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Serial Killer

Conceito de Serial Killer

O termo serial killer foi criado em meados da década de 70, por Robert
Ressier, ex-diretor do Programa de Prisã o de Criminosos Violentos do FBI-
Federal Bureau of Investigation.
O FBI define um serial killer como uma pessoa que mata três ou mais
vítimas com períodos de ''calmarias'' entre os assassinatos. Isto os separa
dos assassinos em massa, que matam quatro pessoas ou mais ao mesmo
tempo( ou em um curto período de tempo) no mesmo local, e dos
assassinos turbulentos, que matam em vá rios locais e em curtos períodos
de tempo. Os serial killers geralmente trabalham sozinhos, matam
estranhos e matam por matar(diferentemente dos crimes passionais).
É um criminoso que mata de forma metó dica e criteriosa, o que o difere
dos outros homicidas. O serial killer seleciona suas vítimas, quase sempre
com as mesmas características.
Em meio aos seus crimes, o serial killer desafia a polícia e a sociedade, sem
demonstrar nenhum remorso por seus atos. Manipula a açã o das pessoas
para obter sua impunidade. Para este psicopata, torna-se um bom desafio
cometer os crimes.
Os crimes em série normalmente sã o cometidos em concurso com crimes
sexuais. Alguns homicidas guardam partes de suas vítimas como “troféus”.
Em seu site, Ilana Casoy, conhecida criminologa na á rea, resume o conceito
e características dos serial killers:
“Serial killers sã o os assassinos que cometem uma série de homicídios com algum intervalo de tempo
entre eles. Suas vítimas têm o mesmo perfil, a mesma faixa etá ria, sã o escolhidas ao acaso e mortas sem
razã o aparente. Para criminosos desse tipo, elas sã o objeto da sua fantasia.

Infelizmente, eles só param de matar, até onde se sabe, quando sã o presos ou mortos. O serial killer
“esfria” entre um crime e outro, nã o conhece sua vítima, tem motivo psicoló gico para matar e necessidade
de controle e dominaçã o. Geralmente suas vítimas sã o vulnerá veis, e o comportamento delas nã o
influencia a açã o do assassino. Esses assassinos começam a agir entre 20 e 30 anos, escolhendo
indivíduos mais fracos, que estã o em algum estereó tipo, e levam uma lembrança ou troféu de cada
assassinato cometido. Por se sentirem acima do bem e do mal, acreditam ser muito espertos, têm
autoconfiança e muitas vezes “jogam” com a polícia.”
Classificação;
1. Aqueles que se concentram no ato- para este tipo, matar é o ato em
sí, por isso matam mais rá pido suas vítimas.
a. Visionários: que matam porque escutam vozes ou tem visõ es que os
levam a fazer isso;
b. Missionários: que matam porque acreditam que devem acabar com
determinado grupo ou tipo de pessoa;
2.Aqueles que se concentram no processo- estes sentem prazer na tortura e
morte lenta de suas vítimas, e por isso matam mais devagar.
a. Hedonistas: podem ser sexuais (que obtém prazer sexual ao matar),
que buscam emoçã o(se excitam ao matar) ou que querem tirar
proveito(acreditam que vã o lucrar de alguma forma);
b. Assassinos em busca de poder: querem ''brincar de Deus'' ou
sentir-se no domínio da vida e da vítima;

3.Perfis Geográficos

O Dr. Kim Rossmo, um detetive em Vancouver, British Columbia,


desenvolveu a técnica dos perfis geográ ficos da criminalidade violenta que
afirma que os serial killers podem ser divididos em quatro tipos de acordo
com a maneira em que encontram suas vítimas:
a. Caçador: Realiza especificamente a busca de uma vítima baseado no
seu local de residência.
b. Furtivo: Também faz uma busca da vitima, mas a partir do local de
uma atividade diferente do seu local de residência ou viaja para outro lugar
durante a caça.
c. Oportunista: Encontra a vitima enquanto realiza outras atividades.
d. Ardiloso: Fica numa posiçã o, exerce uma profissã o ou cria uma
situaçã o que lhe permite encontrar as vítimas dentro de um local sob seu
controle.
Rossmo também define três tipos de atacante:
e. Raptor: Ataca a vítima quase que imediatamente ao encontrá -la.
f. Perseguidor: Primeiro segue a vítima depois de encontra-la,
aproxima-se gradualmente á espera de uma oportunidade para atacar.
g. Predador: Ataca a vítima depois que a atrai a um local específico,
como uma residência ou local de trabalho, controlado pelo agressor. O
corpo da vítima é escondido frequentemente no mesmo local. Segundo
Rossmo, “essa tipologia é notavelmente semelhante à quela de Schaller
(1972) sobre os métodos utilizados pelos leõ es no Serengeti”. “Caçador” e
“furtivo” sã o semelhantes à s descriçõ es de “saqueador” e “andante” usado
por David Canter em um estudo sobre estupro em série na Inglaterra. Os
saqueadores sã o indivíduos cujas casas se encontram perto do centro do
círculo de seus crimes, ao passo que os andantes viajam de uma a outra
á rea. Dos 45 estupradores seriais considerados no estudo de Canter,
apenas 5 foram classificados como andantes.
Por outro lado em um estudo de 1993, o FBI descobriu que metade dos 76
estupradores seriais morava fora do círculo de seus crimes. Concluíram
que as diferenças poderiam ser atribuídas a diferenças na estrutura urbana
europeia e norte-americana.
Consideraçõ es geográ ficas também podem afetar a formaçã o de um círculo
de ocorrências de crimes. Por exemplo, o “lobisomem estuprador”, José
Rodrigues, culpado de uma longa sequência de abuso sexual em 1990, vivia
em Bexhiln, costa sul da Inglaterra. Como obviamente nã o tinha como
exercer suas atividades criminosas no sul do canal inglês, seus crimes se
estabeleceram apenas em um semicírculo ao norte de Bexhiln.
O perfil geográ fico se baseia na premissa de que a maioria das pessoas tem
um “ponto de ancoragem”. Para a maioria é a casa, mas também pode ser o
local de trabalho ou a casa de um amigo pró ximo. Alguns criminosos podem
basear as suas atividades em um centro social como um bar ou um centro
esportivo.
Esse ponto de ancoragem está dentro do mapa mental da pessoa e é
prová vel que fique pró ximo ao centro. Conforme os criminalistas têm
apontado, “poucos criminosos parecem trilhar territó rios ou situaçõ es
novas e desconhecidas em busca de oportunidades”. A questã o de
identidade de Jack, o Estripador, continua atraindo a atençã o de
criminalistas, incluindo David Canter, que aplicou o conceito de ponto de
ancoragem para o problema. Aceitou a sugestã o oferecida pelo historiador
Paul Begg de que o principal suspeito era Aaron Kosminski, uma teoria com
a qual o FBI concorda. Embora Begg nã o soubesse o endereço de
Kosminski, sabia onde morava seu irmã o Wolf, que cuidava dele apó s seu
ingresso no asilo mental. Begg achava que era prová vel que Aaron morasse
perto – que o chefe-assistente da polícia tinha descrito como “o coraçã o do
distrito onde os assassinatos foram cometidos”.
Argumentando que “para manter a má xima distâ ncia que equilibre
familiaridade e risco, você teria que cometer seus crimes em uma regiã o
circular ao redor de sua casa”, Canter elaborou um mapa da á rea de
Whitechapel, pontilhada com os locais onde o Estripador cometeu seus
assassinatos. A residência de Wolf Kosminski fica bem no meio.

4. Mapas Mentais

Todos os seres humanos criam mapas mentais, imagens de á reas familiares


como bairros ou cidades que sã o armazenadas na memó ria. Assim como
acontece com a informaçã o espacial, essas imagens incluem detalhes como
cor, som, sensaçã o, sentimentos e símbolos significativos. Os elementos
espaciais sã o divididos em cinco tipos:
a. Caminhos: Rotas de viagem que dominam a imagem que a maioria das
pessoas têm das cidades e de outros lugares centrais, como rodovias e
ferrovias.
b. Limites: Fronteiras como rios, trilhos de trens ou grandes rodovias.
c. Bairros: subá reas com características reconhecíveis e centros bem
estabelecidos com fronteiras menos claras, como bairros comerciais,
bairros de imigrantes ou “favelas”.
d. Pontos importantes: centros de intensa atividade, como cruzamentos
rodoviá rios principais, estaçõ es ferroviá rias ou grandes lojas.
e. Sinais: símbolos reconhecidos que sã o usados para orientaçã o, como
sinalizaçã o, placas, á rvores ou edifícios altos.

5. TEORIAS DE COMO SURGEM OS SERIAL KILLERS.


Vá rias teorias foram concebidas para tentar explicar o motivo das atitudes
dos serial killers, porém isso é tarefa praticamente impossível por se tratar
de um enigma ainda. No entanto, têm-se três teorias: negligência e abuso na
infâ ncia, doença mental e danos cerebrais.

5.1 Negligência e abuso.

Essa teoria gira em torno da negligência e do abuso sofridos por muitos


serial killers ainda pequenos. Segundo Robert Ressler e Tom Shachtman,
através de um estudo realizado pelo FBI, que incluiu entrevistas com
dezenas de assassinos (a maioria deles serial killers), eles descobriram
"padrõ es similares de negligência infantil grave" em cada caso.
Na fase de crescimento de cada criança, existem períodos onde é necessá rio
o aprendizado de valores, tais como o amor, empatia, a verdade e outras
regras bá sicas para a boa convivência com a sociedade. Se estes valores nã o
sã o ensinados para a criança durante seu desenvolvimento, pode ser que a
vida nã o as ensine.
Serial killers frequentemente sofreram abuso físico ou sexual quando
crianças, ou testemunharam o abuso de membros da família. Este padrã o
de negligência e abuso, dizem alguns pesquisadores, leva serial killers a
crescer sem a percepçã o de ninguém além deles mesmos.
Mas ao mesmo tempo, muitas crianças crescem sofrendo negligência e
abuso, mas nã o se tornam criminosos violentos ou serial killers, o que
mostra que esse fator nã o pode ser o ú nico responsá vel pela atitude
criminosa.

5.2 Doença mental.

Para algumas pessoas, a ú nica maneira de explicar os assassinatos em série


é dizer que os serial killers sã o "loucos". Alguns deles alegam "ser inocentes
por razõ es de insanidade" como defesa, mas nem sempre sã o "loucos" ou
até mesmo mentalmente doentes. Segundo o Có digo Americano, uma
defesa de insanidade significa que "no momento da execuçã o dos atos que
constituem o crime, o réu, como resultado de grave doença ou deficiência
mental, nã o era capaz de avaliar com precisã o a natureza e qualidade ou
ilegalidade de seus atos. Doenças ou deficiências mentais nã o constituem
defesa em outras circunstâ ncias [fonte: U.S. Code].
Alguns serial killers foram diagnosticados por psicó logos e psiquiatras
como psicopatas. O termo oficial, definido pelo Manual de Diagnó stico e
Padrã o de Distú rbios Mentais quarta ediçã o (DSM-IV), é distú rbio de
personalidade antissocial (APD). Segundo o DSM-IV, uma pessoa com APD
segue um padrã o de "desprezo e violaçã o dos direitos dos outros, que
ocorre desde os 15 anos de idade". Este padrã o inclui sete fatores (dos
quais três devem ser atendidos para o diagnó stico), tais como "fracasso em
se adaptar à s normas sociais", "irritabilidade e agressividade" e "falta de
remorso"[fonte: Vronsky3]. Segundo os psicó logos os psicopatas nã o sã o
loucos, pois eles conseguem distinguir o certo do errado.

5.3. Dano cerebral.

Alguns pesquisadores formaram a teoria de que os serial killers têm danos


cerebrais ou outras anomalias que contribuem para seus atos. Danos a
á reas como o lobo frontal, o hipotá lamo, e o sistema límbico podem
contribuir para agressã o extrema, perda de controle, perda de julgamento e
violência. Alguns casos se encaixam nessa teoria, como o caso de Henry Lee
Lucas, condenado por 11 assassinatos, tinha graves danos cerebrais nessas
á reas, provavelmente resultado de abuso na infâ ncia, subnutriçã o e
alcoolismo; Arthur Shawcross, outro que matou 11 pessoas, tinha vá rios
danos cerebrais, incluindo duas fraturas no crâ nio. Na prisã o, sofria de
dores de cabeça e desmaiava com frequência; e Bobby Joe Long, condenado
por nove assassinatos, disse: "Depois que eu morrer, vã o abrir minha
cabeça e descobrir que como dissemos, parte do meu cérebro está preta,
seca, morta"[fonte: Scott].

6. A VIOLÊNCIA DOS SERIAL KILLERS

A questã o da violência e agressividade humanas vem sendo analisada


desde o começo da humanidade. O que torna alguém agressivo e capaz de
matar uma pessoa por maldade? O pensador Jean Jacques Rousseau,
importante filó sofo do Iluminismo, acreditava que os seres humanos sã o
naturalmente bons, e que eventualmente podem ser corrompidos pela
sociedade. No entanto, Jorge Semprú n, escritor, filó sofo e político espanhol;
citado por Edilson Bonfim discorda dessa suposiçã o, dizendo:

“O homem nã o é naturalmente bom.

Nã o é a sociedade que o estraga e o

corrompe, é exatamente o contrá rio: o

homem é naturalmente capaz de ser

mau, e é a sociedade que, à s vezes,

consegue reformular ou corrigir, por

intermédio das leis e das instituiçõ es,

essa permanente possibilidade do mal

absoluto que existe no homem”.

