Etnofilosofia, Filosofia profissional e
académica, Filosofia política e Filosofia
cultural.
Etnofilosofia
É uma corrente de pensamento que defende
que as tradições africanas como por exemplo:
os mitos, provérbios, os costumes e outras,
espelham
a racionalidade do africano, podendo por isso
serem consideradas filosofia africana.
Para John Mbiti, a Etnofilosofia pode
ser considerada Filosofia porque nela subjaz
um pensamento especulativo encontrado na
tradição oral.
Anyanw- afirma que a missão do filósofo
africano é de compreender e explicar os
princípios sobre os quais se baseia cada uma
das culturas africanas.
Placide Tempels- autor da ideia “o
africano tinha uma lógica menor”, entende que
a Filosofia bantu reside numa concepção
dinâmica do ser: ser como força, assim, toda a
concepção de vida nos bantu está centrada na
ideia de força vital.
Estes filósofos defendem que toda a filosofia é
uma filosofia cultural, ou seja, ninguém faz
filosofia sem se basear numa cultura.
Criticando a Etnofilosofia, Hountondji
afirma: A mitologia não é filosofia; a
Filosofia começa onde a opinião e a sabedoria
popular terminam.
Num outro desenvolvimento, Placide
Tempels afirma: Existe uma filosofia do
negro, só que esta, é diferente na forma e no
conteúdo da
filosofia europeia.
Para Franz Crahay, para que haja filosofia
africana é preciso (…) que haja uma
decolagem conceptual, ou seja, subida do mito
à reflexão.
Filosofia Profissional e crítica à etnofilofia
68
A Filosofia profissional e académica têm
como função a análise e interpretação da
realidade africana. Em África, é vista não
somente
como uma actividade individual, mas também
como uma disciplina académica e profissional,
(…) como um pensamento crítico.
Os críticos da etnofilosofia defendem que não
podemos confundir o emprego do termo “
filosofia”, usando-o no sentido ideológico.
Filosofia é
uma palavra que se utiliza para designar
uma ciência rigorosamente científica.
Paulin Hountondji é um dos grandes críticos,
na sua obra African Philosophy, Mith and
Reality, de 1974 afirma:
Reivindicando que existe uma filosofia
africana, estamos a cair na ratoeira colonialista
e racista que insiste que um africano é
diferente
de um europeu. Portanto, qualquer referência à
Filosofia africana obriga-nos a definir África
em relação à Europa.
Filosofia, no seu sentido restrito, é uma
disciplina científica, teorética e individual,
assim como a Linguística, a Álgebra e,
portanto, não
se pode substituir por crenças populares,
práticas tradicionais e comportamento popular
de um povo qualquer. A Filosofia não se deve
identificar com mito ou com a religião
tradicional.
A Filosofia (…) emerge sempre em
oposição ao mito, às religiões tradicionais e ao
seu respectivo dogmatismo e
conservadorismo. O que
é dogmático não pode ser filosófico.
Todo o projecto de edificar uma Filosofia
africana é um projecto europeu de demarcar a
todo o custo a civilização africana da europeia.
Todos concordamos que a Filosofia
africana não pode nascer ex nihil (do nada),
mas que necessariamente parte da herança
cultural.
Contudo, esta herança cultural não consiste
apenas em olhar para atrás. A Filosofia
africana deve ser uma confrontação criativa
das suas
ideias com o presente e o futuro.
O papel criador da Filosofia africana tem
de ser desempenhado por filósofos africanos
que são sujeitos da actividade filosófica.
Para Hountondji a universalidade da
Filosofia deve ser conservada.
69
Os primeiros propagandistas da Filosofia
africana foram homens da Igreja, a saber:
Placide Tempels (belga), Alexis Kagame
(ruandês), John
Mbiti (queniano) e Vicente Mulago
(congolês), indivíduos que queriam encontrar
bases psicológicas para a implantação do
Evangelho no
terreno africano, sem prejudicar ninguém.
Segundo Odera Oruka, os sábios estão
destinados a converterem-se em filósofos.
Os sábios definiram as bases culturais para a
Filosofia
africana mas, faltava o enfoque sistemático e
crítico no pensamento.
