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Resumo
Não é qualquer alegria que pode sustentar a Igreja em tempos de quietude ou de grandes
sofrimentos, a não ser aquela prometida pelo espírito. Que tal pensar numa renovação pessoal
e eclesial em que o ponto inicial seja a alegria do espírito? Uma promessa que se faz ponte
viva e segura pelo diálogo unitivo de amor entre o ser humano e a Trindade. A alegria
proposta no espírito é, sobretudo, atitude em transformação, pessoal e eclesial, que nasce e
cresce na liberdade interior de um coração sincero a procura de conversão. Ela é envolvida
pela luz da sabedoria penetrando nos pontos mais obscuros da existência terrenal, iluminando
a todos com um espírito positivo e rico de esperança. O desejo de Francisco a partir do seu
papado é ver uma Igreja de portas abertas que nasce no frescor das fontes transbordantes na
permanente presença do espírito. Uma Igreja em missão, que testemunha um Cristo vivo,
justo e misericordioso, identificando-se afetuosamente com os mais vulneráveis. Uma
realidade eclesial feita pela comunhão de homens e mulheres, que pela fé e a caridade buscam
santificar-se nas formas mais simples do dia a dia. A alegria deve ressurgir como dimensão
libertadora, promovendo a confiança, num século XXI que parece tomar um rumo assustador,
pois surgem novas ideologias que separam que deixam de lado ideais de unidade e de
convivência. Um mundo, que apaixonado pela oferta de consumo sofre a tristeza decorrente
dos prazeres superficiais do individualismo, do egocentrismo, do narcisismo e do próprio
egoísmo. Em consideração aos questionamentos apresentados neste artigo, o objetivo
proposto é: Analisar a partir do papado de Francisco, princípios que possibilitem na
atualidade reencontrar a alegria revelada pelo espírito. A metodologia utilizada foi a pesquisa
bibliográfica, que transcorreu pelo processo dedutivo utilizando a análise qualitativa. Conclui-
se que, se é na esperança que se sustenta o saber que somos infinitamente amados, devemos
nos adaptar as realidades que muitas vezes se apresentam adversas. Manter da melhor forma a
comunhão social e eclesial na perspectiva de vivenciar e comunicar a alegria do espírito
manifesto através do papado de Francisco.
1
Mestre em Teologia pela (PUCPR - CAPES). Licenciado em Filosofia (CLARETIANO). Especialista em Ensino
de Filosofia e Sociologia (FACEL). Graduado em Teologia (PUCPR). E-mail:
luisfrettomassoterapia@yahoo.com.br
2
Doutora em Políticas Públicas e Gestão da Educação pela UTPR. Pós-doutoranda em Bioética no PPGB da
Pontifícia Universidade Católica – PR. Graduada em Psicologia (PUCPR). Membro da Sociedade Brasileira de
Bioética (SBB), Pesquisadora no Grupo: Bioética, Humanização e Cuidados em Saúde da PUCPR-CNPq. Email:
rcf.salgado@gmail.com
3
Doutor em Teologia. Docente nos Programas de Pós-Graduação em Teologia e Bioética da PUCPR. Líder do
Grupo de Pesquisa Bioética, Humanização e Cuidados em Saúde (BIOHCS) PUCPR/CNPq. Membro da
Sociedade Brasileira de Bioética (SBB). Membro da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (SOTER). E-
mail:waldir.souza@pucpr.br
Palavras chave: Papa Francisco. Alegria. Ideologia. Espírito. Magistério. Ser Humano.
