Você está na página 1de 62

Esta cartilha foi elaborada como

recompensa da campanha de financiamento


coletivo da obra "Peraí! Tá estranho esse
carinho", de autoria de Aline Pozzolo
Batista e Cristina Maria Weber, para os
apoiadores.
Janeiro, 2022
Ficamos felizes que você tenha
se interessado pelo tema e
desejado proteger uma criança
das marcas do abuso sexual.
A nossa intenção com esta cartilha é que você se
familiarize com o tema, compreendendo melhor o que
é a educação sexual para prevenção de abusos e
como fazer um trabalho efetivo de proteção.
O conteúdo exposto é baseado em estudos
científicos e em atendimentos realizados ao longo de
quase dez anos de trabalho no atendimento a casos
de abuso sexual.
Pode ser que você seja um pai, uma mãe, uma avó,
um avô, um profissional de saúde ou de educação, ou
tantos outros que convivem com crianças e desejam
o melhor para elas. Foi pensando nessa diversidade
que colocamos aqui informações, dicas e atividades
que podem ser utilizadas de acordo com a realidade
de cada um, ou seja, adaptadas ao seu contexto.
Para começar, vamos explicar melhor
o que é a educação sexual?

Mas o que é sexualidade e como isso se


relaciona com as crianças, especialmente?

Segundo a Organização Mundial de Saúde (2002), a


sexualidade é uma dimensão essencial do ser
humano. Ela está ligada ao desenvolvimento
corporal e envolve comportamentos,
conhecimentos, valores, atitudes, emoções,
relações afetivas e relações interpessoais. Sendo
assim, a sexualidade deve ser compreendida como
um conceito muito mais amplo do que o
envolvimento em relações sexuais.
No caso da educação sexual voltada à prevenção
de abusos, entre outras ações, estão a de ensinar
as diferentes partes do corpo, seus nomes e
funções; os limites da criança e do outro; a
diferenciação entre carinho e abuso; a importância
do respeito à intimidade; a compreensão do que
são situações de risco e como se posicionar diante
delas; a estabelecer adultos de confiança e a
relatar um problema quando estiver diante dele.
Deixar que a criança fale sobre suas curiosidades e
guiá-la no processo de descoberta, faz com que ela
se sinta confiante e extrapole seus interesses para
outros aspectos da vida. E isso contribui de
maneira bastante positiva para que a criança saiba
reconhecer situações de abuso.
Assim, educar para o exercício da sexualidade não é
ensinar a fazer sexo, como muitos pensam, mas ensinar
a lidar de forma mais positiva com o próprio corpo,
compreender seu funcionamento, as sensações que ele
pode gerar, aprender sobre consentimento, respeito e
limites. Também a estabelecer a importância da
intimidade e privacidade na proteção pessoal.

Por isso, a educação sexual também é uma


ferramenta de proteção aos abusos sexuais e outras
situações que podem ser prejudiciais ao
desenvolvimento de crianças e adolescentes.
é u m a b u s
u e o
q

se
E por que será que é tão
o

xua
importante falarmos
Mas

sobre isso?

l?
Vamos entender melhor esse conceito…
Qualquer ato cometido por um adulto ou por um
adolescente, que envolva o corpo da criança,
buscando a própria gratificação sexual, pode se
caracterizar como um abuso sexual.
Os atos abusivos podem gerar danos na criança,
estimulando-a a desenvolver sensações,
pensamentos e ações para as quais não se encontra
preparada, nem física, nem emocionalmente. Ainda,
são atos para os quais a criança não é capaz de
consentir (afinal, nem consegue compreendê-los
totalmente).
Contudo, é importante ter claro que o abuso sexual
nem sempre envolve contato físico, e, mesmo
quando envolve contato, pode não deixar vestígios,
pois além da penetração, muitos outros
comportamentos são abusivos, como beijos, toques
nas regiões íntimas ou em outras regiões, quando
feitos de forma erotizada.

Dentre os atos sem contato físico, podemos citar:

fotografar, filmar ou observar a criança de forma


inapropriada, expôr à pornografia ou a atos sexuais,
fazer comentários de natureza sexual e expor os
genitais de forma deliberada. Assim, tanto atos com
contato físico quanto sem contato físico podem ser
considerados sexualmente abusivos.
Outro aspecto fundamental está no fato de que
raramente se iniciam com atos diretos. O mais
comum é que o abusador leve um tempo
conquistando a criança, fazendo parecer uma
brincadeira, uma forma de carinho, aumentando
o nível de contato de intimidade. Nesse processo,
costuma fazer com que a criança se sinta
especial, a presenteia, estabelece pequenos
segredos, conquistando sua confiança e a
tornando menos resistente aos atos.
Sobre a ocorrência, um estudo global
(STOLTERNBORGH; IJZENDOORN; EUSER;
BAKERMANS-KRANENBURG, 2011) concluiu que
quase 12% da população mundial sofreu abuso
sexual na infância. E para se ter uma ideia, há
dados que sugerem que 1 a cada 4 meninas e 1 a
cada 6 meninos sofra violência sexual no Brasil!