Muitas teorias foram desenvolvidas ao longo da Histó ria para explicar a


violência humana: fatores físicos, como traços do rosto; fatores genéticos
ou ambientais, como o clima, grau de cultura, religiã o, densidade
populacional, nível econô mico, etc. Nesta linha atuaram autores como
Alphonse Bertillion, Cesare Lombroso, entre outros.
Apó s isso, nasceu a crença nas “sementes ruins”, segundo a qual a violência
e delinquência seriam transmitidas geneticamente. Na década de 60, nos
Estados Unidos, se iniciou uma caçada aos portadores da chamada
‘síndrome XYY’, também chamada de ‘síndrome de Klilefelter’. Nesta
anomalia de DNA, indivíduos masculinos apresentavam um cromossomo
masculino Y excedente.
Acreditava-se que esta variaçã o poderia tornar a pessoa mais propensa a
ser agressiva e violenta. Alguns criminosos tiveram sua pena reduzida ao se
constatar que eram portadores da síndrome, porém, como existe um
grande nú mero de pessoas com esta anomalia, nã o se pode dizer que
realmente ela torne alguém mais agressivo.
Mais atualmente, a médica americana Helen Morrison constatou que danos
à regiã o do hipotá lamo do cérebro podem ser a causa de crimes violentos,
pois este ó rgã o seria responsá vel pela produçã o do hormô nio que regula a
“voltagem emocional” do sistema nervoso.
Uma equipe médica da Universidade Estadual da Califó rnia constatou que
criminosos violentos têm nível de batimentos cardíacos mais baixos, o que
faz com que necessitem de uma dose maior de adrenalina para se sentirem
vivos.
Outros pesquisadores descobriram que o cérebro de um assassino violento
teria 11% a menos das células cerebrais responsá veis pelos sentimentos de
afeiçã o, remorso e compaixã o.
Uma ú ltima teoria diz que o nível alto de agressividade estaria relacionado
com algum tipo de lesã o cerebral sofrida pelo indivíduo em algum
momento, em regiõ es como o lobo frontal e o hipotá lamo.
O fato é que a ciência ainda nã o encontrou um motivo suficiente para
explicar porque algumas pessoas sã o violentas e outras nã o. Analisando os
casos de serial killers, percebe-se que eles agem por diferentes motivaçõ es:
sexo, dinheiro, emoçã o, etc. mas que estes motivos por si só nã o conseguem
explicar atos tã o hediondos e cruéis.
Pesquisando e lendo sobre a vida de cada serial killer, sã o encontrados
eventos traumá ticos, principalmente em suas infâ ncias, que poderiam ter
despertado neles a sua maldade. Sã o pessoas que, em momentos
problemá ticos de suas vidas, nã o tiveram ajuda dos pais e familiares.
Muitas vezes foram agredidos, oprimidos, abusados física e
emocionalmente.
Com estas observaçõ es, é possível chegar ao argumento de que nã o é
apenas um fator que gera a violência, mas a conjunçã o de vá rios fatores.
Nem todas as pessoas agressivas se tornam assassinas, ainda mais em série.
É impossível negar que existem fatores bioló gicos, como hormô nios,
funçõ es cerebrais, entre outros, que podem deixar a pessoa com maior
tendência à violência, porém a crueldade surge psicologicamente, quando
os acontecimentos externos permitem que as tendências bioló gicas sejam
ativadas.
Sendo assim, pode-se opinar que os seres humanos nascem, como todos os
animais, com a capacidade de serem violentos. No mundo animal, isso nã o é
visto como maldade, quem definiu a violência como maldade foram os
seres humanos, pois os animais se agridem e matam para se defender, se
alimentar, para sobreviver. A sociedade definiu que ferir e matar sã o contra
as leis, embora os seres humanos ainda carreguem esta capacidade natural
de agressividade. Mas, se todos sã o capazes de ser tã o bons quanto maus; o
que gera indivíduos como os serial killers? A resposta parece simples:
fatores bioló gicos, relacionados a fatores sociais.
7. TEORIAS MODERNAS DA CRIMINALIDADE

O psicanalista alemã o, Eric Erikson, definiu oito fases da vida em que as


“fases interpessoais” devem ser resolvidas:
a) Fase oral-sensorial, do nascimento aos 12/18 meses
A alimentaçã o do bebê resulta em um relacionamento amoroso e confiante
com quem exerce essa funçã o ou desenvolve-se um sentimento de
desconfiança.
b) Fase muscular-anal, dos 18 meses aos 3 anos
As energias da criança estã o direcionadas a melhorar as habilidades físicas,
como caminhar e aprender a usar o banheiro. A vergonha e a dú vida podem
se desenvolver se a etapa nã o for tratada com cuidado.
c) Fase de locomoção, dos 3 aos 6 anos
A criança se torna mais independente e assertiva, mas pode desenvolver
culpa se os comportamentos agressivos nã o forem controlados.
d) Etapa de latência, dos seis aos 12 anos
A criança está na escola e deve dominar novas competências, caso
contrá rio, podem se desenvolver sentimentos de inferioridade e fracasso.
e) Fase adolescente, dos 12 aos 18 anos
Pode ser um período de confusã o. O adolescente deve alcançar um sentido
de identidade em á reas como a sexualidade, trabalho, política e religiã o.
f) Adulto jovem, dos 19 aos 40 anos
É o momento em que deverá desenvolver relaçõ es íntimas. Se nã o, haverá
um sentimento constante de isolamento.
g) Adulto intermediário, dos 40 aos 65 anos
A criatividade diminui e a estagnaçã o ameaça. As pessoas devem encontrar
uma forma de se relacionar com a pró xima geraçã o.
h) Maturidade, dos 65 até a morte
É o momento de entrar em um acordo com a pró pria vida, lutando contra a
falta de esperança e o desenvolvendo o sentimento de dever cumprido.
8. CONEXÃO ENTRE OS CRIMES

Existem três elementos que conectam os crimes de um serial killer: ritual,


assinatura e modus operandi.
O ritual é o comportamento que excede o necessá rio para a execuçã o do
crime e é baseado nas necessidades psicossexuais do criminoso,
imprescindível para sua satisfaçã o emocional. Rituais sã o enraizados na
fantasia e frequentemente envolvem parafilias, além de cativeiro,
escravidã o, posicionamento do corpo e overkill, entre outros. Pode ser
constante ou nã o.
A assinatura a é uma combinaçã o de comportamentos, identificada pelo
modus operandi e pelo ritual. Nã o se trata apenas de formas de agir
inusitadas. Muitas vezes o assassino se expõ e a um alto risco para satisfazer
todos os seus desejos, como, por exemplo, permanecendo muito tempo no
local do crime. Pode também usar algum tipo de amarraçã o específica ou
um roteiro de açõ es executadas pela vítima, como no caso de estupradores
em série. Ferimentos específicos também sã o uma forma de assinar um
crime.
O modus operandi é o “modo de operaçã o”, ou seja, como o criminoso vai
cometer o crime. Normalmente o assassino em série sempre comete os
crimes de maneira parecida. O modus operandi mostra o que o assassino
teve de fazer para cometer o crime, e inclui desde a forma como ele seduz a
vítima, a encarcera, até a maneira como a mata. Com o passar do tempo, o
modus operandi de um serial killer vai se aperfeiçoando, conforme ele
aprende e se torna mais há bil na “arte” de matar.
Através desses elementos, a polícia e os investigadores poderã o traçar um
perfil do criminoso, e assim descobrir quais crimes sã o de sua autoria ou
nã o.
Ilana Casoy discorre sobre a importâ ncia desse assunto:
“No Brasil, a polícia tem muita dificuldade em aceitar a

possibilidade de um serial killer estar em açã o. Um certo

preconceito permeia as investigaçõ es de crimes em série. Isso já

aconteceu inú meras vezes no passado, e as consequências sã o

nefastas. Em outros países, com uma aná lise acurada do motivo


ou da falta dele, do risco-vítima e risco-assassino, modus

operandi, assinatura do crime e a reconstruçã o da sequência de

atos cometidos pelo criminoso, os serial killers sã o caçados antes

que cometam tantos crimes. Quanto antes se reconhece que um

assassino desse tipo está em açã o, mais rá pido se podem acionar

psiquiatras e psicó logos forenses, profilers e médicos-legistas,

que juntos podem fazer um perfil da pessoa procurada. Isso

resulta na diminuiçã o do nú mero de suspeitos, no

estabelecimento de estratégias eficientes de investigaçã o, na busca de provas, no método de


interrogató rio do suspeito para

adquirir a confissã o, além dar à promotoria com um insight da

motivaçã o do assassino.

O agressor serial invariavelmente mostra um importante aspecto

comportamental em seus crimes: ele sempre os assina. A

assinatura é ú nica, como uma digital, e está ligada à necessidade

psicoló gica do criminoso. Diferente do modus operandi, a

assinatura de um serial killer nunca muda.

A polícia civil deveria saber tudo isso? Nã o; mas deveria poder

contar com a ajuda de ó rgã os especializados em ciência forense,

existentes no Brasil, mas pouco incentivados e divulgados.

Quando lidamos com crimes em série, o trabalho integrado de

profissionais forenses deveria ser obrigató rio.''

9. DIFERENCIAÇÃO ENTRE O PSICOPATA E O PSICÓTICO.

Ao contrá rio do que muitos pensam psicopatas nã o sã o loucos ou doentes


mentais; sã o pessoas de sentimentos frios e mentes calculistas. Sã o
“inescrupulosos, dissimulados, mentirosos, sedutores e que visam apenas o
pró prio benefício7”. Ou seja, psicopatas sã o pessoas cruéis e criminosas,
com uma mente brilhante, e de forma alguma sã o doentes mentais. Ricardo
de Oliveira Souza e Jorge Moll desenvolveram um exame chamado de
Bateria de Emoçõ es Morais, para acompanhar a atividade cerebral do
indivíduo quando sujeito a emoçõ es como medo, arrependimento, culpa ou
compaixã o. Fazendo o teste em psicopatas, descobriram que a atividade
cerebral é reduzida quando se incentiva essas emoçõ es, porém as á reas do
cérebro relacionadas com a cogniçã o sã o mais desenvolvidas. Sã o assim
pessoas que tendem a racionalizar tudo que acontece, sem se deixar levar
pelas emoçõ es.
Já os psicó ticos cometem seus crimes induzidos por fortes emoçõ es, e, em
geral, nã o se preocupam com as consequências de seus atos. Estes sim
sofrem de doença mental, podendo ter alucinaçõ es e imaginar serem
enviados de Deus para cumprir determinada missã o.

9.1. Classificação dos Psicopatas

Kurt Schneider, um psiquiatra alemã o; classificou os psicopatas nos


seguintes grupos:

9.1.1. Psicopatas hipertímidos

Sã o alegres, despreocupados, eufó ricos, impacientes, têm tendência à


execuçã o imediata, instabilidade de vida, prodigalidade. Inclinados a
escâ ndalos e desarmonias familiares, conjugais e de trabalho;

9.1.2. Psicopatas depressivos

Apresentam estado depressivo, mau-humor, pessimismo, desconfiança,


pouca criminalidade. Podem cometer suicídio;

9.1.3. Psicopatas lábeis do estado de ânimo

Seu estado sofre oscilaçõ es imotivadas e desproporcionais, com crises de


irritaçã o e depressã o. Sã o perigosos na fase impulsiva;

9.1.4. Psicopatas irritáveis ou explosivos


Apresentam uma irritabilidade excessiva de humor e de afetividade,
seguida de tensõ es motoras. Muitas dessas explosõ es ocorrem apenas na
embriaguez; sã o péssimos pais e maridos;

9.1.5. Psicopatas de instintividade débil

Apresentam falta de iniciativa, iniciam uma atividade e logo a abandonam,


sã o inconstantes. Normalmente sã o inteligentes, frívolos, ligeiros e
inquietos. Tendem ao alcoolismo, vagabundagem e tó xicos;

9.1.6. Psicopatas sem sentimentos ou amorais

Impossibilitados de experimentar sentimentos de afeto, simpatia e


valorizaçã o do outro. Podem praticar qualquer tipo de crime. Nã o
conhecem compaixã o, vergonha, remorso, etc;

9.1.7. Psicopatas carentes de afeto

Sã o exibicionistas e presunçosos, sabem atuar muito bem. Chegam a


acreditar em suas pró prias mentiras;

9.1.8. Psicopatas fanáticos

Sã o obcecados, apaixonados. Expressam-se através de ideias religiosas,


filosó ficas e políticas. Sua maior periculosidade está em conseguir liderar
massas e grupos de pessoas. Apesar disso têm pensamentos confusos e
limitados;

9.1.9. Psicopatas inseguros de si mesmos


Sã o inseguros, com baixa autoestima e sentimentos de inferioridade. Sã o
pessimistas e tendem a certas fobias e obsessõ es;

9.1.10. Psicopatas astênicos

Sua característica mais marcante é a facilidade com que se cansam. Tendem


à depressã o, alcoolismo e suicídio. Seus ciclos de atividade psíquica sã o
curtos. Sã o muitas vezes confundidos com hipocondríacos e sã o
influenciá veis.

10. ASPECTOS JURÍDICOS: IMPUTABILIDADE E INIMPUTABILIDADE.

O Có digo Penal Brasileiro define a inimputabilidade no seu artigo 26:


“Art. 26 - É isento de pena o agente que,

por doença mental ou desenvolvimento mental

incompleto ou retardado, era, ao tempo da açã o

ou da omissã o, inteiramente incapaz de entender

o cará ter ilícito do fato ou de determinar-se de

acordo com esse entendimento. (Redaçã o dada

pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Reduçã o de pena

Pará grafo ú nico - A pena pode ser

reduzida de um a dois terços, se o agente, em

virtude de perturbaçã o de saú de mental ou por

desenvolvimento mental incompleto ou retardado

nã o era inteiramente capaz de entender o cará ter

ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com

esse entendimento.” (Redaçã o dada pela Lei nº

7.209, de 11.7.1984)

Assim, para que um indivíduo seja imputá vel é necessá rio que ele nã o só
entenda o cará ter ilícito do que faz, bem como tenha capacidade de
determinar-se de acordo com sua vontade. Ou seja, o agente deve
compreender que a açã o praticada é contra o ordenamento jurídico e ainda
assim escolher voluntariamente seguir o caminho do crime.
Quando a razã o ou voliçã o se encontram diminuídas, ocorre a exclusã o da
imputabilidade, que permite a semi-imputabilidade ou inimputabilidade. O
agente considerado imputá vel submete-se ao trâ mite regular do processo
legal, e, ao final, poderá sofrer pena privativa de liberdade, restritiva de
direitos ou de cunho pecuniá rio.
O fundamento da inimputabilidade é simples: se o indivíduo nã o pode
compreender a ilicitude de seus atos nem agir de acordo com sua vontade,
nã o seria justo punir-lhe por meio de pena.
Existem três critérios doutriná rios para a inimputabilidade: bioló gico,
psicoló gico e sistema misto (biopsicoló gico).
O sistema bioló gico analisa a condiçã o mental do indivíduo; se ele
apresenta alguma enfermidade ou grave deficiência mental será
considerado irresponsá vel sem nenhuma indagaçã o psicoló gica.
O sistema psicoló gico nã o leva em conta a saú de mental, e sim se, no
momento do delito, o agente era capaz de entender a criminalidade do fato
e determinar-se de acordo com isso.
O sistema misto é a uniã o dos dois anteriores: a responsabilidade só se
exclui se o agente, em razã o de enfermidade ou retardo mental, era incapaz
de entendimento ético-jurídico de sua açã o e determinar-se.
O Brasil adota o método biopsicoló gico, exceto em casos de crimes
cometidos por menores de 18 anos, onde se aplica o bioló gico simples, pois
o menor nã o teria o que se chama de maturidade mental.
O Có digo Penal dispõ e sobre as causas da falta da imputabilidade: ser
menor de idade; ter doença mental; ter desenvolvimento mental
incompleto ou retardado. O termo “doença mental” abrange a imensa gama
de doenças mentais, como a epilepsia condutopá tica, esquizofrenia,
neuroses, paranoias, psicoses, etc.
Desenvolvimento mental incompleto é aquele que ainda nã o está
terminado, como nos casos de menores de idade, surdos-mudos sem
educaçõ es especializadas e silvícolas nã o civilizadas. Desenvolvimento
mental retardado é aquele que nã o atingiu a maturidade psíquica, como
nos casos de idiotia, imbecilidade ou debilidade mental, onde o está gio
mental nã o condiz com o está gio de vida onde se encontra o indivíduo.
No caso da semi-imputabilidade, a capacidade de compreender a ilicitude e
a voliçã o estariam parcialmente retiradas do agente no momento do crime.
Em caso do agente ser inimputá vel, sofrerá medida de segurança em
hospital especializado a fim de que se cure ou tenha sua enfermidade
mental controlada. O tempo mínimo de internaçã o varia de um a três anos,
depois disso o interno será submetido a exames que comprovarã o o
aumento ou diminuiçã o de sua patologia, se ele apresentar periculosidade
ainda, permanecerá recluso, repetindo periodicamente os exames.
Se for considerado semi-imputá vel, o criminoso poderá ter a reduçã o da
pena de um terço a dois terços ou aplicaçã o da medida de segurança, de
acordo com o que definir o magistrado em relaçã o a cada caso.
Porém vale dizer que nem toda doença mental indicará ausência de
imputabilidade, pois a medicina se preocupa com qualquer defeito do
funcionamento mental, enquanto o direito se preocupa apenas se o agente
era capaz de compreender seus atos e dispor de sua vontade. Assim,
mesmo que o réu tenha alguma deficiência mental, poderá ser julgado
imputá vel, caso se comprove que sua doença nã o lhe retirou a
compreensã o e vontade.
Nos termos do Art. 182 do Có digo de Processo Penal, o juiz nã o é obrigado
a aceitar as conclusõ es do perito quanto à imputabilidade, podendo decidir
o contrá rio.

