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UNIDADE: 03 - FILOSOFIA AFRICANA

CONTEXTUALIZAÇÃO DO DEBATE SOBRE A FILOSOFIA AFRICANA


Mito de inferioridade do negro (seus atributos)

Os negros africanos foram reduzidos a condição de escravos. Nesta óptica os africanos foram povos
desprovidos de qualquer racionalidade e por isso considerados de incapazes de aceder a reflexão filosófica

Na teologia cristã o povo negro foi definido como descendente de Cham, que viu a nudez do pai, linhagem do
filho amaldiçoado de Noé, assim o homem negro aparece como símbolo de maldição e condenados de Deus

Na filosofia, Voltaire afirma, na sua obra História do século XIV, que o povo mais elevado é o francês e o mais
baixo é o africano; Jean- Jacques Rousseau diz que os africanos são bons selvagens; para Hegel os africanos
são povos sem história e por consequência desprovidos de humanidade; Kant chega a conclusão de que os
africanos são povos sem interesse; Levy Brhul diz que os africanos têm uma mentalidade pré-lógica; por sua
vez Montesquieu afirma que os africanos são povos sem leis; os antropólogos Morgan e Tylor sustentam que a
África é uma sociedade morta.

Disto podemos constatar o seguinte:

- Portanto, o homem negro ao ser colonizado perdeu o estatuto de pessoa que para além de ser escravizado,
também foi humilhado.

- Os colonizadores convenceram o homem negro de que não tinha valor, cultura, pensamento até a sua língua
considerada de «macaco», em prol da supremacia ocidental sobretudo a europeia

O estatuto da oralidade e da filosofia em África


Uma das questões mais discutidas entre os pensadores africanos é a questão do estatuto da oralidade tradicional
africana. A questão é: podem considerar-se filosóficos os provérbios, contos tradicionais, dizeres dos sábios
africanos, entre outros? Ou melhor será que os mesmos expressam conteúdos que podem se considerar
filosóficos? A outra questão é: qual é a função dos filósofos educados profissionalmente perante estes dizeres e
provérbios tradicionais.

Esta discussão surge pelo facto de alguns estudiosos africanos e não africanos terem apresentado ao mundo
estudos sobre as etnias africanas, denominando-os Filosofia africana. Este grupo é composto pelos filósofos
como: Anyanw, Placide Tempels, Alexis Kagame, John Mbiti, entre outros. Este grupo de filósofos defende
que a filosofia africana é um pensamento especulativo que subjaz nos provérbios e máximas, nos costumes,
etc., que os africanos de hoje herdaram dos seus antepassados através da tradição oral. Portanto, a função do
filósofo africano, pelo menos no que se refere a filosofia africana, é a de coleccionar, interpretar e difundir os
provérbios e contos folclóricos, mitos, assim como outros materiais deste tipo. O representante desta escola é J.
Mbiti autor da obra «African Religions and Philosophy.»
Contrariamente a esta ideia, figura um grupo de filósofos (Hountondji, Franz Chahay, E. Boulaga, M. Towa, O.
Oruka, K. Wiredu), conhecidos por críticos, que sustentam que a filosofia africana ocupa-se também dos
desenvolvimentos modernos no conhecimento e na reflexão. Esta escola defende que a filosofia africana é o
resultado de pensamento abstracto de pensadores individuais tanto tradicionais como modernos.

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Este grupo de filósofos nega a existência de uma filosofia que se possa designar Filosofia africana. A questão
que estes colocam é se pode falar de Química ou Física africana, por exemplo, se é que não então não podemos
qualificar a palavra filosofia pela africana.

Este enfoque da filosofia africana também não considera a interpretação do pensamento comunal tradicional
como sendo uma realização adequada à função crítica da filosofia. Em contrapartida acentua a importância do
debate e a inevitabilidade do pluralismo.
Paulin Hountondji, o maior representante dos filósofos críticos, autor da obra African Philosophy Myth and
reality, dá ênfase especial a importância que tem a escrita na criação de uma tradição filosófica moderna.

A filosofia africana, segundo este autor, é um tipo de literatura produzida por africanos e que versa sobre
problemas africanos. Ele sublinha o aspecto racional e crítico da filosofia. Com efeito, os provérbios, máximas
e contos tradicionais, contêm uma certa quantidade de conceitos filosóficos e por essa razão, dão lugar a uma
classe típica da literatura filosófica que ele denomina etnofilosofia. Hountondji não concebe as obras
etnofilosófica sobre as visões tradicionais africanas como filosófica, a menos quando estas forem elaboradas
por africanos.

Assim tanto a obra Bantu Philosophy do missionário belga, Placide Tempels, como African Religions and
Philosophy, de J. Mbiti, pertencem ao conjunto de obras etnofilosóficas. No entanto só a de Mbiti é que pode
ser considerada parte da filosofia africana, segundo Hountondji, por este ser africano.

Este último argumento de Hountondji foi objecto de certas críticas, por exemplo, Odera Oruka defende que
desde que um escrito se ajuste organicamente à tradição filosófica de um país ou região, o mesmo pode
considerar-se como parte da tradição filosófica, independentemente da nacionalidade do autor.