Pois saiba que isso é mais comum do que se conta


por aí! Quem sabe um dia os dados sobre o tema
sejam menos alarmantes, mas o que sabemos é
que o abuso sexual acontece com muita
frequência e, ao contrário do que se imagina, a
maior parte dos casos envolve pessoas próximas
às crianças e aos adolescentes.
Aproximadamente 90% dos abusos sexuais são
cometidos por conhecidos e a maior parte deles
envolve algum familiar.
Derrubando
mitos
“Meu filho é muito pequeno para
conversar sobre isso”.

Sabemos que crianças menores de 5 anos são


particularmente vulneráveis, porque são totalmente
dependentes dos adultos. Como essas crianças têm
uma limitada capacidade de comunicação, expressão
e compreensão das experiências, isso as torna ainda
mais suscetíveis a experiências abusivas. Dados do
Ministério da Saúde (2018) sugerem que a maioria
das situações envolve crianças menores de 05 anos
(51,2%). Exatamente por isso o trabalho de
educação sexual voltado à prevenção de abusos
deve se iniciar muito cedo, bem como a adoção de
outras medidas de proteção. Se deixarmos para falar
sobre o assunto mais tarde, pode ser tarde demais!
“Crianças se assustam ao falar
sobre o abuso sexual”.

Depende muito do modo como se fala.


Educar é muito diferente de assustar! E uma criança
assustada dificilmente conseguirá se defender.
Sabemos que a resistência dos pais e/ou outros
responsáveis em falar sobre o assunto com crianças
pequenas se deve, muitas vezes, ao fato de acharem
“estranho” ou acreditarem que a criança perderá sua
“inocência”, que criança não “tem sexualidade”e que
não está “preparada” para falar sobre o assunto.
Essas crenças refletem mais o despreparo dos
adultos em abordar o tema, do que o medo das
crianças em ouvir. Se a criança se constrange, é
porque de alguma forma a mensagem de que o
assunto é tabu, já foi repassada a ela. Ter
informações precisas sobre o assunto e uma
condução adequada para o estabelecimento desse
diálogo só deixará a criança mais segura e confiante
de que pode contar com o adulto!
Ainda bem que tenho um menino!
Se fosse uma menina, claro que iria
falar sobre o assunto!”.

Uma outra crença equivocada é de que os meninos


estão protegidos do abuso sexual - e isso não é
verdade! Ainda que as denúncias sugiram um
número maior de casos envolvendo meninas, tais
dados podem não refletir totalmente a realidade.
Dados do Ministério da Saúde (2018) apontam que
25,8% das vítimas de violência sexual eram do sexo
masculino. Além disso, segundo Sanderson (2008) o
fato de culturalmente os homens serem
apresentados como os iniciadores do contato
sexual dificulta aos meninos falarem sobre sua
experiência como vítimas de abuso, o que reflete em
um menor número de denúncias. Em outras
situações, ainda, quando a autoria do abuso sexual
vem de uma mulher, é comum o abuso ser encarado
como parte da iniciação da vida sexual do menino,
desconsiderando a violação de seus direitos e o
possível dano decorrente.
“Falar sobre abuso sexual tira a
inocência da criança”:

Olha, o que pode tirar a inocência não é a


informação, mas uma ação abusiva. E é justamente
a informação adaptada à faixa etária que pode
proteger a criança dessa violação.
Muito se fala que a educação sexual gera um
estímulo precoce ou antecipa a atividade sexual,
mas o que as pesquisas mostram é que a educação
sexual gera, além de proteção contra violências,
uma iniciação sexual mais consciente e tardia
(MEYER, 2017).
Assim, falar sobre o assunto faz com que crianças e
adolescentes se sintam mais seguros, reflitam
sobre as suas condutas e confiem em seus pais ou
outros adultos de referência.
“Nunca vai acontecer na minha família”.

Mais de 90% dos casos de abuso sexual têm como


autores pessoas próximas às vítimas e estima-se
que quase metade deles sejam familiares, na
maioria das vezes pais e padrastos (BAPTISTA et al,
2008).
Está vendo como não dá para dizer isso com tanta
certeza?! Educação é a maior proteção!
“Eu conheço bem as pessoas que ficam perto
de meus filhos, nenhum tem perfil de
abusador!”.