Humoriscamente, Odera Oruka diz: “ o que é
superstição é apresentado como religião
africana (…) e os africanos estão a espera
que os ocidentais
confirmem que não é mito, mas Filosofia
africana. O que é claramente ditadura é
considerado democracia africana e espera-se
que a cultura europeia apoie
dizendo que é mesmo assim”.
Na mesma senda, Hountondji afirma: “ Nós
manipulamos as palavras em nome da cultura
africana. O que é pseudodesenvolvimento
(desenvolvimento
da elite, favoritismo) é descrito em África
como desenvolvimento cultural e esperamos
que o ocidente aplauda tudo isso como
desenvolvimento africano”.
Ainda na óptica deste, as palavras mudam de
significado quando passam de contexto
europeu para contexto africano.
Os africanos críticos da etnofilosofia recusam-
se a aceitar a abordagem da etnofilosofia como
sendo Filosofia africana porque, no seu
entender,
reforçaria a ideia da diferença entre africanos e
europeus (forma inferior de fazer Filosofia),
ideia de Filosofia africana deve ser aliada a um
projecto de crítica e reflexão de África sobre
os problemas de África.
Filosofia política africana
A colonização dos africanos e sua consequente
escravização fez com que o povo negro fosse
visto como um povo inferior. Assim, os
intelectuais
africanos tinham como missão, procurar
caminhos para a reconquista da humanidade,
reabilitação da imagem e estimular a auto-
estima perdida
por causa da dominação estrangeira. A
prioridade era a sua emancipação, a sua
liberdade. Criaram-se movimentos como pan-
africanismo e a
negritude, que serviam como fontes de união
dos africanos no que dizia respeito aos
domínios político e cultural.
Emancipar o povo africano não foi tarefa fácil,
na medida em que este não só estava sujeito à
opressão física como também psicológica.
Vejamos
alguns exemplos:
70
A teologia definiu o homem negro como
símbolo da maldição, na medida em que
somos descendentes de Cham, um homem
que viu a nudez
do pai, e por tal razão pertenceríamos à
geração dos condenados por Deus.
Voltaire- na sua obra História do Século
XIV, afirma que o povo mais elevado é o
francês e o mais baixo é o africano. Jean-
Jacques
Rousseau-diz que os africanos são bons
selvagens. Hegel- os africanos são povos sem
história, sem humanidade. Kant- africano é
um povo
sem interesse. Levy Brhul- africanos são
povos sem leis. Morgan e Tylor, África é
uma sociedade morta.
Segundo George Pdmore, esta maneira de
tratar o povo africano provocou uma crise no
pensamento, na palavra e no modo de agir do
homem
africano.
Gerard Leclerc classificou a acção europeia
sobre o povo africano como um verdadeiro
vandalismo cultural, narcisista, agressivo e
destruidor.
As primeiras formas de luta do homem negro
pela conquista da sua liberdade foram
sustentadas por tuas vertentes, a saber:
A primeira vertente defendia o seguinte:
O negro só se emanciparia plenamente
voltando à sua terra natal. Esta tinha como
seus representantes o jamaicano Marcus
Garvey
(discípulo de Booker Washington).
A segunda vertente defendia o seguinte:
O homem negro podia viver em pé de
igualdade com os brancos sem precisar sair da
América. Esta tinha como seu representante
William E. B. Du Bois.
A maior dificuldade que Du Bois teve de
enfrentar foi a de levantar a moral do negro.
Du Bois dizia: “sou negro e tenho glória
deste nome;
sou orgulhoso do sangue que corre nas
veias”. Du Bois julgava que os libertadores da
raça negra deveriam ser puramente negros e
que o
negro só se realizaria plenamente na sua terra
natal, em África.
Du Bois acreditava que a emancipação do
negro passava por uma formação técnica e
assumiu que o problema fundamental do
negro não era de ordem
económica, mas sim política. Du Bois era
mulato, por isso Garvey não o considerava
negro. Para Garvey, Du Bois não passava de
um
prolongamento da mão do branco, na medida
em que não concordava com o regresso dos
negros para África. Garvey construiu um navio
para
levar os negros que quisessem voltar à sua
terra de origem.