Ainda Oruka destaca um aspecto importante da filosofia africana que se reveste de grande importância,
nomeadamente os sábios tradicionais vivos. De acordo como Oruka, estes sábios, alguns dos quais estão
destinados a converter-se em filósofos, têm a sua própria racionalidade elaborada para sustentar as sua
doutrinas e seus pontos de vista.

Na opinião de Kwasi Wiredu, filósofo queniano, o pensamento filosófico africano tradicional contém elementos
que são filosóficos na medida em que tenta dar resposta à algumas das interrogações fundamentais relacionadas
como o homem e com o mundo.

Portanto, com estes pensamentos de Oruka e Wiredu, pode notar-se que os críticos não fazem um grupo
homogéneo, onde todos comungam a mesma ideia na refutação da ideia da existência da filosofia africana.
Dentro da crítica nasce outras críticas em relação a própria crítica.

CORRENTES DA FILOSOFIA AFRICANA

Etnofilosofia
Os principais representantes desta corrente são Placide Tempels, Alexis Kagame, John Mbiti e Marcel Griaule.
O termo etnofilosofia não foi criado nem pelos representantes desta corrente. O seu uso como designação de

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uma corrente filosófica deveu-se aos seus críticos sobretudo com mais notável crítico P. Hountondji, como já
vimos anteriormente.

Quando se fala de etnofilosofia, trata-se do «grito» de africanos e africanistas pelo reconhecimento do negro
como homem. Estes produziram obras em defesa do negro. Uma das formas de realizar essa defesa é através da
etnofilosofia. Os etnofilósofos são assim denominados por terem feitos estudos sobre as etnias africanas, até
que o próprio prefixo deste termo, etno, deriva da palavra etnia. Estes defendem que toda filosofia é uma
filosofia cultural, isto é, ninguém faz filosofia sem basear-se na cultura. Para Anyanw, a missão do filósofo
africano é compreender e explicar os princípios sobre os quais se baseia cada uma das culturas africanas

Todavia, as suas pesquisas que se apelidaram de filosofia africana, foram alvo de severas críticas,
principalmente pelas seguintes razões.

 As abordagens feitas por tais intelectuais descreviam, na sua maioria, práticas habituais dos africanos,
afirmando-se como filosofia africana.
 Estes estudos quando foram feitos por africanistas não africanos, denegriam o africano.
 Uma simples catalogação de mitos, provérbios e crenças considerava-se filosofia africana.
 Estes estudiosos abordavam temas relativos a etnias africanas. Alexis Kagame, por exemplo,
inspirando-se na filosofia de Aristóteles, escreveu uma obra intitulado a Filsofia Bantu-Ruandês do ser
onde desenvolvia a sua reflexão trazendo à tona as categorias aristotélicas do ser, através duma análise
gramática rigorosa das estruturas linguísticas. A partir desta obra muitos estudantes africanos defendera
suas teses cada um deles com a filosofia bantu da sua língua vernácula.
 Tempels dizia que existe uma filosofia do negro, só que esta é diferente na forma e no conteúdo da
filosofia europeia.

Filosofia profissional/académica ou Crítica à Etnofilosofia

Corrente que considera que a filosofia é uma disciplina científica, teorética e individual, assim como a
linguística, a álgebras e outras; portanto, não pode ser substituída por crenças populares, políticas tradicionais e
estudo do comportamento de um povo

Os críticos da etnofilosofia defendem que não podemos confundir o emprego do termo filosofia, usando-o no
sentido ideológico, Filosofia é uma palavra que se usa para designar uma ciência rigorosamente científica.
Reivindicar que os africanos têm uma própria filósofa seria cair nas mãos dos colonizadores, que querem
manter a ilusão de que os africanos têm uma filosofia, porque o que nós temos realmente são mitos, provérbios
e crenças.

Paulin Hountondji (de Benin) é um dos grandes críticos e apresenta alguns argumentos na sua obra African
Philosophy, Myth and Reality, de 1974, com ele podemos constatar o seguinte:

- Reivindicar que existe filosofia africana, estamos a cair na ratoeira colonialista e racista, e a filosofia africana
obriga -nos a definir África em ralação à Europa. Contudo, não podemos aceitar que haja uma filosofia africana
que claramente nega a filosofia em geral

- A filosofia, enquanto disciplina científica, teorética e individual, emerge sempre em oposição ao mito, as
religiões tradicionais e ao seu respectivo dogmatismo e conservadorismo. Algo dogmático não pode ser

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filosófico. A relação entre filosofia com o mito com a religião tradicional deve ser vista como uma
continuidade, transformação consciente e da crítica continua da tradição do povo face aos desafios que o povo
tem de enfrentar no presente e no futuro. Querer que a filosofia africana exista não tem sentido.

- Todo o projecto de edificar uma filosofia africana é um projecto europeu de demarcar a todo custo a
civilização africana da europeia. Por isso, dizer que os africanos têm a sua própria civilização quer dizer que a
civilização africana é fixa e está baseada nas tradições antigas, que todo o poder africano reside no passado, nas
tradições dos seus antepassados

- Todos aceitamos que a filosofia não pode nascer ex nihil ( do nada, mas que necessariamente parte da herança
cultural. Porém, esta herança cultural não consiste em olhar para traz. A filosofia africana deve ser uma
confrontação criativa das suas ideias com o presente e o futuro.

