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Várias disciplinas científicas foram usadas para defender a idéia de que o africano é um ser
atrasado e justamente por isso deve aceitar a colonização como uma forma de lhe civilizar, ou
seja de lhe tirar do seu estágio primitivo e selvagem.
Na Igreja, muitos teólogos e missionários defendiam que o negro ou não constava na Bíblia ou
então era filho do maldito Caim, que viu a nudez do seu pai, por isso era um amaldiçoado por
Deus. Alguns defendiam a maldição do negro apoiando-se na cor preta que para eles era símbolo
das trevas, do mal e da corrupção.
Muitos filósofos também denegriram a imagem do negro. Hegel dizia que a África não possui
história nem razão e o negro representa o estado mais primitivo da natureza. Para Lévy Brhul os
africanos são sociedades inferiores dirigidos por uma mentalidade pré-lógica. O padre Tempels
dizia que o africano tem uma lógica menor, ou seja pensa pouco. Voltaire dizia que o povo mais
elevado é o francês e o mais baixo é o africano; para Rousseau os africanos são os bons
selvagens; Montesquieu afirma que os africanos são povos sem lei; os empiristas ingleses John
Locke, por sinal proprietário de escravos nas colónias americanas e David Hume, contribuiram
muito com idéias racistas para a colonização e escravatura dos africanos.
Estes exemplos, mostram que desde que se encontrou com o Ocidente, o africano entra na
história como objecto, isto é que não pensa e nem decide nada por sí. O africano entra na história
como primitivo, colonizado, escravo, oprimido, subdesenvolvido. Por esta razão, quando o
africano começou a pensar por sí, a primeira coisa que reivindica é, segundo Ngoenha, a
liberdade.
Essa busca da liberdade manifestou-se de diferentes maneiras, desde os afro-americanos até aos
africanos: Uns acham que a base para a emancipação dos africanos consiste na valorização da
cultura que foi desprezada pelos colonos; outros acham que deve-se lutar pela liberdade política
e, ou económica. Em função destas diferenças apareceram várias correntes de pensamento, que
no seu conjunto constituem a Filosofia Africana.
Contudo, o pensamento africano não começa propriamente em África, mas sim nos EUA com os
afro-descendentes. Como é sabido, no âmbito do comércio triangular, muitos africanos foram
levados como escravos para as Américas. Ainda que esses negros tenham contribuído muito no
desenvolvimento dos EUA, tendo inclusive, participado ao lado dos americanos brancos na luta
contra a metrópole, que culminou com a independência dos EUA diante da Inglaterra,
continuaram marginalizados e sem direitos.
Houve duas visões diferentes sobre a busca da liberdade do negro nos EUA. A primeira,
defendida por Marcus Garvey, defendia a idéia de que o africano só seria livre voltando para a
sua terra natal (África). A segunda, defendia que o negro podia lutar pela sua liberdade e
igualdade dentro dos EUA sem precisar de retornar a África. Aqui estão William Du Bois que
lutava mais pela liberdade e direitos políticos, e por outro lado Booker Washinghton, que, ao
contrário de Du Bois pensava que o problema do negro é económico e não de carácter politico.
Por isso aceita a segregação racial imposta pelos brancos, desde que os negros tenham escolas
técnicas para aprender a produzir.
Pan-africanismo
Para além ser defensor do pan-africanismo, Nkrumah, foi também defensor da idéia de
Personalidade Africana ( African Personality) iniciada por Blyden. Blyden dizia que os africanos
devem amar e valorizar a sua raça negra.
Negritude
Ainda que historicamente, as reivindicações da negritude sejam aceitáveis, ela foi muito criticada
pelas seguintes razões: ao exaltar o negro e desprezar o branco também foi racista( racismo anti-
racista), mas o importante é lutar contra o mal que existe tanto nos brancos como nos negros.
Esteve mais ligado ao passado como o melhor momento a ser recuperado e não soube viver e
responder os desafios do povo africano na actualidade. Entre os críticos da negritude, destacam-
se Jean P. Sartre, Franz Fanon, Lilyan Kesteloot, René Mentil e Soyinka.
Desde a sua origem e em toda a sua longa história, a Filosofia define-se como busca desinibida,
radical e crítica da verdade com o recurso da razão. Em Filosofia, a verdade não depende da
autoridade de quem a defende, mas única e exclusivamente da sua coerência lógica, por isso que
ao surgir, ele rompe com o mito e a religião uma vez que aqui basta a crença, mesmo sem
nenhuma demonstração lógico-racional.
A questão que se coloca, é a de saber se em África onde ainda predominam os mitos, crenças
religiosas diversas e a oralidade, podemos encontrar um pensamento filosófico, tal como
acontece no Ocidente. Esta questão deu origem a duas correntes de pensamento: a etnofilosofia
e a filosofia crítica ou académica.
Etnofilosofia
O objectivo deste tipo de filosofia era de reabilitar a imagem do africano denegrida pelos
colonizadores e etnógrafos, que o consideravam inferior ao branco na sua cultura e na sua
maneira de pensar.
Plácide Tempels, foi padre e é o primeiro a escrever uma obra deste género intitulada
Bantu Philosophy.
John Mbiti, escreveu a obra African Religions and Philosophy
Aléx Kagamé, escreve o livro La Philosophy Bantu Compareé e A Filosofia Bantu-
Ruandesa do Ser.
Esta corrente é constituída por todos os filósofos que, apesar das diferenças em outros assuntos,
são unânimes em afirmar que a etnofilosofia não pode ser considerada uma filosofia. São críticos
da etnofilosofia: Paulin Hountondji, Eboussi Boulaga, Marcien Towa, Wiredu. Para eles, a
filosofia é um pensamento individual, crítico e autónomo, mas a etnofilosofia considera a
Filosofia Africana como um pensamento conservador, acrítico, colectivo e unânime (a ideia de
que todos os africanos pensam da mesma maneira).
Paulin Hountondji, um dos maiores defensores desta escola, defende que a Filosofia Africana
tem que ter as mesmas características que a Filosofia europeia e o resto das ciências têm, ou seja
tem que ser uma disciplina científica, teórica, racional e individual. Além disso, a Filosofia
Africana tem que ser escrita e não transmitida oralmente. A Filosofia Africana deve ser uma
literatura racional e critica produzida por africanos tratando de diversos temas tanto africanos ou
universais. A Filosofia Africana não deve coleccionar e arquivar as tradições; ela tem que ter um
papel crítico e transformador diante das tradições visando o desenvolvimento de Àfrica.
Pensamento colectivo e comum aos grupos Pensamento individual, crítico e diversificado
africanos (pluralismo de idéias)
Transmitido oralmente de geração em geração Literatura racional escrita em livros
Está implicito nos mitos, crenças religiosas e É um projecto de debate de idéias a ser
tradições africanas, a ser organizado pelo filósofo. desenvolvido apenas por filósofos africanos
É conservadora e virada para o passado É dinâmica e orientada para o futuro
Sagacidade
Se, para Hountondji, uma obra só pode fazer parte da filosofia africana se fôr escrita por um
africano, Odera Oruka, pensa que qualquer obra pode fazer parte da filosofia africana desde que
trate de problemas relacionados com África. Oruka, também acha que o pensamento africano não
é necessariamente colectivo (comunal), pois existem em África sábios que os chama de sagazes,
alguns dos quais poderão se converter em filósofos que têm a sua própria racionalidade para
sustentar as suas idéias e pontos de vista de forma individual e critica. Estas idéias podem ser
organizadas por filósofos profissionais em forma de literatura filosófica.
