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Malanje
À GUISA DE INTRODUÇÃO
Neste lote de ideias, os estudantes do ensino geral e outros leitores poderão ter o
ensejo de compreender que a Filosofia africana é um saber como qualquer outro saber
universal, abstracto e unívoco.
Sendo a Filosofia, uma forma de estar no mundo, é mister augurar que qualquer
comunidade ou povo, de qualquer raça e de qualquer região ou cultura tem uma
concepção própria de fazer Filosofia, típica da sua forma de encarar o mundo e da sua
realidade particular; pelo facto de nenhuma filosofia ser feita fora do contexto sócio-
cultural do filósofo que a faz. Ela faz-se dentro de um povo, de uma cultura, de um
tempo, de um espaço. Assim acontece e continuará acontecendo com a filosofia
ocidental, assim acontece e continuará acontecendo com a filosofia americana, assim
acontece e continuará acontecendo com a filosofia africana, assim acontece e continuará
acontecendo com a filosofia oriental e com qualquer outro tipo de filosofia que surgir.
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Deste modo, todo ser humano possui uma veia questionadora que o impele
naturalmente a filosofar. Se o africano faz parte à raça humana, é óbvio que, o africano
está apto para refletir. Para Wilson Correia citado por Pedro Nkosy «onde há homem
que pensa, valoriza, escolhe, decide e age no mundo, ali também está o germe do
pensamento filosófico» (Nkosy, 2009), ou seja, onde há homem, há Filosofia.
Neste contexto, queremos demonstrar que existe, sim, uma filosofia africana,
embora este pensamento tenha aparecido a ribalta aquando das questões levantadas
pelos ocidentais; isto não significa que o africano não tenha raízes dum pensamento
filosófico, tal pensamento, querendo ou não, está desenvolvido e continua a ser
desenvolvido, não nos encontramos mais no período pré-lógico – como defendiam os
ocidentais. Afirmar a existência da Filosofia africana não nos torna feliz; pois, isto
apenas demonstra que quando se fala da “irracionalidade” do pensamento africano não
há, exactamente, irracionalidade, mas passividade no pensamento do africano como diz
o professor Moisés Quitari.
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Aqueus “povos autóctones da Grécia” que se fixaram mais tarde na Ásia Menor), tal
problema é levantado com relação ao Homem Negro.
a) Definição:
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Mas, a definição mais exaustiva e completa foi apresentada por Alexis Kagame,
filósofo Rwandês, ao dizer que a Filosofia Africana é «o pensamento especulativo que
se subfaz nos provérbios, nas máximas, nos costumes que os africanos de hoje
herdaram dos seus antepassados como herança cultural». Esta definição apresenta
como suporte a defesa das tradições africanas.
b) Natureza
Neste itinerário, encontra-se o filósofo africano Parrinder que alega: «dizer que
os povos africanos não têm sistemas de pensamento explícitos e assumidos, seria negar
a sua humanidade» (Idem, p. 32) e negar a humanidade do africano, simplesmente,
através da cor da pele demonstraria a incapacidade racional do europeu porque uma
antropologia filosófica consistente e unitária não pode minimizar a importância do papel
da racionalidade na definição da pessoa humana a partir da sua fisionomia e
característica.
Deste modo, enquanto não se pretender que todos sejam filósofos, em virtude de
serem todos racionais, já não é aceitável – segundo Makumba (2007, p. 32) – que se
negue o pensamento especulativo a uma raça particular ou que se defenda que o
pensamento filosófico apenas se desenvolve em uns e noutros não.
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Por esta razão, Tempels diz que «declarar a priori que os povos primitivos não
têm ideias acerca da natureza dos seres ou que eles não possuem uma ontologia e que
estão totalmente privados de lógica é simplesmente, virar as costas a realidade»
(Makumba, 2007, p. 33). Não há dúvida de que existe uma contribuição cultural de cada
povo, assim como do africano dentro dos temas universais da Filosofia. Cada povo tira
do seu seio determinados elementos que oferece ao espírito universal.
