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Oi!

Eu sou a Roseli Mendonça autora do livro “Meu corpo, meu


corpinho!” publicado pela Editora Matrescência. Um livrinho que
nasceu da dor e do amor. Da dor que vi nos inúmeros relatos de
crianças, jovens e adultos vítimas de abuso sexual na infância. Tais
narrativas me fizeram em pedaços e me provocaram a fazer alguma
coisa. Do amor de uma mãe que deseja que sua cria tenha uma
infância digna, segura e feliz longe das estatísticas da violência, mas
que também estende sua preocupação e seu desejo de ajudar às
crianças de outros colos, de preferência, a todas elas.
Meu corpo, meu corpinho! É um livrinho que fala com as
crianças, mas não fala sozinho. Na verdade, através de seus versos,
ele abre espaços para que você conduza diálogos mais profundos
sobre proteção, intimidade e privacidade do corpo. Mas é preciso
um adulto seguro e confiante para oferecer uma educação sexual
adequada.
Por isso esse e-book fala com você adulto de confiança. Você é
o “alguém especial” do seu pequeno. Essa é a nossa conversa tão
necessária, a que eu gostaria de ter com você, aí na sua sala, antes de
lhe entregar o meu livrinho.
Aqui você terá informações essenciais para conduzir esse
processo de educação sexual com seus filhos. Certamente, você sairá
dessa leitura mais confiante, leve e ansiosa para começar a por em
prática tudo o que aprendeu. Ajeite-se aí e vamos conversar!
Antes, ALGUNS DADOS
IMPORTANTES

Conforme dados do Ministério da Saúde 1, entre


2011 e 2017, 58 mil crianças foram vítimas de abuso sexual.
Quase 70% desses casos aconteceram dentro das casas das
vítimas. 51, 2% das delas tinham idade entre 1 e 5 anos. A
avaliação das características da violência sexual contra
crianças mostrou que 33,7% dos eventos tiveram caráter de
repetição. A maior parte das crianças abusadas era do sexo
feminino, 74, 2% do total. Em 81,6% dos casos, o agressor
era do sexo masculino e, em 64,6 % deles, o autor do
crime tinha vínculo familiar com a vítima ou era um amigo
ou conhecido.
Em 2018, conforme dados do Disque 100 2 foram
registradas um total de 17.093 denúncias de violência
sexual contra menores de idade. 13.418 casos eram de
abuso sexual e 3.675 de exploração sexual. Nos registros
do sistema de saúde3 sobre estupro, 68% referem a vítimas
até 13 anos de idade, quase um terço dos agressores das
crianças são amigos e conhecidos da vítima e outros 30%
são familiares mais próximos como pais, mães, padrastos e
irmãos. Além disso, quando o perpetrador era conhecido
da vítima, 54,9% dos casos tratam-se de ações que já
vinham acontecendo anteriormente e 78,5% dos casos
ocorreram na própria residência
Os dados do Disque 100 para o 1° semestre de 2019
apontam somente nos primeiros meses de 2019 foram
notificados 4736 casos de violência sexual.
Os números são alarmantes e poderiam ser ainda
maiores, pois conforme o portal na internet da instituição
Childhood Brasil, em nosso país a disponibilização de
dados para mensurar o tamanho real do fenômeno da
violência sexual contra crianças e adolescentes ainda é
muito incipiente. Seja porque existe uma falta de
integração dos órgãos responsáveis e despadronização dos
dados coletados ou até porque, mesmo com estes
números de notificações e denúncias, ainda há um grande
problema a ser enfrentado: a subnotificação. Estima-se que
apenas 10% dos casos de abuso e exploração sexual contra
crianças e adolescentes sejam, de fato, notificados às
autoridades

1. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Boletim


Epidemiológico, Brasília, Vol. 49, n. 27, Jun. 2018.
2. BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Balanço Geral 2011
ao 1º semestre de 2019 - Crianças e Adolescentes. Brasília, DF. 2019. Disponível em:
https://www.mdh.gov.br/informacao-ao-cidadao/ouvidoria/balanco-disque-100
3. IPEA. Atlas da violência 2018. Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/180604_atlas
_da_violencia_2018.pdf

O abuso sexual é fenômeno universal que
atinge, indistintamente, todas as classes
sociais, etnias, religiões e culturas. Sua
verdadeira incidência é desconhecida,
acreditando-se ser uma das condições de
maior subnotificação e subregistro em
todo o mundo. Apesar do tímido
percentual de denúncias, a violência
sexual é cada vez mais reportada,
estimando-se que acometa 12 milhões de
pessoas a cada ano, em todo o mundo.


