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Professora Ana Paula Correia de Souza

Direito Processual Penal I

AÇÃO PENAL

CONCEITO:
“É o ato formal pelo qual quem tem o direito de agir leva ao conhecimento do
juiz uma infração penal e sua autoria, pedindo a apuração judicial dos fatos para
punição do infrator, na conformidade da lei”. (Câmara Leal).

CLASSIFICAÇÃO:
Art. 100/CP - A ação penal é pública, salvo quando a lei
expressamente a declara privativa do ofendido. 
§1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público,
dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou
de requisição do Ministro da Justiça. 
§2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do
ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo. 
§3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação
pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no prazo
legal. 
§4º - No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente
por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na
ação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.  

AÇÃO PENAL PÚBLICA:


É aquela em que o Ministério Público é o titular exclusivo para iniciá-la.

A peça inicial neste tipo de ação é a denúncia.

 Princípios:
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Direito Processual Penal I

- Princípio da obrigatoriedade (ou da legalidade processual): A


persecução penal consiste no dever/obrigação imposto(a) à Polícia Judiciária, no âmbito
policial, e ao MP.

ATENÇÃO! Na ação penal pública condicionada à


representação do ofendido, a representação é regida pelo princípio da
OPORTUNIDADE, ao passo que o oferecimento da denúncia é regido
pela OBRIGATORIEDADE. Em outras palavras, o ofendido não é
obrigado a representar, no entanto, uma vez que ofendido representa,
havendo elementos suficientes para dar início à ação penal, o
Ministério Público deve agir.

 Princípio da discricionariedade regrada ou obrigatoriedade


mitigada: o princípio da obrigatoriedade é mitigado com o Instituto da transação penal
pois existe uma discricionariedade acerca do início da ação penal de acordo com os
parâmetros da lei. Logo, uma vez preenchidos os requisitos legais previstos no artigo
76, §2º da lei 9.099/95, surge para o MP poder-dever de oferecer a proposta deste
benefício ao agente delitivo, evitando-se o início da ação penal.
Ressalta-se que o Instituto da colaboração premiada (art. 4º da
lei 12850/13) e o acordo de leniência (art. 86 e 87 da lei 12.529/11 e art. 16 e 17 da lei
12.846/13) também mitigam o princípio da obrigatoriedade da ação penal pública.
Um outro exemplo de mitigação do princípio da
obrigatoriedade da ação penal que merece maiores esclarecimentos é o instituto do
ACORDO DE NÃO PERSECUAÇÃO PENAL que foi incluído no CPP pela lei
13.964/19 (Pacote anticrime).
O acordo de não persecução penal (ANPP) foi instituído pelo
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), por meio da resolução 181/17,
depois alterada pela resolução 183/19, que foram praticamente repetidos no artigo 28 A
do CPP.
Segundo Rogério Sanches, o acordo de não persecução penal
consiste no “ajuste obrigacional celebrado entre o órgão de acusação e o investigado
(assistido por advogado), devidamente homologado pelo juiz, no qual o indigitado
assumi sua responsabilidade, aceitando cumprir, desde logo, condições menos severas
do que a sanção penal aplicável ao fato a ele imputado”.

 Pressupostos:
a) existência de procedimento investigatório:  não precisa ser
necessariamente no inquérito policial, basta que seja um
procedimento oficial devidamente instaurado;
b)  não ser o caso de arquivamento dos autos:  o ANPP
pressupõe justa causa (mínimo de suporte fático) para o
início da ação penal;
c) crime com pena mínima inferior a 4 anos e que não tenha
sido cometido com violência ou grave ameaça a pessoa: 
para aferição da pena mínima serão consideradas as causas
de aumento e diminuição de pena aplicáveis ao caso
concreto (art. 28-A, §1º/CPP)
d) Confissão um formal e circunstancial da prática do crime;
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e) Não ser cabível transação penal de competência dos


Juizados Especiais Criminais (art. 28-A, §2º, I/CPP);
f) Não ser reincidente ou se existirem elementos probatórios
que indiquem conduta criminal habitual, reiterada ou
profissional, exceto se insignificantes as infrações penais
pretéritas (art. 28-A, §2º, II/CPP);
g) Não ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos
anteriores ao cometimento da infração, em acordo de não
persecução penal, transação penal ou suspensão
condicional do processo (art. 28-A, §2º, III/CPP);
h) Não ter cometido um crime no âmbito de violência
doméstica ou familiar, ou praticados contra a mulher por
razões da condição de sexo feminino, em favor do
agressor (art. 28-A, §2º, IV/CPP).

Condições:
Estão descritas nos incisos artigo 28A/CPP e podem ser
ajustados cumulativa ou alternativamente.
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado
confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal
sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4
(quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não
persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas
cumulativa e alternativamente:  

I - reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na


impossibilidade de fazê-lo;

II - renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo


Ministério Público como instrumentos, produto ou proveito do crime;

III - prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período


correspondente à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a
dois terços, em local a ser indicado pelo juízo da execução, na forma
do art. 46 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal);      

IV - pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45


do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a
entidade pública ou de interesse social, a ser indicada pelo juízo da
execução, que tenha, preferencialmente, como função proteger bens
jurídicos iguais ou semelhantes aos aparentemente lesados pelo delito;
ou;

V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo


Ministério Público, desde que proporcional e compatível com a
infração penal imputada. 

Formalização:
Será formalizado nos autos do procedimento investigatório
criminal (PIC) conduzida pelo Ministério Público ou do inquérito policial (IP) e deve
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conter a qualificação do investigado, suas condições econômicas, eventuais valores a


serem restituídos e as datas para o cumprimento do acordo.
O acordo deve ser firmado entre o Ministério Público e o
investigado acompanhado de seu defensor. 