- A africanidade da filosofia africana só emerge a partir de uma actividade filosófica de discussão e crítica dos
africanos que são filósofos. Africanidade consiste na pertença dos filósofos ao continente africano.
Africanidade não consiste em falar de África ou dos problemas africanos, mas sim, consiste na partilha e na
conserva entre africanos que são filósofos qualificados e profissionais que usam a razão de forma crítica e
criadora.

Hountondji diz que as palavras mudam de significado do contexto europeu para o contexto africano

Os filósofos críticos da etnofilosofia recusam se em aceitar a abordagem etnofilosófica como sendo filosofia
africana, porque, no seu entender reforçaria a diferença entre africanos e europeus

A ideia de filosofia africana deve ser aliada a um projecto de crítica e reflexão de África sobre os problemas de
África.

Filosofia Política
Esta corrente é constituída por um grupo de escritores intelectuais africanos que sem serem propriamente
filósofos no sentido moderno do termo, dedicaram-se a reflectir sobre o regime de governo que fosse
apropriado aos povos africanos, que respeitasse e salvaguardasse os seus valores culturais, assim como criar um
futuro sócio-económico e político para a África.

Não nos esqueçamos que a grande prioridade que o homem negro, principalmente, africano tem nesta
perspectiva é a sua própria emancipação. É neste contexto que se iniciou nas colónias da América do Norte um
movimento de revoltas, manifestos pelos escravos através das chamadas work songs e posteriormente dos
gospel spirituals, nas igrejas.

As primeiras lutas do homem negro foram teorizadas por duas visões: a primeira, defendida pelo jamaicano
Marcus Garvey, acreditava que o negro só se emanciparia plenamente voltando à sua terra natal (África); a
segunda defendia que o homem negro podia viver livre e em pé de igualdade com o branco sem precisar de sair
da América, o defensor desta é William E. B. Du Bois.

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Negritude (Filosofia cultural)
Negritude - é a soma dos valores culturais do mundo negro (Senghor)

Também, a negritude foi entendida como movimento de união dos africanos de ponto de vista cultural (que
envolve a literatura, a arte, a dança do homem negro)

Tal como o pan-africanismo, a negritude nasceu fora do continente africano, como forma de processo de
emancipação da comunidade negra radicada em França. Os mentores deste projecto eram membros de
profissões liberais, estudantes, intelectuais e políticos

A negritude pretendia a união de todos os negros. Ela tem como representantes Aimé Cesaire ( antilhano),
Leopoldo Sedar Senghor (senegales), Leo Damas (guianense), importa dizer que o termo negritude é atribuído
Aimé Cesaire, considerado como grande impulsionador, pois cabe a ele a paternidade do termo acima referido.
Este movimento na sua vertente política, a sua origem remonta ao pan-africanismo

Nesta perspectiva, é com Senghor (escritor político) que o conceito de negritude passa a ser utilizado pelos
escritores africanos a partir dos anos trinta (30), como reacção à rigorosa tentativa de assimilação do poder da
colonização francesa. Por exemplo para John Paul Sartre, a negritude aparece como tempo fraco duma
progressão dialéctica, contra a afirmação teórica e prática, da supremacia do branco. E ainda a negritude não é
um objectivo final, mas um princípio para atingir um objectivo.

Como foi referido, a negritude surge entre os negros americanos, no quadro do pan-africanismo, e os
movimentos que deram sua origem foram:

- O desenvolvimento segregado de Booker Washington;

- O movimento de renascimento negro (Black Renaissance) de Willam. E. B. Du Bois

- Regresso a África (back to movement) de Marcus Garvey;

Esse movimento foi seguido e difundido pelas revistas e jornais literários com teor político: a revista Légitime
Défense em 1932 de um grupo de antilhanos em Paris, sob orientação de Etiene Lero, espécie de uma
manifestação contra assimilação (literária, cultural religiosa e política). Dois anos mais tarde entra o jornal
L’etudiant Noir que seria o princípio da negritude; também a poesia de Aimé Cesaire- cahier d’un Retour au
Pays Natal. O outro exemplo vivo de poema de luta pela emancipação do povo é, da Noémia de Sousa “ let my
people go/ Deixa passar o meu povo

Não obstante, o projecto da negritude foi resumido em três conceitos tais como:

Identidade- consiste em o homem negro assumir plenamente a sua condição;

Fidelidade- atitude que traduz a ligação do homem negro à terra-mãe;

Solidariedade- sentimento que liga secretamente todos os irmãos negros.

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Pan- Africanismo
Pan-african - vem do grego, pan (toda) e africanismo (referindo-se a elementos africanos). A origem do termo
é inserida no corrente filosófica-política historicista do século XIX sobre o destino dos povos. A teoria pan-
africanista foi desenvolvida principalmente pelos africanos na diáspora americana descendentes de africanos
escravizados e pessoas nascidas na África a partir de meados do século XX pela necessidade de a unidade de
grandes conjuntos culturais ou “nações naturais” a partir do expansionismo imperialista ocidental.
Originalmente, o pan-africanismo centrava-se mais sobre a questão racial que no geográfico.