Drezzet, 2001.
O relatório de 2018 da Unesco, braço das Nações Unidas para a
educação, contém uma revisão de estudos do mundo todo feita por
pesquisadores da Universidade de Oxford apontando que quanto
mais informada for a criança, mais protegida ela estará do abuso
sexual.

E ESSA INFORMAÇÃO QUE


QUE DEVEMOS DAR ÀS CRIANÇAS NÃO SE
TRATA DE TRAZER CONTEÚDOS INADEQUADOS À IDADE. MAS DE
ORIENTÁ-
ORIENTÁ-LAS SOBRE CUIDADO, PROTEÇÃO, PRIVACIDADE E
INTIMIDADE. É TRATAR SUAS CURIOSIDADES COM NATURALIDADE,
ACOLHER SUAS DÚVIDAS E CRIAR UM CANAL DE COMUNICAÇÃO
LIVRE ENTRE
ENTRE PAIS E FILHOS.

Ensinamos aos pequenos sobre como atravessar a rua em


segurança, explicamos que mexer com fogo é perigoso, que é preciso
ter muito cuidado ao entrar na piscina. No entanto, pouco falamos
sobre como se protegerem do abuso sexual. Mas Roseli, eu falo todos
os dias para meu filho: “não deixem ninguém tocar em você, se
alguém fizer alguma coisa com você, você conta". Isso não é ensinar
proteção? Sim, de fato, essa é a mensagem resumida que queremos
transmitir as crianças. Porém dizer apenas assim, pode não surtir o
efeito que queremos, sabe por quê? Porque crianças têm seu modo
particular de aprender. Dizer e repetir somente essa frase pode até
ser mais bem assimilado por crianças maiores, as menores, no
entanto, podem não compreender tão bem como gostaríamos.
Crianças aprendem brincando, através de repetições. De forma
lúdica. Para serem alfabetizadas, por exemplo, desenham a letra,
pintam, fazem colagens e não apenas ouvem da professora: “Está
vendo isso aqui? é um A, toda vez que você vir isso aqui, vai dizer que
é um A.” Toda a pedagogia empregada na alfabetização infantil é
elaborada sobre a fase do desenvolvimento da criança.

SE QUISERMOS ENSINAR PREVENÇÃO AO ABUSO


SEXUAL AOS NOSSOS FILHOS DE MANEIRA EFICAZ,
PRECISAMOS AMPLIAR AS NOSSAS ESTRATÉGIAS
DE DIZER “NÃO DEIXE NINGUÉM TOCAR O SEU
CORPO DE MANEIRA INDEVIDA”

Abuso sexual é quando
um adulto ou
adolescente mais velho
envolve a criança em
alguma atividade sexual
seja à força ou através de
sedução com o objetivo
de obtenção de prazer
sexual.


APRAPIA, 2002
O QUE É O ABUSO SEXUAL
No abuso sexual haverá sempre uma gratificação sexual e uma
relação desigual de poder em que o abusador terá maior idade ou
capacidade física. É importante entender que nem sempre o abuso
será forçado, visto que a sedução é a maior estratégia para
despotencializar a criança de contar para alguém. Pois a criança se
sente culpada por sentir alguma sensação prazerosa e o abusador
usará disso para convencê-la de que houve consentimento.
Não “alfabetizar” a criança sobre seu corpo, deixando de ensiná-
la conceitos de privacidade, intimidade e proteção, cria uma brecha
para a ação de abusadores.

Tipos de Abuso Sexual


O abuso sexual pode ocorrer no meio intrafamiliar, quando o
agressor faz parte da família da vítima, e no meio extrafamiliar,
quando não há vínculo parental, na maioria das vezes é um
conhecido e alguém de confiança da criança (responsáveis por
atividades de lazer, por exemplo). Além disso, pode acontecer com
ou sem contato físico.
COM CONTATO FÍSICO SEM CONTATO FÍSICO
Tocar partes íntimas para obter satisfação sexual; Estimular a criança a praticar atividades sexuais
com outra pessoa, adulto ou criança;
Tocar ou beijar a boca da criança para obtenção
de prazer; Contar histórias eróticas ou fazer comentários de
natureza sexual para estimular ou chocar a criança;
Brincar de jogos sexuais (imitar posições sexuais,
colo, “brincadeira só nossa”); Expor a nudez ou atividade sexual à criança para
satisfação sexual;
Pedir ou forçar a criança a tocar nos genitais;
Pedir ou forçar a criança a expor sua nudez para
obtenção de gratificação sexual.
Mitos relacionados ao abuso sexual

Ideia da casa como um lugar unicamente protetivo, ao passo que a


rua e as pessoas desconhecidas são vistas como fatores de risco.
“Ninguém da minha família seria capaz de fazer uma coisa dessas.”

