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Guilherme Zanina Schelb

A IGREJA DA SEGUNDA-FEIRA
AVIVAMENTO EM TEMPLOS E CIDADES

1ª Edição
Licenciado para - Terezinha Edinir Caitano do Nascimento - 32310900320 - Protegid
Brasília - DF
© 2020 Guilherme Zanina Schelb
Proibida a reprodução total ou parcial dos textos autorais. Todos os
direitos reservados de acordo com a lei.

Ficha Técnica

Capa/Diagramação
Robson Pires

Impressão
Flex Gráfica e Editora

S322v
Schelb, Guilherme Zanina.
A Igreja da Segunda-feira: Avivamento em templos e
cidades / Guilherme Zanina Schelb. – Brasília, 2020. 88 p.

ISBN: 978-65-00-01412-9 

1.Cristianismo. 2.Bíblia. 3.Vida Cristã.

CDD 230.240

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INDICE
Agradecimentos................................................................5
Apresentação.....................................................................7
Introdução.........................................................................11

A Igreja da Segunda-Feira............................................. 17
1.1 A atitude mais espiritual............................................................................20
1.2 Provérbios..................................................................................................... 24
1.3 Doutrinas teológicas podem ‘matar’.....................................................27
1.4. Fé e atitudes................................................................................................ 29

Avivamento na Igreja Primitiva.................................... 33


2.1 A mentalidade grega................................................................................. 36
2.2 A mentalidade judaico-cristã..................................................................37

O amor ao próximo........................................................ 43
3.1 Amor ao próximo não é filantropia....................................................... 48
3.2 Amor ao próximo não é ‘justiça social’..............................................50
3.3 Corpo e membros..................................................................................... 54
3.4 A comunhão dos Santos......................................................................... 55
3.5 Influenciar o governo pode ser amor ao próximo......................... 59

Atitudes Práticas............................................................ 65
4.1 Atitudes de fé em tribulações................................................................. 66
4.2 Atividades profissionais.......................................................................... 70
4.3 Campo de batalha......................................................................................72
4.4 Dor e luto.......................................................................................................74
4.5 Armas naturais para batalhas espirituais...........................................77

Conclusão........................................................................ 83

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AGRADECIMENTOS

À minha esposa, Ellen, e aos meus filhos, Maria Clara


e Pedro, que, pacientes, me ouviram e sugeriram muitas
coisas que aproveitei no livro.
A todos os pastores e pastoras que cuidaram de mim e
de minha família, me ensinaram a estudar a Palavra e me
aconselharam, com muita paciência e amor.
Aos santos e intercessores anônimos que permanecem
firmes em oração e intercessão pelas crianças e famílias
do Brasil.

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6 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

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APRESENTAÇÃO

As lideranças cristãs têm realizado um excelente serviço a


Deus no Brasil e no mundo. A evangelização dos povos, seja
em que lugar for, alcança níveis cada vez maiores, graças ao
esforço pessoal e dedicado de homens e mulheres de Deus.
A pregação da Palavra tem sido expandida aos meios pú-
blicos de comunicação, às redes sociais, escolas e famílias,
sendo cada vez mais frequentes as reuniões em células, praças
e periferias das cidades.
Não é uma ação só de lideranças, que são fundamentais,
porque mobilizam, estimulam, orientam e cuidam das pessoas,
mas também de cada cristão.
Quero deixar bem claro que este livro vem complementar
a pregação e a oração dos Santos e, na verdade, é a restauração
de um caminho já percorrido pela igreja cristã primitiva.
O Apóstolo Paulo compara os cristãos a membros de um
Corpo, em que o Cabeça é Cristo. Cada cristão deve exercer
seu Chamado, seja ‘boca, mãos ou pés’, e reconhecer o propó-
sito comum e superior a todos, “porque, assim como o corpo
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8 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

é um e tem muitos membros, e todos os membros, mesmo


sendo muitos, constituem um só corpo, assim também é com
respeito a Cristo” (1 Coríntios 12:12, grifos meus).
A Bíblia nos dá um exemplo vibrante da ação dos membros
de um mesmo Corpo. No livro de Êxodo, capítulo 17, os he-
breus foram atacados pelos amalequitas. Moisés comissionou
Josué e seus guerreiros para enfrentarem o inimigo, e subiu o
monte para interceder pela batalha. Ao final, o povo de Deus
prevaleceu, e os amalequitas foram derrotados:
“E Josué destruiu os amalequitas a fio de espada”
(Êxodo 17:13).

Moisés, no alto do monte, e Josué, no campo de batalha,


faziam parte do mesmo Exército de Deus. Este é um exemplo
claro de ação em Corpo, cada um em sua posição e função:
uns orando, outros pelejando.
Como se vê, a Bíblia é um livro de estratégias.
O Inimigo sabe muito bem disso e utiliza os ensinamentos
bíblicos com frequência. Saul Alinski, o socialista norte-ameri-
cano e mentor de Barack Obama e Hillary Clinton, escreveu
o livro Rules for Radicals (Regras para Radicais), por meio do
qual ele orienta extremistas a combaterem os conservadores,
especialmente cristãos. A obra é dedicada ao primeiro radical
da humanidade, Lúcifer:
Não nos esqueçamos de reconhecer o primeiro
radical: de todas nossas lendas, mitologia e história
(e quem pode dizer onde termina a mitologia e co-
meça a história, ou o que as distingue uma da outra),
o primeiro radical que o homem conheceu e que
se rebelou contra o sistema e o fez tão eficazmente
que, pelo menos, ganhou seu próprio reino: Lúcifer
(ALINSKY, obra citada).
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Apresentação 9

É surpreendente constatar que o livro é repleto de referên-


cias à Bíblia!! Em uma passagem, Alinski propõe aos socialistas
utilizar a ‘estratégia de Gideão’:
Quando seu exército for pequeno (e o adversário
numeroso), faça como Gideão: primeiro se infiltre
no meio do adversário sem ser percebido, e espere o
momento adequado para levantar um grito estridente
em seu meio, para fazer parecer que (seu exército) é
maior (ALINSKY, obra citada, p. 126).

Como explicar que adversários de Deus utilizam as estraté-


gias e os ensinamentos da Bíblia em seu cotidiano, enquanto
os cristãos não o fazem na mesma medida?
O principal motivo, certamente, são as doutrinas teológicas
que esvaziaram a poderosa espiritualidade do cotidiano das pes-
soas e a confinaram exclusivamente a momentos solenes. Como
a maioria das estratégias bíblicas se refere a ambientes externos
ao templo, estas não têm utilidade para teologias desta matriz.
As proclamações e reuniões solenes são fundantes para a
fé cristã. Orar, estudar a Palavra e participar de cultos são
o oxigênio que nos mantém vivos para Cristo. Todavia, há
também um mandamento universal para os cristãos mani-
festarem sua fé por meio de comportamentos e atitudes em
todo o lugar, como em templos, escolas, ruas e palácios de
governo. Em suma, devem ser sal na terra e luz no mundo
(Mateus 5:13-14).
O objetivo desta obra é auxiliar os cristãos a restaurarem
a espiritualidade em seu cotidiano, utilizando as poderosas
instruções da Bíblia. A pregação e a oração dos Santos devem
estar unidas à ação e ao cuidado em defesa da Justiça e dos
necessitados.

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10 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

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INTRODUÇÃO

Jesus Cristo não foi homem de templos. Ele tinha zelo pelo
Templo, como diz o Salmo 69, mas seu ministério público se
estendeu para as cidades, ruas e casas.
O Novo Testamento revela algo impressionante: uma reli-
gião que não se baseia em prédios para o culto a Deus. Todas
as religiões antigas possuíam um prédio.
É claro que os edifícios são importantes e servem a um propó-
sito de Deus também. Muitos aflitos e necessitados conseguem
auxílio porque encontraram um prédio da igreja. Nos prédios,
organizam-se atividades maravilhosas e são, até mesmo, muitas
vezes, verdadeiros quartéis-generais do Reino de Deus.
No entanto, isso não muda o fato histórico e espiritual de
que Jesus Cristo não foi homem de templos. Afinal, Ele não
esperava que as pessoas o procurassem, mas intencionalmente
foi ao encontro delas, percorrendo longas distâncias e visitando
inúmeras localidades.
A essência da Igreja são as pessoas que creem e servem a
Deus, muitas vezes em locais definidos. Está certo. Mas todos
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12 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

são chamados a fazê-lo onde estiverem: no trabalho, em família,


nos restaurantes, nas escolas ou ruas.
Não existe mais um lugar sagrado. Toda a vida é missio-
nal, afinal, Deus tem sua morada em cada um de nós, pois é
a Bíblia que proclama “o Espírito de Deus habita em vocês”
(Romanos 8,9 e 2 Timóteo 1,14)
Ao contrário de águias e aviões que possuem um momen-
to de apoteose ao executar seus voos e acrobacias, o cristão
exerce sua missão com a mesma grandiosidade, “mesmo
quando está em solo”.
Infelizmente, muitos cristãos elegeram momentos exclusi-
vos de seu Chamado e, somente nestes, acham que estão ser-
vindo a Deus. Quando estão em outras situações da vida, não
se sentem cumprindo sua função espiritual pessoal e, portanto,
não se consideram em um momento de relevância espiritual.
Por exemplo, eu sou palestrante e ministro cursos sobre
diversos temas. É uma atividade muito importante em mi-
nha vida. Imagine se eu achasse que estava servindo a Deus
‘somente’ ao agir nesta função. Seria um desastre pessoal e um
desvirtuamento da minha fé.
Aqui está um frequente e grande engano em nosso meio:
supor que há um ápice espiritual na vida e é sempre no mes-
mo lugar ou momento. Esse ápice pode ocorrer em cultos ou
reuniões de oração ou também pode ser em casa ou no trabalho,
depende da situação e do contexto de cada momento da vida.
Vou dar um exemplo bem prático.
Salvar vidas é uma forma de adorar a Deus, certo?
Muitos acreditam que essa frase só faz sentido bíblico se a
palavra “salvar” se referir à conversão a Jesus Cristo, no sentido
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Introdução 13

da grande comissão de evangelizar e alcançar toda pessoa com


a mensagem da salvação.
Sim. Mas acho que vai além disso.
Imagine um dia de culto de domingo à noite na igreja. To-
dos reunidos celebrando Jesus Cristo, unidos pela mesma fé,
louvando a Deus. Eis que, de repente, percebe-se uma gran-
de claridade em um prédio residencial ao lado da igreja. São
labaredas de fogo consumindo o edifício. Ouvem-se gritos, e
há pessoas presas no alto do prédio.
Pergunto: qual a atitude mais espiritual dos crentes, con-
tinuar a louvar a Deus ou se mobilizar e salvar as pessoas que
estão em perigo?
Acredito que a maioria esmagadora dos cristãos vai ajudar
os que estão em perigo, porém, sem compreender que esta
ação é tão espiritual quanto orar por eles.
Jesus Cristo, quando na Galileia e diante da multidão fa-
minta, realizou o milagre da multiplicação dos pães e peixes
para alimentar pessoas (Mateus 15,32-37).
Não era fome espiritual. Era fome de comida. O milagre
serviu para o propósito de suprir uma necessidade biológica
das pessoas. O que isto significa?
Significa que, naquele momento, dar comida aos famintos
era a atitude mais espiritual.
Na Bíblia, tudo é espiritual na vida do cristão: orar, as-
sistir às aulas na escola, cuidar de crianças, participar do
culto de domingo ou salvar pessoas da morte.
A intenção desse livro é demonstrar que, no exemplo dado,
ao salvar as pessoas em perigo no prédio ao lado, os cristãos
também estão sendo espirituais. Na verdade, é uma forma
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14 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

de adoração. Sim, a verdadeira adoração se manifesta na vida


cotidiana, e não apenas em momentos solenes.
Ao analisar as passagens bíblicas que se referem à palavra
“adoração”, verifica-se que é uma palavra de muitos significa-
dos. Sahah, no Antigo Testamento, e proskyneo, no Novo Tes-
tamento, são as palavras originais dos textos bíblicos, ambas re-
lacionadas ao sentido literal de ‘cair’, ‘precipitar-se para baixo’,
‘cair em desgraça ou juízo’, ‘pecar’, ‘humilhar-se’ ou ‘adorar’.
(Mateus 17,6; 2,11 e 4,9; Gênesis 24,26; 1Coríntios 10,12)
A conclusão é que o termo “adoração” está associado a uma
conduta física de curvar-se (submissão) e a uma conduta in-
terior de respeito e temor genuíno. Sua essência não é visível
aos olhos humanos, pois é no coração que encontraremos o
verdadeiro adorador. A adoração genuína a Deus ocorre quan-
do ninguém está nos vendo ou podemos agir como quisermos
(escola, trabalho, casa). É nestes ambientes que devemos adorar
a Deus, agindo como Lhe agrada, ainda que contra a nossa
vontade (não murmurar, não gritar com os filhos, não falar
mal de pessoas, etc.). Esta é a verdadeira adoração, submeter
os desejos e ímpetos humanos à vontade de Deus.
Durante a história, muitos cristãos permaneceram fieis a
este mandamento bíblico. Um famoso sociólogo alemão, Max
Weber, identificou em irmãos dos séculos XVIII e XIX um
comportamento genuíno de adoradores. Tudo está no livro
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
Max Weber não foi aos templos para ouvir pregações, nem
entrevistou cristãos para explicar suas conclusões. Assim como
a Bíblia, a sociologia se interessa pelas atitudes e pelos
comportamentos das pessoas. Ele verificou que os cristãos
tinham uma atitude ética que considerou essencial para explicar
o florescimento do capitalismo moderno. Era uma espécie de
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Introdução 15

afinidade espiritual entre a visão de mundo cristã e o estilo de


atividade capitalista, e consistia no trabalho árduo e persistente
e em uma vida modesta. Cada cristão buscava individualmente
a certeza de sua salvação, por meio do trabalho árduo numa
profissão, e uma vida pessoal não centrada em riquezas. Em
suma, a fé cristã exerceu tamanha influência no compor-
tamento dos cristãos que, por meio deles, transformou a
realidade econômica do mundo.
É preciso restaurar o caminho percorrido por gerações
anteriores, ou seja, enxergar a espiritualidade de Cristo em
atitudes cotidianas da vida e inundar as cidades, escolas e ca-
sas de governo, com atitudes e comportamentos conforme a
Palavra de Deus. Como já foi dito:
“Pregar todo o tempo, mas só quando necessário, usando
palavras.”