Abstract
It is not any joy that can sustain the Church in times of stillness or great suffering, except that
promised by the Holy Spirit. How about thinking about a personal and ecclesial renewal
where the starting point is the joy of the spirit? A promise that becomes a living and safe
bridge through the unitive dialogue of love between the human being and the Trinity. The joy
proposed in the spirit is above all a changing attitude, personal and ecclesial, which is born
and grows in the inner freedom of a sincere heart in search of conversion. It is enveloped by
the light of the heavenly wisdom, penetrating the darkest points of earthly existence,
illuminating everyone with a positive and hopeful spirit. Francis' desire from his papacy is to
see a Church with open doors that is born in the freshness of overflowing fountains in the
permanent presence of the spirit. A Church on a mission, which bears witness to a living, just
and merciful Christ, identifying affectionately with the most vulnerable. An ecclesial reality
made by the communion of men and women, who through faith and charity seek to sanctify
themselves in the simplest forms of daily life. Joy must reappear as a liberating dimension
promoting reliability, in a 21st century that seems to be taking a frightening turn, as new
ideologies that separate, which set aside ideals of unity and coexistence emerge. A world,
which is passionate about the consumption offer, suffers the sadness resulting from the
superficial pleasures of individualism, self-centeredness, narcissism and selfishness. In
consideration of the questions presented in this article, the proposed objective is: "Analyze
from the papacy of Francis, principles that make it possible today to rediscover the joy
revealed by the spirit". The methodology used was bibliographic research, which took place
through the deductive process, using qualitative analysis.
We conclude that, if it is in hope that the knowledge that we are infinitely loved is sustained,
we must adapt the realities that are often adverse. Maintaining the best social and ecclesial
communion in the perspective of experiencing and communicating the joy of the spirit
manifested through the papacy of Francis.
Introdução
Não é qualquer alegria que pode sustentar a Igreja em tempos de quietude ou de grandes
sofrimentos, a não ser aquela prometida pelo espírito. Mas, o que é ser espiritual? Segundo
Hennezel (2012, p.24), A espiritualidade é “dar um passo a mais”. “Dar “um passo a mais” na
aceitação da minha fadiga, na aceitação de meus limites, limites de minha inteligência, de
minha incompreensão diante do sofrimento. Ser espiritual é simplesmente, na situação onde
se está, dar esse “passo a mais”. É a alegria? Há tantas definições, mas pode-se considerar que
é um sentimento ou emoção, que produz em nós o bom humor, além disso, desperta atitudes
positivas que estimulam a parte criativa no ser humano. Existem vários sinais através dos
quais pode ser ativada a alegria, pode ser algum evento favorável, ou talvez, algo tão simples
como uma gentileza ou delicadeza.Também pode ter significado através de um evento
passageiro; a conquista de boas notas, ou a notícia de um bom trabalho.Porém, a alegria no
espírito que está presente no interior de cada ser humano nos abre à transcendência e nos
convida a santidade, e desse modo, podemos ver claro pela esperança, o melhor caminho a ser
tomado, ainda que este nos leve a cruz. A alegria como fonte interior do espírito se comunica
em transcendência4 através da pessoa, e esta, impulsionada pelo espírito, revela-se com
ternura e amor aos outros de forma gratuita e caridosa, um convite à santidade.
No entanto, a transcendência considerada como algo que transpassa a existência terrena
define-se no campo teológico, como reflexão sobre o cristológico fundamentando um
repensamento da transcendência em chave cristã, segundo o bispo Pacômio (et al, 2003, p.
311). Os autores declaram ainda que:
A transcendência de Deus, de fato, deve estar unida não só a uma justa "imanência"
criativo-salvífica, mas também ao mistério de Deus que, em Cristo, torna-se o outro-
diferente-de-si, enquanto a relação de transcendência vertical e horizontal (de
homem com Deus, e com outro homem), encontra no mistério trinitário sua luz
ultima e seu modelo: Por isso o finito, mesmo continuando como criatura, é
chamado, na graça a participar na mesma mútua interioridade das Pessoas divinas,
sem que isso signifique anular a ulterioridade e a liberdade de Deus sempre maior.
Mas, há uma terceira ideia que está em concordância com a proposta de Francisco a
respeito da santidade do dia a dia. A respeito disto, Bingemer (2012, p.6) diz que:
A santidade foi muitas vezes identificada com a negação do mundo, do corpo, d
história. Os processos de canonização feitos pela Igreja sublinham às vezes, nos
santos, virtudes e padrões de comportamento que não são bem entendidos por
homens e mulheres de uma sociedade secularizada e autônoma. A psicologia a
denunciou mais de uma vez, nas vidas de santos e hagiografias, patologias perigosas
que podem distorcer todo o conteúdo daquilo que se deseja comunicar ou transmitir.