Filosofia Politica
Neste âmbito, a filosofia como actividade intelectual, visa criar idéias e soluções para o
desenvolvimento sócio-politico e económico de África. Figuram aqui politicos e estadistas
africanos, que após as independências, tinham que traçar bases de reconstrução e
desenvolvimentos dos seus países, como são os casos de Kwame Nkrumah, Julius Nyerere,
Kenneth Kaunda, Albert Lithuli e Leopol Senghor.
Nas suas teorias tentaram conciliar algumas caracteristicas tidas como específicas de África
como a solidariedade e o comunismo com o socialismo marxista, dando origem ao socialismo
africano.
Inicialmente no deparamos com o título: Mãe, Materno Mar. Primeiro fica clara a
referência ao universo matriarcal africano em contraste com o sistema de mundo patriarcal
ocidental que o suplantou de maneira abrupta e ineficiente. “No principio era a Mãe, o Verbo
veio depois.” assim que Marilyn French, uma das maiores pensadoras feministas americanas,
começa o seu livro Beyond Power (Summit Books, Nova York, 1985). E não é sem razão, pois
podemos retraçar os caminhos da espécie através da sucessão dos seus mitos. Um mitólogo
americano, em seu livro The Masks of God: Occidental Mythology (Nova York, 1970), citado
por French, divide em quatro grupos todos os mitos conhecidos da criação. E,
surpreendentemente, esses grupos correspondem às etapas cronológicas da história humana.
Na primeira etapa, o mundo é criado por uma deusa mãe sem auxílio de ninguém. Na
segunda, ele é criado por um deus andrógino ou um casal criador. Na terceira, um deus macho ou
toma o poder da deusa ou cria o mundo sobre o corpo da deusa primordial. Finalmente, na quarta
etapa, um deus macho cria o mundo sozinho. Essas quatro etapas que se sucedem também
cronologicamente são testemunhas eternas da transição da etapa matricêntrica da humanidade
para sua fase patriarcal, e é esta sucessão que dá veracidade à frase já citada de Marilyn French.
Alguns exemplos nos farão entender as diversas etapas e a frase de French. O primeiro e
mais importante exemplo da primeira etapa em que a Grande Mãe cria o universo sozinha é o
próprio mito grego. Nele a criadora primária é Géia, a Mãe Terra. Dela nascem todos as
protodeuses: Urano, os Titãs e as protodeusas, entre as quais Réia, que virá a ser a mãe do futuro
dominador do Olimpo, Zeus. Há também o caso do mito Nagô, que vem dar origem ao
candomblé. Neste mito africano, é Nanã Buruquê que dá à luz todos os orixás, sem auxílio de
ninguém.
Exemplos do segundo caso são o deus andrógino que gera todos os deuses, no hinduísmo,
e o yin e o yang, o principio feminino e o masculino que governam juntos na mitologia chinesa.
Exemplos do terceiro caso são as mitologias nas quais reinam em primeiro lugar deusas
mulheres, que são, depois, destronadas por deuses masculinos. Entre essas mitologias está a
sumeriana, em que primitivamente a deusa Siduri reinava num jardim de delícias e cujo poder foi
usurpado por um deus solar. Mais tarde, na epopéia de Gilgamesh, ela é descrita como simples
serva. Ainda, os mitos primitivos dos astecas falam de um mundo perdido, de um jardim
paradisíaco governado por Xoxiquetzl, a Mãe Terra. Dela nasceram os Huitzuhuahua, que são os
Titãs e os Quatrocentos Habitantes do Sul (as estrelas). Mais tarde, seus filhos se revoltam contra
ela e ela dá à luz o deus que iria governar a todos, Huitzilopochtli.
Antes de prosseguir, procuremos analisar o que já se tem até aqui em relação à mulher.
Em primeiro lugar, ao contrário das culturas primitivas, Javé é deus único, centralizador, dita
rígidas regras de comportamento cuja transgressão é sempre punida. Nas primitivas mitologias,
ao contrário, a Grande Mãe é permissiva, amorosa e não coercitiva. E como todos os mitos
fundantes das grandes culturas tendem a sacralizar os seus principais valores, Javé representa
bem a transformação do matricentrismo em patriarcado.
O Jardim das Delícias é a lembrança arquetípica da antiga harmonia entre o ser humano e
a natureza. Nas culturas de coleta não se trabalhava sistematicamente. Por isso os controles eram
frouxos e podia se viver mais prazerosamente. Quando o homem começa a dominar a natureza,
ele começa a se separar dessa mesma natureza em que até então vivia imerso.
Como o trabalho é penoso, necessita agora de poder central que imponha controles mais
rígidos e punição para a transgressão. É preciso usar a coerção e a violência para que os homens
sejam obrigados a trabalhar, e essa coerção é localizada no corpo, na repressão da sexualidade e
do prazer. Por isso o pecado original, a culpa máxima, na Bíblia, é colocado no ato sexual (é
assim que, desde milênios, popularmente se interpreta a transgressão dos primeiros humanos).
Mas o interessante é que os primeiros capítulos do Gênesis podem ser mais bem
entendidos à luz das modernas teorias psicológicas, especialmente a psicanálise. Em cada
menino nascido no sistema patriarcal repete-se, em nível simbólico, a tragédia primordial. Nos
primeiros tempos de sua vida, eles estão imersos no Jardim das Delícias, em que todos os seus
desejos são satisfeitos. E isto lhes faz buscar o prazer que lhes dá o contato com a mãe, a única
mulher a que têm acesso. Mas a lei do pai proíbe ao menino a posse da mãe. E o menino é
expulso do mundo do amor, para assumir a sua autonomia e, com ela, a sua maturidade.
Principalmente, a sua nudez, a sua fraqueza, os seus limites. E à medida que o homem se cinde
do Jardim das Delícias proporcionadas pela mulher-mãe que ele assume a sua condição
masculina.
E para que possa se tornar homem em termos simbólicos, ele precisa passar pela punição
maior que é a ameaça de morte pelo pai. Como Adão, o menino quer matar o pai e este o pune,
deixando-o só.
Assim, aquilo que se verifica no decorrer dos séculos, isto é, a transição das culturas de
coleta para a civilização agrária mais avançada, é relembrado simbolicamente na vida de cada
um dos homens do mundo de hoje. Mas duas observações devem ser feitas. A primeira é que o
pivô das duas tragédias, a individual e a coletiva, é a mulher; e a segunda, que o conhecimento
condenado não é o conhecimento dissociado e abstrato que daí por diante será o conhecimento
dominante, mas sim o conhecimento do bem e do mal, que vem da experiência concreta do
prazer e da sexualidade, o conhecimento totalizante que integra inteligência e emoção, corpo e
alma, enfim, aquele conhecimento que é, especificamente na cultura patriarcal, o conhecimento
feminino por excelência.