71
O pan-africanismo
O pan-africanismo surge como manifestação
da solidariedade entre os africanos e os povos
de descendência africana.
Objectivo principal: Unidade política dos
Estados africanos. Sua perspectiva englobava
a federação dos países regionais autónomos e
o seu
enquadramento num conjunto de Estados
Unidos de África.
A história regista que o grande teórico da
Unidade africana foi Kwame Nkrumah
(1909-1972).
O 5º Congresso Pan-africano teve lugar em
Manchester, em Inglaterra, em 1945, no
mesmo, Du Bois passou o testemunho político
a Nkrumah.
Nkrumah teve o mérito de ser o promotor
do conceito African Personality, tendo
trabalhado bastante para a independência do
seu país, o
Gana. Com efeito, o Gana foi o primeiro país
africano a alcançar a sua independência.
Nkrumah e Leopold Sedar Senghor
lideraram dois grupos e dois pontos de vista
que não chegaram a conciliar-se:
Nkrumah- defendia a independência imediata
dos Estados africanos.
Senghor- defendia a ideia de uma
independência gradual dos Estados africanos.
Não menos importante, urge-nos informar que
a primeira conferência pan-africana
realizou-se em Londres, no ano de 1900,
com os
seguintes objectivos:
Encontrar uma protecção contra os
agressores imperialistas brancos e contra a
política colonial.
Lutar pelo direito de todos os africanos
serem tratados como homens, daí o conceito
de pan-africanismo.
Renascimento Negro (Black Renaissance) e
Renascimento africano (African
Renaissance)
A corrente de pensamento Black Renaissance
ou simplesmente Renascimento Negro foi
fundada por Du Bois com o seguinte
objectivo:
Incutir no homem negro a ideia de ser
igual aos brancos.
Despertar no homem negro que não mais
devia permitir a descriminação e tratamentos
desumanos.
72
Du Bois dizia: “(...) que os brancos saibam
que por cada porrada que o branco der a um
negro, nós lhes vamos dar duas; por um negro
morto, nós vamos
matar dois brancos”.
Em Renascent África, Azikiwé escreve:
“Ensinai o africano que renasce a ser
homem”.
No âmbito do renascimento negro,
desenvolveu-se o conceito de African
Personality ou simplesmente personalidade
africana com a
seguinte pretensão:
Defender a tese de que existem
características comuns, atributos essenciais e
únicos que fazem parte do ser de todos os
africanos. Este
conceito teve como seu primeiro fundador
Edward Wilmont Blyden e retomado mais
tarde por Kwame Nkrumah.
Blyden fundou igualmente o conceito “
dignidade do africano” com o objectivo de
provar que a raça negra tinha uma história e
uma cultura
das quais se podia orgulhar. Em suas palavras
dizia: “ Orai e amai a vossa raça. Se não
fordes vós mesmos, se abdicardes da vossa
personalidade, não havereis deixado nada
ao mundo”.
Blyden, quis demonstrar que os costumes e as
instituições da África negra estão em
consonância com as necessidades dos
africanos, e que a
África, pode dar um contributo ao mundo nas
questões de ordem espiritual. Criticou a
civilização europeia, considerando-a dura,
individualista,
competitiva e materialista, diferente daquela, a
civilização africana é na sua concepção, doce
e humana.
Nkrumah via o homem africano como um ser
espiritual dotado de dignidade, integridade e
valor intrínseco.
Filosofia Cultural (Negritude)
A negritude é a totalidade dos valores da
civilização que caracteriza o povo negro; foi
um movimento de protesto contra a submissão
do negro
ao branco. O mesmo, nasce entre os negros
americanos sob o nome de Regresso à África,
de Marcus Garvet e na França sob alçada de
Leopold
S. Senghor, Aimé Cesaire e Léon Gontran
Damas.
Tylor e Morgan juntamente como Levy
Brhul não admitiam a possibilidade haver
culturas que não fossem europeias, facto que
os levou a
considerarem a vida das outras sociedades
como estádios arcaicos de um único processo
cultural no qual a Europa representava o
estádio mais
alto e completo.