Os dados estatísticos apontam que em aproximadamente 70%


dos casos o abuso ocorre no ambiente familiar, em situação de
parentesco ou proximidade. Essa convivência com seus agressores
provocam na criança sentimentos de medo e desamparo,
perpetuando esta violência. Nesses casos, o abuso sexual não diz
respeito somente ao agressor e a vítima, mas à família inteira.

Suposta incapacidade das pequenas vítimas em “falar a verdade”.


verdade”

Quando a vítima é uma criança, se diz que elas podem mentir


ou fantasiar sobre a violência. No caso de vítimas adolescentes,
considera-se sua acusação suspeita, pois eles teriam discernimento
para recusar o abuso sexual. Assim, a criança ou adolescente é vítima
duas vezes: pelos abusos sexuais e pela incredulidade dos adultos.
Isso contribui para que esta forma de maus tratos seja uma das mais
ocultadas, uma vez que a vítima tem medo de falar e o adulto de
ouvir. Instala-se um muro de silêncio e sofrimento.
3

Meu filho não corre riscos, sei muito bem protegê-


protegê-lo.

A proteção que oferecemos aos nossos filhos é essencial, seu


papel é, no entanto, o de diminuir os riscos, pois infelizmente todas
as crianças correm riscos. Não há ambiente totalmente seguro.

Suposição de que o trauma infantil tende a ser esquecido com o


passar do tempo.
tempo

Muitas teorias sobre o desenvolvimento humano apontam a


plasticidade emocional da criança e do adolescente, entretanto,
pesquisas sobre as consequências do abuso sexual indicam que o
grau de reversibilidade das marcas deixadas pelo abuso sexual varia
de acordo com a idade da vítima, a duração e o tipo do abuso, o grau
de violência e a relação com o abusador e o cuidado disponibilizado.
Na ausência de acompanhamento adequado é comum o agravamento
dos sintomas, tais como transtornos de ansiedade e depressivos,
agressividade, distúrbios alimentares, problemas escolares,
retraimento a figuras masculinas, isolamento social, erotização do
comportamento, problemas sexuais.

Achar que o abusador é um monstro

Ainda que dados estatísticos pareçam traçar o perfil do


abusador, na verdade, na vida cotidiana ele pode ser qualquer pessoa.
Lembre-se sempre disso!
Homens, mulheres, familiares amigos, vizinhos, conhecidos,
desconhecidos, líderes religiosos de qualquer denominação, qualquer
tipo de profissional ou cuidador que lide com crianças, entre outros.
Qualquer um pode ser um abusador.
Claro que expressamos nossa indignação diante de casos de
abuso dizendo que essas pessoas não têm coração, que são monstros.
O problema é passar essa mensagem às crianças. Isso faz com que
não reconheçam o risco diante da solicitação imprópria por parte de
pessoas de seu convívio e confundam abuso com carinho.

Fatores de risco

Os abusadores procurarão as crianças mais vulneráveis para as


aliciar. Muitas pesquisas mostram que o fator fragilidade
socioeconômica está presente na realidade de grande parte das
vítimas, entretanto, existem outros fatores que potencializam os
riscos de abuso.

Ambiente familiar com presença de violência física, verbal, psicológica e


que, além disso, não valida à fala e as emoções da criança.

______________________

A criança que apanha de seus pais dificilmente contará que


sofreu um abuso, pois o abusador tentará convencê-la de que não vão
acreditar nela e que receberá uma surra. Da mesma forma o medo se
instala quando os pais são desrespeitosos na maneira de falar com
seus filhos, contribuindo para quadros de baixa autoestima, uma
brecha que será usada pelo agressor para aliciar a vítima através de
carinho e da falsa valorização. Em um ambiente de pouco apoio
emocional, em que os vínculos familiares são frágeis, grandes são as
chances de um abusador obter o que quer.

Deixar a criança aos cuidados de outro menor

______________________

Quando ocorre comportamento sexual impróprio entre duas


crianças de idades semelhantes não se configura uma situação onde
haja um abusador, mas sim vítimas, pois a criança que comete o ato
pode estar reproduzindo um abuso que sofreu ou uma cena
inadequada a qual tenha visto através de filmes, novelas ou mesmo a
pornografia. Nesse caso é preciso investigar as causas do
comportamento e dar à devida assistência as crianças envolvidas.

Relacionamento familiar machista


______________________

Lares onde, entre outras manifestações machistas, se propaga a


ideia de que homem de verdade não chora, contribuem para o
silêncio de meninos vítimas de abuso.

