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Amor em Julgamento

Série Sentença – Livro 1


1ª Edição – E-book
2015

NINA MÜLLER
Amor em Julgamento © Copyright 2015 — Nina
Müller

REVISÃO
Carolina Durães de Castro

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens,


lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da


Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei


9.610 de 10/02/1998.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de
qualquer parte dessa obra, através de quaisquer
meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil.
Dedicatória

Essa obra é dedicada especialmente para a


mulher mais guerreira que conheci: minha amada
mãe Myrthes.

Mãe, Amor em Julgamento é para você!

Com amor, sua filha Nina Müller.


Agradecimentos

Quero agradecer de coração aos meus amados


leitores do Wattpad, por cada leitura, cada curtida e
cada comentário feito. Não tenho palavras para
expressar o enorme carinho que sinto por todos,
afinal vocês foram fundamentais para o
desenvolvimento do livro.
A minha amiga do peito Lígia de Carvalho, que
me inspirou em relatos verídicos e vivenciados em
seu cotidiano e, que passou muitas vezes acordada
em plena madrugada lendo os trechos que eu
enviava. Obrigada, minha amadinha. Não sei o que
seria de mim sem você! Quero que saiba que tem
um lugar muito especial em meu coração.
Meus agradecimentos a todos os meus leitores,
que são a minha família literária, pelo carinho que
vocês tiveram com Edu Guerra e Milena Venturini.
Sem vocês, meus amores, essa obra não teria o
brilho que teve. Amo demais vocês!
Carol, minha querida revisora, nem sei como
agradecer pelas horas empenhadas, as dicas dadas
e pelos dias que você se dedicou a essa obra.
Obrigada por tudo e um beijo carinhoso. Você é
genial, garota!
Quero agradecer imensamente aos meus pais,
Orvandir e Myrthes, que me ajudaram muito no
decorrer dessa jornada. Foram muitos obstáculos
que tivemos que ultrapassar para vencer e
vencemos. Nem um milhão de obrigado seriam
capazes de expressar o meu agradecimento. Meu
amor por vocês é imensurável!
Enfim, obrigada a todos que lerão essa
emocionante história, que ensina a amar e perdoar
aqueles que estimamos.
Nota da Autora

“Amor em Julgamento” faz parte da


quadrilogia “Sentença”. Neste primeiro livro
conheceremos Milena Venturini e Eduardo Luís
Guerra. As histórias de Conrado Coimbra Guerra,
Lívia Maria Venturini e Malu Valente serão
contadas em outros livros da série.
Série Sentença

Livro 2 – Desejo em Julgamento


Prólogo

Milena

Cinco anos antes...

Ainda não sabia explicar o que me levou a


remexer no passado. Há quatro anos eu estava
nesse mesmo dilema, cutucando feridas que ainda
machucavam o meu coração e a minha alma, se
impregnando nela para nunca mais deixá-la.
Lidar com o assunto sempre me deixava sem
chão. Não estava reclamando do vazio que se
encontrava no meu coração, pois era ele que me
mantinha viva. Sempre convivi com isso e sabia
administrar com muita astúcia a dor camuflada em
determinação e coragem.
Não iria negar que nunca havia deixado de
procurar respostas para entender minha verdadeira
identidade, meus laços de sangue. E tudo para quê?
Para me deparar outra vez com o vácuo perdido no
tempo? Com o nada?
Descobri algumas coisas quando eu tinha
apenas quinze anos de idade. Muitas vezes eu me
pegava pensando que seria melhor viver na
ignorância, pois não me sentiria tão amargurada. A
dor extravasava de tal forma, que me dilacera, como
agora. Muitos sentimentos desconexos e nenhuma
lembrança. Era tudo o que tinha.
Eu amava os meus pais e minha irmã mais
nova. Eles eram a razão pela qual suportei tudo que
a vida me apresentou até agora. Foi devido à
presença deles, do amor incondicional, de sua força
e carinho. Eles estavam sempre ao meu lado, me
dando apoio, ânimo e fé para continuar minha
caminhada. Caso contrário, eu teria desistido.
Meus pais eram professores, e foi graças ao
esforço dos dois que Lívia e eu fomos matriculadas
em escolinhas de idiomas, em cursinhos e escola
de dança. Enfim, meus pais abdicaram de boa parte
da vida por suas filhas. Para a alegria de papai e
mamãe, nós duas estávamos quase formadas. E era
devido a isso que eu consegui chegar onde estava.
Um dos meus maiores sonhos, me graduar em
Direito, em breve se tornaria realidade. O outro
grande sonho era passar no concurso Ministério
Público. Sabia que era uma longa jornada, pois
ainda tinha o exame da Ordem dos Advogados
para enfrentar. Mas eu tinha certeza que iria
conseguir.
Observei pela quinta vez as informações
contidas no documento que estava diante de mim e
meu coração se contraiu. Mesmo sabendo que as
chances de descobrir toda a verdade a respeito de
meu passado eram ínfimas, eu ainda mantinha
acesa a chama da esperança.
— Milena. — A voz de Úrsula, minha psicóloga
e amiga, me tirou de meus pensamentos. — Por
que você não esquece isso e se concentra em sua
formatura que será daqui quinze dias?
— Eu queria tanto esquecer certas coisas, mas
não consigo. — Guardei o documento dentro da
bolsa e me endireitei na poltrona a sua frente, em
seu consultório.
— Eu te entendo, mas você age como detetive
desde a adolescência. E isso não é saudável! — Ela
balançou a cabeça, como gesto de desaprovação. —
Você precisa aceitar a vida como ela é agora e,
principalmente, se aceitar como você é!
— Mas eu tenho o direito de saber a verdade,
Úrsula.
— Sabe Milena, nem sempre saber a
veracidade dos fatos melhora a nossa vida.
Algumas vezes, é melhor esquecer e seguir adiante.
— A vida não foi justa comigo. — Fechei os
olhos, tentando dissipar a dor que começava a
reacender no peito. Úrsula se levantou, contornou a
mesa e veio ao meu encontro. Com o semblante
terno, ela puxou a cadeira e se acomodou ao meu
lado.
— Me ouça! — Ela segurou minha mão com
carinho. — Você é linda, inteligente, tem uma
família que te ama, está se formando no curso que
sempre sonhou e tem tudo para ser uma grande
profissional em sua área. Siga meu conselho: viva a
sua vida e busque a felicidade.
— Queria ver em mim o que você acaba de
dizer, mas eu não me vejo assim. — Puxei minha
mão da sua e respirei fundo. — Eu não me
considero nada disso que você diz. A não ser o fato
de que lutei muito para conseguir realizar o meu
sonho, que é me graduar em Direito. — Ela
balançou a cabeça em desaprovação pela segunda
vez. — Você sabe o quanto foi difícil para eu
conseguir passar no vestibular. Você e a Malu são
as únicas pessoas, além de minha família, que
sabem o que eu enfrentei de verdade, Úrsula.
— Milena, deixe de se autoflagelar, por favor.
Se ame mais, seja feliz — aconselhou em tom
firme. — Olhe para você! — Fez sinal com a mão
em minha direção. — É uma menina linda, com a
vida pela frente e tem tudo para se dá bem.
— Eu já ouvi essa conversa antes. — Revirei os
olhos me levantando, sentindo a inquietude
tomando conta de mim.
— E eu voltarei a repeti-la sempre que for
necessário, meu bem! — Ela se levantou e sorriu.
— Bem, eu preciso ir! — disse olhando para o
relógio de pulso. Úrsula me acompanhou até a
porta.
— Pense no que eu te disse e, por favor, se
concentre em seu presente e futuro e esqueça de
vez o seu passado.
— Eu prometo que tentarei. — Sorri e beijei
seu rosto. — Tchau, doutora.
— Tchau, futura doutora. O meu vestido para
sua formatura já está comprado. — Deu uma
piscadinha.
— Eu tenho certeza que é um arraso. — Sorri e
deixei sua sala.
Instantes depois eu estava dentro de meu
carro, em frente ao edifício onde funcionava o
consultório de Úrsula. A vontade que tinha era de
sumir, desaparecer. A dor emergiu com fúria, assim
como o pranto que tanto segurei após ler esse
maldito documento que só serviu para me trazer
mais desalento. Esmurrei o volante com tanta raiva
que senti os ossos das mãos doerem. Enfiei a
cabeça em minhas mãos, deixando a tristeza e a
solidão tomarem conta de mim.
Por que não conseguia lidar com essa merda
toda? Quanto tempo eu sentiria um vazio em meu
peito? Deus, quando esse tomento acabaria?
Quando?
Capítulo 1

Edu

Dias atuais...