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16 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

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Capítulo 1

A IGREJA DA SEGUNDA-FEIRA

A Igreja é uma unidade formada por pessoas que comparti-


lham a mesma fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. As
114 vezes que o Novo Testamento menciona a Igreja (ekklesia)
se referem a pessoas reunidas por este propósito.
Os cristãos oram, evangelizam, pregam, ouvem sermões,
intercedem uns pelos outros, e também dirigem carros, vão
a restaurantes, trabalham, contratam empregados, criam e
educam seus filhos.
A Bíblia não estabelece ambientes ou momentos de maior
ou menor espiritualidade. Toda a vida, qualquer lugar é um
ambiente para manifestação do amor e da glória de Deus por
meio de nós, conforme a grande comissão de Mateus 28, nos
versículos abaixo citados:
Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as
coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou
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18 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

convosco todos os dias, até a consumação dos séculos


(Mateus 28: 19-20).

A Igreja da Segunda-feira é uma metáfora para revelar


a poderosa espiritualidade que existe na vida cotidiana,
além dos templos.
É claro que meditar na Palavra de Deus, ouvir sermões e
orar são atitudes de centralidade existencial para o cristão:
ouvir a voz de Deus e ser usado por Ele.
A questão é que somos chamados para fazer a diferença e
revelar o Espírito de Deus em nós em qualquer ambiente ou
situação da vida:

Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com


que se há de salgar? Para nada mais presta senão para
se lançar fora, e ser pisado pelos homens.

Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma


cidade edificada sobre um monte (Mateus 5:13-14).

Em seu cotidiano, o cristão deve discernir e adotar atitudes


e comportamentos conforme as circunstâncias do momento e
a situação da vida. Deus usou o Apóstolo Paulo para ensinar
os cristãos a se adaptarem às circunstâncias:

E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar


os judeus; para os que estão debaixo da lei, como
se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão
debaixo da lei.

Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei


(não estando sem lei para com Deus, mas debaixo
da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei.
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A Igreja da Segunda-Feira 19

Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os


fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os
meios chegar a salvar alguns (1 Coríntios 9:20-22).

Isso significa que é preciso conhecer as pessoas melhor an-


tes de lhes falar. Se nas reuniões de oração o falar tem maior
importância, fora dos templos o ouvir se torna uma arma
muito poderosa. Até nas relações pessoais entre amigos, co-
legas de trabalho e familiares, quem ouve ganha autoridade
sobre quem fala:
Até o insensato, quando se cala, é tido por sábio; se fica de
boca fechada, passa por inteligente (Provérbios 17:28).

Experimente ouvir os problemas e as dificuldades de al-


guém, deixando-o falar tudo que o angustia. Você verá como
esta pessoa vai se tornar grata pela sua atenção.
A Igreja da Segunda-feira é relacional e se baseia em diá-
logo e relacionamento. Isto revela um interesse genuíno pelas
pessoas, e não apenas para tê-las como alvo de evangelização.
Hoje em dia, ninguém tem tempo nem interesse de ouvir
os problemas dos outros. Os cristãos vão se destacar ao estarem
atentos às pessoas e a seus contextos particulares:
Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja
pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar
(Tiago 1:19).

Um grande problema pode surgir quando cristãos ocupam


espaços na sociedade somente com atitudes (e a atmosfera) do
‘domingo à noite’. É claro que pregar, orar e louvar podem
ocorrer em qualquer lugar ou momento, não apenas em dias
de celebração.
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20 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Imagine, porém, que um dia você vá a um restaurante para


almoçar, e o garçom, recém-convertido, lhe ofereça como re-
feição, no prato, um exemplar da Bíblia, dizendo: “nem só de
pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca
de Deus” (Mateus 4:4).
Percebeu que não vai funcionar bem?
É possível que seja necessária outra atitude emocional,
psicológica e espiritual para ocupar a segunda-feira. Vou dar
um exemplo.
As escolas são lugar de ensino e orientação. Muitos cristãos
desejam ocupá-las ‘apenas’ para cultos e reuniões de oração.
Basicamente, utilizam a atmosfera emocional e espiritual
do ‘domingo à noite’ para agir na segunda-feira. É preciso
refletir sobre isto.
Melhorar a qualidade do ensino nas escolas e proteger
professores e alunos é tão espiritual quanto orar por eles.
O auxílio e cuidado com alunos e professores (amor ao pró-
ximo) é uma ferramenta espiritual fundamental para os que
têm chamado missionário em escolas.
É sobre isto que vou falar agora.

1.1 A atitude mais espiritual


Imagine uma doença transmitida por um vírus desconhe-
cido que coloque em risco a vida de milhares de pessoas. Os
doentes estão sofrendo graves problemas de saúde e até morren-
do. Não há vacina ou medicamentos que façam efeito contra
a praga. As pessoas estão temerosas, aglomerações proibidas,
escolas fechadas, shoppings e comércios paralisados.
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A Igreja da Segunda-Feira 21

Os cientistas descobriram que o contágio é muito rápido,


por meio de gotículas da saliva ou secreções de uma pessoa
infectada. A forma de evitar a disseminação da doença é lavar
cuidadosamente com água e sabão as mãos, alimentos e ob-
jetos pessoais, evitar aglomerações (bares, restaurantes, festas)
e ingerir muita água. Pergunto: qual a atitude mais espiritual
diante desta situação?
É preciso orar pela nação, pelas famílias e doentes. Sem
dúvida. Crer que Deus age sobre tudo e todos. Trazer a
esperança eterna em ambientes de desesperança e medo.
Sim. A questão é: a educação e orientação das pessoas para
evitar o contágio e disseminação da doença também é uma
atitude espiritual?
Para responder a esta indagação é preciso recorrer à Palavra
de Deus.
A Bíblia nos orienta a transformar toda nossa vida em lou-
vor e adoração a Deus:
Louvarei o Senhor durante a minha vida; cantarei lou-
vores ao meu Deus enquanto eu viver (Salmos 146:2).

Na mesma medida em que orar, buscar a Deus e ler a Pa-


lavra é mandamento, o próprio Deus nos avisa, como bom
pai, que uma fé saudável se manifesta por meio de atitudes
para com as pessoas. Atitudes de cuidado, proteção e auxílio
aos necessitados foram expressamente mencionadas por Jesus
Cristo como de alta relevância espiritual:
Então os justos perguntarão: “Quando foi que vimos o
senhor com fome e lhe demos de comer? Ou com sede e
lhe demos de beber? E quando foi que vimos o senhor
como forasteiro e o hospedamos? Ou nu e o vestimos?
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22 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

E quando foi que vimos o senhor enfermo ou preso


e fomos visitá-lo?” O Rei, respondendo, lhes dirá:
“Em verdade lhes digo que, sempre que o fizeram a
um destes meus pequeninos irmãos, foi a mim que o
fizeram” (Mateus 25:37-40).

Tudo está diretamente relacionado ao princípio bíblico de


que a fé se manifesta em atitudes e comportamentos:
“Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em
si mesma” (Tiago 2:17).

Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é


mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu,
como pode amar a Deus, a quem não viu? (1 João 4:20).

Portanto, a fé é nutrida e fortalecida em templos, mas se


manifesta em todos os momentos da vida: na família, com os
amigos, no trabalho, no trânsito, nos restaurantes, no shopping
e ... nos templos também!
A Bíblia é um livro para a vida inteira, e a fé produz frutos
em todo lugar.
Vou lhe mostrar algumas situações para refletir.
Você chega em casa depois de um dia de trabalho, e seu
filho, de 3 anos de idade, te pede para assistir desenho animado
com ele. Qual a atitude mais espiritual: atender o desejo de
seu filho ou ler a Bíblia como planejado?
Não tenho dúvida em dizer que Deus vai se alegrar muito
mais se você decidir assistir ao desenho animado com seu filho:
Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na
vossa alma; atá-las-eis por sinal na vossa mão, e elas vos
serão por frontais entre os vossos olhos; e ensiná-las-eis
a vossos filhos, falando delas sentados em vossas
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A Igreja da Segunda-Feira 23

casas e andando pelo caminho, ao deitar-vos e ao


levantar-vos (Deuteronômio, 11:18-19).

Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principal-


mente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o
infiel (1 Timóteo 5:8).

Você está andando em uma praia e vê uma criança se afo-


gando na parte rasa do mar. Qual a atitude mais espiritual:
orar pela intervenção de Deus ou correr e tirar você mesmo a
criança da situação mortal?
Posso te assegurar que salvar uma criança da morte é tão
espiritual quanto orar por ela, e nesta situação de emer-
gência, a atitude mais espiritual.
Você já notou que as unidades de emergência móvel
(SAMU) que atendem a acidentes de trânsito não têm psicó-
logo, mas apenas paramédicos ou médicos ? Isto não significa
que psicólogos não sejam importantes, mas que, em situações
de emergência, há uma prioridade: garantir a vida das vítimas.
No mundo espiritual é assim também.
A atitude mais espiritual não é medida abstratamente se-
gundo teologias, mas de acordo com cada situação da vida.
O mais espiritual é agir do modo que mais vai agradar a Deus
naquele momento específico.
Imagine alguém que, podendo salvar uma criança do afo-
gamento, prostra-se no chão clamando por uma intervenção
divina. A pessoa devia ser a mão de Deus para salvar uma vida
e não o faz.
Um grande homem de Deus cometeu esse engano em um
momento de grande aflição. Perseguido por Faraó e diante
do Mar Vermelho, Moisés se viu diante do fim. A Bíblia diz:
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24 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

O Senhor disse a Moisés: — Por que você está cla-


mando a mim? Diga aos filhos de Israel que marchem
(Êxodo 14:15).

Ao perguntar: “por que você está clamando a mim (Moi-


sés)”, há uma clara expressão de repreensão de Deus, como
se dissesse: “não é momento de clamar ou orar, Moisés!”, e,
por isto, o imperativo para agir: “Diga aos filhos de Israel
que marchem!”
O desespero pode levar qualquer um de nós a não com-
preender a melhor atitude para uma determinada situação.
Aconteceu com Moisés e pode acontecer comigo ou com você.
Tudo é espiritual: orar é espiritual, assistir desenhos anima-
dos com seu filho é espiritual, louvar é espiritual, salvar uma
criança da morte é espiritual, ler a palavra é espiritual.
Em suma, orientar as pessoas a não se contaminar com
uma doença mortal é tão espiritual quanto orar por elas, e
em situações de emergência ou pandemia, é a atitude mais
espiritual, afinal, é o próprio Deus que nos disse que ao
cuidar dos doentes estamos cuidando Dele.
Cuidar de Jesus Cristo é algo muito espiritual.

1.2 Provérbios
Imagine que você vá a uma loja comprar um carro. Você
entra, estuda as especificações, liga o veículo, dá uma volta no
pátio e decide adquiri-lo. Antes de fechar o negócio, porém,
o vendedor te alerta: “Olha, o carro só funciona bem aqui na
concessionária. Nas ruas e estradas não posso garantir nada!!”
Você compraria um automóvel nessas condições?
Duvido!
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A Igreja da Segunda-Feira 25

É o que muitas doutrinas teológicas estão fazendo com os


cristãos, ao confinar a relevância espiritual de sua vida a mo-
mentos solenes. Fora do ambiente religioso, não conseguem
fazer mais quase nada. No templo são águias, mas, na vida
social, não sabem voar.
Provérbios é o manual de consulta da Igreja de Segunda-
-feira. Orienta e instrui como o cristão deve ‘funcionar’ fora
dos templos, evitando buracos e acidentes e alcançando seu
destino.
Segundo a Bíblia, a Sabedoria é o Espírito de Deus que
clama nas ruas:
Então brotará um rebento do toco de Jessé, e das suas
raízes um renovo frutificará. E repousará sobre ele
o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de
entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza,
o espírito de conhecimento e de temor do Senhor
(Isaías 11: 2-3).

O Senhor pela sabedoria fundou a terra; pelo en-


tendimento estabeleceu o céu (Provérbios 3:19).

A suprema sabedoria clama nas ruas; nas praças le-


vanta a sua voz (Provérbios 1:20).

O livro de Provérbios possui instruções para a vida inteira.


Orienta sobre comportamentos na vida e como lidar com as
pessoas, amigos, inimigos, perversos, tolos, maus e invejosos.
Ensina a fazer e a desfazer alianças e negócios e, ainda, instrui
pais e filhos a lidarem uns com os outros. A lista é grande:
O mexeriqueiro revela os segredos, mas o fiel de espírito
os encobre (Provérbios 11:13).
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26 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

A pessoa generosa prosperará, e quem dá de beber


terá a sua sede saciada (Provérbios 11:25).

O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a


podridão dos ossos (Provérbios 14:30).

Quem tem muitos amigos pode cair em desgraça;


mas há amigo mais chegado que um irmão (Provérbios
18:24).

Uma das chaves de entendimento da Sabedoria de Deus é


a prevenção de conflitos e danos:
Não entres na vereda dos ímpios, nem andes pelo cami-
nho dos maus. Evita-o, não passes por ele; desvia-te dele
e passa de largo (Provérbios 4:14-15).