Seria bem mais fácil se pudéssemos prontamente


identificar um abusador, não é mesmo? Mas esse
perfil não existe. E pode, inclusive, ser alguém de
extrema confiança e bem quisto pela família e pela
comunidade. Muitos deles estão em posição de
poder, influência ou são pessoas bem legais com os
adultos e com as crianças, ao menos inicialmente.
Se eles parecessem monstros, seriam facilmente
reconhecidos, não é? Então, esperar isso deles pode
não ser uma boa ideia. Tanto o adulto, quanto a
criança, precisam ter clareza de que o perigo pode
estar próximo e ser bem diferente da caricatura do
“homem do saco”.
“Se estivesse acontecendo um abuso sexual,
a criança iria falar”:

É muito comum que a criança demore para contar o


que está acontecendo. Isso pode ocorrer tanto por
incompreensão do que é um abuso sexual, quanto
por medo, vergonha, etc. Então, primeiro a criança
precisa ter recebido a informação sobre o que é um
abuso sexual, de forma clara e precisa. Depois
precisa ter espaço para fazer uma revelação, e isso
só acontece quando tem uma relação de confiança
e proximidade com o adulto.
Contudo, percebe-se certa inabilidade em abordar o
tema com clareza e de acordo com cada fase do
desenvolvimento. Não é para menos! Qual deles
obteve tal informação para que, então, pudesse
abordar adequadamente o assunto com a criança?
Além disso, tentativas de educação sexual que
se dão sob a forma de ameaças ou moralismos
que mais confundem que esclarecem. Dizer que
“ali” ninguém pode mexer, por exemplo, se
mostra insuficiente, pois não fornece as
informações necessárias para a criança
entender o que acontece. Certas orientações,
inclusive, fortalecem seu silêncio, pois a criança
teme contar, por não ter seguido a orientação
dos pais ou por receio de castigos.
“Se estivesse acontecendo um abuso, a criança
iria evitar ficar perto do abusador”.

É preciso lembrar que nem sempre a criança


entende o que são atos sexualmente abusivos e
pode levar muito tempo até que assim os
identifique. Recordam que os atos podem ser sem
contato físico, parecerem uma brincadeira ou
mesmo um jeito diferente de dar carinho? Além
disso, a mesma pessoa que comete o abuso, pode
ser uma pessoa querida em outro momento, o que a
deixa ainda mais confusa sobre suas reais
intenções. O uso de chantagens, manipulações,
promessas e mesmo o oferecimento de presentes
pode facilmente encantar a criança, sem que ela
perceba a gravidade da situação. Se ela nem
entende estar sendo vítima, por qual razão evitaria
o abusador?
“Eu teria visto alguma alteração física
se tivesse acontecido abuso”:

A maior parte dos abusos sexuais não deixa


marcas físicas, pois são cometidos sem o uso de
violência, mas por meio da confiança e sedução, e
também nem todo ato abusivo é invasivo. A ideia
de que a identificação do abuso é algo fácil, que
seria possível um levantamento de sintomas e
comportamentos, pode levar os pais a não se
esforçarem na adoção de estratégias de
prevenção, nem estarem suficientemente atentos
às crianças ou estabelecendo uma relação de
diálogo diário.
Além disso, nunca é demais recordar que esperar a
manifestação de que algo esteja errado é o mesmo
que esperar que algo errado aconteça para só
então tomar providências. E não é o que queremos,
certo?
“Ele cometeu esse erro, mas vai parar!”

É mais comum do que se imagina que os abusos


aconteçam em diferentes gerações de uma mesma
família. Muitos foram os casos em que atendemos as
mães que, desesperadas ao falarem sobre a
vitimização da filha, desabafam (muitas vezes pela
primeira vez), contando que também elas foram
vitimadas pelo mesmo autor. Por não terem tido a
chance de serem ouvidas na ocasião, seguem, e,
quando mães, acreditam que aquele autor não seria
mais capaz de cometer o ato abusivo, ou porque
envelheceu, ou porque mudou, ou porque trocou de
religião. Infelizmente a mudança não é algo tão
simples assim e dificilmente essa pessoa conseguirá
mudar sem receber atendimento especializado.
Mas era ela que o provocava!”

Lamentavelmente ainda vemos casos nos quais a


vítima é responsabilizada pela violência sofrida.
Crianças não têm recursos necessários para
compreender a complexidade de uma relação sexual,
motivo pelo qual também não podem dar
consentimento para o ato. A criança busca no adulto
afeto, quando pede colo, dá beijos, troca abraços. Se
o adulto entende o pedido como um pedido erótico, a
questão está no adulto e não na criança.
Nunca é demais lembrar também que cabe ao adulto
estabelecer os limites e guiar a criança, fazendo com
que ela compreenda aquilo que é ou não adequado e
saudável para o seu desenvolvimento. E se a criança
apresenta algum comportamento não esperado para
sua idade, é bem possível que tenha sido
precocemente estimulada.
É impossível ele ter feito alguma coisa, pois
nunca ficou sozinho com a criança!