— Ahhh, doutor! Que gostoso! — Glenda


choramingou, quase atingindo seu clímax. Dei uma
palmada em sua bunda, deixando a sua pele
lentamente vermelha enquanto mantinha o ritmo.
— Rebola, sua cadelinha! Rebola! — Levei a
mão em seus quadris, pressionando-os junto a
mim, mantendo-a dominada de quatro sobre os
lençóis. Glenda começou a rebolar e me deixou
doido. Bombeei com tudo e passei a fodê-la bruto,
metendo até mo talo.
— Fode a sua cadelinha! Assim! — disse
ofegante enquanto eu a devorava sem piedade,
batendo e retrocedendo em um movimento
alucinado.
— Goze no meu pau, putinha safada! — Não
diminui o ritmo das estocadas, sentindo que logo
ela gozaria. Glenda sabia que só podia gozar
quando eu mandasse e após eu ter dado permissão,
eu comecei a senti-la apertando o meu pau e gozar.
— Doutor... Ahhhh! — Escutar o seu desespero
era o que faltava para que eu também alcançasse o
meu clímax.
Saí de dentro dela e retirei o preservativo.
Deixei o corpo cair ao seu ao lado e mantive
distância, como de praxe. Nunca fui homem de
ficar grudado em mulher alguma depois de
finalizar um ato sexual. E a Glenda sabia que o que
tínhamos era somente sexo e nada mais.
Por mais que eu tivesse me contido muito para
não trepar com ela, pois a garota era minha
estagiária, e ter contato diário era uma complicação
desnecessária, mas eu acabei cedendo. Que o
homem resistia a um gostoso rabo de saia? Era
muito duro ignorar suas investidas descaradas em
cima de mim durante esses cinco meses de estágio.
— Glenda, está na hora de você ir embora.
Quando sair, bata a porta — disse deixando a cama.
— Mas eu não posso dormir aqui com você? —
Ela fez beicinho, achando que me seduziria com
esse gesto banal.
—Você sabe que eu não divido a minha cama
com ninguém!
— Mas, Edu... — Ela começou rastejar sobre os
lençóis e fixou seus olhos verdes em meu corpo nu.
— Para você eu sou o doutor Eduardo Luís
Guerra, seu chefe. Não se esqueça disso! — adverti
em tom firme, saindo em direção ao banheiro. —
Boa noite, Glenda.
Ela ainda estava balbuciando no quarto, mas
eu ignorei totalmente. Depois de alguns minutos
Glenda foi embora, fazendo barulho desnecessário.
Eu dei de ombros e tudo que precisava agora era de
uma ducha para aliviar a tensão que sofri durante o
expediente no Fórum. Cibele, a minha ex-
namorada, resolveu foder com meu dia indo até ao
meu gabinete com a nítida intenção de reatar a
nossa relação desgastada.
Quando ela entenderia que o relacionamento
acabou? Convivemos por quatro meses e Cibele
praticamente se mudou para a minha casa. Ela
começou sutilmente, trazendo uma escova de
dente, seus produtos de higiene e algumas roupas.
Em poucas semanas, mais da metade do meu
quarto estava repleto de tralhas dela. Um completo
absurdo!
A minha privacidade acabou, assim como a
minha paciência. No início tentei não me importar
com o fato de vê-la constantemente em minha casa.
Ela era filha de um industrial que lhe dava tudo.
Cibele não sabia o significado da palavra “esforço”.
E acreditava que trabalho soasse como um palavrão
para aquela garota mimada. Como eu poderia
conviver com alguém que só pensava em fazer
compras e se produzir vinte e quatro horas por dia?
Sem chances! Além disso, a relação já estava uma
merda mesmo. Não fazia o tipo de homem que
sonhava em ter uma casinha com portões brancos,
jardim, esposa e filhos. Isso não combinava
comigo.
No trabalho eu era o doutor juiz de direito
Eduardo Luís Guerra. Prezava o respeito, a
competência e, acima de tudo, a disciplina dos que
me rodeavam. Mas, fora dele eu curtia a vida. Saia
para noitadas com os amigos e nunca voltava
sozinho para casa. Tinha as garotas que eu queria.
Era só escolher. Todas caiam aos meus pés. Qual
era o propósito da monogamia? Só um louco para
comer a mesma mulher todas as noites!
Após a relaxante ducha, fui até o closet. Escolhi
um calção de dormir e peguei um jogo limpo de
lençóis. Não queria ter que dormir com o cheiro
enjoativo do perfume da Glenda.
Arrumei a cama de qualquer jeito e me atirei
nela. Estava acabado. O dia foi desgastante e nem a
transa que tive com a estagiária loira me trouxe um
pouco de tranquilidade. Sentia o corpo mais tenso
do que estava antes de trepar com ela.

***

Maldito trânsito! Saí de casa em pleno sábado


para ir ao clube jogar tênis com o Cassiano e esse
engarrafamento fodido não ajudava em nada. Pelo
menos a melodia Se, de Djavan, me distraia um
pouco.
Estávamos em pleno verão e as pessoas
aproveitavam para ir à praia no final de semana, o
que tornava o trânsito catastrófico. Odiava chegar
atrasado fosse ao trabalho ou em qualquer outra
ocasião. E cá estava eu, parado nesse caos, com esse
calor infernal. Se não fosse o ar condicionado do
meu carro, eu já estaria derretendo.
Entediado, eu girei o rosto para o lado e me
deparei com uma morena de tirar o fôlego. Ela
estava acomodada dentro de um Pegeout 208, ao
lado do meu Audi A5. Com a intenção de ver o
rosto e o restante do corpo da dona que estava
fazendo meu pau dar sinal de vida dentro de
minha bermuda, eu abaixei o vidro escuro do carro.
Acomodada ao banco do motorista, estava uma
garota de pele dourada e cabelo castanho cacheado
com alguns fios mais claros pelo efeito de luzes.
Ela virou o rosto em minha direção e... Porra! De
onde surgiu essa deusa? Ela era linda pra caralho!
Era jovem, vinte e poucos anos. Os olhos eram
castanhos claros e me olhavam com curiosidade. O
nariz era empinadinho e muito delicado. O rosto
era de formato angular e bem desenhado, com as
maçãs salientes. A deusa passou a língua nos lábios
e eu fui à loucura.
Desci os olhos e me deparei com o decote
generoso que ela ostentava em uma regata colada
ao corpo. Mas o que eu mais desejava ver, que era a
sua bunda, estava escondida sob o banco de couro.
Percebi que ela estava ouvindo uma de minhas
bandas nacionais favoritas e abri meu sorriso de
morte lenta. Ela sorriu de volta enquanto ajeitava
uma mecha de cabelo atrás da orelha. Eu conhecia
muito bem esse gesto involuntário que as mulheres
faziam quando se interessavam por mim. E claro,
que me aproveitei da situação.
— Adoro Reação em Cadeia. — Puxei assunto
praticamente debruçado na janela da porta.
— E eu adoro Djavan. — A deusa fez referência
ao cantor que eu ouvia.
— O que faz uma linda garota como você
parada em um trânsito infernal como esse?
— Acho que o mesmo que você: esperando o
trânsito andar! — Ela riu.
— Então, por que você não vem esperar aqui,
junto comigo? — sugeri aplicando uma cantada
descarada. A deusa soltou uma risada gostosa e
balançou a cabeça.
— Não, não... Eu não entro em carro de
estranhos.
— Bem, eu não sou um completo estranho.
Meu nome é Eduardo e o seu? — disse me
apresentando.
— Eu me chamo Milena. — Ela voltou a sorrir e
meus olhos brilharam.
— Então Milena, o que acha de aceitar a minha
proposta? Aqui tem ar condicionado.
— No meu carro também tem ar condicionado,
Eduardo. — Zombou em tom divertido.
Agora era minha vez de balançar a cabeça.
Precisava ser mais direto com ela, embora eu
acreditasse que Milena fosse durona quanto ao
quesito “ser paquerada por um desconhecido em
um engarrafamento”.
— Você é muito bonita! É modelo? — elogiei
com os olhos atentos em sua pele cor de ébano.
Ela voltou a rir de forma descontraída,
enquanto para meu pesar alguns carros mais a
frente começaram a se movimentar de forma lenta.
Não acreditava que esse trânsito infernal estava
acabando com minha alegria!
— Você está flertando comigo, Eduardo? —
indagou em tom divertido.
— Sim, eu estou!
Milena percebeu os carros em movimento,
volto-se para mim e fez um aceno com a mão, como
quem dava um “tchauzinho”. O quê?! Isso não
podia acabar assim! Precisava ver essa garota outra
vez, saber onde morava, o que fazia, se tinha
namorado. Enfim, precisava vê-la de novo ou ficaria
louco.
— Ei Milena, pode me passar o número de seu
celular? — perguntei enquanto ouvia sons de
buzina ecoar atrás de mim.
— Desculpe Eduardo, mas eu não costumo dar
meu número particular para alguém que conheço
no trânsito.
E essa agora? Então era assim que o meu dia
terminava?
Os motoristas que estavam atrás de mim
começaram a disparar as suas buzinas. Essa gente
não sabia esperar a porra de um minuto?
Rosnando, eu coloquei o carro em movimento,
enquanto via a Milena se distanciar aos poucos. E,
com a intenção de ficar ao lado dela outra vez, eu
aumentei a velocidade.
Estávamos emparelhados na avenida
movimentada. Dei uma leve buzinada e a deusa
girou o rosto rapidamente para me olhar. Eu sorri
dividindo a atenção entre ela e o trânsito e Milena
fez o mesmo. Andamos por alguns quilômetros
colados um ao outro, até que o próximo sinal se
fechou e voltamos a cena de poucos minutos atrás.
Milena me olhou e balançou a cabeça, incrédula.
— Eduardo, você é louco?
— Ei Milena, me passa o número de seu celular
— reiterei o pedido.
— Não vai rolar! — Ela balançou a mão em um
gesto negativo.
— Ah, qual é? Quer que mostre meu RG e CPF
a você, é isso?
— Não darei meu número a um lunático que
me persegue no trânsito. — rebateu decidida.
Mas que porra! Milena era tão durona quanto
linda. Tinha que arrumar uma estratégia urgente
antes que o sinal se abrisse e eu a perdesse de
vista. Então eu me recordei de que tinha dois
celulares, um para emergências do Fórum e outro
de uso pessoal. Uma ideia louca surgiu em minha
mente e eu decidi colocá-la em prática. Segurei o
celular que usava para as emergências e, mirando
em direção ao seu carro, eu joguei o aparelho, que
caiu em cima do banco do carona.
— Já que você não quer me dar o seu número,
eu te dou um de meus telefones — disse
observando que o sinal abria.
— Você é louco mesmo! — Ela voltou a dividir
a atenção entre o trânsito a sua frente e ao que eu
estava fazendo.
— Sou audacioso, Milena! Nunca desisto
daquilo que quero! — assegurei sorrindo e as
buzinas voltaram a zunir em meus ouvidos, assim
como alguns palavrões de motoristas irritados. —
Eu te ligarei daqui a pouco.
Milena abriu a boca perplexa e lançou um
olhar em direção ao celular em cima do banco.
Ergueu os olhos castanhos e encontrou os meus
pela última vez.
— Até breve, Eduardo! — Ela se despediu
colocando o carro em movimento.
Digitei o número do meu aparelho de
emergências, que estava em posse da deusa, mas
ela não atendeu. Tentei duas, três, quatro, cinco
vezes e nada. Aquela garota só podia estar de
brincadeira! Ela estava fazendo joguinho comigo?
Decidi segui-la novamente em meio ao trânsito
catastrófico, porém Milena costurou as brechas
entre os carros e se afastou facilmente. Aumentei a
velocidade e fiz algumas ultrapassagens, mas
parecia que a bela e durona deusa não queria saber
de conversa. Ela continuou sua fuga e entrou em
um túnel, me deixando completamente na mão.
Que situação fodida era essa? Teria que
mandar rastrear o meu celular para rever aquela
garota de novo? A que ponto eu havia chegado por
um rabo de saia?!

