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APRESENTAÇÃO
A obra Meio Ambiente, Sustentabilidade e Agroecologia vem tratar de um conjunto de
atitudes, de ideias que são viáveis para a sociedade, em busca da preservação dos
recursos naturais.
Em sua origem a espécie humana era nômade, e vivia integrada a natureza,
sobreviviam da caça e da colheita. Ao perceber o esgotamento de recursos na região
onde habitavam, migravam para outra área, permitindo que houvesse uma reposição
natural do que foi destruído. Com a chegada da agricultura o ser humano desenvolveu
métodos de irrigação, além da domesticação de animais e também descobriu que a
natureza oferecia elementos extraídos e trabalhados que podiam ser transformados
em diversos utensílios. As pequenas tribos cresceram, formando cidades, reinos e até
mesmo impérios e a intervenção do homem embora pareça benéfica, passou a alterar
cada vez mais negativamente o meio ambiente.
No século com XIX as máquinas a vapor movidas a carvão mineral, a Revolução
Industrial mudaria para sempre a sociedade humana. A produção em grande volume
dos itens de consumo começou a gerar demandas e com isso a extração de recursos
naturais foi intensificada. Até a agricultura que antes era destinada a subsistência
passou a ter larga escala, com cultivos para a venda em diversos mercados do
mundo.
Atualmente esse modelo de consumo, produção, extração desenfreada ameaça não
apenas a natureza, mas sua própria existência. Percebe-se o esgotamento de
recursos essenciais para as diversas atividades humanas e a extinção de animais que
antes eram abundantes no planeta. Por estes motivos é necessário que o ser humano
adote uma postura mais sustentável.
A ONU desenvolveu o conceito de sustentabilidade como desenvolvimento que
responde as necessidades do presente sem comprometer as possibilidades das
gerações futuras de satisfazer seus próprios anseios. A sustentabilidade possui quatro
vertentes principais: ambiental, econômica, social e cultural, que trata do uso
consciente
dos recursos naturais, bem como planejamento para sua reposição, bem como no
reaproveitamento de matérias primas, no desenvolvimento de métodos mais baratos,
na integração de todos os indivíduos na sociedade, proporcionando as condições
necessárias para que exerçam sua cidadania e a integração do desenvolvimento
tecnológico social, perpetuando dessa maneira as heranças culturais de cada povo.
Para que isso ocorra as entidades e governos precisam estar juntos, seja utilizando
transportes alternativos, reciclando, incentivando a permacultura, o consumo de
alimentos orgânicos ou fomentando o uso de energias renováveis.
No âmbito da Agroecologia apresentam-se conceitos e metodologias para estudar os
agro ecossistemas, cujo objetivo é permitir a implantação e o desenvolvimento de
estilos de agricultura com maior sustentabilidade, como bem tratam os autores desta
obra. A agroecologia está preocupada com o equilíbrio da natureza e a produção de
alimentos sustentáveis, como também é um organismo vivo com sistemas integrados
Meio Ambiente, Sustentabilidade e Agroecologia Capítulo 5 entre si: solo, árvores,
plantas cultivadas e animais.
E-book :Meio ambiente, Sustentabilidade e Agroecologia.Indd( Tayrrone A.Rodrigues,
João Leandro Neto, Denyura O. Galvão)

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RESUMO

O presente trabalho trata dos conceitos e práticas da Responsabilidade Social e


Educação Ambiental. Estabeleceu-se como objetivo geral demonstrar as situações
que cabem a cada setor a responsabilidade Social e a Educação Ambiental está
inserindo tais práticas em sua gestão da Responsabilidade Social e Sustentabilidade.
Neste sentido, foram propostos os seguintes objetivos específicos:
a)Identificar e caracterizar para medir e apresentar os resultados de sua gestão
sustentável;
b) Identificar e analisar as ações sustentáveis executadas por empresas. E, como
empresa sustentável, implementando ações por meio das seguintes plataformas:

Palavras-chave: Indicadores. Responsabilidade social. Sustentabilidade.

1 INTRODUÇÃO

Até a década de 1970, as políticas e ações econômicas se orientavam pelo uso


intensivo dos recursos, e se pautavam no aumento da produção, do consumo e da
riqueza. A sustentação desse trip era o desafio para o “desenvolvimento” da sociedade
(SILVA; MENDES, 2005).

Durante a década de 1980 surgiu o termo sustentabilidade, originado de uma


conscientização crescente de que os países precisavam descobrir maneiras de
promover o crescimento de suas economias sem destruir o meio ambiente ou
sacrificar o bem-estar das futuras gerações (SAVITZ; WEBER, 2007).

A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1991) foi criada em


1983, com a finalidade de reexaminar os problemas críticos do meio ambiente e
desenvolvimento do planeta e formular propostas realistas para solucioná-los. O
trabalho dessa comissão resultou na publicação de um relatório denominado Our
Common Future (Nosso futuro comum) que registrava os sucessos e as falhas do
desenvolvimento mundial.

O trabalho dessa Comissão aponta duas justificativas básicas para um


desenvolvimento sustentável: em relação ao meio ambiente, controle dos danos
gerados à biosfera pela intervenção humana, tendo como objetivo o uso racional dos
recursos naturais; nas questões sociais, prioridade no que se refere às principais

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necessidades básicas das pessoas em todo o mundo no sentido de gerar
oportunidades para o alcance de uma vida melhor.

Para essa Comissão, o desenvolvimento sustentável fundamenta-se no desejo de


satisfazer as necessidades humanas presentes, sem comprometer a possibilidade das
próximas gerações também satisfazerem as suas necessidades. Esse conceito torna-
se a base para as organizações fundamentarem sua gestão, comprometida com a
responsabilidade social.

Apesar de as economias poderem apresentar diferentes estruturas de produção e


consumo, elas deverão estar centradas no objetivo comum, inerente ao conceito de
desenvolvimento sustentável e nas estratégias necessárias para sua execução. Dessa
forma, as empresas devem prestar contas, não só aos acionistas e credores, mas
também a uma gama bem maior de interessados formando um público amplo
identificado como stakeholders.

É nesse ambiente de negócios que a sustentabilidade passa a ser o grande desafio


das empresas na busca de estratégia que as conceituem como uma empresa
engajada nesse ambiente. Assim, sustentabilidade passa a significar gestão
esclarecida e disciplinada – que, a propósito, é o fator mais importante que os
investidores levam em conta e devem ter em vista nas suas decisões de compra de
ações.

Conforme António apud Buffara (2003), o momento atual aponta um novo contexto
socioeconômico-ambiental e uma nova responsabilidade a ser assumida. Assim, o
papel social das organizações vem sendo redesenhando de forma mais ampla e
abrangente, caracterizando-se como agentes de transformação e de influência na
sociedade como um todo.

A postura proativa da empresa passa a envolver um processo em cadeia, no qual,


todos os elos são corresponsáveis pela geração de novos produtos e processos,
permitindo o passo à frente em direção ao desenvolvimento sustentável, última e mais
desafiante estratégia.

A partir dos autores já citados, pode-se definir responsabilidade social como o


compromisso que uma organização assume perante a sociedade por meio de atos e
atitudes que a afetam positivamente, de modo amplo, ou a alguma comunidade, de
modo específico, agindo proativa e coerentemente no que tange a seu papel
específico na sociedade e a sua prestação de contas para com ela.

Palavra- chave: stakeholders. Os stakeholders (partes interessadas, em português)


são as pessoas e as organizações que podem ser afetadas por um projeto ou
empresa, de forma direta ou indireta, positiva ou negativamente. Os stakeholders

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fazem parte da base da gestão de comunicação e são importantes para o
planejamento e execução de um projeto.

Tinoco e Kraemer (2004) entendem que o reconhecimento da dimensão social das


empresas exige que sejam criados instrumentos de demonstração dos atos e valores
relevantes para a sociedade ou para parceiros, da empresa (stakeholders) e não
apenas dos resultados econômicos e financeiros.

Deste modo, para as empresas que adotam este procedimento, o Balanço Social e
outros tipos de relatórios, devidamente auditados, permitem aos empresários e aos
agentes sociais identificar, medir e agir sobre os fatos sociais vinculados à empresa,
tanto interna quanto externamente. Com isso, nas empresas que divulgam relatórios
de sustentabilidade, sua adoção é fato e não hipótese (INSTITUTO ETHOS, 2002).

PAREI aqui

Inserem-se neste contexto as concessionárias e permissionárias de energia elétrica,


sendo estas básicas para o Sistema de Produção e de Consumo de toda uma
economia. Como toda organização empresarial, estas empresas extraem do meio
ambiente e social os recursos necessários à realização das suas atividades
econômicas (insumos naturais, mão de obra, infraestrutura básica das cidades), e, ao
realizarem os seus serviços, promovem mudanças sociais, econômicas, culturais e
tecnológicas. A tomada de consciência da atuação e reflexos das suas atividades
empresariais constitui a sua Responsabilidade Social.

No âmbito do Setor Elétrico, especialmente, por se tratar de um serviço público


prestado sob o regime de concessão, a análise dessa responsabilidade deve ser ainda
mais ampliada. Requer compreender que a prestação desses serviços tem de atender
prioritariamente ao interesse público, já que toda concessão ou permissão pressupõe
a prestação de um serviço adequado que satisfaça as condições de regularidade,
continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia e modicidade
das tarifas, conforme dispõe a Lei nº 8.987 de 13 de fevereiro de 1995 sobre o regime
de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da
Constituição Federal de 1988.

Consciente dessa nova ordem social, a Companhia Paranaense de Energia (COPEL),


empresa localizada no Estado do Paraná, vem, desde 1999, empreendendo esforços
no sentido de aprofundar seu entendimento e incorporar o conceito de
sustentabilidade em sua estratégia de negócios.

No sentido de contribuir para os estudos da prática da sustentabilidade, este trabalho


objetivou demonstrar como a COPEL está incorporando a sustentabilidade em sua
gestão, tendo como objetivos específicos:

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Identificar e caracterizar os indicadores e relatórios de prestação de contas utilizados
na empresa COPEL para medir e apresentar os resultados de sua gestão sustentável;
e
Identificar e analisar as ações sustentáveis executadas pela empresa.
Dos procedimentos metodológicos, definiu-se a pesquisa exploratória e descritiva, com
abordagem qualitativa, responsáveis pela revisão bibliográfica. Para a pesquisa de
campo, aplicou-se o estudo de caso na COPEL, reconhecida como empresa que tem
empreendido esforços para enquadrar-se como empresa sustentável.

A coleta dos dados deu-se por meio de contatos e conversas informais com a gerência
do Setor de Responsabilidade Social da COPEL, no período entre novembro de 2006
a abril de 2007. E, para a análise do objeto de estudo, utilizou-se o Relatório de
Gestão 2005, elaborado com base nos indicadores da Global Reporting Initiative
(INSTITUTO ETHOS, 2002).

