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Introdução ao estudo da Filosofia / Material de apoio – Ad usum privatum discipulorum est / Prof. Graciano Tavares, M.Phil.

TEMA II: A FILOSOFIA AFRICANA

2.1. Existência e não existência da filosofia africana

A expressão filosofia africana é usada de múltiplas formas por diferentes filósofos.


Embora diversos filósofos africanos tenham contribuído para diversas áreas, com a metafísica,
epistemologia, filosofia moral e filosofia política, uma grande parte dos filósofos discute se a
filosofia africana de facto existe. Um dos mais básicos motivos de discussão sobre a filosofia
africana gira em torno da aplicação do termo “africano” , ou seja, se o termo se refere ao
conteúdo da filosofia ou à identidade dos filósofos. Na primeira visão, a filosofia africana seria
aquela que envolve temas africanos ou que utiliza métodos que são distintamente africanos. Na
segunda visão, a filosofia africana seria qualquer filosofia praticada por africanos ou pessoas
de origem africana.

O adjectivo “africana”, mencionado acima, no tema, é que qualifica a palavra filosofia;


é formado a partir da palavra “África” que, segundo alguns estudiosos da linguagem, deriva do
grego “aphriké”, do berbere, “awrigas”, de “afryquah”, significando colónia, e, do latim,
“aprica”, significando “exposto ao sol”, e da inconstância sócio-económico-política do
continente africano, forja-se, falaciosamente, a ideia de que o povo africano não tem “queda”,
ou seja, ‘capacidades’ para a filosofia, não tem ‘cabeça’ para abstracção, para metafísica.
Porém, isto não corresponde à verdade.

Vejamos:

Tenha-se em conta que o povo africano filosofa, tem, sim, “cabeça filosófica”.
Metafisicamente falando, os africanos possuem palavras e termos que remetem à ideia, a
conceitos ontológicos, tais como: em Iorubá (língua africana): “ni”, significa ser; mõ, significa
conhecer; “ofifo”; significa o nada. Para os bantu1 (noutras línguas africanas), “ntu2” expressa,
igualmente, a ideia de ser. A partir do conceito de ser (ntu), a cultura bantu deriva quatro
categorias de tudo o que se pode conhecer:

1. “muntu” conceitua o ser-de-inteligência (o ser humano);


2. “kintu”, significa o ser-sem-inteligência (as coisas);
3. “hantu” expresa o ser-localizador (lugar-tempo);
4. O ser modal (modificação do ser)3.

1
Bantu – tenha-se em conta que o termo bantu aplica-se a uma civilização que conserva a sua unidade e foi
desenvolvido por povos de raça negra. Nunca se refere a uma unidade racial, mas a vários povos que têm uma
cultura idêntica. O radical “ntu” significa «homem», «pessoas humanas» e é comum em muitas línguas bantu. O
prefixo “ba” forma o plural da palavra muntu que quer dizer «pessoa». Assim sendo, bantu significa «seres
humanos», «pessoas», «homens», «mulheres», «povo». No tocante à sua origem, o povo Bantu não deve ser
considerado como povo indígena, nas áreas onde está localizado actualmente. Este povo emigrou. Supõe-se que
este povo saiu, provavelmente, das terras do Sudeste Sariano ou do Lago Tchad. O Sudão e a Somália são as
possíveis terras de origem do povo Bantu. É um povo que já utiliza o ferro. Existem, aproximadamente, 500 povos
de civilização bantu.
2
Ntu – o radical “ntu”, como já o dissemos na nota precedente, significa «homem», «pessoas humanas» e é comum
em muitas línguas bantu.
3
MUANZA, Mambu Teresa, Manual Didáctico de Filosofia - 12.ª classe à luz da Reforma Educativa Angolana,
2.ª ed., Tübingen: Hndelsdruckerei Müller und Bass, 2015, p. 186.

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Além dessas quatro categorias, na filosofia africana, especificamente na filosofia bantu,


são de suma importância estes conceitos: unificação de lugar e tempo, distinção entre o existir
e o viver4.

