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O PAPEL DA FAMÍLIA, DA ESCOLA E DO
SERVIÇO DE SAÚDE NO ENFRENTAMENTO
À VIOLÊNCIA SEXUAL DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
Objetivos:
3.1 Introdução
123
A repressão ao agressor é tão importante quanto desenvolver mecanismos que
evitem a violação ou minimizem seus efeitos, o que reclama o envolvimento social,
das famílias, da sociedade e dos serviços mais relevantes, como saúde, assistência
e educação, para uma melhor identificação, acolhimento, acompanhamento,
notificação e encaminhamento, o que inclusive cria um ciclo virtuoso de proteção
social, que vai estimular a denúncia de casos e assim reduzir a subnotificação, e
portanto, satisfaz o interesse do “eixo de responsabilização”.
12
WILLIAMS, L. C. A.; ARAÚJO, E. A. C. (Orgs.). Prevenção do abuso sexual infantil: um enfoque interdisciplin-
ar. Curitiba: Juruá, 2009, 129p.
124
não, as estatísticas indicam que a pessoa que supervisionava era a própria
agressora, alguém de confiança da família, ocasião em que o abusador apresenta
uma fachada social de cuidado. Nestes casos, ainda que não seja suficiente para
evitar, a percepção apurada da família pode interromper o ciclo, evitando a repetição
da violência e amenizando as consequências.
SAIBA MAIS!
É da família também que parte o maior número de notificações, sendo as
mães, segundo estudos, “as principais responsáveis por notificar situações de
abuso sexual”13, daí a relevância da estratégia passar sempre pelo fortalecimento da
família. Entre os maiores entraves, está o desconhecimento de toda a ritualística e
encaminhamentos que se seguem para a apuração dos fatos, e acesso aos serviços
de atendimento. Outra questão é o acolhimento das famílias e a necessidade de
uma escuta diferenciada, para que não ocorram revitimizações.
13
HABIGZANG, L. F.; WILLIAMS, L. C. A. (Orgs.). Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência - Prevenção,
Avaliação e Intervenção. Curitiva: Juruá, 2014, pg 74.
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de vestígios corporais; enquanto que a educação se torna um referencial, pois é
na escola que a vítima, muitas vezes, encontra o vínculo que leva à revelação ou,
quando não parte da pessoa violada, são os educadores, por possuir maior tempo
de convivência, que estão aptos a identificar sinais corpóreos, mas sobretudo
comportamentais de indicação. É no professor que a criança pode identificar o
referencial de confiança, quando lhe faltar o de membros mais próximos.
Mas, muito mais que isso, a escola pode ter papel de fomento a práticas
preventivas, suscitando o diálogo com as famílias, promovendo o debate e a
sensibilização. A educação sexual, enquanto mecanismo de combate, de tática
preventiva e de autodefesa pode começar na escola, fomentando as crianças
a desenvolver repertório de habilidades. Segundo Wolf14, isso implica no
comportamento de:
Para que tal situação ocorra, se faz necessário discutir a real compreensão
da “educação sexual”. Ao contrário do que diz o senso comum, de que se trata de
ensinar a criança e o jovem a ‘prática sexual’. Em verdade, educar sexualmente
significa fazer que uma pessoa em desenvolvimento compreenda o seu corpo e
a importância da preservação dele. Em outras palavras, significa dizer que uma
criança, por exemplo, compreenda sua inviolabilidade com uma informação que
seja adequada ao seu estágio de percepção.
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14
Apud PADILHA, M. da G. S. (2007). Prevenção primária de abuso sexual: avaliação da eficácia de um pro-
grama com adolescentes e pré-adolescentes em ambiente escolar. Tese (Doutorado). Universidade Federal de
São Carlos
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A escola tem muito a ajudar neste sentido, mas sempre em conjunto e com a
participação das famílias em todo o processo, inclusive para que os pais conheçam
a informação que será passada aos seus filhos e possam, efetivamente, participar
da elaboração de seu conteúdo. Em estudos com pais sobre o abuso sexual, foi
constatado que eles, em 96,8% das situações, aceitam e esperam que a escola
promova educação sexual (PADILHA, 2007)15.
O educador, por seu turno e por ter mais contato com seu aluno, se tiver o
devido treinamento, poderá aguçar sua capacidade de identificação de sinais de
violências, além de ser orientado a fazer uma abordagem que viabilize a revelação,
do contrário, poderá se transformar num fator a mais de inibição e de subnotificação
de casos.
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15
Padilha, M. da G. S. (2007). Prevenção primária de abuso sexual: avaliação da eficácia de um programa com
adolescentes e pré-adolescentes em ambiente escolar. Tese (Doutorado). Universidade Federal de São Carlos.
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SAIBA MAIS!
Para aprofundar os conhecimentos sobre o tema, acesse: Guia Escolar - Identificação de Sinais
de Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Ministério da Educação – MEC. 2011.
Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/materiais/0000016936.pdf
16
WILLIAMS, L. C. A.; ARAÚJO, E. A. C. (Orgs.). Prevenção do abuso sexual infantil: um enfoque interdiscipli-
nar. Curitiba: Juruá, 2009, pg. 176.
128
São alguns sinais de identificação das vítimas:
Com efeito, a mudança no rendimento escolar, por exemplo, pode ter causas
diversas não afeitas a condutas abusivas, contudo, merece ser acompanhada de
perto, para saber o fator provocador. Assim:
_________________________
17
WILLIAMS, L. C. A.; ARAÚJO, E. A. C. (Orgs.). Prevenção do abuso sexual infantil: um enfoque interdisciplin-
ar. Curitiba: Juruá, 2009, pg. 100.
129
ATENÇÃO!