2 A responsabilidade social das empresas no desenvolvimento sustentável

(REVISAR)
.. Podemos verificar nos sites de pousadas que o artesanato e a culinária local estão
presentes e são características marcantes nesses empreendimentos aspectos esses
confirmados no trabalho de campo -, que assim disseminam aspectos da cultural local
nos seus pratos e nas suas dependências, através da decoração. Uma forma de
inserir pessoas da comunidade local que não estão empregadas diretamente nas
pousadas, na atividade turística, muitas vezes ocorre através da compra de produtos
(artesanato, frutos do mar, coco etc.) pelas pousadas ou pela utilização de serviços
(jangadas para passeios, táxis, jardineiros, pedreiros, encanadores etc.) ofertados por
pessoas que pertencem à comunidade local. Alguns autores(BARBIERI, 2004;DIAS,
2006;TACHIZAWA, 2006) entendem que a busca pela RSA pode incluir propostas que
permitam a verdadeira inclusão dos atores da comunidade, o que pode contribuir para
o desenvolvimento sustentável (ARAUJO; BRAMWELL, 1999). Por seu turno, o
turismo de massa frequentemente não valoriza as pessoas nem os interesses das
comunidades onde se implantam (HALL, 1994
Localização da área de Estudo Elaboração: os Autores (2020).A ecoeficiência,
enquanto diretriz para o desenvolvimento sustentável, baseia-se na ideia de otimizar a
produção de bens e serviços sustentáveis e, ao mesmo tempo, reduzir o uso de
recursos naturais, a produção de resíduos e consequentemente o impacto ambiental
(DESIMONE; POPOFF, 2000). SegundoDias (2006), ecoeficiência é um sistema
estratégico produtivo que promove o fornecimento de bens e serviços sustentáveis a
preços competitivos que satisfazem as necessidades humanas, e assim promove a
redução dos impactos ambientais e de consumo de recursos naturais. ...
. A adequação as leis e exigências ambientais não foram os únicos fatores que
impulsionaram a busca por padrões de produção mais sustentáveis, ao longo dos
anos 90. As estratégias de promoção da qualidade e da competitividade cumpriram

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um papel importante no processo de ajuste das organizações brasileiras ao novo
ambiente induzido pela abertura econômica, contribuindo para a melhoria da
ecoeficiência nas empresas (DIAS, 2011). ...
. Nos últimos anos, a sociedade tem aumentado gradativamente a exigência de uma
política de controle, preservação e recuperação ambiental por parte das organizações,
fato que juntamente com crescente regulação do governo tem exercido pressão a fim
de que as mesmas implantem uma gestão ambiental para controlar o Em comparação
com as empresas privadas, na esfera pública, a gestão ambiental nas organizações
ocorre de maneira diferenciada, uma vez que, a utilização de legislações não é apenas
orientadora, mas possuem poder de cobrança, disciplina e punição. Vê-se, também, a
relação da gestão ambiental com um processo educativo de mudança de atitude que
deve promover além da preservação do meio ambiente uma melhor qualidade de vida
(DIAS, 2006;BONISSONI et al, 2009). (2018), a mobilização e a sensibilização
deverão ser encaradas como um processo contínuo para a implantação da A3P,
sendo necessário para isso a elaboração do Plano de Sensibilização contendo as
ações a serem implementadas, tais como campanhas, cursos, treinamentos,
publicações de material educativo, entre outros; bem como as estratégias de
comunicação entre os diversos setores. ...
Quanto a dimensão social do TBL, recomenda-se que a empresa focal compreenda os
impactos negativos causados pela própria empresa e busque se envolver com as
comunidades próximas, desenvolvendo projetos de cunho social, ofereça melhores
condições de trabalho, e assuma sua responsabilidade social (Pullman, Maloni &
Carter, 2009;Coral, 2002). Por fim, no âmbito econômico Dias (2006) afirma que as
empresas devem manter seu negócio economicamente viáveis e rentáveis. A pesquisa
trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, que é essencial para o
entendimento mais profundo do contexto onde algum fenômeno ocorre, permitindo
uma maior aproximação do pesquisador à subjetividade dos fenômenos (Turato,
2005). ...

Para o livre exercício da atividade produtora de bens e serviços, as empresas deverão


observar vários fatores, que, dentre os principais, destacam-se: a) a livre concorrência;
b) defesa do consumidor; c) a defesa do meio ambiente; d) a redução das
desigualdades sociais regionais; e e) a oferta de emprego (LEWIS, 2005).

Assim, do poder emanado constitucionalmente ao empreendedor de exercer


livremente sua atividade emana, também, o dever de utilizá-la em prol da sociedade.
Deve a empresa, portanto, visar, além dos lucros e da produção de bens, atender sua
função de servir a sociedade como um todo (REALE, 1998 apud LEWIS, 2005).

Neste contexto, as empresas assumem papel de agentes transformadores da


sociedade, imbuídas de responsabilidade em desenvolver ações que visem a
dignidade humana, sem recorrer a ações que possam prejudicar o seu público, seus
clientes, seus fornecedores e a sociedade em que está estabelecida. Para tanto, é

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necessário a empresa precaver-se de recursos financeiros e patrimoniais no sentido
de garantir o desempenho dos negócios e cumprimento de suas obrigações
monetárias.

O aspecto jurídico da responsabilidade social das empresas, no Brasil, encontra a


base na Constituição Federal de 1988 disposta no artigo 170, e seguintes, os quais
citam os princípios gerais da atividade econômica, garantindo a livre iniciativa
mediante uma contraprestação da empresa, a qual deverá participar da integração do
cidadão à coletividade, garantindo-lhe bem-estar e uma existência digna. No artigo 5º,
caput e incisos XII e XXIII, a referida Constituição estabelece que todos são iguais
perante a lei, à igualdade, à segurança e à propriedade, mas indicando que ela
atenderá à sua função social.

Para Savitz e Weber (2007), o termo sustentabilidade se transformou em assunto de


amplas discussões sociais e ambientais, sobretudo no mundo dos negócios e denota
uma ideia poderosa e objetiva: empresa sustentável é aquela que gera lucro para os
acionistas, ao mesmo tempo em que protege o meio ambiente e melhora a vida das
pessoas com que mantém interações.

As evidências da necessidade de que as organizações, para a sua sobrevivência,


devem adotar, em sua gestão, práticas de sustentabilidade, requerem formas de
análise dos impactos das atividades empresariais em relação às questões
econômicas, sociais e ambientais e os efeitos dessas práticas sobre o lucro.

Aplicada na prática, a sustentabilidade envolve estratégia, gestão e lucro. As


dimensões econômicas sociais e ambientais geram riscos e oportunidades que estão
mudando profundamente os setores de atividades e os negócios em geral (SAVITZ;
WEBER, 2007).

Um modelo de gestão empresarial baseado em três pilares - viabilidade econômica,


consciência ambiental e responsabilidade social - consiste no conceito inglês de
Tríplice Resultado ou Triple Bottom Line (TBL) e indica que todo negócio é alicerçado
pelos três pilares (o econômico, o ambiental e o social) que são inter-relacionados e
devem ser integrados à estratégia de negócios. Segundo esse conceito, o progresso
sustentável a longo prazo requer o equilíbrio desses parâmetros.

Também é conhecido como o modelo de gestão dos três Ps: People, Planet e Profit,
sendo People - pessoas direta e indiretamente envolvidas; Planet - meio ambiente e
impactos; e Profit - retorno financeiro.

O TBL, segundo Elkington apud Savitz e Weber (2007), sugere que as empresas
avaliem o sucesso não só com base no desempenho financeiro, mas também sob o
ponto de vista de seu impacto sobre a economia mais ampla, sobre o meio ambiente e

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sobre a sociedade em que atua. Quando positivo reflete o aumento no valor da
empresa, tanto na lucratividade e geração de riqueza para os acionistas quanto sob o
aspecto de seu capital social, humano e ambiental.

3.1 Responsabilidade Socioambiental


Grandes fatos e acontecimentos estranhos vivenciados nos dias atuais são
causados pela má conduta das escolhas da humanidade. A importante busca para
uma prática socioambiental é baseada numa política que desenvolva um processo de
sustentabilidade.
Atualmente quase todas as sociedades estão enfermas. Produzem má qualidade
de vida para todos, seres humanos e demais seres da natureza. E não poderia ser
diferente, pois estão assentadas sobre o modo de ser do trabalho entendido como
dominação e exploração da natureza e da força do trabalhador. À exceção de
sociedades originárias como aquela dos indígenas e de outras minorias no sudeste
da Ásia, da Oceania e do Ártico, todas são reféns de um tipo de desenvolvimento
que apenas atende as necessidades de uma parte da humanidade (os países
industrializados), deixando os demais na carência, quando não diretamente
na fome e na miséria. Somos uma espécie que se mostrou capaz de oprimir e
massacrar seus próprios irmãos da forma mais cruel e sem piedade. Só neste
século morreram em guerras, em massacres e em campos de concentração cerca
de 200 milhões de pessoas. E ainda degenera e destrói sua base de recursos
naturais não renováveis.5
(Pierre, 2015)
Basta olhar ao redor para perceber uma onda de desgastes no ambiente que
cresce em descontrole a cada dia, o domínio do homem em relação à natureza é de
força extremamente omissa aos desejos que satisfaz o seu interesse, a exploração
e extração de recursos são feitas de maneiras desordenadas e acabam consumindo
5 Pierre, Dansereau. In ecologia humana, ética e educação. Pg. 334.
Meio Ambiente, Sustentabilidade e Agroecologia Capítulo 1 7
qualquer possibilidade de recuperação. Para que o homem possa ter domínio sobre
suas ações é necessária uma prática que sustente a recuperação das retiradas.
Um desafio que deve ser vencido dia a dia é o preenchimento das áreas
desgastadas com recursos naturais, facilitando a continuidade da biodiversidade e

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garantindo uma qualidade de vida das civilizações inclusas nas áreas. Um projeto
pensado com bases nos princípios éticos e socioeconômicos garante a
sustentabilidade
de uma região e da confirmação de que mesmo essa área sendo explorada pode
produzir recursos e bem-estar social e econômico.
As práticas e ações são projetadas com êxito, observando todos os recursos
criados para uma sustentabilidade aplicada, são bastante aprimoradas e se recebida
de forma a conceber um equilíbrio para que todos tenham um acesso, isso com
certeza
fortaleceriam as comunidades, mas infelizmente existem fatos que não conseguem
ser colocados em pratica e quando são o retorno é por parte de uma pequena minoria.

3 Indicadores de sustentabilidade

3.1 Plataformas de gestão

Não há apenas um modelo padronizado de avaliação de estratégias para a


sustentabilidade, a exemplo das Demonstrações Contábeis. Assim, além da
publicação anual dos balanços e relatórios sociais e ambientais, ganham destaques as
certificações, selos e standards internacionais na área social. No Brasil, os principais
exemplos são: Selo Empresa Amiga da Criança, conferido pela Fundação Abrinq; o
Selo Empresa Cidadão, prêmio instituído pela Câmara Municipal da cidade de São
Paulo; e o Selo Balanço Social Ibase/Betinho, do Instituto Brasileiro de Análises
Sociais e Econômicas desde 1998 (BUFFARA, 2003).

Há também, a premiação oferecida anualmente pelo Instituto Ethos, que consiste no


seguinte:

O Prêmio Instituto Ethos-Valor, voltado para estudantes universitários;


O Prêmio Instituto Ethos de Jornalismo, dirigido a jornalistas; e
O Prêmio Balanço Social, para empresas (INSTITUTO ETHOS, 2008).
No cenário internacional, algumas iniciativas se destacam, a exemplo do denominado
Global Compact (Pacto Global), que busca o apoio e a adesão dos países a um pacto
com o objetivo de promover uma economia global inclusiva e sustentável.

Trata-se de uma iniciativa no sentido de mobilizar a comunidade empresarial


internacional para a promoção de valores fundamentais nas áreas de direitos

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humanos, trabalho e meio ambiente. Para tanto, conta com a participação das
agências das Nações Unidas, empresas, sindicatos, organizações não
governamentais e demais parceiros necessários para a construção de um mercado
global mais inclusivo e igualitário (INSTITUTO ETHOS, 2006).

O Pacto Global constitui-se de centenas de organizações nacionais e internacionais,


sendo 230 organizações brasileiras signatárias. Dessas, 79 são reconhecidas no site
mundial do Pacto Global. As demais se encontram em processo de reconhecimento.
Para serem consideradas "signatárias" pelo escritório mundial do Global Compact, as
organizações devem encaminhar carta ao atual Secretário-Geral Ban Ki-moon
juntamente com sua Folha de Dados (INSTITUTO ETHOS, 2007).

O Pacto Global defende dez princípios universais, derivados da Declaração Universal


de Direitos Humanos, da Declaração da Organização Internacional do Trabalho sobre
Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho, da Declaração do Rio sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento e da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção
(INSTITUTO ETHOS, 2007).

3.2 Normas

Outras iniciativas compreendem as normas nacionais e internacionais, que assumem


papel relevante uma vez que buscam sistematizar ações necessárias para a
incorporação de um sistema de gestão da Responsabilidade Social Corporativa nas
operações rotineiras da empresa. Dentre elas, constam a Norma Accountability [AA
(1000)] lançada em 1999, que define as práticas para prestação de contas com o
objetivo de assegurar a qualidade da contabilidade, auditoria e relato social ético.

Pode ser usada isoladamente ou em conjunto com outros padrões de prestação de


contas tais como a Global Report Initiative (GRI), e normas padrões como a
International Organization for Standardization (ISO) e a Social Accountability [SA
(8000)]. Visa auxiliar diversos usuários, tais como empresas, acionistas, auditores,
consultores e organizações certificadoras. Uma das mais importantes contribuições da
AA 1000 são os processos e definições que dão suporte à prática da responsabilidade
social empresarial (INSTITUTO ETHOS, 2005).

A Norma Social Accountability (SA 8000) é uma norma certificadora de


responsabilidade social baseada nas normas da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Declaração
Universal dos Direitos da Criança.

A SA 8000 tem a preocupação de coibir a prática de trabalho infantil e escravo e


outras práticas de contratação de empregados consideradas abusivas, abordagem
essa, mais restrita em relação à AA 1000. Essa contém um princípio de inclusividade e

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um processo em que a própria organização deve identificar as partes interessadas
relativas ao seu negócio, o que a difere da SA 8000 (ORIBE, 2007).