73
A negritude era um movimento
principalmente cultural e literário, mas
também com interesses políticos. A revista
“Presence Africaine”
juntamente com Cesaire e mais tarde Senghor
entre 1956 e 1959 difundiram à ideia da
unidade africana no que diz respeito a cultura.
Os maiores impulsionadores da negritude
foram: Senghor, Cesaire e Damas, estes,
resumiram a negritude em três conceitos:
Identidade- o negro deve assumir plenamente
a sua condição;
Fidelidade- atitude que traduz a ligação do
homem negro a terra-mãe;
Solidariedade- sentimento que liga
secretamente todos os irmãos negros.
Aimé Cesaire é considerado o pai da
negritude.
O espírito da negritude é apresentado por
Aimé Cesaire, na obra “Chier d´ un Retour
au Pays Natal” que se considera o hino da
negritude e
do homem negro.
Senghor dizia: (...) quando Cesaire, Damas e
eu próprio nos sentávamos ainda nos bancos
do liceu (...) diziam (...) nós criadores da
nova
geração, queremos exprimir a nossa
personalidade negra sem vergonha em
temor. Se isto agrada aos brancos, ainda
bem. Se não lhes agrada,
não importa.
Na lusofonia, o movimento foi difundido
especialmente pela Junta de Defesa dos
Direitos de África, a Tribuna de África e a
Mensagem, formadas
por africanos e europeus favoráveis à
promoção da cultura negro-africana.
Em 1920, em Lisboa, nasce a Liga Africana
com os seguintes objectivos:
Promover através de todas as mudanças
políticas, o progresso físico, mental e
económico da raça africana nas colónias
portuguesas;
Revogar todas as leis e regulamentos de
excepção contra os africanos ainda existentes
na legislação colonial portuguesa,
especialmente
no que respeita ao direito de propriedade;
Garantir que se torne realidade o livre
acesso de indivíduos de raça africana a todas
as situações sociais e cargos públicos, nas
mesmas
condições exigidas aos indivíduos de raça
branca.
O poema “ Let my people go” (Deixa passar
meu povo), de Noémia de Sousa, é um
exemplo vivo da manifestação do movimento
da negritude.
74
Para Aimé Cesaire a negritude significava:
“reconhecimento do facto de ser negro e a
aceitação deste facto do nosso destino”.
Para Senghor: “ soma total dos valores
africanos”.
O marco da negritude como movimento
literário foi a publicação da revista Légitime
Défense, em Paris, em 1932 sob a alçada de
Étienne
Léro, René Ménil, Jules Monnerot e outros.
Em 1934 Aimé Cesaire e Léon-Gontran
Damas e Senghor fundaram o jornal L´
Étudiant Noir. Na mesma senda, podemos ler
nomes como
Ousmane Socé, Birago Diop, Leonard
Sainville e Aristide Maugé como
pertencentes a esta iniciativa, que tinha como
objectivo: acabar com
a tribalização e com o sistema de clãs que
vigorava no bairro latino.
No âmbito da negritude, Wole Soyinka dizia
que “ o tigre não precisa de proclamar a sua
tigritude”.
FILOSOFIA AFRICANA-INFORMAÇÃO
COMPLEMENTAR
Aimé Cesaire, uma das figuras sonantes em
torno da Filosofia africana, advoga que
Martinica foi o país onde a negritude se
ergueu pela
primeira vez.
Por possuir vários significados e objectivos, a
palavra " negritude " foi considerada
polissémica.
O movimento pan-africanismo emerge numa
atmosfera marcada por dois momentos
históricos: o fim do comércio dos escravos e
o início do
colonialismo.
Nos anos 1900, precisamente nos EUA, regista
- se o primeiro encontro no âmbito do pan-
africanismo, com o objectivo de estruturar a
ideologia necessária para unir os africanos
oprimidos e escravizados pelo colonialismo,
imperialismo.
Em meio a atmosfera de múltiplas ideologias,
no âmbito da luta pela independência do povo
negro e dos países africanos, a questão da
liberdade sempre figurou-se como o
paradigma do pensamento africano.