10.1. Visão doutrinária sobre a imputabilidade

Como já mencionado anteriormente, a questã o da culpabilidade dos serial


killers ainda é de difícil compreensã o, os doutrinadores divergem entre si
ao tentar se posicionar mediante esta questã o.
Segundo Basileu Garcia, um grande penalista brasileiro:
"Os criminalistas propendem a incluir o louco moral entre os

imputá veis, visto como tem íntegra a inteligência, embora

grandemente transviada a afetividade. Nã o deixa de ser um

anormal, mas a defesa da coletividade reclama que se lhe

apliquem penas".
Pode-se afirmar que os psicopatas possuem consciência da ilicitude de seus
atos. Sob o aspecto cognitivo, os psicopatas compreendem que as suas
condutas podem ser ilícitas. Nã o é no campo racional que se distingue um
indivíduo de personalidade considerada "normal" de outro acometido pela
psicopatia. Em verdade, o psicopata se difere das demais pessoas pelo
aspecto afetivo ou emocional. Uma pessoa com este distú rbio da
personalidade compreende que sua conduta é injustificada, porém
despreza o sofrimento que possa causar à vítima, somente se importando
com o proveito que possa vir a ter de sua açã o.
De regra, os psicopatas possuem capacidade de compreender o cará ter
ilícito de seu ato, constataçã o que por si só poderia nos levar a crer que sã o
indivíduos imputá veis. Sucede que, o problema pode residir na capacidade
de autodeterminaçã o. Em muitos casos, o psicopata nã o possui capacidade
para determinar-se conforme seu entendimento. Nesta hipó tese, o
psicopata seria considerado inimputá vel, a teor do disposto no caput do
artigo 26.
Enfrentando a questã o, Francisco de Assis Toledo, um jurista brasileiro,
reconheceu que em alguns casos a reduçã o da capacidade de
autodeterminaçã o nã o leva necessariamente à reduçã o da capacidade de
entender o cará ter ilícito do fato, dizendo:
"(...) se de um lado a reduçã o da capacidade de

compreensã o do injusto acarreta necessariamente a reduçã o

da capacidade de autodeterminaçã o, a recíproca nã o é

verdadeira, visto como esta ú ltima pode nã o estar vinculada à

primeira. É o que ocorre com alguma frequência em indivíduos

portadores de certas psiconeuroses, os quais agem com plena

consciência do que fazem, mas nã o conseguem ter o domínio

de seus atos, isto é, nã o podem evitá -los".

Por outro lado, Eugenio Raul Zaffaroni, ministro da Suprema Corte


argentina, ao tratar do tema, adotando fundamentaçã o distinta, igualmente
entendeu ser o caso de ser reconhecida a inimputabilidade do psicopata.
Segundo este doutrinador, os psicopatas seriam pessoas incapazes de
interiorizar normas de conduta, e, sendo assim, nã o teriam consciência da
ilicitude de seus atos, conforme o trecho destacado abaixo:
"Outros dos problemas que continuam preocupando a

ciência penal é o das chamadas psicopatias ou personalidades


psicopá ticas. A psiquiatria nã o define claramente o que é um

psicopata, pois há grandes dú vidas a seu respeito. Dada esta

falha proveniente do campo psiquiátrico, nã o podemos dizer

como trataremos o psicopata no direito penal. Se por psicopata

considerarmos a pessoa que tem uma atrofia absoluta e

irreversível de seu sentido ético, isto é, um sujeito incapaz de

internalizar ou introjetar regras ou normas de conduta, entã o

ele nã o terá capacidade para compreender a antijuridicidade de

sua conduta, e, portanto, será inimputá vel. Quem possui uma

incapacidade total para entender valores, embora os conheça,

nã o pode entender a ilicitude".

A psiquiatria forense e a doutrina penal estã o longe de dar a palavra final


na matéria. Somente com muito estudo e pesquisa, talvez sejam capazes de
concluir com absoluta precisã o qual deva ser o tratamento penal mais
adequado a ser dispensado para a figura do serial killer, enquanto
acometido por uma personalidade psicopá tica. No Brasil, há pouco
investimento na psicologia forense no â mbito criminal, e nã o há verbas
suficientes para Neurociência. O tratamento legal a ser oferecido ao
assassino em série dependerá do transtorno que ele possuir.
Entender suas razõ es morais, analisando a sua personalidade e sua
perspectiva sociocultural que está inserido, sã o fundamentais para a
aplicaçã o da Lei penal. Para julgar esse agente, o juiz precisa desta
avaliaçã o, juntamente com outros indícios e provas para saber se deve
absolver ou condenar, e fixar uma pena adequada e proporcional, ou
dependendo do caso, aplicar uma medida de segurança.

11.COMO DEFINIR A IMPUTABILIDADE DE UM SERIAL KILLER

Foi visto anteriormente que a imputabilidade é definida por dois fatores: a


capacidade de reconhecer o ato como ilícito e a capacidade de exercer sua
vontade perante isso. Se ambas as capacidades estã o presentes, o indivíduo
será imputá vel, se ambas ausentes, inimputá vel, e se apenas uma das
capacidades estiver ausente ou comprometida, será semi-imputá vel. No
caso dos serial killers, seria correto enquadrar todos eles em uma destas
condiçõ es? Pode-se dizer que todos sã o imputá veis ou nã o?
Segundo os estudos de Luma Gomides de Souza, nã o. O que ela defende em
seu livro Serial Killer- Discurso sobre a imputabilidade é que cada caso
deve ser julgado separadamente, pois existem vá rios tipos de serial killer, e
obviamente, seus motivos e modos de proceder serã o diferentes.
Os serial killers podem ser classificados em organizados e desorganizados,
conforme abordado anteriormente, e este seria o grande indicador da
imputabilidade ou ausência dela.
No caso dos serial killers organizados, os crimes sã o sempre cometidos
com muita premeditaçã o; os agentes têm incrível capacidade de
dissimulaçã o a ponto de se passarem por pessoas completamente normais
e inocentes, e geralmente escondem as provas do crime muito bem, além de
escolherem muito criteriosamente suas vítimas. Estas características
seriam suficientes para comprovar que a saú de mental do indivíduo está
perfeita. Pois para planejar seus atos precisou usar de seu raciocínio, nã o
seguindo um impulso ou emoçã o simplesmente, calculou friamente cada
passo, o que comprova que ele consegue raciocinar muito bem. Além disso,
o fato de dissimular e esconder as provas mostra que ele sabe que cometeu
algo ilícito, senã o, por que esconderia o que fez? Muitos serial killers
mostraram ter capacidade intelectual superior a de pessoas comuns,
conseguindo passar despercebidos aos olhos da polícia e da populaçã o por
muito tempo.
Neste caso de organizaçã o, de cumprimento metó dico dos planos e açõ es
realizadas cuidadosamente, o assassino deverá ser julgado imputá vel, uma
vez que sabe muito bem o que fez e porque fez. O serial killer, como já foi
dito, tem um distú rbio de natureza afetiva, e nã o mental.
Mas existem ainda serial killers desorganizados, algumas vezes chamados
erroneamente de serial killer quando na verdade podem ser assassinos
ocasionais, em massa, ou ainda habituais. O fato é que serial killers
desorganizados muitas vezes matam apenas por impulso, sem selecionar a
vítima e sem planejar previamente o crime. Acabam matando a pessoa com
qualquer objeto que encontrarem na cena, e deixam o local um caos quando
terminam. Raramente se preocupam em esconder o corpo da vítima ou as
evidências do crime. Como costumam ter uma vida socialmente instá vel
(nã o sã o bons atores) matam por vezes alguém pró ximo a seu círculo de
convivência, como colegas, vizinhos, familiares.
Neste caso, poderá existir alguma deficiência mental, e, eventualmente,
será considerado semi-imputá vel ou inimputá vel, caso alguma das
faculdades descritas acima estejam comprometidas.
Para definir a imputabilidade de um serial killer é necessá rio avaliar,
primeiramente, se ele é organizado ou desorganizado. Isso pode ser
percebido facilmente, analisando-se a cena do crime e o modus operandi do
criminoso. Normalmente, o serial killer organizado está no grupo dos
psicopatas, e o desorganizado, no grupo dos psicó ticos.
Nem sempre é fá cil decidir pela imputabilidade ou inimputabilidade, alguns
casos mostram indícios de ambos. Cabem, por isso, devida aná lise e
julgamento de cada caso em particular.
Alguns assassinos alegam nã o conseguirem se adaptar à s leis e normas da
sociedade, afirmando que isso nã o se enquadra a eles, e que sã o superiores
a qualquer regra. No entanto, a incapacidade de aceitar as leis nã o pode ser
motivo para inimputabilidade, uma vez que, mesmo que o indivíduo nã o
concorde com as leis sabe que deve segui-las, e que será punido se nã o o
fizer.

12. A SITUAÇÃO DOS MANICÔMIOS JUDICIÁRIOS NO BRASIL

Muitos podem pensar que, quando um criminoso considerado inimputá vel


é submetido à medida de segurança, terá uma puniçã o leve e tranquila. Por
isso, muitos acreditam que a medida de segurança é uma soluçã o
benevolente com o criminoso, que nã o serve para puni-lo e fazê-lo “pagar”
por seus crimes, e por isso prefeririam que ele sofresse a privaçã o de
liberdade.
Porém, a realidade sobre as medidas de segurança é muito diferente do que
pensam.
Um assunto praticamente esquecido e ignorado, tanto pelos governantes,
pela justiça e pela populaçã o em geral, é a situaçã o de quem cumpre a
medida de segurança, principalmente em manicô mios judiciá rios
espalhados pelo Brasil.
Recentemente, uma reportagem realizada pelo canal “Sistema Brasileiro de
Televisã o (SBT)”, no programa Conexã o Repó rter chamado de “A casa dos
esquecidos”, exibido no dia 24/08/201211, mostrou imagens marcantes
sobre como é a realidade dentro do Hospital Psiquiá trico Vera Cruz, em
Sorocaba, onde os internos sã o maltratados, ficando muitas vezes nus, sem
leitos individuais, alguns sem colchã o onde dormir, dormindo apenas sobre
estrados de madeira, chegando até a morrer de frio, fato que é omitido e
“disfarçado” pelos funcioná rios do local. Ali também foram encontradas
fezes humanas no chã o, sem qualquer serviço de limpeza do local; alguns
internos até mesmo ingerem as fezes do chã o.
Esta é apenas uma demonstraçã o do que certamente acontece em outros
estabelecimentos.
Recentemente, foi realizado o Censo nos Estabelecimentos de Custó dia e
Tratamento Psiquiá trico 2011, mostrando que, dos 3.989 pacientes
internados, 18 estavam cumprindo medida de segurança a mais de 30 anos,
o que é superior à pena má xima determinada pelo Direito brasileiro; 606
pessoas estã o lá a mais tempo do que estariam se cumprissem pena pelo
mesmo crime, e 741 pessoas já deveriam estar em liberdade. Além disso, os
prazos para exames e perícias médicas estã o atrasados, o que faz com que
pacientes permaneçam esquecidos dentro dos manicô mios por anos sem
qualquer averiguaçã o do Estado.
Segundo a aná lise, a maioria dos internos nã o apresenta periculosidade,
tendo cometido atos ilícitos com pouco valor e importâ ncia, como o roubo
de uma bicicleta, por exemplo, em momentos de instabilidade mental e
emocional. Sã o extremamente raros os casos de maior periculosidade,
como os serial killers e psicopatas perigosos.
O desinteresse da mídia, da populaçã o e dos governantes tem feito com que
essas pessoas, que precisariam de cuidados especiais, fiquem abandonados,
em péssimas condiçõ es de saú de, privados de todos os seus direitos, muitas
vezes injustamente.
Eis porque nã o se pode considerar a medida de segurança como soluçã o
ideal, nem para os serial killers, nem para qualquer tipo de inimputá vel.
“Livrar-se” de um problema enquanto um ser humano é deixado em um
estado deplorá vel nã o é a maneira mais sá bia de resolver a questã o.
O Estado precisa se mobilizar, fiscalizar e controlar melhor os manicô mios
e outros locais onde sã o aplicadas medidas de segurança, e certamente,
avaliar melhor se essa é a soluçã o para pessoas com leves deficiências que
cometeram delitos pequenos.
13.COMO OS SERIAL KILLERS SÃO VISTOS PELO DIREITO PENAL
BRASILEIRO

Nã o existe no Direito Brasileiro, nem mesmo um conceito jurídico penal


para o homicídio em série. Os tipos penais vigentes e aplicá veis a tais casos,
no ordenamento jurídico atual sã o, na verdade, insuficientes para a
efetivaçã o de uma puniçã o adequada, que responda verdadeiramente a
esses atos reprová veis.
O Estado comete um erro ao tratá -lo simplesmente como um inimigo,
quando impõ e uma pena privativa de liberdade, nã o pensando no
tratamento adequado à ele e sim privando-o do convívio social.
Trata-se de um individuo que merece um tratamento penal diferenciado,
mas nã o deve ser tratado apenas como um indivíduo perigoso ao ser
eliminado. Uma vez que ele também é cidadã o, que possui seus direitos, o
qual possui uma condiçã o psíquica anormal que o induz a cometer delitos.
Sabe-se que a medida de segurança deve ser aplicada aos casos de psicose,
porém nã o se pode aplicá -la aos casos de killerismo, já que nã o é conhecida
a causa que leva aos surtos de homicídios. Para eles essa medida pode ser
igual ou pior que uma prisã o perpétua.
No Canadá , no Chile e na Itá lia, há uma soluçã o bastante adequada. Eles
criaram espécies de abrigos específicos para doentes crô nicos. Nessas
instituiçõ es nã o há prazo má ximo de permanência, uma vez que se sabe
que o caso deles é irreversível. Neste lugar, os indivíduos possuem certa
liberdade, sã o estimulados ao trabalho, estudo, lazer, e sã o oferecidas
condiçõ es para existência digna, ainda que distantes do pleno convívio
social. Os seus passos sã o monitorados por especialistas, que oferecem a
possibilidade de “convívio” com o mal que sofrem.
O Estado deveria agir com interesses difusos, visando nã o apenas o
interesse social, mas também o interesse de cada indivíduo, como o gozo de
uma vida em liberdade.
O Estado utiliza do artigo 121 do Có digo Penal para tratar dos crimes em
série.
Art 121. Matar alguém:
Pena - reclusã o, de seis a vinte anos.