Fundadores do movimento Pan-africano. Normalmente se consideram Henry Sylvester Williams e o Dr.


William Edward Burghardt Du Bois e Marcus Mosiah Garvey como os pais do Pan-Africanismo.

A teoria pan-africanista foi desenvolvida principalmente pelos africanos na diáspora americana descendentes de
africanos escravizados e pessoas nascidas na África a partir de meados do século XX como William Edward
Burghardt Du Bois e Marcus Mosiah Garvey, entre outros, e posteriormente levados para a arena política por
africanos como Kwame Nkrumah.

Pan-africanismo é um movimento político, filosófico e social que promove a defesa dos direitos do povo
africano e da unidade do continente africano no âmbito de um único Estado soberano, para todos os africanos,
tanto na África como em diáspora.

O pan-africanismo é uma ideologia que propõe a união de todos os povos de África como forma de potenciar a
voz do continente no contexto internacional. Em meados do século XX o Pan-africanismo foi explicado como a
doutrina política defendida pela irmandade africana, libertação do continente africano de seus colonizadores e
ao estabelecimento de um Estado que buscasse a unificação de todo o continente sob um governo africano.

Surge como manifestação de solidariedade entre africanos e os povos de ascendência africana.

O seu objectivo principal era a unidade política dos povos africanos. Dito de outra forma, o pan-africanismo
lançou as bases da filosofia política africana, (recorde capitulo de filosofia política}

A primeira conferência Pan africana teve lugar em Londres, em 1900. O seu objectivo era de procurar uma
forma de protecção contra os agressores imperialistas brancos e contra a política colonial que até então
submetia os negros. Entendia se que por esta via, o africano conquistaria p direito a sua própria terra, à sua
personalidade. Trata-se, portanto, de uma luta pelo direito de todos africanos de forma a serem tratados como
homens

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Renascimento Negro (Black Renaissance) e Renascimento Africano (African Renaissance)

Em virtude do espírito de revolta contra o colonialismo, surgiu o Black Renaissance fundado por Du Bois.

O renascimento negro consistia em incutir no negro, que apenas soubera ser escravo, a ideia de que era igual ao
branco (seu escravizador). Este movimento difundia ideologias contra a descriminação do povo negro. E
defendia que os negros não podiam continuar a assistir passivamente à sua própria descriminação e que deviam
reagir perante os tratamentos desumanos. Du Bois afirmava “que os brancos saibam que por cada porrada que o
branco der a um negro, nós lhes vamos dar duas; por um negro morto, nós vamos matar dois brancos”

Azikiwé escreve em Renascent Africa: “ Ensinai o africano que renasce a ser homem”. Porém foi no âmbito do
renascimento africano em que se desenvolveu o conceito de personalidade africana. Ora, a personalidade
africana defende que existem características comuns, atributos essenciais e únicos que fazem parte do ser de
todos os africanos. A ideia de African personality teve as raízes em Edward Wilmont Blyden e foi retomado por
Kwame Nkrumah.

Blyden fundou a dignidade do africano na mesma linha do movimento da negritude, onde ousou provar que a
raça negra tinha uma história e uma cultura das quais se podia orgulhar. Acrescenta, que cada um de nós tem
um dever especial a cumprir, um trabalho necessário, um trabalho a realizar pela raça a que pertencemos: lutar
pela própria individualidade para a manter e desenvolver.

Blyden dizia orai e amai a vossa raça. Se não fordes vós mesmos, se abdicardes da vossa personalidade, não
haveres deixado nada ao mundo.

Kwame Nkrumah afirma que o homem africano é um ser espiritual, dotado de dignidade, integridade e valor
intrínseco.

UNIDADE: 04. METAFÍSICA E ESTÉTICA


4.1. Metafísica

4.1.1. Definição do conceito - Metafísica e Ontologia (Objecto de estudo da Ontologia)

O termo Metafísica é de origem grega onde meta (além) e physis (física). É a área do conhecimento que faz
parte da Filosofia, estudando os princípios da realidade para além das ciências tradicionais (Física, Química,
Biologia, etc.).

O primeiro a fazer uso da palavra foi Andrónico de Rodes quando compilava as obras de Aristóteles, para
designar aqueles conhecimentos que transcendiam o campo científico e, Aristóteles tinha estudado estes
problemas sob o nome de Filosofia primeira. Pode-se entender a metafísica como o estudo daquelas questões
que estão para além da observação e da experiência é a ciência das primeiras causas e dos primeiros princípios.
(CHAMBISSE et NHUMAIO, Filosofia 12ª Classe, 2010. P86)

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Divisão da Metafísica: A ontologia ou metafísica geral, estuda o ser em geral; cosmologia que trata do espaço e
do tempo, da matéria e da vida; a psicologia racional que se ocupa da alma em si própria e teodiceia que faz o
estudo de Deus através da razão.