Freud dizia que a natureza tinha sido madrasta para a mulher porque ela não era capaz de
simbolizar tão perfeitamente como o homem. De fato, para podermos entender a misoginia que
daí por diante caracterizará a cultura patriarcal, é preciso analisar a maneira como as ciências
psicológicas mais atuais apontam para uma estrutura psíquica feminina bem diferente da
masculina.
E não espanta que na própria Bíblia encontremos o primeiro indício desta desigualdade
entre homens e mulheres. Quando Deus cria o homem, Ele o cria só e apenas depois tira a
companheira da costela deste. Em outras palavras: o primeiro homem dá à luz (parir) a primeira
mulher. Esse fenômeno psicológico de deslocamento é um mecanismo de defesa conhecido por
todos aqueles que lidam com a psique humana e serve para revelar escondendo. Tirar da costela
é menos violento do que tirar do próprio ventre, mas, em outras palavras, aponta para a mesma
direção. Agora, parir é ato que não está mais ligado ao sagrado e é, antes, uma vulnerabilidade
do que uma força. A mulher se inferioriza pelo próprio fato de parir, que outrora lhe assegurava a
grandeza. A grandeza agora pertence ao homem, que trabalha e domina a natureza.
Já não é mais o homem que inveja a mulher. Agora é a mulher que inveja o homem e é
dependente dele. Carente, vulnerável, seu desejo é o centro da sua punição. Ela passa a se ver
com os olhos do homem, isto é, sua identidade não está mais nela mesma e sim em outro. O
homem é autônomo e a mulher é reflexa. Daqui em diante, como o pobre se vê com os olhos do
rico, a mulher se vê pelos do homem.
Da época em que foi escrito o Gênesis até os nossos dias, isto é, de alguns milênios para
cá, essa narrativa básica da nossa cultura patriarcal tem servido ininterruptamente para manter a
mulher em seu devido lugar. E, aliás, com muita eficiência. A partir desse texto, a mulher é vista
como a tentadora do homem, aquela que perturba a sua relação com a transcendência e também
aquela que conflitua as relações entre os homens. Ela é ligada à natureza, à carne, ao sexo e ao
prazer, domínios que têm de ser rigorosamente normatizados: a serpente, que nas eras
matricêntricas era o símbolo da fertilidade e tida na mais alta estima como símbolo máximo da
sabedoria, se transforma no demônio, no tentador, na fonte de todo pecado. E ao demônio é
alocado o pecado por excelência, o pecado da carne. Coloca-se no sexo o pecado supremo e,
assim, o poder fica imune à crítica. Apenas nos tempos modernos está se tentando deslocar o
pecado da sexualidade para o poder. Isto é, até hoje não só o homem como as classes dominantes
tiveram seu status sacralizado porque a mulher e a sexualidade foram penalizadas como causa
máxima da degradação humana.
Segundo a maioria dos antropólogos, o ser humano habita este planeta há mais de dois
milhões de anos. Mais de três quartos deste tempo a nossa espécie passou nas culturas de coleta e
caça aos pequenos animais. Nessas sociedades não havia necessidade de força física para a
sobrevivência, e nelas as mulheres possuíam um lugar central.
Em nosso tempo ainda existem remanescentes dessas culturas, tais como os grupos
mahoris (Indonésia), pigmeus e bosquímanos (África Central). Estes são os grupos mais
primitivos que existem e ainda sobrevivem da coleta dos frutos da terra e da pequena caça ou
pesca. Nesses grupos, a mulher ainda é considerada um ser sagrado, porque pode dar a vida e,
portanto, ajudar a fertilidade da terra e dos animais. Nesses grupos, o princípio masculino e o
feminino governam o mundo juntos. Havia divisão de trabalho entre os sexos, mas não havia
desigualdade. A vida corria mansa e paradisíaca.
Nas sociedades de caça aos grandes animais, que sucedem a essas mais primitivas, em
que a força física é essencial, é que se inicia a supremacia masculina. Mas nem nas sociedades de
coleta nem nas de caça se conhecia função masculina na procriação. Também nas sociedades de
caça a mulher era considerada um ser sagrado, que possuía o privilégio dado pelos deuses de
reproduzir a espécie. Os homens se sentiam marginalizados nesse processo e invejavam as
mulheres. Essa primitiva “inveja do útero” dos homens é a antepassada da moderna “inveja do
pênis” que sentem as mulheres nas culturas patriarcais mais recentes.
A inveja do útero dava origem a dois ritos universalmente encontrados nas sociedades de
caça pelos antropólogos e observados em partes opostas do mundo, como Brasil e Oceania. O
primeiro é o fenômeno da couvade, em que a mulher começa a trabalhar dois dias depois de parir
e o homem fica de resguardo com o recém-nascido, recebendo visitas e presentes... O segundo é
a iniciação dos homens. Na adolescência, a mulher tem sinais exteriores que marcam o limiar da
sua entrada no mundo adulto. A menstruação a torna apta à maternidade e representa um novo
patamar em sua vida. Mas os adolescentes homens não possuem esse sinal tão óbvio. Por isso, na
puberdade eles são arrancados pelos homens às suas mães, para serem iniciados na “casa dos
homens”. Em quase todas essas iniciações, o ritual é semelhante: é a imitação cerimonial do
parto com objetos de madeira e instrumentos musicais. E nenhuma mulher ou criança pode se
aproximar da casa dos homens, sob pena de morte. Desse dia em diante o homem pode “parir”
ritualmente e, portanto, tomar seu lugar na cadeia das gerações.
Para poder arar a terra, os grupamentos humanos deixam de ser nômades. São obrigados
a se tornar sedentários. Dividem a terra e formam as primeiras plantações. Começam a se
estabelecer as primeiras aldeias, depois as cidades, as cidades-estado, os primeiros Estados e os
impérios, no sentido antigo do termo. As sociedades, então, se tornam patriarcais, isto é, os
portadores dos valores e da sua transmissão são os homens. Já não são mais os princípios
feminino e masculino que governam juntos o mundo, mas, sim, a lei do mais forte. A comida era
primeiro para o dono da terra, sua família, seus escravos e seus soldados. Até ser escravo era
privilégio. Só os párias nômades, os sem-terra, é que pereciam no primeiro inverno ou na
primeira escassez.
Nesse contexto, quanto mais filhos, mais soldados e mais mão-de-obra barata para arar a
terra. As mulheres tinham a sua sexualidade rigidamente controlada pelos homens. O casamento
era monogâmico e a mulher era obrigada a sair virgem das mãos do pai para as mãos do marido.
Qualquer ruptura desta norma podia significar a morte. Assim também o adultério: um filho de
outro homem viria ameaçar a transmissão da herança que se fazia através da descendência da
mulher.
Retomando o título segundo outro de seus aspectos, o elemento água está associado à
palavra mar. A diferença geográfica entre mar e oceano é que os oceanos tem profundidade
desconhecida e delimitam as terras emersas e já os mares têm profundidades conhecidas em
algumas centenas de metros. Os mares são, por sua vez, delimitados pelos continentes, aqueles
trechos do oceano mais próximos aos acidentes geográficos terrestres, possuindo uma grande
importância para inúmeros povos que se localizam nas proximidades. O mar possui um caráter
mais nacional e particular que oceano.
