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VIOLÊNCIA SEXUAL
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INTRODUÇÃO
A violência sexual não decorre do desejo sexual ou amoroso. Ao contrário, é uma de-
monstração extrema de poder do homem sobre as mulheres e crianças nos seus corpos, tra-
tados objetos das suas autonomia como sujeitos. É também uma forma de agressão entre
homens.
A violência sexual afeta vários segmentos da sociedade e requer ação urgente. As mu-
lheres são as principais vítimas, sofridos inúmeras implicações, que pode gerar inúmeras impli-
cações. Assim, o papel dos serviços de saúde é essencial para o enfrentamento deste proble-
ma e para garantia do acesso, longitudinalidade e integralidade da atenção.
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No campo das garantias legais foi aprovada, no Brasil, a Lei 13.431, de 14 de abril de 2017
que estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou teste-
munha de violência. Destaca-se, no seu quarto artigo, a declaração das diferentes formas de
violência contra crianças e adolescentes. De acordo com a Lei, a violência sexual é “entendida
como qualquer conduta que constranja a criança ou o adolescente a praticar ou presenciar
conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo em foto ou
vídeo por meio eletrônico ou não”.
Em nosso país, o Programa Nacional
de Enfrentamento da Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes (2010), por meio do
Disque Direitos Humanos (Disque 100), rece-
be notificações de casos de violência sexual
contra crianças e adolescentes. Este reposi-
tório de dados, mesmo considerando a enor-
me subnotificação, descortina a magnitude
deste problema. Vejamos: no período refe-
rente a maio de 2003 e março de 2010 foram
identificadas 214.689 vítimas registradas nas
notificações de violência sexual, negligência,
violência física e psicológica. Dentre os casos
de violência sexual, 38% foram de vítimas do
sexo masculino e 62% do sexo feminino, indicando maior notificação de casos de meninas, não
sendo possível afirmar que os casos com meninos sejam em menor número. Importante des-
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tacar que, não obstante não se tenha um panorama real da prevalência da violência sexual
contra crianças e adolescentes, sabe-se que a maioria dos casos ocorrem no âmbito domiciliar,
ou seja, os agressores são pessoas que possuem laços afetivos ou de consanguinidade com
as vítimas.
Evidências apontam similaridades e complementaridades no modo de acontecer a vio-
lência sexual praticada contra crianças e adolescentes. Nesta perspecti-
va, HOHENDORFF ET AL (2017) propuseram um “modelo integrativo”
conceitual, compreendido em seis estágios ou fases, que auxiliam
o entendimento de toda a complexidade, apontando caminhos
para a interposição de estratégias para seu enfrentamento:
» 1. Preparação: os agressores sexuais, geralmente pessoas
conhecidas pela vítima, buscam estreitar laços com a crian-
ça/adolescente, com objetivo de conquistar maior confiança
e afeto. Para tal, podem utilizar comportamentos de gentileza,
atenção e presentes, bem como criar repetidas situações para
que fiquem a sós. Quando percebem que a criança/adoles-
cente confia e tem afeto por eles, os episódios de violência
sexual são iniciados.
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deliberadamente narra o que ocorreu para alguma pessoa com o intuito de obter ajuda;
e acidental, quando a narrativa ocorre de forma involuntária, ou seja, por conta de sinais
emitidos pela vítima, pelo seu relato espontâneo, quando ainda não sabia do caráter sexual
da interação ou quando alguém presencia algum episódio de violência sexual.
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encaminhamentos para os atendimentos médicos e psicossociais, sendo estes direitos das ví-
timas (BRASIL, 1990). A denúncia pode ser feita de forma presencial, no Conselho Tutelar mais
próximo ao local em que o profissional trabalha, pelo Disque 100, de maneira anônima ou não,
ou ainda pelo aplicativo “Proteja Brasil”. Importante destacar que, depois da denúncia, cabe ao
profissional acompanhar o caso. Deve-se acompanhar a criança/adolescente vítima e sua fa-
mília, buscando certificar-se se teve acesso à rede de atendimento e proteção e verificar se os
encaminhamentos médico e psicossocial, determinados pelo ECA, foram realizados.
As equipes devem conhecer as Redes de Proteção que encerram diferentes serviços
dos âmbitos da saúde, da assistência social e da justiça. É fundamental que as equipes tenham
conhecimento da estruturação e dos serviços destas Redes em seu território e/ou município e
que elas sejam, realmente, integradas e que planejem ações conjuntas.