***

Uma semana depois, eu cheguei ao meu


gabinete e me afundei na cadeira estofada. As
pilhas de autos que estavam sobre a mesa eram
semelhantes às finadas torres gêmeas do World
Trade Center. Mais um dia em que não teria tempo
nem para um cafezinho.
Ultimamente andava mais irritado do que o
normal. Nada me acalmava. Nem as trepadas
aleatórias com as mais variadas garotas. Com a
finalidade de tentar amenizar essa sensação ruim,
eu fiz muito sexo. Não passei sozinho sequer uma
noite. Nenhuma! E pior de tudo, nem isso estava
em deixando mais calmo.
Ouvi um barulho na porta e Cassiano, meu
assessor de confiança, entrou sorrindo como se o
dia estivesse lindo. Ele sempre era assim: alto
astral. Além de trabalhar comigo, ele era um dos
meus melhores amigos e parceiros de happy hour
no fim da tarde.
Cassiano era novo, tinha 25 anos, olhos e
cabelos castanhos claros. Devido ao seu físico
esguio e atlético, fazia muito sucesso com as
garotas. No entanto, estava namorando a Raquel,
uma estudante de Moda, deixando a vida boemia
um pouco de lado. Era estudioso e passou no
exame da ordem dos advogados quando ainda
cursava o último período de Direito.
— Qual é o motivo desse sorrisinho, Cassiano?
— Vixi, Edu! O que houve com você? —
resmungou sentando-se a minha frente.
— Diz logo a lista infindável de audiências de
hoje.
— Antes disso, eu tenho uma novidade para
contar. — Sorriu outra vez com os olhos brilhantes.
— Cassiano, não me leve a mal, mas não quero
saber de novidade nenhuma. Nem boa, nem ruim.
Apenas quero que esse dia termine logo! — rosnei
nada contente.
— Mas...
— Sem “mas”! — Eu o interrompi impaciente.
— Estou tendo um dos piores meses do ano.
Trabalho em grande demanda, o novo promotor
que tomará posse em seu cargo, fofocas nos
corredores do Fórum sobre quem eu como ou deixo
de comer. Enfim, estou em meu inferno astral!
— Você quem manda, doutor! — Ele respirou
fundo e se levantou com a pauta em mãos. — Hoje
você tem audiências pela parte da manhã e a tarde
está livre para mergulhar nos autos.
— Então vamos ao trabalho! — Peguei a valise
e Cassiano me seguiu para fora do gabinete em
direção a sala de audiências que ficava no andar de
baixo.
Minutos depois, as portas do elevador abriram
e saí com Cassiano grudado ao meu lado. Ele me
lançou um olhar rápido e deu um sorrisinho de
canto. Detestava esse senso de humor ridículo que
meu amigo trazia consigo todo santo dia. Como
Cassiano conseguia viver assim, em um mar de
rosas? Ou era eu que estava em um mar de
espinhos ultimamente?
Abri a porta da sala de audiências e meus
olhos se arregalaram. Acomodada junto à bancada,
estava à deusa de ébano que conheci no
engarrafamento. Os céus só podiam estar
conspirando a meu favor! Isso era um presente da
divindade máxima entregue exclusivamente para
mim. Não havia outra explicação!
Ela ergueu os olhos dos autos e encontrou os
meus. Seu queixo caiu e a promotora engoliu em
seco. Abri um sorriso vitorioso e me aproximei
para me sentar ao seu lado. Analisei cada
centímetro de seu delicioso corpo e salivei
desejoso. Como ela era linda e exuberante!
A deusa estava com o cabelo preso a um coque
e alguns fios ondulados escapavam do penteado.
Ela vestia uma saia lápis cinza escura, blusa de
seda creme e sapato preto de salto alto. O tesão
aflorou, enquanto tentava me controlar para não
emparedá-la em plena sala de audiência.
Deixei a valise sobre a mesa e lancei um breve
olhar em sua direção. A doutora piscou
ligeiramente e desviou os olhos, voltando a se
concentrar nos papéis. Ela me devia alguns
orgasmos e eu iria cobrar cada um deles.
Meus olhos brilharam ao ler o seu verdadeiro
nome escrito na pauta: Milena Venturini. Sorri e
comecei os trabalhos, mais animado do que nunca.
O dia que era para ser infernal começava a se
tornar muito, muito interessante.
A doutora ajeitou o cabelo, inspirou fundo e
remexeu nas folhas dos autos com os dedos
levemente trêmulos. Percebi que ela me
reconheceu, mas por alguma razão, seu semblante
continuava compenetrado, demonstrando um ar
altivo. Para um expectador desatento, parecia que
Milena estava ignorando completamente a minha
presença. Mas de perto, era possível observar sua
inquietação.
As audiências transcorreram normalmente. Eu
tentei a todo custo manter a minha postura fria e
imparcial. Não daria o prazer dela se divertir as
minhas custas. Isso nunca! Era expert em manter o
controle de meus atos. Não dava um passo sequer
sem antes estar com a estratégia montada em
minha mente.
A última audiência terminou duas horas mais
tarde. Ansiosa, Milena arrumou os papéis
rapidamente em sua valise. Pegou a bolsa de couro,
o blazer sobre o encosto da cadeira e se levantou,
caminhando em direção à porta de saída.
Se a promotora pensava em fugir outra vez, ela
estava muito enganada. Peguei as minhas coisas
rapidamente e a segui pelo corredor. A mais bela
visão da face da Terra estava diante dos meus
olhos: a sua bunda redondinha que balançava no
movimento de seus quadris. Ah, esse belo e
tentador traseiro... Diversas ideias sujas surgiram
em minha mente, me deixando de pau duro.
Percebendo que estava sendo seguida, Milena
acelerou os passos em direção ao elevador.
— Doutora Milena! — Ela parecia estar
momentaneamente surda ou, o que era pior, se
fazendo de surda. A irritação se manifestou e eu
voltei a chamá-la: — Promotora Venturini! — Ela
me ignorou pela segunda vez e eu esbravejei no
meio do corredor: — Pare agora, doutora! Isso é
uma ordem! — Milena ficou imóvel na hora,
respirou fundo e girou o corpo lentamente, para
me fitar de queixo altivo.
Estávamos frente a frente. Olhos nos olhos. O
desejo faiscando como fogo e se expandindo ao
redor. O cheiro inebriante de seu perfume entrou
em minhas narinas e fiquei mais alucinado do que
já estava. O contorno do seu sutiã de renda saltou
diante de meus olhos, tirando os meus últimos
resquícios de sanidade. Desviei o olhar de seus
seios e voltei a encará-la.
— Esse mundo é mesmo muito pequeno —
disse em tom baixo. — Agora nós dois vamos
conversar, doutora. Você me deve uma explicação e
eu cobrarei com juros e correção monetária. Pode
ter certeza!
Ela arregalou os olhos e eu sorri.
Capítulo 2

