inimigo em comum;
c) Poder Preto como slogan – p. ex.: na divulgação
de eventos e atos, produtos e serviços; além de
viabilizar a construção, nós por nós, de autonomia,
respondendo positivamente às nossas demandas
– no nosso exemplo, oferecendo produtos e
serviços: Poder Preto para além do slogan...
2. Grupo de Estudos Kwame Ture (GEKT)

O GEKT é o desmembramento prático da pág.


Povo Preto, Pan-Africanismo e Poder Preto – e o
slogan aqui é “do mundo virtual para o mundo real,
rompendo com a bolha...” – da teoria à prática. É
baseado no pensamento, palavras e ações de
Kwame Ture, mais que mobilizador, organizador...

CONCEITO

A ideia é simples: partimos dos três conceitos que


nomeiam a página, contextualizando-os à luz da
unidade histórico-cultural do Povo Preto, pelo
conceito de povo e de comunidade histórica –
primeiro dia; encaramos de frente os aspectos
sócio-político-econômicos etc. etc., que a
Comunidade Preta enfrenta, do passado à
chamada contemporaneidade, resultado de uma
experiência histórica em comum, de olho no futuro
– segundo dia; mais que pensar problemas, no
terceiro dia, apresentar soluções, na prática...
METAS

“Um Deus!” – desenvolver conceitos como, p. ex.,


o de Egoísmo Essencial para a Sobrevivência
(apud John Henrik Clarke); outro exemplo:
“Porque, se Negros são criados à imagem de
Deus, e Negros são Pretos, então Deus deve, em
algum sentido, ser Preto.” (apud Garvey) –
essencialmente, trabalhar a ideia de um Deus à
nossa imagem e semelhança – pros ateus, é sobre
uma Psicologia Adequada (apud Amos Wilson)...
Depois é apresentar um panorama geral sobre o
Povo Preto, e abrir caminho para, nos dias
subsequentes, pensarmos, para além dos
problemas, soluções possíveis – encarar dilemas
ou impasses como desafios – fazer das questões
que nos impedem questões que nos impelem – e
avançarmos sobre um entendimento em comum –
sob o slogan* “Raça Primeiro!” – “Preto é Lindo!”
– “De Pé, Raça Poderosa!” etc.; (* estes slogans
não necessariamente são excludentes, podendo – e
devendo! – serem interseccionados entre si...)
“Um Objetivo!” – a partir do entendimento de que
somos um povo, e Povo Preto: oferecer modelos
referenciais e pontos de partida para a Redenção
(Garvey) ou Renascimento Africano (Diop), pois
“Até que a África seja liberta nenhum Africano
em qualquer lugar do mundo jamais será livre ou
respeitado” (Garvey); com nós, por nós e pra nós,
mais o entendimento de que “estamos por nossa
própria conta” (Biko). Situar historicamente
(conjunturalmente falando) nossa posição social,
política e econômica à luz do Pan-Africanismo,
num contexto global, localizando nossa agência
como sujeitos históricos e atores protagonistas,
oferecendo assim, a um só tempo, uma análise
histórica abrangente, que englobe poder, racismo
e supremacia branca, agora como antítese (a tese,
no caso, seria o Poder Preto, em sendo Kemet a
primeira nação Pan-Africana), ou seja, Europa
como um apêndice ou desdobramento da história
da África, e não o contrário – o slogan aqui vem,
sob a justa reinvindicação “África pros Africanos,
em casa como no exterior.” (apud Martin Delany).
“Um Destino!” – na prática, esboçar um ou mais
objetivos, gerais ou específicos, à curto, médio ou
longo prazo – p. ex., à curto/médio: como um
braço do GEKT, articulado pela nossa irmã
Yabba Tutti, nasce o Grupo de Estudos Tehuti
– outro braço do GEKT são os treinos do
Guerreiro Preto, onde irmãs e irmãos se reúnem
para (re)educar o corpo. O Irmão Sandro, lá no
Ceará (terra de Dragão do Mar...) está em busca
de potenciais aliados – tal como nós outrora –
para abrir uma espécie de filial do GEKT...
Através da página, pudemos fortalecer, em casa,
Procjeto Ubuntu, Libertadores de Mentes etc....