Caso de diminuiçã o de pena

§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo


de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta
emoçã o, logo em seguida a injusta provocaçã o da vítima, ou juiz
pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Homicídio qualificado

§ 2° Se o homicídio é cometido:

I - Mediante paga ou promessa de recompensa, ou


por outro motivo torpe;

II - Por motivo fú til;

III - Com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia,


tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar
perigo comum;

IV - À traiçã o, de emboscada, ou mediante


dissimulaçã o ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a
defesa do ofendido;

V - Para assegurar a execuçã o, a ocultaçã o, a


impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena - reclusã o, de doze a trinta anos.

Homicídio culposo

§ 3º Se o homicídio é culposo: (Vide Lei nº 4.611, de


1965)
Pena - detençã o, de um a três anos.

Aumento de pena

§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de


1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservâ ncia de regra técnica
de profissã o, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, nã o procura diminuir as consequências
do seu ato, ou foge para evitar prisã o em flagrante. Sendo doloso o
homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60
(sessenta) anos. (Redaçã o dada pela Lei nº 10.741, de 2003)

§ 5º - Na hipó tese de homicídio culposo, o juiz poderá


deixar de aplicar a pena, se as consequências da infraçã o atingirem o
pró prio agente de forma tã o grave que a sançã o penal
se torne desnecessá ria. (Incluído pela Lei nº 6.416, de 24.5.1977)

Induzimento, instigaçã o ou auxílio a suicídio

14.UM SISTEMA DE IDENTIFICAÇÃO DOS SERIAL KILLERS NOS EUA


Em 1980, nos Estados Unidos, foi detectado um surto de assassinatos
violentos, passando de 10 mil assassinatos por ano entre as décadas de
1950 e 1960, para 23 mil.
No mesmo ano, 1980, teve eleiçõ es presidenciais, e o candidato republicano
Ronald Reagan dedicou grande parte de sua campanha a esse problema,
onde criticou o presidente democrata Jimmy Carter e o Supremo Tribunal
pela incapacidade de solucionar esses problemas.
Segundo o FBI, o problema estava ligado à detecçã o de serial killers.
Anunciou que cerca de 5 mil cidadã os norte americanos foram mortos em
1982 por assassinos desconhecidos.
Houve entã o uma proposta ao Departamento de Justiça, para a criaçã o de
um Programa de Captura de Criminosos Violentos (VICAP – Violent
Criminal Apprehension Program), feita por Pierce Brooks, comandante
aposentado da força policial. Esse ó rgã o contaria com investigadores de
homicídios, analistas de crimes e outros especialistas de mais de 20
estados.
Em julho de 1983, a proposta de VICAP é aprovada. Em uma Carta
direcionada à William H. Webster, diretor do FBI, o senador Arlen Specter,
presidente da subcomissã o escreveu:
“Esse sistema deverá solicitar e analisar informaçõ es relacionadas com os
homicídios aleató rios e sem sentido, as tentativas de assassinatos e o
sequestro de crianças... A informaçã o será sistematizada pela polícia
estadual e local com base na evidência de um dos crimes mencionados.
Estes dados serã o analisados em um escritó rio central e serã o comparados
com outras agressõ es. Sempre que uma eventual ligaçã o seja identificada,
duas ou mais agências vã o trabalhar juntas nas investigaçõ es.”
Ann Rule, uma antiga agente da polícia americana e agora autora de livros
sobre crimes verídicos, estava na subcomissã o para aprovaçã o do projeto e
disse que em suas pesquisas percebeu que serial killers viajam com
frequência, e tem uma capacidade de suportar viagens mais longas, onde
percorrem durante um ano, dez vezes mais a distâ ncia (em quilô metros) do
que uma pessoal comum. As vítimas de serial killers sã o pessoas estranhas
ao mesmo, alvos desconhecidos para liberar sua tremenda raiva interior.
Ann salienta que tudo isso é um motivo muito forte para construir um
programa de informaçã o nacional abrangente.
Pierce Books afirma que o principal objetivo da VICAP é a aná lise e
comunicaçã o das informaçõ es dos crimes entre os Departamentos Policiais.

14.1. Relatório de Análise criminal do VICAP

Foi criado um relató rio de aná lise criminal do VICAP e distribuíram-no nas
59 divisõ es de campo do FBI. Projetado para ser uma aná lise por
computador o relató rio era um documento amedrontador, mas, era
importante em seu todo.
Constituído por 189 perguntas á serem respondidas em 42 subtítulos. O
agente do FBI, apó s recolher informaçõ es administrativas devia fornecer
informaçõ es sobre um de três tipos de crime: homicídio ou tentativa de
homicídio; corpo nã o identificado com suspeita de ser vítima de homicídio;
ou sequestro ou desaparecimento de uma pessoa. Também havia
necessidade de informar se o criminoso tinha relaçõ es com trá fico de
drogas, ou matado anteriormente.
Em seguida vinham os detalhes do caso específico, como: datas e horá rios;
o estado (civil, de emprego, de escolaridade etc.); identificaçã o da vítima; e
uma completa descriçã o física, incluindo marcas de nascença, tatuagens e
outras características físicas notá veis. Depois, o formulá rio requisitava
informaçõ es sobre as pessoas suspeitas, bem como qualquer pessoa detida
no momento e detalhes dos veículos envolvidos no crime.
Até esse ponto, o agente tinha respondido 95 questõ es. Mais 61 perguntas
vinham relacionadas ao “Modus Operandi do Ataque”. Apó s, 30 perguntas
deveriam ser respondidas pelo médico legista e pelos investigadores
forenses. Por fim, o agente deveria fornecer uma lista de outros casos que
pudessem estar relacionados, bem como um “resumo narrativo” que incluía
todos os detalhes que o agente julgasse relevantes que nã o foram
abordados anteriormente.
Por ultimo, o FBI salientava, “os casos em que o infrator foi detido ou
identificado devem ser apresentados para resolver casos no sistema VICAP
que possam estar relacionados com infratores já reconhecidos”.
Trinta anos depois da proposta, em outubro de 2009, o FBI a coloca em
prá tica, com quatro programas bá sicos: VICAP; criaçã o de perfis;
investigaçã o e desenvolvimento; e treinamento de agentes e de policiais
locais.
O VICAP foi inicialmente adotado pela maioria dos estados e continua
sendo empregado pelo FBI. Porém, muitos Departamentos Policiais
acharam que a proposta era complexa e lenta e aprovaram relató rios
abreviados. As policias de Rochester, Baltimore, Kansas City, Mobile,
Filadélfia e Chicago, o condado de Los Angeles e os estados de Nova York,
Connecticut, Massachusetts e Virginia adotaram relató rios mais curtos.
Outros estados criaram seus pró prios sistemas de monitoramento que nã o
estavam diretamente ligados ao FBI.
Com todos os estudos, constata-se que apesar do valor do relató rio VICAP
na hora de comparar crimes ou localizar os autores, e apesar dos
programas de treinamento oferecidos pelo FBI, o trabalho dos criadores de
perfis continua a ser muito intuitivo. Entretanto, em 1990 foi publicado na
revista Law & Human Behavior um novo perfil pelo qual concluíram que os
criadores de perfis podem produzir perfis mais ú teis e vá lidos dos
criminosos do que os psicó logos clínicos ou os investigadores criminalistas
mais experientes.

14. A MÍDIA E O CULTO AOS SERIAL KILLERS

Algo que também merece atençã o é o tratamento que a mídia dá aos serial
killers, e o quanto isso influencia a sociedade, e acaba por aumentar o
problema.
Nos dias atuais, a mídia, principalmente telejornais e jornais impressos,
lucram com a audiência que ganham através de notícias e reportagens
sobre crimes e atos de extrema violência de que tratam. A sociedade parece
ter se acostumado a ver mortes, assassinatos, estupros, roubos, sequestros,
e todo tipo de violência que se possa e nã o se possa imaginar. A televisã o
transmite essas “informaçõ es” praticamente o dia inteiro: na hora de
almoço, de jantar, de manhã , tarde e noite, sem escrú pulos nem limites; e
ainda pior: os fatos chegam distorcidos e cheios de comentá rios jurídicos
completamente equivocados.
Além disso, a cada ano sã o produzidos mais filmes, seriados, jogos e livros
contando histó rias macabras de violência, tortura e morte, que vá rias
pessoas, principalmente jovens, consomem com avidez.
Algumas destas produçõ es, inclusive, retratam serial killers, verdadeiros ou
fictícios. Como exemplo, cita-se grandes sucessos de bilheteria mundial:
Seven, os 7 pecados capitais; O Iluminado; Jogos Mortais; Pâ nico; O
Albergue; além de filmes sobre os pró prios assassinos, como O Zodíaco e
Jack, o Estripador. Estima-se que só em relaçã o a este ú ltimo existam mais
de 215 filmes, 11 livros, 9 programas de TV e uma ó pera.
Isso tem se tornado um grande problema social, estimulando cada vez mais
o surgimento de pessoas violentas e criminosas.
Por mais que alguns afirmem que ver violência nã o torna ninguém violento,
nã o se pode ignorar o fato de que atualmente a populaçã o está acostumada
a ver cenas hediondas e nã o reagir, tornou-se normal e cotidiano ouvir falar
de pessoas que foram baleadas na rua, que foram esfaqueadas, atropeladas,
entre outras coisas bem piores. A mídia tem explorado esses temas visando
apenas lucro, sem se importar com a deformaçã o social que está causando.
Os serial killers gostam de chamar a atençã o: muitos deles acompanhavam
as notícias e investigaçõ es sobre seus crimes enquanto nã o eram
localizados. Para eles, aparecer na mídia é como ganhar um troféu pelos
seus atos, eles nã o se envergonham do que fizeram, pelo contrá rio, sentem
orgulho de exibir sua “arte” e serem conhecidos pelo mundo.
Alguns deles, como é o caso do Assassino da Praia do Cassino, se tornam
serial killers inspirados por outros de quem ouviram falar na televisã o. No
caso do supracitado serial killer, se tornou assassino porque queria que o
Sul tivesse seu pró prio Maníaco do Parque.
Sã o conhecidos por serem sedutores, enigmá ticos, despertando a
curiosidade e interesse de quase todas as pessoas. Isso também acontece
quando eles aparecem na mídia: a populaçã o fica fascinada. Enquanto
alguns assistem a tudo e ficam horrorizados, outros acabam admirando os
assassinos e começam a idolatrá -los, podendo até querer tornar-se igual a
eles. Nenhuma das duas situaçõ es é aceitá vel, como estudado a seguir.
Algumas pessoas chegam a fazer coleçõ es e pequenos museus sobre um
serial killer que admira, comprando seus objetos pessoais, acumulando
fotos dele e seus crimes, compram livros que falem sobre ele, entre outras
coisas. Isso obviamente é um comportamento doentio de alguém que nã o
tem a percepçã o e noçã o da realidade, podendo se tornar alguém violento
ou até mesmo assassino. Afinal, quem admira um assassino, boa pessoa nã o
pode se tornar.
Outra hipó tese é de que, ao ver os documentá rios e reportagens sobre
serial killers, a populaçã o fique aterrorizada. É claro que é impossível ouvir
falar e ver cenas destes crimes horríveis sem sentir certa repugnâ ncia,
medo e horror. O problema é que a populaçã o nã o tem conhecimento de
direito, e nã o está pronta para reconhecer as medidas necessá rias para
julgar estes casos.
Mesmo que seja um assassinato simples, a maioria das pessoas dirá : “Esse
criminoso merece morrer.”, ou “Esse homem só pode ser louco para
cometer tal atrocidade!”. Percebe-se que nenhuma destas opiniõ es condiz
com o presente tema, já que, primeiramente, nã o existe pena de morte no
Brasil, nem existirá , a menos que seja criada uma nova Constituiçã o; e,
como já visto, serial killers nã o sã o “loucos”. Por este julgamento
precipitado das pessoas, o serial killer sofreria medida de segurança, o que
certamente o beneficiaria. É necessá rio lembrar que, em casos de
homicídio, o caso será julgado no tribunal do jú ri, e que os jurados serã o
pessoas comuns, que, provavelmente, se assistirem os telejornais, terã o
uma opiniã o errada e acabarã o por julgar o indivíduo sem qualquer ló gica
ou fundamento no direito.
Também nisto erram os apresentadores de televisã o, que adoram lançar
sua opiniã o, sem conhecimento nenhum de direito, sobre os criminosos,
sem nem ao menos ter sido feita uma investigaçã o ou aná lise do caso. Deve-
se esclarecer que os ú nicos que podem julgar uma pessoa, e declará -la
inocente ou culpada sã o os juízes de direito e magistrados. A funçã o da
mídia nunca foi julgar nem estabelecer opiniõ es, mas apenas informar.
É possível perceber o ponto ao que a sociedade chegou, com seus filmes,
jornais, novelas, seriados, jogos, livros. A sociedade está deturpada e
corrompida. Ai está o motivo pelo qual o nú mero de psicopatas e serial
killers vem aumentando assombrosamente.

15. SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA DOS SERIAL KILLERS

Como a discussã o sobre o assunto ainda é recente no Brasil, nã o é possível


afirmar com certeza quais sã o as soluçõ es definitivas para o problema da
criminalidade dos serial killers. No entanto, algumas medidas parecem ser
o caminho certo para a diminuiçã o dessas ocorrências. Algumas delas sã o:
15.1. Rede de Investigações Interligada
A falta de comunicaçã o entre delegacias e outros institutos criminais,
localizados em Estados ou até municípios diferentes, dificulta a
identificaçã o de serial killers que mudam de á rea, por exemplo, e cometem
crimes em diversas regiõ es do País. Criar uma rede de comunicaçã o
interligando as investigaçõ es de todo o Brasil auxiliaria em muito a
localizaçã o e identificaçã o, nã o só de serial killers, mas de vários
criminosos. Para isso, é necessá ria a distribuiçã o de tecnologia por todo o
País; o que até o momento é impossível, pois existem lugares do Brasil onde
nem mesmo existe uma rede elétrica.