Milena

Ainda não acreditava que o homem que flertou


comigo em pleno trânsito era o juiz Eduardo Luís
Guerra, um dos juízes que atuava na vara criminal.
Como ele mesmo mencionou: que mundo
pequeno! Nunca cogitei a ideia de revê-lo.
O pior de tudo era admitir que ele era bonito e
sedutor. Eu era traída pela minha libido outra vez.
Aliás, me traiu durante uma pauta e outra de
audiências. Merda! Onde estava a minha razão
quando precisava dela? Por que me sentia tão
atraída por esse homem? Desde a tarde no
engarrafamento que estava travando uma luta
interna. Desliguei o aparelho de celular dele para
fugir da tentação de atender uma das inúmeras
ligações recebidas e acabar caindo na lábia de um
safado desconhecido.
O doutor Edu esboçou um sorriso charmoso
enquanto me encarava. Eu aproveitei para
contemplar as suas formas outra vez e meus olhos
analisaram-no por inteiro. Ele era alto, tinha trinta
e poucos anos, ombros largos. Era possível
perceber que o corpo era levemente musculoso,
mesmo estando oculto pelo impecável terno cinza
escuro que vestia. Aliás, a roupa parecia ser feito
sob medida. O cabelo castanho escuro era liso,
curto e brilhante. O rosto era másculo e de formato
levemente angular, maxilar bem definido. Ele tinha
as sobrancelhas escuras, cílios longos, nariz afilado
e uma boca sensual e bem desenhada, que deixava
a mostra os dentes perfeitos e brancos. Os olhos
eram verdes acinzentados e nesse momento,
cintilavam curiosos com o propósito de me deixar
fora de controle.
Observei a sua mão viril que segurava a valise e
um frio atravessou a minha coluna. Fiquei molhada
e o que mais desejava era sentir seus dedos dentro
de mim. O miserável devia saber como
enlouquecer uma mulher. Não tinha dúvidas de
que era um predador nato, acostumado a ter tudo o
que queria. Certamente o doutor Edu Guerra fazia
o tipo de homem que seduzia milhares de garotas e
se aproveitava delas.
— Doutor, eu acho que conversamos tudo que
tínhamos para conversar na sala de audiências.
— Você está enganada, doutora. — Ele se
aproximou dando dois passos à frente enquanto eu
dava dois passos para trás, mantendo a distância.
— Nós temos muito para conversar e não é sobre
trabalho.
— Teremos que conversar outro dia, doutor.
Estou atrasada para um compromisso. — Apertei o
botão do elevador e as portas se abriram, fazendo
com que eu conseguisse uma maneira de escapar
de suas garras. Para a minha surpresa, ele também
entrou no elevador, apertando o botão referente ao
térreo. As portas se fecharam e eu recuei. —
Doutor Guerra, você...
— Shhhh! — Ele me colocou contra a parede e
seu indicador foi para os meus lábios, me
impedindo de continuar a frase. — Ah, doutora,
estava louco para fazer isso. — Edu inclinou a
cabeça para baixo e a sua boca se uniu a minha com
dureza. Ouvi o som de sua valise cair ao chão e em
seguida as minhas coisas se uniram as dele.
Uma de suas mãos estava na minha nuca e a
outra viajava pelo meu corpo, em direção aos meus
seios. Sua língua implorava por passagem
enquanto eu tentava manter a boca fechada. Mas o
desejo foi mais forte do que a lógica, e eu acabei
cedendo as suas investidas. O gosto de sua saliva
quente se misturando a minha era algo inebriante.
Edu me beijava como se o mundo fosse acabar.
Beijava meus lábios, sugava minha língua e engolia
meus suspiros.
O beijo se aprofundou e ele me prendeu da
cintura para baixo com as suas pernas torneadas e
duras. Senti sua ereção pulsar forte contra meu
ventre e um gemido involuntário escapou de
minha garganta. Fiquei excitada, completamente
encharcada e senti que o desejo crescia dentro de
mim. Meu cérebro anestesiado pelo prazer não
enviava sinal algum de defesa contra esse homem.
Eu queria tanto estapeá-lo, porém a única coisa que
conseguia fazer era me entregar às sensações que
ele estava me causando.
— Deliciosa! — sussurrou sem separar os
nossos lábios enquanto suas mãos me apalpavam.
Como ele teve a audácia de fazer isso aqui
dentro do Fórum? Safado! Filho da mãe! Achava
que só porque estava em sua jurisdição podia fazer
o que queria. Pensava que era o dono do mundo!
Tentei me libertar de sua posse, mas era
humanamente impossível. Edu era mais forte e
mais alto do que eu, me fazendo uma presa fácil de
ser dominada. Precisava acabar com isso de uma
vez, antes que as portas do elevador se abrissem e
nos pegassem em flagrante. Rapidamente eu me
recordei de que tinha dentes e mordi seu lábio
inferior.
— Porra! Você me mordeu! — rosnou se
afastando, furioso.
— Mordi e mordo de novo! Você está louco,
doutor? Esqueceu que há câmeras instaladas nos
elevadores? — Não esperei pela resposta dele,
empurrando-o com força e comecei a pegar os
meus pertences do chão, ajeitando a roupa e o
coque no alto da cabeça.
— Fodam-se as câmeras! — Ele levou o polegar
ao lábio machucado. — Você me pagará por essa
mordida.
— Pelo jeito estou endividada pelo resto da
minha vida — chiei por entredentes. Para a minha
sorte as portas do elevador se abriram. — Fique
longe de mim, seu safado! — Cruzei por ele
pisando duro e saí em direção à garagem que
estava silenciosa.
— Doutora, você é praticante do canibalismo, é
isso? — perguntou em tom zombeteiro.
Girei o corpo e parei diante dele, que
interrompeu os passos e me encarou. Vi em seu
olhar uma misto de raiva e diversão. O desgraçado
estava debochando da situação, o que me deixou
ainda mais furiosa.
— Você não sabe do que sou capaz de fazer.
Então fique longe de mim! — Eu o ameacei pela
segunda vez.
— Quem deve avisar quem aqui sou eu,
doutora Venturini. — Ele deu um passo à frente e
seus olhos verdes acinzentados se tornaram duas
fendas escuras. O brilho divertido se evaporou e
deu espaço a algo selvagem. Seu maxilar estava rijo
e percebi que ele estava extremamente irritado.
Foda-se! Quem me provocou foi ele! — Você não
tem ideia do que EU sou capaz de fazer, deusa. Ou
devo chamá-la de tigresa, porque pelo visto é uma
ferinha que precisa ser domada.
— Me deixe em paz, doutor Guerra! —
exclamei tirando as chaves de meu carro e voltando
a caminhar.
— Não precisa rebolar, doutora. Sei que você
tem uma bunda gostosa — ele finalizou
maliciosamente.
Senti minha bunda queimar. Ignorei seu
último comentário e continuei caminhando em
direção ao meu carro. Não via a hora de sair dali e
chegar logo em casa. Precisava de um banho
relaxante, jantar e de uma boa bebida para
esquecer esse miserável e esse dia frustrante.
Entrei no carro e dei a partida. Ao dar marcha
ré, observei que Edu estava no mesmo lugar,
sorrindo cinicamente para mim. Semicerrei os
olhos em sua direção e seu sorriso se alargou, se
transformando em uma risada. Fiz o retorno e
deixei o Fórum, irritada.
Não me faltava mais nada. Além de ter um
trabalho que exigiria muito de mim, tinha o juiz
Guerra para tornar as coisas ainda piores. Pelo
visto ele queria acabar com minha carreira. Onde
ele estava com a cabeça para me agarrar em frente
às câmeras de segurança? Certamente o doutor
Edu era acostumado a ter esse tipo de
comportamento imoral.
Levei a mão aos lábios e senti seu gosto. Desci
com a mão até um de meus seios e me recordei de
seu toque. O desgraçado tinha pegada forte. Não
podia negar que ele era extremamente sensual e
bonito, mas mesmo assim era um miserável que
achava que porque era juiz podia tudo.
Com a finalidade de afastar aquele safado do
pensamento, eu liguei o som e a voz de Legião
Urbana, Será, me distraiu por um momento.
Enquanto dirigia, deixei a mente desprovida de
qualquer tipo de incômodo, principalmente os que
diziam respeito ao doutor Eduardo Luís Guerra.
Passei em uma padaria e comprei muitas
guloseimas. Dane-se! Hoje eu sairia da minha
dieta. O mal entendido com o Edu despertou
ferozmente o meu apetite. Só Deus sabia o que eu
tinha passado nesses últimos anos, perdendo e
adquirindo peso constantemente devido à
ansiedade extrema, à pressão nos estudos e a
autoconfiança em concursos públicos.
Momentos depois, eu estava de banho tomado
e me sentindo mais relaxada. Malu, minha melhor
amiga, chegou e agora me fazia companhia
acomodada ao sofá. Ela aproveitou a escova de
cabelo que eu usava para escovar seus longos fios.
Malu era muito bonita e tinha um rosto tão
delicado que se parecia com uma boneca. Quando
ela sorria, apareciam em sua bochecha duas leves
covinhas. Os olhos eram verdes e o cabelo
comprido era ondulado em tom de vermelho
escuro. A pele era bronzeada do sol, dando a ela
um ar de mulher praiana. Ela era um pouco mais
baixinha do que eu, e por isso usava na maioria das
vezes sapatos ou sandálias de salto alto.
Tínhamos a mesma idade e personalidades
semelhantes, o que nos tornava amigas
inseparáveis. Nos conhecemos no colegial e na
faculdade seguimos carreiras opostas. Eu preferi a
área jurídica e ela a da saúde. Assim como eu, Malu
vinha de uma família de classe média. Os pais dela
eram microempresários do ramo de floricultura.
— Aconteceu alguma coisa para você trazer
“gordices” para casa? — indagou enquanto comia
um dos muitos salgadinhos colocados em uma
pequena bandeja que estava entre nós, em cima do
sofá.
— O meu dia foi uma loucura, Malu. —
Suspirei me recordando dos momentos
estressantes e excitantes que passei.
— O que houve? — perguntou de boca cheia.
— Um dos meus piores pesadelos se tornou
realidade. Você se lembra do cara desconhecido
que me deu um de seus celulares no trânsito
congestionado?
— Oh, sim! O gostoso que você deixou na mão!
— Ele é o juiz da vara criminal — disse e o
queixo dela caiu.
— O quê?! — Malu arregalou os olhos e quase
engasgou. — O cara que te cantou no
engarrafamento é o terrível doutor Eduardo Luís
Guerra? — Eu concordei com a cabeça. — Milena,
você conhece bem o doutor Guerra?
— Hum, não. Por quê?
— Bem, minha irmã mais velha é advogada,
como você sabe, e ela me contou alguns boatos
sobre ele e confesso que foi um pior do que outro.
— Malu fez uma pausa enquanto eu avancei para
mais um pão de queijo — O cara tem uma fama
terrível. A conversa que corre por ai é que além de
ele ser exigente no ambiente de trabalho, é um
safado que transa com as estagiárias.
— Meu Deus! — exclamei apavorada.
— E não para por ai, não! Ouvi comentários
que ele não se envolve com mulher alguma. O
último caso mais longo que teve foi com uma
patricinha, filha de um industrial. Parece que
durou alguns meses. Mas ele a traia com outras
garotas. — Ela revirou os olhos abrindo um novo
sorriso. — Mas tenho que admitir que o doutor Edu
Guerra é lindo, não é?
— Ah, Malu! — Agora foi minha vez de revirar
os olhos.
— Lena, você não vai negar que o Edu é
sedutor e gostoso, vai? — perguntou colocando as
mãos nos quadris, me chamando pelo meu apelido
de infância.
— E eu disse que ele não é bonito? Ele é bonito
sim. Mas é um filho da mãe arrogante! — falei
irritada. — Você acredita que o desgraçado me
beijou a força dentro do elevador do Fórum?
— O quê?! — Ela soltou uma gargalhada
descontraída, que me deixou ainda mais furiosa.
— Você não estaria rindo se tivesse acontecido
com você, Maria Luíza Valente! — Apontei meu
dedo para ela, dizendo seu nome completo em tom
divertido.
— O doutor Guerra te reconheceu! —
exclamou controlando o riso. Malu era assim:
espontânea.
— Sim! Ele me reconheceu. — Fiz uma careta,
ela continuou rindo. — Ah, mas eu não quero mais
falar sobre ele. — Mastiguei um canapé e mudei de
assunto. — Como você está indo no hospital?
— Estou ficando louca. Nunca pensei que
depois que estivesse com a especialização em
mãos, eu iria passar tanto sufoco. — Malu era
médica e recém terminou sua especialização em
neurologia clínica. — Eu amo o que eu faço, mas
confesso que está muito puxado. Estou terminando
de pagar a minha especialização e o lucro que eu
esperava obter, eu ainda não vi.
— Eu entendo. Sei como é isso — disse me
recordando da minha época de faculdade.
Conversamos mais um pouco e Malu foi
embora. Passei a chave na porta e saí em direção ao
banheiro. Ao me olhar no espelho, eu vi meu
reflexo. A minha aparência estava abatida, com a
pele levemente pálida. Abri a torneira e molhei o
rosto com um pouco de água fria para tentar me
acalmar. A antiga dor assolou o meu peito e, mais
uma vez, eu me senti vulnerável diante da vida.
Tinha sido assim há tanto tempo, que eu até perdi
a conta. Sabia muito bem o que devia fazer para
aliviar esse sentimento de desamparo. Além de
controlar a minha ansiedade, eu precisava voltar a
praticar exercícios físicos. Úrsula estava certa
quando me aconselhou a não parar com a
malhação. Amanhã recomeçaria a minha corrida de
uma hora. Somente assim para eu ter a mente e o
corpo em harmonia.