Para manter as certificações, os treinamentos são essenciais, uma vez que eles
disseminam os conhecimentos dos padrões entre os funcionários e ensinam gerentes
a usar melhor a ferramenta. (INSTITUTO ETHOS, 2005).

A ABNT NBR série 16000 é uma norma brasileira voltada para a gestão da
responsabilidade social com foco na melhoria da organização. Estabelece os
requisitos mínimos relativos a um sistema da gestão da responsabilidade social,
permitindo à organização formular e implementar políticas e objetivos que levem em
conta requisitos legais e outros, seus compromissos éticos e sua preocupação com a
promoção da cidadania; a promoção do desenvolvimento sustentável; e a
transparência das suas atividades (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2004).

Segundo Bezerra (2007), esta Norma tem por objetivo prover às organizações os
elementos de um sistema da gestão da responsabilidade social eficaz, passível de
integração com outros requisitos de gestão, de forma a auxiliá-las a alcançar seus
objetivos relacionados com os aspectos da responsabilidade social.

As normas assumem uma grande importância pelo fato de apoiar a sistematização de


ações necessárias à incorporação de um sistema de Gestão de Responsabilidade
Social Empresarial.

Da abreviação International Organization for Standardization (ISO), são padrões que


visam contribuir para as áreas de desenvolvimento, produção e suprimento das
empresas, com o objetivo de tornar o processo mais eficiente, seguro e limpo.

Dentre as mais conhecidas estão as séries ISO 9000 e ISO 14000. A primeira refere-
se a padrões em qualidade total, e a segunda, direcionada para padrões de proteção
ambiental.

Os padrões ISO estão sendo adotados por milhares de organizações e em centenas


de países.

Tais padrões servem como ferramentas para engenheiros e industriais, na solução de


problemas relacionados à distribuição, com a finalidade de garantir aos consumidores
e usuários produtos e serviços de qualidade.

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Outra vantagem da adoção desses padrões é que eles facilitam as negociações entre
países, suprem os governos com bases técnicas para saúde, segurança e legislação
ambiental e auxiliam na transferência de tecnologia para os países em
desenvolvimento. Podem ser adotados tanto no setor privado quanto no público, ou
em órgãos governamentais (INSTITUTO ETHOS, 2005).

3.3 Indicadores

O termo indicador é expressão do latim indicare, que significa descobrir, apontar,


anunciar, estimar. Nas ciências ambientais, indicador significa um organismo, uma
comunidade biológica ou outro parâmetro (físico, químico, social) que serve como
medida das condições de um fator ambiental, ou um ecossistema (BITTENCOURT,
2006).

Para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um


indicador deve ser entendido como um parâmetro, ou valor derivado de parâmetros
que apontam e fornecem informações sobre o estado de um fenômeno, com uma
extensão significativa (ORGANIZATION FOR ECONOMIC COOPERATION AND
DEVELOPMENT, 1993).

3.4 Relatórios

Relatórios econômico, social e ambiental são meios que as empresas adotam para
relatar e divulgar seu desempenho para todos aqueles que se interessam por esse tipo
de informação, tais como seus parceiros sociais, permitindo-lhes entender seu
relacionamento com a empresa reportada (TINOCO; KRAEMER, 2004).

Conforme o Instituto Ethos (2006), há três modelos-padrão de balanço social: dois


nacionais - propostos pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
(Ibase) e pelo Instituto Ethos - e um internacional, sugerido pela Global Reporting
Initiative (GRI). Tais modelos visam definir as informações mínimas que devem ser
publicadas para dar transparência às atividades da empresa. As organizações têm a
liberdade de adotar um formato próprio definido, em geral, pela área de comunicação
da companhia.

Quanto ao Modelo Ibase, lançado em 1997, pelo Ibase, inspira-se no formato dos
balanços financeiros e expõe, de maneira detalhada, os números associados à
responsabilidade social da organização. Em forma de planilha, reúne informações
sobre a folha de pagamentos, os gastos com encargos sociais de funcionários, a
participação nos lucros. Também detalha as despesas com controle ambiental e os
investimentos sociais externos nas diversas áreas - educação, cultura, saúde, etc.

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O Modelo Instituto Ethos é baseado num relato detalhado dos princípios e das ações
da organização, incorpora a planilha proposta pelo Ibase e sugere um detalhamento
maior do contexto da tomada de decisões, dos problemas encontrados e dos
resultados obtidos. O Instituto Ethos defende a necessidade de os balanços sociais
adquirirem credibilidade e consistência comparáveis às dos balanços financeiros,
verificando os seguintes princípios: relevância, veracidade, clareza, comparabilidade,
regularidade e verificabilidade.

O Instituto Ethos (2006) sugere que o Balanço Social contemple o resultado tríplice
com os seguintes conteúdos: indicadores de desempenho econômico, indicadores de
desempenho social e indicadores de desempenho ambiental.

O modelo internacional Global Reporting Initiative (GRI) para a Apresentação de


Relatórios ganha cada vez mais importância. Sua estrutura centra-se em dois pontos:
comparabilidade e flexibilidade, sendo que a primeira liga-se à meta de desenvolver
uma estrutura paralela aos relatórios financeiros. A segunda considera as diferenças
legítimas entre organizações e entre setores da economia, atuando de modo flexível o
suficiente para acomodar essas diferenças.

A GRI estabelece princípios essenciais para a elaboração de relatórios equilibrados e


abrangentes sobre o desempenho econômico, ambiental e social de uma organização
e esses representam metas que os elaboradores tentam atingir e também devem ser
aplicados pelas organizações na elaboração de seus relatórios.

Os princípios norteadores para elaboração dos relatórios de sustentabilidade expostos


pela GRI são visualizados na Figura 1.

A adoção desses princípios pode apresentar as seguintes vantagens: visão


abrangente do desempenho econômico, ambiental e social da organização,
descrevendo a contribuição da organização ao desenvolvimento sustentável; comparar
desempenhos ao longo do tempo e entre organizações distintas; e, imagem de
credibilidade dos assuntos importantes para as partes interessadas (INSTITUTO
ETHOS, 2002).

Organizada sob o conceito conhecido como triple bottom line, ou tríplice resultado, as
Diretrizes da GRI (INSTITUTO ETHOS, 2002) entendem a sustentabilidade baseada
no equilíbrio nas relações atuais entre necessidades econômicas, ambientais e sociais
sem comprometer o desenvolvimento futuro.

No entanto, a GRI reconhece que, como toda simplificação de conceitos complexos,


esta definição tem suas limitações. Ela pode constituir, em alguns casos, a noção de
que cada esfera deva ser analisada isoladamente antes de uma abordagem integrada.

14
Mesmo assim, a definição do tipo "resultado triplo" atingiu um certo consenso como
uma boa abordagem inicial para um assunto complexo (INSTITUTO ETHOS, 2002).

Segundo a GRI (INSTITUTO ETHOS, 2002), há duas formas de se utilizar as


diretrizes: como uma referência informal ou então incorporá-las de forma progressiva
e, ou num nível mais exigente, denominado "de acordo com". Esse nível se baseia na
transparência para adequar as particularidades de cada relatório com o objetivo de
aumentar a comparabilidade de informações, visto que os indicadores econômicos,
ambientais e sociais são tratados individualmente na matriz da GRI.

Quanto ao Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) - BOVESPA é resultado de


esforços de várias instituições - ABRAPP, ANBID, APIMEC, IBGC, IFC, Instituto Ethos
e Ministério do Meio Ambiente no sentido de torná-lo referencial (benchmark) para os
investimentos socialmente responsáveis.

O ISE tem por objetivo refletir o retorno de uma carteira composta por ações de
empresas com reconhecido comprometimento com a responsabilidade social e a
sustentabilidade empresarial, e também atuar como promotor das boas práticas no
meio empresarial brasileiro.

O conceito-base do ISE é o do triple bottom line (TBL), introduzido pela empresa de


consultoria inglesa SustainaAbility, que avalia elementos econômico-financeiros,
sociais e ambientais de forma integrada. Aos princípios do TBL, foram acrescentados
critérios e indicadores de governança corporativa, seguindo o modelo do índice da
Bolsa de Johannesburg, o que deu origem a um quarto grupo temático.

Os quatro blocos são precedidos por um grupo de indicadores gerais básicos e de


natureza do produto. Entre estes indicadores gerais e de natureza do produto incluem-
se, por exemplo, se a companhia publica Balanço Social ou de Sustentabilidade, se
endossou o Pacto Global da ONU e se o consumo ou utilização dos produtos da
companhia acarretam danos efetivos ou riscos à saúde, integridade física ou
segurança dos consumidores, de terceiros, ou ainda relacionados à saúde e
segurança públicas.

No questionário do ISE, a esses princípios de TBL foram acrescidos mais dois grupos
de indicadores: a) critérios gerais e de natureza do produto (que questiona, por
exemplo, a posição da empresa perante acordos globais, se a empresa publica
balanços sociais, se o produto da empresa acarreta danos e riscos à saúde dos
consumidores, entre outros); e b) critérios de governança corporativa.

As respostas das companhias são analisadas por uma ferramenta estatística chamada
"análise de clusters", que identifica grupos de empresas com desempenhos similares e
aponta o grupo com melhor desempenho geral. As empresas desse grupo irão compor

15
a carteira final do ISE (que terá um número máximo de 40 empresas), após aprovação
do Conselho.

O questionário do ISE será objeto de constante aprimoramento (o índice terá revisão


anual, quando as empresas serão avaliadas novamente), com vistas a atender
permanentemente às demandas contemporâneas da sociedade.

4 Análise dos dados coletados

4.1 Caracterização da empresa estudada

Este item apresenta os estudos da prática da sustentabilidade, da empresa COPEL,


tendo como objetivos específicos:

Identificar e caracterizar os indicadores e relatórios de prestação de contas utilizados


na empresa COPEL para medir e apresentar os resultados de sua gestão sustentável;
e
Identificar e analisar as ações sustentáveis executadas pela empresa.
A COPEL consta como empresa pioneira do setor de energia elétrica a adotar a
gestão sustentável fato considerado pertinente para a elaboração deste estudo. Seu
crescimento está atrelado à sua atuação ética, responsável e realizadora, e a Política
de Sustentabilidade e Cidadania Corporativa implementada na empresa deverá guiar
todas as suas decisões e ações buscando sustentabilidade interna, respeito a todas as
partes interessadas e ampla promoção da diversidade e da ética na condução dos
negócios. Foi criado também, como complemento à política, um Código de Conduta da
Companhia e ambos incluem em seu escopo os princípios do Pacto Global (COPEL,
2006).

No que se refere à Responsabilidade social empresarial, a COPEL adotou o conceito


do Instituto Ethos para desenvolvimento de seu modelo de gestão.

Em termos internacionais, a COPEL assumiu seu compromisso com os stakeholders


ao criar sua Política de Sustentabilidade, sendo uma das primeiras empresas
brasileiras a adotar os princípios do Pacto Global, da ONU, em 2001.

A política de sustentabilidade da COPEL se baseia no tripé econômico, social e


ambiental, e a adoção desses princípios garante, sob o ponto de vista econômico, a
diminuição dos riscos estratégicos, operacionais e financeiros, aumentando o valor da
Companhia e viabilizando a captação de recursos.

16
Socialmente, propicia a construção de uma sociedade mais equitativa. Do ponto de
vista ambiental, possui programas e projetos ambientais integrados e prevê o custo da
externalidade de suas atividades, comprometendo-se em deixar herança saudável
para as gerações futuras.

Quanto ao planejamento estratégico, o modelo de gestão e planejamento empresarial


integrado busca o alinhamento dos esforços para atingir e garantir, com base nos
valores da COPEL e na gestão otimizada dos processos, o atendimento aos
interesses das partes interessadas, bem como o desenvolvimento e o crescimento
sustentável da Companhia.

Utilizando o Balanced Scorecard (BSC) como principal ferramenta, em dezembro de


2004, a Diretoria da COPEL aprovou um mapa que traduz uma hipótese estratégica
para atingir a visão da Companhia, com 23 objetivos distribuídos em 5 perspectivas:
sustentabilidade; financeira; cliente; processos internos e aprendizagem; e
crescimento.

4.2 Identificação e caracterização dos indicadores e relatórios utilizados pela


Companhia Paranaense de Energia na gestão sustentável

O atual posicionamento estratégico dá ênfase à produtividade, redução de custos e


melhor utilização dos ativos no curto prazo, sem prejuízo, contudo, às ações que
estimulem o crescimento da receita a médio e longo prazos. Os requisitos da
Governança Corporativa e as práticas da COPEL evidenciam-se no Quadro 1.

