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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, AGRICULTURA E AMBIENTE


CAMPUS VALE DO RIO MADEIRA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS
Disciplina: Sociedade e Ambiente

GONÇALVES, C. W. P. A natureza da globalização e a globalização da natureza. In:


GONÇALVES, C. W. P. O desafio ambiental [os porquês da desordem mundial.
Mestres explicam a globalização]. 3a ed. Rio de Janeiro-São Paulo: Record, 2012. Cap.
1. p. 36-72.
Resenha por Kamilla Lira Simões1

O livro abordado nesta resenha tem como título “O desafio ambiental [os porquês
da desordem mundial. Mestres explicam a globalização]”, publicado pela editora Record,
no Rio de Janeiro em 2012. Editora Record trata-se de um dos maiores conglomerados
editoriais da América Latina e com o maior catálogo no segmento dos não-didáticos, o
grupo publica livros de ficção; narrativas históricas e científicas; ensaios culturais,
sociológicos, literários e filosófico; reportagens; entre outros. A obra foi escrita pelo autor
Carlos Walter Porto-Gonçalves graduado, mestre e doutor em Geografia pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro, atualmente docente visitante do Programa
Interdisciplinar em Ciências Humanas - PPGICH-UFSC, professor por tempo
determinado - Universidade Nacional de Córdoba - Argentina, e Titular da Universidade
Federal Fluminense, renomado em temas de conflitos sociais, justiça ambiental,
Amazônia entre outros.
A obra é dividida em dois capítulos gerais: “1. A natureza da globalização e a
globalização da natureza”; e “2. O homem”. Cada capítulo é dividido em variados
subtópicos, esta resenha abordará apenas a partir do quinto subtópico, sendo eles: “5. Os
limites da técnica ou qual o papel da técnica na superação do desafio ambiental
contemporâneo?”; “6. Quais as implicações para os destinos do planeta e da humanidade
da privatização do mundo da ciência e da técnica?”; “7. Há limites ao mercado do ponto
de vista ambiental?”; “8. Por que o território se coloca como questão central no debate
acerca do desafio ambiental contemporâneo?”; e “9. Qual a nova geopolítica de controle
da natureza que se desenha no período neoliberal?”.
O livro no geral propõe uma abordagem da relação capitalismo e questões
ambientais de uma visão diferente, analisando a natureza e sua relação com as sociedades
como um valor filosófico fundamental.