***

Depois de um dia intenso de trabalho na


promotoria, eu aproveitei para pôr em prática
minha atividade física. Vesti minha roupa de
ginástica, calcei meus tênis, prendi o cabelo em um
rabo de cavalo, peguei meu iPod e fui correr no
parque ao som de A sua maneira, de Capital Inicial.
Regulei o cronômetro do relógio em trinta
minutos e aproveitei o dia quente de verão. Percorri
a trilha destinada para corridas, imersa na música,
deixando a brisa suave bater em meu rosto. Colocar
o corpo em movimento sempre me ajudava a
controlar o estresse. Desde que comecei a me
cobrar devido aos estudos e concursos públicos,
que praticava algum tipo de esporte. Isso me
ajudava bastante a clarear a mente.
Estava focada na corrida quando eu percebi
que o doutor Edu estava praticamente na minha
frente. Ele também estava correndo, vestindo uma
calça de moletom preta e uma regata branca. O
miserável abriu um sorriso sensual quando me viu.
— Curtindo o fim de tarde, Milena?
Edu interrompeu a corrida e parou diante de
mim. A regata que ele usava estava levemente
banhada pelo suor e alguns pelos brotavam de seu
peito. Observei o contorno de seus músculos
trabalhados e engoli em seco. Edu tinha um corpo
atlético, mas nada exagerado.
— Olá, doutor Guerra! — Eu o cumprimentei
tentando soar casual.
— Não me chame de doutor fora do ambiente
de trabalho, Milena. Me chame apenas de Edu. —
Peguei-o em flagrante analisando o meu corpo. Um
arrepio involuntário atravessou a minha coluna e
eu tentei manter a calma.
— Não sabia que você fazia seus exercícios no
parque, Edu. — Não queria ficar parada, pois tinha
receio de não resistir a ele e me pus a caminhar. Ele
me acompanhou.
— Gosto de correr aqui e na praia, mas por que
está mencionando isso?
— Porque tenho que rever o percurso que eu
farei. — Respondi, não contendo o desconforto.
— Milena, você quer fugir de mim, é isso?
Ele interrompeu os passos e segurou meu
braço. Senti uma descarga elétrica no local onde ele
me tocou. Edu me encarou especulativamente e o
brilho divertido que trazia há poucos minutos atrás
deu espaço a algo mais. Frustração?! Não podia ser!
— Edu, eu não quero confusão, por favor!
— Responda minha pergunta, Milena! — Ele
estava ofegante e as pupilas de seus olhos
dilatadas.
— Solte meu braço!
— Milena, responda a porra da minha
pergunta!
Novamente a tensão se instalou, e me dei conta
de que esses momentos em que discutíamos era
porque estávamos sexualmente atraídos um pelo
outro. Era a maneira que encontrávamos para
extravasar todo o tesão reprimido. Senti seus dedos
apertarem um pouco meu braço e um calor
gigantesco se espalhou como labaredas de fogo em
minha pele. Edu pressentiu que estava afetada e
inclinou a cabeça para baixo, ficando a poucos
centímetros de distância dos meus lábios.
— O que está fazendo? — indaguei apavorada.
— Estou esperando a maldita resposta. — Seu
olhar se fixou na minha boca. Estremeci.
— Não tenho resposta nenhuma para lhe dar,
doutor Guerra — rebati de queixo altivo.
— Milena, não queira me enfrentar. Como eu
disse outro dia, você não sabe o que sou capaz!
— Fiquei curiosa, doutor! — Eu o provoquei.
Edu não respondeu, apenas me puxou e colou
meu corpo ao seu. Senti seu peitoral definido e
meu ventre entrou em ebulição. Enquanto uma de
suas mãos prendia meu pulso atrás de minhas
costas, a outra subia o meu pescoço, em direção a
minha mandíbula.
— Você não ousaria fazer nada em público, não
é? — sussurrei com a respiração descompassada, a
calcinha encharcada e a raiva crescendo em mim.
— E por que não? — Sorriu e seu polegar
passeou em meu lábio inferior.
— Estamos em um local público, doutor
Guerra!
— Milena, não me chame de doutor! —
exclamou e seus lábios roçaram a minha orelha.
Calafrios despertaram em meu corpo enquanto o
cheiro viril de sua pele suada entrava em minhas
narinas. — Responda a minha pergunta —
sussurrou com voz levemente rouca, deslizando
seus lábios na minha pele.
— Q-Que pergunta? — Meu cérebro desligou,
me deixando presa e indefesa em sua teia de
sedução.
— Diga que você não irá mais fugir de mim! —
Ele continuava a me torturar com seus lábios
quentes e suaves junto ao meu ouvido.
— Não... Não irei — respondi me sentindo
totalmente entregue a sensação de prazer que
tomava conta de mim.
Edu me soltou e se afastou com um sorriso
zombeteiro nos lábios. Pisquei rapidamente,
tentando processar o que acabava de acontecer. Ele
estava fazendo joguinho de sedução?
— Milena, aproveite o resto de seu fim de
tarde. — Edu colocou seu Ray-Ban e sorriu. —
Amanhã nos veremos em mais uma sessão de
audiência. Até mais, doutora! — E dizendo isso,
voltou a correr e me deixou fervendo de raiva.
Capítulo 3

Edu

Cheguei pontualmente ao Fórum para mais


um dia de intenso trabalho. Ao som de Inferno,
Reação em Cadeia, eu estacionei meu carro na
garagem do edifício. Peguei a valise e saí ligando o
alarme do possante. Ao entrar no elevador, apertei
o botão do quinto andar onde funcionava a vara
criminal e aproveitei para observar as câmeras de
monitoramento. Precisava dar um jeito de pegar o
dvd de gravação do dia em que eu encurralei a
Milena dentro do elevador. Ninguém podia ter
acesso a aquele vídeo. Ninguém!
Minutos depois estava no meu gabinete com
Cassiano em meus calcanhares.
— Bom dia, doutor.
—O que tem esse fodido dia de bom? — rosnei
deixando a valise sobre a mesa repleta de autos
processuais.
— Ih Edu, por um acaso você acordou de mau
humor, foi? — perguntou deixando a pauta do dia
em cima da escrivaninha e acomodando-se a
poltrona em minha frente.
— Não dormi nada bem. — Inspirei
profundamente antes de me concentrar. —
Cassiano, eu preciso que você fale com o setor de
monitoramento das câmeras de segurança.
— E qual seria o assunto? — Ele estava com um
sorriso malicioso, me dando a impressão de que já
sabia o que iria falar. Era um cínico mesmo!
— Quero que confisque o dvd dos elevadores
com a data de ontem. Todas as cópias disponíveis.
Pode fazer isso?
— Claro que sim!
— Tem mais alguma coisa que queira discutir?
— Acabo de receber esse comunicado do
Ministério Público. — Cassiano me entregou um
envelope.
Rasguei o papel com urgência. O documento
tinha como objetivo informar que a doutora Milena
Venturini não compareceria para as audiências de
hoje, pois estava indisposta. Deixei a papelada em
cima da mesa e refleti sobre o que acabava de ler.
Milena estava doente? Que indisposição era essa,
afinal? Ontem eu a vi correndo no parque e estava
tudo bem com ela. O que estava acontecendo?
— Cassiano, quem trouxe esse envelope deu
detalhes sobre essa indisposição da doutora
Venturini?
— Foi um estagiário do próprio ministério que
veio entregar e não disse nada. Por quê? Aconteceu
alguma coisa?
— Parece que a doutora Milena está indisposta
e não virá hoje para as audiências, mas não há
detalhes. Será que ela está doente?
— Quem sabe seja somente uma indisposição
passageira — ele arriscou.
— É, talvez. — Concordei muito pensativo.
— Edu, eu tenho uma notícia desagradável —
falou sem jeito mudando de assunto.
— Meu Deus, Cassiano! O que foi dessa vez?!
— Estava tão preocupado com a Milena que nem
me importei em estar sendo grosseiro com ele.
— É a Cibele. Ela está na antessala e quer falar
com você.
Soltei um ar pesado e senti meu estômago se
embrulhar. O que a minha ex queria? Estragar mais
um dia normal? Foder com minha vida? A
inquietação me rondou e a raiva me dominou.
— Ela adiantou o assunto?
— Bem, ela disse que é sobre a Kyara. — Kyara
era a minha gata de estimação que ficou com a
megera da Cibele. Ela sabia o quanto eu me
importava com a gata, e fez questão de levá-la
quando eu terminei com ela, na tentativa de ter
alguma vantagem comigo.
— O que aconteceu com a minha gata de
estimação, Cassiano? — indaguei me levantando
exasperado.
— Eu não sei...
— Vou cometer um homicídio neste momento!
— rosnei saindo em direção à antessala. Cassiano
me seguiu aflito. Abri a porta e encontrei Cibele
acomodada na poltrona. Ao seu lado estava uma
casinha portátil e a minha gata angorá cinza dentro
dela.
— Bom dia Edu, tudo bem? — Cibele abriu um
sorrisinho zombador, enquanto estreitava os olhos
verdes ardilosos para mim.
— O que você está fazendo aqui com a Kyara?
— esbravejei em tom baixo, fulminando-a com o
olhar.
Cassiano pressentiu uma possível terceira
guerra mundial e saiu de fininho, fechando a porta
atrás de si. Cibele estava sorrindo cinicamente. A
desgraçada queria infernizar o meu dia, a minha
vida, mas não conseguiria!
— Eu acho que a Ky não se acostumou na casa
nova. Ela anda meio tristinha.
— E você precisava trazê-la no Fórum, Cibele?
— Estava puto da vida diante da cena via.
— Ah Edu, pare de fazer drama. — Ela revirou
os olhos e acomodou uma mecha do cabelo
castanho atrás da orelha. — O que eu deveria
fazer? Deixar a coitadinha sozinha em casa?
— Hotéis de pet shop existem para isso — falei
me aproximando e pegando a casinha em minhas
mãos.
— Bem, agora que a Ky está com seu “papai”,
eu vou indo. Tenho mil e uma coisas para fazer —
disse se levantando.
— Mil e umas coisas fúteis para fazer, você quer
dizer, não é Cibele? — Arqueei uma sobrancelha
enquanto a gata começava a miar pedindo comida.
Cibele riu descontraidamente e passou por
mim em direção à porta. Ao observar essa garota
patética, me perguntei onde eu estava com a cabeça
em me envolver um dia com essa mulher.
Obviamente que a única cabeça envolvida nesse
relacionamento foi a de baixo.
— Acho que a pobrezinha da Kyara está com
fome, Edu! — ela fazia beicinho, olhando para o
bichinho que estava acuado dentro da casinha.
— Cibele, se você não podia cuidar dela, por
que insistiu em ficar com a minha gata? — rosnei
furioso.
— Eu pensei que poderia dar uma vida mais
saudável ao bichinho. Afinal, você quase não
parava em casa e ela ficava a maior parte do tempo
sozinha.
— Você praticamente sequestrou a Kyara com a
finalidade de tentar uma reaproximação. Ou você
acha que eu não sei de seu jogo sujo? — indaguei e
o bicho voltou a miar implorando por ração.
Lançando um olhar entediante para o relógio
de pulso, ela ignorou as minhas palavras e soltou
um longo suspiro. Cibele era hipócrita até mesmo
quando não falava nada.
— Edu, eu estou atrasada. A gente se vê! —
disse abrindo a porta.
— Cibele? — soltei um grunhido deixando a
casinha portátil com o animal em cima da mesa de
centro. Ela interrompeu os passos e girou o corpo
enquanto eu caminhava até ela. — Nunca mais
entre em minha sala sem avisar. Você entendeu?
— Hum, entendi, doutor. — Sorriu
cinicamente.
— Estou falando sério, Cibele. Se você ousar
fazer isso de novo, eu chamo os seguranças do
Fórum para te colocar para fora!
— Você está me ameaçando, Edu?
— Estou avisando, para o seu próprio bem! —
Eu a soltei e ajeitei o casaco de terno. — Agora saia
e tenha um bom dia!
— Uau! Seu nível de grosseria está cada dia
maior. — ironizou comprimindo os lábios.
— Até nunca mais, Cibele!
Ouvi a porta bater com força e respirei fundo
sabendo que ela tinha ido embora. Só então voltei a
me concentrar no bichinho, que agora se esfregava
sendo acariciada pelos meus dedos, por entre os
vãos das grades da porta do pequeno cubículo.
Como manteria a gata o dia todo no meu
gabinete? Que vontade de esganar a cínica da
minha ex!