Ontologia do grego Ontos «ser», «ente», «indivíduo» e logia, «saber», «doutrina», «estudo», «tratado» sendo
assim traduzido num sentido restrito em estudo do ser e mais tarde passou a ser o estudo do Ser enquanto Ser.
(Idem) Não é o estudo dos seres particulares que encontramos a volta e a que nos referimos constantemente,
mas dos ser em abstracto que se encontra concretizado em todos esses seres. É o resultado de inúmeras
abstracções, efectuadas a partir dos diversos seres indivisíveis e concretos que se impõem ao nosso
conhecimento. Pois a ontologia como metafísica geral é a parte da filosofia do Ser enquanto Ser e não tomado
nas suas partes. O que é um ser? Que qualidades podemos encontrar no ser? Por que princípios se rege o ser?
São perguntas similares que se ocupa a ontologia, visto que ela está preocupada com o Ser enquanto é, e não
enquanto é isto ou aquilo, isto é, ser determinado. Deve ser tudo enquanto é.

4.1.1.2. O Conceito de Ser enquanto Ser.

É tudo quanto existe, independentemente do modo como é. O conceito Ser não pode definir-se rigorosamente
porque é um género supremo, daí que não existe um outro conceito que seja o seu género próximo e
consequentemente diferença específica. (GEQUE e BIRIATE, Filosofia 12ª Classe, 2010. P.137) Ao Ser opõe-se
o nada, que é a negação do Ser, o nada sendo uma noção negativa só pode conceber-se pelo Ser, de que é
negação, enquanto que o Ser concebe-se por si mesmo.

4.1.2.1. As categorias do ser: Substância e acidente.

De acordo com Aristóteles existem 10 categorias do ser, sendo a primeira a substância e as restantes nove são
acidentes. A substância é «aquilo que é em si e por si e não em outra coisa», é o que permanece como algo
subsistente, que tem um ser próprio e que, por isso, não pode ser afirmado a propósito de um sujeito nem se
encontra nele.

Aristóteles distinguiu dois tipos de substâncias: a primeira e a segunda. A primeira são as coisas
individualizadas, os indivíduos na sua singularidade (o João, o meu professor, a minha caneta) e a segunda tudo
quanto existe como pensamento (escolas, professores, homens, carteiras). As substâncias primeiras, refere-se a
indivíduos singulares e concretos enquanto as secundárias as espécies e géneros singulares e abstractos.

Ao contrário da substância está o acidente, que é tudo aquilo que ocorre ou acontece, aquilo que para ser
necessita de se apoiar numa substância e pode afirmar-se de um sujeito, Ser substanciado, uma vez que
constitui a sua característica. O acidente só existe na substância, não existe em si e por si. Está sujeito de
mudanças no indivíduo. (Ibidem 139-140)

Podemos destacar os seguintes acidentes:

1º- Qualidade - a forma ou determinação da substância (professor, inteligente, simpático, etc.).

2º- Quantidade - o volume da substância que permite atribuí-la a partes distintas das outras (muito, pouco).

3º-Relação - a ligação ou referência que a substância, ou até o acidente, estabelece com outra substância ou
acidente (pai, filho, primo, chefe).

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4º- Tempo - momento apropriado ou disponível para que uma coisa se realize, curso de eventos extrínsecos que
dura um determinado período.

5º- Lugar - espaço que o corpo substanciado ocupa em relação a outros corpos.

6º- Acção - o que a substância faz usando as suas faculdades ou poderes causando efeitos em si mesma ou em
outros corpos circundados por uma substância. (conduzir um carro, conversar).

7º- Estado - o conjunto de bens ou instrumentos que por sua habilidade complementam a natureza da sua
substância, permitindo a preservação e conservação da mesma ou de outras substâncias corpóreas.

8º- Posição - lugar ou postura relativa ocupada pela substância ou parte dela face a outras (sentado, de pé).

9º- Paixão - sentimento desencadeado por um agente que, ao sobrepor-se a razão, provoca sofrimento numa
determinada substância (a morte de alguém querido).

4.1.3. Potência e Acto

Aristóteles recorre as duas noções fundamentais para explicar o dinamismo do ser: potência e acto (enteléquia).

Entende-se a potência, a possibilidade que uma matéria tem de vir a ser algo em acto, algo que não está
realizado, a capacidade de vir a ser algo que antes não era. A possibilidade de produzir uma mudança ou de a
sofrer, é o desejo de realização, realização perfeita e acabada, tal como a semente deseja ser árvore. Assim a
farinha de milho é uma massa em potência, bem como a madeira é uma mesa em potência.

O acto é o que faz ser aquilo que é, é o ser real, é o que o determina, é a actualização de algo que estava em
potência. Assim a massa é o acto da farinha, a mesa é o acto da madeira. Pois a alma, enquanto essência e
forma do corpo, é acto e enteléquia do mesmo e Deus é um acto puro.

Todas as coisas são potência e acto, pois elas são em simultâneo, vejamos que uma semente é uma árvore em
potência e por sua vez a árvore é uma semente em potência ao mesmo tempo uma folha de papel e mesa. A
única coisa que é totalmente acto é o acto puro, identificado com o bem, é sempre igual a si mesmo e não é um
antecedente de alguma coisa e Tomás fez derivar a questão de Deus como acto puro.