Em 30/7/2002, o Presidente dos Estados Unidos assinou a Lei Sarbanes-Oxley (SOX),


como uma forma de reação aos escândalos existentes no ambiente corporativo
americano no ano anterior. Essa Lei reforça regras de governança corporativa
relacionadas à divulgação e à emissão de relatórios financeiros. Um dos aspectos
mais importantes é que a SOX não isenta empresas não americanas de seu alcance e
exige que todas as companhias de capital aberto com ações listadas na Bolsa de
Valores de Nova Iorque a ela se adaptem.

Para o ajuste à referida Lei, a COPEL tomou providências, de acordo com as


exigências da SOX, mostradas no Quadro 2.

O Subcomitê de RSE validou o mapeamento dos stakeholders, nos moldes


apresentados da AA 1000, com uma pequena adequação. Foi difícil classificar, de
maneira rígida e exclusiva, alguns stakeholders em apenas uma das categorias
(impactado, fortemente impactado, impactando e focado em valor). Para isso, adotou-
se um modelo um pouco mais flexível, em que certos stakeholders são situados nas
áreas de sombreamento correspondentes.

17
Para maior clareza, a Figura 2 evidencia o mapeamento produzido e sugerido como
melhoria para a norma.

Em 2005, a COPEL optou por publicar o primeiro relatório integrado atendendo aos
requisitos da GRI. Além disso, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e do
Ibase fazem parte do relatório.

Os indicadores econômico-financeiros, ambientais e sociais abrangem a COPEL e


suas Subsidiárias Integrais (Geração, Transmissão, Distribuição, Telecomunicações e
Participações).

As demonstrações financeiras, incluindo o balanço social, englobam também o


desempenho da Compagas e da Elejor, companhias nas quais a COPEL tem
participação majoritária. Com o intuito de identificar as informações, a Companhia
criou a matriz de localização dos indicadores GRI que, neste trabalho, foi identificada
como matriz da GRI.

Segundo a Companhia, todos os princípios da GRI foram aplicados para essa edição
do relatório. Os indicadores essenciais e adicionais não aplicáveis aos negócios da
Companhia constam da matriz de localização e correlação como reprovados. Os
indicadores cujas informações não estavam disponíveis em virtude da não realização
de sua coleta de forma sistemática até então, foram tratados como meta para inclusão
em relatórios futuros. Este relatório contém ainda, a correlação de seu conteúdo com
os Princípios do Pacto Global.

Neste relatório adotou-se a divulgação do código de boas práticas de governança


corporativa como sistema de gestão, e a utilização de indicadores sociais e
ambientais, efetivamente na mesma plataforma dos econômico-financeiros.

A COPEL possui políticas, normas, manuais, especificações técnicas padronizadas,


publicadas e disponíveis às respectivas partes interessadas, e auditáveis, seja por
auditores internos ou externos. Os meios pelos quais as partes interessadas podem
obter informações adicionais sobre os aspectos econômicos, ambientais e sociais da
COPEL, bem como comentar ou sugerir melhorias para a próxima edição do relatório,
estão relacionados nos itens Canais de diálogo e engajamento.

As ações da COPEL estão relacionadas com o disposto no artigo 6º da Lei nº 8.987/95


ao estabelecer que toda Concessão ou Permissão pressupõe a prestação de um
serviço adequado que satisfaça as condições de regularidade, continuidade, eficiência,
segurança, atualidade, generalidade, cortesia e modicidade das tarifas (VIEIRA, 2006).

18
Assim, a Resolução ANEEL nº 444/2001 dispôs sobre a obrigatoriedade para as
concessionárias e permissionárias, a partir de 2002, sofrendo mudança quanto a
Elaboração do Relatório Anual de Responsabilidade Socioambiental das Empresas de
Energia Elétrica por meio do Despacho SFF nº 3.034 de 21/12/2006 (VIEIRA, 2006).

Com relação ao ISE e às empresas que o comporiam, a Bovespa encaminhou


questionário às companhias emissoras das 121 ações com maior liquidez da Bovespa
e, selecionou, entre essas, 28. As ações ON (CPLE-3) e PNB (CPLE-6) da COPEL
foram escolhidas para participar do índice, em sua primeira edição. A carteira do
índice tem vigência de um ano, sendo reavaliada de acordo com os procedimentos e
critérios integrantes da metodologia.

4.3 Identificação e análise das ações sustentáveis executadas pela empresa


Companhia Paranaense de Energia

Embora o relatório seja identificado por Relatório de Gestão 2005, nele estão
incorporadas as Demonstrações Contábeis exigidas pela Lei 6.404/76: Balanço
Patrimonial, Demonstração de Resultados, Demonstração das Mutações do
Patrimônio Líquido, Demonstração das Origens e Aplicações de Recursos,
Demonstração do Valor Adicionado, Notas Explicativas às Demonstrações Contábeis.
Além dessas, outras não obrigatórias se inserem no Relatório: A Demonstração do
Fluxo de Caixa.

O Quadro 3 evidencia, de forma resumida, as ações estratégicas da COPEL de


Responsabilidade Social para um sistema de Gestão para Sustentabilidade.

Percebe-se no item 1 que a empresa em análise tem inserido os itens necessários


para uma formulação estratégica; quanto ao item 2, o Triple Bottom Line refere-se ao
conceito de que todo negócio é alicerçado pelos três pilares: o econômico, o ambiental
e o social, que são inter-relacionados e devem ser integrados à estratégia de
negócios.

Observando-se as Diretrizes da GRI de 2002, pode-se observar que a própria não


adota esse comprometimento. Dessa forma, ações sociais e ambientais ficam
limitadas a relatórios de ações, sem medir seu impacto no resultado da empresa.

A COPEL adotou a elaboração do relatório na forma de acordo com o que faz dela
uma empresa comprometida com a Sustentabilidade.

O Quadro 4 evidencia os princípios da GRI.

19
A empresa empenhou esforços no sentido de absorver no Relatório de 2005, todos os
princípios da GRI. Constata-se que, ao analisar o conteúdo dos princípios, alguns
deles ainda não foram empregados na sua totalidade. É o caso da abrangência,
exatidão, comparabilidade e periodicidade. Alguns deles necessitam de parâmetros,
constantes no Relatório de Gestão 2006, que até a data dessa análise ainda não
foram divulgados. Os indicadores essenciais e adicionais não aplicáveis aos negócios
da Companhia constam da matriz de localização e correlação como reprovados.

Como a GRI (INSTITUTO ETHOS, 2002) adota, na sua essência, os princípios do


Pacto Global, percebe-se neste aspecto um grande avanço na forma de divulgação: o
relatório contém a correlação de seu conteúdo com os Princípios do Pacto Global. Isto
indica que a grande plataforma de Sustentabilidade da COPEL é de forma global.

A COPEL, além de utilizar os padrões da GRI, no âmbito internacional, foi escolhida


para representar a América do Sul no grupo de trabalho da GRI, encarregado de
formular diretrizes para a elaboração de Relatórios de Sustentabilidade no setor de
energia elétrica.

Embora vários conceitos de Sustentabilidade tenham sido abordados nesse trabalho,


é necessário ressaltar que, ainda que tenha o mesmo foco, cada um tem a sua
particularidade.

O Quadro 5 mostra se as metodologias são incorporadas pela empresa.

Quanto aos Objetivos do Milênio, a COPEL divulga que participa do projeto "Fome
Zero" do Governo Federal.

O Pacto Global é incorporado na íntegra, uma vez que a GRI o incorpora como base
de seu conteúdo. Sob esse aspecto, a COPEL é signatária do Pacto Global da ONU -
Global Compact. Isto quer dizer que a empresa assinou acordo comprometendo-se a
estimular a prática e a disseminação dos dez princípios ligados a direitos humanos,
trabalho, meio ambiente e combate à corrupção.

A Norma AA 1000 foi implantada e sua conclusão está prevista para 2008, quando as
auditorias externas ontemplarão a auditagem do sistema de sustentabilidade de forma
integrada. Já as Normas ISO 9000 e 14000, não constam no Relatório.

Em 2005, a COPEL atendeu aos requisitos para o ISE-BOVESPA, para o qual foi
reconhecida como uma empresa sustentável.

20
O ISE foi desenvolvido em parceria com o International Finance Corporation (IFC) e se
assemelha ao índice Dow Jones Sustainability Indexes, implantado na Bolsa de
Valores de Nova York (NYSE).

5 Conclusões

O presente trabalho tratou dos conceitos e práticas da Responsabilidade Social e


Sustentabilidade Empresarial.

O objetivo geral foi o estudo da prática da Responsabilidade Social e Sustentabilidade


da empresa COPEL, tendo como instrumento de análise, o Relatório de Gestão de
2005.

No sentido de demonstrar como a COPEL está inserindo tais práticas em sua gestão,
foram propostos os seguintes objetivos específicos:

Identificar e caracterizar os indicadores e relatórios de prestação de contas utilizados


na empresa COPEL para medir e apresentar os resultados de sua gestão sustentável.
O instrumento de análise indicou um grande esforço da COPEL no sentido de inserir-
se como empresa de Responsabilidade social empresarial a COPEL adotando o
conceito do Instituto Ethos para desenvolvimento de seu modelo de gestão. E,
sustentável, implementando ações por meio dos seguintes instrumentos, como
plataforma de gestão: como signatária do Pacto Global, como empresa sustentável por
meio do ISE- BOVESPA 2005, com a adoção de alguns princípios dos Objetivos do
Milênio e Norma AA 1000.

Identificar e analisar as ações sustentáveis executadas pela empresa.


O principal indicador utilizado para a análise foi a GRI adotada na forma "de acordo".
Ao atender a todos os princípios da GRI para elaboração de Relatório, a análise indica
que, embora sendo o primeiro Relatório, a COPEL encontra-se em estágio bem
avançado na implementação dessas práticas.

Entretanto, o engajamento da empresa na Responsabilidade Social e Sustentabilidade


requer que o resultado econômico seja obtido da integração às ações sociais e
ambientais.

Os dados coletados a respeito da Responsabilidade Social e Sustentabilidade da


forma como estão apresentados, não permitem identificar a integração das ações
sociais e ambientais ao resultado econômico.

21
Ainda que a GRI seja um modelo de evidenciação, as ações nela descritas, ficam
limitadas somente a aspectos qualitativos, uma vez que as próprias diretrizes de 2002
não avançaram ainda para esse grau de detalhamento e de comprovação efetiva de
resultados que a empresa pretende alcançar neste contexto de desenvolvimento
sustentável.

Referências

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22
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Ethos.org.br/DesktopDefault.aspx?TabID=3343&Alias=Instituto Ethos&Lang=pt-BR>.
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socioambiental. In: WORKSHOP PANORAMA E PERSPECTIVAS DA EFICIÊNCIA
ENERGÉTICA, 2006, Rio de Janeiro, RJ. Anais. [ Links ]..

Recebido em 6/2/2008 - Aceito em 20/7/2010

23
Suporte financeiro: Nenhum.

Departamento de Engenharia de Produção


Caixa Postal 676
13.565-905 São Carlos SP Brazil
Tel.: +55 16 3351 8471

gp@dep.ufscar.br

24
... Os recursos naturais são encarados como insumos, fazendo parte da cadeia
produtiva das empresas, desta forma contribuem ainda mais para a geração de
resíduos, e, conseqüentemente, poluindo o meio ambiente (DIAS, 2006). Por volta da
década de 1960, iniciou a preocupação com os aspectos ambientais e desencadeou
um processo permanente e contínuo de conscientização (MAIMON, 1994). ...