***

Nada melhor do que estar na companhia dos


amigos para esquecer o dia atribulado que tive
hoje. Todos vieram para o pub. O meu primo
Conrado, Cassiano e Raquel estavam acomodados à
mesa. A casa estava cheia e a pista fervia de belas
garotas. A maioria usando microvestidos
coladinhos ao corpo, do jeito que eu gostava.
Abri um sorriso enorme quando percebi uma
loira quase seminua em um desses vestidos
sacanas: curto e decotado. Ela me olhou e levou o
copo a boca e, logo após ingerir a sua bebida,
passou a língua nos lábios. Deixei os meus amigos
e saí em direção a provocante garota ao som de I’m
glad you came, The Wanted. Totalmente concentrado
na tentadora gostosa que me devorava com o olhar,
eu não percebi que fui atingido por uma garota que
caiu de costas nos meus braços. Tudo aconteceu
muito rápido.
A estranha arfou e se equilibrou rapidamente.
Girou o corpo e... Milena?! Ela estava em meus
braços e estava terrivelmente sexy. A promotora
usava um vestido justo branco, que ao contrário
das demais, não era tão curto, mas deixava boa
parte de suas belas pernas a mostra. Desci os olhos
e me deparei com o decote magnífico que ela
ostentava. Salivei de tanto tesão. Dobrei a cabeça
um pouco para o lado e acompanhei a silhueta de
seus quadris. Logo avistei o que eu mais desejava: o
seu traseiro delicioso e redondinho.
O meu pau estava tão duro dentro da calça
jeans que chegava a doer. E, com a finalidade de
quebrar o transe em que me encontrava, bem como
aliviar o meu pau que pulsava forte, eu abri meu
típico sorriso de morte lenta e ela piscou afetada.
— I’m glad you came! — repeti o refrão da letra
da música que ecoava no ambiente.
Sem jeito, ela arrumou o cabelo que estava
ligeiramente em desalinho e voltou a me fitar
desconfiada.
— Des-Desculpe, Edu. Eu... Eu me
desequilibrei e acabei esbarrando em você — disse
gaguejando e percebi que ela não estava bem.
— Essa foi a melhor esbarrada que tive em
toda minha vida — declarei em tom divertido
devorando-a com os olhos. — Você não estava
indisposta?
— Ãhn... Sim, estava — resmungou e se moveu
até o bar.
Fixei o olhar no leve balancear de seus quadris
e novamente a excitação deu sinal de vida. Respirei
fundo e passei a mão pelo cabelo na fracassada
tentativa de buscar o autocontrole que se foi.
— Mais uma dose! — Ela deixou o copo sobre a
bancada e voltou a me fitar.
— Milena, você está bem?
— Estou ótima, Edu. Vê? — Sorriu, voltando a
piscar com dificuldade.
O barman logo nos atendeu e, ansiosa, ela
bebeu um longo gole de sua bebida. Milena
misturou o gelo ao líquido com o dedo e o levou a
boca, sugando-o sem desviar seus olhos castanhos
dos meus. O gesto fez com que eu tivesse inúmeros
pensamentos indecentes envolvendo nós dois. Eu
imaginei essa boca provocante sugando o meu pau,
em um delicioso ritmo de vai e vem. A língua
sedutora cotornando a extremidade, e depois
lambendo toda a extensão, até deixá-lo no ponto de
ebulição. As pornografias que invadiam a minha
mente me deixaram desnorteado. Precisava
urgentemente afastar esses pensamentos sacanas,
caso contrário eu não respondia por mim.
— Milena, você não respondeu a minha
pergunta — disse enquanto bebia a minha cerveja.
— Qual era a pergunta? — Ela piscou,
parecendo estar confusa. Dei uma risada
descontraída e balancei a cabeça.
— Você está linda com esse vestido!
— Você está flertando comigo, doutor Guerra?
— insinuou divertida, parecendo ser outra pessoa.
Milena estava levemente alcoolizada?!
— E se eu estiver? — Arqueei uma sobrancelha
gostando do joguinho de sedução que estava se
formando. Ela sorriu sedutoramente e umedeceu
os lábios com a língua. Em seguida, recostou-se a
bancada e me analisou por inteiro. Milena estava
me provocando. Isso era fato!
— Eu tenho um codinome para você! — Ela
bebeu outro gole do gim e prosseguiu com a língua
um pouco enrolada. — Não gosto de te chamar de
doutor. Prefiro de chamar de algo mais... Mais
condizente.
— Ah, é? E o que você tem em mente?
— Eu te chamarei de... Eros! — Agora não
tinha dúvidas de que ela estava começando a ficar
embriagada. E eu estava começando a ficar tenso e
fodidamente excitado com essa nova e liberal
Milena.
— O deus do amor e da paixão. Acho que ele
não combina comigo — falei sabendo que eu não
era movido por essas frescuras de amor e paixão.
— E o que combina com você então? —
indagou interessada. Inclinei o corpo um pouco
mais e me aproximei.
— Algo quente, prazeroso e intenso —
sussurrei muito próximo de seu ouvido. Milena
engoliu em seco enquanto eu abri o meu sorriso
fatal. Aquele que molhava a calcinha de qualquer
mulher. O sorriso de morte que nenhuma garota
resistia.
— E eu... Eu tenho algum codinome? — Ela
estava ofegante, piscando os olhos e mordendo o
lábio inferior.
— Sim! — Eu me aproximei ainda mais. —
Deusa de ébano! — Aproveitei para roçar os lábios
em sua orelha.
— Uau! — Sorriu e voltou a me encarar com
desejo.
— Quer dançar?
— Achei que não iria me convidar, “Eros” —
Nesse momento eu tinha certeza de que existiam
duas Milenas em um só corpo. E eu estava
adorando essa nova versão pervertida e ousada
dela.
Milena voltou a passar a língua nos lábios e
meu cérebro deu um nó. Eu precisava me controlar
para não agarrá-la aqui mesmo. Agarrei sua mão e
a conduzi para o meio da pista. A música que
tocava no ambiente era um pouco menos agitada, o
que facilitava o contato corpo a corpo.
Ao som de Love Sex Magic, de Ciara e Justin
Timberlake, eu puxei a deusa de encontro a mim e
prendi a sua cintura com uma das mãos. Subi a
outra e enrosquei meus dedos em seus cachos. Ela
ergueu os olhos para me fitar e envolveu seus
braços em meu pescoço. Estávamos tão próximos
que senti o delicioso frescor de seu hálito entrar em
meu nariz com a finalidade de roubar minha
sanidade. Percebi que ela também estava afetada
por mim, pois piscava os olhos ligeiramente e
mordia o lábio com frequência.
— Sua boca está me deixando completamente
louco! — sussurrei ao seu ouvido, apertando um
pouco mais a sua cintura de encontro a mim.
— Gostei de saber disso! — Seus dedos
estavam passeando na minha nuca, provocando
arrepios por todo o meu corpo.
O fino tecido de seu vestido fazia com que seus
seios enrijecidos se esfregassem no meu tórax, me
deixando sedento por ela. Não conseguia mais
controlar a minha excitação e meus pensamentos
pervertidos. O que eu queria era colocá-la contra a
parede, sentir o seu corpo de sereia e o cheiro que
exalava de sua pele dourada.
Em um movimento rápido, Milena me
surpreendeu virando-se de costas. Ela começou a
descer e serpentear o corpo de um jeito muito,
muito sensual. Ela descia e subia na minha frente
enquanto esfregava sua bunda em meu pau
enrijecido. Essa mulher acabaria comigo!
Ao som da música eletrônica, ela continuava
me atiçando, se esfregando, indo e vindo,
roubando a minha razão, despertando o meu eu
safado. Nunca pensei que Milena seria capaz de
fazer algo tão ousado e sensual. A sua atitude me
deixou paralisado. A única coisa que eu via era seu
corpo roçando o meu de uma forma tentadora e
fatal.
E, quando ela fez menção de girar para me
fitar, seus pés se enroscaram um no outro e Milena
se desequilibrou. Para a sua sorte, eu fui mais
rápido do que ela, e a segurei em meus braços,
puxando-a de encontro a mim.
— Milena, está tudo bem? — Rocei os meus
dedos em seu rosto, descendo o polegar até sua
boca entreaberta. Ela arregalou os olhos e inspirou
fundo.
— Seu cheiro é tão bom, Edu.
Seu rosto estava muito próximo ao meu. A
atitude dela só estava piorando as coisas. Eu era
macho e meus instintos sacanas estavam aflorados.
Uma parte de mim queria beijá-la com voracidade,
e trepar com ela. Porém, outra parte me dizia que
se eu fizesse isso, estaria me aproveitando de sua
falta de lucidez momentânea.
Ah, foda-se a segunda parte! Ergui seu queixo
com firmeza e inseri minha língua em sua boca
deliciosa. Milena entrelaçou os dedos em meu
cabelo, enquanto eu saboreava seus lábios macios.
Beijei sua boca, suguei a sua língua e me
embebedei com seu gosto. O beijo se aprofundou e
ela aproveitou para escorregar seus dedos dentro
de minha camisa. Milena arranhou minha pele,
apertou meus ombros e eu fui à loucura. Mas, para
o meu desgosto, a minha razão retornou e eu me
afastei ofegante.
— Milena. — Eu a segurei pelos ombros,
encarando seus olhos. — O que eu mais quero é
trepar com você, mas não quando você estiver
bêbada. — Enquanto as palavras saiam da minha
boca, estava mentalmente me chutando. Em que
momento me tornei um cavalheiro? Eu só podia
estar ficando louco!
— Eu também quero, Edu!
Milena não estava agindo normalmente. Algo
aconteceu para ela ficar fora de controle. E cabia a
mim, tirá-la dali e levá-la em segurança para casa.
— Ei, minha deusa. — Ergui seu queixo para
olhar em seus olhos entreabertos. — Eu vou te
levar para casa.
— Para a sua casa? Adorei da ideia! — Sorriu
visivelmente fora de si.
— Você não está de carro, não é? — questionei
temeroso.
— Eu vim de táxi. — Seus dedos deslizaram em
meus braços, tornando ainda mais difícil resistir
aos seus encantos.
— Bem, venha comigo! — Segurei firme em
sua cintura e a conduzi para fora da boate. — Onde
você mora?
— Meu apartamento fica a quatro quarteirões
do Fórum — Suas informações não me ajudavam
muito e precisava ser mais insistente.
— Qual é o nome do edifício?
— Edifício General Paulo Bitencourt.
— Eu sei onde fica! — Sorri satisfeito.
Ao chegar ao estacionamento, eu ajudei Milena
a se sentar no banco de couro. Dei a volta e,
quando me acomodei no banco do motorista,
percebi que ela adormeceu em questão de
segundos. Milena estava literalmente apagada ao
meu lado e dormia encolhida como se fosse uma
criança de colo. Que diabos aconteceu com ela?
Momentos depois, eu estava em frente à porta
do apartamento de Milena com ela em meus
braços, ainda dormindo. De posse de suas chaves,
as quais eu encontrei dentro da pequena bolsa que
ela trazia consigo, eu abri a porta e entrei. Conduzi-
a pelo corredor e vi uma cama king size em um dos
cômodos. Deitei Milena sobre o colchão e ela
resmungou algo incompreensível, mas sem abrir os
olhos. Com o objetivo de deixá-la mais confortável
para dormir, eu tirei seu vestido e suas sandálias de
salto alto. Embora eu escorregasse a roupa em seu
corpo, Milena não acordava de jeito nenhum.
Deixei o vestido na poltrona e voltei para
contemplar a beleza de sua pele desnuda, coberta
apenas pela lingerie branca rendada. Milena era
linda! Uma deusa de ébano em todas as suas
formas e curvas. E que curvas! Fiquei alucinado ao
contemplar tamanha beleza. Me sentei a beirada da
cama e acariciei seu cabelo cacheado, seu rosto, e
fui descendo até a sua clavícula. Ele gemeu e
abraçou o travesseiro, se aninhando sobre os
lençóis.
Decidi não deixá-la sozinha, pois se precisasse
de ajuda eu estaria ali para socorrê-la. Vencido pelo
cansaço e pelo sono, eu tirei as minhas roupas e
fiquei somente de cueca boxer. Me deitei ao lado de
Milena e ela se aconchegou junto a mim. Abri um
sorriso e voltei a admirá-la. Ela estava em um sono
profundo com a cabeça enterrada em meu peito.
Ah! Como eu queria que ela estivesse sóbria para
se lembrar desse momento.
— Linda deusa de ébano! — sussurrei,
afagando o seu cabelo e adormeci com Milena em
meus braços.
Capítulo 4