Um ser em potência só se pode tornar um ser em acto mediante algum movimento e sempre de potência ao
acto. Cfr. (GEQUE e BIRIATE, Filosofia 12ª Classe, 2010. P.140) e (CHAMBISSE et NHUMAIO, Filosofia
12ª Classe, 2010. P87)

1.1.4 A Essência e a Existência

Ao falar de substância, Aristóteles também versou a questão de essência, pois ela é a substância segunda,
referindo-se das características fundamentais da substância, existindo como pensamento e por sua vez a
existência passou a ser classificada como a substância primeira onde o ser se manifesta e se revela enquanto
realidade.

A existência é a actualização da essência, é a realidade, a substância em acto. A essência e a existência


constituem dois princípios necessários e ao mesmo tempo complementares para a afirmação ou a constituição
de qualquer Ser. Portanto existir significa sair, manifestar-se, mostrar-se e só isso acontece a aquilo que possui
uma determinada essência. A essência nada é sem a existência e a existência nada é sem a essência. Desta tese
surgem duas correntes: o essencialismo e o existencialismo.
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O essencialismo defende a primazia da essência sobre a existência, que o ser primeiro define-se e só depois se
torna isto ou aquilo, enquanto o existencialismo defende a primazia da existência sobre a essência, isto é, a
pessoa não é predeterminada mas sim livre de fazer novas escolhas e constituir-se como uma pessoa diferente.

O existencialismo caracterizou-se com as seguintes teses:

- A valorização do indivíduo como algo irredutível_ o que existe verdadeiramente é o indivíduo na sua
singularidade, uno e irrepetível (existir é ser diferente), assim primeiro o homem existe depois torna-se isto ou
aquilo.

- A valorização da liberdade do homem enquanto ser situado no universo_ é a liberdade que se afirma no ser
contra as limitações impostas pela natureza. O homem está condenado a ser livre diz Sartre. Tornar-se o que ele
deseja livremente.

4.1.5. A Cadeia aristotélica das quatro causas

Para os gregos causa significa não só o porquê de alguma coisa, mas também o que e o como uma coisa é o que
ela é. E Aristóteles apresenta-as como Causas primeiras que são aquelas que explicam o que a essência é e
também são a origem e motivos da existência da essência. Os seres criados não tem a razão de ser em si
mesmos e distingue quatro causas que concorrem para a produção de qualquer coisa:

1ª- Causa eficiente - condição do fenómeno que produz outro fenómeno, ou seja, aquilo que produz uma coisas;
o artífice que confere o ser que antes uma coisa não possuía (o carpinteiro que da forma a mesa).

2ª- Causa material - condição ou aquilo de que uma coisa é feita (a madeira é causa material da carteira).

3ª- Causa formal - a forma ou aspecto que um determinado ser toma ou que é plasmado pelo seu criador
(carteira rectangular, quadrada).

4ª- Causa Final - o propósito ou o objectivo com que uma coisa é feita.

4.2. A ESTÉTICA

4.2.1. Conceito de Estética

O termo estética vem do grego aisthetiké, que etimologicamente significa tudo o que pode ser percebido pelos
sentidos, pode-se dizer que ela derivou da palavra ainda grega aísthesis, que é sentido ou sensibilidade. Pois
geralmente quando dizemos estética referimo-nos a disciplina da filosofia que trata do estudo do belo e os
fundamentos da arte.

Kant define a estética como a ciência que trata das condições da percepção pelos sentidos. Ela adquiriu
estatuto de ciência com a publicação da obra Aesthetica do educador e filósofo alemão Alexander Gottlieb
Baumgarten, em dois volumes, entre 1750-1758, considerando ele que os artistas deliberadamente alteram a
Natureza, adicionando elementos de sentimento á realidade percebida.

O objecto de estudo da estética é o tipo de conhecimento adquirido pelos sentidos como bela arte. Aquilo que
leva a classificar um objecto como belo, agradável em contradição com o que não é.

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Na antiguidade, especialmente com Platão, Aristóteles e Plotino, a estética era estudada fundida com a lógica e
a ética. O belo, o bom e o verdadeiro formavam uma unidade com a obra e a sua essência era alcançada
identificando-a com o bom.

A estética compreende os seguintes problemas: a natureza da arte, o seu fim e a sua relação com as outras
esferas da vida humana.

4.2.2. A essência do belo

Platão entendeu a arte como uma imitação da natureza, isto é, cópia das ideias do mundo das ideias, visto que a
realidade está no mundo das ideias então o artista copia as sombras das ideias verdadeiras, o alvo da imitação é
o belo.

Aristóteles contestando a ideia do seu mestre afirma que a arte não é apenas a imitação da natureza, mas sim de
uma reprodução com a intenção de a superar.

Para Gianbattista Vico (1668-1744), a arte é um modo fundamental e original de o homem se expressar numa
determinada fase do seu desenvolvimento que é composto por três etapas: dos sentidos, da fantasia e da razão.
E a arte é a expressão humana na fase de fantasia, exteriorizando a sua percepção da realidade através de
criações fantásticas: mitos, poemas, pinturas.