... De forma geral muitas são as interferências que o empresariado sofre diariamente,
para que alguma atitude seja tomada em relação a proteção do meio ambiente, a
reputação da empresa faz parte do seu ativo intangível correlacionando-se
diretamente ao seu desempenho financeiro e mercadológico, assim sendo as
empresas cada vez mais precisam preocupar-se com a imagem que é repassada para
o mercado através dos colaboradores, fornecedores e clientes, vivenciando e
repassando conceitos relacionados a preservação e a valoração dos recursos naturais
(DIAS, 2006). Maimon (1994), aponta como elemento fundamental para resguardar o
desempenho econômico, produtivo e ambiental da empresa do setor industrial é a
utilização de forma intensa de tecnologias ambientais. ...
.. Ainda segundo o mesmo autor na busca da melhoria contínua é fundamental a
análise básica do processo no qual se quer a mudança. Melhorias baseadas nos
conceitos da engenharia de produção para descobrir, analisar e eliminar perdas são
essenciais para a construção de sistemas produtivos mais eficientes e eficazes.2.5
PRODUÇÃO MAIS LIMPA. Um dos aspectos mais importantes e relevantes na gestão
empresarial nos últimos anos foi a gradativa compreensão de que a adoção de
medidas que visam uma maior eficiência na prevenção da contaminação, segundo
Dias (2011), é muito mais vantajosa não só do ponto de vista de se evitarem
problemas ambientais, mas também porque resultam em aumento da competitividade.
A produção mais limpa, segundo Dias(2011)adota os seguintes procedimentos: a)
Quanto aos processos de produção: conservando as matérias-primas e a energia,
eliminando aquelas que são tóxicas e reduzindo a quantidade e a toxidade de todas as

25
emissões e resíduos; b) Quanto aos produtos: reduzindo os impactos ambientais
negativos ao longo do ciclo de vida dos produtos; c) Quanto aos serviços:
incorporando as preocupações ambientais no projeto e fornecimento dos serviços.
Ainda para Dias (2011) existem alguns fatores que afetam a adoção dos conceitos de
produção mais limpa. ...
Acrescenta-se a esses direitos o direito coletivo ao meio ambiente (Sen,
1999;Senpura, 2001e 2002, citado por Saches, 2004 Ou seja, a ecoeficiência deve
estar centrada nas premissas dos três pilares da sustentabilidade (Elkington, 2012).
Para tanto, se deve: (a) reduzir a intensidade de uso de materiais; (b) diminuir a
demanda intensa de energia; (c) reduzir a dispersão de substâncias tóxicas; (d)
incentivar a reciclagem dos materiais; (e) maximizar o uso sustentável dos recursos
renováveis; (f) prolongar a vida útil dos produtos; (g) incrementar a intensidade de
serviços (Dias, 2010 A atmosfera da Terra é quase totalmente transparente à radiação
solar incidente. Uma fração dessa radiação é refletida de volta para o espaço, mas a
sua maior parte atinge a superfície do planeta, principalmente sob a forma de luz
visível, onde é absorvida e reemitida como radiação térmica, em todas as direções,
por meio de raios infravermelhos. .
. A preservação do meio ambiente é um tema bastante estudado e discutido no mundo
por órgãos governamentais e não-governamentais, afim de encontrar soluções para os
problemas ambientais do planeta. Embora o desenvolvimento industrial tenha corrido
há quase três séculos, somente nas últimas duas décadas do século XX que volume
da produção industrial do mundo cresceu espetacularmente, considerando-se que na
metade do século XX foram empregados mais recursos naturais na produção de bens
que em toda a história anterior da humanidade (DIAS, 2007). ..
Porém, Dias (2006) diz que o marketing verde não é somente um conjunto de técnicas
voltadas a comercialização de produtos que não agridam ao meio ambiente, mas
também é uma forma de articular relações entre consumidores, organizações e meio
ambiente. Ao adotar um conceito de marketing verde, deve-se entender a concepção
macro do processo, na qual o entendimento da importância da preservação ambiental
está em "toda a organização, inclusive no comportamento das pessoas que a integram
(DIAS, 2006, p. 142)". ...
... Este aspecto macro, de gestão integral, que existe dentro da gestão ambiental, o
Marketing Verde deve assumir como ferramenta importante, principalmente porque os
elementos utilizados para a decisão de compra de um produto nem sempre são
ligados a suas características essenciais (DIAS, 2006). Kasilingam (2020) diz que o
marketing verde é inevitável. ...
De acordo com Dias (2017), os consumidores começaram a ter consciência das
questões socioambientais durante a segunda metade do século XX, essa
conscientização ocorreu ao mesmo tempo em que cresceram de forma considerada as
denúncias a respeito dos impactos ambientais que as atividades organizacionais
estavam causando no meio ambiente. Reis & Medeiros (2007) Diante de um contexto
econômico caracterizado por uma rígida postura dos consumidores que possuem uma
percepção direcionada à expectativa de interagir com organizações que sejam éticas,
com uma imagem institucional de crédito com o mercado, e com empresas que sejam
ecologicamente responsáveis, têm-se desenvolvido nas empresas uma visão voltada
para a gestão da responsabilidade social (Tachizawa, 2004). ...

26
... Essa declaração continha normas que visavam ao crescimento empresarial de
forma simultânea ao desenvolvimento social e ambiental. A publicação do documento
do CNI, como considera Dias (2017) foi considerada como um grande passo para que
as empresas colocassem em seu planejamento maneiras de realizar as suas
atividades de uma forma que não gere um impacto negativo no meio ambiente e
contribua para o desenvolvimento da sociedade em que está inserida. ...
. Devido a essa inquietação no mercado surgiu uma visão de maior eficiência com uso
das matérias-primas, evitando assim, a ocorrência de maiores impactos e (ou), danos
ambientais e com isso aumentando a competitividade no mercado. Segundo Dias
(2006) um dos problemas mais visíveis causados na industrialização é a destinação
dos resíduos gerados nos seus processos produtivos, o que afetam o meio ambiente
natural e a saúde humana. ...
... Assim, as indústrias que optarem pelo uso dessas tecnologias estará protegendo o
meio ambiente e aumentando a sua capacidade de competitividade no mercado.
Segundo Dias (2006) a Produção Mais Limpa pode ser definida também, como uma
estratégia ambiental de caráter preventivo, aplicando os processos produtos, e de
caráter empresariais que tem como objetivo a utilização eficiente dos recursos e a
diminuição de seu impacto negativo no meio ambiente. Guimarães (1992) afirma que a
proteção ambiental constitui parte integrante do processo de desenvolvimento, e não
pode ser considerada isoladamente. ...
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DE UMA EMPRESA DE ÁGUA MINERAL DO ESTADO
DE ALAGOAS
Carina Fabiana Rêgo de Oliveira
Adelmo BastosVicente Rodolfo Santos Cezar
José Aparecido da Silva Gama

... Partindo do pressuposto de que a gestão ambiental quando bem desenvolvida e


divulgada para os consumidores ocasiona a redução dos impactos negativos sofridos
pelo meio ambiente e causa uma melhoria da imagem da instituição trazendo
vantagem competitiva (DIAS, 2009), surge o seguinte problema: como o marketing
verde pode vir a atrair consumidores para as organizações? ...
... Levando-se em consideração que os consumidores verdes não são consumidores
comuns e no momento da compra consideram como principal fator decisório a origem
e modo de produção do produto, Dias (2009) afirma que, o marketing verde é uma
forma de se gerenciar as relações entre consumidor, empresa e o meio ambiente, ele
não deve de forma alguma ser considerado somente um agrupamento de técnicas
voltadas para projetar e vender produtos que não prejudiquem o meio ambiente. ...
... Diante disto, também ficou claro que, estas organizações ao agirem com
responsabilidade ambiental, adquirem benefícios como por exemplo uma imagem
corporativa positiva no mercado, ocorrendo uma melhoria da reputação social destas
organizações, o que corrobora com DIAS (2009), o qual afirma que a gestão ambiental
quando bem desenvolvida e divulgada para os consumidores ocasiona a redução dos
impactos negativos sofridos pelo meio ambiente e causa uma melhoria da imagem da
instituição trazendo vantagem competitiva. E quanto a existência de fatores que
contribuem para uma boa utilização do marketing verde nas empresas é possível

27
afirmar que existem vários, que favorecem a www.revistaea.org/pf.php?idartigo=3688
21/25 sua utilização, para isso deve se partir da consciência ecológica de cada gestor,
que deve implantar uma cultura organizacional voltada para o marketing verde, ao
tempo que cria políticas ambientais capazes de preservar o meio ambiente e gere
lucratividade, conforme afirma Ottiman (1994) apud Dias (2009), que expõem que para
que o marketing verde seja bem desempenhado pelas organização é necessário que
ocorra um esverdeamento total da cultura organizacional, implementando assim
políticas ambientais fortes e que sejam bastante valorizadas pelas empresas. ...
GESTÃO AMBIENTAL: MARKETING VERDE COMO FERRAMENTA PARA A
PROSPECÇÃO DE NOVOS CONSUMIDORES Márcio Luciano Pereira Batista
Article
Full-text available
Jun 2020
Carneiro Silva
Márcio Luciano Pereira Batista

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Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade
Environmental education, citizenship and sustainability
Pedro Jacobi
Professor Associado da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação
em Ciência Ambiental da USP, E-mail: prjacobi@terra.com.br

RESUMO

A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação


permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, cria uma necessária articulação
com a produção de sentidos sobre a educação ambiental. A dimensão ambiental
configura-se crescentemente como uma questão que diz respeito a um conjunto de
atores do universo educativo, potencializando o envolvimento dos diversos sistemas

28
de conhecimento, a capacitação de profissionais e a comunidade universitária numa
perspectiva interdisciplinar. O desafio que se coloca é de formular uma educação
ambiental que seja crítica e inovadora em dois níveis: formal e não formal. Assim, ela
deve ser acima de tudo um ato político voltado para a transformação social. O seu
enfoque deve buscar uma perspectiva de ação holística que relaciona o homem, a
natureza e o universo, tendo como referência que os recursos naturais se esgotam e
que o principal responsável pela sua degradação é o ser humano.
CIDADANIA – ECOLOGIA – EDUCAÇÃO AMBIENTAL

DESENVOLVIMENTO, MEIO AMBIENTE E PRÁTICAS EDUCATIVAS

A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado pela degradação


permanente do meio ambiente e do seu ecossistema, envolve uma necessária
articulação com a produção de sentidos sobre a educação ambiental. A dimensão
ambiental configura-se crescentemente como uma questão que envolve um conjunto
de atores do universo educativo, potencializando o engajamento dos diversos
sistemas de conhecimento, a capacitação de profissionais e a comunidade
universitária numa perspectiva interdisciplinar. Nesse sentido, a produção de
conhecimento deve necessariamente contemplar as inter-relações do meio natural
com o social, incluindo a análise dos determinantes do processo, o papel dos diversos
atores envolvidos e as formas de organização social que aumentam o poder das
ações alternativas de um novo desenvolvimento, numa perspectiva que priorize novo
perfil de desenvolvimento, com ênfase na sustentabilidade socioambiental.

Tomando-se como referência o fato de a maior parte da população brasileira viver em


cidades, observa-se uma crescente degradação das condições de vida, refletindo uma
crise ambiental. Isto nos remete a uma necessária reflexão sobre os desafios para
mudar as formas de pensar e agir em torno da questão ambiental numa perspectiva
contemporânea. Leff (2001) fala sobre a impossibilidade de resolver os crescentes e
complexos problemas ambientais e reverter suas causas sem que ocorra uma
mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos valores e dos comportamentos
gerados pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no aspecto econômico do
desenvolvimento.

A partir da Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental realizada em


Tsibilisi (EUA), em 1977, inicia-se um amplo processo em nível global orientado para
criar as condições que formem uma nova consciência sobre o valor da natureza e para
reorientar a produção de conhecimento baseada nos métodos da interdisciplinaridade
e nos princípios da complexidade. Esse campo educativo tem sido fertilizado
transversalmente, e isso tem possibilitado a realização de experiências concretas de
educação ambiental de forma criativa e inovadora por diversos segmentos da
população e em diversos níveis de formação. O documento da Conferência
Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade, Educação e Consciência Pública
para a Sustentabilidade, realizada em Tessalônica (Grécia), chama a atenção para a

29
necessidade de se articularem ações de educação ambiental baseadas nos conceitos
de ética e sustentabilidade, identidade cultural e diversidade, mobilização e
participação e práticas interdisciplinares (Sorrentino, 1998).

A necessidade de abordar o tema da complexidade ambiental decorre da percepção


sobre o incipiente processo de reflexão acerca das práticas existentes e das múltiplas
possibilidades de, ao pensar a realidade de modo complexo, defini-la como uma nova
racionalidade e um espaço onde se articulam natureza, técnica e cultura. Refletir sobre
a complexidade ambiental abre uma estimulante oportunidade para compreender a
gestação de novos atores sociais que se mobilizam para a apropriação da natureza,
para um processo educativo articulado e compromissado com a sustentabilidade e a
participação, apoiado numa lógica que privilegia o diálogo e a interdependência de
diferentes áreas de saber. Mas também questiona valores e premissas que norteiam
as práticas sociais prevalecentes, implicando mudança na forma de pensar e
transformação no conhecimento e nas práticas educativas.