Falta de supervisão em eventos familiares e passeios


______________________

As crianças não deveriam brincar sem a supervisão de um


adulto de confiança. Muitos pais crêem que seus filhos estão seguros
brincando sozinhos com outras crianças da mesma idade ou maiores.
O excesso de confiança abaixa a guarda dos pais e abre caminho para
a ação de abusadores.

Dependência financeira e emocional do abusador


______________________

Quando o abusador é o único provedor da família e/ou seu


cônjuge é dependente emocionalmente surge a passividade diante
dos casos de abuso. Nessa situação a denúncia raramente ocorre e
assim se perpetua a violência sexual.

Erotização infantil e Adultização


______________________

Oferecer à criança ou permitir que tenha contato com


conteúdos sexuais impróprios para sua fase de desenvolvimento
provoca sexualização precoce. Incentivar “namoros” e beijos na boca
entre crianças, permitir acesso a telenovelas, filmes, músicas e
quaisquer outros meios em que haja cenas ou menção a situações
eróticas provoca uma gama de sentimentos e fantasias a respeito do
ato, que pode gerar desde uma excitação exacerbada que provoca
ansiedade, até sentir medo por acharem que se trata de algo violento,
que machuca, gera dor. Em ambas as situações – ou em quaisquer
outras possíveis impressões que os pequenos possam vir a ter em
relação ao que viram – o impacto dessa apresentação tão adiantada
em suas vidas acaba por trazer interpretações equivocadas, deixando
marcas importantes nesse processo.

Além disso, o processo de adultização da criança através da


maneira como é vestida, como é incentivada a se comportar gera
confusa na criança sobre si mesma. A relação da erotização e da
adultização com o abuso sexual está na cultura instalada sobre papeis
de gênero como homem essencialmente voltado ao sexo e a mulher
como objeto. Os meninos crescem com a pressão de apresentarem
comportamentos sexuais para provar sua masculinidade e as meninas
a aceitar o esse lugar de silêncio como prova de boa moça. Essa
estrutura fortalece o silêncio das vítimas e a incredulidade dos
adultos diante dos casos, ocorrendo assim uma naturalização do
desrespeito à infância.

Outros fatores como pais com transtornos psicológicos, alcoolistas e/ou


usuários de outras drogas também configuram risco para o abuso sexual.

O abuso sexual dentro do ambiente familiar

O abuso intrafamiliar se dá pelo aliciamento ou pré-abuso,


passo dado para ganhar a confiança da criança. No abuso intrafamiliar
é mais fácil confundir abuso com afeto. O agressor escolhe a criança
mais vulnerável, aquela mais tímida, a mais obediente (educada a
sempre servir aos outros sem questionar) e a que vive em meio a
conflitos. O abusador procura tratar essa criança com mais
favoritismo e a silencia com gratificações. Ele aproveita de situações
como: reuniões familiares, passeios, levar ao banheiro, durante a
madrugada.
Uma recomendação importante é no caso de ter visitas em casa,
procure levar seu filho para dormir com você.
Atenção!

Os sintomas presentes em crianças que vêem a ato sexual de


seus pais são semelhantes aos do abuso sexual, mesmo que seja por
acidente. Em caso de uso de cama compartilhada, os pais não devem
em manter relações sexuais nesse local, mesmo com a criança
dormindo.

Caso ocorra esse incidente, uma conversa sincera com a criança


é necessária. Jamais finja que nada aconteceu.
Dicas práticas
sobre Como
ensinar seu
filho a se
proteger do
abuso sexual
Como ensinar seu filho a se
proteger do abuso sexual
Para ajudar seu filho a desenvolver uma postura de cuidado e
proteção com o corpo, é necessário estar atento a alguns pontos:

Qual é sua postura diante da sua sexualidade?


Como você vivencia a sua sexualidade?
Como foi a educação sexual que você recebeu?
Quais são os seus traumas referentes ao seu corpo?
Como foi a forma com que você foi tratado ou tratada na infância?

Saiba que essa percepção impacta na forma como você trata


essa temática com seu filho. Pode ser que você tenha tido uma
educação sexual repressora, que tenha sofrido bullying, que
aprendeu a detestar alguma parte ou todo o seu corpo. Quero que
saiba que é preciso trabalhar aquilo que te machuca ou lhe traz
barreiras. Busque cuidar de você também, aprender a se olhar de
forma positiva, fazer as pazes com seu corpo, com quem você é. Pode
ser ainda que você seja uma mãe ou um pai que sofreu abuso sexual
na infância, saiba que cada marca pode ser cicatrizada, então busque
ajuda, mesmo depois de tanto tempo.

