Você está na página 1de 3

1.

Defina a noção de Paradigma e explique de que forma este conceito nos permite demarcar
a ciência da não ciência.

Thomas Kuhn foi um físico e filósofo do séc. XX que discordou da opinião de Popper e desenvolveu uma
outra teoria acerca do conhecimento científico que defende uma epistemologia baseada na história da
ciência que, para ele, desempenhava um papel central na filosofia da ciência. Contudo, os dois filósofos
coincidem na ideia, embora que por motivos diferentes, que a ciência não é objetiva. Um conceito
fundamental na teoria de Kuhn é então o Paradigma. Mas o que é um Paradigma?

Entendemos por paradigma um modelo científico constituído pelas teorias fundamentais aceites pela
comunidade científica, durante um certo período de tempo e ao abrigo do qual é realizada a investigação.
Através deste, surge o critério da demarcação que nos permite distinguir a ciência da não ciência.

O critério da demarcação baseia-se no facto de que existir ou não, num determinado campo de
investigação, um paradigma aceite pela generalidade dos seus praticantes. A noção de paradigma é útil
para demarcar a ciência da não ciência, pois a ciência é definida por um conjunto de paradigmas que são
rigorosos, testáveis e falsificáveis. Em outras palavras, a ciência segue um conjunto de pressupostos e
métodos que são baseados em evidências empíricas, verificáveis e objetivas. Por outro lado, a não ciência
não segue um conjunto de paradigmas científicos. Esta pode incluir crenças, opiniões, tradições e práticas
que não são baseadas em evidências empíricas ou que não podem ser verificadas objetivamente. Por
exemplo, a astrologia, a homeopatia e outras formas de medicina alternativa não seguem um paradigma
científico e, portanto, não são consideradas ciência.

Em suma, a noção de paradigma é útil para distinguir a ciência da não ciência, uma vez que a ciência
segue um conjunto rigoroso de pressupostos, métodos e práticas baseados em evidências empíricas e
verificáveis, enquanto a não ciência não segue esse conjunto de paradigmas científicos.

2. Caracterize a investigação científica na fase da Pré-ciência e ciência normal. Exemplifique.

Para Thomas Kuhn, a ciência em evolução passa por 8 etapas, as quais constituem a sua teoria. A
primeira etapa é a pré-ciência. é a fase antecedente à criação de um paradigma, onde os cientistas ainda se
encontram em discórdia e onde cada qual utiliza o método que mais lhe parece adequado, não havendo
um acordo relativamente a quem está a fazer ciência e a quem investiga fora do âmbito científico. Quando
verificamos um consenso no seio das comunidades dos investigadores, entramos num período de
emergência paradigmática. Nesta fase é estabelecido um paradigma, que contêm leis, aplicações,
instrumentos e teorias, fornecendo soluções-modelo aos problemas da comunidade científica apenas
durante um determinado período de tempo. Uma vez estabelecido um paradigma, segue-se um período de
ciência normal que constitui a 3ª etapa da teoria de Kuhn, onde a investigação científica é feita de acordo
com as orientações do paradigma em vigor, o que acaba por promover um aprofundamento do mesmo.
Por modo a ilustrar a teoria de Kuhn, temos a título de exemplo a constituição do modelo atómico de
Dalton, Não havia consenso entre os cientistas quanto à constituição atómica dos seres (pré-ciência); após
diversas discussões os cientistas chegaram a um consenso passando o modelo atómico de Dalton a
constituir um paradigma e os cientistas que o apoiaram a comunidade científica (emergência
paradigmática) e as investigações foram realizadas segundo o paradigma (ciência normal).

3. Caracterize a fase da crise e ciência extraordinária. Exemplifique.

Uma vez que o paradigma é investigado é habitual que sejam encontradas anomalias- questões que não
são explicadas pelo paradigma. Deste modo, surge a 4ª fase da teoria do filósofo que corresponde à
deteção de anomalias sérias. Caso as anomalias não sejam significativas estas são caracterizadas como
exceções à regra, no caso destas serem significativas, a comunidade científica tenta corrigir o paradigma.
A 5ª etapa é denominada crise paradigmática. Nesta etapa, a comunidade científica toma consciência do
possível colapso do paradigma vigente devido às anomalias presentes neste. Assim, a comunidade
científica divide-se em dois grupos principais: os que defendem a correção do paradigma vigente e
aqueles que defendem a formulação de um novo paradigma. Deste modo, toma lugar um período de
ciência extraordinária, no qual o paradigma é levado ao limite, ou seja, o paradigma é explorado e
investigado ao máximo, de modo a evidenciar as suas anomalias. O mais frequente é o colapso do
paradigma, pois a correção do paradigma não solucionava todas as suas anomalias. Pegando no exemplo
da teoria do modelo atómico: com a descoberta do eletrão, Thomson identificou uma anomalia no
paradigma em vigor (anomalias serias) e com a descoberta de anomalias, a comunidade científica dividiu-
se em dois grupos, aqueles que defendiam a formulação de um novo (crise paradigmática); o modelo
atómico de Dalton colapsou devido às anomalias que apresentava (ciência extraordinária).

