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Abuso sexual na infância e suas repercussões na

vida adulta
Jéssica Riélly Katchorovski| Géssika

Wroblewski| Regiane Bueno Araújo


Publicado em 11/2018. Elaborado em 10/2018.
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 DIREITO PENAL
 DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
 DIREITO DA SEGURANÇA PÚBLICA
 CRIMES CONTRA A VIDA

Saiba um pouco sobre os reflexos e transtornos sofridos por


adultos que, quando crianças, foram vítimas de abuso e
violência sexual.
RESUMO: O objetivo geral deste trabalho é relatar os transtornos
decorrentes em crianças abusadas e violentadas sexualmente e suas
repercussões na vida adulta, através de uma narrativa. Para a
realização do presente artigo, usou-se de estudos realizados através
de livros, artigos científicos e pesquisas já publicadas por outros
autores, que auxiliaram no maior entendimento do tema.

Palavras-chave: Violência sexual, Psicologia Jurídica, Abuso Sexual.

1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa a proporcionar aos acadêmicos
uma reflexão contextualizada, conferindo-lhe condições,
fortalecendo e ampliando seus conhecimentos e repertórios, e,
principalmente, buscar entender alguns dos transtornos
gerados pelo abuso sexual em crianças e a forma que se deve
realizar o tratamento psicológico.

“O abuso sexual deixa a maioria das pessoas incomodadas.


É triste pensar que os adultos causem dor física e psicológica
nas crianças para satisfazer seus próprios desejos,
especialmente quando esses adultos são amigos confiáveis
membros da família.” (Watson, 1994, p.12, ).
A violência sexual é qualquer ato ou jogo sexual, relação
heterossexual ou homossexual cujo agressor está em estágio
de desenvolvimento psicossexual mais adiantado que a criança
ou o adolescente. Sua intenção é estimulá-la sexualmente ou
utilizá-la para obter satisfação sexual. Apresenta-se sob a forma
de práticas eróticas e sexuais impostas à criança ou ao
adolescente pela violência física, ameaças ou indução de sua
vontade. Esse episódio violento pode variar desde atos que não
se produzem o contato sexual (exibicionismo, produção de
fotos), até diferentes ações que incluem contato sexual com ou
sem penetração. Engloba também a situação de exploração
sexual visando lucros como é o caso da prostituição e da
pornografia. (BRASIL, 2002; apud GONÇALVES H. S., BRANDÃO,
E. P., 2004)

Segundo PFEIFFER L. e SALVAGNI E. P. (2005) a violência


sexual trata-se de um episódio que atinge todas as idades,
classes sociais, etnias, religiões e culturas e pode ser
considerado como qualquer ato ou conduta baseado no gênero,
que cause dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à
vítima e, em extremos, a morte.

A vivência de situações traumáticas, como o abuso


sexual durante a infância e a adolescência, pode acarretar
sérios prejuízos tanto ao desenvolvimento infanto-juvenil quanto
para a vida adulta, com repercussões cognitivas, emocionais,
comportamentais, físicas e sociais, que variam para cada
indivíduo (Briere e Elliot et al., 2003 apud Rangé B.)

2 DESENVOLVIMENTO
Segundo HABIGZANG, L. F. e KOLLER, S. H. (2011) a
violência sexual contra crianças e adolescentes é apontada
como um problema de saúde pública, devido seus efeitos
negativos para o desenvolvimento cognitivo, emocional,
comportamental e físico das vítimas e por seus altos índices de
ocorrência em diferentes níveis socioculturais. O abuso sexual
tem sido indicado como uma das formas mais graves de
violência, pois frequentemente está relacionado a abusos
físicos e psicológicos.

De acordo com SANDERSON (2004, apud HABIGZANG , L.


F. e KOLLER, S. H. 2011), as estimativas apontam que, uma em
cada quatro meninas e um em cada seis meninos, são vítimas
de alguma forma de abuso sexual antes de completar a
maioridade.

Segundo dados epidemiológicos, a maioria dos abusos


sexuais contra crianças e adolescentes ocorrem dentro da casa
da vítima, se configurando como abuso sexual incestuoso,
sendo o pai biológico o principal culpado. As meninas são as
principais vítimas, principalmente dos intrafamiliares, e a idade
de início dos abusos é precoce, entre os 5 e os 10 anos. A mãe
geralmente é a pessoa mais procurada na solicitação de ajuda,
e a maioria dos casos é revelada pelo menos um ano depois do
início do abuso sexual. (BRAUN, et al., 2002; apud HABIGZANG ,
L. F. e KOLLER, S. H. 2011)

Azevedo e Guerra (1988, apud CAPITÃO C. G., ROMARO R.


A., 2008) averiguaram por meio de pesquisa realizada no
município de São Paulo, que os casos denunciados aos órgãos
públicos são raros. Apenas cerca de 6,5% das vítimas são do
sexo masculino. Nos casos de incestos, 70% das vezes o autor
do abuso foi o pai biológico e que esse tipo de agressão não
ocorre apenas nas camadas menos favorecidas, mas que são
frequentes nas camadas sociais economicamente mais
privilegiadas.