A realidade atual exige uma reflexão cada vez menos linear, e isto se produz na inter-
relação dos saberes e das práticas coletivas que criam identidades e valores comuns
e ações solidárias diante da reapropriação da natureza, numa perspectiva que
privilegia o diálogo entre saberes.
... aspecto que sobressaiu foi o item II que trata gerenciamento de resíduos (Programa
de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, lixeiras para cada tipo de resíduo ou outro),
com 41%. No item III, com 40%, a redução do impacto ambiental em termos de
minimização e reciclagem de resíduos, sendo uma ação realizada pela organização e
diagnosticada como uma prática da sustentabilidade voltada para os impactos no Meio
Ambiente, conforme as ações embasadas no referencial teórico porDias (2011). Os
itens (VI, VII), também constituem ações de cunho socioambiental, destacadas por
Dias (2011) e que estão ligadas ao público interno da organização, aparecendo de
forma de forma pontual e em menor quantidade. ...
A preocupação com o desenvolvimento sustentável representa a possibilidade de
garantir mudanças sociopolíticas que não comprometam os sistemas ecológicos e
sociais que sustentam as comunidades.

A complexidade desse processo de transformação de um planeta, não apenas


crescentemente ameaçado, mas também diretamente afetado pelos riscos
socioambientais e seus danos, é cada vez mais notória. A concepção "sociedade de
risco", de Beck (1992), amplia a compreensão de um cenário marcado por nova lógica
de distribuição dos riscos.

Os grandes acidentes envolvendo usinas nucleares e contaminações tóxicas de


grandes proporções, como os casos de Three-Mile Island, nos EUA, em 1979, Love
Canal no Alasca, Bhopal, na Índia, em 1984 e Chernobyl, na época, União Soviética,
em 1986, estimularam o debate público e científico sobre a questão dos riscos nas
sociedades contemporâneas. Inicia-se uma mudança de escala na análise dos
problemas ambientais, tornados mais freqüentes, os quais pela sua própria natureza

30
tornam-se mais difíceis de serem previstos e assimilados como parte da realidade
global.

Ulrich Beck identifica a sociedade de risco com uma segunda modernidade ou


modernidade reflexiva, que emerge com a globalização, a individualização, a
revolução de gênero, o subemprego e a difusão dos riscos globais. Os riscos atuais
caracterizam-se por ter conseqüências, em geral de alta gravidade, desconhecidas a
longo prazo e que não podem ser avaliadas com precisão, como é o caso dos riscos
ecológicos, químicos, nucleares e genéticos.

O tema da sustentabilidade confronta-se com o paradigma da "sociedade de risco".


Isso implica a necessidade de se multiplicarem as práticas sociais baseadas no
fortalecimento do direito ao acesso à informação e à educação ambiental em uma
perspectiva integradora. E também demanda aumentar o poder das iniciativas
baseadas na premissa de que um maior acesso à informação e transparência na
administração dos problemas ambientais urbanos pode implicar a reorganização do
poder e da autoridade.

Existe, portanto, a necessidade de incrementar os meios de informação e o acesso a


eles, bem como o papel indutivo do poder público nos conteúdos educacionais, como
caminhos possíveis para alterar o quadro atual de degradação socioambiental. Trata-
se de promover o crescimento da consciência ambiental, expandindo a possibilidade
de a população participar em um nível mais alto no processo decisório, como uma
forma de fortalecer sua co-responsabilidade na fiscalização e no controle dos agentes
de degradação ambiental.

Há uma demanda atual para que a sociedade esteja mais motivada e mobilizada para
assumir um papel mais propositivo, bem como seja capaz de questionar, de forma
concreta, a falta de iniciativa do governo na implementação de políticas ditadas pelo
binômio da sustentabilidade e do desenvolvimento num contexto de crescente
dificuldade na promoção da inclusão social.

Nessa direção, a problemática ambiental constitui um tema muito propício para


aprofundar a reflexão e a prática em torno do restrito impacto das práticas de
resistência e de expressão das demandas da população das áreas mais afetadas
pelos constantes e crescentes agravos ambientais. Mas representa também a
possibilidade de abertura de estimulantes espaços para implementar alternativas
diversificadas de democracia participativa, notadamente a garantia do acesso à
informação e a consolidação de canais abertos para uma participação plural.

A postura de dependência e de desresponsabilização da população decorre


principalmente da desinformação, da falta de consciência ambiental e de um déficit de
práticas comunitárias baseadas na participação e no envolvimento dos cidadãos, que

31
proponham uma nova cultura de direitos baseada na motivação e na co-participação
da gestão ambiental.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: ATORES, PRÁTICAS E ALTERNATIVAS

Nestes tempos em que a informação assume um papel cada vez mais relevante,
ciberespaço, multimídia, internet, a educação para a cidadania representam a
possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas
de participação na defesa da qualidade de vida. Nesse sentido cabe destacar que a
educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora, na qual a co-
responsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um
novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável. Entende-se, portanto,
que a educação ambiental é condição necessária para modificar um quadro de
crescente degradação socioambiental, mas ela ainda não é suficiente, o que, no dizer
de Tamaio (2000), se converte em "mais uma ferramenta de mediação necessária
entre culturas, comportamentos diferenciados e interesses de grupos sociais para a
construção das transformações desejadas". O educador tem a função de mediador na
construção de referenciais ambientais e deve saber usá-los como instrumentos para o
desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza.

A problemática da sustentabilidade assume neste novo século um papel central na


reflexão sobre as dimensões do desenvolvimento e das alternativas que se
configuram. O quadro socioambiental que caracteriza as sociedades contemporâneas
revela que o impacto dos humanos sobre o meio ambiente tem tido conseqüências
cada vez mais complexas, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos.

O conceito de desenvolvimento sustentável surge para enfrentar a crise ecológica,


sendo que pelo menos duas correntes alimentaram o processo. Uma primeira,
centrada no trabalho do Clube de Roma, reúne suas idéias, publicadas sob o título de
Limites do crescimento em 1972, segundo as quais, para alcançar a estabilidade
econômica e ecológica propõe-se o congelamento do crescimento da população global
e do capital industrial, mostrando a realidade dos recursos limitados e indicando um
forte viés para o controle demográfico (ver Meadows et al., 1972). Uma segunda, está
relacionada com a crítica ambientalista ao modo de vida contemporâneo, e se difundiu
a partir da Conferência de Estocolmo em 1972. Tem como pressuposto a existência de
sustentabilidade social, econômica e ecológica. Estas dimensões explicitam a
necessidade de tornar compatível a melhoria nos níveis e qualidade de vida com a
preservação ambiental. Surge para dar uma resposta à necessidade de harmonizar os
processos ambientais com os socioeconômicos, maximizando a produção dos
ecossistemas para favorecer as necessidades humanas presentes e futuras. A maior
virtude dessa abordagem é que, além da incorporação definitiva dos aspectos
ecológicos no plano teórico, ela enfatiza a necessidade de inverter a tendência auto

32
destrutiva dos processos de desenvolvimento no seu abuso contra a natureza ( Jacobi,
1997).

Dentre as transformações mundiais das duas últimas décadas, aquelas vinculadas à


degradação ambiental e à crescente desigualdade entre regiões assumem um lugar
de destaque no reforço à adoção de esquemas integradores. Articulam-se, portanto,
de um lado, os impactos da crise econômica dos anos 80 e a necessidade de repensar
os paradigmas existentes; e de outro, o alarme dado pelos fenômenos de aquecimento
global e a destruição da camada de ozônio, dentre outros problemas.

A partir de 1987, a divulgação do Relatório Brundtlandt, também conhecido como


"Nosso futuro comum" 1, defende a idéia do "desenvolvimento sustentável" indicando
um ponto de inflexão no debate sobre os impactos do desenvolvimento. Não só
reforça as necessárias relações entre economia, tecnologia, sociedade e política,
como chama a atenção para a necessidade do reforço de uma nova postura ética em
relação à preservação do meio ambiente, caracterizada pelo desafio de uma
responsabilidade tanto entre as gerações quanto entre os integrantes da sociedade
dos nossos tempos. Na Rio 92, o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades
Sustentáveis e Responsabilidade Global coloca princípios e um plano de ação para
educadores ambientais, estabelecendo uma relação entre as políticas públicas de
educação ambiental e a sustentabilidade. Enfatizam-se os processos participativos na
promoção do meio ambiente, voltados para a sua recuperação, conservação e
melhoria, bem como para a melhoria da qualidade de vida.

É importante ressaltar que, apesar das críticas a que tem sido sujeito, o conceito de
desenvolvimento sustentável representa um importante avanço, na medida em que a
Agenda 21 global, como plano abrangente de ação para o desenvolvimento
sustentável no século XXI, considera a complexa relação entre o desenvolvimento e o
meio ambiente numa variedade de áreas, destacando a sua pluralidade, diversidade,
multiplicidade e heterogeneidade.

As dimensões apontadas pelo conceito de desenvolvimento sustentável contemplam


cálculo econômico, aspecto biofísico e componente sociopolítico, como referenciais
para a interpretação do mundo e para possibilitar interferências na lógica predatória
prevalecente. O desenvolvimento sustentável não se refere especificamente a um
problema limitado de adequações ecológicas de um processo social, mas a uma
estratégia ou um modelo múltiplo para a sociedade, que deve levar em conta tanto a
viabilidade econômica como a ecológica. Num sentido abrangente, a noção de
desenvolvimento sustentável reporta-se à necessária redefinição das relações entre
sociedade humana e natureza, e, portanto, a uma mudança substancial do próprio
processo civilizatório, introduzindo o desafio de pensar a passagem do conceito para a
ação. Pode-se afirmar que ainda prevalece a transcendência do enfoque sobre o
desenvolvimento sustentável radical mais na sua capacidade de idéia força, nas suas
repercussões intelectuais e no seu papel articulador de discursos e de práticas
atomizadas que, apesar desse caráter, tem matriz única, originada na existência de
uma crise ambiental, econômica e também social (Jacobi, 1997).

33
O desenvolvimento sustentável somente pode ser entendido como um processo no
qual, de um lado, as restrições mais relevantes estão relacionadas com a exploração
dos recursos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e o marco institucional. De
outro, o crescimento deve enfatizar os aspectos qualitativos, notadamente os
relacionados com a eqüidade, o uso de recursos – em particular da energia – e a
geração de resíduos e contaminantes. Além disso, a ênfase no desenvolvimento deve
fixar-se na superação dos déficits sociais, nas necessidades básicas e na alteração de
padrões de consumo, principalmente nos países desenvolvidos, para poder manter e
aumentar os recursos-base, sobretudo os agrícolas, energéticos, bióticos, minerais, ar
e água.

Assim, a idéia de sustentabilidade implica a prevalência da premissa de que é preciso


definir limites às possibilidades de crescimento e delinear um conjunto de iniciativas
que levem em conta a existência de interlocutores e participantes sociais relevantes e
ativos por meio de práticas educativas e de um processo de diálogo informado, o que
reforça um sentimento de co-responsabilidade e de constituição de valores éticos. Isto
também implica que uma política de desenvolvimento para uma sociedade sustentável
não pode ignorar nem as dimensões culturais, nem as relações de poder existentes e
muito menos o reconhecimento das limitações ecológicas, sob pena de apenas manter
um padrão predatório de desenvolvimento.

Atualmente, o avanço para uma sociedade sustentável é permeado de obstáculos, na


medida em que existe uma restrita consciência na sociedade a respeito das
implicações do modelo de desenvolvimento em curso. Pode-se afirmar que as causas
básicas que provocam atividades ecologicamente predatórias são atribuídas às
instituições sociais, aos sistemas de informação e comunicação e aos valores
adotados pela sociedade. Isso implica principalmente a necessidade de estimular uma
participação mais ativa da sociedade no debate dos seus destinos, como uma forma
de estabelecer um conjunto socialmente identificado de problemas, objetivos e
soluções. O caminho a ser desenhado passa necessariamente por uma mudança no
acesso à informação e por transformações institucionais que garantam acessibilidade
e transparência na gestão. Existe um desafio essencial a ser enfrentado, e este está
centrado na possibilidade de que os sistemas de informações e as instituições sociais
se tornem facilitadores de um processo que reforce os argumentos para a construção
de uma sociedade sustentável. Para tanto é preciso que se criem todas as condições
para facilitar o processo, suprindo dados, desenvolvendo e disseminando indicadores
e tornando transparentes os procedimentos por meio de práticas centradas na
educação ambiental que garantam os meios de criar novos estilos de vida e
promovam uma consciência ética que questione o atual modelo de desenvolvimento,
marcado pelo caráter predatório e pelo reforço das desigualdades socioambientais.

A sustentabilidade como novo critério básico e integrador precisa estimular


permanentemente as responsabilidades éticas, na medida em que a ênfase nos
aspectos extra-econômicos serve para reconsiderar os aspectos relacionados com a
eqüidade, a justiça social e a própria ética dos seres vivos.

34
A noção de sustentabilidade implica, portanto, uma inter-relação necessária de justiça
social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão de
desenvolvimento (Jacobi, 1997).

