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AÇÃO PENAL
CONCEITO:
“É o ato formal pelo qual quem tem o direito de agir leva ao conhecimento do
juiz uma infração penal e sua autoria, pedindo a apuração judicial dos fatos para
punição do infrator, na conformidade da lei”. (Câmara Leal).
CLASSIFICAÇÃO:
Art. 100/CP - A ação penal é pública, salvo quando a lei
expressamente a declara privativa do ofendido.
§1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público,
dependendo, quando a lei o exige, de representação do ofendido ou
de requisição do Ministro da Justiça.
§2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do
ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo.
§3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação
pública, se o Ministério Público não oferece denúncia no prazo
legal.
§4º - No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente
por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou de prosseguir na
ação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
Princípios:
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal I
Pressupostos:
a) existência de procedimento investigatório: não precisa ser
necessariamente no inquérito policial, basta que seja um
procedimento oficial devidamente instaurado;
b) não ser o caso de arquivamento dos autos: o ANPP
pressupõe justa causa (mínimo de suporte fático) para o
início da ação penal;
c) crime com pena mínima inferior a 4 anos e que não tenha
sido cometido com violência ou grave ameaça a pessoa:
para aferição da pena mínima serão consideradas as causas
de aumento e diminuição de pena aplicáveis ao caso
concreto (art. 28-A, §1º/CPP)
d) Confissão um formal e circunstancial da prática do crime;
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal I
Condições:
Estão descritas nos incisos artigo 28A/CPP e podem ser
ajustados cumulativa ou alternativamente.
Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado
confessado formal e circunstancialmente a prática de infração penal
sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4
(quatro) anos, o Ministério Público poderá propor acordo de não
persecução penal, desde que necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime, mediante as seguintes condições ajustadas
cumulativa e alternativamente:
Formalização:
Será formalizado nos autos do procedimento investigatório
criminal (PIC) conduzida pelo Ministério Público ou do inquérito policial (IP) e deve
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Direito Processual Penal I
Análise judicial:
O juiz, em uma audiência designada para tal finalidade, deverá
verificar a voluntariedade e legalidade do investigado na aceitação do acordo ele
poderá:
a) homologar o acordo, devolvendo os autos ao MP para
início da execução perante o juízo de execução penal (§6º)
b) devolver os autos ao MP para reformulação da proposta
do acordo se considerar que os termos do acordo são
inadequados, insuficientes ou abusivos (§5º);
c) recusar a homologação do acordo e devolver os autos para
o Ministério Público para análise da necessidade de
complementação das investigações ou para o oferecimento da
denúncia entender que não é caso de acordo (§§ 7º e 8º)
Dessa decisão caberá o recurso em sentido estrito, nos termos
do artigo 581, XXV, do CPP.
Vale frisar que uma corrente mais moderna vem revisando o conceito de
obrigatoriedade da ação penal pública, defendendo que a ideia desse princípio é a que
não pode o Ministério Público, sem justa causa, abrir mão de dar uma resposta a
investigações criminais em que se constatou a materialidade delitiva e ao menos,
indícios de autoria. Logo, os institutos mencionados acima não mitigam a
obrigatoriedade da ação penal pública, pois o Ministério Público não deixou de agir,
apenas buscou uma solução mais efetiva para o sistema penal atual.
Espécies:
Art. 24/CPP. Nos crimes de ação pública, esta será promovida por
denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir,
de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido
ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
§ 1º No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por
decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão.
Exemplos: Estelionato (art. 171/CP); Lesão corporal leve (art. 129, caput, do CP
c/c art. 88 da lei 9.099/95); lesão corporal culposa (art. 129, §6º, do CP, c/c art. 88 da lei
9.099/95); perigo de contágio venéreo (art. 130, §2º/CP); ameaça (art. 147, parágrafo
único, do CP); contra a honra de funcionário público em razão do exercício de suas
funções (art. 141, inc. II, c/c art. 145, parágrafo único, do CP *1).
*1 Súmula 714/STF: É concorrente a legitimidade do ofendido,
mediante queixa, e do ministério público, condicionada à
representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra
de servidor público em razão do exercício de suas funções.