Milena

Acordei sentindo uma forte dor de cabeça e


um terrível gosto de cabo de guarda-chuva na boca.
Abri os olhos lentamente e a luz do dia que veio
através das janelas de vidro me deixou um pouco
zonza. Me espreguicei sobre os lençóis sentindo o
corpo um pouco dolorido, principalmente os pés.
Eu não lembrava direito o que aconteceu a noite
passada. A última lembrança que tinha era de ter
deixado Malu e o delegado Ricardo na mesa e sair
em direção à pista. Merda! Com certeza bebi todas
ontem e não conseguia lembrar o que aconteceu.
Toda vez que saíamos para beber quando estava
chateada era a mesma história: eu ignorava minha
baixa tolerância para bebidas alcoólicas,
principalmente destiladas, e depois de um tempo,
eu me transformava em outra pessoa, flertando
com todo mundo e desinibida. Só ficava sabendo o
que tinha acontecido no dia seguinte, quando a
Malu começava a relatar a noite.
Deixei a cama e me dei conta que estava
vestindo apenas a lingerie que usava na noite de
ontem. Mas o que aconteceu noite passada?!
Balancei a cabeça de um lado para o outro e fechei
os olhos, tentando buscar alguma lembrança da
noite anterior, mas era em vão. Em minha memória
não havia nada além do que eu já sabia. E isso me
assustava, por que a probabilidade de eu ter feito
merda era grande.
Vesti meu roupão de seda e decidi fazer minha
higiene matinal. Antes de ir ao banheiro, eu parei
diante do espelho e me assustei com meu reflexo:
parecia uma bruxa. Meu cabelo cacheado estava
horrível e minha aparência colocava qualquer
criancinha em pânico. Senhor! Precisava dar um
jeito nesses fios rebeldes.
Prendi o cabelo em um rabo de cavalo no alto
da cabeça e abri a porta do banheiro. Do outro
lado, eu me deparei com uma cena que fez meu
corpo inteiro estremecer. Edu Guerra estava no
banheiro e usava apenas uma toalha branca ao
redor dos quadris. Ele estava acabando de escovar
os dentes e girou de leve o rosto para me fitar com
olhar divertido.
Perplexa e excitada, eu analisei o seu corpo
molhado pelo banho. Por um momento, eu me
esqueci de tudo e me deleitei a apreciar a sua
masculinidade: seus ombros largos e fortes, os
braços bem torneados, o peitoral másculo coberto
por uma leve camada de pelos castanhos, e logo
mais abaixo o V que terminava por baixo da toalha.
Saí do estupor causado por essa visão e uma única
pergunta surgiu em minha mente: o que Edu estava
fazendo no meu apartamento? Ele não teria... Meu
Deus! Não era possível que... Oh sim, era possível e
as evidências apontavam para o fato. Edu dormiu
em meu quarto! Estremeci outra vez.
— Bom dia, Milena! — Ele abriu um sorriso
malicioso, que demonstrou claramente que estava
se divertindo com a situação e começou a caminhar
na minha direção.
— Edu, o que você estava fazendo no meu
banheiro? E quem te deu a permissão para usar a
minha escova de dente? Melhor ainda, como você
entrou no meu apartamento? — O sorriso
desapareceu de seus lábios e ele me encarou com
um semblante confuso.
— Você não lembra o que aconteceu ontem à
noite? — Edu arqueou uma sobrancelha, contendo
um sorriso zombeteiro. Era óbvio que eu não me
lembrava de nada, mas ao que tudo indicava,
minhas suspeitas estavam começando a se encaixar
e isso estava me deixando assustada.
— Vo-Você passou a noite aqui? — gaguejei em
um sussurro.
— Claro que passei a noite aqui! — O jeito que
ele me encarava nesse momento tinha um ar
predatório e uma intensidade que me deixava
desnorteada.
— E por que você dormiu aqui? — Dei um
passo para trás.
— Porque você não estava bem e eu achei
melhor não te deixar sozinha. — Ele continuava
avançando lentamente, analisando o meu corpo por
cima do fino tecido.
— E como eu vim parar aqui? — indaguei e
senti a parede atrás de mim. Merda! Estava sendo
encurralada!
— Eu te carreguei nos braços, Milena.
— Espere! — Minhas mãos tocaram o seu peito
para tentar manter distância entre nós dois, mas
imediatamente senti o calor de sua pele me
incendiar. — Eu... Eu preciso saber o que houve
ontem. Eu e você... Nós... — Estava tão abalada que
não conseguia nem formular uma frase completa!
Que vergonha! Ele segurou meus pulsos
suavemente e beijou meus dedos.
— Não aconteceu nada, Milena. Não sou
homem de me aproveitar das mulheres quando
elas estão indefesas.
— Mas você dormiu aqui! — exclamei
apavorada e ele concordou. — Edu, você dormiu na
minha cama?
— Na sua cama com você ao meu lado.
Confesso que é a primeira vez que apenas durmo
com uma mulher sem antes trepar com ela.
— Edu! — Dei um passo para o lado. — Você
me despiu?
— Milena, isso parece um inquérito policial! —
ele rosnou. — Sim, eu a despi e sim para todas as
suas perguntas futuras!
— Meu Deus! — Estava tão chocada com as
informações que comecei a andar pelo
apartamento, com Edu me seguindo. Minha mente
estava girando, tentando processar a conversa que
tivemos. Onde eu estava com a cabeça para beber
daquele jeito ontem?
Quando cheguei à sala eu percebi que o som
estava ligado em uma coletânea de Reação em
Cadeia. Nesse momento tocava no Mini Systen a
música Quase amor. Edu ligou o meu som? Oh,
claro que sim, afinal ele adorava essa banda. Como
pude me esquecer do dia em que nos conhecemos
no trânsito, onde eu ouvia Reação e ele Djavan.
Interrompi os passos e, girando o corpo, eu o
encontrei parado logo atrás de mim, vestindo
apenas a maldita e sexy toalha. Não sei se era a
toalha que ele usava que o deixava ainda mais
sedutor, ou se ele era o fato dele estar vestindo
quase nada que o deixava assim. Eu precisava de
ajuda e Edu não estava ajudando em nada estando
seminu em minha frente.
— Espero que não fique zangada por eu ter
ligado o som.
O tom de diversão em sua voz me irritou e
estava pronta para brigar com ele, em uma
tentativa de extravasar tudo o que eu sentia. Estava
me preparando para começar a discussão, quando
me deparei com os seus olhos. Senti como se
estivesse nua, tamanha era a intensidade de seu
olhar. Fechei e abri os olhos rapidamente, com a
finalidade de manter o controle. Edu percebeu que
eu estava afetada e abriu aquele sorriso derruba
calcinha. O pior de tudo era que eu tinha certeza de
que ele tinha noção do efeito que isso causava nas
mulheres. Por que esse homem era tão sensual e
tão safado? E por que me afetava tanto?
— Claro que não! — Dei de ombros.
— Milena, o que houve com você ontem à
noite? Você parecia outra pessoa. Sem falar que
você não foi trabalhar durante o dia.
Como explicaria a ele os motivos que me
levaram a ficar embriagada? Não queria expor
minha vida particular ao Edu. Ninguém podia
saber do meu passado, de onde vinha ou quem era
de verdade. Eu lutei muito para conquistar o lugar
que estava e não deixaria que meu passado viesse à
tona para estragar tudo.
— Ãhn... Não aconteceu nada. Tive uma
indisposição durante o dia e, quando sai à noite, eu
bebi um pouco além da conta. — Disfarcei e me
movi até a cozinha. Ele veio logo atrás de mim.
Meu queixo caiu ao reparar na mesa posta para
o café. Edu fez o café da manhã? Esse homem
conseguia me surpreender e me confundir ao
mesmo tempo.
— Edu, você fez café para mim?
— Não! Eu fiz café para nós dois. — Ele já
estava puxando o banco para que eu me
acomodasse junto à bancada de mármore.
— E de onde você tirou tanta comida? — Fiquei
curiosa com as diversas opções, pois não me
recordava de ter tudo isso em minha geladeira.
— Da sua geladeira — respondeu dando de
ombros, como se não fosse nada demais, e
começou a me servir uma xícara de café.
— Saquei a sua jogada. Você está tentando me
seduzir com um café da manhã e depois me levar
para a cama, é isso? — Disparei sentindo o sangue
bombear mais rápido em minhas veias.
Edu bebeu um gole do líquido fumegante e
deixou a xícara sobre a mesa. Quando girou o rosto
para me encarar, seus olhos verdes acinzentados
estavam estreitos em fúria.
— Então você acha que eu fiz o maldito café
com a finalidade de foder você?
— E por que não? Afinal, somos praticamente
estranhos e até agora as nossas interações não
foram as mais amistosas! — No instante em que as
palavras escapavam da minha boca, tinha certeza
de que cometi um grande erro, porque ele ofegou
pesado e comprimiu os lábios.
— Milena — Edu apoiou um dos braços sobre
a bancada, mantendo os olhos fixos em mim. —, eu
não preciso de tanto trabalho assim para atingir o
meu objetivo. Além do mais, ontem à noite foi você
que implorou para que eu te comesse.
— O quê?! Eu não fiz isso!
— Oh sim, você fez! E isso foi depois de você
se derreter em meus braços e enroscar sua língua
na minha!
Eu me levantei abruptamente e balancei a
cabeça de um lado para outro, tentando encontrar
resquícios da noite passada em minha memória,
mas ela continuava bloqueada e não importavam
quantos neurônios eu queimasse tentando lembrar,
nada acontecia. Não acreditava que tinha
implorado para que ele transasse comigo! Eu devia
estar muito bêbada Ou pior, bêbada e tarada!
Nesse instante o celular dele tocou em alto e
bom tom. Edu se levantou e, rosnando algo
incompreensível, saiu em direção ao aparelho. Ele
desligou e voltou a me fitar visivelmente
incomodado.
— Preciso ir agora. Tenho que levar a Kyara
para passear. — Ele já estava andando em direção
ao quarto, provavelmente para pegar as suas
roupas.
Quem era Kyara? Certamente que devia ser
uma vagabunda, que estava disponível para
satisfazer o safado a hora que ele quisesse. O meu
corpo reagiu violentamente a aquela notícia. Meus
nervos estavam à flor da pele e a fúria que
aumentava. Por que tinha que me sentir tão
vulnerável quando estava com ele? Que ódio!
Poucos minutos depois, Edu retornou vestido,
terminando de abotoar os últimos botões de sua
camisa. Nossos olhos se encontraram e, com a
finalidade de não demonstrar que estava
enfurecida, eu desviei o olhar e mantive o corpo
retesado.
— Milena, desculpe por... Bem, eu não queria...
— Não precisa se desculpar, Edu. Obrigada por
tudo!
Ele caminhou até a porta e meu coração se
apertou. Não conseguia compreender o motivo, só
sabia que a sensação era estranha, nova e me
incomodava muito.
— A gente se vê em breve.
— Sim, nos veremos! — Abri um meio sorriso
enquanto nos fitávamos com intensidade outra vez.
— Até mais, Milena! — disse abrindo a porta.
— Até mais, Edu. — Ele saiu e fechou a porta
atrás de si, me deixando com a sensação de que
algo muito importante escapou entre os meus
dedos.