Não é incomum que abusos sexuais sejam cometidos


na presença de pessoas ou quando as pessoas que
circulam pelo ambiente mudam de cômodo, quando
estão distraídos assistindo à televisão ou voltadas
para os afazeres domésticos. As pessoas que
abusam podem cometer os atos nessas situações,
quando ficam mesmo que por breve período em
contato exclusivo com as crianças, ou mesmo no
mesmo ambiente. Quantos foram os casos que
atendemos em que as crianças foram sexualmente
abusadas quando os autores as pegavam no colo, em
meio a um evento familiar, ou quando a família estava
assistindo a um filme? Parece loucura pensar que
alguém tenha essa audácia, mas é essa a realidade!
Agora que você já sabe mais sobre o abuso
sexual e sobre a importância da educação
sexual para prevenção de abusos, o que
acha de começar a trabalhar com o tema
com uma criança?

Ops! Parece que não é tão fácil ou


simples assim, não é?!

Bem, se você não está suficientemente


familiarizado com o tema, mas já entendeu a
importância de falar sobre isso e deseja
começar, vamos te ajudar.
Trouxemos 10 atividades para você fazer
com a criança e introduzir o tema,
destravando o diálogo (vai ajudar você e ela
também).
As atividades visam a gerar na criança uma
compreensão sobre o abuso sexual, além de
possibilitar que reconheça situações de risco,
defenda-se delas e relate a um adulto
qualquer dúvida ou problema.
A ideia é que você comece com a primeira
atividade e siga a ordem, respeitando o critério
de idade recomendado em cada uma. Elas
foram pensadas de modo a ir evoluindo a partir
de conceitos essenciais, ou seja, ir preparando
gradativamente a criança para se proteger de
abusos.
Você pode fazê-las em dias seguidos ou
quando possível, sem prejuízos. O importante é
manter um clima de brincadeira e afetividade.
Ah, só uma coisa: isso não quer dizer que a
responsabilidade pela proteção é só da
criança ou que você não precisa fazer mais
nada!

Lembramos que uma relação de proximidade


e diálogo é mais importante do que qualquer
atividade, livro ou vídeo. Se tem uma coisa
que protege as crianças das mais diversas
situações de risco, é a conexão.

Assim, comece fazendo as atividades, mas


não termine seu trabalho com elas. Elas são
mais um ponto de partida do que de chegada
nessa tarefa de educar e cuidar.

Algumas das atividades foram adaptadas de materiais divulgados


sobre o tema, outras foram criadas pelas próprias autoras.
atividade 1

“Meu grande tesouro”


Faixa etária: de 03 a 09 anos.

A ideia desta atividade é estabelecer uma


conexão com a criança e fortalecer sua
autoestima, pois, para se proteger, a criança
deve reconhecer seu valor.

Você vai precisar de:

- uma caixa pequena com tampa (ou um


pequeno baú);
- um espelho pequeno.

Decore a caixinha ou pegue o baú. Dentro,


coloque o espelho de tal maneira que, ao abrir
a caixa, ele reflita o rosto da criança.
Mostre a caixinha fechada à criança e diga:

“Nessa caixinha, nós vamos encontrar o


tesouro mais valioso de todos. Ele é o que a
pessoa pode ter de mais importante na vida.
Você tem ideia do que pode ser?”

Aguarde a criança responder.

Quando ela abrir, diga que ela própria é o maior


tesouro que pode existir e que, por isso, tudo o
que acontece com ela importa.
Reforce que ela merece ser feliz e que você
estará ao lado dela para o que ela precisar.
atividade 2
“Conhecendo meu corpo”
Faixa etária: de 02 a 07 anos.

O objetivo é ensinar à criança quais são as partes


do corpo e fazer com que saiba nomeá-las
corretamente.

Para começar, sente com a criança e diga que vai


fazer uma brincadeira sobre as partes do corpo.
Pergunte o nome das partes (mãos, pés, cabeça,
etc.).

Diga que há partes que são íntimas e, por isso,


ficam escondidas. Que não podem ser mostradas
em público nem tocadas por qualquer pessoa.
Explique que essas partes ficam cobertas por
calcinha, sutiã e cueca.
Explique que as partes íntimas só podem ser
tocadas em algumas situações e por algumas
pessoas (cite em quais situações, conforme a
rotina da criança: quem dá banho, quem a ajuda
na higiene, quem é o seu médico...).

Diferencie o corpo de meninas e meninos, dando


os nomes corretos aos genitais. Se precisar,
imprima um desenho para explicar.
Peça à criança que marque em um desenho
quais são as partes do corpo, incluindo as
íntimas, e diga como as chama. E também que
desenhe em quais situações pode ser tocada nas
partes íntimas e por quem.

Finalize dizendo à criança que todas as partes de


seu corpo devem ser respeitadas e que, se em
algum momento acontecer algo que a deixe
desconfortável, confusa ou a machuque, ela
pode te contar.
atividade 3
“Meu corpo, meu espaço”

Faixa etária: de 05 a 10 anos.