Em uma pesquisa realizada no Brasil, Vaz (2001, apud


CAPITÃO C. G., ROMARO R. A., 2008) relata que 80% das vítimas
de abuso sexual eram crianças e adolescentes do sexo
feminino, sendo que em 75% dos casos relatados, o abusador
era o pai ou padrasto.

Para a maioria dos pesquisadores, o abuso sexual infantil


é facilitador para o aparecimento de psicopatologias graves,
prejudicando a evolução psicológica, afetiva e social da vítima.
Os efeitos do abuso na infância podem se manifestar de várias
maneiras, em qualquer idade da vida (ROMARO; CAPITÃO, 2007,
p. 151, apud FLORENTINO B. R. B., 2015).
A reação da criança diante vai depender da duração do
abuso, já existiu casos de apenas um abuso causar a morte de
uma criança, como outros casos não, e da presença ou
ausência de figuras de apoio para a criança (familiares,
profissionais ou amigos) e da proximidade do vínculo entre a
criança e aquele que a agrediu (agravando a vivência de traição
de confiança). (AMAZARRAY e KOLLER, 1998; BANYARD e
WILIAMS, 1996, apud GONÇALVES H. S., BRANDÃO, E. P., 2004)

Dalgalarrondo (2000, apud FLORENTINO B. R. B., 2015)


aponta que alguns estudos apresentam resultados que
confirmam existir uma forte relação entre ter sofrido abuso na
infância e transtornos de conduta na adolescência e na vida
adulta. Alguns transtornos são classificados como transtorno de
identidade de gênero. Há também os transtornos de preferência
sexual, que incluem as parafilias como fetichismo (dependência
de alguns objetos inanimados com estímulo para a excitação e
satisfação sexual); voyerismo (excitação sexual em olhar
pessoas envolvidas em comportamentos sexuais ou íntimos);
sadomasoquismo (preferência por atividade sexual que envolve
servidão ou a influição de dor ou humilhação); pedofilia
(preferência sexual por crianças púberes); e outras, conforme
descritas na Classificação de Transtornos Mentais e de
Comportamento – CID – 10 (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE,
1993).

Hiperatividade ou retraimento; baixa autoestima;


dificuldade de relacionamento com outras crianças ou com
adultos, acompanhada de reações de medo, fobia ou vergonha;
culpa, depressão, ansiedade e outros transtornos afetivos;
distorção da imagem corporal; enurese e/ ou eco prese;
amadurecimento sexual precoce, ou masturbação compulsiva;
gravidez e tentativas de suicídio tão associadas à violência
sexual. (BERKOWITZ et al, 1994, apud GONÇALVES H. S.,
BRANDÃO, E. P., 2004)

De acordo com BANYARD E AILLIAMS (1996, apud


GONÇALVES H. S., BRANDÃO, E. P., 2004) quando o abuso vem
acompanhado de violência física, as consequências de curto
prazo tendem a ser mais traumáticas, com ansiedade,
depressão e distúrbios do sono.

De maneira evidente, a exposição ao abuso sexual na


infância está associada a prejuízos em longo prazo, exibindo
fator de risco para o desencadeamento de diversas alterações
de ordem psicológica e funcional, entre as quais depressão,
ideias suicidas, ansiedade e transtorno do estresse pós-
traumático. Através de uma pesquisa realizada, as
repercussões devastadoras foram mostradas ao se avaliar a
capacidade de resiliência e auto perdão em mulheres
sobreviventes de abuso sexual na infância, que apresentaram
níveis de desesperança, capacidade para o autoperdão
inferiores e níveis mais elevados de sintomas de estresse pós-
traumático, quando comparados a outras mulheres que
apresentaram as mesmas dificuldades, mas que não foram
abusadas sexualmente na infância. São alterações que variam
em tempo e intensidade, afetam o referencial de vida de
meninas vitimadas e resultam em grandes sofrimentos
emocionais. (CARVALHO E LIRA, et al., 2017)

É fundamental que o psicólogo reconheça com clareza o


seu papel, suas atribuições e as contribuições que pode conferir
ao caso que lhe foi encaminhado (Brito, 2012).

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O tema abuso sexual tem sido amplamente tratado pela
literatura científica, a psicologia tem dedicado grande atenção
nesta área, tendo em vista o envolvimento dos psicólogos no
acolhimento a esta população, realizando escutas e auxiliando
na amenização da dor. O abuso sexual infantil é um dos
problemas de saúde pública, devido à elevada incidência
epidemiológica e aos sérios prejuízos para o desenvolvimento
das vítimas.

Os psicólogos podem utilizar recursos teóricos


específicos e instrumentos de uso exclusivo dos profissionais,
que fortalecem sua atuação na área jurídica em casos tão
complexos como os de abuso sexual contra crianças e
adolescentes, assim sendo bem preparados podem ser agentes
ativos na escuta qualificada e na fala sem dano em casos
delicados de abuso sexual infantil.

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