Outra observação que pode ser feita é a repetição deliberada da letra M nas iniciais das
três palavras que constituem o sintagma-título do livro. Essa estruturação remete à gramática da
língua bantu. O radical inicial da palavra que tem a função sintática de sujeito na oração permeia
as outras palavras que a compõe para indicar a importância e a dominação sintática, semântica e
morfológica sobre as outras com as quais se relaciona. Esse vínculo fica expresso semântica e
morfologicamente também além das evidências sintáticas reveladas pelo enunciador. As línguas
bantu juntam as palavras com características semânticas comuns numa classe e não, como as
línguas europeias, por gênero. Cada classe tem prefixos diferentes para designar o singular ou o
plural que, nos outros elementos da frase, antecedem a raiz de cada palavra, reaparecendo nos
prefixos. A sistemática dessa estrutura pode ser constatada através deste exemplo retirado do
ensaio brilhante de Pedro Miguel que inspirou este trabalho intitulado Da Foz à Fonte: A
Literatura Angolana como Antropologia Filosófica (2002).
Nessas frases cabe notar o seguinte: enquanto no idioma português o adjetivo “esta” e a
frase relativa integrante permaneceram inalterados nas três frases, no idioma kimbundu, já não
acontece o mesmo. Não só isso, mas também em português pode-se mudar a ordem dos adjetivos
sem alterar nada. Significa que estamos perante uma estrutura universal e universalizante. Em
outras palavras, estamos perante uma língua conceitual. À equivalência de condições, semelhante
arbitrariedade não se pode efetuar na língua kimbundu. Esta é uma estrutura que caracteriza as
línguas do tronco bantu, registrando-se uma diferenciação apenas no plano lexical (MIGUEL
2002).
Nos exemplos acima citados em kimbundu notamos que a partícula com a qual uma frase
inicia repercute-se em todas as palavras que têm relação com a palavra inicial. E assim se
procede, por mais longa que seja a frase: pedindo a consequente de uma partícula, ela é
encontrada no seu correlato antecedente. Assim sendo, é igualmente legítimo perguntar qual é o
correlato antecedente da partícula da palavra inicial do sintagma-título.
A significação de uma realização análoga no sintagma Mãe, Materno Mar pode ser a de
uma interferência linguística reversa onde a gramática autóctone subvalorizada e subjugada da
língua bantu se materializa como forma dominante dos vocábulos do vernáculo português
imposto pelos colonizadores. A letra M (eme) é a décima terceira letra do alfabeto português e é
também a décima consoante. É utilizada em 4,74% das palavras portuguesas. A letra M na
escrita hierática egípcia é a transliteração do sinal representado pela coruja e depois no alfabeto
fenício recebeu a denominação de "mem" que significava água e era simbolizada por uma linha
ondulada representando as ondas do mar, dando origem ao "mi" dos gregos e à letra M que
utilizamos atualmente.
Hieróglifo Egípcio >>> Escrita Hierática >> Proto-Semítico > Fenício > Etrusco > Grego
Fig.1
Preto (adjetivo) Mar (substantivo) Água (substantivo)
O sinal identificado com a coruja é um fonograma unilítero, tem o som de “M” e é usado
para escrever palavras que tenham o som de “M”. Em egípcio a palavra preto é lida “kem”, e o
sinal da coruja nesse caso é usado como um fonograma (complemento fonético) para escrever a
palavra preto. O ideograma da coruja, por exemplo, é uma maneira de se referir a uma coruja
sem ter que escrever as letras C – O – R – U – J – A. Nesse caso o sinal representa o que ele é.
Então já sabemos que um mesmo sinal poderá ser um fonograma em uma frase ou um ideograma
em outra, e isso dependerá apenas do contexto em que ele está inserido.
Na mitologia egípcia, Neith (também denominada de Nit, Net e Neit) é a deusa da guerra
e da caça, criadora de Deuses e homens, divindade funerária e deusa inventora. Neith, também
chamada Tehenut, é uma antiga Deusa egípicia cujo culto provém do período pré-dinástico, na
qual tinha forma de escaravelho, depois foi deusa da guerra, da caça e deusa inventora além de
protetora dos mortos. Platão afirmou que em Saís, Atena fundia-se com Neith, pelos atributos da
guerra e da tecelagem, e tinham um mesmo animal simbólico, a coruja. O símbolo da Deusa
grega da sabedoria, Atena, é uma coruja do género Athene: o mocho-galego. Também
considerada o símbolo da filosofia.
Esteganografia (do grego "escrita escondida") é o estudo e uso das técnicas para ocultar a
existência de uma mensagem dentro de outra, uma forma de segurança por obscurantismo. Em
outras palavras, esteganografia é o ramo particular da criptologia que consiste em fazer com que
uma forma escrita seja camuflada em outra a fim de mascarar o seu verdadeiro sentido. É
importante frisar a diferença entre criptografia e esteganografia. Enquanto a primeira oculta o
significado da mensagem, a segunda oculta a existência da mensagem. A esteganografia inclui
um vasto conjunto de métodos para comunicações secretas desenvolvidos ao longo da história.
Dentre tais métodos, estão: tintas “invisíveis”, micro pontos, arranjo de caracteres, assinaturas
digitais, canais escondidos que podem ser utilizada para a divulgação de mensagens sem o
conhecimento da existência dessas mensagens por parte de outros interessados.
Assim, faz-se necessário demonstrar que a anamorfose é uma técnica tão antiga quanto a
perspectiva e que foi amplamente utilizada no campo das artes plásticas, podendo ser
considerada uma técnica de enorme potencial criativo, pois permite dialogar entre diversos
universos artísticos e níveis de consciência e possui elevado poder expressivo.
Já no ano de 1533 foi pintado o quadro mais famoso que aplica a Anamorfose, Os
Embaixadores de Hans Holbein, que foi posicionado no topo de uma escada de um castelo,
somente enquanto subia-se a escada tinha-se a visão de um crânio, assim que se chegava ao topo,
enxergava-se a figura de duas pessoas bem vestidas e a caveira não era vista.
Desde o início de sua utilização, a anamorfose era representada com diversos objetivos.
Nos tempos antigos, entre século XVI e XVII, eram usadas para se transmitir mensagens
pornográficas, políticas, cenas de magia e caricaturas. Em períodos de guerra, foi utilizada para
mensagens secretas. Também se usou em jogos infantis, nos séculos XVIII e XIX. Hoje, usa-se
muito na representação visual, como uma forma curiosa da leitura de imagens, usa-se em
pinturas, decorações, propagandas, quadros, desenhos, na arquitetura e urbanismo, nas artes
plásticas entre outros.
Atualmente há muitos artistas que utilizam a Anamorfose para seus trabalhos. O conceito
de anamorfose se refere ao retorno, à reiteração e à reversão da forma. Utilizado em várias áreas
do conhecimento – matemática, ótica (com aplicações nas artes visuais), biologia e geologia –
este conceito aplica-se a qualquer situação onde a base constitutiva transfere suas características
para a constituição geral – tal como um fractal, estrutura geométrica complexa cujas
propriedades, em geral, repetem-se em qualquer escala.