15.2. Proteção a Crianças e Adolescentes

Os estudos e pesquisas abordados neste trabalho revelam que a maioria


dos distú rbios psicoló gicos que levaram pessoas a se tornarem serial killers
tem origem principalmente de traumas de infâ ncia, maus-tratos, abuso pela
família, entre outros. Assim sendo, é essencial que o Estado e a pró pria
populaçã o invistam em programas de proteçã o e auxílio a crianças e
adolescentes, dentro das escolas, da pró pria família, ou ó rgã os
especializados, a fim de evitar esses abusos e garantir que essas crianças e
jovens se tornem cidadã os saudá veis mentalmente e psicologicamente, e
nã o venham a cometer crimes hediondos como esses.

15.3. Pesquisas e Estudos para melhor compreensão dessa


psicopatia

A maior dificuldade para identificar, classificar e punir serial killers está no


fato de que quase nada se sabe sobre essa anomalia. Deve-se investir mais
em pesquisas e estudos para que seja retirada essa penumbra que encobre
o assunto, e só entã o poderã o ser propostas soluçõ es mais adequadas, à luz
da verdade, e nã o na escuridã o da ignorâ ncia e de opiniõ es sem
fundamento.

15.4. Capacitação de pessoal


Sã o pouquíssimas as pessoas no Brasil que têm um mínimo conhecimento
sobre serial killers. Sendo assim, como a polícia e os ó rgã os judiciá rios
poderã o tratar desse assunto? É necessá rio que haja a capacitaçã o de
peritos, policiais, pessoas ligadas à á rea judicial, entre outros, para que seja
feita a correta identificaçã o e avaliaçã o dos casos. Muitas vezes, aos olhos
de um investigador, um serial killer é visto apenas como um assassino
comum, quando na verdade é muito mais perigoso. E peritos sem a correta
instruçã o podem avaliá -lo apenas como louco ou doente mental, quando na
verdade nã o é nada disso. Para que esse tipo de erro nã o aconteça, o Estado
deve fornecer maior instruçã o e investir na capacitaçã o de pessoal.

15.5. Equipe especializada

No momento de julgar um serial killer, o ideal é existir uma equipe de


peritos especializada no assunto, com psiquiatras e criminó logos, para que
seja feita a correta avaliaçã o e seja dado o correto destino ao sujeito.

15.6. Acréscimo Legal

Deve-se estabelecer uma tipificaçã o e determinaçã o de uma pena para o


crime de assassinato em série. Mesmo que esta nã o seja a soluçã o definitiva
(pois os estudos até o momento nã o permitiram definir a pena mais
adequada), é necessá ria a existência de uma lei para que esse tipo de crime
nã o fique impune, como vem ocorrendo até o momento.

15.7. Impedir o “culto da mídia”

Como foi anteriormente abordado neste trabalho, a mídia estimula o


surgimento de novos serial killers, já que estes querem chamar a atençã o e
conseguem isso muito bem através da mídia; além de dar uma noçã o
totalmente equivocada à populaçã o, que faz um julgamento errô neo e cria
preconceitos em torno do assunto. Deve existir um controle para acabar
com esse sensacionalismo e conscientizar corretamente o pú blico.
16.CONCLUSÃO

Serial killer é a denominaçã o dada aos criminosos que matam mais de três
pessoas, com intervalos de calmaria, utilizando-se normalmente de
métodos parecidos ou idênticos, e escolhendo também vítimas com algum
perfil comum. Diferente dos psicó ticos, os serial killers podem ser
considerados psicopatas, pois têm sua saú de mental perfeita, sendo à s
vezes mais capazes mentalmente do que pessoas comuns. No entanto, têm
uma deficiência psicoló gica, que os faz serem incapazes de terem emoçõ es
como as outras pessoas: nã o sentem remorso, piedade, culpa, compaixã o.
Sabem que seus atos sã o contra as leis, mas moralmente nã o se sentem
compelidos a segui-las.
Sendo um assunto pouco estudado no Brasil, surgiu a discussã o se os serial
killers devem ser considerados imputá veis ou inimputá veis. À luz do que
foi analisado e estudado neste trabalho, chegou-se à opiniã o de que, de fato,
os serial killers nã o sã o doentes mentais, mas também nã o sã o iguais à s
outras pessoas psicologicamente. Assim, sendo conscientes de seus atos,
mas nã o tendo a noçã o moral sobre eles, deve-se analisar cada caso para
determinar uma sançã o justa, pois cada serial killer é diferente dos demais.
O melhor método para definir por imputá vel ou nã o, é a aná lise do modus
operandi, da cena do crime, entre outros fatores, para classificá -lo como
organizado ou desorganizado. Sendo organizado, é notá vel que seu
raciocínio e saú de mental estã o intactos. Porém, no caso de ser
desorganizado, poderá ser mentalmente insano, ou seja, inimputá vel.
É perceptível também que os traumas durante a infâ ncia fizeram aflorar a
personalidade psicopata em vá rios casos, nos dando a conclusã o de que o
fator que mais influencia no surgimento de um serial killer é o abuso físico
e emocional. Sendo assim, o problema nã o está na mente, nem na genética,
nem em danos sofridos ao corpo. Embora esses fatores possam ter certa
influência, a psicopatia só se desenvolve quando a pessoa é submetida a
choques psicoló gicos, traumas e abusos.
Dessa forma, criar leis e puniçõ es pode remediar o problema, mas, somente
a mudança na sociedade pode prevenir esse tipo de crime, e evitar que
mais vidas sejam destruídas: a das vítimas, e também a dos serial killers.
APÊNDICE A