Nesse particular, é impressionante como alguns se afastaram


da Sabedoria de Deus.
Vou dar um exemplo real.
Há mais de 28 anos eu me dedico a treinar e a orientar pro-
fissionais e famílias a proteger crianças contra o abuso sexual.
Certa vez, ministrei palestra em um seminário para mais de
1.000 lideranças de todo o Brasil. Ao final, me ofereci para ir
a cada cidade ali representada para dar gratuitamente o trei-
namento em suas igrejas. Disse-lhes que não precisava nem
custear as passagens aéreas ou a hospedagem, e que faria tudo
sem nenhum ônus para a igreja. Dei meu telefone publica-
mente a todos e pedi que agendassem com minha secretária.
Pois bem, sabem quantos líderes se interessaram e me liga-
ram para agendar a capacitação gratuita em defesa da criança?
Nenhum!!
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A Igreja da Segunda-Feira 27

Não tenho dúvida em dizer que, caso lhes fosse oferecida


uma palestra sobre “libertação espiritual de vítimas de abuso”,
haveria grande interesse. Em outras palavras, curar os que fo-
ram feridos possui máxima relevância, mas prevenir o abuso
contra crianças não é espiritual para eles.
Não é por mal. São as doutrinas teológicas que estabelecem
a mentalidade e influenciam a vida inteira da pessoa.
Ao debruçarmos sobre o livro de Provérbios, percebemos
que pouquíssimas passagens são dirigidas a Templos. Provér-
bios contêm, basicamente, instruções para a vida cotidiana. É
preciso restaurar a relevância espiritual da prevenção na vida
dos cristãos:
O sábio teme e desvia-se do mal (Provérbios 14:16).
A estrada dos retos desvia-se do mal (Provérbios 16:17).

1.3 Doutrinas teológicas podem ‘matar’


Certa vez, conheci um cristão muito dedicado, de origem
humilde, que alcançou posição de destaque em sua cidade.
Após muito esforço e dedicação, ele conseguiu aprovação em
um importante cargo público. Era uma função de prestígio
na justiça da cidade, com influência direta na educação, saúde
e segurança pública.
No entanto, alcançada a tão almejada posição social e
garantida a remuneração digna para a família, tornou-se ne-
gligente com seus deveres funcionais e passou a dedicar-se à
igreja, às reuniões, pregações e aulas. Negligenciou comple-
tamente a influência que poderia exercer na cidade, melho-
rando a merenda escolar, diminuindo os desvios de dinheiro
público e garantindo melhor saúde às pessoas necessitadas,
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28 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

tornando-se um funcionário público comum, que apenas


cumpria seu expediente. Cuidar de uma cidade inteira não
era espiritual para ele. Espiritual era somente sua dedicação
aos afazeres na congregação.
Em Brasília, conheci um colega cristão, procurador federal,
que seguiu o mesmo caminho. Certa vez, ele me disse:
“Não vejo a hora de me aposentar e poder servir a Deus
na Igreja.”

Esta atitude, infelizmente, é muito frequente, fruto direto


de doutrinas teológicas que confinaram a espiritualidade ape-
nas no Templo.
Veja, não há problema, e é até aconselhável que os cristãos,
profissionais ou servidores públicos, se dediquem a tarefas na
igreja. Porém, exercer uma profissão ou função pública tam-
bém é uma atitude espiritual.
Por razões eminentemente teológicas - pois a Bíblia não
recomenda -, considera-se espiritual apenas os afazeres na
congregação e despreza-se toda a relevância bíblica de profis-
sões e funções públicas. Neste sentido, ao esvaziar a relevância
espiritual de funções sociais e profissões, podemos dizer que
este entendimento ‘mata’ juízes, professores e médicos cristãos.
E pode ‘matar’ babás também.
Um casal muito rico me contou que contratara uma babá
para sua filha recém-nascida. Embora não fossem cristãos,
disseram que gostavam das músicas gospel que a empregada
colocava para a filha ouvir. Porém, após algumas semanas,
demitiram a funcionária. Descobriram que a empregada se
dedicava mais a ler a Bíblia durante o horário de trabalho do
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A Igreja da Segunda-Feira 29

que cuidar da criança. Em seu lugar, contrataram uma boa


babá que amava forró e funk.
Cuidar da criança era a atitude mais espiritual e justa que
a babá cristã poderia ter, afinal, ela fora contratada para isto,
não para ler a Bíblia!

1.4. Fé e atitudes
A Bíblia contém diversas orientações aos cristãos para pro-
ferir palavras e declarar intenções e propósitos. A oração do
Pai Nosso, ensinada por Jesus Cristo, em Mateus 6, é uma
declaração verbal.
Muitas vezes, o Senhor exige declarações em público:
E digo-vos que todo aquele que me confessar diante
dos homens, também o Filho do homem o confessará
diante dos anjos de Deus; mas quem me negar diante
dos homens, será negado diante dos anjos de Deus
(Lucas 12:8-9).

Todavia, a espiritualidade cristã vai muito além de


proclamações.
Na mesma medida em que a Bíblia exige declarações dos
cristãos, requer atitudes e comportamentos:
Mas o que ouve (minhas palavras) e não (as) pra-
tica é semelhante a um homem que edificou uma
casa sobre terra, sem alicerces, na qual bateu com
ímpeto a torrente, e logo caiu; e foi grande a ruína
daquela casa (Lucas 6:49).

Ao agir no mundo, o cristão deve atentar para as leis que


regem cada situação. Há leis espirituais, biológicas, jurídicas e
sociais. Cada âmbito da vida tem suas peculiaridades.
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30 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Vamos imaginar um pastor, logo pela manhã, ao acordar.


Em casa é marido de uma esposa e pai de dois filhos. Ao sair
para trabalhar, dirigindo seu carro, torna-se um motorista no
trânsito da cidade. Ao chegar ao local de trabalho, é o chefe
de uma equipe de profissionais. Quando chega à noite, na
igreja, profere uma pregação para os irmãos e retorna, logo
após, para casa.
Em cada posição ocupada, há leis espirituais, emocionais e
sociais diferentes. A posição de pai é bem diferente da de mari-
do, assim como a de chefe no trabalho ou de pastor na igreja.
É preciso discernir a atitude apropriada para cada situação.
Muitos não percebem essa diferença e confundem tudo.
Tornam-se pastor no trabalho e pai na igreja. Assim, diante da
negligência reiterada de um empregado, ao invés de demiti-
-lo como um chefe diligente deveria fazer, o ‘chefe-pastor’ o
mantém na empresa, em prejuízo de todos, até mesmo do
empregado relapso.
Sim, a demissão por justa causa pode servir como instru-
mento para uma mudança de rumo na vida da pessoa, fazendo-
-a refletir sobre seu comportamento equivocado e permitindo
uma mudança positiva de rumo. Veja o que o livro de Provér-
bios aconselha:
O homem de grande indignação deve sofrer o dano;
porque se tu o livrares ainda terás de tornar a fazê-lo
(Provérbios 19:19).

Do mesmo modo, a posição de pastor é bem diferente da


do pai (família). Não há problema em, metaforicamente, nos
referirmos à ‘Família da Igreja’. Porém, o conceito bíblico origi-
nal de família é pai, mãe e filhos, embora também o reconheça
em outras configurações, como é o caso de Mordecai e Ester.
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A Igreja da Segunda-Feira 31

O conceito bíblico de família não se confunde com a co-


munhão dos Santos. A atitude que o pastor deve ter com os
membros da igreja é bem diferente da que um pai deve ter
com seus filhos. Quem se confunde nisto não exercerá seu
chamado como deveria.
Não vou me deter aqui sobre cada posição, mas basta atentar
para o fato de que as leis de Deus e as leis do Brasil são bem
diferentes para cada caso, marido, pai, motorista, chefe e pastor.
Isto significa que há profundas diferenças em cada posição.
A Igreja de Segunda-feira está bem atenta a isto, pois,
ao atuar em ambientes diversos da sociedade, necessita
obedecer às leis e circunstâncias que regem cada situação.
As escolas públicas são um bom exemplo da ação da Igreja
de Segunda-feira. Há normas que regulam os direitos e de-
veres na educação, e os professores, alunos e famílias devem
respeitá-las, assim como qualquer pessoa que estiver em am-
biente escolar.
Não podemos tratar salas de aula como se fossem a igreja.
Não são. Para influenciar ou atuar em escolas, o primeiro passo
é conhecer as leis que regem aquele ambiente. Agindo assim,
os cristãos respeitarão a todos e vão ter maior autoridade e
influência.
Infelizmente, muitos irmãos ocupam espaços estratégicos
nas escolas como religiosos, sem respeitar as normas que regem
aquele espaço público. Ao fazê-lo, sem perceber, se desqualifi-
cam perante a comunidade e, pior, abrem as portas para outras
religiões fazerem o mesmo!!
Se os cristãos desejam fazer orações e cultos nas escolas,
por que os espíritas, budistas ou muçulmanos não podem
fazê-lo também?
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32 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Não estou dizendo para não evangelizar nas escolas. O que


estou salientando é que devemos fazê-lo em conformidade com
as leis que regem a Educação. Em algumas situações, talvez seja
o caso de realizar atividades de evangelismo fora do ambiente
escolar ou fazê-lo de uma forma pedagógica, realçando os va-
lores e princípios cristãos. Que tal exercer o Amor ao Próximo
primeiro, antes de evangelizar ? As escolas pedem socorro, pois
as drogas, o abuso contra alunos e a violência está ceifando a
vida de muitos. Reflita sobre isto.
Quero lhes apresentar agora o primeiro modelo de Igreja
da Segunda-feira. Será preciso um retorno no tempo para
buscarmos, na história, um grupo de cristãos que mudou o
mundo com suas atitudes e comportamentos. Refiro-me à
igreja cristã primitiva.

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Capítulo 2

AVIVAMENTO NA IGREJA
PRIMITIVA

A igreja cristã primitiva era uma Igreja da Segunda-feira.


Os historiadores são um bom referencial para compreender a
igreja primitiva, aquela que existiu logo após o último suspiro do
apóstolo João, por volta do ano 100 de nossa era, até a recepção do
cristianismo pelo imperador romano Teodósio, em 385 d.C. Eles
podem observar melhor os fatos, com menor chance de distorcê-
-los, especialmente para beneficiar crenças cristãs ou combatê-las.
A arqueologia revela que as epidemias eram frequentes nesse
tempo. Os estudos conseguem identificar os períodos e até a
natureza da doença. Por exemplo, há provas convincentes de
que, entre os anos de 165 e 180, houve uma epidemia de varí-
ola no Oriente Médio, na região atual de Israel e da Palestina.
As religiões pagãs que predominavam naquele tempo não
ofereciam qualquer tipo de ajuda aos doentes, sequer quando
eram fieis.
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34 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

O historiador ateu Geoffrey Blainey, valendo-se de fontes


históricas e arqueológicas, afirma que a vertiginosa expansão do
cristianismo nesta época está relacionada à atitude dos cristãos
diante das epidemias e doenças. Segundo relatos, os irmãos da
igreja primitiva, em especial as mulheres, eram os únicos que
se ofereciam e cuidavam dos enfermos:
Ao cuidar de doentes e moribundos sem exceção,
qualquer que fosse a religião professada por eles,
os cristãos conquistaram amigos e simpatizantes
(BLAINEY, Uma Breve História do Cristianismo,
Fundamento, 2014, p. 63).

O que a história revela, portanto, é que a igreja cristã deste


tempo foi reconhecida pelo amor ao próximo, pois praticava
o que está escrito em Tiago 1,27:
A religião pura e sem mácula para com o nosso Deus
e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas
aflições e guardar-se incontaminado do mundo.

Não se trata de algo simples, pois a igreja naquela época


não podia ter templos, nem pregar publicamente.
Todas as outras religiões antigas tinham templo. A igreja
primitiva não os tinha. Os cristãos primitivos foram o único
povo a não erigir construções sagradas para seus cultos.
Havia muitas razões para isso. A perseguição romana era
intensa, embora variasse em intensidade de tempos em tempos,
conforme o imperador. Uns perseguiam mais, outros menos.
Este pode ter sido um fator importante para que não se cons-
truíssem templos cristãos.
Outro fator pode ter sido a própria forma como o cristia-
nismo se desenvolveu nesse tempo.
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Avivamento na Igreja Primitiva 35

A arqueologia fez uma descoberta impressionante na região


da Síria: a casa de Doura-Europos.
Trata-se de uma casa do ano de 232, reformada para reu-
niões de oração dos cristãos. É o lugar de encontro da igreja
primitiva mais antigo que já foi descoberto. Estima-se que
foi destruído por volta do ano de 260.
Segundo se observa, era um local em que não havia púl-
pito. Não se tem notícia de sermões ou sacerdotes líderes da
pregação nessa igreja primitiva. Segundo os registros histó-
ricos, somente no século IV (300-400) o sermão organizado
se estabeleceu na igreja.
Tendo por referencial as descrições históricas nos livros de
Atos, Romanos e Coríntios, pode-se imaginar que as reuni-
ões eram em casas, onde praticavam o ensino, a exortação,
a profecia, o louvor e a admoestação (Romanos 12:6-8 e
15,14; 1 Coríntios 14:26; Colossenses 3:16). O diálogo entre
as pessoas nas reuniões de oração também era frequente (1
Coríntios 14:29 e 14:30).
É interessante notar que a palavra grega utilizada nas escri-
turas para descrever a pregação e os ensinos do primeiro século
é dialegomai (Atos 17:2 e 17; 18; 19:8-9 e 24:25), da qual se
originou a palavra ‘diálogo’, em português.
Eles se reuniam secretamente nas casas, mas agiam publica-
mente, cuidando dos necessitados. Cuidar das pessoas era sua
marca pública. Os cristãos dessa igreja primitiva achavam que
tinham autoridade para agir no mundo, revelando sua fé em Je-
sus Cristo por meio do amor ao próximo, no caso, aos enfermos.
Seja como for, o que podemos dizer, com certeza, é que um
dos mais poderosos instrumentos da igreja cristã para alcançar
os povos e evangelizá-los foi o amor ao próximo.
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36 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Quem o reconhece são os historiadores, diante de docu-


mentos e relatos da época. Não se trata apenas de relatos bí-
blicos, mas também de documentos oficiais e outras provas
materiais que registram atitudes e comportamentos reais dos
irmãos daquele tempo. E aqui está uma marca comum entre
os avivamentos e o amor ao próximo: não são declarados, mas
acontecimentos reais, visíveis aos olhos.