Não se pode negar que um africano exposto a Filosofia ocidental clássica, como
base de sua formação filosófica, pense autenticamente como africano fruto do
enraizamento da fusão de pensamentos. A influência das novas ideias é inexorável e a
tentativa de isolar a África do resto do mundo através de um abraçar da africanidade é
uma tentativa de atrasar o pensamento. O resultado que se pode conseguir é apenas o
empobrecimento intelectual. Nem o Nacionalismo nem o Panafricanismo se podem
orgulhar da promoção de uma filosofia isolacionista.
Por isso, segundo Paulin Hountondji «não chegaremos nunca a criar uma
autêntica Filosofia africana, uma Filosofia genuína, genuinamente africana se
evitarmos a tradição filosófica existente. Não é evitando, e ainda menos ignorando, a
herança filosófica internacional, que realmente filosofaremos, mas absorvendo-a para
a transcender» (Makumba, 2007, pp. 35-36). A maior parte da literatura escrita a
respeito da Filosofia africana é relativamente recente; há indícios nas culturas africanas,
de opiniões acerca de algumas das principais questões debatidas na Filosofia ocidental.
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Seus maiores expoentes são: Placide Tempels e Leópald Sènghor, podendo ser
também encontrado autores como: Alexis Kagame, John Mbiti e Valentim Mudimbe.
A narrativa colectiva e a revelação dos conteúdos por meio de diversos códigos como:
os mitos, os sistemas simbólicos, as linguagens religiosas e comuns apresentam-se
como características fundamentais da ETNOFILOSOFIA.
Alexis Kagame deu continuidade a obra de Tempels ao apresentar uma formulação mais
rigorosa sobre a construção da filosofia subjacente à visão africana (ruandesa) do
mundo, na sua obra «A filosofia bantu-ruandesa do ser» publicada em 1956.
A cultura africana é única, como nos confirmou Cheikh Auta Diop e Mubabinge Bilolo,
ao destacarem que o antigo Egipto estava inserido na cultura africana quando deu
grandes contribuições para as áreas da Ciência como: Matemática, Arquitectura e
Filosofia que foi, de certa forma, a base civilizacional da Grécia.
Um dos críticos desta corrente foi Paulin Hountondji. Segundo ele, não se pode
confundir uma prática de ordem científica e académica com um conjunto de crenças e
práticas comum do quotidiano de uma etnia ou população. Sendo assim, Filosofia é
multiplicidade de pensamento e não sobrevalorização de formas simplistas de
pensamento.
A Negritude define-se como a soma total dos valores culturais da raça negra.
Para Julius Nyerere «a África tem de mudar as suas instituições para que a sua
nova aspiração se torne possível; o seu povo deve mudar de atitudes e práticas de
acordo com estes objectivos».
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concebido como uma corrente homogénea de pensamento, visto que, é tão variado
quanto o número de povos africanos apresentados por Nações-Estado.
O pensamento tradicional africano inclui uma atitude para com o ser humano
que apenas pode ser descrita na sua manifestação social, como sendo socialista.
O materialismo dialéctico herdado de Marx fez com que se estudasse uma teoria
da realidade primária da matéria que admitisse tanto a mente quanto a realidade
espiritual da experiência humana.
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Ao contrário dos que o procederam, Blyden não tomava a Europa como ponto de
referência para explicar a África, mas pensava-o como entidade autónoma, como
referência imediata ao negro acreditando numa civilização africana milenária e viva,
animada por valores morais e espirituais elevadas.
A doutrina rastafari surgiu entre pessoas que estavam oprimidas e sentiam que a
sociedade não tinha nada para oferecê-los, senão mais sofrimento.
Rastas: são todos aqueles que buscam viver a cultura negra voltada à natureza,
em conformidade com a vida africana, que lhes foi roubada de seus ancestrais quando
foram obrigados a abandonar o continente em tempo de escravatura.
Surgimento do Rastafarianismo
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