Análise judicial:
O juiz, em uma audiência designada para tal finalidade, deverá
verificar a voluntariedade e legalidade do investigado na aceitação do acordo ele
poderá:
a) homologar o acordo, devolvendo os autos ao MP para
início da execução perante o juízo de execução penal (§6º)
b)  devolver os autos ao MP para reformulação da proposta
do acordo se considerar que os termos do acordo são
inadequados, insuficientes ou abusivos (§5º);
c) recusar a homologação do acordo e devolver os autos para
o Ministério Público para análise da necessidade de
complementação das investigações ou para o oferecimento da
denúncia entender que não é caso de acordo (§§ 7º e 8º)
Dessa decisão caberá o recurso em sentido estrito, nos termos
do artigo 581, XXV, do CPP. 

Descumprimento do acordo – art. 28-A, §10/CPP:


No caso de descumprimento, o MP deverá comunicar ao juiz
para que ocorra a decretação da rescisão do acordo, possibilitando oferecimento da
denúncia → trata-se de uma decisão de natureza constitutiva negativa (e não meramente
declaratória).
Antes de decidir, o juiz deverá ouvir ir o investigado e se não
concordar com a rescisão do acordo, a doutrina vem entendendo ser cabível o recurso
agravo em execução.

Cumprimento do acordo: o juiz competente decretará a


extinção da punibilidade (§13º).

Vale frisar que uma corrente mais moderna vem revisando o conceito de
obrigatoriedade da ação penal pública, defendendo que a ideia desse princípio é a que
não pode o Ministério Público, sem justa causa, abrir mão de dar uma resposta a
investigações criminais em que se constatou a materialidade delitiva e ao menos,
indícios de autoria. Logo, os institutos mencionados acima não mitigam a
obrigatoriedade da ação penal pública, pois o Ministério Público não deixou de agir,
apenas buscou uma solução mais efetiva para o sistema penal atual.

- Princípio da indisponibilidade: decorre do princípio da obrigatoriedade e


implica na proibição do Ministério Público de desistir da ação penal. No caso dos
recursos, tal princípio implica na impossibilidade de o Ministério Público desistir do
mesmo (art. 576/CPP), caso o recurso seja interposto.
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O princípio da indisponibilidade da ação penal pública é mitigado


pelo instituto da suspensão condicional do processo, previsto no
artigo 89 da lei 9.099/95. Logo, se período de prova for encerrado
sem que haja descumprimento das condições estipuladas na proposta
de suspensão pelo beneficiário, o juiz declarará a extinção de
punibilidade.

Art. 89 da lei 9.099/95: Nos crimes em que a pena mínima cominada


for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o
Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão
do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja
sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime,
presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão
condicional da pena.

- Princípio da oficialidade: A atividade persecutória é uma atividade


obrigatória do Estado e deve ser exercida necessariamente por órgãos oficiais do Estado
não sendo possível particular exercê-la.

- Princípio da oficiosidade:  consiste na obrigatoriedade das autoridades


públicas incumbida da persecução Penal de agirem de ofício, sem necessidade de
provocação ou consentimento de outrem. Tal princípio aplica-se somente as ações
penais públicas incondicionadas.

- Princípio da (in)divisibilidade: O STF já manifestou entendimento de que


ação penal pública é regida pelo princípio da divisibilidade, uma vez que o ministério
público poderá, até a sentença final, incluir novos agentes passivos por meio do
aditamento à denúncia ou oferecer contra eles nova ação penal, caso tenha sido
prolatada a sentença final do feito (STF, HC 104356/RJ e HC 117586/SP). Esse é
também o entendimento do STJ (HC 178406/RS E APn 691/DF).
No entanto, tem prevalecido na doutrina o entendimento de que a ação penal
pública é regida pelo princípio da indivisibilidade, já que a ação penal deve se estender
a todos aqueles que praticaram a infração penal.

- Princípio da intranscendência ou da pessoalidade: Consiste na vedação de


se pretender a aplicação da sanção penal a quem não seja o autor do fato.
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 Espécies:
Art. 24/CPP.  Nos crimes de ação pública, esta será promovida por
denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir,
de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido
ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
§ 1º No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por
decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão. 

a) Incondicionada: independe de qualquer condição de procedibilidade. É a


regra no processo penal brasileiro, uma vez que, no silêncio da lei, ação será pública
incondicionada.
b) Condicionada: depende de prévia condição de procedibilidade, podendo ser:
b.1) à representação do ofendido;
b.2) à requisição do Ministro da Justiça.

Representação do Ofendido: É a manifestação de vontade do ofendido ou do seu


representante legal no sentido de autorizar o desencadeamento da persecução penal em
juízo.
Segundo Nucci (2017, p. 289), é uma autêntica delatio criminis postulatória,
pois além de comunicar a prática de um crime para a autoridade, pede que seja
instaurada a persecução penal.
Art. 39.  O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente
ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita
ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade
policial.
Obs.: Procurador com poderes especiais  não precisa ser advogado.

Exemplos: Estelionato (art. 171/CP); Lesão corporal leve (art. 129, caput, do CP
c/c art. 88 da lei 9.099/95); lesão corporal culposa (art. 129, §6º, do CP, c/c art. 88 da lei
9.099/95); perigo de contágio venéreo (art. 130, §2º/CP); ameaça (art. 147, parágrafo
único, do CP); contra a honra de funcionário público em razão do exercício de suas
funções (art. 141, inc. II, c/c art. 145, parágrafo único, do CP *1).
*1 Súmula 714/STF: É concorrente a legitimidade do ofendido,
mediante queixa, e do ministério público, condicionada à
representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra
de servidor público em razão do exercício de suas funções.
Para Eugênio Pacelli, nos casos de crime honra de funcionário público
no exercício da atividade pública, a legitimação não seria concorrente,
mas, sim, ALTERNATIVA, visto que o STF já entendeu que se
ofendido em sua honra apresentar representação ao Ministério
Público, ele estaria optando pela ação penal pública, estando preclusa
a via de instauração da ação privada.

Não se exige rigorismo formal para a representação, bastando, apenas, que a


vítima declare seu interesse de representar contra o autor da infração penal.
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Poderá ocorrer quando do registro de ocorrência, o que vem sendo aceito pela
doutrina, não sendo o ideal, pois tal registro como sendo o único documento que
demonstre o interesse de representar contra o ofensor poderá gerar dúvidas. O ideal é
que colher expressamente a intenção do ofendido por termo, conforme o disposto no
artigo 39, §1º, do CPP:
§1º A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura
devidamente autenticada do ofendido, de seu representante legal ou
procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade
policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este houver
sido dirigida.