2.1 A mentalidade grega


Um dos maiores desafios da igreja cristã primitiva foi enfren-
tar e suplantar a mentalidade grega que reinava naquele tempo.
Há um consenso entre os estudiosos de que a filosofia nas-
ceu na Grécia antiga. Os filósofos gregos buscavam alcançar
a essência ou a natureza das coisas por meio do raciocínio, da
razão. Acreditava-se que havia uma causa última (logos) de
todas as coisas, e que o homem podia alcançar este conheci-
mento por meio do pensamento organizado:
A civilização ocidental, que brotou das fontes gregas, se
baseia numa tradição filosófica e científica que começou
em Mileto há 2.500 anos e nisso se difere das outras
civilizações mundiais. A noção predominante que per-
correr toda a filosofia grega é o logos, termo que tem a
conotação, entre outras, de “palavra” e “medida” (RUS-
SEL, História do Pensamento Ocidental, 2013, p. 19).

Reputa-se aos pitagóricos o início da diferenciação entre o


inteligível - perfeito e eterno – e o sensível – aparente, defei-
tuoso e transitório – embora tradições filosóficas posteriores o
tenham reafirmado, até com mais eloquência, como foi o caso
do filósofo Platão (RUSSEL, obra citada, p. 28).
A exaltação das palavras e do discurso belo e organizado
também tem origem grega. Por volta de 500 a.C., havia se
desenvolvido uma classe muito especial de pessoas, os sofistas.
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Avivamento na Igreja Primitiva 37

Eles eram mestres na arte de elaborar e proferir discursos e re-


presentavam a classe mais reconhecida de filósofos da retórica
(Bíblia de Estudo Arqueológico, 2005, p. 1797).
Os sofistas ganhavam muito dinheiro, pois eram contrata-
dos para executar performances oratórias em público ou soleni-
dades, e se gabavam de poder sustentar qualquer posição sobre
um argumento. Seu instrumento de trabalho era a retórica: a
arte de convencer as pessoas por meio da articulação de frases
em unidade, coerência, clareza, vigor e beleza.
Na mesma medida em que admiravam o intelecto, despreza-
vam todo o labor corporal. Tudo o que exigia o esforço humano
manual era tido como inferior e indigno. Uma característica
muito presente no pensamento grego era o desprezo ao traba-
lho físico. Esta tarefa era executada por escravos ou mulheres.
Essa, inclusive, é uma das principais razões pelas quais os
historiadores acreditam que os gregos antigos não desenvolve-
ram ciência: ciência é trabalho árduo, experimentação.
Na mentalidade grega, portanto, o pensamento organizado
logicamente e o discurso belo e convincente (a retórica) ocu-
pavam a centralidade e eram o ofício superior dos filósofos.

2.2 A mentalidade judaico-cristã


O Apóstolo Paulo provavelmente recebeu treinamentos de
filosofia e retórica grega:
Irmãos, quando estive com vocês, anunciando-lhes o
mistério de Deus, não o fiz com ostentação de lin-
guagem ou de sabedoria (1 Coríntios 2:1).

E assim, conhecendo o temor do Senhor, procuramos


persuadir as pessoas, mas somos plenamente conheci-
dos por Deus. E espero que também sejamos reconhecidos
na consciência de vocês (2 Coríntios 5:11).
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38 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Todavia, ele sempre insistia no Poder de Deus para conquis-


tar a opinião das pessoas, evitando jogos de palavras:
A minha palavra e a minha pregação não consistiram
em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em
demonstração do Espírito e de poder, para que a fé que
vocês têm não se apoiasse em sabedoria humana, mas
no poder de Deus (1 Coríntios 2:1-5).

Ao contrário do pensamento grego, que exaltava o pen-


samento racional e a retórica, a mentalidade judaico-cristã
compreende o mundo conforme os fundamentos bíblicos.
Posso mencionar quatro fundamentos importantes desta
cosmovisão:

Deus é o criador do universo


No princípio, Deus criou os céus e a terra (Gênesis 1:1).

Na Bíblia, Deus é o criador e a natureza, obra de sua cria-


ção. Deus está além da criação, pois é seu autor e a sustenta.
Nada pode impedir a ação de Deus no mundo. Como está
no livro de Jó:
Então Jó respondeu ao Senhor e disse: “Bem sei que
tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frus-
trado” (Jó 42:1-2).
Nas religiões pagãs prevalecia a crença de que o mun-
do é povoado de espíritos e deuses. Na vertente animista,
as forças naturais, como tempestades, o sol ou as estrelas, são
associadas a entidades espirituais pessoais: espíritos, fantasmas
e seres míticos, como sereias ou monstros. Os espíritos dos
mortos exercem uma função importante até hoje em diversas
crenças animistas (religiões africanas, hinduísmo). No pante-
ísmo, o divino é o próprio universo, a natureza ou os deuses,
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Avivamento na Igreja Primitiva 39

que habitam nas coisas. A crença é de que Deus é uma força


impessoal que permeia tudo o que existe (GAARDER; HEL-
LERN; NOTAKER, O livro das religiões, 1989, p. 21).

Deus criou o homem à sua imagem e


semelhança e lhe concedeu o domínio sobre a
natureza

E Deus disse: — Façamos o ser humano à nossa ima-


gem, conforme a nossa semelhança. Tenha ele domínio
sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os
animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos
os animais que rastejam pela terra. Assim Deus criou
o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o
criou; homem e mulher os criou (Gênesis 1:26-27).

É necessário considerar que esta comissão de Deus ocorreu


antes da queda de Adão, portanto, refere-se ao projeto inicial
de Deus para o homem. Ao conferir ao ser humano o “do-
mínio” sobre a terra, com a responsabilidade de cultivá-la e
cuidar dela, Deus subordinou a criação ao homem. Este fator
é decisivo para a compreensão da mentalidade judaico-cristã.
O ser humano torna-se autor e responsável por seu destino,
embora consciente de que tudo depende de Deus. Pode-se dizer
que o contraste central entre a mentalidade judaico-cristã e as
outras religiões é que, na primeira, o homem se torna respon-
sável por seu futuro, enquanto nas demais é um joguete nas
mãos dos deuses.
O profundo significado do modo de pensar bíblico é que
o acaso não existe, e o cristão deve buscar em Deus ou na na-
tureza suas explicações (Der Bibel Atlas, 2006, p. 93).
Como disse o conceituado físico e padre belga Georges
Lemaitre, autor da primeira formulação da teoria do Big Bang:
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40 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

“Há duas formas de conhecer a verdade. Eu escolhi as


duas.” (SINGH, Big Bang, 2004, p. 152).

O princípio bíblico de que os caminhos de Deus


são superiores aos do homem
Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra,
assim os meus caminhos são mais altos do que os seus
caminhos, e os meus pensamentos são mais altos do
que os pensamentos de vocês (Isaías 55:9).

Esse princípio consagra a necessidade imanente ao ser


humano de buscar fora de si as razões das coisas, posto que
seu entendimento é incapaz, por si só, de apreender a razão
eterna (Deus).
Ao conhecer as leis da natureza, o cristão está contem-
plando a manifestação da razão eterna de Deus. Veja como
a história relata a reação de Johannes Kepler, o grande mate-
mático luterano, no século XVI, quando percebeu que tinha
compreendido o mistério das órbitas planetárias:
“Oh Deus, Todo-poderoso, estou pensando Teus pensa-
mentos.” (SINGH, obra citada, p. 59).

O mandamento bíblico de perseverar e trabalhar


É também relevante considerar os contextos bíblicos como
um todo. Todos os heróis da Bíblia foram diligentes, trabalha-
dores e persistentes em seus afazeres: Noé, Abraão, José, Moisés,
Gideão, Samuel, Davi. Todos trabalharam e se empenharam
muito durante sua vida, como está descrito em Hebreus 11.
Abraão conduziu seu rebanho no deserto do Negev; Moisés
liderou os hebreus pelo deserto durante 40 anos. A seu turno,
o Apóstolo Paulo produzia tendas, atividade extremamente
árdua, e Jesus Cristo era carpinteiro:
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Avivamento na Igreja Primitiva 41

Tendo saído dali, Jesus foi para a sua terra, e os seus


discípulos o acompanharam. Chegando o sábado, co-
meçou a ensinar na sinagoga, e muitos, ouvindo-o, se
maravilhavam, dizendo: — De onde lhe vem tudo isso?
Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E como se fazem
tais maravilhas por suas mãos? Não é este o carpintei-
ro, o filho de Maria e irmão de Tiago, José, Judas
e Simão? As suas irmãs não vivem aqui entre nós? E
escandalizavam-se por causa dele (Marcos 6:1-3).

A palavra grega traduzida para ‘carpinteiro’ é Teckton, que


significa construtor. Pode ser um pedreiro, um carpinteiro,
alguém que trabalha em atividades de construção. Como se
sabe, a região de Nazaré, na Galileia, é semiárida, com pouca
vegetação apta a ser utilizada em construções. Na verdade, a
maior parte dos edifícios naquela época era construída a partir
de pedras e rochas. Muito provavelmente, Jesus Cristo também
trabalhou cortando e moldando pedras.
Pare para refletir.
Como deveria ser o trabalho de carpinteiro e pedreiro na-
quele tempo?
Se você quiser ter uma ideia aproximada, visite uma obra
em construção ou uma marcenaria em sua cidade para com-
preender o árduo ofício de Jesus Cristo. Só tem um detalhe:
não existia maquinário, serra elétrica ou guindastes! O traba-
lho era pesado!
O fato de Jesus Cristo ter exercido um ofício tão árduo
deve inspirar os cristãos.

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42 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

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Capítulo 3

O AMOR AO PRÓXIMO

A árdua prática do Amor ao Próximo pelos cristãos da igreja


primitiva revela que, ao menos em parte, a mentalidade grega
racionalista foi suplantada.
O mandamento de amar ao próximo tornou-se uma
das máximas universais da civilização humana em todos
os tempos:
Jesus respondeu: — “Ame o Senhor, seu Deus, de
todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o
seu entendimento.” Este é o grande e primeiro man-
damento. E o segundo, semelhante a este, é: “Ame o
seu próximo como você ama a si mesmo.” Destes
dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas
(Mateus 22:37-40).

Ateus e religiosos de vários credos se maravilham com essa


proclamação de tamanha grandeza espiritual e emocional.
Preocupar-se com as pessoas na mesma medida em que se
ocupa dos próprios problemas é algo transcendental. Alguns
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44 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

filósofos ateus dizem: “não precisa nem de fé. Ao colocar em


prática este princípio de vida, muda-se tudo ao seu redor.”
Jesus Cristo define muito bem o conteúdo desse manda-
mento na parábola do Bom Samaritano:
Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou
perto do homem e, vendo-o, compadeceu-se dele.
E, aproximando-se, fez curativos nos ferimentos
dele, aplicando-lhes óleo e vinho. Depois, colo-
cou aquele homem sobre o seu próprio animal,
levou-o para uma hospedaria e tratou dele. No
dia seguinte, separou dois denários e os entregou
ao hospedeiro, dizendo: “Cuide deste homem. E, se
você gastar algo a mais, farei o reembolso quando eu
voltar” (Lucas 10:33-35).

Assim, segundo nos ensina a Bíblia, amar ao próximo é:


- se importar com a necessidade das pessoas;
- se envolver pessoalmente em auxílio dos necessitados;
- investir tempo e até recursos financeiros.
Como se pode notar, amar ao próximo não é o mesmo
que pregar ao próximo. São atitudes completamente dife-
rentes, embora complementares.
O mandamento do amor ao próximo é dirigido a pessoas,
não a instituições ou denominações. As igrejas podem até reu-
nir os cristãos e auxiliá-los a praticar o sublime dom, todavia,
jamais suprirão a ação individual e pessoal.
Amar ao próximo exige esforço, inclusive físico, e com-
prometimento pessoal, até mesmo financeiro. Este manda-
mento está diretamente relacionado ao Dom do Amor, em 1
Coríntios 13:
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O amor ao próximo 45

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,


se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou
como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o
dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda
a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de
transportar montes, se não tiver amor, nada serei.
E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os
pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para
ser queimado, se não tiver amor, isso de nada me
adiantará (1 Coríntios 13:1-3).

O amor é a essência e força motriz do cristão e dom supre-


mo e fundante de todos os outros dons.
Há uma passagem em Mateus 7, em que Jesus Cristo rejeita
algumas pessoas com veemência incomum:
Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não
profetizamos em teu nome? Em teu nome não expul-
samos demônios e não realizamos muitos milagres?’
Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci.
Afastem-se de mim vocês que praticam o mal!
(Mateus 7:22-23).

Essa reação de Jesus a pessoas que aparentemente prati-


caram o bem deixa muitas pessoas intrigadas. Como poderia
alguém exercer dons de Deus (profecias, milagres, libertação)
e ser rejeitado por Deus?
Não há nenhum elemento textual da Bíblia que impeça
supor que o que eles diziam era de fato verdade, afinal, os dons
de Deus são irrevogáveis:
[...] porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis
(Romanos 11:29).

A explicação para esse aparente paradoxo, creio, está no


trecho bíblico de Mateus 25, quando Jesus Cristo nos revela
as obras de uma fé viva:
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46 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde,


benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos
está preparado desde a fundação do mundo; Porque
tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me
de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu,
e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e
foste me ver. […] Em verdade vos digo que quando
o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a
mim o fizestes (Mateus 25:34-36, 40).