PESQUISA DE CAMPO

Entrevista feita no dia 07 de maio de 2013, com o psiquiatra forense


Richard Rigolino no Instituto de Medicina Social e Criminologia de Sã o
Paulo –(IMESC).
Doutor Richard-- O serial killer, na verdade, e um assunto que trata muito
no conceito forense que na verdade é uma coisa bem rara. (...) basicamente
é um incidente de insanidade mental, é quando uma pessoa comete um
crime e ela começa a ser julgada por aquele crime, numa parte do processo
o processo é parado porque existem dú vidas se aquela pessoa estava
consciente, se aquela pessoa tinha entendimento em relaçã o à quilo, se
aquela pessoa tinha alguma doença mental que tirava seu discernimento, a
capacidade de agir daquela pessoa. e aí ela cometeu um crime sem
discernimento do que ela estava fazendo. (...) dentro desse incidente, a
pessoa pode ser considerada 3 coisas: imputá vel, que é a mesma coisa que
responsabilizado; semi-imputá vel, semiresponsabilizá vel; ou inimputá vel.
(...)Existe uma coisa que a lei considera doença mental uma coisa e a
psiquiatria outra. (...) As pessoas que estiverem completamente fora, que
nã o tiverem entendendo o que está acontecendo sã o inimputá veis. (...) Nã o
basta ter uma doença, a doença tem que ter nexo com o que aconteceu. O
que acontece com os serial killers é um outro problema, que sã o chamados
psicopatas. (...) O psicopata é um cara que tem uma alteraçã o de
personalidade. A psiquiatria considera o psicopata como uma pessoa que
está no limite entre a doença e a nã o-doença. (...) Se você pegar o CID
(Conselho Internacional de Doença), está lá : Transtorno de Personalidade
Antissocial – ou dissocial – que é o psicopata que a gente ouve falar (...) Os
psicopatas para a psiquiatria sã o pessoas que tem uma alteraçã o de
personalidade (...) disfuncional, ela é muito fora do padrã o. (...) Sã o pessoas
que nã o conseguem se portar direito em sociedade (...) Qual é o transtorno
que o psicopata tem? Ele tem uma insensibilidade em relaçã o ao outro (...)
Ele é indiferente em relaçã o aos outros, ele nã o tem uma coisa que é
fundamental pro ser humano, que se chama empatia, que é você se colocar
no lugar do outro. O psicopata nã o tem esse freio social, ele nã o se
preocupa com esse tipo de coisa. (...) A gente nã o sabe o quê que causa isso,
por que isso acontece. (...) É muito comum o psicopata ter uma histó ria
assim de transgressõ es, maldades muito novo. Entã o geralmente é aquele
moleque que fura o olho do gato, mas deixa o gato vivo, que corta a asa do
passarinho (...), pra ele nã o tem essa coisa de se sentir mal pelo outro.
Entã o geralmente sã o crianças que já começam a apresentar sinais disso
logo cedo (...)
Aluna - Como nó s já estamos estudando sobre serial killer há algum tempo,
nó s vimos que na maioria dos casos, o serial killer sofreu abusos e
negligências na infâ ncia...
Doutor Richard - Isso é uma lenda! Em geral, se falava muito disso, de ser
causado principalmente por abuso (...). Mas o que tem correlaçã o muito
clá ssica com isso é o Transtorno de Personalidade Borderline ou Limítrofe
–esse é bem relacionado, mas a psicopatia nã o.
Aluna – Você acha que, sua opiniã o pessoal, seria um distú rbio de
nascença?
Doutor Richard – Eu acho que é uma somató ria. Eu acho que a pessoa
nasce com uma pré-disposiçã o, tem um fator do ambiente que acaba
refletindo isso.(...) Talvez o psicopata tenha uma pré-disposiçã o, coisas que
acontecem nessa primeira infâ ncia podem influenciar (...) como pode ter
uma questã o cultural. Existem países que acontecem muito mais casos de
psicopatas. Por que existe? Porque tem complemento social disso, tem o
complemento de como a sociedade é organizada, quanto que a sociedade dá
vazã o pra isso.
[...]
Aí, existe uma questã o de muitos e muitos anos, se perguntando se o
psicopata é doente ou nã o. Essa é uma característica de personalidade
muito grave, muito disfuncional. Mas isso é doença?
Aluna– Eu acho que sim, porque, como você disse, isso é um transtorno de
personalidade, se uma pessoa com transtornos de personalidade sã o
consideradas doentes mentais e tem que tomar remédios controlados, por
que o psicopata nã o?
Doutor Richard – A dú vida em relaçã o a isso, primeiro, é a seguinte: uma
doença tem que ter algum problema em algum lugar. Se você tem um
problema no joelho, por exemplo, o seu joelho tá doendo, o menisco do seu
joelho tá estragado. O que está estragado nessas pessoas? O cérebro?
(risadas) Ninguém sabe em que lugar, (...) doenças tem um tratamento que
você dá um remédio e melhora. Aquela questã o que a gente conversou da
borderline, em geral você vai dando remédio, antidepressivos, essa pessoa
vai vendo as coisas que vã o acontecer, pode ser um problema hormonal, ela
vai aprendendo a lidar com as frustraçõ es, faz terapia e entã o, ela vai
melhorando. Os psicopatas, os antissociais, eles nã o melhoram. Nã o existe
cura disso. [...]
Aluna– É porque nó s encontramos um documentá rio, chama “A Ira De Um
Anjo”, que trata de uma menina que ela desde pequena era desse jeito que
você falou, do gato, do passarinho, ela nã o tinha dó . No final das contas, eles
conseguem tipo uma medida pra ela sentir – nã o remorso – mas sentir
alguma coisa pelo gato, pelo passarinho. Mas, assim, nesse sentido é porque
essa menina foi estuprada pelo pai quando ela tinha um ano, a mã e dela
morreu logo depois que o irmã o dela nasceu, ela sofria abuso pelo pai, ele
deixava ela sem comer e batia muito. Entã o, isso gerou essa raiva. Tanto
que ela fala no documentá rio que agredia o irmã o dela, agredia outras
pessoas, porque ela nã o gosta de ficar perto de outra pessoa, porque foi
muito machucada antigamente e ela queria fazer isso com as outras
pessoas. Ela tem sete anos quando fez esse documentá rio.
Dr. Richard – É , quando você consegue detectar esse tipo de coisa numa
criança muito nova, a questã o é completamente diferente, por quê? Porque
a personalidade nã o está formada. O Transtorno de Personalidade só pode
ser diagnosticado a partir dos dezoito anos de idade, antes disso nã o existe
esse diagnó stico. Nã o existe criança psicopata (...), você só pode falar que
essa personalidade já tá formada e ela já tá disfuncional a partir dos dezoito
anos. Até lá , tudo é mutá vel. É muito diferente você ver uma criança que
sofreu vá rios abusos, com sete anos ela já ter uma insensibilidade, você vai
trabalhando a personalidade dela (...) do que você pegar um paciente, por
exemplo, de trinta anos de idade, assassinou vá rias pessoas. [...]A partir dos
dezoito anos, se faz o diagnó stico como transtorno, pode ter um caso ou
outro que melhorou? Pode (...). Tem casos de antissocial que melhoram?
Deve ter, mas na medicina, a gente nã o vê. (...) Sã o coisas que tem uma
causa indefinida e quem tem tratamentos, também, indefinidos (...).Existe
em Sã o Paulo uma instituiçã o chamada Unidade Experimental da Febem
(...) aí puseram nisso aí um monte de coisa: psiquiatras, psicó logos,
professor de educaçã o física e tal; e começaram a mandar vá rios menores
(...) que tinham cometido infraçõ es que tinham características psicopá ticas
pra lá . (...) Eu fui da comissã o que fez a reavaliaçã o dessas pessoas depois
de dez anos de tratamento e nã o mudou nada, quer dizer, elas eram a
mesma coisa de dez anos atrá s (...). O consenso que existe na literatura
científica é que a psicopatia nã o tem cura. Tanto é que em alguns países
tem mecanismos (...) legais diferentes pro psicopata. Eles sã o tratados de
uma forma completamente diferente, tanto pela lei quanto pelo sistema de
saú de. Existem prisõ es específicas pra psicopatas, por exemplo, na
Inglaterra essas pessoas sã o tratadas à parte até da populaçã o carcerá ria
normal porque eles têm uma perspectiva muito diferente: o preso comum é
o cara que cometeu um deslize,(...) é um cara que tem recuperaçã o. O
psicopata é um cara que pra lei, pra psiquiatria, é um cara que nã o tem
muita recuperaçã o, inclusive quando ele fica misturado com o preso
comum dá problema: é o cara que chefia rebeliã o; que causa entre os
presos; o cara que comete assassinatos (...).
Aluna – Você acha que a pedofilia é um tipo de psicopatia ou é outro
distú rbio?
Dr. Richard – É outro distú rbio, completamente diferente, a pedofilia é
uma outra coisa (...) inclusive existe um tratamento.
[...]
Dr. Richard – (...) dentro dos serial killers existem psicopatas, parte deles
sã o psicopatas.
Aluna – A gente estava vendo também, já que você entrou nessa questã o do
programa da Febem, o que poderia ser melhorado de modo como tratar as
investigaçõ es? Porque no Có digo nã o fala nada sobre as investigaçõ es de
serial killer. Aí a gente nã o sabia desse programa.
Dr. Richard – (...) Na psiquiatria nã o existe esse conceito de “serial killer”, é
o Transtorno de Personalidade Antissocial ou o psicopata, que sã o
sinô nimos (...), mas o que seria o serial killer? Eles têm características em
comum, porque eles têm uma certa assinatura, uma certa identidade, em
geral cometem homicídios em série, homicídio de vá rias pessoas com
características em comum, geralmente a pessoa que comete isso pode ser
cometido ou nã o por doença mental. Poderia ter um serial killer, por
exemplo, que fosse esquizofrênico. Recentemente teve no Rio de Janeiro
um cara que entrou na escola e atirou nas crianças e depois se matou; esse
cara foi considerado aí pelos indícios subsequentes (...) que ele fosse um
esquizofrênico; parece que ele tinha todo um delírio de purificaçã o (...) à s
vezes vocês veem essas seitas que se suicidam em massa quando passar o
cometa, sã o pessoas também que tem aí delírios (...). O serial killer (nã o
necessariamente) nã o é um diagnó stico psiquiá trico, é uma característica
criminoló gica (...) qualquer problema mental pode levar a um
comportamento desses. O mais comum é o psicopata, ló gico (...).Vamos
supor que dois serial killers estã o presos: eles sã o serial killers porque eles
cometeram vá rios assassinatos com todas as características; um é o cara
que fala assim pra você ó “eu faço isso a mano de uma força maior que me
manda fazer isso” aí você começa a ver, o cara tem vá rias alucinaçõ es, ouve
vozes, ele tem um quarto assim em que ele fica, todo pintado com várias
palavras, fotos, parece um altar o lugar, todo uma coisa delirante. Ele já fez
tratamento no passado, as pessoas que o conheciam falavam “a gente
tentava levar ele sempre pra fazer tratamento porque ele surtou quando
ele tinha dezessete anos” – esse é um caso. Outro caso é o do cara que é um
serial killer, por exemplo, é o que assassina as pessoas (...) porque ele tem
prazer em fazer isso; ou ele gosta do jogo mental da coisa de nã o ser pego,
de deixar pistas. Sã o duas situaçõ es muito diferentes.
Aluna – tem um caso que a gente viu no trabalho mesmo que é um serial
killer que ele até era amigo dos policiais; e dava dicas pros policias de onde
eles podiam encontrar as vítimas, ele ficava envolvido em toda parte da
situaçã o, sendo que tinha sido ele mesmo quem matou.
[...]
Dr. Richard – Ele fica querendo mostrar uma inteligência (...) a
característica clá ssica deles seria uma inteligência super-reservada, até à s
vezes acima do normal, uma inteligência emocional à s vezes.
Aluna – É uma forma de provar essa inteligência maior que ele usa os
pró prios crimes “vou mostrar que eu sou a pessoa mais inteligente, eu vou
fazer alguns crimes e ninguém vai me descobrir”.
Dr. Richard – Agora, tá aí o cara, ele é muito egocêntrico né? Ele tá
pensando nele, em mostrar a inteligência dele, nã o nas pessoas que tã o
morrendo. (...)Esse seria mais um psicopata, o cara que eu citei primeiro
era um esquizofrênico que teve um comportamento de serial killer. (...)
Esquizofrênico é um doente mental, (...) à s vezes as pessoas do direito usam
esses termos – psicopata e doente mental – como se fossem semelhantes,
mas eles nã o sã o. Esse é um psicó tico, ele é um doente mental, o psicopata é
só restrito ao Transtorno de Personalidade Antissocial, os psicopatas sã o os
transtornos de personalidade, nã o sã o as doenças mentais.
Se eles sã o doentes mentais ou nã o, existe até uma dú vida né, tem gente
que fala que sã o e tem gente que fala que nã o sã o. (...) A lei percebe esses
casos há muito tempo, o que acontece é que a maior parte desses casos de
psicopatas sã o considerados plenamente imputá veis porque eles entendem
que eles estã o fazendo algo errado, eles sabem o quê que é certo e o quê
que é errado, eles tem a inteligência até muito melhor do que as outras
pessoas, eles nã o tem uma doença mental clara, alucinaçõ es, delírios, que
justifiquem aquilo, entã o eles sã o imputá veis. Uma certa época (...)
começou a se falar e aí sã o duas escolas divergentes: uma escola defende a
plena imputabilidade dessas pessoas, a plena responsabilidade porque elas
entendem o que tã o fazendo e o cará ter ilícito disso; a outra escola fala o
seguinte – essas pessoas, tudo bem, elas entendem, mas nã o sã o pessoas
normais porque uma pessoa normal sente pelo outro e essas pessoas nã o
sentem. Entã o foi uma escola que começou a colocar esse tipo de pessoas
como “semi-imputá veis” porque falaria o seguinte: o psicopata entende,
mas nã o consegue se determinar com relaçã o aquilo. (...) Eu tenho uma
capacidade de me determinar, de determinar o que eu faço porque eu
tenho como ter freios – e, teoricamente, essa escola que diz que o psicopata
é semi-imputá vel (...) fala que ele nã o tem freio (...)que faz até um certo
sentido. Nunca o Transtorno de Personalidade Antissocial vai ser
considerado inimputá vel, porque ele sempre tem um entendimento
preservado, sempre tem um raciocínio preservado, uma inteligência
preservada. (...) Em Sã o Paulo, por muitos anos foram considerados
plenamente imputá veis, mas com o conhecimento dos estudos da Dra.
Hilda Morana, que traduziu uma escala de psicopatia14 (...) começou a se
considerar os semi-imputá veis. Aí surgiu um problema, porque se a pessoa
é semiimputá vel, existem duas situaçõ es legais: ou a reduçã o da pena, ou a
medida de segurança. (...) A medida de segurança tem o tempo má ximo
igual ao tempo má ximo de pena – que aqui no Brasil é de trinta anos. Entã o
as pessoas começaram a ser consideradas semi-imputá veis com o
argumento de que elas nã o se determinavam e elas começaram a ir pra
tratamento (...). Mas, como você manda para tratamento alo que nã o tem
tratamento? Aí se criou o mecanismo de “prisã o perpétua” (...) porque essa
pessoa nunca tem uma cessaçã o de periculosidade (...) tendo que ficar o
tempo má ximo de medida de segurança.
Aluna – Mas, depois ela é solta?
Dr. Richard – Entã o... Nã o sã o em geral (...). Quem é o psiquiatra que vai
falar “ah, o Maníaco do Parque nã o é mais perigoso, pode soltar ele, porque
ele passou por terapias”? (...)
Aluna – Mas, eles nã o soltam? Porque a gente estava vendo que o negó cio
nã o é tã o sério assim
Dr. Richard – Quando sã o esses casos de repercussã o, nã o. À s vezes pode
se soltar aí, pode ter situaçõ es de liberdade condicional (...). A partir do
momento que ele ganha esse carimbo, que ele ganha esse diagnó stico, é
quase que irreversível, uma situaçã o em que uma pessoa de alto risco está
presa numa unidade pra tratamento que nã o tem tratamento. Acabou-se
criando um lugar pra essas pessoas, que é o Manicô mio Judiciá rio de
Taubaté15. Do ponto de vista pra sociedade, isso é uma coisa melhor (...).
Esse dilema que se tem hoje no Brasil já foi vivido em outros países: (...)
esse criminoso passa por uma avaliaçã o psiquiá trica, uma avaliaçã o com
escalas, se ele tem esse diagnó stico, ele vai pra uma cadeia especial (...); Na
Inglaterra eles fazem uma triagem dos presos (...) eles veem que o cara tem
característica de psicopata, eles acompanham o cara de perto, eles tem um
mecanismo lá de controle social. A partir do momento em que se faz esse
diagnó stico, a pessoa vai pra uma instituiçã o especializada, vai pra uma
cadeia especializada, ele entra dentro de dispositivos legais específicos
praquilo que no Brasil nã o existem ainda. A Hilda Morana (...) lutou muitos
anos pra que tivesse isso aqui no Brasil (...) porque semi-imputá vel, no
Brasil, ele vai pra medida de segurança igual o esquizofrênico, o deficiente
mental (...). Nã o faz sentido porque o esquizofrênico, o bipolar (...) toma
remédio e fica bom, fica normal (...), mas o serial killer nã o, o psicopata nã o.
Aluna – Você acha que exista, assim, uma sugestã o de uma medida
preventiva pra nã o acontecer esses casos de crimes?
Dr. Richard – Isso é muito complicado, porque aí você teria que (...) avaliar
toda essa populaçã o, chegar a ter um instrumento de avaliaçã o, uma escala
(...), pegar esses caras com alto risco e manter sob uma tutela mais pró xima,
o cara tem que apresentar todo mês uma declaraçã o que ele faz
acompanhamento com algum tipo de médico, que ele faz acompanhamento
psicoterá pico.
Aluna – Um professor meu (...) falou que nos Estados Unidos, tem alguns
lugares lá que eles acompanham isso, por exemplo, na escola se alguma
criança tem alguma tendência, aí o professor já leva pra medida preventiva.
Dr. Richard – (...) aí você entra numa coisa de controle social (...), é quase
uma ditadura isso, se eu achar que alguém é psicopata, é fora do padrã o,
entã o eu pego e sigo essa pessoa? Que crime ela cometeu?(...) Isso fere um
princípio bá sico constitucional, da liberdade. (...) se a pessoa nã o cometeu
um crime e ela tem características assim, é um problema muito sério,
porque...
Aluna – Você nã o pode prender, você nã o pode fazer nada.
Dr. Richard – Com criança seria interessante porque há até uma
possibilidade de melhora (...), precisa de um acompanhamento psicoló gico.
Aluna – Nã o um acompanhamento psicoló gico, um acompanhamento
médico e social pra prevenir o que aquela criança seja.
Dr. Richard – Sim, já se faz isso na escola, todo mundo teve aqui um colega
de escola (...) era aquele cara que era super transgressor, pegava as coisas
dos outros, que era suspenso vá rias vezes, que era expulso da escola. A
carreira do psicopata começa muito cedo. (...) E essas coisas todo mundo vê,
poderiam pegar esses casos e falar “esse cara aqui precisa de ajuda” (...).
Existem vá rias características de personalidade e doenças também (...) Nã o
pode se confundir a nomenclatura: “fulano é antissocial porque fulano nã o
gosta de ir em festinha” é uma coisa, a personalidade antissocial é um cara
psicopata, é diferente. (...) Um cara que nã o se sociabiliza bem é uma outra
palavra, pode ser desde uma pessoa tímida à uma pessoa com depressã o.
(...)Um psicopata de verdade é um cara que até sabe se colocar muito bem
socialmente, ele é sedutor (...). Um psicopata mesmo tem um
comportamento mais, assim, manipulador. (...) Todo mundo algumas
características, à s vezes, que podem ser até psicopá ticas, mas a
personalidade de cada um tem um pouco de cada coisa. O que faz a
diferença do transtorno ou nã o, é a gravidade das coisas.
Aluna – Você acha que poderia melhorar alguma coisa na investigaçã o
desses crimes?
Dr. Richard – Isso é difícil de falar porque eu nã o trabalho com
investigaçã o (...). Esses casos, em geral, precisam de recursos. Por exemplo,
nos Estados Unidos existem psiquiatras e psicó logos que estudam como
que é a mente dessas pessoas, como que elas pensam, pra decifrar os
crimes que eles cometeram. O cara conhece cada tipo de psicopata (...) e
prestam consultoria pra essas investigaçõ es pra tentar pensar no caso e ter
pretensã o do que vai acontecer. (...) Na nossa cultura, a psicopatia nã o é
uma coisa valorizada, existem casos isolados (...); mas é diferente dos
Estados Unidos em que isso é muito aflorado. (...) A cultura latina parece
que é mais “light” em relaçã o à essa coisa dos serial killers. (...) Nos países
nó rdicos, nos países anglo-saxõ es isso aparece muito mais forte, nã o sei por
quê.
Aluna – Você acha que a pessoa que tem psicopatia teria que ficar em
algum manicô mio específico?
Dr. Richard – Sim.
Aluna – Mas, seria praticamente perpétua?
Dr. Richard – Poderia ficar o tempo que tem que ficar, mas sob avaliaçã o
psiquiá trica, psicoló gica mais intensa (...) e depois, se tivesse alguma
liberdade, seria uma liberdade controlada. (...) Se elas tiverem,
eventualmente, que ser soltas, como elas têm algo intratá vel e algo de
extrema periculosidade, aí precisaria de um monitoramento, talvez.

O SERIAL KILLER E O DIREITO PENAL BRASILEIRO

1.INTRODUÇÃO

A literatura e cinema sempre exerceram uma espécie de fascínio por serial


killers. Diversas obras tentaram entrar em suas mentes e acabaram por
pintá -los como indivíduos loucos, maldosos e sem escrú pulos.
Longe de serem apenas ficçã o, o serial killers vêm causando problemas há
muitos anos. Desde o famoso “Jack, o estripador”, que começou seus crimes
em 1888, até os dias atuais, a compreensã o sobre estes indivíduos está
longe ser completa.
Embora seja um fenô meno muito presente nos Estados Unidos, no Brasil
nã o sã o tã o raros. “Maníaco do parque”, o “Vampiro de Niteró i” e “Chico
Picadinho” sã o só alguns exemplos.
Contudo, o Direito Penal brasileiro ainda nã o possui grandes discussõ es
sobre o assunto. O presente artigo busca fazer uma aná lise do tratamento
jurídico dispensado a estes indivíduos, bem como os critérios para a
determinaçã o de sua imputabilidade. Busca-se determinar se estes critérios
sã o suficientes ao se considerar nã o só apenas a imputabilidade, bem como
as finalidades da pena e da medida de segurança.

