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Vejamos:
Tenha-se em conta que o povo africano filosofa, tem, sim, “cabeça filosófica”.
Metafisicamente falando, os africanos possuem palavras e termos que remetem à ideia, a
conceitos ontológicos, tais como: em Iorubá (língua africana): “ni”, significa ser; mõ, significa
conhecer; “ofifo”; significa o nada. Para os bantu1 (noutras línguas africanas), “ntu2” expressa,
igualmente, a ideia de ser. A partir do conceito de ser (ntu), a cultura bantu deriva quatro
categorias de tudo o que se pode conhecer:
1
Bantu – tenha-se em conta que o termo bantu aplica-se a uma civilização que conserva a sua unidade e foi
desenvolvido por povos de raça negra. Nunca se refere a uma unidade racial, mas a vários povos que têm uma
cultura idêntica. O radical “ntu” significa «homem», «pessoas humanas» e é comum em muitas línguas bantu. O
prefixo “ba” forma o plural da palavra muntu que quer dizer «pessoa». Assim sendo, bantu significa «seres
humanos», «pessoas», «homens», «mulheres», «povo». No tocante à sua origem, o povo Bantu não deve ser
considerado como povo indígena, nas áreas onde está localizado actualmente. Este povo emigrou. Supõe-se que
este povo saiu, provavelmente, das terras do Sudeste Sariano ou do Lago Tchad. O Sudão e a Somália são as
possíveis terras de origem do povo Bantu. É um povo que já utiliza o ferro. Existem, aproximadamente, 500 povos
de civilização bantu.
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Ntu – o radical “ntu”, como já o dissemos na nota precedente, significa «homem», «pessoas humanas» e é comum
em muitas línguas bantu.
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MUANZA, Mambu Teresa, Manual Didáctico de Filosofia - 12.ª classe à luz da Reforma Educativa Angolana,
2.ª ed., Tübingen: Hndelsdruckerei Müller und Bass, 2015, p. 186.
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Introdução ao estudo da Filosofia / Material de apoio – Ad usum privatum discipulorum est / Prof. Graciano Tavares, M.Phil.
Alguns pensadores africanos entendem que os conceitos filosóficos chegam a eles através
da música, da percussão, da religião e da dança.
À guisa de conclusão, podemos dizer aqui, sem receio de errar, que a filosofia africana
existe, sim, ela é, indubitavelmente, um facto.
2.1.1. O Pan-africanismo
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Ibidem.
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Este movimento social, com várias vertentes, que têm uma história que remonta ao início
do século XIX, o pan-africanismo tem influenciado a África a ponto de alterar radicalmente a
sua paisagem política e ser decisiva para a independência dos países africanos. Ainda assim, o
movimento tem conseguido dois dos seus principais objectivos, a unidade espiritual e política
da África, sob o pretexto de um Estado único, e pela capacidade de criar condições de
prosperidade para todos os africanos. Originalmente, o pan-africanismo centrava-se mais sobre
a questão racial do que na geográfica.
2.1.2. A Negritude
Negritude (em francês, Négritude) foi o nome dado a uma corrente literária que agregou
escritores negros de países que foram colonizados pela França. Dentre os objectivos da
Negritude temos a valorização da cultural negra em países africanos ou com populações afro-
descendentes expressivas que foram vítimas da opressão colonialista.
Considera-se que foi René Maran, autor de Batouala, o precursor da negritude. Todavia,
foi Aimé Césaire quem criou o termo em 1935, no número 3 da revista L'étudiant noir (“O
estudante negro”).
Um dos aspectos mais provocativos do termo é que ele utiliza para forjar o conceito a
palavra nègre, que é a forma pejorativa de intitular os negros em francês, em lugar do vocábulo-
padrão noir, muito mais correcta e adequada no terreno político.
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repulsa por uma determinada imagem do negro tranquilo, incapaz de construir uma
civilização. O cultural está acima do político.
2.1.3. A Etnofilosofia
O termo “etnofilosofia” tem sido usado para designar as crenças encontradas nas culturas
africanas. Tal abordagem trata a filosofia africana como consistindo em um conjunto de
crenças, valores e pressupostos que estão implícitos na linguagem, práticas e crenças da cultura
africana. Um dos defensores desta proposta é Placide Tempels, que argumenta que a metafísica
do povo Bantu está reflectida em sua linguagem. Segundo essa visão, a filosofia africana pode
ser melhor compreendida a partir a realidade reflectida nas línguas da África.