Nossa reflexão deseja demonstrar que aquilo que todos os santos, homens ou
mulheres, na verdade desejam é viver, e viver em plenitude e ajudar outros a viver a
aventura da vida em toda a sua beleza. Talvez por isso é um tema que está voltando
e que interpela a teologia de hoje e de amanhã, quando a sede da transcendência e do
sentido da vida se torna sempre mais aguda na vida e no coração de nossos
contemporâneos.
De fato, somos convocados por um Deus Trindade para realizar coisas que superam a
nossa própria força. Desse modo, a alegria que é renovada a cada momento de nossa vida é a
verdadeira força que provém do espírito. É uma promessa feita realidade que se transforma
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Transcendência, segundo o filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), qualidade das ideias que se
caracterizam por estarem muito acima de qualquer experiência possível, sendo, portanto, inapropriadas para o
conhecimento. No aspecto religioso é considerada: “O conjunto dos atributos de Deus em relação ao mundo e aos
seres por Ele criados, segundo os teístas”. Entretanto, na metafísica clássica é tida como “caráter inerente daquilo
que é de natureza superior, portanto, radicalmente diferente e separado da realidade sensível” (MICHAELIS,
2012).
em sustentabilidade, principalmente nos dias em que o sofrimento toca o limite da nossa
esperança. Esse espírito que nos consola é dinâmico e muitas vezes nos carrega no colo
modelando o nosso existir na alegria e na ternura, na medida em que o coração Ressuscitado
de Cristo assim o dispõe. Ou seja, Uma igreja transfigurada em cristo pela alegria e a
ternura...!
Que tal pensar numa renovação pessoal e eclesial em que o ponto inicial seja a alegria
do espírito? O Papa Francisco começa a EVANGELII GAUDIUM (EG) com a seguinte frase:
“A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com
Jesus. [...] Com Jesus Cristo, nasce e renasce sem cessar a alegria” (1, 2013). Uma promessa
que se faz ponte viva e segura pelo diálogo unitivo de amor entre o ser humano e a Trindade.
A alegria proposta no espírito é sobretudo atitude em transformação, pessoal e eclesial, que
nasce e cresce na liberdade interior de um coração sincero a procura de conversão. Ela é
envolvida pela luz da sabedora celestial penetrando nos pontos mais obscuros da existência
terrenal, iluminando a todos com um espírito positivo e rico de esperança.
A alegria é procurada por todos, pois ocupa um lugar fundamental no ser humano e
praticamente em todas as culturas. Mas, muitos não têm a oportunidade de poder
experimentar esse sentimento gratuito e benéfico. Pois, na decadência da vida pela influência
de ideologias aparece um mundo, que apaixonado pela oferta de consumo, sofre a tristeza
decorrente dos prazeres superficiais do individualismo, do egocentrismo, do narcisismo e do
próprio egoísmo. Uma realidade citada por (FRANCISCO, AL, 33, 2016), ao relatar que:
há que considerar o crescente perigo representado por um individualismo exagerado
que desvirtua os laços familiares e acaba por considerar cada componente da família
como uma ilha, fazendo prevalecer, em certos casos, a ideia dum sujeito que se
constrói segundo os seus próprios desejos assumidos com carácter absoluto (12). As
tensões causadas por uma cultura individualista exagerada da posse e fruição geram
no seio das famílias dinâmicas de impaciência e agressividade.
São realidades que tornam negativa as relações sociais e eclesiais porque são opostas
as ações que promovem a partilha e a caridade. Pois, a prática destes valores humanos e
divinos está em unicidade com o desenvolvimento do ser humano em toda sua integralidade.
De fato, o exercício de se dar em gratuidade ao outro no cristianismo tem, além de algum
outro motivo, o de elevar a pessoa para um plano de transcendência, de liberdade e de
responsabilidade, perante si mesmo, com os outros e ante Deus.