Para Eugênio Pacelli, nos casos de crime honra de funcionário público
no exercício da atividade pública, a legitimação não seria concorrente,
mas, sim, ALTERNATIVA, visto que o STF já entendeu que se
ofendido em sua honra apresentar representação ao Ministério
Público, ele estaria optando pela ação penal pública, estando preclusa
a via de instauração da ação privada.
Poderá ocorrer quando do registro de ocorrência, o que vem sendo aceito pela
doutrina, não sendo o ideal, pois tal registro como sendo o único documento que
demonstre o interesse de representar contra o ofensor poderá gerar dúvidas. O ideal é
que colher expressamente a intenção do ofendido por termo, conforme o disposto no
artigo 39, §1º, do CPP:
§1º A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura
devidamente autenticada do ofendido, de seu representante legal ou
procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade
policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este houver
sido dirigida.
a) Prazo
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu
representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação,
se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que
vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em
que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.
d) Retratação:
Poderá ocorrer desde que seja feita antes do oferecimento da ação penal,
retirando a autorização dada ao Ministério Público.
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal I
a) Prazo:
Diante do silêncio da lei, a qualquer tempo, enquanto não estiver extinta a
punibilidade do agente.
b) Destinatário:
Dirigida ao Ministério Público, na figura do Procurador Geral de Justiça.
c) Retratação:
Nucci. Aury Lopes, Luiz Flávio Gomes e Pacelli entendem ser admissível, ante a
aplicação, por analogia, do disposto no artigo 25/CPP, por ser a requisição do MJ um
ato administrativo discricionário. Contrariamente: Mirabete, Frederico Marques;
Tourinho Filho; Fernando Capez, Nestor Távora.
d) Hipóteses:
Crime cometido por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil (art. 7º, §3º,
b/CP); crimes contra a honra cometidos contra chefe de governo estrangeiro e o
presidente da República (art. 141, inc. I, c/c art.145, parágrafo único/CP).
Atenção! Nesse tipo de ação penal, estará a previsão expressa junto ao tipo penal
da condição especial para o início da ação penal.
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal I
Princípios:
- Princípio da oportunidade e conveniência: o ofendido tem a faculdade
de propor ou não a ação de acordo com sua conveniência.
Espécies:
a) Exclusiva: é a ação penal cuja iniciativa é da vítima, salvo no caso desta ser
menor ou incapaz, ocasião em que é permitida a iniciativa pelos seus representantes
legais.
Atenção! Nesse caso a lei expressamente menciona que a ação penal “somente se
procederá mediante queixa”.
b) Personalíssima: ação só poderá ser proposta pela vítima. Se esta for menor,
deverá aguardar a maioridade; se for doente mental, deverá aguardar o seu
restabelecimento; se falecer, a ação não poderá ser proposta ou deverá ser extinta pela
impossibilidade de sucessão no polo ativo (Ex.: art. 236, parágrafo único do CP –
induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento).
Nesse caso a lei expressamente menciona que a ação penal “somente se
procederá mediante queixa do ofendido”.
Para que entender essa espécie de ação penal privada, é necessário saber o prazo
para oferecimento da denúncia: Em regra, o prazo será:
- Réu preso: 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério
Público receber os autos do inquérito policial
- Réu solto: 15 dias.
Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso,
será de 5 dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público
receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver
solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito
à autoridade policial (art. 16), contar-se-á o prazo da data em que o
órgão do Ministério Público receber novamente os autos.
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Direito Processual Penal I
§1º Quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial, o
prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data em que
tiver recebido as peças de informações ou a representação.
O ofendido terá o prazo de 6 meses para fazer valer-se de tal ação, oferecendo
a QUEIXA-CRIME SUBSTITUTIVA.
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu
representante legal, decairá no direito de queixa ou de representação,
se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que
vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em
que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.
b) Renúncia:
É a recusa da vítima de tomar providências contra seu agressor, em se tratando
de ação penal privada e trata-se de ato unipessoal do ofendido, independente da
aceitação do ofensor.
Ocorrerá sempre antes do ajuizamento da ação penal (≠ do perdão).
c) Perdão:
É a concessão do ofendido, ou do seu representante legal, ao autor da infração da
remissão da culpa e pena.
Ocorre depois de já iniciada a ação penal e é um ato bilateral, ou seja, exige a
concordância do ofensor (querelado).
Art. 105/CP - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se
procede mediante queixa, obsta ao prosseguimento da ação.
