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Exploração e abuso sexual infanto juvenil: mitos e verdades, realidades e

consequências

"Eu fui tão machucada que tenho medo de


ficar perto das pessoas". Luana* 06 anos

Está frase de Luana faz parte da campanha de 2015 de combate à exploração e abuso
sexual, a menina de apenas 6 anos foi violentada sexualmente, isso a levou a ter medo das
pessoas e não querer ficar por perto, é compreensível o sentimento da pequena, pois as etapas
da infância e adolescência são essências no desenvolvimento, os acontecimentos de tais
períodos podem acarretar marcas positivas e negativas para o resto da vida, por isso é necessário
que a sociedade se interesse em discutir e procurar alternativas para combater a exploração e o
abuso sexual contra crianças e adolescentes.
Com base nisso, dia 18 de maio no Brasil, faz-se campanhas de conscientização sobre
exploração e abuso sexual contra crianças e adolescente. A data escolhida faz menção, de um
ocorrido marcante no país. Em 18 de Maio de 1973, Aracelli de oito anos foi vítima de um
crime horrível, que até hoje permanece impune, a menina foi sequestrada, drogada e abusada
sexualmente, e depois de morta teve seu corpo queimado por jovens da classe média alta, da
cidade de Vitória, no Espirito Santo.
Após 27 anos do ocorrido, em maio de 2000, sanciona-se a Lei 9.970 que institui o
Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual Infanto-juvenil. Desde então, a
sociedade brasileira em defesa dos direitos das crianças e adolescentes promovem atividades
em todo o país para conscientizar a sociedade e as autoridades sobre a gravidade da violência
sexual.
No atendimento as vítimas são necessárias o acompanhamento de psicólogos,
assistente social, conselho tutelar e assistência jurídica. O psicólogo poderá ajudar a lidar com
o processo, sendo apoio e contribuindo para a que a criança supere o ocorrido. O assistente
social será de grande valia, juntamente com o conselho tutelar e a assistência jurídica para
defender os direitos da criança e adolescente e fazendo com que haja justiça sobre o agressor.
De acordo com o conhecimento empírico, é comum associar que o abuso sexual é
somente a prática do estupro, isso é mito, pois além da ocorrência de penetração, atos como
manipulação de órgãos sexuais, exibicionismo e pornografia também são considerados abusos.
Normalmente acredita-se que grande parte dos abusos são cometidos por estranhos,
porém a realidade é que a maioria são praticados por membros da família (incesto) ou por
pessoas consideradas confiáveis, o que dificulta ainda mais a denúncia, pelo fato da criança
temer retaliação. De acordo com dados, a violência ou abuso sexual extrafamiliar (cometido
por autor sem vínculo familiar) acontece mais em adolescentes do que em crianças.
Seguindo a ideologia dos mitos, pensa-se que a criança não se recordará do abuso e
crescerá sadia, a verdade é que mesmo sem se recordar de tudo, a vítima sofrerá os efeitos da
situação abusiva, mesmo que seja inconscientemente. A consequência na vida das vítimas são
várias, elas podem ter dificuldades de manter relações afetivas, sexuais e amorosas saudáveis,
frequência de emoções negativas, perda da autoestima, envolvimento em prostituição, uso de
álcool ou drogas, dificuldade de inserção na vida social, sentimento de inferioridade, culpa e
grande chance de desenvolver depressão. (LAVAREDA E MAGALHÃES, 2015)
É comum que o abusador possuía como traços uso abusivo de álcool e drogas, sedução
para com crianças, dominação e superproteção familiar, solidão e dificuldade de
relacionamento familiar e agressividade. No entanto não é possível definir o perfil do agressor,
ele pode apresentar todas essas características ou nenhuma delas, por isso quebra-se o mito de
que todo agressor tem características reconhecíveis, pois pode ser qualquer pessoa.
Ao contrário do que se pensa muitos pais e professores estão desinformados sobre
abuso sexual de crianças, sendo assim é necessário divulgar sinais de alerta de suspeitas, tais
como: depressão, agitação e medo, perda involuntária de urina e fezes, regressão da linguagem
e do comportamento, queda do rendimento escolar, hemorragias, cicatrizes pelo corpo,
comportamento sedutor, atividade auto erótica compulsiva e dores psicossomáticas.
É primordial relatar tais mitos do abuso sexual contra crianças e adolescentes,
mostrando a realidade deste problema social, outros são: “se a criança se retrata em relação ao
abuso é porque não ocorreu o fato”, isso não é verdade pois muitas crianças se retratam em razão de
ameaças, intimidações, vergonha e sofrimento dos pais, é comum também que elas não entendam o
que está acontecendo. “A criança ou o adolescente cooperou com o ofensor”, porém o que acontece
é que o abusador envolve as vítimas, conquista a confiança das mesmas, dá presentes, compra coisas
que elas gostam. “Os danos causados pela violência sofrida pela criança ou adolescente são
irrecuperáveis”, não é assim, a recuperação depende da capacidade de resiliência particular de cada
um, de lidar com o que ocorreu e conseguir se fortalecer.
Diante do que foi exposto, considera-se que a exploração e abuso sexual contra crianças e
adolescentes ainda é um problema social grave, para tanto é necessário promover estratégias de
combate a esta violação dos direitos infantis, promovendo educação protetiva, ensinando os pequenos
a respeito de seu corpo, informando que ninguém pode tocar-lhe sem permissão, trabalhando diálogo
e confiança na tríade (criança, escola e família). E desta forma, fazer do dia 18 de maio, uma
conscientização diária na sociedade.
Referências
___________. Campanha Faça Bonito. Disponível em: <https://www.facabonito.org.br/a-
campanha> Acesso em 25 de maio de 2019.
___________. Cartilha Abuso Sexual: Mitos e Realidade. 3ª edição, revisada, ampliada, atualizada.
Editora AUTORA & AGENTES & ASSOCIADOS Disponível no sítio eletrônico:
<http://www.observatoriodainfancia.com.br/IMG/pdf/doc-116.pdf> Acesso em 26 de maio de 2019
___________. EBERSH, Abuso sexual. Disponível em:
<http://www2.ebserh.gov.br/documents/214336/1105792/Cap%C3%ADtulo-1-Abuso-
Sexual.pdf/2958ecda-fceb-42d1-a7e2-04f71133234b> Acesso em 25 de maio de 2019.
___________. Último Segundo – iG. Disponível em: <https://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2015-
05-21/campanha-usa-frases-de-criancas-vitimas-de-estupro-para-incentivar-denuncias.html> Acesso
em 25 de maio de 2019
LAVAREDA, R. P., MAGALHÃES, T. Q. Cartilha de Violência Sexual contra Crianças e
Adolescentes: identificação e enfrentamento. 1ª Ed, 2015. 2015 Ministério Público do Distrito
Federal e Territórios – MPDFT.

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