Na atualidade, a comunidade eclesial que caminha pela estrada papal de Francisco
busca elementos para tornar a Igreja viva, missionária e de uma santidade que encontra a sua
realização nas pequenas coisas do dia a dia. Uma verdadeira “re-evolução”, que busca pelos
caminhos experienciais da simplicidade e da fé, a alegria do espírito, como força e estímulo
para superar os desafios da sociedade atual. Pois, a santidade exige a coragem de deixar que
fiquem frente a frente a nossa vulnerabilidade, a nossa fragilidade e a graça, que a partir deste
encontro o santo poderá se tornar plenamente humano. (FRANCISCO, GE, 34, 2018). Não é
um sonho pensar atualmente numa Igreja da transfiguração, pois hoje há belos rostos que
nascem pelo espírito como rosas no deserto, que tem o cheiro da essência de Cristo e
encantam a muitos pelo testemunho a ter como experiencia de fé sua própria conversão,
(FRANCISCO, GE, 22, 2018).
O desejo de Francisco é o desejo de Deus, que todos escutem e respondam
positivamente ao convite da santidade na alegria do espírito. Talvez o momento atual conspire
em favor daqueles que pensam refletir seriamente o sentido da sua vida. O nosso tempo
caracterizado por uma pandemia que se mantem fora dos limites de segurança e proteção
prometida pela comunidade científica e tecnológica, torna obsoleta a ilusão de um mundo
feliz, prazeroso, seguro e estável, que optou pelo bem-estar materialista. O tempo atual
pandêmico nos convida a reflexão, ao silencio, e a oração e isso nos pode colocar em diálogo
com Deus. Pois, é indispensável, como Maria, a irmã de Lazaro, saber escutar o Mestre (Lc,
10 38,42). A santidade exige oração, se diz que “a oração é a fraqueza de Deus, e a força do
cristão”.
A alegria que é conhecida por todos é também volátil, mais não tanto como o prazer. É
uma sensação que vem do externo e acontece pela realização de algo que foi atingido. Por
exemplo, a conclusão de uma viagem que foi planejada, a formação de um curso, etc. Porém,
a alegria que é fruto do espíritoprovocada pela fé num Deus Trindade é a que mantém firme a
pessoa mesmo que, esta passe pelo vale tenebroso da desordem e da obscuridade.
Através da GE (133, 2018), sobre a chamada à santidade no mundo atual, o Papa
Francisco esclarece que:
Precisamos do impulso do Espírito para não ser paralisados pelo medo e o
calculismo, para não nos habituarmos a caminhar só dentro de confins seguros.
Lembremo-nos disto: o que fica fechado acaba cheirando a mofo e criando um
ambiente doentio. Quando os apóstolos sentiram a tentação de deixar-se paralisar
pelos medos e perigos, juntaram-se a rezar pedindo parresia: “agora, Senhor, tem
em conta as suas ameaças e concede aos teus servos poderem anunciar a tua palavra
com toda a ousadia” (At 4, 29). E a resposta foi esta: “tinham acabado de orar,
quando o lugar em que se encontravam reunidos estremeceu, e todos foram cheios
do Espírito Santo, começando a anunciar a palavra de Deus com ousadia” (At 4, 31).
De fato, somos convocados por um Deus Trindade para realizar coisas que superam a
nossa própria força. Desse modo, a alegria que é renovada a cada momentode nossa vida é a
verdadeira força que provém do espírito. É uma promessa feita realidade que se transforma
em sustentabilidade, principalmente nos dias em que o sofrimento toca o limite da nossa
esperança.