Lembro ainda que cada família possui seus valores, princípios e


crenças e que isso precisa ser sempre levado em conta. Cito como
exemplo a questão da nudez. Há lares em que ambos os pais e filhos
tomam banho juntos, em outros apenas os de mesmo sexo
compartilham o banho e há aqueles não dividem o banheiro,
tampouco trocam de roupas na frente dos filhos. Sobre esse aspecto
cada família entrará em um acordo, desde que haja naturalidade e
respeito em suas escolhas.

Em relação aos seus filhos, procure:


Responder as curiosidades e dúvidas das crianças com
naturalidade.
naturalidade Mais dia menos dia eles vão surgir com perguntas sobre
como os bebês saem da barriga da mãe, até aí tranquilo, mas depois
querem saber como foram parar lá dentro. Diante de perguntas como
essa muitos pais se esquivam, repreendem, desconversam, adiam a
resposta. É muito importante que você saiba que a criança pergunta a
quem confia. Sendo assim, se sinta alguém privilegiado e permita que
seu filho continue confiando em você para perguntar qualquer coisa.
Acolha e responda com naturalidade a dúvida do seu filho, melhor
ele perguntar a você do que qualquer outro por aí. Não é mesmo?

Não se referir ao cocô, xixi e partes íntimas de forma negativa.


negativa
Fazer cara feia, reclamar a criança porque está fazendo muito cocô ou
xixi pode levá-la a uma ideia de que suas partes íntimas servem para
fazer sujeira e deixam seus pais tristes. Isso contribui para uma visão
negativa sobre o corpo e para não contar algum tipo de abuso que
esteja sofrendo, devido ao medo da repreensão.

Esse medo também esta presente em crianças que ao tocarem


suas partes íntimas são repreendidos por seus pais. Após o desfralde
as partes íntimas ficam mais acessíveis ao toque da criança, mas esse
toque é de exploração e não está associado com desejos sexuais,
como nos adultos,
adultos, portanto, não repreenda seu filho.
filho (Você poderá
explicar que tocar nos genitais pertence a comportamento privado)
Quando o toque é muito freqüente é importante que os pais
verifiquem como está a rotina dessa criança, que pode estar ociosa,
carente de atenção e carinho, ou por outros fatores. É importante
distrair a criança com outra atividade e verificar se a frequencia
diminui. Entretanto, muitas crianças apresentam um quadro de
masturbação compulsiva,
compulsiva caracterizada pelo toque freqüente nos
genitais, a qualquer hora, lugar e inclusive, a criança pode preferir se
tocar a brincar. Nesses casos é importante procurar ajuda profissional
psicológica para investigar as causas que, inclusive, poder ser estar
sofrendo algum tipo de abuso sexual.
Outro ponto extremamente importante é o uso de telas. É
imprescindível estabelecer
estabelecer regras de uso e monitorar o conteúdo que
as crianças assistem
assistem na TV,
TV, tablet e celulares.
celulares Cenas como conteúdo
erótico estão por toda parte, a pornografia está a distancia de um
clique e abusadores sabem muito bem usar a internet ao seu favor.
Por isso, tenha muito cuidado!
“Meu corpo, meu corpinho!” é um livro infantil criado para
servir de ferramenta lúdica na educação sexual da criança. O texto em
forma de versos que se baseiam em informações imprescindíveis
sobre o corpo, falam de seu valor, cuidado e proteção. As ilustrações
ilustrações
em aquarela feitas pelo Sidney Meirelles pintam cenas da amizade
entre um elefante, um leitão, um jacaré, uma coelhinha e uma
gatinha. Esses bichinhos fofos que tanto despertam a atenção das
crianças, a cada página mostram o que fazer e o que não fazer fazer ou
permitir.

Os versos e as ilustrações não se fecham sobre si mesmos, mas


pretendem provocar conversas mais profundas sobre intimidade,
privacidade e consentimento. Para ajudar nesse diálogo, trago aqui
dicas e sugestões para articular a leitura do livro
livro com atividades
divertidas a fim de tornar leve a abordagem de temas tão delicados
como o abuso sexual.
sexual.
Através dessas atividades você poderá potencializar os efeitos
do livro e encucar na cabecinha de seus pequenos cada versinho tão
precioso que “Meu corpo, meu corpinho!” traz.

