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Ao longo de sua atuação, a cultura sempre foi um tema Partimos do pressuposto de que o direito à educa-
presente nas atividades desenvolvidas pelo Cenpec. A ção e à proteção social deve estar articulado a uma po-
experiência consolidada em quase duas décadas de tra- lítica cultural fundamentada no reconhecimento das di-
balho levou a organização a inaugurar, em 2004, a área ferenças, da heterogeneidade das pessoas e dos grupos,
de Educação e Cultura, que trata de articular as noções de numa política social e econômica de promoção da igual-
cultura, identidade e patrimônio cultural na efetivação dade de direitos e de redistribuição da riqueza material
de uma educação voltada para a cidadania. e simbólica socialmente gerada.
As diretrizes da área Educação e Cultura do Cenpec, A cidadania tem, como princípios, o direito, o dever e
cujo “material de trabalho” é constituído pelas diferen- a participação nas instâncias de decisão sobre os rumos
tes dimensões da vida cultural, foram definidas a partir da coletividade. Portanto, ela apenas se realiza efetiva-
das premissas relacionadas no texto “Por que Educação mente com a afirmação, no espaço público, dos diferentes
e Cultura?”. Essas proposições refletem o compromisso patrimônios dessa coletividade. Ou seja, a cidadania im-
do Cenpec de estabelecer um diálogo com o patrimônio plica acesso aos meios para que os diferentes grupos
cultural brasileiro, atuando de modo interdisciplinar na sociais possam fazer circular e reproduzir sentidos, va-
integração entre educação e cultura. lores e costumes, recolocando no tempo e no espaço os
A formação de cidadãos participativos na sociedade laços formadores dos sujeitos, que os ligam a histórias,
brasileira implica a maneira de relacionar educação e pessoas, lugares, processos e estruturas sociais.
cultura. O fortalecimento de diferentes grupos e de suas A construção de relações cidadãs, marcadas pelo re-
culturas possibilita uma maior atuação e participação conhecimento da diversidade, requer a afirmação, se-
para se alcançar uma educação de qualidade na defesa gundo a qual, as identidades são construídas e transfor-
dos direitos e na formulação de reivindicações. Acredi- madas ao longo do tempo, e se fundamentam no reco-
tamos que o reconhecimento das diferenças é condição nhecimento da partilha de elementos de patrimônio, no
para se alcançar uma maior igualdade social. reconhecimento daquilo que enlaça nossas biografias, na
Os objetivos, princípios, foco e ações, descritos em percepção de que temos, como parte de nós, traços cul-
seguida, orientam o trabalho inaugural da área Educação turais que os outros também têm.
e Cultura do Cenpec, o projeto Terra Paulista: histórias, Somos um país mestiço, São Paulo é um estado mes-
arte, costumes. tiço. Reconhecer a diferença como algo intrínseco a cada
um de nós é admitir que incorporamos características,
valores ou costumes de grupos europeus, asiáticos,
Objetivos indígenas, africanos e de outras regiões do Brasil. Articu-
lar o reconhecimento da diferença com a promoção da
1. Discutir e integrar as noções de cultura, identidade igualdade de direitos é perceber essas diferenças com
e patrimônio cultural como os fundamentos para a os mesmos valores e direitos com os quais fazemos cir-
concretização de uma educação para a cidadania, cular os modos de atribuir sentido ao mundo e ocupamos
apoiada no tripé: educação, cultura e proteção os espaços sociais: públicos, virtuais e, especialmente,
social. na mídia.
Foco
A inclusão social é considerada, na relação educa-
ção e cultura, como princípio norteador para se alcançar
a melhoria da educação pública e o aprimoramento das
políticas sociais. Nesse sentido, considera-se fundamen-
tal a inclusão dos diferentes legados dos patrimônios
Coleção Terra Paulista
natural, material e imaterial, de modo que a instância
local esteja articulada com as instâncias mais abrangen-
tes, como a regional, nacional e global. Para a inclusão volume 1 Os paulistas em movimento
desses legados, são valores centrais o seu reconheci- Bandeiras, monções e tropas
mento e a sua valorização, considerando-os iguais no
volume 2 Açúcar, café, escravos e imigrantes
direito de difundir seus sentidos e modos de vida. A vida nas fazendas paulistas
volume 3 A vida caipira em São Paulo
Ações Permanência no tempo
volume 4 Famílias paulistas
• Conhecimento, reconhecimento e divulgação dos
Múltiplos arranjos
diferentes espaços educativos.
volume 5 Moradias dos paulistas
• Formação continuada dos agentes culturais, sociais
Das fazendas às vilas operárias
e educacionais.