Alguns pensadores africanos entendem que os conceitos filosóficos chegam a eles através
da música, da percussão, da religião e da dança.

Tenha-se em conta que o homem bantu é, incontestavelmente, um ser cultural e social.


Daí que não podemos deixar de frisar alguns aspectos que se encontram latentes na cultura do
povo africano tais como: a preservação de hábitos, usos, costumes, histórias, etc. que desde já
foram feitos com base na oralidade o que é próprio das classes iletradas, embora esta mesma
transmissão e preservação de hábitos, usos, costumes, e não só, fundamente a identidade do
povo africano.

À guisa de conclusão, podemos dizer aqui, sem receio de errar, que a filosofia africana
existe, sim, ela é, indubitavelmente, um facto.

2.1. As principais correntes da filosofia africana

As principais correntes da filosofia africana são: o Pan-africanismo, a Negritude, a


Etnofilosofia e a Filosofia da Libertação.

2.1.1. O Pan-africanismo

Decompondo a palavra “pan-africanismo”, vemos que é de origem ambígena, do


grego, pan (tudo, todo, toda, inteiro, completo, o universo, o mundo) e africanismo (referindo-
se ao estudo das coisas africanas). A origem do termo é inserida na corrente filosófico-política
historicista do século XIX sobre o destino dos povos. O termo surge como necessidade de unir
grande conjunto de cultura ou “nações naturais” a partir do expansionismo imperialista
ocidental. É discutido se a autoria da expressão pertence a William Edward Burghardt Du Bois
ou Henry Sylvester Williams.

O vocábulo “pan-africanismo” foi explicado como a doutrina política defendida pela


irmandade africana, libertação do continente africano de seus colonizadores e ao
estabelecimento de um Estado que buscasse a unificação de todo o continente sob um governo
africano. O pan-africanismo é uma ideologia que propõe a união de todos os povos da
África como forma de potencializar a voz do continente no contexto internacional.

Na segunda metade do século XX, pelo surgimento da Organização de Unidade Africana,


o pan-africanismo tem sido mais defendido fora de África, entre os descendentes dos africanos
escravizados que foram levados para as Américas até ao século XX e dos emigrantes mais
recentes.

4
Ibidem.

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Em outras palavras, o pan-africanismo é um movimento político, filosófico e social que


promove a defesa dos direitos do povo africano e da unidade do continente africano no âmbito
de um único Estado soberano, para todos os africanos, tanto na África como na diáspora.

O pan-africanismo foi desenvolvido na diáspora americana descendentes de africanos


escravizados e pessoas nascidas na África a partir de meados do século XX como William
Edward Burghardt Du Bois e Marcus Garvey, entre outros, e posteriormente levados para a
arena política por africanos como Kwame Nkrumah. No Brasil foi divulgada amplamente por
Abdias Nascimento. No entanto, Henry S. Williams e o William Edward Burghardt Du Bois
são considerados como os pais do pan-africanismo.

Este movimento social, com várias vertentes, que têm uma história que remonta ao início
do século XIX, o pan-africanismo tem influenciado a África a ponto de alterar radicalmente a
sua paisagem política e ser decisiva para a independência dos países africanos. Ainda assim, o
movimento tem conseguido dois dos seus principais objectivos, a unidade espiritual e política
da África, sob o pretexto de um Estado único, e pela capacidade de criar condições de
prosperidade para todos os africanos. Originalmente, o pan-africanismo centrava-se mais sobre
a questão racial do que na geográfica.

2.1.2. A Negritude

Negritude (em francês, Négritude) foi o nome dado a uma corrente literária que agregou
escritores negros de países que foram colonizados pela França. Dentre os objectivos da
Negritude temos a valorização da cultural negra em países africanos ou com populações afro-
descendentes expressivas que foram vítimas da opressão colonialista.

Considera-se que foi René Maran, autor de Batouala, o precursor da negritude. Todavia,
foi Aimé Césaire quem criou o termo em 1935, no número 3 da revista L'étudiant noir (“O
estudante negro”).

