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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, AGRICULTURA E AMBIENTE


CAMPUS VALE DO RIO MADEIRA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS
Disciplina: Sociedade e Ambiente

SANTOS, A. F.; ALENCAR, A. F. GLOBALIZAÇÃO E SUA RELAÇÃO COM A


APROPRIAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Revista da Faculdade de Direito da UFG,
[S. l.], v.34, n. 02, p. 98–121, 2010.

Resenha por Kamilla Lira Simões1

O trabalho abordado nesta resenha tem como título “GLOBALIZAÇÃO E SUA


RELAÇÃO COM A APROPRIAÇÃO DA BIODIVERSIDADE”, publicado pela
Revista da Faculdade de Direito UFG no ano de 2010. A Revista Faculdade de Direito da
UFG trata-se de uma revista científica classificada como B2 pelo Qualis/Capes, tendo
como objetivo publicar produções atuais e relevantes relacionadas ao âmbito da pesquisa
em direito e áreas afins, promovendo reflexões importantes para a solução de problemas
sociais e jurídicos. A obra foi escrita pelas autoras Alessandra Figueiredo dos Santos,
advogada e mestre em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas-
UEA, especialista (latu sensu) em Direito Tributário e Legislação de Impostos, autora do
livro "Biopirataria e Biotecnologia - A Tutela Penal da Biodiversidade Amazônica", e
Aline Ferreira de Alencar mestre em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do
Amazonas-UEA atua na área de Direito Ambiental, com ênfase em propriedade
intelectual e conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade.
O artigo resenhado inicia-se com um resumo é dividido em sete seções sendo elas:
“1. INTRODUÇÃO”; “2. O VALOR DA NATUREZA E DO RECURSO
AMBIENTAL”; “3. A GLOBALIZAÇÃO E O ACÚMULO DE CAPITAL”; “4.
APROPRIAÇÃO PRIVADA DA BIODIVERSIDADE”; “5. A LEGITIMAÇÃO DA
APROPRIAÇÃO DA BIODIVERSIDADE PELO DIREITO”; e finaliza com a “6.
CONSIDERAÇÕES FINAIS” e as referências “7. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS”.
Desta forma o objetivo deste artigo é debater sobre a globalização e sua relação
com a apropriação da biodiversidade, mostrando como o Direito acaba por favorecer essa
apropriação, não com o propósito de esclarecer este amplo tópico, mas sim de oferecer
ponderações sobre o assunto.