Nesse contexto, segundo Reigota (1998), a educação ambiental aponta para


propostas pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento,
desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e participação dos
educandos. Para Pádua e Tabanez (1998), a educação ambiental propicia o aumento
de conhecimentos, mudança de valores e aperfeiçoamento de habilidades, condições
básicas para estimular maior integração e harmonia dos indivíduos com o meio
ambiente.

A relação entre meio ambiente e educação para a cidadania assume um papel cada
vez mais desafiador, demandando a emergência de novos saberes para apreender
processos sociais que se complexificam e riscos ambientais que se intensificam.

As políticas ambientais e os programas educativos relacionados à conscientização da


crise ambiental demandam cada vez mais novos enfoques integradores de uma
realidade contraditória e geradora de desigualdades, que transcendem a mera
aplicação dos conhecimentos científicos e tecnológicos disponíveis.

O desafio é, pois, o de formular uma educação ambiental que seja crítica e inovadora,
em dois níveis: formal e não formal. Assim a educação ambiental deve ser acima de
tudo um ato político voltado para a transformação social. O seu enfoque deve buscar
uma perspectiva holística de ação, que relaciona o homem, a natureza e o universo,
tendo em conta que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável
pela sua degradacão é o homem. Para Sorrentino (1998), os grandes desafios para os
educadores ambientais são, de um lado, o resgate e o desenvolvimento de valores e
comportamentos (confiança, respeito mútuo, responsabilidade, compromisso,
solidariedade e iniciativa) e de outro, o estímulo a uma visão global e crítica das
questões ambientais e a promoção de um enfoque interdisciplinar que resgate e
construa saberes.

Quando nos referimos à educação ambiental, situamo-na em contexto mais amplo, o


da educação para a cidadania, configurando-a como elemento determinante para a
consolidação de sujeitos cidadãos. O desafio do fortalecimento da cidadania para a
população como um todo, e não para um grupo restrito, concretiza-se pela
possibilidade de cada pessoa ser portadora de direitos e deveres, e de se converter,
portanto, em ator co-responsável na defesa da qualidade de vida.

O principal eixo de atuação da educação ambiental deve buscar, acima de tudo, a


solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença através de formas democráticas de

35
atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas. Isto se consubstancia no
objetivo de criar novas atitudes e comportamentos diante do consumo na nossa
sociedade e de estimular a mudança de valores individuais e coletivos (Jacobi, 1997).
A educação ambiental é atravessada por vários campos de conhecimento, o que a
situa como uma abordagem multirreferencial, e a complexidade ambiental (Leff, 2001)
reflete um tecido conceitual heterogêneo, "onde os campos de conhecimento, as
noções e os conceitos podem ser originários de várias áreas do saber" (Tristão, 2002).

Portanto, utilizando como referencial do rizoma, a dimensão ambiental representa a


possibilidade de lidar com conexões entre diferentes dimensões humanas,
propiciando, entrelaçamentos e múltiplos trânsitos entre múltiplos saberes. A escola
participa então dessa rede "como uma instituição dinâmica com capacidade de
compreender e articular os processos cognitivos com os contextos da vida" (Tristão,
2002). A educação insere-se na própria teia da aprendizagem e assume um papel
estratégico nesse processo, e, parafraseando Reigota, podemos dizer que

...a educação ambiental na escola ou fora dela continuará a ser uma concepção
radical de educação, não porque prefere ser a tendência rebelde do pensamento
educacional contemporâneo, mas sim porque nossa época e nossa herança histórica
e ecológica exigem alternativas radicais, justas e pacíficas. (1998, p.43 )

E o que dizer do meio ambiente na escola? Tomando-se como referência Vigotsky


(apud Tamaio, 2000) pode-se dizer que um processo de reconstrução interna (dos
indivíduos) ocorre a partir da interação com uma ação externa (natureza, reciclagem,
efeito estufa, ecossistema, recursos hídricos, desmatamento), na qual os indivíduos se
constituem como sujeitos pela internalização de significações que são construídas e
reelaboradas no desenvolvimento de suas relações sociais. A educação ambiental,
como tantas outras áreas de conhecimento, pode assumir, assim, "uma parte ativa de
um processo intelectual, constantemente a serviço da comunicação, do entendimento
e da solução dos problemas" (Vigotsky, 1991). Trata-se de um aprendizado social,
baseado no diálogo e na interação em constante processo de recriação e
reinterpretação de informações, conceitos e significados, que podem se originar do
aprendizado em sala de aula ou da experiência pessoal do aluno. Assim, a escola
pode transformar-se no espaço em que o aluno terá condições de analisar a natureza
em um contexto entrelaçado de práticas sociais, parte componente de uma realidade
mais complexa e multifacetada. O mais desafiador é evitar cair na simplificação de que
a educação ambiental poderá superar uma relação pouco harmoniosa entre os
indivíduos e o meio ambiente mediante práticas localizadas e pontuais, muitas vezes
distantes da realidade social de cada aluno. Cabe sempre enfatizar a historicidade da
concepção de natureza (Carvalho, 2001), o que possibilita a construção de uma visão
mais abrangente (geralmente complexa, como é o caso das questões ambientais) e
que abra possibilidades para uma ação em busca de alternativas e soluções.

E como se relaciona educação ambiental com a cidadania? Cidadania tem a ver com a
identidade e o pertencimento a uma coletividade. A educação ambiental como
formação e exercício de cidadania refere-se a uma nova forma de encarar a relação

36
do homem com a natureza, baseada numa nova ética, que pressupõe outros valores
morais e uma forma diferente de ver o mundo e os homens.

A educação ambiental deve ser vista como um processo de permanente


aprendizagem que valoriza as diversas formas de conhecimento e forma cidadãos
com consciência local e planetária.

E o que tem sido feito em termos de educação ambiental? A grande maioria das
atividades são feitas dentro de uma modalidade formal. Os temas predominantes são
lixo, proteção do verde, uso e degradação dos mananciais, ações para conscientizar a
população em relação à poluição do ar. A educação ambiental que tem sido
desenvolvida no país é muito diversa, e a presença dos órgãos governamentais como
articuladores, coordenadores e promotores de ações é ainda muito restrita.

No caso das grandes metrópoles existe a necessidade de enfrentar os problemas da


poluição do ar, e o poder público deve assumir um papel indutor do processo. A
redução do uso do automóvel estimula a co-responsabilidade social na preservação do
meio ambiente, chama a atenção das pessoas e as informa sobre os perigos gerados
pela poluição do ar. Mas isso implica a necessidade de romper com o estereótipo de
que as responsabilidades urbanas dependem em tudo da ação governamental, e os
habitantes mantêm-se passivos e aceitam a tutela.

O grande salto de qualidade tem sido feito pelas ONGs e organizações comunitárias,
que tem desenvolvido ações não formais centradas principalmente na população
infantil e juvenil. A lista de ações é interminável e essas referências são indicativas de
práticas inovadoras preocupadas em incrementar a co-responsabilidade das pessoas
em todas as faixas etárias e grupos sociais quanto à importância de formar cidadãos
cada vez mais comprometidos com a defesa da vida.

A educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as


pessoas para transformar as diversas formas de participação em potenciais caminhos
de dinamização da sociedade e de concretização de uma proposta de sociabilidade
baseada na educação para a participação.

O complexo processo de construção da cidadania no Brasil, num contexto de


agudização das desigualdades, é perpassado por um conjunto de questões que
necessariamente implica a superação das bases constitutivas das formas de
dominação e de uma cultura política calcada na tutela. O desafio da construção de
uma cidadania ativa configura-se como elemento determinante para constituição e
fortalecimento de sujeitos cidadãos que, portadores de direitos e deveres, assumam a
importância da abertura de novos espaços de participação.

37
Atualmente o desafio de fortalecer uma educação ambiental convergente e
multirreferencial é prioritário para viabilizar uma prática educativa que articule de forma
incisiva a necessidade de se enfrentar concomitantemente a degradação ambiental e
os problemas sociais. Assim, o entendimento sobre os problemas ambientais se dá
por uma visão do meio ambiente como um campo de conhecimento e significados
socialmente construído, que é perpassado pela diversidade cultural e ideológica e
pelos conflitos de interesse. Nesse universo de complexidades precisa ser situado o
aluno, cujos repertórios pedagógicos devem ser amplos e interdependentes, visto que
a questão ambiental é um problema híbrido, associado a diversas dimensões
humanas. Os professores(as) devem estar cada vez mais preparados para reelaborar
as informações que recebem, e dentre elas, as ambientais, a fim de poderem
transmitir e decodificar para os alunos a expressão dos significados sobre o meio
ambiente e a ecologia nas suas múltiplas determinações e intersecções. A ênfase
deve ser a capacitação para perceber as relações entre as áreas e como um todo,
enfatizando uma formação local/global, buscando marcar a necessidade de enfrentar a
lógica da exclusão e das desigualdades. Nesse contexto, a administração dos riscos
socioambientais coloca cada vez mais a necessidade de ampliar o envolvimento
público por meio de iniciativas que possibilitem um aumento do nível de consciência
ambiental dos moradores, garantindo a informação e a consolidação institucional de
canais abertos para a participação numa perspectiva pluralista. A educação ambiental
deve destacar os problemas ambientais que decorrem da desordem e degradação da
qualidade de vida nas cidades e regiões.

À medida que se observa cada vez mais dificuldade de manter-se a qualidade de vida
nas cidades e regiões, é preciso fortalecer a importância de garantir padrões
ambientais adequados e estimular uma crescente consciência ambiental, centrada no
exercício da cidadania e na reformulação de valores éticos e morais, individuais e
coletivos, numa perspectiva orientada para o desenvolvimento sustentável.

A educação ambiental, como componente de uma cidadania abrangente, está ligada a


uma nova forma de relação ser humano/natureza, e a sua dimensão cotidiana leva a
pensá-la como somatório de práticas e, conseqüentemente, entendê-la na dimensão
de sua potencialidade de generalização para o conjunto da sociedade.

Entende-se que essa generalização de práticas ambientais só será possível se estiver


inserida no contexto de valores sociais, mesmo que se refira a mudanças de hábitos
cotidianos.

A problemática socioambiental, ao questionar ideologias teóricas e práticas, propõe a


participação democrática da sociedade na gestão dos seus recursos atuais e
potenciais, assim como no processo de tomada de decisões para a escolha de novos
estilos de vida e a construção de futuros possíveis, sob a ótica da sustentabilidade
ecológica e a eqüidade social.

38
Torna-se cada vez mais necessário consolidar novos paradigmas educativos,
centrados na preocupação de iluminar a realidade desde outros ângulos, e isto supõe
a formulação de novos objetos de referência conceituais e, principalmente, a
transformação de atitudes.

SUSTENTABILIDADE, MOVIMENTOS SOCIAIS E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Talvez uma das características mais importantes do movimento ambientalista seja a


sua diversidade. Esse amplo espectro de práticas e atores confere-lhe um caráter
multissetorial que congrega inúmeras tendências e propostas orientadoras de suas
ações, considerando valores como eqüidade, justiça, cidadania, democracia e
conservação ambiental. Nesse amplo universo de ONGs, algumas fazem trabalho de
base, outras são mais voltadas para a militância, outras têm um caráter mais político e
outras implementam projetos demonstrativos. Embora ocorra uma certa queda na
capacidade mobilizatória dos movimentos ambientalistas, observa-se também um grau
de amadurecimento das práticas e a consolidação de um perfil de atuação de
instituições numa perspectiva proativa e propositiva, dentro de moldes de
sustentabilidade. O que representa a marca da atuação das ONGs? Seus pontos
fortes estão na sua credibilidade e capital ético; na sua eficiência quanto à intervenção
na microrrealidade social (grupos e comunidades), o que lhes permite formular
aspirações e propor estratégias para atendê-las; na maior eficiência quanto à
aplicação de recursos e agilidade na implementação de projetos que têm a marca da
inovação e da articulação da sustentabilidade com a eqüidade social.

O ambientalismo ingressa nos anos 90 constituindo-se como um ator relevante que,


embora carregue consigo as marcas do seu processo de afirmação, assume um
caráter ampliado, baseado num esforço cada vez mais claramente planejado de
diálogo com outros atores sociais.

As questões que o ambientalismo suscita estão hoje muito associadas às


necessidades de constituição de uma cidadania para os desiguais, à ênfase dos
direitos sociais, ao impacto da degradação das condições de vida decorrentes da
degradação socioambiental, notadamente nos grandes centros urbanos, e à
necessidade de ampliar a assimilação, pela sociedade, do reforço a práticas centradas
na sustentabilidade por meio da educação ambiental.