Esta atividade objetiva que a criança entenda a


noção de limites, saiba que há limites que não
devem ser ultrapassados pelo adulto ou por outra
pessoa e consiga se posicionar quando alguém
avança o limite pessoal.

Nesta atividade, ela vai ser autorizada e


treinada a dizer “não”.

Como começar? Primeiro, faça um círculo no chão


com giz ou barbante, marcando o limite de espaço
que a criança precisa para se sentir confortável
(você pode pedir a ela para abrir os braços e girar,
a fim de você ter melhor noção do espaço onde
fazer a marcação).
Diga: “Sabia que cada um de nós vive em um círculo
pessoal e invisível? Ele serve para colocar limites para
os outros e para nós mesmos. Dependendo da
situação, a gente quer as pessoas mais perto ou mais
longe de nós. Quando alguém invade nosso espaço e
a gente não quer, a gente se sente incomodado.”

Explique que esse limite pode crescer ou diminuir


segundo o grau de confiança que temos nas pessoas
e de acordo com o modo como nos sentimos diante
delas. E complemente: “Também existem momentos
em que não gostamos que algumas pessoas entrem
em nosso espaço, e nesses momentos podemos
dizer ‘não’”.

Então, pergunte em quais situações ela quer as


pessoas mais longe ou mais perto de seu corpo.
Treine com ela, faça simulações e a incentive a dizer
“não” quando não quiser que alguém entre.

Dê exemplos de condutas que respeitam seu


espaço e outras que podem ser invasivas.

Para estas, a faça dizer um “não” bem alto. Dê


também opções, como: “Não quero!”, “Não
estou gostando!”, “Vou ter que chamar meus
pais se você não parar!”, entre outras.
atividade 4

“Segredo ou surpresa?”

Faixa etária: de 04 a 08 anos.

O objetivo é que a criança consiga diferenciar


segredos de surpresas e que entenda que
segredos podem não ser bons e gerar sofrimento.

A primeira coisa a fazer é diferenciar segredos de


surpresas e afirmar que segredos não são legais.

Diga: “Segredos, nós ficamos querendo contar, pois


podem nos deixar ansiosos, nos fazer mal. Podem
nos fazer sentir culpa e tristeza. Mesmo que
alguém conhecido peça para não falarmos,
devemos contar aos pais ou a algum adulto em
quem confiamos. Já as surpresas nos trazem alegria
e euforia. Guardamos a informação por um motivo
divertido e por pouco tempo.”
Traga exemplos, como:
• “Se o papai comprou um presente de aniversário
para a mamãe e pede para você não contar, isso é
um segredo ou uma surpresa?”

• “Se um vizinho toca nas partes íntimas de uma


menina e pede para não contar a ninguém porque
era só uma brincadeira, isso é um segredo ou uma
surpresa?”
atividade 5
“Pode ou não pode?”

Faixa etária: de 04 a 10 anos.

Esta atividade objetiva que a criança compreenda


melhor o conceito de toque abusivo e de toque de
afeto.

Você vai precisar de:

- duas caixas ou potes pequenos;


- tiras de papel em que estejam escritas as partes
do corpo, incluindo os genitais;
- tiras de papel em que estejam escritos diferentes
tipos de toque (tocar, abraçar, beijar, passar a mão,
apertar...).
Se a criança não for alfabetizada ou você quiser
ilustrar melhor os toques, pode usar pedaços de
papel com desenhos impressos, recortes de
imagens de revistas ou desenhos feitos pela
própria criança. O mesmo pode ser feito com as
partes do corpo.
- Em uma das caixinhas, coloque as tiras de papel
com imagens ou textos referentes aos toques. Na
outra caixinha, as tiras de papel com as partes do
corpo.
- Então, peça à criança para pescar um papel de
cada caixinha e vejam qual combinação saiu; por
exemplo, “beijar” e “boca”.
- Pergunte à criança se “pode ou não pode”.
Depois, conversem sobre as razões de a
combinação poder ou não poder.

Devolvam os papéis às respectivas caixinhas,


embaralhem e tirem novas combinações quantas
vezes quiserem.

A intenção é que a criança visualize melhor as


situações e reflita sobre a natureza de cada ato.
atividade 6
“Como eu me sinto”

Faixa etária: de 05 a 10 anos.


O objetivo é que a criança consiga expressar como
se sente em situações diversas, auxiliando-a na
compreensão e expressão de suas sensações e
emoções.

Você vai precisar de:

- papel;
- lápis de cor.