Também é perigoso julgar pelas aparências (“Um olho grande não significa uma visão
aguçada”), mas em primeira mão, ela pode ser confiável (“Aquele que vê, não erra”). O passado
não é visto como fundamentalmente diferente do momento actual, mas a história é vista como
um todo (“Um contador de histórias não fala de épocas diferentes”). Segundo esses provérbios,
o futuro vai além do conhecimento (“Mesmo um pássaro com um longo pescoço não poderá
prever o futuro”). No entanto, também é ditoː “Deus vai sobreviver à eternidade”. A história é
vista como sendo de importância vital (“Um ignorante sobre sua origem não é um humano”),
e os historiadores, conhecidos como “filhos da terra” são altamente respeitados (“Os filhos da
terra possuem os olhos aguçados de uma píton. Esses argumentos representam apenas um lado
da vasta cultura africana, constituída por patriarcados, matriarcados, monoteísmo e animismo.
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se manifestando através das artes e não através da ciência e da análise . Cheikh Anta Diop e
Mubabinge Bilolo, por outro lado, embora concordem que a cultura africana é única, contestam
essa opinião, destacando que o Antigo Egipto estava inserido na cultura africana quando deu
grandes contribuições para as áreas da ciência, matemática, arquitectura e filosofia, fornecendo
uma base para a civilização grega.
Os críticos dessa abordagem argumentam que o verdadeiro trabalho filosófico está sendo
feito pelos filósofos académicos, e que palavras de uma determinada cultura podem ser
seleccionadas e organizadas de muitas maneiras, a fim de produzir sistemas de pensamentos
muitas vezes contraditórios.
A filosofia bantu de Tempels pretende também ser uma crítica à teoria do pré-logismo de
Levy-Brhul. Ao contrário deste, Tempels descobre nos povos negros um sistema de princípios
que é um conjunto de ideias, um sistema lógico, uma filosofia completa do universo, do homem
e das coisas que o circundam, da existência, da vida, da morte e da sobrevivência. Em suma,
uma concepção da existência logicamente coerente.
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E uma vez conquistada esta penetração, ela oferecerá a chave de todos os enigmas de
todos os aspectos do comportamento do homem primitivo.
Para Tempels, não é preciso que se diga ao bantu apresente um tratado de filosofia
exposto através de um vocabulário adequado; só a nossa formação intelectual nos pode permitir
um desenvolvimento sistemático, nós é que podemos dizer-lhe de uma maneira exacta qual é o
conteúdo das suas concepções de ser de tal maneira que se reconheça nas nossas palavras e
possa concordar dizendo: “Tu compreendeste-me completamente, tu sabes da mesma maneira
que nós sabemos”. Segundo Tempels, o valor supremo do bantu é Força Vital que, por sua vez,
está, inseparadamente, ligada ao ser. Portanto, o ser é quem possui a força, o ser é a força que
a nível da psicologia mais tarde Tempels transforma numa força pessoal e a nível moral (e se o
mal existe) é enquanto etapa em direcção à restauração vital.
A filosofia africana existe como todas as outras filosofias sob forma de literatura. Que
tipo de literatura se refere aqui? De número de textos escritos, no sentido rigoroso da palavra?
De salientar que a palavra não escrita, a que chamamos normalmente de tradição oral é também
uma forma de literatura6.
Muitos temas tratados por filósofos latino-americanos deste período assemelham-se aos
temas tratados por filósofos africanos desta mesma época. Isto, tendo em conta o contexto
histórico vivido por ambos os continentes. Entre eles destacam-se: o carácter e a finalidade da
filosofia, a relação entre filosofia e revolução, a questão da consciência e libertação nacionais,
a filosofia como factor de libertação, etc.
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Etnológica – de etnologia que significa “teoria explicativa geral dos factos propostos pela etnografia (estudo
descritivo das instituições e dos factos da civilização dos diversos povos ou etnias); estudo dos povos integrados
no contexto dos seus agrupamentos naturalmente constituídos: a linguística, a antropologia, o folclore, etc”;
“antropologia cultural”.
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Literatura (oral) – O termo foi criado por Paul Sebillot (1846-1918), no seu Littérature Orale de la Haute
Bretagne (1881) e reúne miscelânea de narrativas e de manifestações culturais de fundo literário, transmitidas
oralmente, isto é, por processos não-gráficos. Essa miscelânea é constituída de contos, lendas, mitos,
adivinhações, provérbios, parlendas, cantos, orações, frases-feitas tornadas populares, estórias … (Câmara
Cascudo).
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poesias em armas contra o colonialismo e contra todos os que não os reconheciam como
intelectuais autónomos, defensores de uma cultura e de uma história.