A obra “ África deve unir-se” pertence ao
filósofo africano Nkrumah.
75
Na perspectiva de Paulin Hountondji, o maior
defensor da etnofilosofia é Alexis Kagame.
No âmbito da filosofia da negritude, a
proposta da união dos negros através da
criação dos chamados estados unidos da
África, incluía três
aspectos fundamentais, nomeadamente: A
efectivação das independências, o
fortalecimento dos países africanos e a
interdependência.
A negritude tem vários significados, a saber:
Damas- tratava - se de negar a assimilação e
defender a própria qualidade de vida do negro.
Cesaire- era a constatação de um facto que se
resolve no regresso e na assunção do destino
da raça.
Senghor- tratava - se da descoberta, defesa e
ilustração do próprio património racial e do
espírito da própria civilização.
Jean Paul Sartre afirma em suas reflexões
que a negritude não é um objectivo final,
mas um princípio para atingir um
objectivo.
O filósofo africano que liderou o movimento
do renascimento negro (Black Renaissance)
foi William E. B. Du Bois.
A ideia da “ possibilidade de o negro encontrar
- se consigo mesmo, de se valorizar e de se
impor para ser valorizado por outras
comunidades
“ enquadra - se na perspectiva da Negritude
como motor do desenvolvimento
humanitário.
Paulin Hountondji foi quem defendeu a ideia
de que a etnofilosofia era uma mundivisão
comunal. Em África, o problema da escrita
como o
elemento importante para a criação de uma
tradição filosófica africana moderna, é uma
realidade exceptuando nas regiões árabes de
África e
na Etiópia, considerados casos especiais.
A escola de pensamento que defende que a
função do filósofo africano em relação à
filosofia africana é de coleccionar e difundir
provérbios,
contos folclóricos e mitos é representada por
John Mbiti.
No âmbito da filosofia política africana, os
políticos africanos contemporâneos, como
Nkrumah, Nyerere, Kaunda e Lithuli
apresentam ideias
divergentes e enfoques. Porém, o seu ponto em
comum é o socialismo.
A ideia de que “ o capitalismo nunca
predominou verdadeiramente na sociedade
tradicional africana, pois, nos tempos antigos,
o africano jamais
tinha aspirado à posse de riqueza pessoal a fim
de dominar os seus próximos” pertence a
Julius Nyerere.
76
A questão mais discutida e que trouxe grandes
controvérsias entre J. Mbiti e P. Hountondji
em torno do debate sobre a filosofia africana
era: O
papel do estatuto da oralidade tradicional
africana.
Na opinião de Kwasi Wiredu, as condições
para a utilização de uma filosofia africana
estão sendo criadas.
Wiredu e Hountondji afirmam que a utilização
de uma filosofia africana ainda constitui um
problema, principalmente na maior parte da
África
subsahariana devido a fraca tradição da
filosofia escrita.
Para Mbiti, a filosofia africana subjaz nos
provérbios, nas máximas e costumes que os
africanos herdaram dos seus antepassados
através da
tradição oral.
Criticando à etnofilosofia, Paulin Hountondji
afirma que “ A filosofia começa onde a
opinião e a sabedoria popular terminam”,
porque ambas
são uma concepção acrítica da tradição e da
autoridade dos costumes.
A filosofia cultural africana é uma das
orientações para a investigação filosófica em
África, sua motivação reside em descobrir os
elementos
típicos da personalidade africana, sua
africanidade e autenticidade.
A filosofia como disciplina profissional é
relativamente nova em muitas partes de
África. Contudo, a sua função é de analisar e
interpretar a
realidade em geral, com relação à realidade
africana.
As palavras: Identidade, Fidelidade e
Solidariedade enquadram - se no contexto da
Negritude sofrimento e revolta. A negritude
surge
entre os negros americanos de diversas formas.
E mais, pelos escritores africanos a partir dos
anos 30.
O lema “ Back to África ” ou simplesmente
Regresso à África foi um movimento da
negritude da autoria de Marcus Garvey.