Primeiro, liste com a criança


sentimentos/sensações físicas que são familiares
(ex.: alegria, tristeza, medo, raiva, angústia,
vergonha, etc.).
Para cada sentimento/sensação física, use uma
folha de papel e a divida em 3 partes. Em cada
parte, escreva uma das frases a seguir, com o
sentimento que será trabalhado. Por exemplo:
Quando estou FELIZ, eu sinto...
Quando estou FELIZ, tenho vontade de...
Eu me sinto FELIZ quando...
Quando estou TRISTE, eu sinto...
Quando estou TRISTE, tenho vontade de...
Eu me sinto TRISTE quando...

Entregue uma das folhas para a criança. Em cada


espaço da folha, ela pode desenhar e/ou escrever
para completar a frase, além de conversar a
respeito do sentimento.

Será trabalhado um sentimento por vez e quantos


se mostrarem possíveis. O importante é que seja
feito com paciência e dedicação, permitindo a livre
expressão.

Ah, é importante não reprimir a fala da


criança, dizendo que ela não pode sentir ou
ter certas vontades (por exemplo, sentir raiva ou
ter vontade de bater em alguém)!
Devemos ensinar que sentir SEMPRE PODE; o que
não se deve é agir de modo a machucar os outros
ou se machucar
atividade 7
“Meus sinais”
Faixa etária: de 05 a 12 anos.

Esta atividade objetiva fazer com que a criança


identifique situações de risco por meio das
sensações físicas e das emoções geradas.

Para começar, pergunte à criança o que ela sente


fisicamente e emocionalmente quando está em
perigo. Dependendo da idade, será preciso auxiliá-la
com exemplos, como: “Se você está caminhando e
percebe que há um cachorro correndo em sua
direção, o que você sente?”

Liste os sinais em um papel ou quadro (ex.: tremor,


taquicardia, medo, susto, vontade de
chorar/gritar...).
Se preferir, monte um caça-palavras ou palavra-
cruzada com os diferentes sinais que o corpo
dá quando está em perigo.

Oriente a criança que quando seu corpo


der aqueles sinais ou ela sentir aquelas
emoções, é porque ela se encontra em
uma situação que não é legal. Por isso, deve
contar a um adulto para que ele possa ajudar.
atividade 8
“O que você faria?”
Faixa etária: de 04 a 10 anos.

O objetivo é testar as habilidades da criança em


identificar situações potencialmente abusivas, a
partir de exemplos práticos, e ensinar-lhe como
reagir a situações específicas.

Você vai precisar de:

- papel;
- caneta;
- algo legal para recompensar a criança (podem ser
beijos, doces, papéis para ela pescar que
contenham atividades conjuntas – como brincar por
10 minutos, fazer um piquenique, receber cafuné,
assistir a um filme...).

Escreva frases na folha de papel retratando


situações abusivas ou potencialmente abusivas. Por
exemplo:
•“Você cruza com o vizinho, está sozinha e ele te
chama para entrar na casa dele para ver os
passarinhos. O que você faria?”

• “Um adulto que você conhece toca seu corpo


nas partes íntimas, mas diz para não contar a
ninguém porque era só uma brincadeira. O que
você faria?”

• “Um desconhecido te aborda a caminho da


escola e diz que conhece seus pais e pede que vá
com ele. O que você faria?”

• “Um adolescente ou criança mais velha te


chama para uma brincadeira e fala que você
precisa fazer alguma coisa que envolva ficar
pelada ou tirar parte da roupa. O que você faria?”

• “Alguém pede para tirar uma foto sua sem


roupa e diz que não mostrará a ninguém. O que
você faria?”
Caso se sinta mais confortável, as frases podem
ser usadas na terceira pessoa ou utilizando
personagens, nomes fictícios, etc. (Ex.: “Uma
menina cruza com o vizinho…”)

Convide a criança a refletir sobre cada situação.


Diante de uma resposta adequada, recompense-a
com um brinde.

Diante de uma resposta inadequada (ou se ela


não souber responder), ajude-a a pensar melhor
na resposta. Peça que repita o que refletiram e, se
estiver correta, a recompense.
atividade 9
“Tripé da prevenção”

Faixa etária: de 05 a 12 anos.

Esta atividade fortalece a compreensão da criança


sobre como se proteger dos abusos sexuais
adotando as três atitudes básicas de proteção:

1) reconhecer riscos;
2) se afastar e/ou dizer “não”;
3) contar o ocorrido à pessoa de confiança.
Comece pedindo à criança que encene ou desenhe
as três atitudes:

1) Eu me afastando de uma situação de risco.


2) Eu dizendo “não”.
3) Eu contando para a pessoa de confiança.

Converse sobre o que seria uma situação de risco,


sobre como reconhecê-la e quais são as
possibilidades de se afastar.
Podem ser, inclusive, outras situações de perigo,
em outras áreas, chegando até a de um abuso
sexual.

Exemplo: “Alguém que você mal conhece querer


entrar contigo no banheiro pode ser uma
situação de risco. Você sabe por quê? O que
você pode fazer para evitar o risco?”