Com uma perspectiva de texto convencional uma narrativa define-se como um bloco
linear de texto que tem um começo, um meio e um fim. Platão quer que um discurso tenha o
corpo bem constituído de um grande animal, com cabeça, ventre e cauda. É mesmo por isso que
nós, bons e velhos platônicos, sabemos e não sabemos o que é um discurso sem cauda nem
cabeça, afalo e acéfalo. Sabemos: é aquilo a que chamamos o sem sentido; o obscuro, o
excêntrico, o deformado, o bizarro. Mas não sabemos. Não sabemos o que fazer do “sem-
sentido”. Estamos sempre a fazer sinal ao sentido: para lá dele, perdemos o pé. Jean-Luc Nancy
esclarece-nos acerca deste não saber, que está ligado ao saber do ‘corpo’; o ‘corpo’ é onde se
perde o pé ou a cabeça, ou os dois. ‘Sem-sentido’ não quer dizer aqui algo como o absurdo, nem
como sentido ao contrário, ou contorcido. Mas isso quer dizer: sem sentido, ou ainda, sentido
que é absolutamente excluído abordar sem qualquer figura de ‘sentido’, é o outro ‘corpo’ que se
faz presente.
O texto anamórfico produz através da sua estruturação uma assinatura característica que
pode ser percebida como em consonância com os saberes e práticas específicos de determinadas
comunidades. O anamorfismo seria uma expressão da ‘glocalização’. Glocalização é um
neologismo resultante da fusão dos termos globalização e localização. Refere-se à presença da
dimensão local na produção de uma cultura global. O "local" foi definido por Manuel Castells
como os "nós" - nós de valor acrescentado aos fluxos econômicos e lugares de vida social.
Segundo Paul Soriano, no "glocal, " o "local" representaria os "nós" da rede global e integra as
resistências mas também as contribuições das formações identitárias locais e regionais à
globalização.
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Sobre essa perspectiva esta investigação vem explicitar que a narrativa inicia-se e
desenvolve-se sob a égide da mulher (mãe), da água (mar), da filosofia (coruja) e do negro (letra
M). Esses são os semagramas determinantes principais que impulsionam a compreensão em
direção à consciência do saber criador feminino, do saber elementar da natureza, das múltiplas
sabedorias humanas e do conhecimento de si próprio e das relações de alteridade.
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Também neste segmento vemos o aprofundamento e o desenrolar da história da noiva.
Em muitas simbologias associa-se a noiva à virgindade e também à Igreja Católica.
Vermelho é a cor da religião tradicional africana, mas apesar da pureza da noiva também
pode ser relacionado ao sangue menstrual, linhagem sanguínea, sacrifício, crime, assassinato,
guerra, perigo, violência, libido e maturação sexual. Sobre seu casamento
“Ti Lucas, o ceguinho, respondeu que ele estava a ver a noiva a flutuar
no espaço, sem terra pra pisar, depois casada, mas um casamento
muito estranho, muito estranho mesmo”(pg. 103).
As abordagens feministas à prostituição têm vindo a sofrer mudanças desde que o debate
se instalou no seio deste movimento. Se, nas fases iniciais da análise feminista da prostituição,
esta foi tratada de forma reducionista como uma atividade desviante, mais recentemente passou a
ser encarada como uma resposta compreensível e razoável às necessidades socioeconómicas
entendidas num contexto de cultura consumista e num enquadramento social que privilegia a
sexualidade masculina, como fica patente no trabalho de Maggie O’Neill (2001).
Uma destas perspetivas encara a prostituição como uma forma de opressão da mulher,
concebendo esta atividade como vitimizante per se e advogando que a exploração e a violência
são intrínsecas e inextricáveis do comércio do sexo. Assim, de acordo com esta conceção,
habitualmente denominada de abolicionista, toda e qualquer forma de prostituição deve acabar.
Esta corrente tem entre as suas mais conhecidas defensoras Kathleen Barry (1984, 1995), Andrea
Dworkin (1987), Sheila Jeffreys (1997), Catherine MacKinnon (1987), Julia O’Connell-
Davidson (1998) e Carole Pateman (1988) que argumentam que não há escolha na prostituição e
que esta é uma forma de escravatura feminina. Este modelo é também chamado de opressivo e é
definido como a quinta-essência da expressão das relações de género do patriarcado e da
dominação masculina (Weitzer, 2010), o que faz da prostituição um mecanismo fundamental da
opressão masculina (Pinto et al., 2010).
Uma conhecida defensora desta segunda perspectiva feminista é Camille Paglia (1997)
para quem a prostituta é dona da sua esfera sexual e representa a mulher libertada cuja
sexualidade não pertence a nenhum homem. Algumas autoras, muitas delas trabalhadoras ou ex-
trabalhadoras do sexo, que partilham desta posição, defendem ainda que esta atividade é
empoderante para as mulheres (e.g. Delacoste e Alexander, 1987; Chapkis, 1997). Ora, aqui,
impõe-se algum cuidado no sentido de evitar um romantismo apologético igualmente
estereotipado e simplista.
Camille Paglia tem sido considerada por alguns como a maior traidora do movimento
feminista e por outros como a heroína que denunciou o carácter extremista, irracional e perigoso
desse mesmo movimento. No início dos anos noventa, Susan Faludi, Gloria Steinem e Naomi
Wolf, alertaram para o retrocesso dos ideais feministas devido aos erros em que o "feminismo
duro" se estava a embrenhar, mas a maré fundamentalista parecia não poder ser contida,
reformulando ataques e reacendendo polêmicas. Foi quando, na arena ideológica, surgiu Camille
Paglia.
Há, no entanto, atualmente, um corpo crescente de literatura que aborda a troca de sexo
por dinheiro como um fenómeno social complexo que se alicerça em relações sociais,
econômicas, políticas, criminais e sexuais que incluem diversos atores e atrizes (Vanwesenbeeck,
2013). Muita da investigação recente sobre o trabalho sexual tende a abarcar a complexidade do
fenômeno e as múltiplas variáveis e processos que o caracterizam (e.g. Ribeiro, Silva, Schouten,
Ribeiro e Sacramento, 2008, em Portugal, Handman e Mossuz-Lavau, 2005, em França, ou
Riopedre, 2010, em Espanha). O que parece imperativo, hoje, é, pois, a análise de novas
variáveis, dos atores e atrizes e a utilização de novas perspectivas de interpretação. E, ainda, que
os métodos sejam proximais, dando voz às pessoas envolvidas, contribuindo para a
desconstrução de mitos, estereótipos e preconceitos relativos à prostituição e outros trabalhos
sexuais e seus atores e atrizes. Este é um fenômeno multiforme e complexo e que vai mostrando
novas configurações às quais a ciência deve adaptar-se.
As investigações nesta área têm ainda sido influenciadas pelas diferentes visões
feministas (Koken, 2010) e a tensão, enorme e duradoura, entre essas diferentes correntes só
pode, de acordo com Ken Plummer (2010), ser resolvida através de trabalho etnográfico
fundamentado. Para ir além desta tensão, segundo este autor, é útil o recurso a este tipo de
investigações, pois é aí que algumas das contradições e sutilezas da prostituição emergem, na
medida em que elas permitem ver as complexidades nas observações fundamentadas
empiricamente no real, onde a vida é sempre mais desorganizada, contraditória e ambígua.