1.1 Definição do termo “Serial Killer” e aspectos psicológicos.

Segundo Ilana Casoy, serial killers sã o “indivíduos que cometem uma série
de homicídios durante algum período de tempo, com pelo menos alguns
dias de intervalo entre eles.” Para a autora, a diferença entre um serial
killer e um assassino comum nã o se encontra na quantidade de pessoas
mortas, e sim na falta de motivaçã o dos assassinatos.
A grande maioria dos assassinatos em série ocorrem sem que haja uma
relaçã o perceptível entre o assassino e suas vítimas. A vítima representa
um símbolo. “Na verdade, ele nã o procura uma gratificaçã o no crime,
apenas exercita seu poder e controle sobre outra pessoa.”
Casoy ensina que o termo “Serial Killer” foi usado pela primeira vez pelo
agente aposentado do FBI Robert Ressler, grande especialista no assunto.
Ressler pertencia à Behavioral Sciences Unit (Unidade de Ciência
Comportamental) do FBI.
A Unidade de Ciência Comportamental, dando seguimento à pesquisa do
psiquiatra James Brussel, começou seus trabalhos montando uma
biblioteca com entrevistas com serial killers condenados por todos os
Estados Unidos. Com o objetivo de entender o que os levava a matar, os
investigadores entrevistavam muitos serial killers famosos, como Emil
Kemper, Charles Mason e David Berkowitz.
Os serial killers sã o datados desde a antiguidade. No século XIX na Europa
foi conduzida a primeira pesquisa sobre criminosos sexuais e violentos e
seus crimes, pelo Dr. Richard von KrafftEbing. O mesmo é conhecido pelo
compêndio “Psychopathia Sexualis” de 1886, no qual descreveu inú meros
estudos sobre homicídios sexuais, serial killers, entre outros.
Nã o há apenas uma causa que faz com que uma pessoa se torne um serial
killer. Na verdade, sã o uma série de fatores que contribuem para que isso
ocorra. A Classificaçã o Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saú de (CID) define a psicopatia como
um transtorno de personalidade, no qual o indivíduo nã o sente empatia em
relaçã o à s outras pessoas, e despreza as obrigaçõ es sociais. Seu
comportamento nã o muda facilmente por experiências adversas ou até
mesmo puniçõ es. O indivíduo possui baixa tolerâ ncia á frustraçõ es e baixo
limiar para a descarga de agressividade. Tende, inclusive, a culpar terceiros
ou fornecer explicaçõ es para o comportamento conflitante com a
sociedade.
Nem todos os psicopatas se tornam serial killers. Entretanto, é fato que
noventa por cento dos serial killers sã o psicopatas, portanto, a psicopatia é
intrínseca nesses indivíduos.Importa destacar que existem níveis
diferentes de gravidade apresentada pelos psicopatas, de leve a severo.
Segundo o entendimento de Delton Croce:
“Chamamos personalidades psicopá ticas a certos indivíduos que, sem perturbaçã o da inteligência,
inobstante nã o tenham sofrido sinais de deterioraçã o, nem de degeneraçã o dos elementos integrantes da
psique, exibem através de sua vida intensos transtornos dos instintos, da afetividade, do temperamento e
do cará ter, mercê de uma anormalidade mental definitivamente pré-constituída, sem, contudo, assumir a
forma de verdadeira enfermidade mental. ”
Durante a infâ ncia nã o se nota aspectos que diferenciam a criança como um
potencial serial killer. Contudo, no histó rico da grande maioria deles está
presente a “terrível tríade”: abuso de animais, incontinência uriná ria em
idade avançada e piromania.
Conforme ensina Casoy, se fazem presentes outras características, como
“ (...) devaneios diurnos, masturbaçã o compulsiva, isolamento social, mentiras crô nicas, rebeldia,
pesadelos constantes, roubos, baixa autoestima, acessos de raiva exagerados, problemas relativos ao
sono, fobias, fugas, propensã o a acidentes, dores de cabeça constantes, possessividade destrutiva,
problemas alimentares, convulsõ es e automutilaçõ es, todas elas relatadas pelos pró prios serial killers em
entrevistas com especialistas."

O isolamento familiar também é notado em muitos destes indivíduos. Na


infâ ncia, o isolamento frequente pode preencher o vazio com fantasias e
devaneios. Nos indivíduos saudá veis, estas fantasias sã o usadas apenas
como entretenimento, mas no que diz respeito aos serial killers, as
fantasias sã o compulsivas e complexas.16 “Acaba se transformando no
centro de seu comportamento, em vez de ser uma distraçã o mental. O
crime é a pró pria fantasia do criminoso, planejada e executada por ele na
vida real. A vítima é apenas o elemento que reforça a fantasia.
Os serial killers sã o comumente divididos em quatro tipos:
⦁ Libertinos: assassinos sexuais, obtém prazer com o sofrimento e
tortura da vítima. Inclui-se neste grupo necró filos e canibais.
⦁ Missionários: sentem a necessidade de “livrar” o mundo de
determinado grupo, o qual considera indigno.
⦁ Visionários: indivíduos psicó ticos, podem ouvir vozes e ter
alucinaçõ es.
⦁ Emotivos: sã o os que matam por diversã o, tem realmente prazer em
matar e se utilizar meios cruéis.
Também pode ser subdivididos em organizaçõ es e desorganizaçõ es, bem se
sã o está veis geograficamente ou nã o. Para o FBI, grande parto do
conhecimento do pú blico em geral sobre o serial killer é produtos das
produçõ es de Hollywood. As histó rias sã o feitas sem a preocupaçã o de
mostrar a realidade do assassino, pelo contrá rio, buscam aumentar o
interesse da audiência. Isso tende a gerar ainda mais confusã o sobre a
verdadeira dinâ mica destes tipos de assassinos.20Os assassinatos em série
sendo relativamente poucos, somados com as retratos fictícios da mídia
resultaram em mitos comuns sobre o serial killer, tais como:
⦁ Todos os serial killers sã o solitá rios disfuncionais: a maioria deles
nã o sã o reclusos ou vivem sozinhos. Frequentemente possuem famílias,
bons empregos e aparentam normalidade perante suas comunidades.
Como conseguem se misturar com facilidade, muitos nã o levantam
suspeitas dos investigadores e do pú blico.
⦁ Todos sã o motivados por sexo: os assassinatos em série nã o sã o
baseados por sexo.
⦁ Nã o podem parar de matar: existe a crença de que apó s começar a
matar, o serial killer nã o pode parar. Entretanto, muitos param com os
assassinatos antes de serem pegos.
⦁ Querem ser pegos: Na maior parte das vezes , eles nã o querem ser
pegos. O problema é que pensam que nunca serã o. A maior parte dos serial
killers planejam seus crimes muito mais do que outros criminosos.
Conforme continuam a praticar os crimes com sucesso, se sentem mais
confiantes e cometem erros.
⦁ Todos sã o homens brancos: existem serial killers em todos os grupos
sociais. No caso dos EUA, a diversificaçã o racial corresponde a populaçã o
em geral.
⦁ Sã o loucos ou gênios do mal: como a populaçã o em geral, os níveis de
inteligência entre os assassinos em serie variam, podendo ser acima ou na
media. Sofrem de transtornos de personalidade, mas a maior parte nã o é
considerada louca pela lei.
⦁ Sempre viajam e cometem crimes em vá rios estados: a maior parte
possui á reas de atuaçã o bem definidas. Cometem os assassinatos em zonas
de conforto definidas por um "ponto de coragem"(pode ser a pró pria
residência, local de trabalho, residência de um parente). Para evitar serem
pegos ou quando possuem mais confiança, cometem os crimes fora de sua
zona de conforto. Contudo, poucos deles viajam para outros estados para
matar.
Reconhecer um assassino serial nã o é uma tarefa fá cil, pois ele desenvolve
uma personalidade diferente para o convívio social. Nas palavras de Casoy,
é como “um fino verniz de personalidade completamente dissociado do seu
comportamento violento e criminoso”.
A simples dissociaçã o é normal, considerando que todos possuem
comportamentos mais “controlados” na vida social do quando se está com
pessoas íntimas. Mas no caso dos serial killers, a dissociaçã o entre
realidade e fantasia chega a ser extrema. Essa é a razã o de muitos deles
possuírem famílias, empregos e vidas aparentemente está veis, apesar de
suas açõ es.
Esta dissociaçã o de personalidade no convívio social faz com que os
indivíduos neguem com convicçã o sua participaçã o nos crimes, mesmo
diante de provas irrefutá veis. É também o motivo pelo qual muitos sã o
considerados sadios e capazes de discernir as condutas proibidas e
permitidas.
2. Conceito de Delito
A concepçã o moderna de delito resulta da doutrina alemã , a partir da
segunda metade do século XIX. Influenciada pelo método analítico,
aperfeiçoou os elementos que fazem parte do conceito de delito, com
contribuiçõ es internacionais, de países como Itá lia, Espanha, Grécia, entre
outros.
O conceito clá ssico de delito era definido como um movimento corporal
produzindo uma modificaçã o no mundo exterior. Elaborado por Von List e
Beling, foi o primeiro a separar claramente a antijuricidade e a
culpabilidade, com critérios objetivos e subjetivos. Franz Von Listz apud
Olivé ensina:
“ Dos conceitos criminosos singulares deve-se abstrair aquelas notas de que cada delito é portador; deve-
se criar o sistema de normas formadoras de conceitos que constituam a Parte Geral do Direito Penal.
Assim, geram-se passo a passo os conceitos de culpabilidade, de imputabilidade, de tentativa, de
participaçã o, de legítima defesa, de estado de necessidade etc. Também aqui nos encontramos atualmente
no meio da corrente; os elementos do ‘tipo geral do delito’ constituem o tema preferido da ciência
moderna”.

Liszt foi fundamental para o desenvolvimento do pensamento sistemá tico.


O autor defendia ao mesmo tempo a uniã o e a diferenciaçã o das disciplinas
de aná lise do crime por uma tripla perspectiva: dogmá tica jurídico-penal,
política criminal e criminologia. Para ele, era importante diferenciar o
Direito Penal como ciência ligada à s normas da política criminal, que
enfrenta a batalha contra o crime no aspecto social. O autor defende um
sistema fechada de interpretaçã o das normas, para que se distancie da
arbitrariedade.
A transformaçã o sofrida pelo conceito clá ssico nã o abandona
completamente seus princípios, dando início ao conceito neoclá ssico. Este
conceito demonstra a influência da filosofia neokantiana no mundo
jurídico, com ênfase ao normativo e axioló gico. Nas palavras de Bitencourt,
“foi substituída a coerência formal de um pensamento jurídico circunscrito
em si mesmo por um conceito de delito voltado para os fins pretendidos
pelo Direito Penal e pelas perspectivas valorativas que o embasam (teoria
teleoló gica do delito).”
A teoria neoclá ssica caracteriza-se, portanto, pela reestruturaçã o do antigo
conceito de açã o, a funçã o do tipo ganha novas atribuiçõ es, a culpabilidade
é reformulada bem como a alteraçã o material da antijuricidade. Contudo,
nã o altera o conceito de delito como açã o típica, antijurídica e culpável.
Olivé considera que tal abordagem positiva é insuficiente “porque o delito
nã o é só um fenô meno da natureza, mas uma realidade social. Por
consequência, temos que na teoria do crime deve haver momentos
valorativos.
Para Bitencourt, os conceitos formal e material de crime nã o bastam para
que a dogmá tica penal possa analisar os elementos estruturais do conceito
de crime. É necessá ria a adoçã o do conceito analítico.
O conceito analítico iniciou-se com Carmignani (1833). Para ele,
compunham a açã o delituosa uma força física e uma força moral. A
execuçã o do dano material do delito estaria na força física, e a culpabilidade
e o dano moral estariam na força moral. Esta concepçã o levou ao sistema
bipartido do conceito clá ssico que perdurou até o sistema clá ssico de Liszt-
Beling.
Embora nã o se saiba ao certo o período do surgimento do conceito
analítico, é fato de que só foi completado pela introduçã o da tipicidade por
Beling (1906). Bitencourt ensina que “embora a inicialmente confusa e
obscura definiçã o desses elementos estruturais, que se depuraram ao longo
do tempo, o conceito analítico predominante passou a definir crime como
açã o típica, antijurídica e culpá vel.”
De acordo com a Lei de Introduçã o ao Có digo Penal Brasileiro,
“Considera-se crime a infraçã o penal que a lei comina pena de reclusã o ou de detençã o, quer
isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravençã o, a infraçã o penal
a que a lei comina, isoladamente, pena de prisã o simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou
cumulativamente. ”

Observa-se que a lei de introduçã o nã o define crime, apenas distingue as


infraçõ es consideradas crimes daquelas consideras contravençõ es penais.
A elaboraçã o do conceito de crime coube à doutrina nacional.
Nucci defende que aceitar a posiçã o bipartida, que considera o delito
apenas um fato típico e antijurídico, simplifica em excesso a culpabilidade e
a deixa apenas como um pressuposto da pena.
“A importâ ncia da culpabilidade se alarga no direito penal moderno, e nã o diminui, de forma que é
inconsistente deixá -la fora do conceito de crime. Nã o fosse assim e poderíamos trivializar totalmente o
conceito de delito, lembrando se que, levado ao extremo esse processo de esvaziamento, até mesmo
tipicidade e antijuridicidade – incluam-se nisso as condiçõ es objetivas de punibilidade – nã o deixam de
ser pressupostos de aplicaçã o da pena, pois, sem tais elementos nã o há delito, nem tampouco puniçã o. ”
No que se refere as bases do sistema penal, a doutrina é pacífica no
entendimento de que o Direito Penal possui como objetivo a proteçã o
subsidiá ria dos bens jurídicos. Sobre o conceito de Delito, a corrente
majoritá ria no país defende a teoria tripartida do crime, o qual é uma
conduta típica, antijurídica e culpá vel. Por assim dizer, uma determinada
açã o ou omissã o definida como conduta proibida em determinado sistema
legal (tipicidade), que esteja em desconformidade com o direito
(antijuridicidade) e passível de reprovaçã o social, tanto a açã o quanto o
agente.
3. A psicopatia no Direito Penal brasileiro
A psicopatia nã o recebia uma abordagem diferenciada das demais
patologias até o início dos estudos feitos por Hervey Milton Cleckley em
1941. Os indivíduos que sofriam com insensibilidade moral e outras
características antissociais eram, à s vezes, considerados loucos e nã o lhes
era atribuído nenhuma puniçã o. Ou entã o, eram tidos como criminosos
natos, sendo aplicadas puniçõ es bastante rígidas.
No Brasil, o assassinato em série nã o recebe um tratamento diferenciado
como nos Estados Unidos. Aqui, os casos foram descobertos quase que por
acaso, muitos deles sendo arquivados devido ao despreparo da polícia e até
mesmo a falta de especialistas para este tipo de crime.
Ensina Prado, Martins e Faria apud. Freire que os assassinatos em série
costumam ser tratados como homicídio qualificado “por motivo fú til”,
conforme art. 121, §2º, inciso II.49Muitas vezes é reconhecido o instituto
do crime continuado (art. 71 CP). Entretanto, em algumas situaçõ es, em
razã o de circunstâ ncias de tempo, lugar e modus operandi, é reconhecido
como concurso material de crimes (art. 69 CP).
O estudo da psicopatia ainda nã o possui grande atençã o no país. Existe
pouco investimento em psicologia forense na á rea penal e para abordagens
baseadas na Neurociência. Em vista disso, os juízes carecem de informaçõ es
necessá rias para aplicar as sançõ es adequadas. O legislativo também falha
quando nã o prevê exames criminoló gicos para determinar se o indivíduo
possui o transtorno, muito menos penitenciá rias adequadas para esta
condiçã o.
Oliveira e Struchiner ainda salientam:
“(...) a existência de criminosos psicopatas é um fato que o Brasil deve desde já se preocupar. Seja pela
preocupaçã o com a prevençã o de crimes, seja pela busca de respostas penais compatíveis com a condiçã o
de psicopatia, o estudo sobre este tema deve ser levado a sério, tanto pelo poder legislativo quanto pelo
poder judiciá rio. Para tanto, mostra-se necessá rio um diá logo direto e íntimo com a Psicologia Forense e a
vanguarda da Neurociência.”