Sejamos pragmáticos, não façamos da distinção


entre metas e objetivos nosso foco, uma vez que
as metas levarão aos objetivos... O objetivo último
é o de (re)unir todo o Povo Preto – nisso, as
metas que apresentamos certamente são caminhos
– longe de serem únicos, uma vez que estamos
todos cientes de que, como dizem os mais velhos,
não precisamos reinventar a roda. E, dito isso...
OBJETIVO

O objetivo geral é que pessoas pretas possam


despertar – a si e/ou a outrem; se situar a temas
relacionados ao contexto em que vivemos, a partir
de uma abordagem, perspectiva e paradigma de
centralidade Africana – referenciais teóricos:
John Henrik Clarke, Molefi Kete Asante,
Marimba Ani, Amos Wilson etc.:

2.1 - Povo Preto como causa primeira, como


ponto de partida, premissa básica – nossa causa e
bandeira única – lógico, a bandeira Pan-Africana;
2.2 - Pan-Africanismo como nossa ideologia
política – p.ex.: Garveyismo, Negritude,
Quilombismo, Nkrumahismo, Toureismo,
Sankarismo, Lumumbismo, Ujamaaismo etc.;
2.3 - Poder Preto como práxis revolucionária,
quer dizer, num primeiro momento, “como slogan”
(teoria); num segundo momento, “para além do
slogan” (prática) – a ex., Movimento(s) de Garvey,
Negritude, Poder Preto, Consciência Preta etc.
- curto/médio prazo: formar
mobilizadores/agentes difusores
do Pan-Africanismo; fornecer
modelos e esquemas para a
formação – política, de grupos de
estudos, de reforço escolar etc.;

Objetivos específicos* -

- médio/longo prazo: formar


organizadores/lideranças,
speakers, historiadores e
tradutores autodidatas;
dispostos a criar, manter e
desenvolver (ou a se submeter a)
organizações, com uma agenda e
programa, na prática (na ativa).

* a definir, interna e coletivamente, a depender do


nível de entendimento de cada membro (seja este
membro permanente ou não).
3. selo Poder/Renascimento Preto/Africano:
por uma editora colaborativa...

3.1 - algumas palavras sobre a publicação de livros

O conceito de Renascimento Africano remonta


ao “Último Faraó”, o Dr. Cheikh Anta Diop...
Historicamente, todo movimento de renascimento
foi antecedido por um movimento literário, de
ideias. O entendimento é que o Mundo Africano,
de um modo geral, está caminhando nesse sentido,
ainda que de forma inconsciente. A missão, o
propósito dos Nacionalistas Pretos é difundir o
Pan-Africanismo, por todos os meios necessários,
tornando este movimento consciente de si mesmo.

MISSÃO/PROPÓSITO

A publicação de livros é um meio; senão o mais


importante, é o meio mais prático de se alcançar o
terrível Renascimento Africano... é o terror da
supremacia branca: o nosso despertar em massa!

Para se alcançar tal objetivo, foi proposto – isso


no nosso terceiro encontro, falando a partir do
conceito de Poder Preto – então foi proposto
uma editora. Na ausência de Kwame Atunda (que
não pode comparecer, por conta de um problema
pessoal – mas que cedeu 1 livro pra sortearmos,
para suprir sua ausência), CEO da editora
Medu Neter Livros, foi proposto uma editora...
uma editora colaborativa... Porque “colaborativa”?
É o que se tentará explicar, logo mais...
A publicação do livro seria proposta ao irmão...
Na falta do irmão, que não pode comparecer,
chegamo ao entendimento de que, nada mais justo,
com quem colou, de iniciarmos, nós por nós, uma
“campanha”... uma campanha pra lançar esse livro.

No primeiro dia, como manda o roteiro, a gente se


situou – no segundo, o conceito Pan-Africanismo
foi estudado para, no terceiro, pensarmos
“possibilidades nos dias da destruição”... a frase é
o subtítulo do livro que reúne a obra bem dizer
completa de Beatriz Nascimento, em sendo a
Editora Filhos da África um exemplo, na prática,
do que podem realizar os Nacionalistas Pretos,
uma vez organizados: podem realizar o que quiser!