ETONISMO
António Tomás Ana (Etona) nasceu a 22 junho de 1961 na província do Zaire, município
do Soyo, em Angola. Em 1975 frequenta vários ateliers de artesãos, pintura e escultura no Soyo.
É já em Luanda que, em 1979, é recebido como discípulo de pintura no atelier do artista João
Luís de Almeida, na Ilha de Luanda, durante 5 anos. Integra-se nas FAPLA em 1982, tendo
cumprindo a sua missão no Kuito Kuanaval, província do Kuando-Kubango, onde tirou o curso
básico de rádio, iniciando-se como operador. Entra na 16ª Brigada como oficial de operações
com a função de cartográfico, devido à sua experiência como desenhador. É colocado no
comando da 6ª região militar, secção política, como oficial da agitação e propaganda massiva sob
ordens do então Major ‘Jota’, atual embaixador de Angola em Israel.
Etona tem desde 2000 dois espaços de trabalho em Portugal: o Centro Internacional de
Escultura em Sintra e em São João da Madeira. Em 2001, mostrando a versatilidade na área
artística, associa-se com Tirso Amaral, e tem um papel revolucionário na recuperação e
reestruturação da UNAP, inoperacional nessa data. Daí vem a eleição de Secretário-Geral da
mesma associação no quadriénio 2001/2006. Em 2002 é indicado para participar na comissão
instaladora do comité de especialidade do sector de Luanda na área das Artes plásticas. É
presidente do Projecto do Centro Cultural ETONA, na Ilha de Luanda. A 12 de Setembro 2003
foi eleito como responsável da área das artes plásticas no comité dos Artistas de Luanda.
Também é membro da subcomissão da área cultural em preparação do V congresso M.P.L.A.
Etona estuda atualmente relações Internacionais.
A arte é antes de mais filosofia, diria Hegel. Existe uma particularidade que gostaria de
sublinhar no “etonismo”, que é a filosofia da razão tolerante que consiste na inclusão “sem
choque” de três razões oriundas de fontes diametralmente distintas cuja coalizão se fundamenta
essencialmente nas suas alegações mútuas, e sucessivamente, pela indulgência de forma que a
razão mais forte tolera a pseudo-razão. Angola já deu prova disso: o plano do Governo angolano
assenta na interindependência e na comparticipação políticas dos vencedores (nesse caso
Governo), vencidos (UNITA militarista) e observadores (outros partidos políticos). Dai, não há
vencedor no sentido estrito do termo. Não só a “teknikós”do artista plástico angolano evidencie
alguma particularidade formal-conceitual (pensamento) singular na sua arrumação,
sistematização e atuação, mas, sobretudo, se justifique na atualidade social angolana, servindo ao
mesmo tempo de modelo para futuro.
A nosso ver, não seria precipitação alguma, pois sim uma tentativa de recuperação dos
atrasos que o país (ou até continente) por uma e outra razão conhece. Se o “ismo” é banalmente
preocupante por muito, cientificamente é tão normal desde que a sua atribuição se enquadra
dentro dos cânones (científicos). Esperemos que haja mais Faculdades e Cursos no país para
permitir a teorização da Arte (Música, Artes Plásticas, Teatro, Dança, etc.) afim de explorar
melhor o “suco científico” salvaguardando o patrimônio contemporâneo, e presenciar na
Globalização não como inocente mas tendo específicas propostas (com “garras”) nessa História
atual decisiva.
Se arte é visível, notamo-la assim através de algumas condições. Pois devemos começar
por balizar as “condições” daquilo que é visível. Daí, veremos que os Gregos tinham uma e os
Egípcios tinham outra forma de interpretar o que “é visível”. Isto é antigamente. Como é óbvio,
hoje cada um interpreta da sua maneira. A discrepância está nas “condições” de contemplar e não
na própria arte. Portanto, como estabelecer “link” entre o modernismo que é uma nostalgia da
presença e a “arte antiga” (classicismo grego, por exemplo.) que é uma nostalgia da ausência.
Daí, etonismo vem propôr o “recomeço” ou “ressureição” da arte começando por “definição
lógica” de arte, “definição descritiva” do artista assim como – o que é mais importante ainda –
“redefinir e revitalizar” os princípios, métodos da estética como “ciência autônoma”.
Estéticamente, etonismo propõe entre outros a teorização, o que poderá cientificamente
redinamizar a modalidade; filosóficamente, ele aventa que toda arte não perca a sua essência
(uma carga de filosofia), e se a angolanidade for uma ideologia, “etonismo” propõe a sua
cientificação; e historicamente sugere facilitar a classificação conveniente e adequada dos
períodos históricos da Arte em Angola em vez de recorrer sempre às periodizações
incongruentes que nos estamos habituados: “... dos anos 70 ou 80, 90”, etc. Tecnicamente, o
Vereador da Cultura da Câmara da Amadora (Portugal) escreve na sua exposição “Marcas e
Evidências”: etonismo “reflete a originalidade das pinturas e esculturas de Etona”.
Para uma breve retomada das artes do século XX, na virada daquele século, tomou-se
consciência de que uma nova forma de arte tinha nascido. Dentre as várias expressões dessa arte,
chama a atenção o movimento denominado fauves, que em sua tradução “feras” caracteriza
metaforicamente o conjunto dos artistas que participaram dos movimentos de vanguarda. De
efêmera existência, como todo movimento de vanguarda, o que se convencionou chamar de
fauvismo iniciou com uma exposição na França, caracterizando-se por uma suposta selvageria,
dadas as suas cores vivas, seus traços espontâneos e violentos: as tintas, tais como saem das
bisnagas, criam traços impulsivos e traduzem as sensações no mesmo estágio de espontaneidade
e graça das crianças e dos selvagens.
Para Thérèse Delpech (2006: 113), que discorre sobre o assunto em El retorno a la
barbarie en el siclo XXI, o fauvismo marca não só o nascimento da arte do século XX , mas vem
citado dentre os acontecimentos capitais que ocorreram no mundo em 1905 nas ciências e nas
artes. No capítulo intitulado “Nacimiento de la modernidad”, a autora destaca três
acontecimentos decisivos na história das ideias:
Não é propósito desta investigação resenhar os acontecimentos que, como esses que
irromperam junto às vanguardas, passam a compor a história em paralelo às propostas que
revitalizam as artes plásticas e a literatura no decorrer do século XX. Importante tarefa é
relacionar essas manifestações artísticas que contribuíram para representar momentos decisivos
da vida dos povos, sobretudo os medos da humanidade na iminência das guerras, das
arbitrariedades políticas, das catástrofes ecológicas, mas também das épocas de grandes
descobertas que beneficiaram a humanidade. Tais representações na arte e na literatura têm
permitido a sucessivas gerações participar da cultura e da memória cultural, pondo assim em
processo a tradição e dando continuidade, afinal, à história da condição humana.