Com o conceito pretendia-se em primeiro lugar reivindicar a identidade negra e sua


cultura, perante a cultura francesa dominante e opressora, e que, ademais, era o instrumento da
administração colonial francesa. O conceito foi retomado mais adiante por Léopold Sédar
Senghor, que o aprofunda, opondo a razão helénica à emoção negra.

A Negritude é um movimento de exaltação dos valores culturais dos povos negros. É a


base ideológica que vai impulsionar o movimento independentista na África e uma versão
glorificada dos valores africanos. O nascimento deste conceito, e o da revista Présence
Africaine (em 1947) de forma simultânea em Dakar e Paris terá um efeito explosivo.

Um dos aspectos mais provocativos do termo é que ele utiliza para forjar o conceito a
palavra nègre, que é a forma pejorativa de intitular os negros em francês, em lugar do vocábulo-
padrão noir, muito mais correcta e adequada no terreno político.

Segundo Senghor, a Negritude é o conjunto de valores culturais da África negra. Para


Césaire, esta palavra designa em primeiro lugar a repulsa. Repulsa ante a assimilação cultural;

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repulsa por uma determinada imagem do negro tranquilo, incapaz de construir uma
civilização. O cultural está acima do político.

Alguns escritores negros e mestiços criticaram o conceito, ao considerar que era


demasiado simplificador: o tigre não declara sua "tigritude". Salta sobre sua presa e a
devora (Wole Soyinka). O próprio Césaire se distanciou do termo, ao considerá-lo quase
racista.

De qualquer forma, trata-se de um conceito elaborado num momento em que os


intelectuais indígenas negros, tanto antilhanos quanto africanos, se encontravam na metrópole,
e tinham pontos em comum bastante difusos (cor de pele, idioma do colonizador, etc.). De facto,
alguns autores entendem que relações de amizade pessoais forjaram identidades comuns que
não existiam na realidade.

2.1.3. A Etnofilosofia

O termo “etnofilosofia” tem sido usado para designar as crenças encontradas nas culturas
africanas. Tal abordagem trata a filosofia africana como consistindo em um conjunto de
crenças, valores e pressupostos que estão implícitos na linguagem, práticas e crenças da cultura
africana. Um dos defensores desta proposta é Placide Tempels, que argumenta que a metafísica
do povo Bantu está reflectida em sua linguagem. Segundo essa visão, a filosofia africana pode
ser melhor compreendida a partir a realidade reflectida nas línguas da África.

Um exemplo deste tipo de abordagem é a defendida por E. J. Algoa, da universidade


nigeriana de Port Harcourt, que defende a existência de uma filosofia da história decorrente dos
provérbios tradicionais do Delta do Níger, em seu artigo “Uma Filosofia da História Africana
na Tradição Oral”. Algoa argumenta que, na filosofia africana, a idade é vista como um factor
importante na obtenção de sabedoria e de interpretação do passado. Em apoio dessa tese, ele
cita provérbios como “Mais dias, mais sabedoria” e “O que um velho vê sentado, o jovem não
vê em pé”. A verdade é vista como eterna e imutável (“A verdade nunca apodrece”), mas as
pessoas estão sujeitas ao erro (“Mesmo um cavalo de quatro patas tropeça e cai”).

Também é perigoso julgar pelas aparências (“Um olho grande não significa uma visão
aguçada”), mas em primeira mão, ela pode ser confiável (“Aquele que vê, não erra”). O passado
não é visto como fundamentalmente diferente do momento actual, mas a história é vista como
um todo (“Um contador de histórias não fala de épocas diferentes”). Segundo esses provérbios,
o futuro vai além do conhecimento (“Mesmo um pássaro com um longo pescoço não poderá
prever o futuro”). No entanto, também é ditoː “Deus vai sobreviver à eternidade”. A história é
vista como sendo de importância vital (“Um ignorante sobre sua origem não é um humano”),
e os historiadores, conhecidos como “filhos da terra” são altamente respeitados (“Os filhos da
terra possuem os olhos aguçados de uma píton. Esses argumentos representam apenas um lado
da vasta cultura africana, constituída por patriarcados, matriarcados, monoteísmo e animismo.