Serviços da Rede de Apoio às vítimas da violência sexual - crianças e adolescentes - en-
contram-se em diferentes setores, portanto, as ações coordenadas perpassam por grandes
desafios. Estes serviços são regidos por diretrizes do ECA, do Sistema Único de Assistência
Social (SUAS), do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Judiciário. Nesta interdisciplinari-
dade desafiadora faz-se necessário que todos os profissionais que integram as Redes tenham
conhecimento específico sobre suas responsabilidades, mas que também busquem conheci-
mento sobre as demais disciplinas, tendo uma visão ampla e geral, ao invés de específica à sua
atuação.
A Figura 2 demonstra os as rotas e as intersecções das Redes de Apoio às vítimas da vio-
lência sexual: crianças e adolescentes.
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Os dados são assustadores. Para além deles, assusta também a ausência de debates na
sociedade e de engajamento para proteger as vítimas.
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» Indução da vontade: Nesse método, não serão usados força física ou ameaças para efeti-
var o abuso sexual, mas sim a indução da vontade.
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Nesta triste invisibilidade, em que não predominam as queixas caracterizadas pelo ado-
ecimento biológico, incluindo os sintomas característicos das patologias costumeiras, eviden-
ciam-se os obstáculos comunicacionais. Tal contexto culmina por inviabilizar o diagnóstico da
situação de violência, bem como da atenção necessária, sob a responsabilidade das equipes
multiprofissionais. Para que se consiga desvelar a situação de violência sexual é fundamen-
tal que os profissionais tenham interesse e
desvinculação ao juízo de valor, com atitu-
de de não vitimização e apoio à mulher, re-
conhecendo a situação de violência como
relevante ao campo de atuação em saúde
(D’oliveira & Schraiber, 2013).
Dados brasileiros apontam prevalên-
cias que variam entre 40,4%, em pesquisa
com mulheres de 18 a 39 anos de idade e
12,4% entre aquelas de 19 a 60 anos de ida-
de. A maior prevalência ocorre no conjunto
das adolescentes entre 10 e 14 anos de ida-
de (66%), predominantemente do sexo feminino (91%). As adolescentes entre 10 e 14 anos de
idade estão mais sujeitas à violência sexual perpetrada por familiares, e entre 15 e 19 anos de
idade são os conhecidos e/ou amigos que praticam a violência sexual (Souza et al, 2014).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2012), evidencia-se irrelevante esforço
governamental para a prevenção da violência sexual e doméstica. Assim, serviços de saúde
bem planejados, adequadamente implantados e com equipes preparadas continuarão a ter
grande importância. Deve-se atuar na prevenção da violência sexual e, desta forma, será pos-
sível reduzir a carga de sofrimento, além dos custos humanos, econômicos e de saúde pública.
Os serviços de atendimento e os esforços de prevenção primária às vítimas devem ser acerta-
damente documentados para que possam ser avaliados quanto à eficácia.
O preparo e a qualificação dos pro-
fissionais da área da saúde para lidarem
com estas demandas são fundamentais. A
Educação Permanente ou as capacitações
transversais são imprescindíveis para traze-
rem à luz estas discussões. É indispensável
que as equipes da Atenção Básica, da Ur-
gência e Emergência e de outras esferas
especializadas tenham competência sufi-
ciente para receberem, investigarem, iden-
tificarem, acolherem, notificarem, conduzi-
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» Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher, Linha de Cuidado para a Atenção à Saúde
de Crianças, Adolescentes e suas Famílias em Situação de Violências, dentre outros (Minis-
tério da Saúde, 2010b);
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» Polícia Civil e Militar: delegacia comum, que deve registrar toda e qualquer ocorrência ad-
vinda de mulher vítima de violência e encaminhá-las aos serviços da Rede.
» Instituto Médico Legal: atua na coleta ou validação de provas que serão necessárias para o
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» Serviços de Saúde voltados para o atendimento dos casos de violência sexual: presta as-
sistência multiprofissional e social às vítimas de violência sexual, bem como na interrupção
da gravidez, conforme prevista em lei.
Ainda na perspectiva da publicização dos serviços das Redes de Atenção à mulher ví-
tima da violência sexual, a Fundação de População das Nações Unidas (UNFPA: https://www.
unfpa.org), como forma de comunicação digital para facilitar o acesso à informação e divul-
gação sobre os programas de enfrentamento à violência contra a mulher, criou a “Plataforma
Mulher Segura”. Nesta plataforma é possível realizar a busca por canais de apoio em todo o
Brasil, incluindo os principais serviços ofertados pelos estados e municípios. Além de facilitar
o acesso aos serviços especializados, apresenta caminhos para ruptura do ciclo de violência,
por meio de processos formativos e possibilita a interação com a plataforma, permitindo indicar
programas de apoio que ainda não estão no site.
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REFERÊNCIA
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/L13431.htm.
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