A solução tava diante dos nossos olhos: criar uma


editora própria! Mas tinha que ser algo diferente,
as condição (como vimos) pedia que assim fosse...
algo descentralizado, pela própria natureza dos
encontro, realizados em roda, de forma horizontal
– ainda que mediados por um agente, um agente
Nacionalista Preto – um “facilitador”: AST...
idealizador do projeto PPPAPP... e do GEKT.

Então chegamos ao entendimento de que


podemos iniciar nossa própria – à princípio, uma –
campanha... certamente, outras campanhas virão;
mas vamos por etapas – no momento, estamos
focados no financiamento; depois, somente
depois é que vem aquisição, divisão de tarefas,
projeto gráfico, evento de publicação etc.... Pensa
numa cadeia produtiva simples, para um projeto
audiovisual, p. ex. – planejamento, pré-produção,
produção, pós-produção, distribuição e exibição –
estamos na fase de pré-produção, por assim dizer.

Como o irmão Kwame Asafo Nyansafo Atunda


avisou com certa antecedência, deu tempo para se
pensar uma alternativa, que foi essa, uma editora
colaborativa, a Editora Poder Africano; ou um
selo, o Selo Renascimento Africano... A editora,
pros que compareceram a pelo menos 1 dos
encontros, ou na reunião; o selo é uma sugestão,
para os irmãos e irmãs que não puderam colar – e a
ideia é que, quem não pode, o faça: o modelo tá aí.

– Mas qual é o conceito?

É o que tentaremos definir abaixo...

Primeiro dizer que, em contato com Zaus Kush,


chegamos ao conceito de Estrela Preta. Batista,
por sua vez, contribuiu conosco com o conceito de
Célula Bancária. Pensando esses dois conceitos,
alcançamos o entendimento de que ambos,
quando combinados, dialogam com o Ujamaa,
conceito muito bem articulado pelo Mwalimu –
professor, do Ki-Swahili – Julius Nyerere,
personificação da Tanzânia, e seu primeiro
presidente... ele articulou um conceito de
Socialismo Africano; nada haver com marxismo, é
algo pautado na cultura Africana, nas chamadas
sociedades tradicionais Africanas...

Esquematizando, ficaria assim:


a) três conceitos/modelos de/para autonomia
monetária/financeira: Estrela Preta (Z. Kush),
Célula Bancária (Batista), Ujamaa (J. Nyerere);

Tomamos de empréstimo o conceito chamado


Estrela Preta, pensado pelo Irmão Zaus Kush: o
nome remete à estrela preta na bandeira de Gana,
em homenagem ao Honorável Marcus Garvey...
deve funcionar como uma espécie de sindicato –
no melhor sentido do termo – pra dar um exemplo,
5 escritores pretos destinam um valor X para uma
(e aqui entra o conceito do Irmão Batista...)
Célula Bancária; aqui entra (também...) outro
conceito – na África, com nomes diferentes,
dependendo da região: ‘quixiquila’ (Angola),
‘xitique’ (Moçambique), ‘abota’ (Guiné); esses 3
conceitos, por sua vez, se inserem facilmente no de
Ujamaa, que é a base do Socialismo Africano...
na prática, todos se encontram no que nomeamos
por Economia Comunal Tradicional Africana
(repare que não é algo restrito ao Continente – o
mesmo conceito se chama ‘susu’, no Caribe...):
quixiquila, xitique, abota... Ujamaa, Família!

Em suma: numa definição ordinária (quer dizer,


extraída da internet), quixiquila é: “Em Angola,
método informal de financiamento em que um
grupo de pessoas contribui periodicamente com
um valor, a fim de que cada um dos membros,
rotativamente, se beneficie de parte do valor
poupado. Equivalente em Moçambique: xitique.”

Em outras palavras, no sistema quixiquila, ou


xitique (ou abota...), cada indivíduo é beneficiário,
por assim dizer, de um determinado valor; (no caso)
destinado para esta Célula Bancária por aquela
Estrela Preta... Então, imaginemos, aqueles 5
escritores encontram uma outra Estrela Preta,
constituída por 5 editores; duas Estrelas Pretas,
uma vez unidas, trabalhando juntas, formam, por
sua vez, uma Constelação... Se antes era difícil –
digamos, quase que impossível, devido às condição
de cada indivíduo, unidos (e separados...) apenas
por uma experiência histórica em comum... – veja,
se antes era impossível para estes 5 escritores
publicarem seus livros... agora eles se reúnem a 5
editores; que por sua vez precisavam alugar uma
gráfica, sempre que solicitados seus serviços...
estas Estrelas Pretas se unem e, não apenas
publicam os livros, mas (uma vez organizados...)
compram toda a maquinaria que precisam para
estabelecer sua própria editora; por coincidência,
essa editora se chama Editora Poder Africano!...