Ressalta-se que caso o direito de representação seja exercido perante as


autoridades descritas no dispositivo legal citado acima incompetentes para investigar,
oferecer ou receber a denúncia não invalida tal declaração, pois trata-se apenas de
manifestação de vontade que é uma condição de procedibilidade da ação e não a petição
inicial.
Art. 39, §3º Oferecida ou reduzida a termo a representação, a
autoridade policial procederá a inquérito, ou, não sendo competente,
remetê-lo-á à autoridade que o for.

 Apresentada a representação contra um dos coautores ou partícipes, autoriza


o Ministério Público a oferecer denúncia contra todos os agentes, em decorrência da
obrigatoriedade da ação penal.
Ressalta-se que a representação confere autorização ao promotor para agir, e não
obrigatoriedade, o qual fica adstrito à provas suficientes para a propositura da ação
penal.

a) Prazo
Art. 38.  Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu
representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação,
se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que
vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em
que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.

b) Ofendido sem capacidade postulatória:


Quando o ofendido é menor de 18 anos, outras pessoas podem manifestar a
vontade em seu lugar: ascendente, tutor ou curador.
Art. 24/CPP.  Nos crimes de ação pública, esta será promovida por
denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir,
de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido
ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

c) Ausência ou morte do ofendido:


O artigo 24, §1º, do CPP estabelece uma ordem de preferência para assumir a
posição de parte interessada.
§1º No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por
decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão. 

d) Retratação:
Poderá ocorrer desde que seja feita antes do oferecimento da ação penal,
retirando a autorização dada ao Ministério Público.
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- Alguns doutrinadores entendem possível a retratação tácita, quando a


vítima se reconcilia com o agressor, demonstrando implicitamente não ter mais interesse
na sua punição.
- Parte da doutrina e da jurisprudência entendem possível a possibilidade
da retratação da retratação, que seria o oferecimento de nova representação após ter
voltado atrás quanto à primeira, desde que a situação esteja dentro do razoável. Neste
sentido é o entendimento de Mirabete, Damásio, Nestor Távora, Renato Marcão, Aury
Lopes Jr, Nucci. Contrariamente é o entendimento de Tourinho Filho e Fernando Capez,
por entenderem que a retratação da representação seria uma autêntica renúncia, logo,
uma causa extintiva da punibilidade.
- Os crimes praticados mediante violência doméstica e familiar contra a
mulher, consoante o artigo 16 da Lei Maria da Penha (lei 11.340/06), a retratação da
representação pode ser feita até o recebimento da denúncia, exigindo-se que ela seja
feita perante o juiz, em audiência especial para esse fim, ouvido o Ministério Público.

Requisição do Ministro da Justiça: “Ato de conveniência política, a cargo do Ministro


da Justiça, autorizando a persecução criminal nas infrações que a exijam”. (Távora,
2009, p.133).
Trata-se de condição para o exercício da ação ante a complexidade do tema e da
conveniência política de se levar o caso à apreciação do Poder Judiciário.

a) Prazo:
Diante do silêncio da lei, a qualquer tempo, enquanto não estiver extinta a
punibilidade do agente.

b) Destinatário:
Dirigida ao Ministério Público, na figura do Procurador Geral de Justiça.

c) Retratação:
Nucci. Aury Lopes, Luiz Flávio Gomes e Pacelli entendem ser admissível, ante a
aplicação, por analogia, do disposto no artigo 25/CPP, por ser a requisição do MJ um
ato administrativo discricionário. Contrariamente: Mirabete, Frederico Marques;
Tourinho Filho; Fernando Capez, Nestor Távora.

d) Hipóteses:
Crime cometido por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil (art. 7º, §3º,
b/CP); crimes contra a honra cometidos contra chefe de governo estrangeiro e o
presidente da República (art. 141, inc. I, c/c art.145, parágrafo único/CP).

Obs.: Assim como no caso de representação do ofendido, a requisição do


Ministro da Justiça não obriga o Ministério Público à oferecer a denúncia. A requisição
é apenas uma autorização para o início da persecução penal. Logo, o MP somente
oferecerá denuncia se existirem indícios de autoria e provas da materialidade do delito.

Atenção! Nesse tipo de ação penal, estará a previsão expressa junto ao tipo penal
da condição especial para o início da ação penal.
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AÇÃO PENAL PRIVADA:


É a possibilidade em que o Estado legitima o ofendido ou seu representante a
agir em seu nome, em hipóteses excepcionais. Visa evitar o “strepitus iudicci”
(escândalo provocado pelo ajuizamento da ação).

É aquela em que iniciativa da ação penal é conferida à vítima.

A peça inicial neste tipo de ação é a queixa-crime.

 Princípios:
- Princípio da oportunidade e conveniência: o ofendido tem a faculdade
de propor ou não a ação de acordo com sua conveniência.

- Princípio da disponibilidade: A decisão de prosseguir ou não até o final


é do ofendido. Decorre do princípio da oportunidade.

- Princípio da intranscendência: A ação penal só pode ser proposta em


face do autor e do partícipe da infração penal, não podendo se estender a quaisquer
outras pessoas.
- Princípio da Indivisibilidade: A ação penal deve ser intentada contra
todos os autores do crime. A renúncia e o perdão concedidos a um dos autores, a todos
se estenderão.

 Espécies:
a) Exclusiva: é a ação penal cuja iniciativa é da vítima, salvo no caso desta ser
menor ou incapaz, ocasião em que é permitida a iniciativa pelos seus representantes
legais.

Art. 30/CPP:  Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-


lo caberá intentar a ação privada.

No caso de falecimento do ofendido, a ação poderá ser proposta ou dada


continuidade por seus sucessores (cônjuge/companheiro, ascendente, descendente ou
irmão - CADI).