4. Caracterize o processo de Revolução científica. Exemplifique.

Após entrarmos no período de ciência extraordinária, é necessário haver a escolha de um novo paradigma.
De acordo com o filósofo, a escolha de um novo paradigma pode ser uma tarefa difícil, pelo que a
evolução científica não é cumulativa, ocorrendo através de revoluções. Isso ocorre, pois, os cientistas
defrontam-se com a escolha entre duas realidades diferentes, dois paradigmas constituídos por métodos
distintos. Assim, existem vários fatores que vão influenciar a escolha de paradigmas, como por exemplo a
argumentação. Este período de escolha entre paradigmas, constitui a 7ª etapa da teoria de Kuhn, a qual é
designada revolução científica. Segue-se um período de ciência normal, no qual a investigação é realizada
segundo o paradigma adotado na etapa anterior. Este período constitui a 8ª etapa. De modo a explicar a
revolução científica temos a título de exemplo a continuação da explicação do modelo atómico de Dalton.
Após diversas discussões, o modelo atómico de Thomson constituiu o novo paradigma (revolução
científica), e a investigação passou a ser realizada segundo o modelo atómico de Thomson (ciência
normal).

5. Em que consiste a incomensurabilidade de paradigmas? Exemplifique.

Segundo Kuhn, quando surgem dois paradigmas rivais a comunidade científica depara-se com uma
escolha. Os fatores que levam à escolha de um ou outro paradigma não estão necessariamente associados
à assertividade do próprio paradigma, mas com critérios de uma natureza mais subjetiva. Isto porque, por
exemplo, os cientistas mais velhos pendem para o antigo paradigma por terem ajudado a construi-lo ou
por terem feito a investigação de uma vida à luz dos seus princípios. Esta situação, segundo Kuhn, deve-
se ao facto de os paradigmas serem incomensuráveis, isto é. É impossível compara-los objetivamente e
concluir que um é melhor que o outro.

Existem então três razões para a incomensurabilidade dos paradigmas: os cientistas que apoiam teorias
rivais não concordam relativamente aos problemas que paradigmas devem resolver porque usam
diferentes critérios e definições científicas; diferentes cientistas que defendiam diferentes paradigmas
utilizam conceitos e termos em novos contextos e com significados e interpretações diferentes; os
cientistas que defendem paradigmas rivais fazem investigação em mundos diferentes. Um exemplo da
incomensurabilidade dos paradigmas pode ser visto na transição da física clássica para a física quântica.
Na física clássica, as teorias e os métodos de investigação científica baseiam-se em conjeturas como a
causalidade e a objetividade. Já na física quântica, a causalidade é questionada e é valorizada a
subjetividade. Uma vez que estes paradigmas são incompatíveis tornam-se também incomparáveis, ou
seja, é impossível decidir qual deles é o melhor.

Assim sendo, conseguimos compreender a incomensurabilidade dos paradigmas presentes nesta transição
científica, uma vez que é impossível comparar dois paradigmas e decidir que um é efetivamente mais
acertado que o outro.

6. Explique os critérios objetivos e subjetivos na escolha de teorias.

Para Kuhn, apesar de haver subjetividade na escolha de paradigmas, é importante encontrar um critério
racional que permita aferir a qualidade de teorias. A escolha entre paradigmas é então realizada segundo
critérios objetivos e subjetivos.
Os critérios objetivos são: exatidão, um paradigma deve ser exato, concordando com resultados e
observações; consistência, uma teoria deve ser consistente não contradizendo outras teorias que tentem
explicar o mesmo fenómeno; abrangência, uma teoria deve explicar fenómenos e relações entre estes,
alem daqueles para o qual foi proposta; simplicidade, uma teoria deve tornar uma realidade simples;
fecundidade, uma teoria deve estabelecer relações entre fenómenos. Apesar destes 5 critérios serem
indispensáveis a uma boa prática científica, estes não garantem a objetividade na escolha entre
paradigmas., uma vez que diferentes cientistas podem, por exemplo, atribuir diferentes pesos a diferentes
critérios. Logo a subjetividade está presente na teoria de Kuhn através da atribuição de diferentes
importâncias e valores aos mesmos critérios objetivos. Deste modo, os cientistas podem atribuir diferente
importância quer utilizem os critérios de forma isolada quer os utilizem em conjunto.

Assim, para Kuhn, a ciência não é contínua nem objetiva.

7. Explique a perspetiva de Kuhn sobre o progresso científico.

Segundo Kuhn, existe evolução, mas não existe progresso científico, uma vez que a ciência evolui por
uma sucessão de paradigmas, sem que haja uma aproximação à verdade, mas existe aprofundamento do
conhecimento (produzido pela aquisição de um paradigma) e ampliação de conhecimentos (formados pela
emergência paradigmática e pela incomensurabilidade dos paradigmas) embora que este não constitua um
progresso em direção à verdade.

A esta teoria sucedem várias críticas. Como por exemplo: ao criticarmos a tese da incomensurabilidade
dos paradigmas, temos de afirmar que os paradigmas atualmente em vigor não estão mais próximos da
verdade do que os paradigmas que o vieram substituir. Isto põe em causa o progresso da ciência e
contradiz uma evidência de que as aplicações científicas contemporâneas têm resultados
incomparavelmente aos das aplicações científicas do passado. O progresso da ciência implica que as
teorias possam ser comparadas; as teorias podem ser comparadas considerando a sua resistência a testes
empíricos rigorosos; as novas teorias corrigem os erros das anteriores e alargam o seu campo de
aplicação; ao eliminar erros, as novas teorias aproximam-se cada vez mais da verdade.

Você também pode gostar