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Filosofia profissional e crítica à Etnofilosofia

Filosofia profissional crítica é um termo usado por Hountondji para designar uma
filosofia que se baseia na expressão individual e original dos pensadores, que assumem
a responsabilidade pelo seu discurso e que estão abertos à análise e ao debate. É uma
filosofia que busca a rigor e a cientificidade, sem se apoiar na autoridade da tradição ou
na ideologia

A filosofia profissional crítica é uma forma de fazer filosofia que se baseia na reflexão,
na crítica e na responsabilidade do filósofo. Ela busca libertar a filosofia africana das
limitações da etnofilosofia e dar-lhe autonomia, originalidade e racionalidade. Ela
valoriza as ideias individuais e a diversidade das culturas africanas

A etnofilosofia, afirma-se como a descrição de uma visão de mundo inexpressa,


implícita, que jamais existiu, a não ser na imaginação do antropólogo. A etnofilosofia é
uma pré-filosofia disfarçada de metafilosofia, uma filosofia que, ao invés de apresentar
sua própria justificação racional, se instala preguiçosamente por trás da autoridade de
uma tradição e projecta suas próprias teses e crenças naquela tradição (HOUNTONDJI
apud SANTOS 2016:103).

A etnofilosofia é criticada por alguns filósofos africanos que a consideram uma pré-
filosofia que não tem autonomia, originalidade e racionalidade. Eles argumentam que a
etnofilosofia é uma forma de etnocentrismo que ignora a diversidade e a complexidade
das culturas africanas e que reduz a filosofia a um conjunto de crenças e costumes
tradicionais. Eles defendem que a filosofia africana deve ser uma filosofia profissional
que se baseia na crítica, na argumentação e na inovação

A etnofilosofia é um termo que se refere à filosofia africana baseada nas tradições orais
e nos sistemas de crenças dos povos africanos. Há muitas críticas à etnofilosofia,
principalmente de filósofos africanos que a consideram uma forma de pré-filosofia ou
de metafilosofia que não apresenta uma justificação racional própria. Alguns exemplos
de críticos da etnofilosofia são Paulin Hountondji, Odera Oruka e Samuel Imbo

Samuel Oluoch Imbo é um filósofo queniano que escreveu sobre a etnofilosofia


africana. Ele define a etnofilosofia como “um conjunto de crenças, valores e
pressupostos que estão implícitos na linguagem, práticas e crenças da cultura africana”.
Ele também analisa as ideias de Cheikh Anta Diop, um pensador senegalês que
defendeu o afrocentrismo como uma forma de recuperar a identidade e a história
africanas

Odera Oruka foi um filósofo queniano que criou a ideia de sagacidade filosófica. Ele
considerava a etnofilosofia como uma forma coletiva e não crítica de pensamento
africano. Ele defendia que a filosofia africana deveria se basear nos ensinamentos dos
sábios das comunidades tradicionais, que tinham uma visão individual e racional do
mundo. Ele também classificou a filosofia africana em quatro tendências: etnofilosofia,
sagacidade filosófica, filosofia ideológica nacionalista e filosofia profissional

Paulin Hountondji é um filósofo beninense que criticou a etnofilosofia como uma forma
de colonialismo e exotismo. Ele considerava a etnofilosofia como uma pré-filosofia que
se baseava na autoridade da tradição e não na justificação racional. Ele defendia que a
filosofia africana deveria ser uma filosofia profissional crítica que expressasse as ideias
individuais e originais dos pensadores africanos, sujeitas à análise e ao debate. Ele
também buscou uma síntese entre o pensamento tradicional africano e o método
filosófico rigoroso

Etnofilosofia é um termo usado para designar uma filosofia que se baseia na tradição
oral e na sabedoria coletiva dos povos africanos, que expressam a sua visão de mundo
através de mitos, provérbios, lendas e rituais. É uma filosofia que busca a harmonia e a
integração com a natureza e com os ancestrais. Filosofia ocidental é um termo usado
para designar uma filosofia que se baseia na escrita e na razão individual dos pensadores
ocidentais, que expressam o seu pensamento através de conceitos, argumentos, teorias e
sistemas. É uma filosofia que busca a verdade e a liberdade do ser humano. Essas são
algumas diferenças entre as duas filosofias

Os críticos da Etnofilosofia defendem que não podemos confundir o emprego do termo


«filosofia», usando-o no sentido ideológico. «Filosofia» é uma palavra que se utiliza
para designar uma ciência rigorosamente científica. Reivindicar que os africanos têm a
sua própria filosofia seria cair nas mãos dos colonizadores, que querem dar ou manter a
ilusão de que os africanos têm uma filosofia, porque o que nós temos realmente são
mitos, crenças e provérbios.

Paulin Hountondji (Benin) é um dos grandes críticos e vale-se dos seguintes


argumentos, expressos na obra African Philosophy, Mythe and Reality, de 1974.
1. Reivindicando que existe uma Filosofia africana, estamos a cair na ratoeira
colonialista e racista que insiste que um africano é diferente de um europeu. Portanto,
qualquer referência à Filosofia africana obriga-nos a definir África em relação Europa.
Logo, não podemos aceitar que haja uma Filosofia africana que claramente nega a
Filosofia em geral.