Art. 31/CPP: No caso de morte do ofendido ou quando declarado


ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir
na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
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O CPP, em seu artigo 33, prevê a possibilidade de nomeação de um curador


especial nas hipóteses em que o ofendido menor, de 18 anos, mentalmente enfermo,
sem representante legal ou quando os interesses deste colidem com os daqueles. Veja-
se:

Art. 33.  Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente


enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou
colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa
poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a
requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o
processo penal.

Atenção! Nesse caso a lei expressamente menciona que a ação penal “somente se
procederá mediante queixa”.

b) Personalíssima: ação só poderá ser proposta pela vítima. Se esta for menor,
deverá aguardar a maioridade; se for doente mental, deverá aguardar o seu
restabelecimento; se falecer, a ação não poderá ser proposta ou deverá ser extinta pela
impossibilidade de sucessão no polo ativo (Ex.: art. 236, parágrafo único do CP –
induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento).
Nesse caso a lei expressamente menciona que a ação penal “somente se
procederá mediante queixa do ofendido”.

c) Subsidiária da Pública ou supletiva: é a ação penal proposta pelo ofendido em


crimes de ação penal pública quando o Ministério Público se mantém inerte dentro do
prazo que a lei lhe confere.
Art. 5º, LIX/CF - será admitida ação privada nos crimes de ação
pública, se esta não for intentada no prazo legal.

Art. 29/CPP.  Será admitida ação privada nos crimes de ação pública,


se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público
aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em
todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor
recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar
a ação como parte principal.

Nas ações penais privadas subsidiárias da pública, o Ministério Público atuará


como interveniente adesivo obrigatório (TÁVORA, Alencar 2009, p. 141) ou assistente
litisconsorcial (NUCCI, 2008, P.211/2114).

Para que entender essa espécie de ação penal privada, é necessário saber o prazo
para oferecimento da denúncia: Em regra, o prazo será:
- Réu preso: 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério
Público receber os autos do inquérito policial
- Réu solto: 15 dias.
Art. 46.  O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso,
será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público
receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver
solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito
à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o
órgão do Ministério Público receber novamente os autos.
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§1º Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o
prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em que
tiver recebido as peças de informações ou a representação.

 O ofendido terá o prazo de 6 meses para fazer valer-se de tal ação, oferecendo
a QUEIXA-CRIME SUBSTITUTIVA.
Art. 38.  Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu
representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação,
se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que
vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em
que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.

 Configura-se a DECADÊNCIA IMPRÓPRIA, que é aquela que incide na


ação penal privada subsidiária da pública, pois, após o transcurso do prazo em branco
(“in albis”) para o Ministério Público oferecer a denúncia, inicia-se o prazo de 6 meses
para o particular oferecer essa ação penal, encaminhando ao juízo criminal competente a
queixa-crime substitutiva. No entanto, a perda de tal prazo não enseja a extinção da
punibilidade, caracterizando-se assim uma decadência, de fato, imprópria. O único
efeito dessa decadência é a exclusão da legitimidade ativa desse agente, autorizando o
órgão ministerial a iniciar a ação como seu autor.

 O arquivamento do IP com fundamento na atipicidade dos fatos


consubstancia óbice à instauração da ação penal. Ou seja, a ação penal privada
subsidiária é cabível na hipótese de a ação penal pública, condicionada ou
incondicionada, não ser intentada no prazo legal, isto é, em caso de restar evidenciada a
inércia do Ministério Público. O pedido de arquivamento não é hábil a configurar
inércia do Parquet, afastando, portanto, a possibilidade de levar a efeito a ação penal
privada subsidiária.

 A ação penal privada subsidiária da pública não comporta perdão, pois em


última análise, o titular da ação penal é o Ministério Público.

 Quando se opera a perempção para o ofendido que atua em ação privada


subsidiária da pública, e o MP retoma seu andamento, a doutrina a nomeia como ação
penal indireta.

Institutos aplicáveis às ações penais privadas:


a) Decadência:
É a perda do direito de agir, pelo decurso do tempo estabelecido em lei,
provocando a extinção da punibilidade do agente.
Envolve todo o tipo de ação penal privada – exclusiva e subsidiária.

 O prazo decadencial, como regra, é de 6 meses, embora existam outros


especiais, como o disposto no art. 236, parágrafo único, do CP.

 A contagem de prazo, embora seja um prazo processual, possui nítidos


reflexos no direito penal, uma vez que é capaz de gerar a extinção da punibilidade do
agente – norma processual material. Portanto, conta-se nos termos do artigo 10/CP. É
um prazo fatal, improrrogável.
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Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se
os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.

 O marco inicial do prazo decadencial é o dia em que a vítima toma


conhecimento da autoria da infração penal. Havendo dúvida, resolve-se em favor do
oferecimento da ação.
Quando o ofendido for menor de 18 anos, o prazo decadencial começa a contar
quando o seu representante legal toma conhecimento da autoria do fato. Caso este tenha
se mantido inerte, o ofendido terá em seu favor o computo de 6 meses para propor a
ação, a contar da data que em que atingir a capacidade processual penal.
Art. 103/CP - Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido
decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro
do prazo de 6 (seis) meses, contado do dia em que veio a saber quem é
o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Código, do dia
em que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia.
- Prazos especiais:
 No crime de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento, o
prazo decadencial começará a contar do trânsito em julgado da decisão
que anula o casamento (parágrafo único do artigo 236 do CP).
 Nos crimes contra a propriedade imaterial que deixa vestígios, o prazo
decadencial será de 30 dias, a partir da homologação do laudo (artigo
529/CPP).

b) Renúncia:
É a recusa da vítima de tomar providências contra seu agressor, em se tratando
de ação penal privada e trata-se de ato unipessoal do ofendido, independente da
aceitação do ofensor.
 Ocorrerá sempre antes do ajuizamento da ação penal (≠ do perdão).

 É um ato unilateral, pois independe da aceitação do ofensor.