O salto de qualidade do ambientalismo ocorre na medida em que se cria uma


identidade crescente entre o significado e dimensões das práticas, com forte ênfase na
relação entre degradação ambiental e desigualdade social, reforçando a necessidade
de alianças e interlocuções coletivas.

39
Apesar de a maior parte das entidades ser baseada na militância voluntária não
remunerada, observa-se, nos últimos anos, um crescente esforço de
profissionalização, ainda que isso ocorra em um número muito restrito de entidades.
Um aspecto bastante polêmico está relacionado com a representatividade de
entidades nos diversos tipos de conselhos e comissões. O que se nota é a existência
de organizações que praticamente concentram suas atividades associadas à
participação em espaços de representação. Trata-se de uma lógica bastante perversa,
gerada pela dinâmica de institucionalização de entidades centradas em poucas
pessoas, que têm muita capacidade de ocupar espaços e que, mesmo sem trabalho
de base e inclusive pouca legitimidade no próprio movimento ambiental, articulam a
manutenção de sua presença.

As coalizões na sociedade civil vêm-se fortalecendo, explicitando escolha de temas e


questões a serem enfrentadas em nome da busca de objetivos comuns, de modo a
configurar a inflexão de uma dinâmica reativa para uma dinâmica propositiva, que
aproxima as ONGs e movimentos da mídia e que centra a atuação na coleta,
sistematização e disseminação de informações.

Nessa direção, as articulações têm possibilitado o crescente fortalecimento de um pólo


político interno que integra as ONGs no centro do processo de pressão e gestão,
representando, portanto, uma inflexão importante numa agenda até recentemente
trazida de fora para dentro.

Apesar do pequeno reconhecimento do papel das ONGs, do que decorre reduzido


interesse da sociedade brasileira em financiar de forma voluntária suas organizações
da sociedade civil, observa-se um aumento da sua legitimidade e da sua
institucionalidade.

O ambientalismo do século XXI tem uma complexa agenda pela frente. De um lado, o
desafio de uma participação cada vez mais ativa na governabilidade dos problemas
socioambientais e na busca de respostas articuladas e sustentadas em arranjos
institucionais inovadores, que possibilitem uma "ambientalização dos processos
sociais", dando sentido à formulação e implementação de uma Agenda 21 no nível
nacional e subnacional. De outro, a necessidade de ampliar o escopo de sua atuação,
mediante redes, consórcios institucionais, parcerias estratégicas e outras engenharias
institucionais que ampliem seu reconhecimento na sociedade e estimulem o
envolvimento de novos atores.

Se o contexto no qual se configuram as questões ambientais é marcado pelo conflito


de interesses e uma polarização entre visões de mundo, as respostas precisam conter
cada vez mais um componente de cooperação e de definição de uma agenda que
acelere prioridades para a sustentabilidade como um novo paradigma de
desenvolvimento. Não se devem esquecer, no caso, das determinações estruturais
decorrentes de um sistema globalizado, de um padrão de consumo que promove o

40
desperdício naquelas sociedades e segmentos que dele fazem parte, bem como a
dualidade entre os que "têm" e os que "não têm".

O desafio que está colocado é o de não só reconhecer, mas estimular práticas que
reforcem a autonomia e a legitimidade de atores sociais que atuam articuladamente
numa perspectiva de cooperação, como é o caso de comunidades locais e ONGs. Isto
representa a possibilidade de mudar as práticas prevalecentes, rompendo com as
lógicas da tutela e da regulação, definindo novas relações baseadas na negociação,
na contratualidade e na gestão conjunta de programas e atividades, o que introduz um
novo significado nos processos de formulação e implementação de políticas
ambientais.

Trata-se, portanto, de repensar o público por meio da sociedade e de verificar as


dimensões da oferta institucional e a criação de canais institucionais para viabilizar
novas formas de cooperação social. Os desafios para ampliar a participação estão
intrinsecamente vinculados à predisposição dos governos locais de criar espaços
públicos e plurais de articulação e participação, nos quais os conflitos se tornam
visíveis e as diferenças se confrontam como base constitutiva da legitimidade dos
diversos interesses em jogo, ampliando as possibilidades de a população participar
mais intensamente dos processos decisórios como um meio de fortalecer a sua co-
responsabilidade na fiscalização e controle dos agentes responsáveis pela
degradação socioambiental.

O momento atual exige que a sociedade esteja mais motivada e mobilizada para
assumir um caráter mais propositivo, assim como para poder questionar de forma
concreta a falta de iniciativa dos governos para implementar políticas pautadas pelo
binômio sustentabilidade e desenvolvimento num contexto de crescentes dificuldades
para promover a inclusão social. Para tanto é importante o fortalecimento das
organizações sociais e comunitárias, a redistribuição de recursos mediante parcerias,
de informação e capacitação para participar crescentemente dos espaços públicos de
decisão e para a construção de instituições pautadas por uma lógica de
sustentabilidade.

Diversas experiências, principalmente das administrações municipais, mostram que,


havendo vontade política, é possível viabilizar ações governamentais pautadas pela
adoção dos princípios de sustentabilidade ambiental conjugada a resultados na esfera
do desenvolvimento econômico e social.

Nessa direção, a educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e


sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação em
potenciais fatores de dinamização da sociedade e de ampliação do controle social da
coisa pública, inclusive pelos setores menos mobilizados. Trata-se de criar as
condições para a ruptura com a cultura política dominante e para uma nova proposta
de sociabilidade baseada na educação para a participação. Esta se concretizará
principalmente pela presença crescente de uma pluralidade de atores que, pela

41
ativação do seu potencial de participação, terão cada vez mais condições de intervir
consistentemente e sem tutela nos processos decisórios de interesse público,
legitimando e consolidando propostas de gestão baseadas na garantia do acesso à
informação e na consolidação de canais abertos para a participação, que, por sua vez,
são precondições básicas para a institucionalização do controle social.

Concluímos, afirmando que o desafio político da sustentabilidade, apoiado no


potencial transformador das relações sociais que representam o processo da Agenda
21, encontra-se estreitamente vinculado ao processo de fortalecimento da democracia
e da construção da cidadania. A sustentabilidade traz uma visão de desenvolvimento
que busca superar o reducionismo e estimula um pensar e fazer sobre o meio
ambiente diretamente vinculado ao diálogo entre saberes, à participação, aos valores
éticos como valores fundamentais para fortalecer a complexa interação entre
sociedade e natureza. Nesse sentido, o papel dos professores(as) é essencial para
impulsionar as transformações de uma educação que assume um compromisso com a
formação de valores de sustentabilidade, como parte de um processo coletivo.

A necessidade de uma crescente internalização da problemática ambiental, um saber


ainda em construção, demanda empenho para fortalecer visões integradoras que,
centradas no desenvolvimento, estimulem uma reflexão sobre a diversidade e a
construção de sentidos em torno das relações indivíduos-natureza, dos riscos
ambientais globais e locais e das relações ambiente-desenvolvimento. A educação
ambiental, nas suas diversas possibilidades, abre um estimulante espaço para
repensar práticas sociais e o papel dos professores como mediadores e transmissores
de um conhecimento necessário para que os alunos adquiram uma base adequada de
compreensão essencial do meio ambiente global e local, da interdependência dos
problemas e soluções e da importância da responsabilidade de cada um para construir
uma sociedade planetária mais eqüitativa e ambientalmente sustentável.

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Recebido em: outubro 2002


Aprovado para publicação em: outubro 2002

1 Este relatório é o resultado do trabalho da comissão da ONU World Comission on


Environment and Development, presidida por Gro Harlem Brundtlandt e Mansour
Khalid, daí o seu nome. O documento parte de uma abordagem da complexidade das
causas que originam os problemas socioeconômicos e ecológicos da sociedade
global.

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43
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http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/26760

Título: ISO 14000 e a gestão ambiental: uma reflexão das práticas ambientais
corporativas
Autor(es): Soledade, Maria das Graças Moreno
Nápravník Filho, Luciano Angelo Francisco Karel
Santos, Jair Nascimento
Silva, Mônica de Aguiar Mac-Allister da
Palavras-chave: Responsabilidade social corporativa;ISO 14000;Sustentabilidade
Ambiental
Data do documento: Nov-2007
Editor: FEAUSP
Resumo: As exigências da comunidade internacional em relação à
sustentabilidade ambiental global contribuíram para que as organizações
entendessem que sua relação com a sociedade não poderia ser unilateral. Nesse
contexto, as organizações passaram a utilizar práticas de gestão ambiental que
agregassem valor às suas estratégias e que trouxessem respostas para os seus
principais atores internos e externos. Uma das maneiras mais usuais de iniciar práticas
de gestão ambiental tem sido a implantação de um Sistema de Gestão Ambiental
(SGA), com vistas à certificação. Esse processo é balizado e orientado segundo
normas internacionais. Esse artigo objetiva analisar a série ISO 14000 quanto a sua
aplicação, verificando se é apenas um instrumento de gestão empresarial ou se
contribui para a sustentabilidade ambiental. Para o desenvolvimento dessa reflexão,
são utilizadas a teoria dos stakeholders e o modelo da pirâmide de responsabilidade
social corporativa discutida nas dimensões econômica, legal, ética e filantrópica.
Discute-se o sistema de gestão ambiental e a série ISO 14000, bem como, analisa-se
o objeto ISO 14001 à luz da teoria dos stakeholders. A título de conclusão, identificam-
se falhas na ISO 14000 no que diz respeito a sua contribuição para a sustentabilidade
ambiental, indicando-se a necessidade de uma consciência ambiental mais crítica por
parte de seus usuários e gestores e de uma revisão do próprio processo de
certificação.
URI: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/26760
Aparece na(s) coleção(ções): Artigos Publicados em Periódicos (NPGA)

44
Gestão & Produção
Print version ISSN 0104-530X
Gest. Prod. vol.17 no.3 São Carlos 2010
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-530X2010000300016
A incorporação da responsabilidade social e sustentabilidade: um estudo baseado no
relatório de gestão 2005 da companhia paranaense de energia - COPEL

Sustainability business: a study based on the 2005 report of the Paraná state energy
management company - COPEL
Luci Ines Bassetto

Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, Av. Monteiro Lobato, s/n, Km


04, CEP 84016-210, Ponta Grossa - PR, Brasil, E-mail: luciines@utfpr.edu.br

Periódico Eletrônico "Fórum Ambiental da Alta Paulista"

PALAVRAS-CHAVE
Agronegócio Automação Bacia Hidrográfica Bacia hidrográfica Biodiversidade Cana-
de-açúcar Educação Ambiental Educação ambiental Fotocatálise Geoprocessamento
Impactos ambientais Indicadores Meio Ambiente Meio ambiente Paisagem
Planejamento Ambiental Sistemas de Informação Geográfica Solo Sustentabilidade
sensoriamento remoto Água

A GESTÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE NO BRASIL


Carmino Hayashi, Leonardo Henrique de Almeida e Silva

RESUMO

45
O crescimento das demandas de consumo da população em todo o mundo e,
especificamente no Brasil, tem induzido à busca de uma produtividade em que muitas
vezes as questões ambientais não são levadas em consideração. Tendo em vista as
dificuldades que um país em desenvolvimento enfrenta, é inegável que estas questões
de normativas e legislações ambientais encontram grandes dificuldades em
consolidar-se, em termos de Gestão Ambiental que garanta uma sustentabilidade e
bem-estar da sociedade. O objetivo deste trabalho foi compilar dados bibliográficos
para conceituar e descrever um breve histórico sobre a Gestão e Sustentabilidade
Ambiental no Brasil. Este estudo foi desenvolvido com base em pesquisas
bibliográficas atualizadas, referentes ao estado da arte pertinente à Gestão e
Sustentabilidade Ambiental, onde são apresentados aspectos conceituais, históricos e
uma análise e discussão sobre a importância de se debater estas questões. As
resultantes deste trabalho denotam uma grande preocupação social em relação ao
tema, mesmo que as resultantes práticas não sejam correspondentes, talvez pela
ausência de um processo educacional ou fiscalização mais eficiente. Concluímos que
para o enfrentamento mais efetivo e de resultados práticos sobre estas questões, os
políticos e gestores públicos devem investir numa metodologia de conscientização
educacional mais contundente junto às organizações, englobando todas as
ferramentas disponíveis no que diz respeito aos interesses e responsabilidades de
toda a sociedade.
PALAVRAS CHAVE: Gestão ambiental, Sustentabilidade, Meio ambiente, Gestão
pública.
Gestão ambiental, Sustentabilidade; Meio ambiente Gestão pública.

DOI: http://dx.doi.org/10.17271/1980082711720151222

46
Sustentabilida

Prefácio

47

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