Nucci entende que, assim como a renúncia, o perdão deveria ser um ato
unilateral, pois de nada adianta o ofensor não aceitar o perdão do ofendido, pois
esse poderá incorrer em perempção.
Atenção: A ação penal privada subsidiária da pública não comporta perdão, pois
em última análise, o titular da ação penal é o Ministério Público.
d) Perempção:
Ocorre quando o querelante, por desídia, demonstra desinteresse pelo
prosseguimento da ação.
Art. 60. Nos casos em que somente se procede mediante queixa,
considerar-se-á perempta a ação penal:
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o
andamento do processo durante 30 dias seguidos;
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade,
não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do
prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-
lo, ressalvado o disposto no art. 36;
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo
justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou
deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem
deixar sucessor.
É aquela que a lei estabelece um titular ou uma modalidade de ação penal para
determinado crime, mas diante do surgimento de circunstâncias especiais, prevê,
secundariamente, uma nova espécie de ação para aquela mesma infração. Ou seja, em
determinados delitos, as circunstâncias do caso concreto fazem variar a modalidade de
ação penal a ser intentada.
Exemplos:
1 - O crime de lesão corporal leve, previsto na lei 9.099/95, é crime de ação
penal pública CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO. Todavia, o STF passou a
entender que quando o delito for praticado contra a mulher, no âmbito das relações
domésticas, será de ação penal pública INCONDICIONADA (ADI 4424/DF). Para o
Supremo, não seria razoável ou proporcional deixar a atuação estatal a critério da vítima
nesses casos.
Tal entendimento foi corroborado pelo STJ com a edição do enunciado sumular
nº 542:
Súmula 542 - A ação penal relativa ao crime de lesão corporal
resultante de violência doméstica contra a mulher é pública
incondicionada.
DENÚNCIA E QUEIXA:
Denúncia é a peça acusatória inaugural da ação penal pública (incondicionada ou
condicionada).
Queixa é a peça acusatória inaugural da ação penal privada.
Requisitos:
Art. 41/CPP. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato
criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do
acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
acusação não tem elementos para especificar a conduta de cada coautor ou partícipe, a
fim de não inviabilizar a persecução penal, é possível fazer uma narração geral do fato.
Ressalta-se que a atenuação do rigorismo do artigo 41/CPP não implica admitir-se
denúncia que não demonstre a ação ou omissão praticada pelos agentes, o nexo de
causalidade com o resultado danoso ou qualquer elemento indiciário de culpabilidade.
Denúncia alternativa:
Discute-se na denúncia a possibilidade de ser oferecida denúncia alternativa, que
é aquela que atribui ao réu mais de uma conduta penalmente relevante de forma
alternativa, de modo que, se uma delas não ficar comprovada, o réu poderá ser
condenado subsidiariamente pela outra.
Correntes:
Não pode ser aceita, pois torna a acusação incerta, dificultando ou
inviabilizando a defesa. Nesse sentido: Grinover; Scarance; Magalhães; Capez;
Nucci – MAJORITÁRIA.
O acusado defende-se de fatos certos que lhe são atribuídos, ainda que
suscetíveis de comportarem definições jurídicas diversas no momento da
prestação jurisdicional. Nesse sentido: José Frederico Marques, Afrânio Silva
Jardim e STJ, 5ª Turma (REsp n. 399.858-SP, julgamento: 25.2.2003).
e) Pedido de condenação:
Não precisar ser expresso, bastando que esteja implícito na peça acusatória.
- Pressupostos processuais:
- Condições da ação:
a) Legitimidade da parte:
a.1) Ativa:
- Ministério Público;
- Ofendido ou seu representante legal do ofendido.
a.2) Passiva: Agente da infração penal maior de 18 anos.
b) Interesse de agir:
É divido em três subespécies:
b.1) Necessidade: É sempre presumida, uma vez que não há aplicação de
pena sem o devido processo legal. Logo, pode-se afirmar que o processo
penal é hipótese de jurisdição obrigatória/necessária.
b.3) Utilidade: impõe que a ação penal seja útil para a realização da
pretensão punitiva do Estado.
Atenção! Da decisão que recebe, não cabe, em regra, qualquer recurso, podendo
ser impetrado um Habeas Corpus, no caso de crimes de competência originária dos
tribunais superiores, para trancamento da ação penal.