 Em respeito ao princípio da indivisibilidade da ação penal privada, caso o


ofendido renuncie com relação a um ofensor, beneficiados estarão os outros eventuais
coautores, extinguindo a punibilidade de todos (art. 49/CPP).

 A renúncia pode ser expressa (procedimental, no âmbito do IP, ou


extraprocedimental, envio de carta) ou tácita e não implica abdicação do direito de
recebimento da indenização civil do dano.
Art. 104/CP- O direito de queixa não pode ser exercido quando
≠ de relações cordiais de renunciado expressa ou tacitamente.
civilidade ou convivência Parágrafo único - Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática
ou atos de humanidade
de ato incompatível com a vontade de exercê-lo; não a implica,
todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano causado
pelo crime.
Ressalta-se que no caso de infrações de menor potencial ofensivo, o acordo de
composição dos danos civis implica em renúncia, nos termos do artigo 74, parágrafo
único da lei 9.099/95.
Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e,
homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de
título a ser executado no juízo civil competente.
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal I
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de
ação penal pública condicionada à representação, o acordo
homologado acarreta a renúncia ao direito de queixa ou representação.

 A renúncia é irretratável, já que enseja a extinção da punibilidade do agente.

 Não há que se falar em arquivamento do inquérito policial em crime de ação


penal privada. Se a vítima não deseja prosseguir com a persecução penal, basta que se
mantenha inerte que ocorrerá a decadência. Caso o ofendido faça a requisição de
arquivamento expressamente, opera-se a renúncia.

c) Perdão:
É a concessão do ofendido, ou do seu representante legal, ao autor da infração da
remissão da culpa e pena.
 Ocorre depois de já iniciada a ação penal e é um ato bilateral, ou seja, exige a
concordância do ofensor (querelado).
Art. 105/CP - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se
procede mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação.

Nucci entende que, assim como a renúncia, o perdão deveria ser um ato
unilateral, pois de nada adianta o ofensor não aceitar o perdão do ofendido, pois
esse poderá incorrer em perempção.

 Quem perdoa deve pagar as custas do processo e leva à extinção de


punibilidade do ofensor.

 A aceitação do perdão pode ocorrer por meio de procurador com poderes


especiais, não havendo a necessidade de ser advogado, ou por curador nomeado pelo
juiz, no caso de enfermidade do ofendido ou retardado mental, sem representante legal.
Art. 55/ CPP.  O perdão poderá ser aceito por procurador com poderes
especiais.
Art. 53/ CPP.  Se o querelado for mentalmente enfermo ou retardado
mental e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste
com os do querelado, a aceitação do perdão caberá ao curador que o
juiz Ihe nomear.

 O limite para a ocorrência do perdão é o trânsito em julgado da sentença


condenatória.
Art. 106, § 2º/CP - Não é admissível o perdão depois que passa em
julgado a sentença condenatória.  

 Poderá ser expresso, e o ofensor terá o prazo de 3 dias para se manifestar,


sendo o silêncio interpretado como aceitação, ou tácito, judicial ou extrajudicial.

Art. 106/CP - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito: 


I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita; 
II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos
outros; 
III - se o querelado o recusa, não produz efeito. 
§ 1º - Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompatível com
a vontade de prosseguir na ação.  

Art. 58/CPP.  Concedido o perdão, mediante declaração expressa nos


autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias, se o
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Direito Processual Penal I
aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o seu
silêncio importará aceitação.
Parágrafo único.  Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a
punibilidade.

 Os artigos 52 e 54 do CPP não mais encontram aplicação no ordenamento


jurídico brasileiro – legitimidade concorrente do menor de 21 anos e maior de 18 anos,
após a edição do CC/2002, que passou a considerar, para todos os fins civis, a pessoa
maior aquela que completa 18 anos.

Atenção: A ação penal privada subsidiária da pública não comporta perdão, pois
em última análise, o titular da ação penal é o Ministério Público.

d) Perempção:
Ocorre quando o querelante, por desídia, demonstra desinteresse pelo
prosseguimento da ação.
Art. 60.  Nos casos em que somente se procede mediante queixa,
considerar-se-á perempta a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o
andamento do processo durante 30 dias seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade,
não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do
prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-
lo, ressalvado o disposto no art. 36;
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo
justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou
deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem
deixar sucessor.

 Havendo mais de um querelante, a inércia de um não pode prejudicar os


demais.

AÇÃO PENAL SECUNDÁRIA OU AÇÃO PENAL DE INICIATIVA PÚBLICA


EXTENSIVA
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal I

É aquela que a lei estabelece um titular ou uma modalidade de ação penal para
determinado crime, mas diante do surgimento de circunstâncias especiais, prevê,
secundariamente, uma nova espécie de ação para aquela mesma infração. Ou seja, em
determinados delitos, as circunstâncias do caso concreto fazem variar a modalidade de
ação penal a ser intentada.
Exemplos:
1 - O crime de lesão corporal leve, previsto na lei 9.099/95, é crime de ação
penal pública CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO. Todavia, o STF passou a
entender que quando o delito for praticado contra a mulher, no âmbito das relações
domésticas, será de ação penal pública INCONDICIONADA (ADI 4424/DF). Para o
Supremo, não seria razoável ou proporcional deixar a atuação estatal a critério da vítima
nesses casos.
Tal entendimento foi corroborado pelo STJ com a edição do enunciado sumular
nº 542:
Súmula 542 - A ação penal relativa ao crime de lesão corporal
resultante de violência doméstica contra a mulher é pública
incondicionada.

2 – O crime de estelionato, tipificado no art. 171 do Código Penal, sempre foi


processado mediante ação penal pública incondicionada, ou seja, a autoridade policial,
ao tomar conhecimento dos fatos, tinha o poder de instaurar o inquérito policial de
ofício. Da mesma forma, o Ministério Público, titular da ação penal, não dependia da
manifestação de vontade da vítima para oferecer denúncia contra o autor do fato
delitivo. Com a entrada em vigor da lei 13.964/19 (pacote anticrime), o crime de
estelionato passou a ser processado, geralmente, mediante ação penal pública
condicionada à representação da vítima.
No entanto, quando o ofendido for a Administração Pública, direta ou indireta,
criança ou adolescente, pessoas portadoras de deficiência mental, maiores de 70
(setenta) anos ou incapaz, o estelionato volta a ser de ação penal sendo pública
incondicionada.

