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Enem, Notícia
Madonna, Mafalda e Laerte foram censuradas no Enem
Um novo capítulo nas recentes denúncias feitas por servidores do Inep mostra interferência direta do governo nas questões do Enem de 2019
POR ALEXANDRE DE MELO, JULIANA MORALES ATUALIZADO EM 19 NOV 2021, 19H21 - PUBLICADO EM 19 NOV 2021, 18H18

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Concordo

Charge censurada no Enem em 2019. Na defesa para que a charge fosse mantida, estava o argumento que a peça “provoca o estudante a analisar criticamente e lançar mão de outros recursos linguísticos”. A
comissão chefiada pelo então presidente do Inep vetou porque o desenho “fere o sentimento religioso”.  (Autor desconhecido/Reprodução)

O presidente Jair Bolsonaro teria pedido ao Ministro da Educação, o pastor Milton Ribeiro, para que na prova do Enem a
denominação “golpe militar de 1964” fosse trocado por “revolução de 1964”. Segundo integrantes do governo, o episódio
aconteceu no primeiro semestre deste ano, mas Ribeiro não teria intercedido de modo prático junto ao Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que elabora o Enem, uma vez que as questões passam por um longo
processo de preparação. A informação foi publicada nesta sexta-feira na Folha de S. Paulo.
A notícia sobre o pedido do presidente agrava a maior crise que o Inep enfrenta em sua história depois que 37 servidores pediram

exoneração dos cargos que ocupavam. Em viagem a Dubai na segunda-feira (15), Bolsonaro disse que o Enem “começa a ter a
cara do governo”. Dois dias depois, já no Qatar, o presidente afirmou que não teve acesso às provas e voltou a criticar o exame:
“Olha o padrão do Enem do Brasil, pelo amor de Deus. Aquilo mede algum conhecimento ou é ativismo político e
comportamental? Não precisa disso”, disse ele a jornalistas. 

Segundo reportagem da revista VEJA, o presidente do Inep, Danilo Dupas, tentou impor nomes de sua confiança para compor a
equipe que elabora a prova que não faziam parte do quadro da autarquia, mas diante da negativa de funcionários acabou
voltando atrás. No domingo (14), o Fantástico entrevistou funcionários do Inep que disseram ter sofrido pressão para eliminar
mais de vinte itens da prova já pronta que teriam desagradado Dupas e que precisaram elaborar as questões outras duas vezes.
Um exame como o Enem possui alta complexidade por levar em conta não apenas o grau de dificuldade das questões, mas
também porque precisa identificar os alunos mais e menos preparados.

Banco Nacional de Itens: as questões do Enem


Um novo capítulo surgiu nesta sexta-feira (19) com a divulgação pela revista Piauí da interferência que o então presidente do
Inep, Marcus Vinícius Rodrigues, fez na prova aplicada no ano de 2019. Junto com outras três pessoas por ele designadas e
munidos com carimbos com os dizeres “sim” e “não”, o grupo vetou 66 questões do exame que já estava pronto. As questões do
Enem são elaboradas por professores de várias universidades do país e compõem o Banco Nacional de Itens, que hoje é
abastecido com mais de 10 mil testes. No documento que a Piauí teve acesso, funcionários do Inep pediam a reabilitação de 38
questões e concordavam com a eliminação de 28 delas. Ainda que não seja possível ter acesso às questões na íntegra, pois ainda
fazem parte do banco, é possível identificar o itens que incomodaram o tribunal ideológico daquele ano.

As censuradas do Enem
As perguntas censuradas envolviam Chico Buarque, quadrinhos de Mafalda e Laerte, poemas de Ferreira Gullar e Paulo Leminski,
feminismo, Madonna, relações internacionais, ditadura militar, entre outros assuntos. Veja abaixo uma lista com alguns temas e as
alegações para censurá-los.

Mafalda
A tirinha mostra Mafalda, que está prestes a entrar para o jardim de infância, notando que sua mãe está insegura com a nova fase
na vida da filha. Mafalda diz para a sua mãe: “Sabe, mamãe, eu quero ir para o jardim de infância e estudar bastante. Assim, mais
tarde não vou ser uma mulher frustrada e medíocre como você!” A mãe fica triste e Mafalda sai andando. Na última tirinha, a
personagem diz: “É tão bom confortar a mãe da gente!” O argumento para o veto foi: “gera polêmica desnecessária”.

Laerte
Uma charge da cartunista Laerte propunha uma “reflexão crítica sobre o reconhecimento à diversidade na sociedade
contemporânea”, de acordo com a defesa feita pelos servidores do Inep. A comissão que vetou a questão comentou: “Leitura
direcionada da história/Direcionamento do pensamento.”

HIV/Aids
Uma questão na prova de ciências da natureza falava sobre os cuidados com relação ao HIV e afirmava que o uso de camisinha é
“o meio de prevenção mais barato e eficaz” contra a Aids. A comissão de censura do Inep justificou a exclusão alegando que “a
questão gera polêmica desnecessária/Direcionamento do controle de saúde”.

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O tema foi excluído do exame. “Gera polêmica desnecessária a favor da não redução da maioridade penal”, escreveu a comissão.
Em 2019, Bolsonaro pressionava o Senado para aprovar umConcordo
projeto que reduzisse a maioridade penal para crimes hediondos,
bandeira de sua campanha eleitoral.

Ferreira Gullar
O poema “Maio 1964” fala sobre a violência e as prisões políticas ocorridas nas semanas seguintes ao golpe. “Mas quantos
amigos presos! / quantos em cárceres escuros / onde a tarde fede a urina e terror”, diz uma das estrofes. No gabarito desse item
constava apenas que a poesia tratava do “contexto em que o Brasil se encontrava após o golpe militar”. A comissão decidiu
excluir a questão do exame justificando que havia “descontextualização histórica do texto.”

Paulo Leminski
A comissão excluiu um poema do curitibano alegando mais uma vez que havia “descontextualização histórica do texto.” O poema
também falava da ditadura.

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