Importante se ter a noção que a identificação isolada de qualquer um dos sinais não significa a
confirmação da vítima, mas servem para chamar a atenção para cuidados e averiguações.
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18
BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Guia Escolar - Identificação de Sinais de Abuso e Exploração Sexual
de Crianças e Adolescentes. Ministério da Educação. Brasília, DF, 2011. Disponível em: http://portaldoprofes-
sor.mec.gov.br/storage/materiais/0000016936.pdf
130
ATENÇÃO!
Não significa dizer que a identificação de qualquer um dos itens já leve, de pronto, à conclusão
prematura de que se trata de “violador” com pré-julgamentos. “Descontextualizado, o comportamento
indicado nessas listas poderia servir à fabricação de identificadores falso-positivos”19. É o contexto
que vai dizer se existe característica compatível com o episódio narrado.
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AMENDOLA, Marcia Ferreira. Crianças no Labirinto das Acusações: Falsas Alegações de Abuso Sexual,
19
AMENDOLA, Marcia Ferreira. Crianças no Labirinto das Acusações: Falsas Alegações de Abuso Sexual,
20
131
[...] entrevistar, conversar e ouvir a criança, suas revelações e marcas,
averiguar o que ela sente emocional e comportalmente, avaliar suas
ações e rotinas. Isso se faz avaliando a história clínica e estabelecendo
o diagnóstico .Temos uma rotina de avaliação baseada em sinais [...] A
importância da entrevista e do relato da história do evento traumático requer
que as informações sejam obtidas com cuidado e após o estabelecimento
de uma relação de confiança [...] A rotina de avaliação dos casos de maus
tratos deve ser realizada em todos os Hospitais de emergência e Unidades
de Saúde que lidam com crianças e adolescentes e suas famílias”21.
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21
WILLIAMS, L. C. A.; ARAÚJO, E. A. C. (Orgs.). Prevenção do abuso sexual infantil: um enfoque interdisciplin-
ar. Curitiba: Juruá, 2009, pg.59.
22
WILLIAMS, L. C. A.; ARAÚJO, E. A. C. (Orgs.). Prevenção do abuso sexual infantil: um enfoque interdisciplin-
ar. Curitiba: Juruá, 2009, pg.62.
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ATENÇÃO!
SAIBA MAIS!
Para aprofundar os conhecimentos sobre o tema, acesse: Diretrizes Nacionais para a Atenção
Integral à Saúde de Adolescentes e Jovens na Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde.
Ministério da Saúde – MS. 2010. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
diretrizes_nacionais_atencao_saude_adolescentes_jovens_promocao_saude.pdf
23
PADILHA, M G S e PEDROSO, V. B. (2013). Abuso Sexual Infantil: conhecimento do enfermeiro sobre o seu
papel no acolhimento das vítimas e na notificação de casos, Curitiba. Tese (Mestrado). Universidade Tuiuti do
Paraná.
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vi) Gerenciar o preenchimento e garantir o encaminhamento das 1ª e 2ª vias
da ficha de notificação e o arquivamento e registro da 3ª via na Unidade de
Saúde, em todos os casos identificados, incluindo-se aqueles considerados
leves; garantir a comunicação dos casos moderados e graves ao Conselho
Tutelar e/ou à rede de proteção via fax ou telefone;
vii) Receber as solicitações do Conselho Tutelar, escolas, creches de apoio na
avaliação de sinais de violência.
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ATENÇÃO!
A ficha de notificação, embora seja do Ministério da Saúde, deve ser utilizada por toda a rede de
proteção.
SAIBA MAIS!
Para aprofundar os conhecimentos sobre como preencher a ficha de notificação, acesse: Instrutivo
Notificação de Violência Interpessoal e autoprovocada. Ministério da Saúde – MS. 2015. Disponível
em: https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/16/instrutivo-ficha-sinan-5-1--
vers--o-final-15-01-2016.pdf
Outro importante material de aprofundamento é o vídeo: Ficha de notificação de Violência Interpessoal/
Autoprovocada, do Telessaúde Maranhão, disponível no Youtube, ou no site: telessaude.huufma.br
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24
https://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/fevereiro/16/instrutivo-ficha-sinan-
-5-1--vers--o-final-15-01-2016.pdf
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Op. cit.
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Se ocorreu violência sexual, qual o tipo? Preencher o(s) quadrículo(s)
de acordo com o código correspondente: 1-Sim, 2-Não, 8-Não se aplica,
9-Ignorado. Pode haver mais de um tipo de violência sexual. CAMPO
ESSENCIAL. Atenção! Caso o quadrículo “Sexual” do item 56 (Tipo
de violência) seja preenchido com os códigos “2-Não” ou “9-Ignorado”,
preencher todos os quadrículos dos itens 58 e 59 com o código “8-Não se
aplica”. Considerar os seguintes conceitos e exemplos:
Estupro: “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro
ato libidinoso” (Art. 213, Lei nº 12.015/2009). Dentro desse conceito está
incluída a conjunção carnal (penetração peniana ou de outro objeto no
ânus, vagina ou boca), independente da orientação sexual ou do sexo da
pessoa/vítima.
RESUMO
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REFERÊNCIAS
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PADILHA, M G S e PEDROSO, V. B. (2013). Abuso Sexual Infantil: conhecimento do
enfermeiro sobre o seu papel no acolhimento das vítimas e na notificação de casos.
2013. 44 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Universidade Tuiuti do Paraná,
Curitiba, 2013. Disponível em: https://tede.utp.br/jspui/bitstream/tede/1320/2/
ABUSO%20SEXUAL%20INFANTIL.pdf. Acesso em: 25 set. 2020.
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