3 - Os crimes contra a liberdade sexual ERAM, até o dia 24 de setembro de


2018, quando foi publicada a lei nº 13.719, em regra, de ação penal pública
CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO. No entanto, se a vítima fosse menor de 18
anos ou vulnerável, passaria a ser INCONDICIONADA.
Ressalta-se que o crime exemplificado acima não se procede mais mediante
representação do ofendido. Depois do advento da citada lei, os crimes contra a
liberdade sexual passaram a ser de ação penal pública incondicionada. Logo, não
existe mais a possibilidade de uma ação penal secundária.

AÇÃO PENAL ADESIVA


Não existe regramento que determine que o MP, titular da ação penal pública,
assuma a legitimidade da ação penal privada quando ocorrer um concurso de crimes de
ações penais de natureza distintas (pública e privada).
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal I

A doutrina majoritária entende que pela chamada ação penal adesiva, que


consiste em um "litisconsórcio ativo", onde atuariam como sujeitos ativos o MP e o
Querelante, na tutela de interesses conexos. Nestes casos o MP ingressa com a denúncia
e o querelante interpõe a queixa-crime. Trata-se de ações distintas, mas que, em razão
da conexão/continência, podem vir a ser julgadas em conjunto, adesivamente.
Ex: denúncia para o crime de ameaça e a queixa-crime no caso de injúria.

AÇÃO DE PREVENÇÃO PENAL:


Segundo Nestor Távora, é aquela iniciada com objetivo exclusivo de aplicar ao
demandado absolutamente inimputável a medida de segurança.

DENÚNCIA E QUEIXA:
Denúncia é a peça acusatória inaugural da ação penal pública (incondicionada ou
condicionada).
Queixa é a peça acusatória inaugural da ação penal privada.

Requisitos:
Art. 41/CPP.  A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato
criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do
acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

a) Descrição do fato em todas as suas circunstâncias:


Não se admite imputação vaga e imprecisa, que impossibilite ou dificulte o
exercício da defesa. O autor da ação deve descrever todas as circunstâncias (elementares
ou acidentais) que possam, de alguma forma, influir na apreciação do crime e na fixação
e individualização da pena.
Tornaghi, citado por Paulo Rangel, expõe, resumidamente, as circunstâncias em que
os fatos se deram são nas seguintes expressões (Heptâmetro de Quintiliano):
a) quem: refere-se a pessoa que agente, seus antecedentes e personalidade;
b) que coisa: Diz respeito aos acidentes do evento, do acontecimento histórico;
c) onde: lugar em que os fatos se deram;
d) com que: refere-se aos instrumentos do crime;
e) porquê: relaciona-se com as razões do crime;
f) de que maneira:  diz respeito à forma de execução do crime;
g) quando: diz respeito ao tempo em que o crime foi cometido.
Ausência de um desses elementos pode trazer a falsa percepção da realidade fática,
que confrontada com o inquérito, acarreta, como consequência, a inépcia da inicial.

 Denúncia genérica X geral:


No caso de concurso de agentes (crimes de autoria coletiva), deve ser especificada a
conduta de cada um. Todavia, tem-se admitido, excepcionalmente, que quando a
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Direito Processual Penal I

acusação não tem elementos para especificar a conduta de cada coautor ou partícipe, a
fim de não inviabilizar a persecução penal, é possível fazer uma narração geral do fato.
Ressalta-se que a atenuação do rigorismo do artigo 41/CPP não implica admitir-se
denúncia que não demonstre a ação ou omissão praticada pelos agentes, o nexo de
causalidade com o resultado danoso ou qualquer elemento indiciário de culpabilidade.

CRIME DE RESPONSABILIDADE (ART. 1º, INCISO II, DO


DECRETO-LEI N.201/69). INÉPCIA DA DENÚNCIA. ALEGADA
AUSÊNCIA DE DESCRIÇÃO DAS CONDUTAS DOS
ACUSADOS. PEÇA INAUGURAL QUE ATENDE AOS
REQUISITOS LEGAIS EXIGIDOS E DESCREVE CRIMES EM
TESE. AMPLA DEFESA GARANTIDA. MÁCULA NÃO
EVIDENCIADA. 1. Não pode ser acoimada de inepta a denúncia
formulada em obediência aos requisitos traçados no artigo 41 do
Código de Processo Penal, descrevendo perfeitamente as condutas
típicas, cuja autoria é atribuída aos recorrentes devidamente
qualificados, circunstâncias que permitem o exercício da ampla defesa
no seio da persecução penal, na qual se observará o devido processo
legal. 2. Nos chamados crimes de autoria coletiva, embora a vestibular
acusatória não possa ser de todo genérica, é válida quando, apesar de
não descrever minuciosamente as atuações individuais dos acusados,
demonstra um liame entre o seu agir e a suposta prática delituosa,
estabelecendo a plausibilidade da imputação e possibilitando o
exercício da ampla defesa. Precedentes. 3. No caso dos autos, verifica-
se que a participação dos recorrentes nos ilícitos descritos na exordial
foi devidamente explicitada, pois, na qualidade de Prefeito do
Município de Pacoti/CE, Secretário de Educação e Diretor
Administrativo e Financeiro da Secretaria de Educação, permitiam,
de forma indevida, a utilização de bens públicos, com destinação
específica, para financiar interesses pessoais, alheios à coisa pública,
causando prejuízos à municipalidade, narrativa que constitui crime em
tese e lhes permite o exercício da ampla defesa e do contraditório.
(STJ. AgRg no AREsp 341792 / CE AGRAVO REGIMENTAL NO
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL 2013/0161409-6. Rel.:
Ministro JORGE MUSSI. QUINTA TURMA. DJe 23/03/2018).