“Meu corpo, meu corpinho!” ajuda a:

1. Falar sobre as partes do corpo com naturalidade, explicando suas


funções e nomes corretos;
2. Explicar sobre partes íntimas e porque são assim chamadas;
3. Ensinar sobre os limites do corpo;
4. Ensinar sobre segredos bons e segredos ruins;
5. Falar sobre permissão para que a criança seja filmada ou
fotografada;
6. Diferenciar toques aceitáveis de toque inadequados;
7. Compreender que pode ser um amigo, parente, conhecido ou
desconhecido, os limites são osos mesmos;
8. Ensinar a criança como sair de situações assustadoras ou
desconfortáveis e identificar sua rede de segurança.
__________________

A ideia é que a criança tenha, com o passar do tempo, todo esse


aprendizado em mente e cada versinho muito bem guardadinho.
Mas lembre-se de que é preciso ser constante, abordar o tema
todos os dias. Pode ser na hora do banho, ao trocar de roupa. Porém,
não pode ser um momento engessado, como se fosse uma
investigação criminal, a ideia não é essa. Para ser eficaz é preciso ser
divertida, assim a criança irá gostar de participar e aprenderá muito
melhor.
Então desenvolva um diálogo aberto, ouça tudo o que seu filho
disser, mostre interesse e responda com naturalidade as dúvidas e
curiosidades dele. Isso faz com a criança tenha sempre certeza de que
pode contar com você para todos os assuntos. Além disso, observe
sempre o comportamento de seu filho e não deixe passar
despercebido o menor indicio de que algo não está bem.

Dicas de atividades práticas para serem


articuladas com a leitura de “Meu corpo, meu
corpinho”

Ilustração de Sidney Meirelles para o livro Meu corpo, meu corpinho!

Falar sobre as partes do corpo com naturalidade, explicando suas


funções e nomes corretos. Explicar sobre partes íntimas e porque
são assim chamadas. Ensinar sobre os limites do corpo.

01 MEU CORPINHO NO ESPELHO

Essa atividade serve muito às crianças menores de 3 anos, mas


pode ser usada para as maiores também. Após o banho, na hora de
trocar roupa leve seu filho de frente ao espelho e pergunte:
Que parte é essa? Para que ela serve? Como cuidamos dela?

De quem é essa mãozinha? E esse pezinho?

Você se lembra do versinho do livro? Meu corpo, meu corpinho! Tão


meu, tão bonitinho!

Seu corpinho é seu e ele é muito precioso, ele vale mais que...?
(Deixe a criança completar com o versinho “ele vale mais que ouro” )

E essas partes aqui como se chamam? (referindo-se às partes íntimas)


Como se chamam as roupinhas das partes íntimas?

Quem pode ver suas partes íntimas?

Se alguém quiser ver, tocar, tirar fotos ou fazer cosquinhas aqui, o


que você vai dizer? Lembra o versinho?

Ajude a criança nas respostas caso ela precise e reconheça seu


aprendizado com elogios. Você verá que conforme você investe em
atividades ou momentos do dia a dia como o banho, troca de fraldas
e de roupas, por exemplo, a criança terá memorizado as palavras do
livro e internalizado esse aprendizado sobre seu corpinho.

02 CONTORNANDO MEU CORPO

Essa atividade consiste em pedir a criança para se deitar um


papel madeira e contar seu corpo com uma canetinha. Se você tiver
mais de um filho, pode pedir para um contornar o corpo do outro.
Após esse passo, peça a criança para desenhar o que falta: olhos,
nariz, boca, dedos, unhas, as partes íntimas. Caso a criança se recuse
a desenhar as partes íntimas não a repreenda, pergunte o motivo da
recusa e reforce as informações com naturalidade.

03 “ELE VALE MAIS QUE OURO”

Esse é dos um dos versos do “Meu corpo, meu corpinho!” e


para ilustrá-lo você pode contar a história dos animais do livro que
encontraram um lindo baú e vão procurar ouro dentro dele, pois o
ouro é muito raro e valioso. Então ao entrar naquele baú, percebem
que para explorarem o mundo, viverem suas aventuras e encontrar
até mesmo o ouro, eles precisaram antes cuidar de seus corpinhos, o
seu verdadeiro tesouro.

Dicas importantes

É essencial ensinar as crianças os conceitos de público, privado


e consentimento. Por volta dos 5 ou 6 anos começam a desenvolver o
senso de pudor e podem reivindicar sua intimidade. Isso deverá ser
respeitado. Se seu filho quer tomar banho sozinho ou trocar de
roupa sem ser visto é importante que você o compreenda. Caso haja
algum indício de que algo não está bem, você poderá conversar sobre
o assunto e investigar melhor.
Ensine que PÚBLICO é aquilo que fazemos e todas as pessoas
podem ver como, por exemplo, andar no parque, brincar de bicicleta.
PRIVADO diz respeito ao que fazemos em casa e que só a família
pode ver. Use o exemplo do pum, elas acharão engraçado. O pum é
um perfeito exemplo para diferenciar público e privado. Já sobre
INTIMIDADE,
INTIMIDADE diga é um termo usado para se referir a tudo o que se
relaciona a conversas e acontecimentos particulares da criança e sua
família e também sobre partes íntimas. O CONSENTIMENTO pode
ser abordado como PERMISSÃO e só pode ser concedido quando
conhecemos e sabemos o que significa aquilo que nos oferecem. De
acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, não há
consentimento antes dos 14 anos de idade, pois até essa idade não há
maturidade para discernir sobre determinadas escolhas. Portanto,
mesmo que uma adolescente de 13 anos diga que quer praticar ato
sexual com alguém, se isso ocorrer, configura estupro de vulnerável.