b) Do “crowdfunding” (ou “economia solidária”)


ao Ujamaa (quixiquila, xitique, abota, susu etc.);

“oo-JAH-mah” – do Ki-Swahili, significa –


conforme a definição de Maulana Karenga para o
Kwanzaa – “Para construir nossos próprios
negócios, controle a economia de nossa própria
comunidade e compartilhe todo o seu trabalho e
riqueza.” De Kwame Ture, a gente aprende que
só existe dois sistemas econômicos: “Não existe
‘socialismo africano’, socialismo ‘chinês’, ‘russo’ ou
‘árabe’” – e ele diz mais, que “só podem haver dois
[sistemas econômicos] no mundo” – e você sabe
quais... E o irmão continua “Porque sistema
econômico responde a uma pergunta fundamental:
quem controlará as riquezas do país? – quem
controlará os meios de produção?” – e tem mais:
“A pergunta só pode ser respondida de duas
formas: ou serão poucos ou serão todos.” –
alguma dúvida aqui? “A confusão surge da
ideologia”. O Socialismo Africano articulado por
Nyerere foi nada menos que isso – uma ideologia.
Só pra não ter confusão: não somos comunistas;
somos Pan-Africanistas – George Padmore não
escreveu “comunismo ou Pan-Africanismo” à toa...

De Julius Nyerere a gente apreende que


capitalismo e socialismo são mentalidades – o
primeiro, fundado no parasitismo, visa o lucro
acima de tudo, enquanto que o segundo, Africano
por essência, visa o bem comum da comunidade –
da Família à Tribo ao Clã à Nação.. aqui pra nós,
sempre bom lembrar, da Comunidade Preta...
Dito isso, aqui vão alguns apontamentos, à título
de escurecimento... Lembra que a gente falou,
ainda lá atrás, sobre o Pan-Africanismo como
nossa “ideologia política”? Lembra, também, que a
gente falou que os conceitos que trabalhamos
podiam – e deviam – serem “interseccionados”
entre si?... Então, que fique bem escuro –
literalmente: não tem nenhum problema em
tomarmos o Pan-Africanismo como filosofia
política. Funda-mentalmente...

No histórico debate entre Molefi Asante e


Kwame Ture, naquilo que os irmãos concordam, é
que ambos sustentam que Pan-Africanismo é,
note, um objetivo alcançável – a diferença reside
no método (ideologia – p. ex., Nkrumahismo – ou
filosofia – Afrocentricidade). A menção ao
debate não é aleatória: entende que, tanto um
como o outro comungam de uma visão em comum?
Eles só divergem quanto ao método... A gente
esmiuçou esse debate, você encontra na página
esse ensaio, colocando o pingo nos is. Dito isso...
Kwame Ture sustenta que o Pan-Africanismo
não é ideologia, mas um objetivo alcançável –
apenas porque nosso mentor fala em termos de
“socialismo científico”; e porque nossa definição
de ideologia é outra, a gente toma como ideologia
política o Pan-Africanismo. Porque ideologia, na
nossa definição, é nada menos do que uma ideia
elevada à categoria de práxis; não morre na teoria,
não é coisa da nossa cabeça... O que não entra
em conflito, nem nos impede (senão nos impele...)
de ver o Pan-Africanismo como filosofia política,
também: ele o é! Como esse espaço não é lugar
para tratar desses pormenores, vamos em frente –
agora, sob o seguinte entendimento: de que temos
– ou devemos ter – uma visão em comum...

Dois pontos – primeiro: o Pan-Africanismo é


(também, mas não apenas) um movimento de ideias;
não somos marxistas, seria mais exato dizer que
somos ‘MalcolmXistas’: “Não pode haver
solidariedade dos trabalhadores até que haja
alguma solidariedade racial.” – em outras palavras,
“Somente os pretos podem transmitir a ideia
revolucionária de que os pretos conseguem fazer
as suas próprias coisas” – lembra, Kwame Ture?...
o que nos leva ao nosso segundo ponto, a saber:
como Nacionalistas Pretos, deixemos nossas
religiões – no caso, o comunismo – no armário...