Kant vem a contestar esta posição afirmando que numa obra de arte a sensibilidade expressa o universo no
particular, o inteligível no sensível, o numeno no fenómeno. O homem contempla realidades meta-empíricas
que jamais seriam acessíveis a sua sensibilidade por meio da arte. Cfr. GEQUE e BIRIATE, Filosofia 12ª
Classe, 2010. P.146

4.2.3. O belo como fundamento da arte

O que é belo é subjectivo. Dai a dificuldade em chegar a um consenso sobre o que é belo ou sobre o que não o é.
Criamos coisas, sejam belas ou feias, não importa, pois, a beleza e a fealdade são conceitos subjectivos para
despertar sentimentos no outro. O que interessa ao artista é que esses objectos criados toquem o fundo da alma
das pessoas. E é esse justamente o objectivo de toda a obra de arte: despertar sentimentos, sensações, tornar
presentes sonhos e desejos que tanto escondemos e reprimimos.

Portanto parece ser óbvio que a classificação de uma obra de arte como bela é relativa, nem todos valores hoje
são universais e nem eternos, e a história da estética até o século XVIII diz Ferry ia atrás de critérios.

Friedrich Nietzsche, filósofo alemão do século XIX, afirma que a partir de agora o domínio da ciência só se
produz pela arte. A arte deve recriar tudo e recolocar sozinha a vida no mundo. Vivemos seguramente graças ao
carácter superficial do nosso intelecto, numa ilusão perpétua. Temos muita necessidade da arte e só uma parte do
saber. Visto que é a arte o fundamento do mundo, porque todas existentes possuem forma, cor, textura, cheiro, e
esses objectos são apreendidos pelos nossos sentidos e pela nossa razão.

Quando olhamos para uma pessoa que achamos belíssima, ficamos paralisados por tal beleza de formas e
contornos, não é possível disfarçar o olhar e muito menos os desejos.

No fenómeno artístico, percebemos a verdadeira natureza da realidade, a arte é a chave que nos permite o acesso
à essência do mundo, é o centro da vida. É na arte se tem a transfiguração de tudo o que existe, seja o belo, o
sublime, o horrível, a fealdade e tudo o que vemos e apreendemos é manifestação artística, mesmo nós seres
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humanos somos uma manifestação artística, a vida é uma grande obra de arte. A arte conhece o mundo por meio
da intuição, ela exige a certeza imediata da intuição, a razão está no segundo plano.

O belo é o que nos reúne mais facilmente e mais misteriosamente, assim a obra de arte deve ser uma
representação bela do mundo subjectivo do artista.

(Cfr. CHAMBISSE et NHUMAIO, Filosofia 12ª, 2010. P96-97)

4.2.4. Divisão e classificação das artes (as artes belas)

As obras artiticas encontram-se divididas em dois grupos: aquelas que se apresentam como simples manifestação
do belo (obras belas), denomina-se belas-artes (sobretudo as artes plásticas), neste contexto Platão escreve em
Fédon, sendo a beleza uma ideia absolutamente perfeita, é o fim em si e ama-se por si própria. Mas quando arte
visa fins lucrativos denomina-se artes úteis (as mecânicas). Enquanto o primeiro ama-se em virtude de si próprio
o segundo ama-se em virtude do fim diferente de si mesmo.

Nas belas artes o artista está preocupado em expressar o gosto pelo belo e nas mecânicas está preocupado com a
utilidade da sua obra, o lucro. Assim o útil é sempre relativo ao passo que a beleza é absoluta e perfeita.

Partindo desta distinção podemos distinguir os seguintes tipos de belas-artes: artes plásticas e artes rítmicas.

Artes plásticas - são aquelas que exprimem a beleza sensível através do uso das formas e das cores, que são.

1ª- Escultura_ aquela que representa imagens plásticas em relevo total ou parcial e expressa sentimentos e
atitudes através das formas vivas, buscando a perfeição e a beleza sublime. Tradicionalmente o objectivo maior
foi de representar o corpo humano, ou a divindade antropomórfica. É considerada a quarta das artes clássicas.

2ª-Pintura_ é feita pela combinação imaginativa e sensitiva das cores, exprime a percepção que o artista tem da
natureza, ela supera a escultura, pela maneira como fixa nele as suas expressões faciais.

3ª-Arquitetura_ do grego arché (primeiro ou principal) e tékton (construção), referindo-se a arte de projectar e
edificar o ambiente habitado pelo ser humano. É pela imaginação e criatividade que esta atinge e expressa a
beleza com equilibradas e agradáveis proporções das massas pesadas.

Artes rítmicas (ou de movimento) - são as que na sua essência produzem obras que exprimem a beleza mediante
várias formas: sons, ritmos e movimentos, que podem ser:

1ª-Poesia (ou seja a artes literária) _ com ritmo mais ou menos suavizado pelas rimas e palavras harmonizadas
entre si, cria uma sensação agradável e é recitada ou lida em silêncio. Podemos enquadrar aqui o teatro.

2ª-Música_ expressa a beleza através de acordes vocais, melodias e ritmos ou batidas compassadas em tempos
alternados. Através da música o artista exprime o que lhe vem da alma, ou o que gostaria que fosse, mas não é.

3ª- Coreografia (ou dança) _ conhecida como arte mista ou arte da dança. Através de uma sequência de
movimentos corporais realizados de forma rítmica, ao som da música ou do canto, o artista exprime o modo
como vê, sente e encara o mundo à sua volta. Cfr. GEQUE e BIRIATE, Filosofia 12ª Classe, 2010. P.148-149)

4.2.5. Significado e o valor social das produções artísticas.

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Greenberg parte do pressuposto que para investigar o valor e o significado da arte é preciso ter em conta a sua
ligação intima com os juízos estéticos e consequentemente com o gosto.