A intenção da atividade é criar estratégias


que possam ser usadas nessas situações, ou
seja, dar à criança um repertório de
comportamentos que em um momento de
medo ou dúvida possa ser acessado para
tomar a melhor decisão.

Teste e faça a atividade quantas vezes for


necessário para que a criança possa pensar em
um grande número de situações.
atividade 10
Jogo de tabuleiro

A última atividade você encontrará no link


abaixo ou na bio do perfil do Instagram
@protejaumacrianca.

É um jogo de tabuleiro desenvolvido por nós,


com todo carinho, que encerrará um ciclo de
educação sexual para prevenção de abusos.
Acesse, imprima o tabuleiro e se divirta ao
mesmo tempo em que educa!

Baixe o jogo de tabuleiro “Proteja” através deste


link:

<forms.gle/P6ZPWE2hMJqgsTdA9>
Mas se ela tiver algo pra me contar?

Agora, queremos falar para você uma coisa muito


importante. Pode ser que, no decorrer dessas
atividades, a criança te diga que algo aconteceu
com ela.
Não se desespere. Pode ser um abuso sexual ou
pode não ser. Mas, para saber, você precisará
manter a calma e ouvir o que a criança tem a
dizer.
Então, vamos ver como agir nessa situação?

1) Contenha o “Fala logo!”. Lembre-se que


crianças são crianças e muitas vezes não
entendem bem o que aconteceu com elas. Deixe-
a explicar com tranquilidade.

2) Esteja disponível e demonstre interesse pelo


que a criança está contando. Diga: “Estou te
escutando, pode falar!”

3)Evite perguntas sugestivas, do tipo: “Foi


fulano?”; “Ele fez tal coisa?” Isso pode gerar
confusões e informações desencontradas sobre o
que de fato aconteceu.
4) Prefira dizer: “Me conte mais”; “E depois disso?”;
“Onde aconteceu?”; “Ele(a) te falou alguma coisa?”

5) Não pergunte demais! É difícil para a criança


falar de detalhes que muitas vezes ela não lembra
ou não entende direito.

6) Acredite na criança! Há coisas a serem


esclarecidas? Não é o melhor momento para fazer
isso. Deixe o trabalho para um profissional.

7) Acolha suas reações. Deixe-a chorar, gritar, dizer


o que sente. E diga a ela que ela não é culpada.

8) Não xingue nem fale mal de quem abusou. Se


atenha à criança nesse momento. É ela que
importa agora!

9) Não pergunte sobre as reações da criança,


como: “Por que não gritou?!”, “Por que não contou
antes?!” Acredite: ela não teve condições para fazer
nem uma, nem outra coisa até então.
10) Denuncie o caso à Polícia Civil por meio do
registro de boletim de ocorrência (virtual ou
presencial) ou denúncia anônima (Disque 100). Ou,
ainda, acione o Conselho Tutelar de seu município.

11) Se a criança pedir segredo, diga que não poderá


guardá-lo, pois não deve haver segredos mais sobre
isso.
12) Se ela perguntar o que vai acontecer com o
autor, evite expressões como “vai mofar na cadeia”,
“vou matá-lo”, etc. Diga apenas que a Justiça decidirá
e que isso não a coloca em risco.

E lembre-se: seja apoio se a revelação da criança for


de um abuso sexual.

Se não for, saiba que, se ela te contou algo que


estava escondendo até então, é porque achou em
você conexão e confiança!

Não a reprima e estimule que continue confiando


em você!
Agora sim, acreditamos que as crianças que estão
perto de você estão mais seguras, pois a
informação é o primeiro passo para a efetiva
prevenção.

Por último, mas não menos importante,


gostaríamos de pontuar o quão importante é falar
com a criança sobre quem são os adultos em quem
ela pode confiar para que as estratégias de
prevenção à violência sexual sejam efetivas.

Para isso, é preciso estar ciente dos dados que


apresentamos de que mais de 90% dos casos de
violência sexual contra crianças e adolescentes são
praticados por pessoas conhecidas, com ou sem
vínculo familiar.

É preciso entender que o perigo não tem


estereótipo e pode ser encontrado em adultos bem
próximos, com quem a criança tem vínculo de
afeto, como o pai, o padrasto, o tio, o avô.
Também pode ser um vizinho ou um amigo bem
próximo da família. Pode ser uma tia, uma
madrinha também – sim, mulheres também
praticam violência sexual. Pode ser aquela pessoa
gentil, legal, engraçada e querida por todos, ou
seja, muito longe de ser estranho, o que
certamente dificulta a revelação e torna tão
necessária a figura do adulto de confiança.

Mas quem é esse adulto de confiança?