Ao descrever as atitudes que notabilizaram os heróis da


fé em Hebreus 11, a Bíblia não menciona um único milagre
ou feito sobrenatural. Todos os feitos mencionados como
indicadores de uma fé madura e saudável foram comporta-
mentos e atitudes:
Pela fé, Abel ofereceu a Deus um sacrifício mais
excelente do que Caim, pelo qual obteve testemunho
de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas
ofertas. Pela fé, Noé, divinamente instruído a respeito
de acontecimentos que ainda não se viam e sendo te-
mente a Deus, construiu uma arca para a salvação
de sua família. [...] Pela fé, Abraão, quando chamado,
obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber
como herança; e partiu sem saber para onde ia. [...]
Pela fé, Moisés abandonou o Egito, não ficando
amedrontado com a ira do rei, pois permaneceu firme
como quem vê aquele que é invisível. [...] Certamente
me faltará o tempo necessário para falar de Gideão,
de Baraque, de Sansão, de Jefté, de Davi, de Samuel e
dos profetas, os quais, por meio da fé, conquistaram
reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas,
fecharam a boca de leões, extinguiram a violência
do fogo, escaparam de ser mortos à espada, da fra-
queza tiraram força, fizeram-se poderosos na
guerra, puseram em fuga exércitos estrangeiros
(Hebreus 11:4-37).

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O amor ao próximo 47

O justo viverá pela fé, mas a fé sem obras é morta


A fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Romanos 10,17),
mas deve se manifestar em comportamentos e atitudes.
O amor ao próximo sumariza a grande obra da fé que re-
vela nossa salvação. É o comportamento que revela a fé, não
apenas proclamações ou discursos.
É preciso entender que exercer dons – milagres, cura
- não é obra da fé. Possivelmente, aqueles que foram repre-
endidos por Jesus, embora tenham exercido seus dons, não o
fizeram com amor, mas por interesses pessoais. Há um preço
a pagar pelas motivações equivocadas ou perversas. O orgulho
é a questão central.
Há pessoas que se consideram credoras de Deus. Imaginam
que, por exercerem dons espirituais da cura ou de milagres,
tornaram-se merecedoras do reconhecimento especial de Deus.
É uma espécie de vaidade espiritual, do estilo: “eu sou muito
usado por Deus e, por isto, devo ter uma recompensa.” A Bí-
blia rejeita esse sentimento de orgulho:
Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for
mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos
somente o que devíamos fazer (Lucas 17:10).

O homem carnal se vangloria de si próprio e das amizades


ou relacionamentos com pessoas famosas ou poderosas. É
comum ouvir alguém se orgulhar de conhecer um artista fa-
moso ou uma autoridade pública. ‘Sou amigo do governador’
é um exemplo de autopromoção decorrente da proximidade
com autoridades.
Com Deus é completamente diferente. A proximidade com
o Senhor deve produzir nos cristãos uma atitude de humildade,
jamais de orgulho:
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48 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Então Jesus, chamando-os para junto de si, disse: —


Vocês sabem que os governadores dos povos os dominam
e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Mas
entre vocês não será assim; pelo contrário, quem qui-
ser tornar-se grande entre vocês, que se coloque a
serviço dos outros; e quem quiser ser o primeiro entre
vocês, que seja servo de vocês (Mateus 20:25-27).

O orgulho é uma força carnal que leva as pessoas a sempre


se considerarem o centro das situações. “Tudo é sobre mim”,
diz o espírito do orgulho. “Há mais esperança no tolo do que
no orgulhoso”, diz a Bíblia (Provérbios 26:12).

3.1 Amor ao próximo não é filantropia


Em oposição ao orgulho e egoismo carnal, há duas atitudes
muito nobres do ser humano: o amor ao próximo e a filantro-
pia. Em sua origem etimológica, ambas as palavras parecem
ter o mesmo significado, Amor. Mas não é bem assim.
A palavra filantropia é composta das expressões gregas
philos (amor, amizade no sentido de sentimento humano) e
anthropos (ser humano).
No Amor ao Próximo (Mateus 5:24), a palavra grega é
Agapao, que designa tanto ao próprio Deus (Deus é Agape, 1
João 4:8-16) como também o amor, fruto do Espírito Santo
nos cristãos (Gálatas 5:22).
Como se vê, os conceitos de amor ao próximo e de filan-
tropia são bem diferentes.
Exteriormente, porém, o amor ao próximo e a filantropia
são muito parecidos e se manifestam por meio de cuidados
materiais e apoio pessoal aos necessitados. Ao se observar duas
pessoas alimentando famintos em um lugar de condições pre-
cárias, não se saberá dizer quem está praticando filantropia ou
amor ao próximo.
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O amor ao próximo 49

Filantropia é um sentimento humano nobre de compaixão


com a dor ou a necessidade do outro. O mundo seria muito
melhor se mais pessoas exercessem a filantropia.
Amor ao próximo é uma obra da fé, um dom de Deus e
fruto do Espírito Santo, manifestação viva do amor de Deus
nos cristãos. É uma das formas mais elevadas de ‘adoração’ e
obediência a Deus:
Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse
é o que me ama (João 14:21).

A filantropia é uma ação conduzida por sentimentos nobres


e, como tal, se submete aos humores e momentos da vida de
quem o exerce. Por isto, é ocasional, intermitente e, muitas ve-
zes, quem pratica filantropia gosta de ser reconhecido por suas
boas ações, inclusive posta fotos e faz postagens nas redes sociais.
É importante dizer que os registros em forma de fotos ou
vídeos podem ser importantes e até necessários em algumas
situações. O que desejo frisar aqui é a motivação de divulgar
o bem que se faz como forma de obter aprovação ou reconhe-
cimento. Isto é típico da filantropia.
O amor ao próximo, como manifestação da fé cristã, é dis-
cernido espiritualmente, e não conduzido pelos sentimentos.
É perene, não transitório. O amor ao próximo não tem hora
nem lugar para acontecer. Acontece no caminhar, a qualquer
momento, mas também em creches, abrigos e lugares de sofri-
mento. É como uma fonte que jorra água sem cessar. O cristão
o pratica até mesmo sem perceber. Quem o pratica não deseja
nada em troca e repele louvores ou agradecimentos. O amor
ao próximo nunca se acha credor das pessoas que foram
ajudadas, afinal, “vocês receberam de graça, portanto, deem
de graça. (Mateus 10,8)
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50 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

3.2 Amor ao próximo não é ‘justiça social’


Os cristãos da Igreja da Segunda-feira convivem na socie-
dade com pessoas que alegam amar ao próximo e praticam o
discurso da ‘justiça social’. Em sua grande maioria, são socia-
listas. Praticar o que exigem dos outros não é o forte deles.
Recentemente, expressivas lideranças socialistas no Brasil
foram flagradas com milhões de dólares em suas contas bancá-
rias, frutos de crimes de corrupção. Para se ter noção, apenas
um deles possuía cerca de 10 milhões de dólares em aplicações
financeiras. Embora o discurso deles fosse, e continua sendo, da
‘justiça social’, não se tem notícia de uma única doação ou auxílio
à creche, ao abrigo ou à pessoa necessitada. As fortunas serviam
apenas aos seus interesses particulares, praticando atitudes iguais
às dos ricos egoístas que sempre criticaram e diziam combater.
Muitos que se dizem socialistas não conhecem a doutrina
do Socialismo, sequer leram os livros. Por isto é necessário
conhecer melhor esta ideologia.
O maior teórico do socialismo é Karl Marx, autor do li-
vro Manifesto Comunista. Esta obra contém a descrição e os
objetivos do Socialismo e, essencialmente, propõe a abolição
da propriedade privada e da religião e a destruição da família.
O socialismo proclama sobre a propriedade privada:
“A abolição da propriedade privada é o objetivo
supremo do socialismo” (MARX, 2010, p. 58).

A propriedade privada está consagrada na Bíblia expres-


samente no mandamento “não furtarás”, em Êxodo 20:15.
Ao proibir a subtração de bens alheios, Deus reconhece que
as pessoas têm direito a manter os bens que lhes pertencem.
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O amor ao próximo 51

As habilidades e o esforço de cada indivíduo são enaltecidos


na Bíblia como fatores de geração de riqueza:
Os planos de quem é esforçado conduzem à
riqueza, mas a pressa excessiva leva à pobreza (Pro-
vérbios 21,5).

Quem trabalha com a mão ociosa fica pobre, mas o


que trabalha com diligência enriquece (Provér-
bios 10:4).

O Socialismo se opõe a esses princípios bíblicos e quer


estabelecer uma igualdade material entre as pessoas, descon-
siderando habilidades e esforços individuais.
O socialismo propõe destruir a família:
Supressão da família! Até os mais radicais se indig-
nam com esse propósito infame dos Comunistas. Sobre
que fundamento repousa a família atual, a família
burguesa? Sobre o capital, sobre o ganho individual
(MARX, 2010, p.55).

Suprimir a família significa destruí-la à força. Leia de


novo. Você pode não acreditar, mas é pensamento central
socialista a destruição da família, a união do homem com a
mulher e seus filhos.
Em outro livro, chamado A Origem da Família, da Pro-
priedade Privada e do Estado, Friedrich Engels apresenta as
razões desse propósito absurdo: a família monogâmica seria a
primeira forma de exploração ou opressão de classes, na qual
o homem é o opressor, e a mulher, a explorada.
A Bíblia enaltece a família, o oposto do socialismo:
Por isso, o homem deixa pai e mãe e se une à sua mulher,
tornando-se os dois uma só carne (Gênesis 2:24).
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52 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Eis por que “o homem deixará o seu pai e a sua mãe e se


unirá à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”
(Efésios 5:31).

Finalmente, o socialismo quer destruir e proibir as religiões:


O comunismo (socialismo) quer abolir as verdades
eternas, quer abolir a religião e a moral, em lugar de
lhes dar uma nova forma, e isso contradiz a todos os
desenvolvimentos anteriores (MARX, 2010, p. 57).

Aqui se revela a intenção expressa de destruir toda a fé em


Deus. Não apenas dos cristãos, mas de toda e qualquer religião.
E não apenas a fé, mas a moral, os valores e a ética, frutos do
desenvolvimento da humanidade por séculos.
Jesus Cristo é a verdade e a vida:
Jesus respondeu: — Eu sou o caminho, a verdade e a
vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (João 14:6).

Deus é a verdade eterna:


No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus,
e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e, sem ele, nada do
que foi feito se fez (João 1:1-3).

O socialismo quer destruir tudo isto.


O socialismo considera que as virtudes e os vícios não per-
tencem a indivíduos, mas a ‘classes’ de pessoas. Assim, todos
os trabalhadores são bons e dignos, e todos os ricos (burgueses)
são maus e exploradores. É por isto que o socialismo propõe a
perseguição e eliminação física de uma classe inteira de pessoas:
“É natural que o proletariado de cada país deve,
antes de tudo, liquidar a sua própria burguesia”
(MARX, 2010, p. 50).
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O amor ao próximo 53

Na Bíblia, é totalmente diferente.


O cristianismo considera que as qualidades ou os de-
feitos são atributos individuais, jamais de coletividades.
Ser rico ou pobre não interfere no caráter da pessoa. O pres-
suposto é que cada indivíduo é capaz de decidir sobre seus
atos, o livre-arbítrio:
— Não julguem, para que vocês não sejam julgados.
Pois com o critério com que vocês julgarem vocês serão
julgados; e com a medida com que vocês tiverem medido
vocês também serão medidos (Mateus 7:1-2).

O indivíduo é chamado a decidir conforme seu entendi-


mento. Ricos ou pobres, homens ou mulheres, somos todos
iguais para Cristo:
Assim sendo, não pode haver judeu nem grego; nem
escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque
todos vocês são um em Cristo Jesus (Gálatas 3:28).

Isso significa que, no cristianismo, as pessoas são con-


sideradas individualmente, independente de sexo, riqueza
ou cidadania. É completamente incompatível com a visão
socialista de classes, pois, para Jesus Cristo, “o indivíduo é
único, e não há classes de pessoas”.
Muitos socialistas e simpatizantes desconhecem essas pro-
postas anticristãs e autoritárias que estão no sistema operacional
da ideologia socialista. Muitos são ludibriados pelas propostas
de “justiça social” e “igualdade”, tão frequentes no discurso
e, como vimos, inexistentes na prática dos líderes socialistas.
Acredito que a mera apresentação desses fundamentos às
pessoas já resultará em uma reflexão profunda e numa mudança
de pensamento para muitos.
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54 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

3.3 Corpo e membros


A Bíblia utiliza muitas figuras de linguagem para expli-
car a vontade de Deus. O corpo humano é muitas vezes
utilizado como elemento de cognição para facilitar o en-
tendimento dos cristãos sobre temas importantes. Coração,
olhos ou braços são utilizados com muita frequência em
parábolas, provérbios e instruções: “Sobre tudo o que se deve
guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da
vida” (Provérbios 4:23).
O Apóstolo Paulo se refere aos cristãos como membros do
Corpo de Cristo:
Porque, assim como o corpo é um e tem muitos
membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem
um só corpo, assim também com respeito a Cristo. Pois,
em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um
corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer
livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito.
Porque também o corpo não é um só membro, mas
muitos (1 Coríntios 12:12-14).