As relações entre a arte e a sociedade são recíprocas e dinâmicas. Tanto o campo social influência a produção
artística, como a arte condiciona o contexto social. A repercussão social da arte resulta do seu processo de
circulação no seio da sociedade, permitindo conhecer o raio de acção do campo artístico sobre o social. A
interdependência, medida pelas influências e conexões, da arte com o seu meio social sugere-nos o estudo da
dimensão social do facto artístico, é necessário encarar a obra de arte como um produto social e como um
elemento constitutivo da própria sociedade.

A teoria do reflexo ou da imitação apresenta a arte como espelho da realidade, mas Bourdiu defende que é o
campo artístico que exerce um efeito de reestruturação ou de refracção devido às suas forças e formas
específicas. Assim as relações entre as instituições e agentes sociais não actuam directamente sobre a arte, mas
através da estrutura do campo artístico.

Sendo a arte uma interpretação da sociedade, ela pode corroborar como criticar uma determinada situação social
ou certos valores de uma época, atribuído a obra um certo valor de intervenção. O valor de propaganda política
da obra pode condicionar a acção criadora do artista e poder está consciente da força persuasiva da arte,
expressando tendências sociais a favor ou contra um ideal político.

Geralmente a arte interpreta a sociedade de forma interventiva e critica, sendo o artista o interpreta da
colectividade que pertence. As obras de arte retratam a vida quotidiana de uma sociedade, por esta razão, em
parte, elas não podem pretender representar o universal, porque constituem uma expressão da visão do mundo do
artista. A sociedade se vê na janela do artista, porque as suas obras são uma representação deles

1.2.6. A arte e a moral. Relação mútua.

Alguns filósofos, como Platão, Aristóteles e Vico, estabelecem de uma forma mais ou menos directa a relação da
arte com a moral, condenando deste modo as obras de arte julgados censuráveis.

Platão, o primeiro filósofo a tratar do problema estético, diz que a arte é fruto do amor que impele a alma para a
imortalidade e para atingi-la a alma gera e procria o belo, antecipando a vida feliz. No mundo das ideias, a alma
vive feliz mediante a contemplação da beleza subsistente e para o alcance da felicidade, na vida terrena, a alma
cria o belo através de imitações da beleza.

A arte deve subordinar-se à moral, e autorizada só a arte que é útil à educação, visto que, a arte que favorece a
corrupção da alma, deve ser condenada e excluída da educação. Assim Platão condena a tragédia e a comédia
porque são formas de arte imitativa que se afastam da verdade (do mundo das ideias) em vez de se aproximarem
dela. Essas são as razões sustentadas por Platão:

1ª- Representam os deuses e heróis com paixões humanas, perdendo respeito.

2ª- Não exprimem a ideia original das coisas, isto é, é uma imitação imperfeita da realidade.

3ª- São fundadas nos sentimentos e não na razão, agitam as paixões provocando o prazer e a dor.

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E a única arte que deve ser cultivada segundo Platão é a música, porque educa para o belo e a forma, criando a
harmonia interior da alma.

Aristóteles associou a arte à imitação da Natureza, porém o processo da imitação deve ter regras contra o
improviso e os caprichos. Assim a tragédia é a imitação de uma acção elevada e completa, proporciona
conhecimento e o conhecer é o fundamento de tudo, inclusive agir bem. Quando se representam os homens bons
ou maus introduz-se uma relação ética, distinguindo-se o vício e a virtude, e consequentemente atingindo a arte
uma dimensão moral. Para ele a estética tal como a ética vêm da natureza, porque todo o saber e toda a intenção
têm um bem por que anseiam.

Kant diz, na crítica da Razão Prática, que a razão humana não tem somente a capacidade de conhecer, tem
igualmente a capacidade de determinar a vontade para agir moralmente. Assim com a Critica da Razão Pura ele
procura estudar como a razão determina a vontade para agir moralmente. Em Observações Sobre o Sentimento
do Belo e do Sublime, Kant atribui, às virtudes, adjectivos estéticos. Pois são belas e atraentes a compaixão e a
condescendência e é sublime a virtude genuína de um homem justo, de coração nobre. Na crítica da Razão Pura,
Kant diz que um objecto pode ser agradável, belo ou bom, mas o nosso interesse vai pelo que nos agrada ou pelo
que é bom, mas não pelo que é belo. O belo proporciona-nos uma satisfação desinteressada e livre, é um prazer
que não depende do nosso desejo, nós somos surpreendidos pelas formas belas. O bom e o belo é análogo:
agradam imediatamente, são universalmente partilhados, são inspirados por uma forma de imaginação e da lei
moral, são livres.

Beneditto Croce vem a contestar a ideia dizendo que a arte é absolutamente autónoma e para que seja verdadeira
é necessário que seja genuína expressão dos sentimentos íntimos do artista.

Mondin diz para fazer arte é preciso expressar aquilo que há em si mesmo. Para ser artista basta expressar bem
os próprios sentimentos e está sujeito a moral por ele ser homem.

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