Ao considerar que a maioria dos autores está disposta a admitir que essas representações
da alma constituem o núcleo originário do sistema animista, que os espíritos correspondem a
almas que se tornaram independentes e, mais, que as almas dos animais, das plantas e dos
objetos foram concebidas analógicamente às almas humanas, Freud lança a indagação sobre
como os homens primitivos chegaram às concepções fundamentais, propriamente dualistas, em
que se ampara o sistema animista. Em suas hipóteses e em busca de possíveis respostas, Freud
(ibidem: 455) supõe que isso se deva à observação do fenômeno do sono e do sonho e por
extensão à morte, ideia que é até hoje “aceita com dificuldade”, senão “vazia e inapreensível”:
caracterizada pela narrativa como a “eterna viagem” (pg.56).
Quando o primitivo reage, ante os fenômenos que lhe excitam a reflexão, com a formação
das representações da alma e as transfere sobre os objetos do mundo exterior, considera-se esse
seu comportamento como muito natural e não mais enigmático.
Considera-se, pois, a relevância das ideias que Freud destaca de Wundt, segundo as
quais, “nos povos mais diversos e em todas as épocas coincide a existência das mesmas
representações animísticas” e tais representações seriam o produto psicológico necessário da
consciência criadora dos mitos. Quanto ao animismo primitivo, este deve ser considerado como a
expressão espiritual do estado natural da humanidade, tanto quanto é este acessível à nossa
observação (ibidem: 455).
Freud afirma ser essa “primeira concepção humana do universo” uma “teoria psicológica”. Não
obstante, o autor admite não terem sido ainda devidamente esclarecidos os pormenores da
relação entre o mito e o animismo.
Nessa direção, caberia ao autor do texto literário representar a natureza pela via da
imitação (imitatio, em latim), ou seja, da mimese aristotélica, entendida como ação de
reprodução ou representação da natureza que fundamenta toda a arte.
Tratar do elemento insólito na ficção é resolver uma questão conceitual, ainda que seja
lugar comum para os iniciados nas literaturas em língua portuguesa e hispano-americana. Falar
do realismo mágico, realismo fantástico ou realismo maravilhoso, como é conhecido no Brasil e
entre latino-americanos, portanto, não constitui mais novidade alguma.
Diante do propósito de se estudar uma teoria que aproximasse países distantes em épocas
diferentes e nos dias de hoje, pelo tratamento do insólito na literatura e pela via do imaginário,
interessa-nos compreender os mencionados conceitos, o ‘realismo mágico’ e o ‘realismo
maravilhoso’ latino-americanos,
A problematização que advém do paralelo entre essas expressões teóricas representa uma
questão ainda não totalmente investigada pela crítica acadêmica.
'Humanismo', porém, não significa 'humanidade', mas 'homem'. As mulheres ainda vão
esperar muito tempo antes que os movimentos feministas comecem a lutar para incluí-las em
igualdade de condições no mundo dos 'seres humanos'. Segundo o filósofo Roberto Romano, em
seu livro Lux in Tenebris: meditações sobre filosofia e cultura,
Para comprovar o que diz, cita um trecho onde o filósofo do séc. XVIII define o estatuto
da mulher na sociedade:
Kant não está sozinho entre os grandes filósofos que destacam a inferioridade das
mulheres. Entre muitos outros como Platão, Kierkegaard e Schopenhauer, temos Hegel (1770-
1831), que na sua Filosofia do Direito diz:
“As mulheres [...] podem ser cultivadas, mas não foram feitas para as
ciências nobres, nem para a filosofia, nem para certas formas artísticas,
que exigem o universal. As mulheres podem ter pensamento, gosto,
elegância, mas o Ideal não lhes é acessível [...] Se as mulheres estão no
ápice do governo, o Estado corre perigo, pois elas não agem segundo as
exigências do Universal mas segundo inclinações e opiniões
contingentes [...]” (HEGEL apud ROMANO, p.126 e 131)
A teologia feminista é parte de uma revolução cultural dos séculos XX e XXI, uma
revolução que ainda está em seus primeiros passos. Se persistir nessa luta de desnudamento de
certos conceitos religiosos em favor da dignidade feminina, estará sinalizando um novo
momento criativo na história das religiões, visto que as mulheres estarão expressando dentro das
diferentes tradições religiosas sua experiência, seus valores e sentidos. É o movimento
caracterizado por uma teologia humanista como orientação filosófica.
Como dinamizador do conhecimento, o animismo cedo encontra lugar nos estudos sobre
a criação literária, se o concebermos dentre as forças dinamizadoras das grandes concepções do
universo; a animista, a religiosa e a científica, tal como Freud assim o concebe.
Desafiadora continua sendo a arte de narrar para o escritor contemporâneo: como lidar
com o conhecimento científico, que se sobressaiu de modo exponencial na era da tecnologização
da palavra e, ao mesmo tempo, estabelecer as necessárias mediações entre a concepção científica
e as outras grandes concepções do universo: a animista (mito) e a religiosa, que sempre
estruturaram a vida do homem. Ser capaz de demonstrar o quanto o animismo ainda subsiste na
vida religiosa atual seja na forma de superstição, seja ainda vivo, como base da nossa linguagem
é, portanto, tarefa que se impõe para as representações artísticas, entre elas a literatura, no
presente século.
É pela obra do escritor angolano Pepetela (2008), destaque na literatura lusófona, que
conhecemos a expressão ‘realismo animista’. Estudo recente sobre o termo vem sendo
desenvolvido pelo sul-africano Harry Garuba. Para o professor Garuba, a expressão ‘realismo
mágico’ não daria conta das representações identitárias dos mitos sul-africanos, é o que diz o
ensaísta ao referir-se à terra de Yoruba com a veneração à estátua de Sango, o deus do raio,
exemplos que são pontuais quando relacionados ao conceito de ‘materialismo animista’ (Garuba,
2003). De fato, trata-se de uma expressão que se complementa em seu caráter paradoxal, uma
vez que a palavra “materialismo” difere de “animismo”, palavra que vem do latim anima, alma, e
que corresponde à atitude que consiste em atribuir às coisas uma alma análoga à alma humana
(Costa e Melo, 1999).
Não raros são os momentos em que o texto em seus mistérios e em sua trama narrada dá
conta das três grandes concepções do universo de que trata Freud, com destaque para o animismo
e a religiosidade. Para reafirmar que o bom escritor é aquele que transfere para o texto literário
os mistérios da vida humana, dos grandes acontecimentos da história, de heróis notáveis, mas
também de comunidades de aldeias sem mais virtudes do que as que se expressam pela graça e
pela simplicidade, pela convivência por vezes indistinta entre o humano e a natureza.
Além de narrar histórias em que os personagens centrais revelam uma capacidade de
interpretar os sinais do mundo invisível, dos espíritos outros sobrenaturais. No plano simbólico,
tal feito é possível com o recurso a elementos cosmogónicos como o fogo,
intermediários hierofânicos, e cobras, águias, associados a outros elementos da natureza
em Mãe, Materno Mar. As festas apoteóticas constituem igualmente um aspecto comum. São
momentos que ocorrem no desfecho das histórias.
A percepção do homem africano que sacraliza os elementos permanece à margem da
compreensão nas bases do pensamento ocidental, como se a reflexão entre homem e cultura
fosse seu atributo exclusivo e como se natureza e cultura fossem fatores antagônicos.