1
Bacharela em Engenharia Ambiental e Mestranda no Programa De Pós-Graduação Em Ciências
Ambientais pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Instituto Educação, Agricultura e Ambiente
– IEAA. Email: eng.kamillalira@gmail.com Número de matrícula: 2230540
O tópico “5. Os limites da técnica ou qual o papel da técnica na superação do
desafio ambiental contemporâneo?” levanta o questionamento da visão tradicional que
considera a técnica como uma esfera distinta, separada da sociedade e da natureza, por
meio da crítica entre a relação tecnologia, sociedade e natureza. O autor argumenta que a
intencionalidade embutida nas técnicas e como elas podem parecer automáticas, tornando
obscurecidos os verdadeiros comandos por trás delas.
Uma parte importante da crítica trata-se da ideia de que a técnica é neutra, logo
pode ser usada para o bem ou para o mal, ressaltando a importância do princípio da
precaução diante da incerteza inerente às relações entre seres humanos e a natureza. Se
discute o como as técnicas não se limitam apenas à relação entre humanos e a natureza,
mas também são usadas como instrumentos de dominação social e política.
O autor argumenta que a tecnologia estabelece um próprio ritmo, muitas vezes
indiferente aos diferentes ecossistemas e culturas, e como consequência disso pode
resultar em homogeneização do tempo em favor da produtividade e da competição. Além
disso, questiona a concepção de que a ciência e a tecnologia são tidas como critérios
absolutos de verdade, marginalizando outras maneiras de conhecimento e sabedoria.
No geral, nesse tópico o autor destaca a importância de reconhecer as dinâmicas de
poder que estão por trás da tecnologia e da ciência, ressaltando a necessidade de
considerar as implicações sociais, políticas e ambientais de cada avanço tecnológico.
A seção “6. Quais as implicações para os destinos do planeta e da humanidade da
privatização do mundo da ciência e da técnica?” expõem uma visão crítica e preocupante
sobre a relação entre ciência, mercado e política, sendo visível o contexto das ciências
ambientais e da saúde pública.
O autor destaca vários pontos relevantes, como a transformação da ciência em
mercadoria, o que levanta preocupações reais sobre a possibilidade de distorção das
prioridades da pesquisa em favor do lucro, em vez do bem-estar humano e ambiental.
Como também a perda de controle público, onde o uso de fundos públicos para pesquisa
que beneficia o setor privado destaca a perda de controle e benefício público nesse
processo.
Outro ponto destacado é sobre os riscos ambientais e de saúde, onde o autor salienta
a falta de investigações independentes sobre os impactos ambientais e de saúde de várias
substâncias e tecnologias. Isso se torna especialmente alarmante em um contexto em que
novas substâncias químicas e organismos geneticamente alterados estão sendo inseridos
no meio ambiente e na cadeia alimentar sem uma compreensão abrangente de suas
consequências a longo prazo.
Retrata-se também sobre a complexidade da ciência e incerteza, enfatizando a
importância de abordar questões ambientais com um senso de precaução, uma vez que o
entendimento dos sistemas naturais é limitado e complexo.
O tópico finaliza dando destaque a crescente politização da ciência, especialmente
em questões ambientais e de saúde, e sobre a democratização da ciência, onde se debate
a ideia de uma "democracia de baixa intensidade" como insuficiente para abordar
questões complexas relacionadas ao meio ambiente, o que ressalta a relevância de
engajamento público mais abrangente e processos democráticos aprimorados na tomada
de decisões.
A seção “7. Há limites ao mercado do ponto de vista ambiental?” traz a
problemática da relação sociedade e meio ambiente mais focada na economia,
especialmente em um contexto de globalização neoliberal.
Umas das principais críticas do autor é a atribuição de valores puramente financeiro
e mercantil a recursos naturais e ecossistemas, o vem levando à exploração excessiva e à
degradação do meio ambiente. Além disso, questiona-se a ausência de uma abordagem
científica aprofundada sobre o mercado nas disciplinas de economia, afirmando a ideia
de que a economia deveria ter ligações diretas com a ética e a moral, o que se perdeu
gradualmente conforme a economia se tornou mais desvinculada da sociedade e do meio
ambiente.
Destaca-se também o papel do território como um ponto central para entender a
relação entre economia e meio ambiente. Sua argumentação gira em torno do fato de que
diferentes culturas e povos atribuem significados diferentes aos recursos naturais e ao
território, algo que pode resultar em conflitos territoriais. O texto finaliza com a questão
da concentração de energia e recursos em determinadas áreas geográficas, o que muitas
vezes resulta em impactos ambientais negativos e em desigualdades na distribuição da
riqueza.
No tópico “8. Por que o território se coloca como questão central no debate acerca
do desafio ambiental contemporâneo?” o autor se aprofunda nas complexas relações entre
controle territorial, poder político, tecnologia e recursos naturais, destaca a importância
do território na asseguração do fornecimento de recursos naturais em uma sociedade cada
vez mais orientada para o crescimento econômico e o consumo.
Uma das principais críticas feitas no texto é à noção de propriedade privada, que é
abordada com a base da territorialidade moderno-colonial e está enraizada na segregação
entre a sociedade e a natureza, desempenhando um papel fundamental para o capitalismo.
O autor também reforça sobre a importância da tecnologia no contexto das relações
de poder e na produção, distribuição e exploração de recursos naturais. O texto conclui
que é necessário repensar as teorias econômicas que levem em consideração a natureza
como uma riqueza abundante e um bem comum, visando ações não apenas locais, mas
também em níveis regional, nacional e internacional para abordar de forma efetiva o
desafio ambiental.
O tópico do capítulo intitulado “9. Qual a nova geopolítica de controle da natureza
que se desenha no período neoliberal?” tem como enfoque principalmente três recursos
naturais estratégicos: energia, diversidade biológica e água.
O texto destaca a crescente importância da energia e da água em diversos setores,
como também sobre a geração de resíduos e rejeitos resultantes da produção e consumo
de recursos. O autor argumenta que a gestão dos rejeitos é um dos principais desafios
ambientais e geopolíticos da atualidade, ainda mais com a introdução de novos materiais,
como os elementos químicos sintéticos e os organismos transgênicos modificados no
ambiente.
Outro ponto de destaque é a importância da temporalidade na compreensão do
desafio ambiental. O autor ressalta que muitos dos processos tecnológicos e ambientais
são relativamente recentes em comparação com os tempos de metabolização e evolução
das espécies. Isso gera conflitos entre diferentes escalas de tempo, o que tem implicações
significativas para a gestão ambiental.
O texto conclui enfatizando que o desafio ambiental contemporâneo é,
essencialmente, uma questão territorial. Envolve a reconfiguração das relações da
humanidade com a natureza e a busca por racionalidades ambientais em conflito com a
racionalidade econômico-científica predominante no capitalismo. A geopolítica está
intrinsecamente ligada a essas questões, pois a gestão dos recursos naturais estratégicos
e dos rejeitos envolve não apenas a distribuição geográfica, mas também o exercício do
poder político em escala global.

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