Papo de autonomia, Família! Autodeterminação...


(Analogia: autonomia está para autossuficiência
como autodeterminação está pra autogestão...)

Nesse sentido, seria um reducionismo enorme


dizer que Ujamaa é “economia solidária”, apenas.
Não tem essa de determinismo econômico, não...
reduzindo à termo – é Julius Nyerere quem fala:
“Socialismo – como a democracia – é uma atitude
mental. Em uma sociedade socialista, é a atitude
socialista da mente, e não a rígida aderência a um
padrão político modelo, que é necessário para
garantir que as pessoas se importem com o bem-
estar de cada um.” – seria válido, com o risco de
cair num preciosismo, esticar esse chiclete – e
Nyerere vai dizer, neste ensaio que traduzimos
(Ujamaa – A Base do Socialismo Africano):
“No indivíduo, como na sociedade, é uma atitude
mental que distingue o socialista do não-socialista.
Não tem nada a ver com a posse ou a não posse
de riqueza. Pessoas desamparadas podem ser
potenciais capitalistas – exploradores de seus
semelhantes. Um milionário pode igualmente ser
um socialista; ele pode valorizar sua riqueza
somente porque pode ser usado no serviço de
seus semelhantes. Mas o homem que usa a riqueza
com o propósito de dominar qualquer um dos seus
companheiros é capitalista. Assim, é o homem que
faria se pudesse! [§] Eu disse que um milionário
pode ser um bom socialista. Mas um milionário
socialista é um fenômeno raro. De fato, ele é
quase uma contradição em termos. A aparência
de milionários em qualquer sociedade não é prova
de sua riqueza; elas podem ser produzidas por
países muito pobres, como a Tanganyica, tão bem
quanto por países ricos como os Estados Unidos
da América. Pois não é a eficiência da produção,
nem a quantidade de riqueza em um país, que faz
milionários; é a distribuição desigual do que é
produzido. A diferença básica entre uma
sociedade socialista e uma sociedade capitalista
não reside em seus métodos de produzir riqueza,
mas na forma como a riqueza é distribuída.
Enquanto, portanto, um milionário pudesse ser um
bom socialista, dificilmente poderia ser o produto
de uma sociedade socialista.” – paremos por aqui.
Acho que, com essas poucas palavras, já dá pra
intuir onde queremos chegar...

O ponto é que (e lá vamos nós...) “Não


precisamos ler Karl Marx ou Adam Smith para
descobrir que nem a terra nem a enxada realmente
produzem riqueza. E não precisamos obter um
diploma em economia para saber que nem o
trabalhador nem o landlord produz terra.” – a ideia
é que não carecemos de um teórico branco – para
não ser unilateral, o próprio Kwame Ture afirma
(no debate...) que “Karl Marx não inventou nem
fundou o socialismo, mesmo que muitos digam isso.
Ele apenas descobriu. Isso é tudo. Ele descobriu
as leis do socialismo. Ele não as fundou.
Chamamos de ‘lei da gravidade’ – Newton não
inventou que um corpo cai a 32 pés por segundo
ao quadrado. Marx não pode inventar a forma
como o capital oprime o trabalho, e que
trabalhadores se levantarão contra o capital.
Marx não pode inventar isso. (...) Ibn Khaldun.
Um Africano, tunisiano do século 12, que em
seus escritos usa termos como ‘excedente’,
‘valores excedentes’, ‘propriedade’, ‘direito a
propriedade’ – ele usa todos os termos que Karl
Marx usa. Ele escreveu isso no século 12, e ele
era Africano. Valores socialistas encontrados no
comunismo. [§] Estou certo de que o Prof.
Asante sabe que o comunismo durou mais na
África do que em qualquer outro continente.
Logo, esses valores já estão lá e facilitam um
sistema socialista. Socialismo e capitalismo não
têm nada a ver com Europa, assim como ar e água
não têm – ou você pensa que eles também
inventaram ambos, ar e água?”
Vale repetir: tanto o debate como o ensaio estão
disponíveis na página. Agora falando sério agora,
por uma síntese, reiteramo – que fique bem escuro
(literalmente...): não somos comunistas. Nosso
objetivo é o Pan-Africanismo. A total libertação
da África (tendo na manutenção da sua unidade,
tanto histórico-cultural como político-econômica..)
deve pavimentar o caminho para uma sociedade
comunitarista, comunalista, comunista etc. – nosso
mentor (KT) mesmo fala: “é um pré-requisito para
a paz mundial” – e seu mentor, Kwame Nkrumah,
por sua vez diz, sobre nossa unidade, que ela trará:
“benefícios adicionais para o resto do mundo”...