Os órgãos do corpo humano são bem diferentes em forma,


estilo e funções. As mãos, tão belas e bem tratadas, parecem
não ter muita afinidade com os pés, calosos e nem sempre
cheirosos. Mesmo assim, embora diferentes e distantes entre
si, cumprem um mesmo propósito: servem e fazem parte de
uma mesma unidade.
O desafio teológico de nosso tempo é entender que cada
membro tem uma função, e cada pessoa necessita identificar
o seu lugar no corpo. Infelizmente, há um estímulo teológico
indevido para que todos os cristãos sejam a ‘boca’ que prega,
ensina ou profetiza, e um desprezo pelos ‘outros membros’ que
cuidam, amam ou protegem.
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O amor ao próximo 55

É como se, para todos os membros de um corpo, o impor-


tante mesmo fosse fazer o que a boca faz: falar, pregar, profeti-
zar. Os ‘pés’ e as ‘mãos’ começam a querer ser a ‘boca’. Imagina
a confusão. O sujeito tem vocação para cuidar de crianças
(mãos), mas foi estimulado a ser pregador (boca). O resulta-
do é que muitos que exercem sua função precípua como pé
ou mão, nunca se sentem espiritualmente realizados, pois seu
‘desejo teológico’ de falar não é condizente com seu chamado
espiritual de cuidar. A pessoa está no lugar de Deus e de sua
vocação, mas é infeliz. Tudo fruto de teologias que exaltam o
falar e menosprezam o cuidar. Neste ambiente, pregar é um
gigante, e cuidar de pessoas, um anão. É uma questão de ajuste
e equilíbrio do Corpo. Todos os membros devem andar juntos:
Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada
um deles como quis. E, se todos fossem um só membro,
onde estaria o corpo? Assim, pois, há muitos membros,
mas um corpo (1 Coríntios 12:18-20).

3.4 A comunhão dos Santos


Por todos os Evangelhos há uma constante em Jesus Cris-
to: sempre o indivíduo é chamado a tomar decisões, nunca a
coletividade ou o Estado. O chamado da Salvação é dirigido a
pessoas, ao indivíduo, que deve, por vontade própria, decidir
pelo Novo Caminho:
E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-
-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me
(Lucas 9:23).

Mas há uma esfera coletiva que é referida nos Evangelhos


com importância especial: a comunhão dos Santos.
O próprio Deus reconhece que, sozinho, o indivíduo pode
ser mais facilmente abatido pelo Inimigo:
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56 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Melhor é serem dois do que um, porque têm melhor


paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro levanta
o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, cain-
do, não haverá outro que o levante. Também, se dois
dormirem juntos, eles se aquentarão; mas um só, como
se aquentará? E, se alguém prevalecer contra um, os dois
lhe resistirão; e o cordão de três dobras não se quebra tão
depressa (Eclesiastes 4:9-12).

Assim como o corpo biológico possui tendões e ligamen-


tos, órgãos responsáveis pela união dos membros ao corpo, os
cristãos se unem ao Corpo de Cristo por meio da comunhão:
E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comu-
nhão, e no partir do pão, e nas orações (Atos 2:42).

Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de


seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor (1 Coríntios 1:9).

Comunhão é cooperação. Cooperação é a unidade em


ação. Quando alguém coopera com outro, isto significa
ajudar, tomar parte na mesma tarefa ou no trabalho. Não
é apenas declaratório, mas sobretudo concreto e real. Pro-
pósitos declarados de unidade devem ser acompanhados da
efetiva realização da participação ou do auxílio:
Quanto a Tito, é meu companheiro, e cooperador para
convosco; quanto a nossos irmãos, são embaixadores das
igrejas e glória de Cristo (2 Coríntios 8:23).

E a nossa esperança acerca de vós é firme, sabendo que,


como sois participantes das aflições, assim o sereis
também da consolação (2 Coríntios 1:7).
Em parte fostes feitos espetáculo com vitupérios e tribu-
lações, e em parte fostes participantes com os que assim
foram tratados (Hebreus 10:33).

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O amor ao próximo 57

A cooperação entre os cristãos revela a unidade do cor-


po de Cristo, e isto se realiza em todos os âmbitos da vida.
Vejamos o exemplo da Grande Comissão:
Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho
ordenado a vocês. E eis que estou com vocês todos os dias
até o fim dos tempos (Mateus 28:19-20).

Há o entendimento teológico em nossos dias de que somen-


te a pessoa que faz discípulos e batiza exerce o mandamento.
Está certo, mas... incompleto.
Já vimos que, na visão bíblica da comunhão, os cristãos
são ‘membros de um corpo’, do qual o cabeça é Jesus Cris-
to. Há, portanto, a clara intenção de compreender que os
cristãos agem em cooperação e unidade, todavia exercendo
funções diferentes. É como se fôssemos incumbidos de uma
construção: há pedreiros, marceneiros, pintores, engenheiros,
arquitetos. Cada um exerce uma função, e a obra é fruto da
ação conjunta de todos.
Assim, segundo a Bíblia, todos aqueles que cooperam ou
colaboram intencionalmente para que alguém pregue o Evan-
gelho ou batize novos convertidos estão cumprindo a grande
Comissão de Mateus 28!!!
As pessoas que preparam as cadeiras para a pregação fazem
parte do Ministério da Pregação e, “aos olhos de Deus, são
pregadores também”. Da mesma forma, quem coopera para
o profeta exercer seu ministério também é profeta!
Deus vê o Corpo e seus membros, e a obra final é fruto da
participação de todos.
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58 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

É fundamental resgatar a noção bíblica de comu-


nhão, cooperação. A chave do avivamento é a coope-
ração entre igrejas e cristãos. Não me refiro à ajuda aos
amigos ou às igrejas dos amigos. A cooperação vai muito
além de laços de amizade ou simpatia. É o reconhecimen-
to do propósito superior nos outros. Deus pode te dar a
chave de uma porta para você abrir para outra pessoa.
Talvez você não tenha nenhum benefício direto, talvez
você seja apenas instrumento para que outro seja honrado
ou exerça seu Chamado. Muitas vezes a mão abre a porta,
mas quem entra primeiro é o pé:
Não atente cada um para o que é propriamente
seu, mas cada qual também para o que é dos outros
(Filipenses 2:4).

Alguns cristãos se excluem da comunhão dos Santos


sem perceber.
Certa vez, um amigo muito próximo me convidou para
conversar. Ele me contou um projeto extraordinário que
desejava executar. Era uma ação mobilizadora de pessoas,
de natureza comercial, e que envolvia muitos recursos finan-
ceiros. A ideia era muito boa. O que me chamou a atenção,
porém, é que, durante a exposição de sua ideia, ele repetia
com muita ênfase: “Deus me falou”, “Deus me entregou
este projeto!” O resultado foi que, embora eu tivesse gosta-
do muito da proposta, percebi que havia algumas questões
importantes a aprimorar. Não havia segurança jurídica nem
registros autorais importantes, por exemplo. Como, porém,
ele deixou claro que o projeto tinha sido “escrito por Deus”,
não me senti nem um pouco à vontade para dar nenhum
conselho ou sugestão. O que eu poderia acrescentar, se o
projeto tinha sido escrito por Deus, não é mesmo?! Tempos
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O amor ao próximo 59

depois, tive a notícia de que o projeto fracassara, exatamente


pelas falhas que eu havia identificado!
O que desejo ressaltar aqui é o seguinte: Deus pode dar
projetos e ideias para as pessoas. Todavia, é fundamental que
os cristãos submetam seus discernimentos à Comunhão dos
Santos, especialmente amigos na fé.
Eu entendo perfeitamente alguém dizer que “Deus me
deu este projeto”. Mas é importante entender que Deus tam-
bém pode falar com outras pessoas, inclusive para corrigir
ou aprimorar o discernimento recebido.
Quando alguém afirma: “Deus me falou”, dependendo
da ênfase e do contexto, a pessoa se exclui da comunhão. Há
um constrangimento para as pessoas em aconselhar, aliás,
o que a Bíblia exalta muito: “Na multidão de conselhos há
sabedoria”. (Provérbios 11,14)
Portanto, mesmo que você ache que Deus te deu um
projeto ou uma ideia, seja cuidadoso com as pessoas e lhes
apresente sem fechar a porta do aconselhamento.

3.5 Influenciar o governo pode ser amor


ao próximo
A Bíblia contém vários mandamentos relacionados direta-
mente ao amor ao próximo:
Se um irmão ou uma irmã estiverem com falta de
roupa e necessitando do alimento diário, e um de vocês
lhes disser: “Vão em paz! Tratem de se aquecer e de se
alimentar bem”, mas não lhes dão o necessário para o
corpo, qual é o proveito disso? (Tiago 2:15-16).

Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não


o faz, nisso está pecando (Tiago 4:17).
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60 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Pode-se compreendê-los como uma ‘missão individual’


para os cristãos, uma ação pessoal e direta de cada pessoa em
relação aos necessitados. Cada cristão exerce o mandamento
quando se envolve individualmente com os necessitados. O
exemplo frequente são as ações de compaixão em ruas e lu-
gares públicos, ao se levar alimento ou algum tipo de auxílio
a moradores de rua. Está certo, mas... incompleto.
E se fosse possível cuidar de todas as crianças necessitadas
de uma cidade? Dar comida a todos os famintos de uma ci-
dade inteira?
Sim, isto é possível!
Por exemplo, a merenda escolar nas escolas é uma
ação organizada pelas Secretarias de Educação dos mu-
nicípios, que alimenta quase todas as crianças de uma
cidade. É um exemplo de Política Pública que alcança
uma coletividade inteira.
A questão é: o cristão que elaborar ou executar política
pública que alcance as necessidades de muitos estará prati-
cando Tiago 1:27??
Vou dar um exemplo.
Em minhas viagens pelo Brasil, visitei diversas igrejas cris-
tãs, em que o prefeito da cidade ou o secretário de educação
era membro da igreja. Em todas elas, os pastores me relataram
que faziam orações nos gabinetes e até na casa das autoridades.
Quero deixar claro que orar pelas autoridades e evangelizar
suas famílias é ação de grande nobreza espiritual dos pastores.
Meu sincero desejo é que mais lideranças o façam.
A questão aqui é a ausência de interesse pela educação da
cidade. É sobre isto que desejo falar.
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O amor ao próximo 61

Como seria bom ouvir um pastor me relatar um interesse


genuíno pelos serviços públicos, especialmente pela educação
de sua cidade. Imagine o que acontecerá com o Brasil quan-
do a merenda escolar e os materiais didáticos forem objeto de
interesse das lideranças?!
Para compreender a espiritualidade das Políticas Públicas
será preciso, porém, me estender um pouco em alguns fun-
damentos bíblicos.
Há na Bíblia orientações e instruções de diversas formas e
estilos. Há mandamentos diretos (“não matarás”), mas, muitas
vezes, os mandamentos e as ordenanças de Deus são expressos
por meio de uma história ou parábola.
Trata-se de uma forma poética de ensinar por meio de
uma narrativa que contempla diversas circunstâncias e fa-
tos, unidos por um princípio ou finalidade essencial, que
representa a grande diretiva ou ensino de Deus. É uma
verdadeira instrução, precisa e prática, de como agir em
situações específicas.
Isso significa que a Bíblia está revelando princípios e orien-
tações por meio de todo o contexto narrado. Por exemplo, na
parábola dos lavradores maus, em Marcos 12:
E começou a falar-lhes por parábolas: Um homem plan-
tou uma vinha, e cercou-a de um valado, e fundou nela
um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavra-
dores, e partiu para fora da terra. E, chegado o tempo,
mandou um servo aos lavradores para que recebesse, dos
lavradores, do fruto da vinha. Mas estes, apoderando-se
dele, o feriram e o mandaram embora vazio. E tornou a
enviar-lhes outro servo; e eles, apedrejando-o, o feriram
na cabeça, e o mandaram embora, tendo-o afrontado. E
tornou a enviar-lhes outro, e a este mataram; e a outros
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62 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

muitos, dos quais a uns feriram e a outros mataram.


Tendo ele, pois, ainda um seu filho amado, enviou-o
também a estes por derradeiro, dizendo: Ao menos
terão respeito ao meu filho. Mas aqueles lavradores
disseram entre si: Este é o herdeiro; vamos, matemo-lo,
e a herança será nossa. E, pegando dele, o mataram, e
o lançaram fora da vinha. Que fará, pois, o senhor da
vinha? Virá, e destruirá os lavradores, e dará a vinha a
outros (Marcos 12:1-9).

Essa parábola está se referindo diretamente à recusa do


povo de Israel aos profetas e à obra expiatória de Jesus Cristo.
Contém implicitamente mandamentos e instruções, sendo,
portanto, uma história espiritual e pedagógica.
A Bíblia contém três histórias muito especiais e
que se referem diretamente a como os cristãos devem
se relacionar e influenciar Governos: José do Egito,
Daniel e Ester.
Não vou me deter particularmente em nenhuma des-
sas narrativas bíblicas, mas todos esses casos se referem a
homens e mulheres de Deus que ocuparam funções pú-
blicas, se relacionaram ou influenciaram as autoridades
superiores de nações.
Em nenhum deles há relato de oração ou culto em Palá-
cios, pelo contrário. Em todos, a despeito da simpatia pessoal
do governante, como foi o caso de Daniel, a fé do profeta
foi alvo de perseguição pelos inimigos. É razoável supor que
nenhum deles orou ou profetizou diretamente para os go-
vernantes aos quais serviam.
O fato comum às três histórias bíblicas é que a ação pessoal
e influenciadora dos profetas perante o governo foi decisiva
para as nações e o povo hebreu.
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O amor ao próximo 63

José concebeu e formulou uma política pública de armaze-


namento de grãos que salvou a nação egípcia da calamidade e
morte. Isto lhe rendeu o posto de governante maior do Egito,
abaixo apenas de Faraó:
Depois, Faraó disse a José: — Visto que Deus revelou
tudo isto a você, não há ninguém tão ajuizado e sábio
como você.Você será o administrador da minha casa, e
todo o meu povo obedecerá à sua palavra. Somente no
trono eu serei maior do que você. E Faraó disse mais
a José: — Eis que eu o constituo autoridade sobre toda
a terra do Egito (Gênesis 41:39-41).

Daniel aconselhou reis de impérios diferentes:


“Daniel prosperou no reinado de Dario e no reinado de
Ciro, o persa” (Daniel 6:28).

Ester obteve do rei um decreto, decisão governamental que


garantiu a sobrevivência do povo judeu:
Então o rei Assuero disse à rainha Ester e ao judeu Mor-
decai: — Eis que dei a Ester a casa de Hamã, que foi
pendurado numa forca, porque tinha planejado matar
os judeus. E agora, em nome do rei, escrevam aos
judeus o que bem lhes parecer e selem o documento
com o anel-sinete do rei (Ester 8:7-8).