Para conseguir fazer essa identificação, a criança
precisa, antes de mais nada, ter claro que pessoa
“conhecida” não é necessariamente uma pessoa
na qual se pode confiar.

Para auxiliá-la nesse processo de identificação do


adulto de confiança, você pode questioná-la sobre
quem, em seu círculo de convivência, ela entende
como a pessoa em quem confia e com quem pode
contar em diferentes situações (peça-lhe que dê
exemplos).
Explique que o adulto de confiança é alguém
que se preocupa com ela e com quem pode
conversar quando está triste ou feliz, quando se
sente bem ou se sente mal, ou seja, aquela pessoa
que sabe que pode procurar quando tem alguma
novidade ou dúvida, que a faz se sentir bem,
segura e confortável.

Esperamos que esse adulto possa ser:


VOCÊ!

Agradecemos muito por você ter chegado até aqui


com a gente e esperamos que possa nos ajudar a
garantir o direito de uma infância livre de
violências.

Antes de nos despedirmos, gostaríamos de


compartilhar um último texto para que sirva como
reflexão.
Converse!
Converse com seus filhos.
Converse com seu bebê, apresentando-o ao mundo e
expressando a ele aquilo que ainda não é capaz de
verbalizar.
Acompanhe-o quando balbuciar as primeiras
palavras e as traduza para si e para ele.
Converse com sua criança quando ela estiver feliz,
quando ela estiver triste ou com raiva, ajudando-a na
compreensão das situações e dos seus sentimentos.
Converse com sua criança sobre aquilo que ocorre no
dia a dia da família, da comunidade e do mundo.
Converse sobre suas amizades, sobre os desafios na
escola, sobre como ela se sente e o que ela gostaria
que fosse diferente.
Converse sobre suas curiosidades, suas descobertas
e suas conquistas.
Converse e pare para ouvir as opiniões da sua
criança, sua visão de mundo. E a acolha, ainda que
você discorde.
Converse expondo sua visão, mas jamais ridicularize
ou diminua a opinião dela.
Converse sobre as cores, sobre as formas, os
cheiros e as temperaturas.
Converse sobre o passado e sobre o futuro, sobre
seus planos. Conheça suas expectativas e suas
saudades.
Converse quando estiver desperto, quando estiver
com sono, cansado ou disposto.
Converse olhando nos olhos, dispondo-se a desviar
os olhos das telas (do celular ou da TV), atento ao
que a criança diz, através de palavras ou de gestos,
porque ali pode estar o não dito.
Converse mostrando que há espaço, que há
preocupação, carinho e disposição.
Converse, questione, escute.
Converse, apenas converse.
Esperamos que tenha gostado e
que faça bom uso das
informações!

Um grande abraço!

Aline Pozzolo Batista


e
Cristina Maria Weber
Quer conhecer um livro que foi escrito
pensando no trabalho com as vítimas
de abuso sexual e que pode auxiliar no
trabalho de prevenção?

Saiba mais no site da editora Inverso:

https://www.editorainverso.com.br/pagina-de-
produto/pera%C3%AD-t%C3%A1-estranho-esse-
carinho
Referências

BAPTISTA, R. S.; FRANÇA, I. S. X.; COSTA, C. M. P.;


BRITO, V. R. S. Caracterização do abuso sexual em
crianças e adolescentes notificado em um
Programa Sentinela. Acta Paulista de Enfermagem;
v. 21, n. 4, p. 602-608, 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de


Vigilância em Saúde. Boletim Epidemiológico, v. 49,
n. 27 (Análise epidemiológica da violência sexual
contra crianças e adolescentes no Brasil, 2011 a
2017), jun. 2018.

MEYER, C. A. Livro “O que é privacidade?”: uma


ferramenta de prevenção da violência sexual para
crianças. Dissertação (Mestrado em Educação
Sexual) – Faculdade de Ciências e Letras,
Universidade Estadual Paulista/UNESP.
Araraquara/SP, 121p., 2017. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/150592>. Acesso em:
21/11/2021.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – OMS.
Relatório mundial sobre violência e saúde. Editado
por: E. G. Krug; L. L. Dahlberg; J. A. Mercy; A. B. Zwi;
R. Lozano. Genebra: OMS, 2002. Disponível em:
<https://opas.org.br/wp-
content/uploads/2015/09/relatorio-mundial-
violencia-saude-1.pdf>. Acesso em: 01/12/2021.

SANDERSON, C. Abuso sexual em crianças:


fortalecendo pais e professores para proteger
crianças de abusos sexuais. São Paulo: M. Books,
2008.

STOLTENBORGH, M.; IJZENDOORN, M. H.; EUSER, E.


M.; BAKERMANS-KRANENBURG, M. J. A global
perspective on child sexual abuse: meta-analysis of
prevalence around the world. Child Maltreatment,
v. 16, i. 2, p. 79-101, 21 abr. 2011.

Você também pode gostar