Você sabia que muitos adultos e adolescentes não sabem o que


é, de fato, o consentimento? Muitos são convencidos em
relacionamentos abusivos de que há o consentimento da vítima, para
então se livrarem da culpa pelos abusos. Por isso é importante
ensinar a criança desde cedo e caso algo estranho aconteça será mais
fácil tirar a ideia de culpa por parte da criança.

Por favor, não adie essa conversa!

Na prática:

Ensine que as palavras NÃO e PARE precisam ser atendidas


imediatamente tanto pelos outros quanto pela criança ao
brincar com outras pessoas adultas ou crianças. Diga a ela que
quando não gostar de algo ela deve dizer não;
Incentive seu filho a falar o que o faz se sentir bem e o que o faz
se sentir mal;
Não obrigue a criança a ir para o colo das pessoas ou beijá-las.
Carinho forçado não é carinho e é abusivo. Essa recomendação
também vale em relação a você.
Explique o que é limite de contato: não se pode abraçar ou
beijar apertado até doer, por exemplo. Isso confunde carinho
com violência.
Se durante alguma brincadeira a criança pedir para parar,
atenda seu pedido e intervenha quando ela estiver brincando
com outra pessoa e pedir para parar. Isso vale para cócegas.
Ensine a pedir permissão antes de abraçar o coleguinha
Diga que não deve aceitar toques ou brincadeiras que o deixe
triste ou com medo, mesmo de amigo, conhecido ou vizinho.

10 coisas sobre as partes íntimas que seu filho precisa


precisa saber

As partes íntimas devem ser tratadas como são: partes do


corpo. Não são cômicas ou objeto de brincadeiras sequer por parte
dos pais, tampouco são negativas ou mereçam desprezo. Ao falar
sobre o corpo, não dê ênfase apenas as partes íntimas, mas fale sobre
todas as partes. Pergunte a função, o nome e como se cuida e se
protege cada uma delas.

Seu filho precisa saber que:

1. Tudo o que é coberto por cueca ou calcinha é parte intima;


2. Minhas partes íntimas são especiais, tem nome e roupinha;
3. Ninguém pode tocar em minhas partes íntimas;
4. Não posso tocar a parte íntima de ninguém, mesmo se me
pedirem ou me oferecerem algum presente;
5. *O médico ou a médica podem ver minhas partes íntimas para
ver como está minha saúde, mas só se eu estiver com alguém
de minha confiança;
6. Nenhum toque nas minhas partes íntimas deve ficar em
segredo. Quem me toca e pede pra não contar pra ninguém
não é alguém que me quer bem;
7. **Minha rede de segurança é formada por: mamãe, papai,
professora, polícia, Conselho Tutelar;
8. Mesmo se for alguém da minha rede e me tocar nas partes
íntimas tenho que contar para outra pessoa da rede de
segurança;
9. Ninguém pode tirar fotos das minhas partes íntimas;
10.***Minha boca também é minha parte especial e ninguém
pode beijar ou tocar.

* Quem tira e põe a roupa na criança em consultas médicas ou


atividades de lazer são os pais e não os profissionais.

** É importante que a criança tenha em mente que pode contar com


alguém de confiança fora do ambiente familiar, pois em muitos casos
de abuso intrafamiliar a vítima tem medo de contar para os pais e
provocar desafetos em relação ao membro da família que praticou o
abuso.

*** Beijo na boca é carinho, mas também é carícia e pode confundir a


criança.

Ensinar sobre segredos bons e segredos ruins.

04 CONHECENDO AS EMOÇÕES

Imprima emojis com diversas expressões, recorte e coloque-os


em uma caixa. Em seguida sorteie um emoji, pergunte ao seu filho
que emoção é aquela e o que acontece em casa, na escola, na igreja
que o faz sentir aquela emoção. Pergunte também quem são as
pessoas que deixam seu filho com aquela emoção. Depois permita
que a criança sorteie e faça essas perguntas a você.
Será um momento de muita conexão e descobertas entre vocês.
Você pode diversificar essa atividade colocando na caixa
desenhos das partes do corpo e sortear um emoji e uma parte do
corpo e perguntar o que provoca aquela emoção sorteada em relação
aquela parte do corpo.