Ementa: HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


ORDINÁRIO. INADEQUAÇÃO DA VIA. NÃO
CONHECIMENTO. AÇÃO PENAL. DELITO SOCIETÁRIO.
CRIME DE AUTORIA COLETIVA. DENÚNCIA GENÉRICA.
INÉPCIA. INOCORRÊNCIA. OBSERVÂNCIA DO ART. 41 DO
CPP. SUFICIENTE DESCRIÇÃO DO FATO TIDO COMO
CRIMINOSO. PODER DE GESTÃO NA PESSOA JURÍDICA.
INDÍCIO MÍNIMO DE AUTORIA. NÃO CONCESSÃO DA
ORDEM DE OFÍCIO. 1. Não se admite habeas corpus substitutivo de
recurso ordinário, sob pena de ofensa ao regramento do sistema
recursal previsto na Constituição Federal. 2. Não há abuso de
acusação na denúncia que, ao tratar de crimes de autoria coletiva,
deixa, por absoluta impossibilidade, de esgotar as minúcias do suposto
cometimento do crime. 3. Há diferença entre denúncia genérica e
geral. Enquanto naquela se aponta fato incerto e imprecisamente
descrito, na última há acusação da prática de fato específico
atribuído a diversas pessoas, ligadas por circunstâncias comuns,
mas sem a indicação minudente da responsabilidade interna e
individual dos imputados. 4. Nos casos de denúncia que verse sobre
delito societário, não há que se falar em inépcia quando a acusação
descreve minimamente o fato tido como criminoso. 5. O poder de
gestão configura indício mínimo da autoria das práticas delitivas
realizadas, em tese, por meio de pessoa jurídica. 6. Habeas corpus não
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal I
conhecido. (STF. HC 118891 / SP. Rel.:  Min. EDSON FACHIN.
Julgamento:  01/09/2015. Órgão Julgador:  Primeira Turma).

 Denúncia alternativa:
Discute-se na denúncia a possibilidade de ser oferecida denúncia alternativa, que
é aquela que atribui ao réu mais de uma conduta penalmente relevante de forma
alternativa, de modo que, se uma delas não ficar comprovada, o réu poderá ser
condenado subsidiariamente pela outra.
Correntes:
 Não pode ser aceita, pois torna a acusação incerta, dificultando ou
inviabilizando a defesa. Nesse sentido: Grinover; Scarance; Magalhães; Capez;
Nucci – MAJORITÁRIA.
 O acusado defende-se de fatos certos que lhe são atribuídos, ainda que
suscetíveis de comportarem definições jurídicas diversas no momento da
prestação jurisdicional. Nesse sentido: José Frederico Marques, Afrânio Silva
Jardim e STJ, 5ª Turma (REsp n. 399.858-SP, julgamento: 25.2.2003).

b) Qualificação do acusado ou fornecimento de dados que possibilitem sua


identificação:
A qualificação é prescindível, desde que seja possível obter a identidade física do
acusado, por traços característicos ou outros dados. Tal possibilidade deriva do disposto
no artigo 259 do CPP:
Art. 259.  A impossibilidade de identificação do acusado com o seu
verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a ação penal,
quando certa a identidade física. A qualquer tempo, no curso do
processo, do julgamento ou da execução da sentença, se for descoberta
a sua qualificação, far-se-á a retificação, por termo, nos autos, sem
prejuízo da validade dos atos precedentes.

c) Classificação jurídica do fato:


Após descrição do fato delituoso, o titular da ação penal finda a peça inicial
oferecendo a definição jurídica do ocorrido. Trata-se de um juízo da acusação, não
vinculando nem o juiz, nem a defesa. Portanto, tendo em vista que o acusado se defende
de fatos alegados, e não da tipificação legal, a classificação jurídica da conduta pode ser
alterada até a sentença, quer por aditamento da peça inicial (art. 569/CPP), quer por ato
do juiz (art. 383/CPP – emendatio libelli) ou do MP (art. 384/CPP – mutatio libelli).
Ressalta-se que a ausência de capitulação pode, todavia, justificar a rejeição da peça
acusatória, por inépcia, ante a violação ao princípio da ampla defesa.

d) Rol de testemunhas (se houver):


Apesar de ser facultado, o momento adequado para arrolar testemunhas é o da
propositura da ação, sob pena de preclusão.

e) Pedido de condenação:
Não precisar ser expresso, bastando que esteja implícito na peça acusatória.

Prazos para oferecimento da denúncia:


Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal I

O prazo para denunciar réu solto é impróprio, observando-se apenas o prazo


prescricional. Entretanto, a inobservância do prazo de 15 dias pode ensejar o
ajuizamento da ação penal privada subsidiária da pública.
O excesso de prazo, no caso de réu preso, não invalida a denúncia, só provoca o
relaxamento da prisão.
Trata-se de prazos de NATUREZA PROCESSUAL (exclui o dia do início e
inclui o dia do final). Começa a correr a data em que o órgão da acusação recebe os
autos do inquérito ou peças de informação devidamente concluídos.
Quando o MP dispensa o inquérito, o prazo para o oferecimento da denúncia
contar-se-á do recebimento das informações ou da representação que contiver os
elementos indispensáveis à propositura da ação (art. 46, §1º/CPP).

Aditamento da queixa pelo Ministério Público:


A atuação do MP é também obrigatória na ação penal privada, devendo operar
como fiscal da lei (custos legis), sob pena de nulidade relativa do feito (art. 564, III, “d”,
CPP).
Art. 45.  A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do
ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem caberá
intervir em todos os termos subsequentes do processo.
(...)
Art. 46, § 2º O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias,
contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os
autos, e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á que
não tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais termos do processo.