Na busca de um conhecimento maior sobre a alegria na perspectiva da sua
experimentação, o filósofo Frédéric Lenuar esclarece que:
Existem três grandes vias de acesso à alegria. Em primeiro lugar, um caminho que
favorece a sua eclosão, com atitudes como a atenção e a presença, a confiança e a
abertura do coração, a gratuidade, a benevolência, a gratidão, a perseverança no
esforço e a entrega, ou ainda o gozo do corpo. Duas outras vias, em seguida, nos
levam a experimentar uma alegria mais duradoura: um caminho de desligamento,
isto é, de libertação interior, que nos permite ser cada vez mais nós mesmos e,
inversamente, um caminho de religamento, de amor, que nos permite nos adaptar ao
mundo e aos outros de maneira plena e justa. Descobrimos então que a alegria
perfeita, aquela prometida ao fim desses dois caminhos de autorrealização e de
comunhão com o mundo, é uma expressão profunda, ativa e consciente daquilo que
é oferecido a todos nós desde os primeiros instantes de nossa existência, e que
muitas vezes perdemos diante das dificuldades que enfrentamos: a alegria de viver
(2016, p. 12).
A partir destes esclarecimentos percebe-se que a alegria, além de ter sua presença
permanente no ser humano como dom precioso do espírito, se relaciona intimamente com a
fé. Por isso, é necessário redescobri-la na vivência no dia a dia, refletindo sobre nossas ações,
encontros e decisões, ou seja, a procura de uma verdadeira conversão pessoal. A alegria que
nasce da fé desperta o entusiasmo e conduz a esperança, o que nos anima a ter confiança
quando formos desafiados a cruzar caminhos desérticos e tortuosos, da própria
vulnerabilidade terrena.
A respeito disto, o Papa Francisco na EG (30, 2013), esclarece que: “E a própria
família ou o lugar de trabalho podem ser também o tal ambiente árido, onde há que conservar
a fé e procurar irradiá-la”. É importante entender que, sem a experiência do deserto se torna
difícil a redescoberta da alegria de crer, pois o que é essencial para a vida passa pelo
enfrentamento do vazio, do inóspito, do medo.
A alegria proposta no espírito é, sobretudo, atitude em transformação pessoal e
eclesial, que nasce e cresce na liberdade interior de um coração sincero a procura de
conversão. Ela é envolvida pela luz da sabedora celestial penetrando nos pontos mais
obscuros da existência terrenal, iluminando a todos com um espírito positivo e rico de
esperança. A respeito disto, o Papa Francisco a partir da GE (128, 2018) explicita que: “Não
estou a falar da alegria consumista e individualista muito presente nalgumas experiências
culturais de hoje. Com efeito, o consumismo só atravanca o coração; pode proporcionar
prazeres ocasionais e passageiros, mas não alegria”. Desse modo, Francisco aponta para a
alegria que se comunica a partir da partilha. Sentir a verdadeira felicidade pela experiência
que resulta, do “mais dar que receber”. Consequentemente, a alegria multiplica-se em nós, a
partir da somatória em alegrar-se com aqueles que se alegram.
Além disto, a alegria mostra ser um sentimento do espírito, pois possui caráter
humilde e serviçal, expressando-se através de atos de interação e de misericórdia como sinal à
pertença humana. Portanto, a alegria é elemento essencial na vida interior de toda pessoa e
deve ser alimentada constantemente através da dimensão humana da espiritualidade. Do
contrário, quando negada dificulta o caminho à conversão, um convite da graça, pela alegria
do encontro com o Ser Absoluto. Pois, na falta da alegria que provém do Espírito, o indivíduo
sente-se dominado pelos sonhos ilusórios e interesseiros do próprio eu, na possibilidade de
considerar o outro, objeto de pertença própria.
Por tudo isso, e muito mais, não haveria espaço suficiente no mundo para determinar
os benefícios desse grande dom, que é a alegria pelo espírito. O qual nos foi dado
gratuitamente como alimento na passagem pela existência humana, como também, nos revelar
o caminho do transcendente na espera de uma eternidade de luz e paz infinita.
