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Título: Resenha do Artigo: A AMAZÔNIA E ARTE DA RENDA NA CRISE

AMBIENTAL: EMPRESAS, COMUNIDADES TRADICIONAIS, MEIO AMBIENTE


E LUGARES ESTRATÉGICOS. Jodival Maurício da Costa Edilene Lira.
Discente: Gilvam Ferreira Barros Borges
Referência: UNIFAP
Ano: 2022

A AMAZÔNIA E ARTE DA RENDA NA CRISE AMBIENTAL: EMPRESAS,


COMUNIDADES TRADICIONAIS, MEIO AMBIENTE E LUGARES
ESTRATÉGICOS. Jodival Maurício da Costa Edilene Lira. Problema ambiental:
naturezas e sujeitos em conflito/ Joaquim Shiraishi Neto; [et.al] (orgs.). - São Luís:
edufma, 2019. isbn 978-85-7862-829-1, 267p.

O autor começa apontando sobre a arte da renda e como a mesma representa uma
marca do modelo de produção capitalista e relaciona com a defesa da tese que a mesma
pode ser buscada na esfera pública. Esse primeiro ponto conversa com os objetivos
gerais do artigo, das quais apresenta dois: 1) versar sobre a aproximação das empresas
com valores cultivados na esfera pública e de que maneira podem apresentar vantagens
na obtenção de renda diferenciada e 2) como esse modus operandi é utilizado pela
empresa Natura ao se relacionar com a Amazônia. Como bem pontua o autor, levantar
essas questões é buscar entender como as empresas, e por consequência o sistema
capitalista, estão se transformando com os novos problemas do período atual, no
período-crise. Para isso, abandona o diálogo com a renda monopolista, mas mantém a
ideia da renda privilegiada presente e é nesse contexto que vai analisar a relação da
Amazônia com a empresa de cosméticos Natura ao buscar entender os componentes de
extração de reserva de mercado.

A dinâmica do processo de globalização e a forma como se relaciona com determinadas


localidades e seu conteúdo simbólico acaba por gerar vantagens de renda. Na busca por
aprofundar, e estabelecer melhor o campo para o desenvolvimento do diálogo,
desenvolve o conceito de Rendas monopolistas, para então adentrar efetivamente sobre
rendas privilegiadas, empresas e capital simbólico. Sobre as rendas monopolistas, o
autor conceitua como controle exclusivo que exercem no mercado, e parafraseando
Heavy, distingue dois casos: sendo a primeira em que o ator adquire controle dos
recursos naturais ou de determinada localidade e a segunda se trata a respeito das
centralidades em que comercializa a mercadoria ou serviço produzido por meio do seu
uso, mas isso recai em contradições relativas à negociabilidade e ao sistema neoliberal.
Acontece que nenhum produto pode ser tão único a ponto de escapar do cálculo
monetário, assim como a liberdade de mercado e formação de exclusividade apresentam
incompatibilidades se somam a esta situação que o capitalismo sempre cultiva algum
tipo de vantagem.

No contexto neoliberal, o desafio é atuar na regulação de um processo em que o período


é de crise constante. As crises são de dois tipos: uma que se manifesta periodicamente
em um país ou região e outra é de caráter civilizacional (ambiental). Diante do exposto,
é necessário a metamorfose do sistema capitalista ao mesmo tempo que mantém sua
essência. Nessa conjuntura, o autor afirma com precisão, que a renda privilegiada não
pode ser buscada na exclusividade do mercado, mas sim na obtenção de renda
privilegiada através da valoração da cultura, adaptando-se ao período-crise atual, em
outras palavras: pelo valor associativo a questões culturais, ambientais e regionais do
produto. São três os pontos de privilégio, segundo o autor, na extração de renda
privilegiada atualmente: 1) referência a um capital simbólico coletivo associado aos
povos tradicionais amazônidas; 2) o poder do capital simbólico incorporado no produto
advindo de base ambientalmente sustentável ; e 3) vinculação a uma localidade
estratégica para interesses globais na atualidade, como a Amazônia, para o combate às
alterações climáticas.

A atuação do Estado na formação de consumidores "ambientalmente corretos" ou


“socialmente responsáveis” é decisiva, pois imprime uma forma de pensar o ambiente e
natureza, gerando valor na esfera pública sobre essas pautas. O contexto atual, na visão
do autor, joga com a histórica exclusão social e a recente crise ambiental contribuindo,
dessa forma, para a ordenação de comportamentos por encontrar aderência com o
clamor público para o cuidado com o meio ambiente. Esse ordenamento produz um
campo simbólico e sua reapropriação na escala dos indivíduos, das instituições e dos
lugares. As empresas proativas absorvem o período-crise como estratégia de
acumulação, configura-se, nesse sentido, um ordenamento econômico ao que o autor
pontua como “semiótica das relações de produção”, para isso as empresas utilizam dois
meios: vincular diretamente a produção aos valores estratégicos e inserção dessa
responsabilidade produtiva na esfera pública.

O autor utiliza a dinâmica de atuação da empresa Natura como modelo para entender a
extração de renda privilegiada na prática. A empresa constrói sua imagem a partir da
responsabilidade socioambiental e se utiliza da estratégia de produção direta a partir de
matérias-primas da biodiversidade regional e de dimensão simbólica, pois explora na
sua produção de valores a preservação da floresta Amazônica com respeito às
comunidades regionais. Ainda nesse contexto, o autor cita a parceria que a Natura fez
com a Fundação Banco do Brasil ao lançar o Programa Amazônia, que conta com três
pilares: 1) ciência, tecnologia e inovação; 2) cadeias produtivas da sociobiodiversidade
e 3) fortalecimento institucional. O primeiro pilar diz respeito a prioridade para a
produção científica que valorizem as riquezas da Amazônia (Nina), a segunda parte
versa sobre a estruturação, aprimoramento e expansão das cadeias produtivas e a
terceira parte é sobre o “empoderamento” das instituições locais e o estabelecimento de
uma economia em pé.

Para o autor, esse comportamento está sustentado em uma tríade: Amazônia como lugar
estratégico na crise ambiental; valoração das comunidades locais e o discurso da prática
ambientalmente correta , com a inserção de valores elencados por organismos como as
Nações Unidas (ONU). Com isso a empresa busca vantagem competitiva no mercado
ao apresentar-se em consonância com as soluções buscadas para os problemas
civilizacionais do período-crise, conectando-se com os consumidores que apresentam
tendência a conceber produtos socioambientais responsáveis como benéficos diante das
crises atuais. O valor cultural não está apenas no produto, mas também nas pessoas, no
desenvolvimento dos dispositivos de ordenamento, que para o autor, cultivam esses
valores. Portanto, na visão do autor, a questão passa a ser de cunho sistêmico, pois
identifica que o mercado intensifica a incorporação de suas próprias crises como
vantagens comparativas.

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