Então dizíamos que não tem essa de determinismo


econômico, certo?... em resumo: levado às últimas
consequências, Ujamaa é o conceito, não apenas
de economia, mas de Família Estendida, ampla...
Por isso falamos “Ujamaa”, e por isso dizemos
“Família”, para além do slogan: Ujamaa, Família!

– Ujamaaaa!! Ujima!...
c) método de financiamento: colaborativo – via
sistema quixiquila/xitique/abota;

Sobre a Estrela Preta, acho que ficou claro – ou


escuro, como queira... Já as Célula Bancária –
estas células podem ser, ou não, permanentes...
elas podem atender a um objetivo geral ou
específico. Tudo vai depender do tempo – é pra
curto, médio ou longo prazo? À curto prazo,
objetivos específicos, como, a publicação de livros
ou venda de roupas e acessórios; à médio, oferta
de serviços; à longo, a construção, por exemplo,
de uma escola – um objetivo geral: Ujamaa!

(É o que tem feito a UCPA, através da sua


editora, a Editora Filhos da África: o “lucro”
obtido é destinado à um fundo (Célula Bancária)
para a construção de uma escola Pan-Africanista,
Escola Pan-Africana Marcus Mosiah Garvey.)

Para dar um exemplo, 1 livro na gráfica Y: uma


tiragem de 100 unidades, 1 livro de 200 págs...
Dividido pra 100 pessoas cada livro vai custar 10;
temos que 100 livros custará, ao todo, 1000 reais.

Então a gente inicia nossa campanha, através da


página Editora Poder Africano, com o apoio da
Povo Preto, Pan-Africanismo e Poder Preto e
quem mais somar, fortalecer; só a PPPAPP tem,
pelo menos, 8000 seguidores: se o objetivo é 100
contribuintes, é mais que o suficiente, certo?
(naquelas, né... é um desafio.) Então a meta será
1000 reais; pra que cada livro saia ao preço de 10,
demandará a contribuição de 100 pessoas. É
certo que, quanto mais gente participar da
campanha, mais vai baratear o custo do livro? Sim.

– Pô, legal, fizemos livros para nós mesmos!...


– Você tem razão. Aí entra o conceito de
quixiqulia...

Então podemos ser ainda mais ambiciosos...


exemplo: essa campanha pode oferecer uma
contrapartida, tipo um brinde – p. ex., 1 livro...
Mas, dessa vez, cada recruta deve contribuir com
20 reais – para uma tiragem de 200 unidades, de
um livro de 200 págs... Novamente: divide isso
para 100 pessoas, e cada livro custará 20 conto;
200 livros, 2000 reais – e cada contribuinte terá,
agora como beneficiário, 1 livro: quixiquila, Família!

– Firmeza, e qual o diferencial, o que há de novo?


– Vamos com calma, Irmandade... vamos lá...

Ao invés de o beneficiário ser um indivíduo, a


“bola da vez” será uma organização. Sabemos que
uma organização não surge do dia pra noite,
estamos cansados de saber... a gente vai destinar
o valor arrecadado – ou uma remessa de livros,
para que a própria organização faça a venda,
tenha o contato direto com o comprador – nessa
campanha para uma organização, na ativa, ou seja,
que já está construindo, trabalhando com uma
agenda ou programa – no caso, prioridade para
coletivos ou organizações que já tocam projetos
de escolas, p. ex., a Reaja Organização Política
(Escola Winnie Mandela), ou a organização
comunitária Kilombo Favela Rua (com a sua
Escola Quilombista Dandara de Palmares), ou a
Escola Comunitária Pan-Afrikana Sankofa etc.