Sem dúvida, a alegria deveria ressurgir como dimensão libertadora promovendo a
confiabilidade da comunidade eclesial, num século XXI, que parece tomar um rumo
assustador pelo surgimento de novas ideologias. Francisco na LS (ano, 2015), nos lembra
sobre as palavras da primeira Encíclica de São João Paulo II, na qual:
Não fica nenhuma dúvida, que a alegria vinda do espírito está em confiar totalmente a
nossa fé em Cristo. Pois, em suas palavras de vida eterna, nos convida a uma entrega total a
Ele, na alegria de experimentar a verdadeira caridade, o verdadeiro amor pelo próximo mais
necessitado. Em função disto, na EG (3, 2013), Francisco convida: “a todos os cristãos em
qualquer lugar e situação que se encontre, a renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com
Jesus Cristo ou, pelo menos, a tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de O procurar
dia a dia sem cessar”. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz
respeito, já que “da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído”. Francisco diz, que assim
como nos devemos perdoar setenta vezes sete, Ele nos perdoa setenta vezes sete, ou seja,
sempre. Ele não se cansa de perdoar, porém, somos nós que nos cansamos em pedir sua
misericórdia. Para quem procura viver com Ele de forma íntima nas pequenas coisas da vida,
sente-se carregado nos ombros por Ele. E assim perceber, que o seu amor é infinito, e inefável
nunca nos defrauda, pois pela sua ternura, nos faz partícipe da alegria pelo seu espírito. Desse
modo, entende-se que a santidade não é o privilégio de alguns, mas todos são convidados.
Neste pensar, torna-se relevante refletir sobre uma das tantas características que
acompanhou a vida de Cristo, e que hoje se torna presente e real a partir da caridade. Para
Rocchetta (2006, p.451), “A ternura teologal corresponde ao paradoxo da cruz, e à força que
emana da fraqueza daquele evento como significado único que esse reveste para a
humanidade”. Um acontecimento capaz de constituir-se sal, luz e fermento de renovação, a
fim de que através de uma cultura da ternura possa brotar uma nova forma de ser da Igreja.
Numa alegria plena que revela a presença misericordiosa de Cristo em comunhão com uma
Igreja de portas abertas, que recebe a todos, especialmente aos mais necessitados. Desse
modo, Francisco interpela a Igreja Católica a partir da EG, (288, 2013) desta maneira: “Dar
um passo no sentido de uma "dinâmica de justiça e ternura, de contemplar e caminhar em
direção aos outros", porque assim "voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e
do carinho". Rocchetta ainda afirma que:
A teologia da ternura supõe, de fato, a práxis da ternura e coloca em crise toda uma
maneira de ser cristãos que permanece na superfície ou se contenta com um
cristianismo medíocre, sem estímulo nem entusiasmo; essa proclama à comunidade
dos crentes que sem o evangelho da ternura não se responde plenamente ao
evangelho do amor que o Mestre nos deixou, tornando-se finalmente incapazes de
levar aos homens o feliz anúncio da graça. Antes, fora do evangelho da ternura, é
forte a tentação de ser ou de voltar a ser uma Igreja do domínio e da exclusividade.
(2006, p. 17-18)
A ternura é um valor que está estabelecido na concretude de nosso ser, porém, se realiza
plenamente somente como experiência espiritual e acontecimento da graça, que se
compreende na perspectiva cristã através dessa integração. Um valor que é capaz de renovar a
Igreja, a humanidade, com a força do humilde amor transformando-se em vivência histórica
de solidariedade amical e de serviço gratuito.
A pessoa tocada pelo convite à santidade não pode ficar quieta, pois a própria presença
do espírito é inquietante, nos lançando para frente ou para donde for a meta escolhida por
Cristo. Por isso, a santidade é um caminhar à transcendência pela adoração e oração, diz
Francisco GE, (146, 2018).
Considerações finais
Referências
ANDRADE, C. C. de. Dicionário Teológico. Edição Revista ampliada e um suplemento
Biográfico dos grandes Teólogos. Pensadores 2000.
BAUER, J. B. Dicionário de teologia bíblica. 4 edição edições Loyola: São Paulo, 1988.
BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2015.
ROCHETTA, C. Teologia da ternura – um. 'evangelho' a descobrir. Ed. Paulus: São Paulo,
2006.
SITES ELETRÔNICOS
_________. Carta Encíclica Laudato Si’ Do Santo Padre Francisco Sobre O Cuidado Da
Casa Comum. Disponível
em:http://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-
francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html Acessado em: 23 Dez 2020.