O princípio subjacente a essas três belíssimas histórias bíbli-


cas é o de que ‘os homens e as mulheres de Deus podem e de-
vem exercer funções no governo ou influenciar suas decisões’.
Além dos mandamentos expressos de orar pelas autoridades
e respeitar as leis, a Bíblia revela outra forma de relacionamento
dos cristãos com Governos: ocupá-los, exercer funções públi-
cas e formular políticas públicas. Atitudes são tão espirituais
quanto orar pelos governantes!
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64 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

É preciso entender que, ao cuidar de todos os necessitados


em políticas públicas, também se está exercendo o manda-
mento de amor ao próximo. Assim, o cristão que participa da
política pública de merenda escolar está praticando Mateus
25: “Tive fome, me destes de comer.”
Os cristãos devem exercer o cuidado com os necessitados
individualmente, em ações de compaixão e cuidado nas ruas,
creches, nos abrigos e asilos, assim como influenciar o governo
ou exercer funções governamentais.
O que está errado é negligenciar a poderosa espiritualidade
contida no Governo e nas políticas públicas que atendem às
necessidades básicas coletivas.
É preciso resgatar o chamado de José, Daniel e Ester, nesta
geração!

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Capítulo 4

ATITUDES PRÁTICAS

Certa vez fiz uma viagem de avião de uma grande cidade


para Brasília. A duração do voo era de duas horas e meia. Quan-
do embarquei, me dirigi ao assento marcado e ao meu lado se
sentava uma mãe de santo, devidamente vestida de branco,
usando turbante, colares e tudo mais. Logo que me aproximei,
ela me cumprimentou gentilmente e, durante quase toda a
viagem, conversamos animadamente. Na verdade, fiz muitas
perguntas sobre as atividades dela e descobri que ela era uma
líder comunitária na periferia de uma grande cidade, e que
agia, muitas vezes, quase como uma mediadora em diversos
casos de conflitos familiares e sociais. Quando já estávamos
chegando a Brasília, ela me perguntou:
- Mas o senhor quase não falou. Qual a sua religião?
- Eu sou cristão evangélico, disse.
Ela quase deu um grito de surpresa:
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66 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

- Como assim evangélico?! Você me ouviu a viagem inteira,


sabendo que sou uma mãe de santo...
Eu não sei o tipo de experiência que ela teve com evangé-
licos, mas ela repetiu de novo:
- Evangélico! Você é evangélico...
Demorou alguns minutos até que ela voltasse ao estado
normal.
Tenho certeza de que, após nosso encontro, ela se tornou
muito mais simpática aos evangélicos.
Ouvir pode ser uma poderosa ferramenta de evangelismo.

4.1 Atitudes de fé em tribulações


Você sabia que Deus envia cartas alertando os cristãos sobre
perigos e acidentes?
Isso mesmo, são milhares de cartas todos os dias: multas
de trânsito!!!
Não estou me referindo aqui às multas de trânsito
caça-níqueis. Refiro-me às situações reais de perigo,
como dirigir em alta velocidade e outras infrações gra-
víssimas, em que o motorista é flagrado na prática de
delitos de trânsito.
Ao receber uma multa, o cristão deveria sinceramente
considerar que “Deus está falando com ele”, se arrepender do
comportamento e mudar de vida.
Você já percebeu que a correção de Deus e a perseguição
do Inimigo podem se parecer muito?
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Atitudes Práticas 67

Sim, em ambos os casos, o cristão é desagradado, sofre


uma dor ou prejuízo. Frustração é o resultado comum em
ambas as situações.
Nem tudo o que desagrada o cristão é perseguição ou obra
do Inimigo. Mas, infelizmente, este é o referencial mais utili-
zado em nosso meio.
É preciso refletir.
Deus nos ensina por meio da vida do Apóstolo Paulo:
Sei o que é passar necessidade e sei também o que é ter
em abundância; aprendi o segredo de toda e qualquer
circunstância, tanto de estar alimentado como de ter
fome, tanto de ter em abundância como de passar
necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece
(Filipenses 4:12-13).

As atribulações e perseguições são fatos esperados na vida


de qualquer ser humano. A Bíblia alerta os cristãos:
Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no
mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci
o mundo (João 16:33).

A primeira atitude diante de conflitos e frustrações vem


sempre do nosso interior e não é perceptível aos outros. Diz a
Bíblia: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por
humildade; cada um considere os outros superiores a si
mesmo” (Filipenses 2:4).
O pressuposto aqui é de que se trata de pessoas em situação
de igualdade. Este versículo não se aplica a pais em relação a
filhos, ou a patrões em relação a empregados, pois a hierarquia
exige que o superior exerça suas funções, uma vez que não pode
renunciar a seus deveres.
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68 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Ao considerar as pessoas sempre superiores, você está


domando e submetendo seu orgulho e vaidade a uma ins-
trução clara de Deus. Não se fira com pequenos deslizes ou
falhas de pessoas, especialmente aquelas próximas a você.
Imagine uma amiga que não te convida para um jantar com
amigos, ou alguém que não te dá a atenção que você gostaria
na igreja. Ah, suponha que você telefona para alguém, e a
pessoa não atenda ao telefone. Você insiste minutos depois,
e nada. Este versículo serve para essas situações cotidianas.
Ao considerar as pessoas sempre superiores a você, nenhuma
destas situações vai te incomodar ou fazer parte de seu book
exclusivo de mágoas, pois você vai considerar que “as pessoas
tiveram alguma razão para agir assim, e elas são superiores a
você mesmo.” Entendeu?
É um treino diário e muito eficiente.
Certa vez liguei para um amigo mais de 10 vezes, e ele não
atendia. Colocando em prática o versículo, não o julguei, nem
nutri sentimento mal por ele. Pensei: deve estar com algum
problema. Nada disso. Dez dias depois ele me ligou e disse que
estava em viagem para os EUA e não estava com o telefone.
Tudo resolvido e bem.
Agora imagina se eu tivesse ficado com um mau sentimento
por ele. Durante vários dias estaria nutrindo rejeição ou raiva
por algo que não existia. Infelizmente, esta atitude é muito
frequente entre nós.
Até aqui a Bíblia nos ensinou a não criar monstros emo-
cionais imaginários, problemas que não existem e que podem
ser criados por uma mente despreparada ou muito emotiva.
Mas a Bíblia nos ensina também a enxergar o que não con-
seguimos ver por nós mesmos:
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Atitudes Práticas 69

Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me


e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim al-
gum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno
(Salmos 139:23-24).

Diante de qualquer situação conflituosa, a primeira


atitude do cristão é buscar a correção de Deus para si pró-
prio, ainda que as circunstâncias indiquem que você esteja
certo. Isto não é fácil.
Uma das coisas mais difíceis é levar alguém que se acha
certo a reconhecer que também pode ter errado, ainda que
em menor medida do que o outro. Quando se está convicto
do erro de alguém, ninguém aceita refletir sobre os próprios
erros. É o homem carnal.
O cristão deve sempre buscar, primeiro, a correção de Deus.
A Bíblia contém várias instruções para agir diante dos pro-
blemas da vida:
• Não murmurar (Judas 1:16);
• Silêncio é a melhor arma em agressões injustas (Tiago 1,19)
• fugi da aparência do mal (Tessalonicenses 5:22);
• resisti ao mal, e ele fugirá de vós (Tiago 4:7).
Deus se importa até com os nossos pensamentos:
Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o
que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro,
tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se
houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem
nessas coisas (Filipenses 4:8).

Percebeu como Deus se importa com suas atitudes e ações


na vida toda, e não apenas em momentos solenes?
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70 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

4.2 Atividades profissionais


O exercício de profissões é um dos momentos sublimes da
Igreja da Segunda-feira, pois é quando encontramos pessoas
sedentas pelo Eterno e alvo da grande comissão bíblica.
Todos sabemos que os cristãos têm um chamado universal
para orar:
Orai sem cessar. Em tudo dai graças, porque esta
é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco
(1 Tessalonicenses 5:17-18).

Orar até pelos inimigos:


Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os
que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai
pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que
sejais filhos do Pai que nos céus; porque faz que o seu
sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre
justos e injustos (Mateus 5:44-45).

Quando no exercício profissional, todavia, é preciso estar


atento às leis que regem a atividade.
Ao ser contratado para trabalhar em uma empresa, o
cristão receberá seu salário em retribuição pelo seu trabalho
prestado. Tudo é combinado e ajustado: funções, horários,
direitos e deveres. Pois bem, a menos que haja autorização
expressa do superior, o trabalhador cristão não deve ler a
Bíblia ou orar pelas pessoas durante seu horário de trabalho,
pois estará em ilegalidade. Se ele está no horário de trabalho,
deve cumprir suas obrigações. Honrar seus chefes, ser pon-
tual no trabalho e realizar suas funções com dedicação são
atitudes muito espirituais.
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Atitudes Práticas 71

Policiais cristãos podem e devem orar pelas pessoas, até


pelos presos e detentos. Todavia, durante seu horário de ex-
pediente, devem exercer suas funções conforme determina
a lei e os regulamentos. A atitude mais espiritual de policiais
cristãos é evitar crimes, prender os autores de violência e
proteger os inocentes. Em serviço, devem estar vigilantes e
atentos e a agir com o rigor que cada situação exige.
Em um caso real, o policial cristão havia acabado de efetu-
ar a prisão em flagrante de um criminoso, que sofrera lesões
físicas. Ao levá-lo ao hospital, o policial perguntou ao preso
se poderia orar por ele. O preso, obviamente, concordou, e
o policial fez a oração. Tudo foi gravado pelo próprio policial
e divulgado nas mídias.
Veja, o policial poderia fazer comentários ou até dar con-
selhos legais, mas orar ou ministrar a Palavra, não. Houve
violação dos deveres de sua função legal. O preso pode alegar
depois que foi constrangido a aceitar a oração e violado em
seus direitos fundamentais. Você acha que não?
Então imagine agora um policial espírita que pratique a
mesma atitude do policial cristão. Você concordaria?
Claro que não!
Você percebeu que não se pode aproveitar da função
de servidor público para realizar qualquer tipo de prose-
litismo religioso?
Em sua vida privada, o servidor público exerce livremente
sua fé. Quando no exercício de suas funções públicas, o ser-
vidor representa o Estado, que é laico. Isto significa que não
pode favorecer nem denegrir qualquer religião ou credo.
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72 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Da mesma forma o professor cristão. Muitos imaginam que,


ao orar pelos alunos antes da aula, esgotam sua função espiri-
tual. O conteúdo de suas aulas, embora necessário e útil, não
teria relevância espiritual. Este tipo de entendimento teológico
é que explica o ensino de doutrinas anticristãs até mesmo em
escolas confessionais, pois se imagina que a espiritualidade está
confinada aos momentos de oração.
É fundamental que os professores cristãos compreendam
que a qualidade e o conteúdo do ensino também possuem
profunda relevância espiritual.

4.3 Campo de batalha


Certa vez fui convocado para uma Comissão no Congresso
Nacional. Havia muitas autoridades incomodadas com minha
atuação como Procurador da República, afinal, senadores, de-
putados federais e ministros de Estado foram afastados de suas
funções em decorrências de ações judiciais por mim propostas.
Quando eu estava me aproximando do local de depoimen-
to, comecei a orar interiormente para Deus agir sobre toda
aquela situação. Então veio em meu coração um discernimento
muito claro:
- “Não é hora de orar. Levante a cabeça e lute.”
Quando Davi se viu frente ao gigante Golias, ele estava
no campo de batalha. É o lugar da decisão, não é lugar para
orar. Não se deve orar em campo de batalha. É preciso uma
atmosfera psicológica especial nesse momento.
O nadador brasileiro e campeão mundial César Cielo ficou
conhecido por seu comportamento antes das competições.
Esmurrava o próprio corpo, batia no rosto com as palmas das
mãos. O objetivo dessa atitude era estimular a adrenalina em
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Atitudes Práticas 73

seu corpo. Adrenalina é o hormônio da atenção, prontidão e


excitação, que é produzido pelo próprio organismo em situa-
ções de perigo ou susto. O organismo precisa estar preparado
para cada situação de risco.
Lutadores sabem muito bem disso. Antes de entrar em um
combate, precisam atingir uma atmosfera emocional, psicológica
e física condizente ao ambiente de luta em toda sua dureza e
violência. Se entrarem calmos e ponderados, serão derrotados.
Um jogador de futebol cristão não passará da peneira de
time de várzea, caso se dedique a orar durante uma partida.
Antes de entrar em campo, ele pode orar, ler a Palavra, ouvir
louvores e, claro, estudar e treinar todas suas capacidades físicas
e psicológicas para jogar futebol. Tudo certo.
Quando o jogo (batalha) começa, porém, o jogador cristão
deve estar totalmente concentrado na partida. Em questão
de segundos uma chance de gol pode surgir – pró ou contra
–, e ele pode fazer toda a diferença. Muitas vezes, um lance
decisivo é resolvido com centímetros de diferença a favor de
quem mais se dedicou na jogada.
Em uma partida de xadrez é bem diferente, mas também
é preciso ter uma atmosfera psicológica e mental. Percebe?
É fundamental, então, considerar cada campo de batalha
e momento de luta na vida.
Muitos cristãos desejam manter uma mesma atitude
espiritual e emocional em momentos de luta e campos de
batalha bem diferentes. Isso está errado, e esta é a causa de
muitos problemas.
Jesus Cristo nos deu o exemplo.
No Sermão do Monte, em Mateus, capítulo 5, Jesus Cristo
estava diante de uma multidão ansiosa por suas palavras. Era
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tempo de orientação e reflexão, um momento de estabelecer


princípios e ensino. Nestes momentos, a voz é mais baixa, os
gestos mais suaves, e a atmosfera deve ser aconchegante.
Em João 2, tudo mudou. Havia uma situação de iniquidade.
Pessoas inescrupulosas praticavam o mal e era preciso outra ati-
tude. Jesus Cristo, consciente da situação e da Lei, premeditou
sua atitude, confeccionou sua própria arma, um azorrague, se
dirigiu ao local onde praticavam a injustiça e expulsou os mal-
feitores aos gritos e com muito vigor. A Bíblia narra em detalhes:
E achou no templo os que vendiam bois, e ovelhas, e
pombos, e os cambiadores assentados. E tendo feito um
azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo,
também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos
cambiadores, e derribou as mesas; E disse aos que
vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa
de meu Pai casa de venda (João 2:14-16).