Temos 200 livros. Vamos supor que tenhamos um


“lucro”, pra cada livro vendido a 40 reais, de 400%:
o “caixa” de 50 livros volta pra Célula Bancária
(fluxo de caixa...); 50 livros a gente vende e destina
o valor para outra Célula Bancária – no caso, a
ex., para a construção, à médio/longo prazo, de
uma gráfica; outros 50 livros poderão (1) tanto
serem vendidos como (2) destinados para
organizações; e os 50 restantes, a gente vai
destinar, como contrapartida, para cada um dos
contribuintes para a campanha, agora como
beneficiários. (Ao menos na teoria, funciona... mas
os livros não se vendem sozinhos, né?) Como
alternativa, visando gerar renda, com o tempo,
poderemos vender e, através do sistema quixiquila,
destinar o lucro para 1 (ou mais) membro(s) da
Editora Poder Africano. São possibilidades...
A questão da geração de renda seria algo mais
para longo prazo, uma vez adquirida a maquinaria
necessária para construirmos, nós por nós, a
nossa própria gráfica, por exemplo... Isso vale para
as pessoas que colaram nos encontros; não colou?
A gente chegou a sugerir uma alternativa, lembra?
O selo; já já a gente fala sobre o selo, mas antes...

É lógico que tudo isso, na teoria, é bonito... se é!


Retórica seduz, mas é na ação que “o bicho pega”!
Porque na pura teoria, até capitalismo funciona...
só que não – as coisas, na prática, são bem
diferentes... e tudo isso sempre esteve conosco,
no DNA, tem até uma palavra, soa tipo Ujamaa...
mas é Ujima: trabalho coletivo e responsabilidade!

Agora sim, vamos ao selo... Sobre o selo – o


“Selo Renascimento Africano”, a gente sugeriu...
Você pode se valer de toda nossa fundamentação
teórica, sem crise; mas tem que ser algo diferente...
O conceito? – podemos pensar, por exemplo, na
Universidade Sankore, manja?... O Logo? –
poderíamos partir desta biblioteca/mesquita:

Capa? – que tal a seguinte imagem, por exemplo:


Conceito? – uma citação de John Henrik Clarke:

Askia encorajou bolsa de estudos e literatura.


Estudantes de todo o mundo muçulmano foram a
Timbuctoo para estudar gramática, direito e
cirurgia na Universidade de Sankore; acadêmicos
vieram do norte da África e da Europa para
conversar com historiadores e escritores eruditos
desse Império Preto. Uma literatura sudanesa
desenvolveu-se e muitos livros foram escritos. Leo
Africanus, que escreveu uma das obras mais
conhecidas sobre o Sudão Ocidental, diz: “Em
Timbuctoo, há inúmeros juízes, médicos e clérigos,
todos recebendo bons salários do rei. Ele presta
grande respeito aos homens de conhecimento.
Existe uma grande demanda por livros
manuscritos, importados de Berbéria (África do
Norte). Mais lucro é obtido com o comércio de
livros do que com qualquer outra linha de
negócios.”

Está lançado o desafio, Família! Agora, é fazer...


Resumo das ideia, quanto ao terceiro encontro:

Objetivo primário – formar uma Constelação,


reunindo duas ou três Estrelas Pretas: objetivo
alcançado (com folga...);

Objetivo secundário – iniciar campanha de


financiamento – aqui entra a Célula Bancária –
mediante colaboração, mais contrapartida de um
(1) livro: objetivo almejado;

Objetivo terciário – sugerir a criação de um selo,


p. ex., o Selo Renascimento Africano: em aberto.

***

Povo Preto, Pan-Africanismo e Poder Preto...


É isso, Irmandade... tal Ausar, Auset e Heru... é
trivial: gramática, dialética e retórica – é bíblico, se
preferir: conhecimento, entendimento e sabedoria
– Trindade, Família... pique o lema da UNIA de
Garvey: Um Deus! Um Objetivo! Um Destino!
...nosso mentor, Kwame Ture, passou a visão:

Talvez esse seja o maior problema que


você, como estudante preto, enfrenta:
você nunca é convidado a criar algo,
somente para reproduzir.

...então, bora construir?

É pelo Povo Preto.


É pelo Pan-Africanismo!
É pelo Poder Preto...

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