Outra aplicação mais controversa dessa abordagem está incorporada no conceito de


negritude. Léopold Sédar Senghor, um dos criadores desse conceito, argumentou que a
abordagem nitidamente africana para a realidade é baseada mais na emoção do que na lógica,

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se manifestando através das artes e não através da ciência e da análise . Cheikh Anta Diop e
Mubabinge Bilolo, por outro lado, embora concordem que a cultura africana é única, contestam
essa opinião, destacando que o Antigo Egipto estava inserido na cultura africana quando deu
grandes contribuições para as áreas da ciência, matemática, arquitectura e filosofia, fornecendo
uma base para a civilização grega.

Os críticos dessa abordagem argumentam que o verdadeiro trabalho filosófico está sendo
feito pelos filósofos académicos, e que palavras de uma determinada cultura podem ser
seleccionadas e organizadas de muitas maneiras, a fim de produzir sistemas de pensamentos
muitas vezes contraditórios.

A sagacidade filosófica (Sage Philosophy, literalmente, “filosofia do sábio”) é uma


espécie de visão individualista da etnofilosofia. Foi criada na década de 1970 por Henry Odera
Oruka e consiste no registo das crenças dos “sábios” das comunidades tradicionais africanas. A
premissa aqui é que, embora a maioria das sociedades exija algum grau de conformidade de
crença e comportamento de seus membros, alguns desses membros (os sábios) chegam a níveis
superiores de conhecimento e entendimento de suas culturas e visão de mundo. Em alguns
casos, o sábio vai além do mero conhecimento e compreensão, atingindo a reflexão e o
questionamento – tornando-se, então, exemplo de sagacidade filosófica.

Os críticos dessa abordagem argumentam que nem todos os questionamentos e reflexões


são filosóficos. Além disso, se a filosofia africana for definida apenas em termos de sagacidade
filosófica, então os pensamentos dos sábios não poderiam se enquadrar na filosofia africana,
pois não foram obtidos de outros sábios. Também, por esse ponto de vista, a única diferença
entre os antropólogos não africanos e os filósofos africanos seria apenas a nacionalidade do
pesquisador.

2.1.3.1. Da etnologia à Etnofilosofia

O aparecimento, em 1949, no Congo Belga, da tradução francesa da obra do padre Placide


Tempels, missionário belga, intitulada La Philosophie Bantou, marcou o início da produção
filosófica escrita de África. A partir dos dados etnográficos e servindo-se da filosofia escolástica
como modelo, este sacerdote tenta elaborar uma filosofia sistemática do homem negro. A sua
tese é que o comportamento do bantu deve ser compreendido como um comportamento racional
que se apoia sobre um sistema de pensamento coerente. Isto levou-o a afirmar, naquela altura,
que o negro era plenamente homem e plenamente racional. Tempels chegou até a convidar a
administração colonial a uma séria auto-crítica justamente por ter ignorado os valores e as
práticas culturais do povo bantu. O reconhecimento desta humanidade e, portanto, de uma
filosofia bantu foi a primeira condição necessária e quase suficiente para normalização das
relações entre as raças e para a resolução da crise política nas colónias.

A filosofia bantu de Tempels pretende também ser uma crítica à teoria do pré-logismo de
Levy-Brhul. Ao contrário deste, Tempels descobre nos povos negros um sistema de princípios
que é um conjunto de ideias, um sistema lógico, uma filosofia completa do universo, do homem
e das coisas que o circundam, da existência, da vida, da morte e da sobrevivência. Em suma,
uma concepção da existência logicamente coerente.

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Neste sentido, a filosofia de Tempels apresentava-se como a realização etnológica5 por


excelência, isto é, uma ciência que permite compreender verdadeiramente os “primitivos” com
tudo o que tal compreensão pressuponha a penetração filosófica.

E uma vez conquistada esta penetração, ela oferecerá a chave de todos os enigmas de
todos os aspectos do comportamento do homem primitivo.