Jesus Cristo nos ensina algo profundamente relevante:


gritar e ser enérgico é a atitude mais espiritual em muitos
momentos da vida.
Você percebeu que as atitudes e os comportamentos são
bem diferentes, pois cada situação exigia uma atitude interior
e uma ação específica?
Esse discernimento deve ser recuperado pelos cristãos com
muita urgência.

4.4 Dor e luto


A dor e o luto fazem parte de uma vida plena.
Toda conquista tem seu preço. Isto significa dedicação,
esforço, escolhas e... prejuízos. É muito importante estar pre-
parado para derrotas e perdas.
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Atitudes Práticas 75

No pain, no gain é um aforisma no esporte de alta perfor-


mance e significa “sem dor não há ganho”. Podemos tomar a
palavra dor como representativa de perdas e derrotas também.
Isso é bem espiritual.
A dor é inevitável na vida:
“Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no
mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci
o mundo” (João 16:33).

A dor pode ser destruidora quando te leva à revolta, te


paralisa ou te conduz à depressão. Mas também pode ser
fértil quando te leva a refletir e a seguir um novo caminho.
A diferença não está no tamanho da dor, mas em sua atitude
interior diante dela.
O filósofo anticristão Friedrich Nietzsche ficou conhecido
por uma frase impactante: “O que não me mata, me fortalece”.
Sua inspiração foi indiscutivelmente bíblica pois, conforme está
escrito em Filipenses 4:13, “tudo posso naquele que me fortalece”.
O luto é o tempo necessário para transformar a dor em apren-
dizado, maturidade. Ele é fundamental para amadurecer o ser
humano, é o tempo de chorar, lamentar e digerir emocional e
espiritualmente as frustrações. Assumir o luto revela o indivíduo
que reconhece seu protagonismo pessoal, que se coloca no front
de batalha e assume autoria, no sucesso ou no fracasso.
Infelizmente, o luto morreu em nosso tempo.
Não se chora mais as perdas e dores. “Deus está no con-
trole” é o que se ouve com frequência e de forma quase auto-
mática diante dos fracassos da vida. O sucesso ou insucesso
das iniciativas é creditado automaticamente a Deus. Se passou
no concurso: Glória a Deus! Se não passou: Deus não quis.
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76 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Se não concluiu um trabalho: Deus não quis. Se teve êxito:


Glória a Deus. Não está errado, está incompleto. O indivíduo
deve assumir seu protagonismo tanto nas vitórias quanto nas
derrotas ou perdas. É preciso resgatar o protagonismo do
cristão. A Glória é de Deus, mas a honra e a responsabili-
dade também são do homem.
Jesus Cristo reconhece expressamente a relevância do esfor-
ço individual. Na Parábola dos Talentos, em Mateus 25, Ele
revela que no Reino de Deus os cristãos que se esforçam serão
recompensados, e os omissos, repreendidos:
Então aproximou-se o que recebera cinco talentos, e trouxe-
-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, entregaste-me
cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que granjeei
com eles. E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e
fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei;
entra no gozo do teu senhor. […] Mas, chegando tam-
bém o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-
-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste
e ajuntas onde não espalhaste; E, atemorizado, escondi na
terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondendo,
porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo;
sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei?
Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e,
quando eu viesse, receberia o meu com os juros. Tirai-lhe
pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos
(Mateus 25:14-28).

A supressão do luto impede o crescimento emocional e


espiritual da pessoa. Ao não chorar e refletir sobre suas perdas
e derrotas, o cristão não desenvolve habilidades emocionais
importantíssimas, especialmente a consciência de sua finitu-
de e a humildade. A morte do luto dá lugar ao nascimento
de anões espirituais, adultos emocionalmente infantilizados e
despreparados para as batalhas:
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Atitudes Práticas 77

Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa


onde há banquete, porque naquela está o fim de
todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração
(Eclesiastes 7:2).

É preciso ressuscitar o luto, única forma de fazer as pessoas


assumirem suas responsabilidades e se tornarem capazes de
enfrentar os grandes desafios da vida.

4.5 Armas naturais para batalhas


espirituais
Imagine que você acorde um dia e, ao sair de casa, tenha
uma grande surpresa: todos os prédios se tornaram igreja.
Farmácias, supermercados, shoppings, comércios, hospitais,
escolas, tudo se transformou em igreja.
Você vai a um restaurante para almoçar, e o garçom oferece
a Bíblia, dizendo: “nem só de pão viverá o homem [...]”. Na
farmácia não haverá medicamentos, mas pessoas que oram
pela cura de enfermidades. Nas escolas, só estudo da Palavra
de Deus, nada de química, matemática ou biologia.
O que você acharia desse novo mundo?
O exemplo serve para refletir sobre a necessidade de reco-
nhecer a função espiritual em todas as coisas.
Um remédio que cura uma doença é também um milagre.
O ensino de português e matemática nas escolas é também
espiritual. O momento de lazer e descanso é também um
compromisso espiritual e, por sinal, essencial.
Cada atividade humana que atende a uma necessidade
individual, biológica, social ou econômica cumpre também
uma função espiritual.
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78 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Talvez isso fique bem claro ao analisar alguns momen-


tos cruciais da Bíblia, que revelam o quão material é a
vida espiritual.
A Bíblia narra o ataque amalequita ao povo de Deus
em Êxodo 17. Moisés convoca Josué e seus guerreiros e
ordena que enfrentem o inimigo. Em seguida, subiu o
monte para interceder por Josué. Ao final, os israelitas
prevaleceram no campo de batalha, e os amalequitas
foram derrotados.
Era uma batalha também espiritual, tanto que a Bíblia in-
dica o fator decisivo para a vitória do povo de Deus, as orações
e a intercessão de Moisés:
“E acontecia que, quando Moisés levantava a sua
mão, Israel prevalecia; mas quando ele abaixava a
sua mão, Amaleque prevalecia” (Êxodo 17:11).

É evidente que as armas que Josué utilizou em campo de


batalha eram espadas, escudos, certamente produzidos com
metais e aptos a causarem danos físicos e a morte dos inimigos.
Naquele tempo era assim.
A batalha entre o jovem Davi e o gigante filisteu Golias é
outro exemplo.
Embora fosse jovem, Davi havia sido treinado pelo longo
tempo em que foi pastor de ovelhas. Sua funda, instrumento
que lhe deu a vitória contra o gigante Golias, foi utilizada
cotidianamente ao enfrentar os animais e ameaças contra
seu rebanho.
Alguém duvida que o combate entre Davi e Golias foi
também uma batalha espiritual?
Mas as pedras de Davi eram pedras mesmo.
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Atitudes Práticas 79

É inconcebível cogitar que Josué ou Davi fosse enfrentar


seus inimigos de mãos vazias ou com rolos sagrados nas mãos,
não é verdade?
As batalhas espirituais como a de Josué e Davi continuam
até hoje, como a Bíblia alerta, em Êxodo 17: “E disse: Por-
quanto jurou o Senhor, haverá guerra do Senhor contra
Amaleque de geração em geração” (Êxodo 17:16).
A novidade nesta geração é que muitos cristãos vão para
as batalhas destreinados, desarmados ou apenas com a Bíblia
na mão. Não seguem o exemplo de Davi e Josué. Imagine se
Davi tivesse enfrentado o gigante Golias com rolos da Palavra
de Deus nas mãos!
Atualmente, os ataques não são mais realizados com
espadas e armas, como na antiguidade, mas com armas
culturais e jurídicas.
A erotização de crianças na mídia e na Educação é um
exemplo do novo tipo de ataque contra o Povo de Deus.
Tornaram-se públicos e conhecidos, por todos, as centenas
de casos reais em programas de televisão, museus e materiais di-
dáticos, onde imagens eróticas e pornográficas foram apresen-
tadas a crianças, até mesmo por professores. Ficou conhecida
nacionalmente a mostra LGBT de Porto Alegre, patrocinada
por um grande banco, em que se apresentaram, a milhares
de crianças, alunos de escolas públicas, cenas pornográficas
explícitas. Uma das ‘obras de arte’ desta mostra consistia em
um vídeo no qual um homem se masturbava e ejaculava es-
perma na face de um gay, o esperma escorrendo pelo rosto da
pessoa era enfatizado. Relatos e imagens desta sórdida mostra
pornográfica para crianças e adolescentes estão acessíveis no
youtube e no google.
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80 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Outro caso rumoroso ocorreu em Belo Horizonte. A pro-


fessora de uma escola pública deu um dever de casa para seus
alunos, crianças de 10 e 11 anos, em que se propunha pesquisa
sobre as seguintes perguntas: o que é sexo anal? Como dois
homens transam? O que é boquete? Entre outras perguntas.
As crianças pesquisaram tudo na internet, fizeram o dever e o
entregaram à professora. Semanas depois se descobriu o abuso.
Embora o escândalo tenha se tornado público, as autoridades
do Ministério da Educação e da Secretaria Municipal de Edu-
cação não fizeram nada contra a servidora pública.
Em ambos os casos, a maior parte da mídia, partidos de
esquerda e formadores de opinião acharam tudo normal, mes-
mo havendo uma norma penal que expressamente proíbe a
apresentação de imagem libidinosa a crianças ou adolescentes
menores de 14 anos de idade (artigo 218-A do Código Penal).
A questão que eu desejo salientar aqui é uma ação maci-
ça de várias fontes na sociedade estimulando a erotização de
crianças e adolescentes.
Trata-se claramente de uma violação à dignidade humana,
especialmente à dos irmãos pequeninos. Erotizar crianças é
uma forma de roubar sua infância e inocência, estimulá-las à
prática sexual precoce e transtornar sua mente.
Diante dessas ilegalidades contra a infância e a adolescência,
alguns cristãos se levantam em defesa de seus filhos menores,
todavia, o fazem com argumentos religiosos ou morais.
“A Bíblia não permite” e “não se pode mostrar isto para
crianças” são afirmações frequentes dos indignados. E aqui
está a questão.
Ao recorrer a argumentos morais ou religiosos diante de
evidentes crimes ou violações de direitos contra a infância,
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Atitudes Práticas 81

os cristãos estão agindo como se Davi estivesse lutando com


rolos da Palavra nas mãos contra o gigante Golias. Não vai
derrubá-lo, pois não é a arma adequada em campo de batalha.
Os criminosos agradecem quando as vítimas recorrem a
argumentos morais e religiosos para reprimir seus ilícitos,
afinal, debates ou repreensões morais são mais suaves do que
as penas da lei.
Então, qual seriam as armas para esta batalha?
É simples: o Código Penal e o Estatuto da Criança e do
Adolescente. As leis vigentes contêm normas expressas que pro-
íbem estas práticas eróticas com crianças e adolescentes. Basta
proclamar as leis vigentes, e os amalequitas baterão em retirada,
pois sabem que estão errados. Os que insistirem em praticar o
mal serão processados e presos. Isto, sim, os amedronta.
Em suma, os Josués e os Davis dessa geração, membros
assíduos da Igreja da Segunda-feira, possuem armas de guerra
eficazes no campo de batalha. Ao usar as leis e decisões da jus-
tiça vão derrotar os que praticam crimes e violações de direitos
(iniquidades).

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82 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

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CONCLUSÃO

Quero concluir este livro com o relato de uma experiência


de vida e morte.
Era inverno de 1980. Eu era um adolescente de 14 anos,
em férias, num acampamento em uma ilha em pleno rio To-
cantins, no norte do estado brasileiro de mesmo nome. O
rio tinha uma largura de mais de três quilômetros, acho. Era
muito grande e caudaloso.
Certo dia, pela manhã, ouvi os gritos desesperados de algu-
mas pessoas. Rapidamente me virei e percebi que uma pessoa
caíra no rio e, ao que parecia, não sabia nadar, pois se debatia
freneticamente nas águas.
Não pensei duas vezes. Corri imediatamente em direção à
pessoa. Logo percebi que havia umas pedras logo abaixo no
rio, em direção às quais o infeliz seria levado pelas águas.
Eu já me preparava para pular no rio quando percebi que
talvez pudesse alcançá-la com as mãos, me posicionando junto
às pedras. E assim eu fiz. Quando a pessoa passou, agarrei-a
pelos cabelos e a puxei. Deu tudo certo; consegui salvá-la. Foi
então que percebi que era uma menina de uns 8 ou 9 anos
de idade.
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84 A Igreja da Segunda-feira: avivamento em templos e cidades

Glória a Deus!
Minha pergunta para você é:
Quem salvou a menina?
Opção A: A oração dos seus pais;
Opção B: Eu, que a retirei das águas com minhas mãos;
Opção C: Os pais que oravam e eu que me dispus a salvá-la
agimos como um só Corpo.
Espero que o livro tenha te ajudado a responder esta
questão.
Cuidar e proteger pessoas é tão espiritual quanto orar por
elas. O Amor ao Próximo é a manifestação concreta e real de
uma fé madura, por meio do cuidado e envolvimento direto
com as necessidades e dores das pessoas. Educar e orientar os
filhos menores é uma forma de orar por eles. Influenciar e exer-
cer funções no Governo é um Chamado de Deus também. A
pregação e a oração dos Santos devem estar unidas a atitudes
de Justiça e Amor ao Próximo de todo o Corpo de Cristo.

Deus te abençoe!

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vada e do Estado. Rio de Janeiro: Editorial Vitória Ltda., 1964.

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