Exemplo: Alegria e mão = pintar


Medo e barriga = levar um soco

05 CONHECENDO AS EMOÇÕES COM BALÕES

Consiste em encher bexigas coloridas e desenhar as emoções


um do outro, fazer a expressão para o outro desenhar. Em seguida
podem jogar todos os balões pra cima tentando não deixar que
nenhum caia no chão. Depois poderão conversar sobre a
possibilidade de sempre ajudarmos uns aos outros, independente da
emoção que a pessoa esteja sentindo naquele momento.

06 CAIXA DOS SEGREDOS

Dizer à criança que todo segredo é ruim é um erro, pois


existem segredos bons. Não contar para a titia que à noite ela ganhará
uma surpresa de aniversário é um segredo bom. Então para não
deixar a criança confusa, vai aí mais uma atividade em família.

Explique para sua criança que o segredo bom é aquele que:

Não causa medo ou vergonha;


Será revelado mais tarde, pois é guardado só para fazer uma
surpresa.

Já o segredo ruim:

Causa medo, tristeza ou vergonha;


Pedem para nunca contar a ninguém.

Depois dessas explicações, mais uma vez utilizando uma caixa,


você recortará tirinhas de papel contendo segredos bons e ruins.
Cada um de vocês pegará um segredo e dirá se ele é ruim ou bom e
porque deram determinada resposta. Depois poderão colar em duas
tabelas, uma para os segredos bons e outra para os segredos ruins.
Esta atividade pode ser utilizada também para ensina sobre
tipos de toque.

Ensinar sobre os diferentes tipos de toques

07 TOQUE DO SIM E TOQUE DO NÃO

Toque do SIM:
SIM:

Todo mundo pode ver


Deixa feliz
O coração fica alegre
Toque do NÃO:
NÃO

Não pode receber e nem oferecer a outra pessoa toques que


causem dor, vergonha, medo, tristeza, carícias nas partes
íntimas e beijo na boca;
No toque do não o coração pode ficar batendo forte, podemos
sentir frio na barriga e também podem nos pedir que seja
secreto.

Dadas as explicações, você pode escrever situações envolvendo


toques do sim e do não e proceder da mesma forma que na atividade
anterior.

Ensinar a criança como sair de situações assustadoras ou


desconfortáveis e identificar sua rede de segurança.

08 AS 4 REGRAS

Estas 4 regras são essenciais para que a criança se defenda de


investidas de abusadores. São elas:

1 fale não
2 gritar bem alto
3 saia correndo
4 conte tudo pra mim

Você e seu filho farão um cartaz contendo as 4 regras, em


seguida exponha-o em um lugar visível do quarto da criança. Use a
criatividade para confeccionar um cartaz bem bonito. Enquanto
fabricam os lembretes você pode explicar cada atitude que compõe
as 4 regras de segurança.

09 DESENHANDO MINHA REDE DE SEGURANÇA

Peça a criança para desenhar as pessoas em quem ela confia e


explicar o porquê escolheu aquelas pessoas. Explique que ela pode
contar também órgãos como delegacia de polícia e Conselho Tutelar.
É muito importante que a criança saiba disso, pois nem sempre você
estará por perto.

10 ABRACE VOCÊ!

Viu só quanta coisa é possível fazer? Agora se abrace, pense no


quanto você é a pessoa mais preciosa para seu filho, seu alguém de
confiança, um porto seguro. Tenho certeza de que você fará um bom
trabalho. Que o seu “amor que chega dói” te guie para tornar cada
momento poderoso! Lembre-se de que você estará tecendo uma teia
segura de proteção não só durante a infância, mas para toda a vida.

Que cada versinho de “Meu corpo, meu corpinho!” acompanhe


sua criança por onde quer que ela vá! Esse é o desejo do meu coração
de mãe.

Você encontra o “Meu corpo, meu corpinho!” no site da Editora


Matrescência:
https://editoramatrescencia.com/collections/livros/products/meu-
corpo-meu-corpinho

Estamos juntas nessa. Um abraço e, pode contar comigo!

Roseli Mendonça
@criar.pequenos

Roseli Mendonça é estudante de Psicologia na Universidade Federal da Bahia


em Vitória da Conquista,
para onde se mudou com sua família a fim de realizar seu sonho de ser
psicóloga.

A chegada de Izzie, sua filha, abriu as portas do universo materno e infantil,


lugares onde sua escrita foi descoberta
e é manifesta para dizer que cada criança seja criança e que cada mãe seja feliz
na jornada.

Engajada na luta pela dignidade da infância, "Meu corpo, meu corpinho" é seu
primeiro livro infantil.

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