Na procura de um modo para chegar ao que o narrador quer dizer, o texto se constrói
mediante o conceito de animismo, evidenciando de modo muito espontâneo que existe mesmo
entre os angolanos uma tendência geral de conceber todos os seres da natureza como
semelhantes a eles próprios e a transferir essas qualidades também às coisas.
1
http://es.wikipedia.org/wiki/Lenguas_bant%C3%BAes
Agora na África do Sul, país onde se aplicou muito precocemente e de maneira racista, o
termo bantu, tem sido um dos lugares onde se tem feito distintas investigações afins. Pois em um
ambiente onde os autóctones, em sua maioria bantu, eram discriminados, marginalizados e
estigmatizados pela cor de sua pele, a tal ponto de ser negado a eles sua humanidade (ubuntu);
em um ambiente onde o branco era sinônimo da força (armas), do poder, do bem estar e do belo,
em detrimento do negro; em um país onde “negro era não apenas a ausência de luz na África do
Sul, mas a ausência de identidade”2; obviamente a reação dos nativos sul-africanos deveria ser
diversa: aceitar humilhações do homem branco e todos os valores “brancos”, ou buscar uma
terceira via que, mutatis mutandis, poderíamos definir com uma analogia ao personagem de
Shakespeare “Caliban”; aprender os valores e a língua impostos, para logo servir-se deles para
operar uma “transmutação axiológica” (ROIG,1991 pg.51) dos mesmos. Muitas dessas reações
foram articuladas por alguns intelectuais e políticos sul-africanos como Steve Biko, Nelson
Mandela, Masolo, Desmond Tutu, entre outros.
Este último é também, como Mandela, prêmio nobel da paz. Este prêmio foi a apoteose
de sua luta contra o sistema do Apartheid, cujos muros foram derrubados pela abertura daquele
país ao multipartidarismo que levou à eleição de Nelson Mandela, como primeiro presidente
negro, em 1994. Sendo Tutu um bispo anglicano da etnia Xhosa, e conhecendo tão bem tanto a
cultura e a tradição de seu povo como a cultura e tradição dos brancos, tem funcionado como
uma verdadeira dobradiça na luta empreendida por seu povo, e logo na reconciliação de uma
África pós-apartheid. O fato de ser um pastor anglicano africano tem sido determinante na
elaboração de um pensamento arraigado tanto na tradição e cultura africana bantu, como na
tradição cristã anglicana. O conceito chave que tem manejado é o de “Ubuntu”.
Falando deste conceito, o expoente mais cabal do pensamento de Desmond Tutu, Michael
Battle aponta:
2
Battle, Michael, Reconciliation. The Ubuntu theology of Desmond Tutu, the Pilgrim Pres, Cleveland, Ohio, 2009, p.2.
Xhosa “ubuntu ungamuntu ngabanye abantu”, a qual, traduzida
significa “cada humanidade individual é idealmente expressa em
relação com outros” ou “uma pessoa depende de outras pessoas para
ser uma pessoa” (BATTLE, Op.Cit., pg.39)
3
Buatu, Batubenge, Omer, Elementos historico-culturales en la construccion de la democracia para Africa y su importância
para America Latina. El caso de la Conferencia Nacional Soberana Africana (tesis doctoral en Estudios Latinoamericanos,
FFyL/UNAM, 2003)
brasileiro Eugênio Platão de Carvalho5, na escravidão “africana-africana” ou “intra-africana”
houve um forte sentido comunitário. Pois os cativos de guerras ou as pessoas “empenhadas” por
suas famílias, integravam a comunidade que as recebia, de tal maneira que com o passar do
tempo se convertiam já nos membros completos da dita comunidade. Desse modo, segundo De
Carvalho, o reino do Daomé se fortaleceu muito por todos os cativos de guerras que haviam
integrado completamente a comunidade daomeana. Tudo isso mostra a importância da
comunidade nas sociedades africanas. O mesmo que Tempels aponta, na sua “Filosofia Bantu”,
que o pior dos castigos que poderia acontecer a um muntu é ser excluído de sua comunidade6.
Esta visão comunitarista tem sido criticada por vários autores tanto africanos como
estrangeiros, e também tem sido abusada por alguns dirigentes “oportunistas” africanos. A crítica
mais importante consiste em “sacrificar” o indivíduo no aras da comunidade. Como nossas
propostas vão pela linha do pensamento de Tutu, pensamos com ele que se pode contestar a
partir de uma aproximação com a interdependência. Foi desta forma que Tutu transcendeu
algumas aproximações com a filosofia africana que, no seu afã da busca da “originalidade”
africana frente a uma imponente filosofia ocidental, tem ressaltado sobretudo o comunitário em
detrimento do individual. Tutu parte de um horizonte cristão, para respaldar seu pensamento.
Assim aponta Battle:
7
O filósofo-teólogo sul-africano Forester A. Dion (obra de referência: Validation of individual consciousness in strong artificial
intelligence: An African Theological contribution [Tesis de doctorado en Teología sistemática], University of South Africa, June
2006).
8
O teólogo jesuíta alemão Peter Knauer (obra de referência: “Para comprender nuestra fé”, UIA Librería Parroquial, México,
1989).
9
A teóloga mexicano-alemã Bárbara Andrade (obra de referência: “Dios en medio de nosotros”, Secretariado Trinitario,
Salamanca, 1999).
para reaproximar a questão das identidades. Sendo um crente cristão, lança mão da antropologia
cristã e da teologia trinitária, e assevera que:
Conceitualizando mais sua proposta, Forester formula algumas categorias para entender
melhor o Ubuntu: fala da objetividade, da interobjetividade, da subjetividade e da
intersubjetividade.
Mas, neste autor encontramos algo mais. Ele explica da seguinte maneira:
É precisamente esta ideia de “relação” que nos levaria necessariamente a pôr em cena o
deítico muito importante para a filosofia latino-americana: o “NÓS”.
Em seus estudos sobre os tojolabais, Carlos Lenkersdorf destaca uma peculiar maneira de
filosofar “nósicamente” que caracteriza este povo maia de Chiapas. O famoso “tik-tak” (nós-
eles) na fala desse povo remete sempre a dimensão “nosótrica” do seu viver e atuar. Este é um
viver e um atuar interdependente. Essa interdependência começa desde o nascimento porque:
Esta prática é muito determinante quando se trata de entender essencialmente as pessoas. A partir
desta perspectiva que nos apresenta Lenkersdorf,
Não queremos, ao apresentar os problemas citados acima, firmar uma acepção pessimista
sobre o homem atual, mas enfatizar como ele vem se distanciando de um princípio relevante para
sua própria realização enquanto ser humano, a relação. O homem atual restringe-se a proferir a
palavra-princípio Eu-Isto, colocando-se diante das coisas em vez de confrontá-las no fluxo da
ação recíproca, preferindo um relacionamento unidirecional entre o Eu (egótico) e um objeto
manipulável (Isto). Buber, contudo, posicionou-se de maneira radical quando ao analisar a
atitude Eu-Isto, para ele assim como para o Ubuntu “aquele que vive somente com Isto não é
homem” (BUBER, 1977:39).