A liberdade do Estado-acusação é ampla quando se trata de queixa proveniente


de ação privada subsidiária da pública, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa,
repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo,
fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência
do querelante, retomar a ação como parte principal (art. 29/CPP).
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Não poderá, entretanto, em se tratando de ação penal privada, invadir a


legitimidade do ofendido. Logo, no caso de o ofendido deixar de oferecer queixa contra
um coautor, não caberá ao MP aditar a denúncia para incluir o coautor, pois estará
substituindo a vítima no interesse e legitimidade de agir. Nesse caso, em respeito ao
princípio da indivisibilidade da ação penal, deverá propor ao querelante que faça o
aditamento, sob pena de implicar renúncia do direito de queixa a todos.
Noutro giro, Tourinho filho entende possível o aditamento da queixa mesmo na
situação descrita acima, por entender que se o querelante ofereceu a queixa, entendeu
conveniente, cabendo ao Estado coibir o direito de vingança.
Consoante entendimento do STJ, a não inclusão de eventuais suspeitos na queixa
não configura, por si só, renúncia tácita ao direito de queixa. Para tanto, exige-se a
demonstração de que a não inclusão se deu de forma deliberada.
DIREITO PROCESSUAL PENAL. LIMITE PARA APLICAÇÃO
DO PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE DA AÇÃO PENAL
PRIVADA. A não inclusão de eventuais suspeitos na queixa-crime
não configura, por si só, renúncia tácita ao direito de queixa. Com
efeito, o direito de queixa é indivisível, é dizer, a queixa contra
qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos (art. 48
do CPP). Dessarte, o ofendido não pode limitar a este ou aquele autor
da conduta tida como delituosa o exercício do jus accusationis, tanto
que o art. 49 do CPP dispõe que a renúncia ao direito de queixa, em
relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá. Portanto, o
princípio da indivisibilidade da ação penal privada torna obrigatória a
formulação da queixa-crime em face de todos os autores, coautores e
partícipes do injusto penal, sendo que a inobservância de tal princípio
acarreta a renúncia ao direito de queixa, que de acordo com o art. 107,
V, do CP, é causa de extinção da punibilidade. Contudo, para o
reconhecimento da renúncia tácita ao direito de queixa, exige-se a
demonstração de que a não inclusão de determinados autores ou
partícipes na queixa-crime se deu de forma deliberada pelo querelante
(HC 186.405-RJ, Quinta Turma, DJe de 11/12/2014). RHC 55.142-
MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 12/5/2015, DJe 21/5/2015.
Informativo 562/STJ.

Poderes especiais para o ingresso de queixa:


Art. 44.  A queixa poderá ser dada por procurador com poderes
especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do
querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais
esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser
previamente requeridas no juízo criminal.

A procuração precisa conter poderes especiais, fazendo referência ao crime, com


o resumo do fato. Ressalta-se que a procuração não deve conter apenas a citação do
artigo de lei que está incurso o querelado, mas não precisa ser detalhado a ponto de
narrar integralmente o fato. A assinatura aposta pela vítima diretamente na queixa, junto
com o advogado pode substituir a procuração com a indicação exata do fato imputado.

Rejeição da denúncia ou da queixa:


Art. 395.  A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
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Direito Processual Penal I
I - for manifestamente inepta;
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação
penal; ou
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.

a) Inépcia da denúncia ou da queixa:


Caracteriza-se pela ausência dos requisitos da inicial (art. 41/CPP). Inepta é
a acusação que diminui o exercício da ampla defesa, seja pela insuficiência na descrição
dos fatos, seja pela ausência de identificação precisa de seus autores.
A decisão que rejeita a inicial por inépcia não faz coisa julgada material, só
formal, na medida que não há análise do mérito da imputação.

b) Ausência de pressupostos processuais ou condições da ação:

- Pressupostos processuais:

- Condições da ação:
a) Legitimidade da parte:
a.1) Ativa:
- Ministério Público;
- Ofendido ou seu representante legal do ofendido.
a.2) Passiva: Agente da infração penal maior de 18 anos.

 Legitimação extraordinária: O artigo 37 do CPP dispõe que a pessoa


jurídica pode figurar no polo ativo da ação penal, ajuizando queixa no caso de ação
penal privada (ex.: pessoa jurídica como vítima de calúnia, quando se trata de crime
ambiental) ou no caso de ação penal privada subsidiária da pública (ex.: pessoa jurídica
vítima de furto, não atuando a tempo o promotor).
Art. 37/CPP.  As fundações, associações ou sociedades legalmente
constituídas poderão exercer a ação penal, devendo ser representadas
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por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem ou, no
silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes.

 O artigo 33 prevê a possibilidade de nomeação de curador especial ao


ofendido menor de 18 anos, mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver
representante legal, ou colidirem com os interesses deste com os daquele.
Ex.: Mãe de um rapaz de 17 anos, vítima de difamação por parte de seu
padrasto. Pode ela, para preservar sua ligação amorosa, não se interessar em
promover queixa, motivo pelo qual o juiz, intervindo, nomeia um curador
especial para zelar pelos interesses do incapaz.
Art. 33/CPP.  Se o ofendido for menor de 18 (dezoito) anos, ou
mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante
legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de
queixa poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício
ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o
processo penal.

Além dos interesses de queixa, acolhe-se, igualmente, o direito de representação


(analogia).

b) Interesse de agir:
É divido em três subespécies:
b.1) Necessidade: É sempre presumida, uma vez que não há aplicação de
pena sem o devido processo legal. Logo, pode-se afirmar que o processo
penal é hipótese de jurisdição obrigatória/necessária.

b.2) Adequação: Obrigatoriedade de que a acusação promova a ação


penal nos moldes procedimentais legais.

b.3) Utilidade: impõe que a ação penal seja útil para a realização da
pretensão punitiva do Estado.

c) Possibilidade jurídica do pedido: Exigência de que o fato narrado na inicial


constitua crime (fato ilícito + antijurídico + culpável). Esta condição jurídica
não se vincula à tipificação contida na inicial acusatória, mas à narrativa dos
fatos.

c) Justa causa: Consiste na apresentação de suporte probatório mínimo, indícios


suficientes de autoria e prova da materialidade (fumus comissi delicti).
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Atenção! Da decisão que recebe, não cabe, em regra, qualquer recurso, podendo
ser impetrado um Habeas Corpus, no caso de crimes de competência originária dos
tribunais superiores, para trancamento da ação penal.

Da decisão que rejeita, em regra, cabe o recurso em sentido estrito.

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