2. Filosofia, no seu sentido restrito, é uma disciplina científica, teorética e individual,


assim como a Linguística, a Álgebra e, portanto, não se pode substitui-la por crenças
populares, práticas tradicionais e comportamento popular de um povo qualquer. A
Filosofia não se deve identificar com o mito ou com a religião tradicional.

3. A Filosofia, enquanto disciplina científica, teorética e individual, emerge sempre em


oposição ao mito, às religiões tradicionais e ao seu respectivo dogmatismo e
conservadorismo.

O que é dogmático não pode ser filosófico. A relação filosófica com o mito e as
religiões tradicionais não é uma relação arquivista ou arqueológica com função de
sistematização e perpetuação, nem sequer é uma protectora desse passado popular,
muito pelo contrário

A relação da Filosofia com mito e a religião tradicional é de continuidade, consciente e


de crítica contínua da tradição do povo face aos desafios que o povo tem de enfrentar no
presente e no futuro. Portanto, a Filosofia deve abrir os horizontes do povo para que este
consiga enfrentar os desafios do futuro. Querer que a Filosofia africana exista não tem
sentido.

4. Todo o projecto de edificar uma Filosofia africana é um projecto europeu de


demarcar a todo o custo a civilização africana da europeia. Por isso, dizer que os
africanos têm a sua própria civilização quer dizer que a civilização africana é fixa e está
mumificada nas tradições antigas, que todo o poder do africano reside no passado, nas
tradições dos seus antepassados.

Os filósofos que encaram a Filosofia a partir do ponto de vista do passado designam-se


por etnofilósofos e são europeus. Tentam sufocar a capacidade criativa dos africanos
porque esperam que os filósofos africanos sejam simples activistas das suas tradições
culturais, em vez de pensadores originais.
5. Todos concordamos que a Filosofia africana não pode nascer do nada, mas que
necessariamente parte da herança cultural. Contudo, esta herança cultural não consiste
apenas em olhar para atrás. A Filosofia africana deve ser urna confrontação criativa das
suas ideias com o presente e o futuro.

6. O papel criador da Filosofia africana tem de ser desempenhado por filósofos


africanos que são sujeitos da actividade filosófica. A africanidade da Filosofia africana
só emerge a partir de uma actividade filosófica de discussão e crítica dos africanos que
são filósofos. A africanidade consiste na pertença dos filósofos ao continente africano.
A africanidade não consiste em falar da África ou em tratar de problemas africanos,
pelo contrário, consiste na partilha e na conversa entre africanos que são filósofos
qualificados e profissionais que usam a razão de maneira critica e criadora.

Hountondji afirma que o problema que se coloca é substancialmente a associação da


ideia de filosofia palavra «africana», que a qualifica, deixando em dúvida se a palavra
«filosofia» ainda mantém o seu significado original.

Na opinião deste crítico, a universalidade da Filosofia deve ser conservada. No


entanto, isto não significa que a Filosofia deva tratar necessariamente os mesmos temas
ou fazer as mesmas perguntas, até porque as diferenças de conteúdos são consideráveis.

É preciso salientar que os primeiros propagandistas da Filosofia africana foram


homens da Igreja, como, por exemplo: Tempels (belga), Alexis Kagame (ruandês), John
Mbiti (Queniano) e Vicente Mulago (Congolês) Estes pensadores queriam somente
encontrar bases psicológicas para implantar o Evangelho no terreno africano, sem
prejudicar ninguém.

Quando a palavra «filosofia» é qualificada pela palavra africana» não tem o mesmo
significado que a Filosofia ocidental do século XIX.

Parece-me que uma palavra muda o seu significado se é aplicada à Europa e América
em vez da África. Este é um fenómeno comum, como Odera (Queniano)
humoristicamente comenta: "o que é superstição é apresentado como religião africana.
Do Ocidente espera-se que diga que é mesmo assim, religião africana; o que é mito é
apresentada pelos africanos como Filosofia africana, e os africanos estão a espera que os
ocidentais confirmem que não é mito, mas Filosofia africana. O que é claramente
ditadura é considerado democracia africana e espera-se que a cultura europeia apoie
dizendo que é mesmo assim." Nós manipulamos as palavras em nome da cultura
africana.

O que é pseudo-desenvolvimento (desenvolvimento da elite, favoritismo) é descrito


em Africa como desenvolvimento cultural e esperamos que o Ocidente aplauda tudo isto
como desenvolvimento africano.» Portanto, segundo Hountondji, as palavras mudam de
significado quando passam do contexto europeu para o contexto africano.

Os filósofos Críticos da Etnofilosofia recusam-se aceitar a abordagem etnofilosófica


Como sendo Filosofia africana porque, no seu entender, reforçaria a ideia da diferença
entre africanos e europeus (É forma inferior de fazer Filosofia).

A ideia de Filosofia africana deve ser aliada projecto de crítica e reflexão de africanos
sobre os problemas de África.

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