Para Tempels, não é preciso que se diga ao bantu apresente um tratado de filosofia
exposto através de um vocabulário adequado; só a nossa formação intelectual nos pode permitir
um desenvolvimento sistemático, nós é que podemos dizer-lhe de uma maneira exacta qual é o
conteúdo das suas concepções de ser de tal maneira que se reconheça nas nossas palavras e
possa concordar dizendo: “Tu compreendeste-me completamente, tu sabes da mesma maneira
que nós sabemos”. Segundo Tempels, o valor supremo do bantu é Força Vital que, por sua vez,
está, inseparadamente, ligada ao ser. Portanto, o ser é quem possui a força, o ser é a força que
a nível da psicologia mais tarde Tempels transforma numa força pessoal e a nível moral (e se o
mal existe) é enquanto etapa em direcção à restauração vital.

A filosofia africana existe como todas as outras filosofias sob forma de literatura. Que
tipo de literatura se refere aqui? De número de textos escritos, no sentido rigoroso da palavra?
De salientar que a palavra não escrita, a que chamamos normalmente de tradição oral é também
uma forma de literatura6.

2.1.4. Filosofia da libertação

A filosofia da libertação surge de uma posição clara e comprometida com a realidade


latino-americana. Trata-se, portanto, de uma filosofia que começa a nascer a partir da
consciência de que esta é a América Latina e não a Europa. É uma filosofia comprometida com
a realidade histórica ao qual está inserida, e procura pensar e responder às exigências dessa
realidade.

Muitos temas tratados por filósofos latino-americanos deste período assemelham-se aos
temas tratados por filósofos africanos desta mesma época. Isto, tendo em conta o contexto
histórico vivido por ambos os continentes. Entre eles destacam-se: o carácter e a finalidade da
filosofia, a relação entre filosofia e revolução, a questão da consciência e libertação nacionais,
a filosofia como factor de libertação, etc.

Ao analisar todos os aspectos já supracitados, não podemos deixar de mencionar a luta


dos poetas africanos de língua portuguesa e das circunstâncias que transformaram as suas

5
Etnológica – de etnologia que significa “teoria explicativa geral dos factos propostos pela etnografia (estudo
descritivo das instituições e dos factos da civilização dos diversos povos ou etnias); estudo dos povos integrados
no contexto dos seus agrupamentos naturalmente constituídos: a linguística, a antropologia, o folclore, etc”;
“antropologia cultural”.
6
Literatura (oral) – O termo foi criado por Paul Sebillot (1846-1918), no seu Littérature Orale de la Haute
Bretagne (1881) e reúne miscelânea de narrativas e de manifestações culturais de fundo literário, transmitidas
oralmente, isto é, por processos não-gráficos. Essa miscelânea é constituída de contos, lendas, mitos,
adivinhações, provérbios, parlendas, cantos, orações, frases-feitas tornadas populares, estórias … (Câmara
Cascudo).

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poesias em armas contra o colonialismo e contra todos os que não os reconheciam como
intelectuais autónomos, defensores de uma cultura e de uma história.

Na poesia africana em língua portuguesa estão a luta e a dor reflectidas em objectos


míseros, estão também a proclamação libertadora e o panfleto que representam, nem mais nem
menos, além de deslizes tópicos, o desejo de dizer tudo, precisamente, a palavra: a boca que diz
é a boca que constrói e define o acto da dicção.

Além das circunstâncias históricas que explicam e identificam os poemas de Angola,


Moçambique, ou São Tomé, circunstâncias que vão das formas embrionárias da independência
até à luta armada pela libertação, deve-se destacar, em primeiro lugar, o facto de menosprezo
humano e social justificado pela cor da pele. Deste primeiro ponto, surgem de imediato os
contactos e pontos em comum com outros poetas e lutadores negros de países como Cuba,
Brasil, Argentina, etc.

Naquela época, o intercâmbio filosófico entre o pensamento africano e latino-americano


de libertação ficou restrito apenas a alguns autores, contudo, não deixando de constituir um
marco histórico.

Professor: Graciano Tavares, M.Phil.

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