• Construção de metodologias de trabalho. volume 6 Costumes no interior paulista
Alimentação e vestuário
volume 7 A formação da metrópole
Meios de atuação A capital e as relações com o interior
• Elaboração de projetos com alcance amplo, de modo volume 8 A literatura do interior
a difundir essas idéias por meio de diversos supor- Causos, contos e romances
tes, como livros, documentos, revistas, exposições, volume 9 Artes plásticas e artesanato
Internet, CD-ROM, entre outros. Cores e formas do interior
• Participação em diferentes eventos e busca de apoio volume 10 As celebrações populares
nas diferentes mídias para concretização dessa di- Festa, dança e música
vulgação. vídeos Vale do Médio Tietê
Vale do Paraíba
Ao investigar, registrar e valorizar o patrimônio cul- estrangeiros e migrantes de outras regiões do Brasil
tural do interior paulista, não pretendemos propor uma que se relacionaram, entraram em conflito, fizeram
volta ao passado e muito menos definir as tradições, acordos e definiram o legado paulista que nos formou.
os costumes e os valores paulistas como os melhores e Fazem parte de nossa formação influências de outras
mais corretos. Longe disso, o nosso intuito é estimular regiões do Brasil e de povos asiáticos e europeus — ibé-
um olhar crítico — e, ao mesmo tempo, humanizado ricos, italianos, franceses, ingleses e outros —, além
— para a formação sociocultural do interior paulista. das marcas do desenvolvimento econômico e político
Esse olhar nasce da percepção de que, na repre- norte-americano.
sentação hegemônica sobre o Estado de São Paulo, A terra paulista, mostrada nos produtos do projeto,
valorizara-se o moderno, o industrial, o urbano, o é uma terra plural, feita por gente muito diferente.
século XX republicano ou as raízes bandeiristas do Feita por pessoas que têm em si mesmas — em suas
período colonial. Com essas idéias, o passado pau- ambigüidades, riquezas e contradições — a expressão
lista tornou-se sinal do atraso e da desordem; o rural dessa diversidade.
passou a simbolizar o precário. O homem simples e Valorizamos toda essa diversidade e pluralidade de
todo o seu vasto legado cultural de raízes imemoriais experiências e de legados formadores do imenso patri-
foram representados como a negação da modernidade, mônio cultural paulista. Para nós, a configuração dos
a antítese da civilização e do progresso. modos de ser paulista não é algo cristalizado e nem a
Esses legados, no entanto, não desapareceram. idealização de uma época da história isolada e pura,
Eles continuam a se reproduzir, ora fortes e intensos, como a marca de uma pretensa originalidade.
ora enfraquecidos e residuais. Outras experiências e É desse modo que pretendemos responder ao desa-
modos de existir, integrantes da história dos paulistas, fio contemporâneo de fortalecer práticas de convívio
não entraram, sobretudo, naquilo que não coube na com o diferente, reconhecendo no seu passado e no
representação de São Paulo como uma locomotiva do seu presente um acúmulo de experiências possíveis
progresso. de enriquecer as nossas vidas e fornecer novas possi-
Tanto nas investigações sobre o passado quanto nos bilidades para a construção do futuro.
registros de aspectos da vida cultural do presente, Por meio do olhar para a história e da investigação
pretendeu-se a compreensão dos diferentes modos sobre nós mesmos, o diferente e os traços específicos
de viver dos paulistas de diferentes regiões. O que eles podem ser reconhecidos como nossa riqueza. A valo-
fazem? O que pensam sobre si e sobre os outros? Como rização de nosso patrimônio e a abertura para novas
olham para sua própria história? influências podem ser a chave para darmos conta de
Procurou-se pelos protagonistas dessa história e um imenso desafio contemporâneo: recolocar o tradi-
pelo seu olhar sobre o que fazem. Protagonistas hu- cional na modernidade e, ao mesmo tempo, transfor-
manizados e, portanto, pessoas comuns. mar essas tradições com os outros tantos legados que
Nossa preocupação constante foi no sentido de se apresentam a nós.
olhar para a história a partir desses personagens. Portanto, é dessa maneira que a área Educação e
Assim, a diversidade cultural paulista foi um tema cen- Cultura do Cenpec pretende intervir no debate público
tral e sempre presente nos vários grupos culturais que sobre a história e o patrimônio cultural. E, se assim
povoaram e definiram a gente paulista, e nos diferen- fazemos, é porque entendemos todo o potencial des-
tes influxos que marcaram sua história. sa ação na formação de representações sobre toda a
São tropeiros, bandeirantes, monçonenses, fazen- sociedade e, por extensão, sobre o que deve ou não
deiros, sitiantes, escravos, indígenas, religiosos, colo- ser ensinado e reproduzido na história.
nos, camadas médias urbanas, empresários, imigrantes