Para Placide Tempels sempre existiu filosofia
africana. Para Leopold S. Senghor, a
negritude é essencialmente um conjunto de
valores
culturais presentes nos povos negros.
Segundo Wiredu, a filosofia africana existe,
porque responde às interrogações
fundamentais do homem.
O hino da negritude e do homem negro “
Cahier d’un retour au pays natal” que
exprime o espírito do movimento encontra - se
na poesia de
Aimé Cesaire.
77
Segundo Anyanwu, o método da filosofia
africana consiste na análise da experiência
africana, cultura e princípios sobre os quais
se rege.
A primeira forma de rebelião contra a
alienação cultural tomou a forma de Filosofia
da Negritude. A origem da negritude é
Harlem.
As grandes figuras do Renascimento negro
foram: Du Bois, B. Washington e M Garvey.
O lema “ desenvolvimento segregado”
pertence a Booker Washington.
A expressão “ A negritude aparece como
tempo fraco duma progressão dialéctica
contra a afirmação teórica e prática da
supremacia
do branco” pertence a Jean Paul Sartre.
A obra “ Consciencismo” que tinha como
objectivo promover um desenvolvimento
harmonioso da sociedade africana, que passa
pela integração dos
aspectos e valores da presença muçulmana,
euro- cristã e da sociedade tradicional,
pertence à Kwame Nkrumah.
Os precursores da filosofia africana foram: P.
Hountondji e L. Senghor.
A orientação da filosofia africana que se
interessa pela recuperação do socialismo
científico enraizado no próprio passado
africano era
sustentada por Julius Nyerere.
O renascimento negro foi uma das diversas
manifestações do surgimento da negritude no
meio norte- americano.
Cris foi uma revista que incentivava o diálogo
entre negros e brancos.
Em África, a negritude contou com a
liderança incontestável de Kwame Nkrumah.
L’ etudiant noir foi um movimento criado no
âmbito da
negritude.
Em Cuba fundou se o movimento Negrismo,
com o objectivo de fortificar a negritude. “ É
hora de ficarmos em guarda, pois se num
primeiro
momento o vocabulário era escorregadio,
agora é o conceito que se abre a mais de uma
interpretação, obrigando – nos a falar em
negritudes e não mais em
Negritude” (Zilá Bernard). Um dos
elementos que esteve ligado a esta
fragmentação é o célebre prefácio de Jean
Paul Sartre, intitulado Orphée noir.
Nkrumah, foi quem idealizou a unidade
africana e igualmente autor da obra “ África
deve unir-se”. A autoria da palavra Negritude
é atribuída
ao poeta da Martinica Aimé Cesaire.
A expressão “ Negritude, um novo desafio
em busca da africanidade” pertence ao
período pós - independência.
78
As revistas Présence africaine e Tropiques
notabilizaram-se em Cuba e Brasil, tendo
conquistado vários adeptos.
Hait, foi o primeiro país da América a se
tornar independente e a abolir a escravatura
em 1804, este, contribuiu sobremaneira para
movimento
da negritude ao fundar o indigenismo.
O conceito África Personality que se opõe
normalmente ao conceito de negritude, está
estritamente ligado à Kwame Nkrumah.
Em África, a filosofia é vista como uma
disciplina académica e profissional.
A proposta da união dos negros, através da
criação dos chamados estados unidos de
África, incluía três aspectos fundamentais
nomeadamente:
A efectivação das independências,
fortalecimento dos países africanos e
interdependência.
O pensamento “ Em África, embora exista
filosofia, não há filósofos” quer dizer, em
África, a filosofia é integralmente colectiva,
comunal e
não uma actividade individual é da autoria de
Hountondji.
A obra “ Peau noire, masques blancs” que
relata uma experiência vivida de um negro, as
dificuldades que o homem de cor encontra ao
enfrentar o mundo branco, tem como autor
Franntz Fanon.
Para Hountondji, a filosofia pode identificar
- se como uma disciplina científica, teorética
e individual.
A etnofilosofia é uma das correntes da
filosofia africana. O seu objecto de reflexão é
a totalidade dos costumes e crenças comuns
de um
povo.