1
Bacharela em Engenharia Ambiental e Mestranda no Programa De Pós-Graduação Em Ciências
Ambientais pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Instituto Educação, Agricultura e Ambiente
– IEAA. Email: eng.kamillalira Número de matrícula: 2230540
Em sua parte introdutória, o texto discorre sobre o como o uso descontrolado da
biodiversidade sem levar a consideração do esgotamento de recursos naturais, ocasionou
a emergência da crise ambiental. Tal crise mostrou que os recursos são limitados e que a
sustentabilidade é de suma importância para prevenir a escassez e esgotamento, o que
acaba ameaçando a sobrevivência da humanidade.
As autoras citam Boaventura de Sousa Santos, que relata que a globalização é um
fenômeno pelo qual uma condição ou entidade local expande sua influência globalmente.
Esse fenômeno desempenhou um papel essencial para impulsionar a exploração da
biodiversidade, aprofundando as disparidades sociais e aumentando a divisão entre ricos
e pobres, o que ocasionou o acentuamento na miséria, desemprego e outros problemas
nos países menos desenvolvidos.
Os processos orientados pela acumulação de capital constroem relações de
dominação entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos, essa dominação está
diretamente ligada à exploração da biodiversidade, pois os países desenvolvidos buscam
extrair os recursos naturais presentes nos países menos desenvolvidos e em
desenvolvimento, gerando em prejuízos para as nações mais pobres.
Desta forma, é relatado que a globalização não criou esses problemas, mas os
amplificou, uma vez que o valor do capital acaba se sobrepondo as necessidades humanas
básicas. Isso acarreta a uma discrepância alarmante entre indivíduos, onde enquanto uns
acumulam riqueza de forma crescente, outros vivem as margens dos direitos humanos em
condições desumanas.
A segunda seção intitulada “2. O VALOR DA NATUREZA E DO RECURSO
AMBIENTAL” aborda o como o conceito de natureza evolui ao longo da história,
destacando diferentes perspectivas culturais e filosóficas. Inicialmente retrata a visão
antropocêntrica da Grécia Antiga, onde a natureza era vista como se só se tivesse utilidade
para servir de forma exclusiva ao ser humano. Posteriormente, menciona como Karl Marx
abordou o conceito de natureza, enfatizando a interação entre natureza e liberdade
humana, através do materialismo histórico que interpreta que a sociedade se estrutura para
gerar materialmente o que é necessário para sua sobrevivência, acúmulo e para certificar
a satisfação de suas necessidades.
O texto ressalta a visão não utilitária dos povos indígenas em relação à natureza,
baseada no respeito e troca, onde sempre utilizaram os recursos naturais durante séculos
e nunca ocasionaram os esgotamentos destes, ou seja, uma relação sustentável entre meio
ambiente e o ser humano. E também enfatiza que, apesar dos debates sobre essa relação
homem e natureza ao longo do tempo, o capitalismo têm voltado a natureza para o viés
econômico, onde os recursos são expropriados, apropriados e mercantilizado, causando
degradação ambiental. As autoras citam Enrique Leff, que fala que um dos fatores da
degradação ecológica é a negação da natureza, onde os recursos naturais são vistos apenas
como matéria prima para gerar lucro, lhes atribuindo valor de troca. A concepção de valor
de troca está ligada à lógica do mercado, onde os produtos são avaliados principalmente
por sua capacidade de serem vendidos, deixando de lado os impactos sociais e ambientais
da exploração dos recursos.
Também discute a conferência de Estocolmo de 1972, um marco ambiental com o
nascimento de um “novo ambientalismo”, enfatizando a importância de uma nova visão
entre o homem e a natureza, visando o desenvolvimento sustentável que tem como
objetivo o equilíbrio entre os aspectos sociais, ambientais e econômicos.
Por fim, o tópico explora o desafio de conciliar proteção ambiental e
desenvolvimento econômico, destacando a relevância da sustentabilidade ecológica.
Também é apontado sobre a dinâmica entre os países desenvolvidos (Norte) e os países
em desenvolvimento (Sul) no contexto da globalização, que se baseia em uma
dependência material e financeira, discutindo sobre a dívida ecológica e desigualdades
resultantes de um histórico de exploração econômica global.
O terceiro tópico “3. A GLOBALIZAÇÃO E O ACÚMULO DE CAPITAL” no
geral aborda de maneira crítica e abrangente os impactos adversos da globalização nos
aspectos socioeconômicos, culturais e ambientais. Inicialmente se debate o conceito de
"aldeia global" nos anos 1970, que se trata da influência dos meios de comunicação em
massa e à imposição universalmente de modelos de comportamento, as autoras destacam
a preocupação com a perda das tradições e valores culturais transmitidos de geração em
geração.
A seção prossegue discutindo quando a globalização se torna mais intensa na
década de 1980, devido ao rápido crescimento dos centros sociais modernos, como os
mercados financeiros e as redes de informação, destacando as diferentes dimensões da
globalização (econômicas, técnicas de comunicação, ecológicas, culturais, entre outras),
e a relação economia e cultura em nível global.
A perspectiva de variados autores é apresentada, incluindo Boaventura de Sousa
Santos e Ulrich Beck, que oferecem diferentes visões sobre a globalização. A crítica ao
modelo capitalista é clara, destacando a alienação ocasionada pelo fetichismo das
mercadorias e a exploração da força de trabalho.
A discussão se estende complementando o tópico anterior sobre as desigualdades
causadas pela globalização, enfatizando a concentração de poder e riqueza nas mãos de
países desenvolvidos e empresas hegemônicas. As autoras argumentam que a
globalização tem levado a uma exploração devastadora dos recursos naturais visando o
lucro, o que resulta em degradação ambiental e desequilíbrios ecológicos.
O texto conclui com a ideia da necessidade de se repensar na construção de novo
mundo mais humano e igualitário visando a preservação ambiental, pois apesar de a
globalização trazer interconexões e avanços, também tem causado sérios problemas
sociais e ambientais.
O quarto tópico denominado “4. APROPRIAÇÃO PRIVADA DA
BIODIVERSIDADE” reforça o que foi retratado anteriormente sobre a relação da
globalização com as desigualdades sociais e a exploração. As autoras citam Santilli para
mostrar que a matéria-prima da biotecnologia (biodiversidade) está nos países em
desenvolvimento, enquanto o controle da tecnologia e patentes está nos países
desenvolvidos, ampliando a dependência e desigualdade entre eles.
Essa desigualdade se reflete na exploração da biodiversidade dos países
subdesenvolvidos para hiperconsumo nos desenvolvidos, monetizando e privatizando a
natureza. O tópico finaliza abordando a forma como o capitalismo neoliberal global tende
a homogeneizar e reduzir o valor da natureza em favor do lucro, reforçando a
desvalorização das diversidades humanas, culturais e naturais. As autoras apontam como
o sistema legal contribui para essa apropriação, prejudicando a soberania nacional.
A quinta seção “5. A LEGITIMAÇÃO DA APROPRIAÇÃO DA
BIODIVERSIDADE PELO DIREITO” destaca a complexa relação entre a apropriação
da biodiversidade, o Direito e a globalização. Ressalta a necessidade de repensar sobre a
apropriação da biodiversidade e sua legitimação pelo Direito, destacando como a natureza
passa a ser considerada parte do domínio público ou privado, o que envolve a atribuição
de preço a bens que anteriormente não possuíam valor de mercado.
O tópico discute a variedade de interpretações sobre a apropriação, abordando
como ela pode ser tanto física quanto intelectual, e como isso pode levar à subjugação da
natureza. Destaca-se que a regulamentação do Direito pode influenciar a forma como a
apropriação ocorre, podendo ir de encontro aos princípios constitucionais relacionados ao
meio ambiente.
A discussão se estende à questão dos bens ambientais e socioambientais, onde os
primeiros são considerados de uso comum do povo, mas são frequentemente apropriados
e convertidos em patrimônio privado. E por fim, se debate sobre a falta de regulamentação
jurídica para essa nova realidade, indicando a necessidade de uma abordagem legal mais
apropriada para proteger os direitos da vida humana e garantir a preservação dos recursos
naturais.
O artigo conclui destacando a fragilidade do planeta devido a desigualdades sociais
intensificadas pelos impactos negativos da globalização, onde a relação exploração e
dependência de países do Norte (ricos em tecnologia) e do Sul (ricos em biodiversidade)
vem de um sistema capitalista globalizado com base da apropriação e valoração da
biodiversidade que prejudica a sustentabilidade e as gerações futuras. As autoras
ressaltam a urgência da revisão dessa questão pelo Poder Público, operadores do Direito
e sociedade, visando o desenvolvimento sustentável, onde o desenvolvimento econômico
esteja aliado as questões sociais e preservação ambiental.

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