A capacidade de culpabilidade dos indivíduos psicopatas nã o é um tema


pacífico na doutrina, muitas vezes pela pró pria divergência da Psiquiatria
na questã o. Na jurisprudência pá tria, nã o há muitos debates sobre a
psicopatia. Na legislaçã o, além de nã o haver uma proposiçã o específica
para verificar a psicopatia do indivíduo, também nã o há nada que implique
em tal verificaçã o. Inexiste lei, decreto, regulamento, portaria ou qualquer
normativa que mencione a psicopatia ainda que indiretamente. Oliveira e
Struchiner consideram que “Isso apenas reforça e demonstra a incipiência
do tema no Brasil, que aparece aos poucos e em casos isolados.” Conforme
demonstrado em algumas jurisprudências, o tratamento dado ao assunto é
muitas vezes superficial:
AGRAVO EM EXECUÇÃ O PENAL. PROGRESSÃ O DE REGIME. FECHADO PARA O SEMIABERTO.
IMPOSSIBILIDADE. CARÊ NCIA DO REQUISITO SUBJETIVO. SUBMISSÃ O A EXAME CRIMINOLÓ GICO. RÉ U
DIAGNOSTICADO COMO SOCIOPATA E PSICOPATA. DECISÃ O IDÔ NEA. RECURSO CONHECIDO E
IMPROVIDO.1. Admite-se o exame criminoló gico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisã o
motivada. Sú mula 439/STJ. Sú mula Vinculante 26/STF.2. A atual redaçã o do art. 112 da Lei de Execuçã o
Penal – LEP, conferida pela Lei 10.792/2003, retirou a obrigatoriedade do exame criminoló gico para
concessã o de benefício da execuçã o penal. Contudo, a despeito de retirar a obrigatoriedade de tal exame,
a nova redaçã o do art. 112 da LEP nã o proibiu sua realizaçã o, que pode ocorrer quando o magistrado
entender ser conveniente, desde que mediante decisã o fundamentada. 3. O silêncio da Lei a respeito da
obrigatoriedade do exame criminoló gico, contudo, nã o inibe o juízo da execuçã o do poder de determiná -
lo, desde que fundamentadamente. Isso porque a aná lise do requisito subjetivo pressupõ e a verificaçã o
do mérito do condenado, que nã o está adstrito ao “bom comportamento carcerá rio”, como faz parecer a
literalidade da lei, sob pena de concretizar-se o absurdo de transformar o diretor do presídio no
verdadeiro concedente do benefício e o juiz em simples homologador. Precedente do STF. Agravo em
execuçã o penal conhecido e improvido.55

E M E N T A – AGRAVO DE EXECUÇÃ O PENAL – PROGRESSÃ O AO REGIME SEMIABERTO –


INDEFERIMENTO COM BASE EM EXAME CRIMINOLÓ GICO – REQUISITO SUBJETIVO NÃ O PREENCHIDO –
DECISÃ O MANTIDA – RECURSO IMPROVIDO.O exame criminoló gico, apó s o advento da Lei n.
10.792/2003, que alterou o artigo 112 da LEP, tornou-se recurso facultativo, mas, se realizado e
desfavorá vel tal exame, deve ser considerado como fator para a apreciaçã o do pedido e eventual
denegaçã o do benefício e, nada obsta, seja realizado por profissional da psicologia. Precedentes das
Cortes Superiores. No caso, a perícia concluiu que o reeducando se enquadra no diagnó stico de Psicopata
Histérico, caracterizado pela insensibilidade emocional, ausência de empatia, ânsia pelo prestigio e
completo desprezo pelas regras de conduta social, concluindo ser inconveniente seu contato social no
presente momento. Assim, tenho como nã o satisfeito requisito subjetivo, determinado pelo art. 112 da
LEP para a concessã o do benefício pleiteado. Com o parecer, recurso improvido.

Houve um projeto de lei proposto pelo senador Romeu Tuma (PLS nº


140/2010) que pretendia fazer acréscimos no artigo 121 do Có digo Penal
para o reconhecimento desta situaçã o no ordenamento jurídico.
Se tivesse sido aprovado, o art. 121 do PL conteria o seguinte pará grafo57:
“Assassino em série: § 6º Considera-se assassino em série o agente que comete 03 (três) homicídios
dolosos, no mínimo, em determinado intervalo de tempo, sendo que a conduta social e a personalidade do
agente, o perfil idêntico das vítimas e as circunstâ ncias dos homicídios indicam que o modo de operaçã o
do homicida implica em uma maneira de agir, operar ou executar os assassinatos sempre obedecendo a
um padrã o pré-estabelecido, a um procedimento criminoso idêntico. ”

O projeto também acrescentava outros pará grafos. No 7º, foi disposto que
além das características já elencadas, seria necessá rio um laudo pericial
unâ nime de um grupo de profissionais. Deveriam ser necessariamente dois
psicó logos, dois psiquiatras e um especialista com comprovada experiência
no assunto. O art. 8º dizia que o sujeito considerado assino em série deveria
passar por uma expiaçã o mínima de 30 anos de reclusã o em regime
integralmente fechado, ou se submeter a medida de segurança em algum
hospital psiquiá trico por igual período. Percebe-se e um tratamento
extremamente duro no referido projeto, que tratava o assassino como
merecedor de medidas extremas.58
Segundo o pensamento de Siena, “a presente proposiçã o está em franca
desarmonia com o sistema de penas adotado pela Parte Geral do Có digo
Penal59”. A pena mínima de 30 anos de reclusã o contraria o disposto no
art. 75. O regime “integralmente fechado” nã o é compatível com a
individualizaçã o da pena prevista na Constituiçã o (art. 5º, XLVI).
No art, 9º era proibido qualquer tipo de anistia, graça, indulto ou
progressã o de regime para o assassino.60 O tratamento diferenciado
enfrentado pelo assassino fere inclusive o princípio da igualdade ao criar
estes tipos de exceçõ es.
O projeto foi arquivado em 2014, e desde entã o, nã o há nenhum outro
projeto sobre o tema em tramitaçã o.

4. Finalidade da pena e da medida de segurança

O debate sobre os fins da pena possibilitam mostrar a legitimidade do


Direito Penal, ou seja, se a pena a ser imposta é socialmente ú til.61 Para
Juan Carlos Ferré Olivé, saber o motivo pelo qual se castiga consiste na
definiçã o sobre o eixo sobre o qual deve girar todo o sistema penal do
Estado de Direito.62 Segundo o autor,
"A pena nã o é outra coisa que a privaçã o de bens jurídicos fundamentais (como a liberdade, o patrimô nio,
ou, em alguns sistemas, a pró pria vida), que está prevista em lei e se aplica ao responsá vel de um fato
criminoso. É , obviamente, algo negativo para o condenado, o que nos obriga a ponderar cuidadosamente
os argumentos que permitiam legitimar a imposiçã o de uma sançã o de semelhante natureza."63

Umas principais obras sobre os fins da pena se chama " Programa de


Marburgo". A obra foi exposta em 1882 por Franz Von Liszt, em uma
conferência magistral que ocorreu na universidade alemã Marburgo.
A Teoria do Direito Penal Garantista feita por Luigi Ferrajoli defende que ao
Direito Penal cabe, através da pena, prevenir tanto os delitos quanto uma
reaçã o selvagem contra o infrator ou aqueles ligados a ele.
Tatiana Bicudo esclarece:
“A pena substitui historicamente a vingança, nã o com a finalidade de satisfazer melhor o direito de
vingança, mas como modo de se prevenir reaçõ es de cará ter vingativo. Surge o Direito Penal no momento
em que a relaçã o bilateral ofendido/ofensor é substituída por uma relaçã o tríade, em que a autoridade
judicial situa-se na posiçã o de um termo médio imparcial.”
O Có digo Penal, em seu artigo 59, define que as penas devem ser eficazes
quanto à reprovaçã o e prevençã o do crime. Entende-se que a pena deve
servir como reprovaçã o ao ato cometido, e também prevenir delitos
futuros.
No início do século XVIII os autores penalistas começaram a se agrupar em
Escolas, e foram formuladas as primeiras justificaçõ es sobre as penas. As
mesmas foram reunidas e condensadas em duas teorias antagô nicas, as da
retribuiçã o e da prevençã o.
As teorias absolutas da pena defendem a tese da retribuiçã o. Para estas
teorias, a fundamentaçã o da pena está apenas no delito cometido. A pena é
aplicada como uma espécie de expiaçã o do fato, uma retribuiçã o pela
culpabilidade. Há exemplos destas proposiçõ es desde a antiguidade, com a
Ilustraçã o Grega ou as primeiras reflexõ es cristã s. Aristó teles na É tica a
Nicó macos afirma que o criminoso é um inimigo da sociedade, devendo ser
castigado como um animal, sendo a causa do crime a miséria.
Contudo, sã o definitivamente elaboradas pelo idealismo alemã o, que conta
com os argumentos de Kant e Hegel.
Para Kant, a pena é um imperativo categó rico. Segundo o autor, a pena
judicial nã o deve servir para fomentar algum outro bem, deve ser imposta
simplesmente porque o delito foi cometido.
O homem nã o deve servir como meio para os propó sitos de outro, muitos
menos ser confundido com os demais objetos do direito real.
Hegel chega a mesma conclusã o de Kant, embora com premissas diferentes.
Para ele, a pena seria “a negaçã o da negaçã o do direito”. Deve ser imposta
para restabelecer a ordem jurídica violada.
Para Luiz Regis Prado, a teoria absoluta “é decorrente de uma exigência de
justiça, seja como compensaçã o da culpabilidade, puniçã o pela
transgressã o do direito (teoria da retribuiçã o), seja como expiaçã o do
agente (teoria da expiaçã o).
Greco defende que a sociedade tende a se contentar com este “pagamento”
feito pelo condenado apenas se feito através da pena privativa de liberdade.
Se for imposta a pena de multa ou restritiva de direitos, tem-se a sensaçã o
de impunidade, pois infelizmente as pessoas se satisfazem com o
sofrimento que o agente sofre com a prisã o.
Contra as teorias absolutas prevaleceram os argumentos negativos, o que
levou a ser majoritariamente rechaçada. Um de seus aspectos positivos se
refere à necessidade de fundamentaçã o no momento histó rico do idealismo
alemã o, em que os abusos de poder dos monarcas prevaleciam. Defender a
retribuiçã o, na época, era um pressuposto para o limite da arbitrariedade e
dos excessos do estado.
Já para as teorias relativas, a base da pena é sua eficá cia futura, ou seja, a
pena possui uma finalidade e deve ser ú til para a sociedade. A
fundamentaçã o da pena nã o pode se amparar no racionalismo puro da
retribuiçã o, muito menos o cará ter de imoralidade dos delitos; deve se
fundamentas no objetivo de que nã o sejam cometidos novos delitos,
protegendo assim a comunidade e seus cidadã os.
As teorias relativas se fundamentam no critério da prevençã o, que se
subdivide em: prevençã o geral (negativa e positiva) e prevençã o especial
(negativa e positiva).
A prevençã o geral negativa, também conhecida como “prevençã o por
intimidaçã o” busca evitar que os demais membros da sociedade, ao
presenciarem a pena aplicada a um dos seus, cometa os mesmos atos.
Um de seus principais defensores foi Anselm Von Feuerbach, que propunha
que a pena deveria causar uma "coaçã o psicoló gica" no infrator.81 A lei
penal, para a prevençã o geral negativa, serviria para intimidar os
indivíduos para que se portassem da maneira correta, evitando assim o
cometimento dos delitos.
A prevençã o geral negativa recebeu críticas importantes. Por si só , esta
pode significar a utilizaçã o do infrator como um instrumento para se
atingir determinados fins. É difícil de se justificar tal instrumentalizaçã o no
Estado de Direito, pois se um indivíduo é preso apenas para servir como
exemplo, nã o passe de um "bode expiató rio".83 Também questiona-se se
poderia levar a uma intervençã o punitiva extrema, pois a pena, ao ser
utilizada como uma ameaça aos indivíduos nã o pode significar o terror
penal.
A prevençã o geral positiva se relaciona com a difusã o do respeito à s
normas e ao direito, promovendo integraçã o social.85A formulaçã o de
Feuerbach sobre a coaçã o psicoló gica foi abandonada, possibilitando a
defesa das penas com cará ter preventivo.86 O espanhol José Antó n Oneca
apud Olivé esclarece que:
“ A prevençã o geral nã o é somente intimidaçã o; sua missã o mais alta é reafirmar a moral naquela parte
que é necessá ria para a manutençã o da coletividade. (...) a prevençã o geral é, em primeiro plano, funçã o
pedagó gica, reafirmaçã o da moral coletiva e atuaçã o exemplar conforme seus princípios. ”

A prevençã o especial se refere ao indivíduo que comete o delito,


procurando evitar que o mesmo cometa estes atos no futuro. Embora a
prevençã o especial possua exemplos desde os tempos antigos, sua
relevâ ncia data do final do século XIX, período do positivismo
criminoló gico italiano, bem como dos autores Franz Von List, na Alemanha
e Pedro Doraro Montero na Espanha.
Também se divide em negativa e positiva a prevençã o especial. No que se
refere à prevençã o especial negativa, a mesma ocorre quando se retira do
convívio social através de pena restritiva de liberdade o infrator,
impedindo assim que ele volte a praticar outros delitos por um tempo.
Von Liszt foi quem propô s esta soluçã o, visando os delinquentes
incorrigíveis. Possuía o objetivo de neutralizar ou isolar, perpetuamente
em certos casos, aqueles que nã o devem ser inseridos na sociedade outra
vez.
Já a prevençã o especial positiva possui o cará ter ressocializador, fazendo
com que o infrator medite sobre o crime e suas consequências,
desestimulando assim novas infraçõ es.
O auge desta teoria se deu nos anos 60 e 70, período em que diversos
Có digos e Constituiçõ es defendiam a ideia de que a pena deveria visar
reinserçã o social do criminoso. Parte de uma ideia ao mesmo tempo
utilitarista e humanista da pena, em que se confia no tratamento
ressocializador para evitar que novos delitos sejam cometidos.
Luiz Regis Prado defende que existem três efeitos principais quando se
atua no â mbito da prevençã o geral positiva:
“ (...) em primeiro lugar, o efeito de aprendizagem, que consiste na possibilidade de recordar ao sujeito as
regras sociais bá sicas cuja transgressã o já nã o é tolerada pelo Direito Penal; em segundo lugar, o efeito de
confiança, que se consegue quando o cidadã o vê que o Direito se impõ e; e, por derradeiro, o efeito de
pacificaçã o social, que se reproduz quando uma infraçã o normativa é resolvida através da intervençã o
estatal, restabelecendo a paz jurídica. ”

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