A difusão da ideologia pan-africanista atingiu
o seu ponto mais alto com o fim do comércio
dos escravos. Para Leopold Sedar Senghor, a
negritude é essencialmente a consciência do
ser africano.
O pan-africanismo tinha como objectivo,
traçar uma ideologia para unir os africanos
oprimidos.
Integração política – regional na União
Africana
A UA (União Africana) pretendia dar
continuidade aos objectivos da OUA, mas com
uma estrutura mais reduzida com um governo
central e
um parlamento, à semelhança do que tinha
idealizado Kwame Nkrumah na década de
1960.
79
Um dos projectos da UA era a NEPAD -a
Nova Parceira para o Desenvolvimento da
África, que pretendia pôr em prática a visão
panafricanista dos líderes africanos, tal, visão
consistia na ajuda mútua entre os países
africanos, com o objectivo de promover o
desenvolvimento sustentável de África. Era
uma visão a longo prazo, baseada na parceria
dos países africanos, que estrategicamente
mobilizaria recursos africanos para a criação
de riqueza. As planificações e organização
seriam desenvolvidas de uma forma
sincronizada com a
integração de recursos, implementação,
avaliação e controlo de programas pelos
próprios africanos.
A NEPAD é, em suma, uma atitude. É uma
forma africana de estar no mundo, é o resgate
da agenda africana, é a restituição dos
benefícios do
trabalho àqueles que, de facto, trabalham,
independentemente do género e da condição
social; é uma forma africana de integração
mundial. Metafísica
Somos impedidos de falar da metafísica sem
fazermos menção a ontologia.
Etimologicamente, a ontologia deriva do grego
onto- que significa
indivíduo, e logia- que significa sabedoria,
saber, etc.
Na metafísica geral, a palavra ontologia é
definida como parte da filosofia que se
dedica ao estudo do ser enquanto ser, isto é,
estudo do
ser na sua totalidade e não enquanto isto ou
aquilo. Ser é tudo quanto existe, de maneiras
que ao negarmos o Ser, negamos igualmente,
tudo que nos rodeia incluindo aquilo que não
conseguimos ver, tocar, sentir, etc.
A palavra metafísica é da autoria de
Andrónico de Rodes, a significar “ tudo o que
está depois da física, ou seja, para além da
física. Rodes,
não definiu a metafísica, somente atribuiu-lhe
um significado. A definição da metafísica nos
é dada por Aristóteles, este, definiu - a como o
estudo das primeiras causas e dos primeiros
princípios, ou seja, estudo de tudo aquilo
que ultrapassa o campo da experiência e
que é
objecto de pura reflexão.
O Ser pode realizar-se de dois modos:
Na forma real como (substância e acidente) e
ideal como (ente da razão).
Categorias do ser: Substância e acidente.
Entende-se por categoria, os diversos modos
de ser. Ex:
Ser como substância: é tudo aquilo que é
pelas suas determinações e não em ou por
outra coisa. Ex: Casa, carro, quadro, etc.
Segundo Aristóteles, existem dois tipos de
substâncias: substância primeira e
substância segunda.
96
Substância primeira: são todas as coisas que
se apresentam de forma individual, ou seja, as
coisas na sua singularidade. Ex: cadeira,
caderno,
casa, copo, etc.
Substância segunda: São todas as coisas que
existem enquanto pensamento e que culminam
em definições. Ex: felicidade, tristeza, dor,
mágoa,
angústia, etc.
Acidente: é o predicado de uma determinada
substância. Ex: O meu carro é amarelo. O
Mário é alto.
Na óptica de Aristóteles, o conceito de Ser
especifica-se em dez categorias:
1- Substância
2- Qualidade- é a forma ou determinação da
substância. Ex: humilde, chato, arrogante, etc.
3- Quantidade - tudo aquilo que podemos
tomar como grande, pequeno, normal, etc.
4- Relação é a ligação entre as substâncias ou
acidentes. Ex: Mestre, neto, avô, pai, filho,
sobrinho, tio, etc.
5- Tempo: momento no qual as coisas
acontecem ou se realizam. Ex: de tarde, noite,
madrugada, 11 de Fevereiro de 2020- morte de
Marcelino
dos Santos.
6- Lugar-espaço ocupado por um corpo. Ex:
na praia, no banco, na Igreja, etc.
7- Acção- é aquilo que é feito pela substância.
Ex: falar, quebrar, deslocar-se, etc.
8- Estado- luxo, ostentação, bens materiais,
dinheiro, etc.
9- Posição - lugar ou postura relativa ocupada
pela substância. Ex: de joelhos a rezar, sentado
à pedalar, sentado à escrever, etc.
97
10- Paixão - sentimento ou emoção
manifestado/a por um sujeito, que voltando a
lucidez e razão dão origem a uma determinada
substância.
Ex: sofrimento por uma mágoa, a prisão de um
filho, a morte de um parente, etc.
Potência e acto
A Potência- é a possibilidade de mudança, a
capacidade que a matéria tem de se tornar
acto.
O acto- é a realização da potência. O acto
explica o que os seres são, por sua vez, a
potência explica o que os seres podem vir a
ser.
Essência e Existência
Essência- é tudo aquilo que faz com que uma
coisa seja o que realmente é, distinguindo - se
das outras coisas. Corresponde a questão: que
é
isto?
Existência- é a actualização da essência.
Corresponde a questão: existe?
A cadeia aristotélica das causas
Aristóteles distingue 4 causas para a
produção das coisas, saber:
1- Causa eficiente- responde à questão: quem
fez?
2- Causa material- responde à questão: de
quê é feito?
3- Causa formal- responde à questão: como
está feito?
4- Causa final- responde à questão: para que
foi feito?
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Tomás de Aquino
Para Aquino, Deus é aquilo que supera todos
os nossos pensamentos, contudo, cabendo
nosso pensamento. Aquino apresenta cinco
vias
tendentes a provar a existência de Deus.
1- Do movimento ao motor imóvel- o
movimento do mundo só terá explicação se
existir um motor imóvel- Deus
2- Das causas segundas a causa primeira- as
causas eficientes tem explicação numa causa
incausada- Deus.
2- Do ser contingente ao ser necessário- os
seres sensíveis são contingentes, nascem e
morrem. Assim, admite- se que existe um ser
necessário, do qual tem origem todos os outros
seres- Deus
3- Dos graus de perfeição ao absolutamente
perfeito- os graus de perfeição devem ser
aproximações a uma máxima perfeição, o
absolutamente perfeito- Deus
4- Da ordem do cosmos ao supremo
ordenador- n existe uma ordem e finalidade
no mundo, que pressupõem a existência de
uma
inteligência ordenadora superior a mente
humana, essa inteligência ordenadora é Deus.
A Metafísica e o fim último do homem
A grande questão que se coloca no âmbito do
fim último do homem é: Para que fins o
homem foi criado. Várias foram as tentativas
na busca
de uma resposta a esta questão:
Aristóteles - na obra Ética ao Nicómaco, o
filósofo afirma que a acção humana tem como
fim o bem soberano, nada mais nada menos
que
felicidade.
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Ser feliz é o fim último da existência humana,
e tem como chave para a felicidade, três
elementos fundamentais: prazer, ser cidadão
livre, responsável
e viver segundo a razão.
Sto. Agostinho- para este, o homem é
chamado a ser feliz, compreendendo por
felicidade a busca de um bem permanente
(Deus).
Tomás de Aquino- segundo Aquino, o
homem é o único que age em função de um
fim, seus actos pressupõem razão e vontade-
livre arbítrio.
O objecto da vontade do agir humano é o
bem.
Dante- para este pensador, o homem possui
dois fins:
➢ Fim sobrenatural- a salvação das almas
individuais
Fim natural- a felicidade terrena, que
consiste na satisfação das necessidades
materiais e a formação das virtudes morais do
homem
como ser social.
Brazão Mazula- para este, o homem deve agir
de acordo com a ética da felicidade,
entendendo por ética da felicidade o trabalho
duro, a
criatividade, a honestidade e não a
acumulação ilícita de bens.