***

Era sábado de tarde e, aproveitando a folga da


Malu no hospital, resolvemos ir malhar na
academia, que se encontrava lotada. Homens e
mulheres se exercitavam fervorosamente com a
finalidade de deixar o corpo em forma para o verão.
Dei as últimas pedaladas na bicicleta ergométrica e
finalizei as atividades do dia.
— Já? — Malu indagou ofegante.
— Estou morta! — respondi bebendo um
pouco de água após secar o suor de meu rosto com
a toalha.
— Bem, nesse caso eu também vou parar por
aqui. Confesso que também estou cansada. — Ela
deixou a bicicleta e se aproximou com sua garrafa
de água.
— Malu, você acha que eu engordei? — Eu
olhei para o meu corpo por cima da malha justa e
ela riu.
— Você só pode estar brincando, Lena! Onde é
que tem gordura nesse corpo? — Ela balançou a
cabeça inconformada, enquanto apertava
gentilmente a minha cintura, o que me causou
cócegas.
— Pare com isso, por favor! — Implorei
contendo o riso enquanto algumas pessoas
lançaram um rápido olhar para nós duas.
— Já parei! — Ela levantou as mãos para cima
em sinal de rendição, rindo junto comigo. — Não
sei de onde você tira essa ideia de que está acima
do peso, Milena. Você tem um corpo lindo.
— Malu, você sim é magra e parece uma
boneca.
— Ah, não exagera! Você está com tudo em
cima e agora vem com essa neura de gordura.
— Acho que você tem razão. Vamos parar com
essas neuroses. Nós duas! — Eu apontei o dedo
indicador em sua direção. Ela olhou por cima do
meu ombro e seus olhos verdes se arregalaram de
imediato.
— Meu Deus!
— O que foi, Malu?
— Segure-se, porque Edu está aqui e não está
sozinho. — Eu me virei rapidamente e o vi. Meu
corpo estremeceu e o coração acelerou. — Quem é
o gostoso que está com o gostoso do doutor
Guerra?
Nesse instante eu percebi a presença de um
homem alto, musculatura definida. Ele tinha mais
ou menos a idade do Edu, cabelos e olhos
castanhos escuros e a boca carnuda. Em seu rosto
quadrado de pele ligeiramente bronzeada, ele
ostentava uma barba cerrada, que o deixava ainda
mais viril. De fato o amigo do doutor Guerra era
realmente muito bonito, Mas em vez de ficar
observando a beleza do desconhecido, os meus
olhos estavam voltados para Edu. Seus braços
fortes estavam em evidência por conta da regata
que ele usava. O cabelo castanho escuro estava
brilhante e ligeiramente desalinhado e os olhos
verdes acinzentados estavam fixos em mim.
— Não faço ideia de quem seja — sussurrei,
virando o rosto para frente, sentindo minhas
bochechas pegarem fogo, bem como o resto do
meu corpo.
— Ah, eu quero muito descobrir quem é o
gostosão amigo do Edu.
— Malu, pare com isso! O tal gostosão está
acompanhando o Edu e você sabe que eu quero
manter distância dele.
— Tarde demais para isso, Lena! Eles estão se
movendo em nossa direção. Disfarça! — Ela devia
seguir o próprio conselho, porque estava ajeitando
o cabelo e alisando a roupa, na tentativa de ficar
mais apresentável.
Não levou nem um minuto para que eu
sentisse a presença do Edu. Girei o corpo
cautelosamente e o vi parado atrás de mim. O
homem que o acompanhava esboçou um sorriso
descontraído nos lábios, enquanto Edu sorriu de
maneira maliciosa.
— Olá, que surpresa! — ele exclamou me
encarando.
— Oi Edu, tudo bem?
— Tudo ótimo! Não sabia que você frequentava
essa academia, Milena. — Ele secou o suor que
descia pelo pescoço e parte do peitoral e eu salivei
de tesão. Por que esse homem tinha que ser
diabolicamente sedutor?
— Pura coincidência! — Abri um sorriso e,
lançando um olhar rápido para a minha amiga, eu
vi que ela era praticamente uma poça na frente dos
dois. Virgem Santa! Malu precisava de um babador!
— Edu, essa é a minha amiga, Malu.
— É um prazer conhecê-la — ele disse
cumprimentando-a com dois beijinhos e em
seguida apresentou o outro deus grego. — Esse é
meu primo, Conrado Coimbra Guerra. — Enquanto
Edu fazia as apresentações e o homem, nos
cumprimentava com suaves beijinhos no rosto, era
impossível não admirá-lo. De perto, Conrado ainda
era mais másculo e tentador. Devia ter ficado
alguns segundos encarando Conrado, porque Edu
fechou a cara e bufou. Benza Deus a genética da
família Guerra! O primo do Edu era lindo e pelo
jeito era simpático e educado.
— Bem, eu e a Malu estávamos de saída. — Dei
uma desculpa para escapar, mas recebi um beliscão
em meu quadril. Prendi a respiração e olhei,
perplexa, para a minha amiga que me fitava com ar
suplicante.
— Oh, não! Vocês não podem sair sem antes
provar um delicioso suco de açaí que a lanchonete
da academia oferece. — Conrado estava sorrindo
de forma amistosa, mas percebi que os primos
estavam tendo uma conversa silenciosa. No final,
Edu respirou fundo e passou a mão pelo cabelo em
um gesto tenso.
— Ah, eu aceito! — Dei um olhar fulminante
para Malu, que estampava uma carinha inocente,
como se não soubesse o quanto essa situação era
desconfortável. Estava começando a achar que ela
deveria ter se formado em Artes Cênicas.
— Que ótimo! Então vamos pegar uma mesa. É
por aqui! — Conrado começou a liderar o caminho,
enquanto eu pegava minha mochila e os seguia.
Nos acomodamos a uma mesa na lanchonete
que ficava na área externa e Edu sentou-se ao meu
lado, enquanto o seu primo acomodou-se ao lado
da Malu. O garçom se aproximou e Conrado
sugeriu suco de açaí para todos.
— Então, você é a promotora Milena da área
criminal? — indagou Conrado tranquilamente e
Edu pigarreou desconfortável. Entendi. O doutor
Guerra andou contando historinhas para o primo.
Por isso ele estava tenso. Edu não queria que eu
soubesse que ele estava falando a meu respeito
com os seus amigos.
— Sim, a própria! — Sorri.
— Interessante. — Conrado se voltou para
minha amiga que ainda não tinha parado de babar.
— E você, Malu, também atua no ramo do Direito?
— Eu?! Não! Sou médica e nas horas de folga
dou uma forcinha na floricultura da família.
— Floricultura, é? — Finalmente Edu abriu a
boca para falar. — E vocês fazem entregas a
domicílio?
— Sim, realizamos entregas por toda a cidade.
— Muito bom saber isso, Malu. Afinal, nunca
se sabe quando irei precisar dos serviços de uma
floricultura. — Edu abriu um sorriso enigmático,
lançando um olhar rápido na minha direção.
Edu estava me provocando! Se ele enviava
flores a alguém, com certeza seria para a tal Kyara
ou outra de suas piranhas. Safado! Trinquei os
dentes e também o provoquei. Ele merecia!
— Conrado, você segue a carreira jurídica? —
Sorri voltando minha atenção para o primo gostoso
do Edu. Nesse instante eu percebi pelo canto dos
olhos que o sorriso que o doutor Guerra tinha nos
lábios desapareceu e deu espaço a uma nova
carranca. Bem feito!
— Sim, sou advogado.
— Então você é um advogado e mantêm o
corpo em boa forma. Muito interessante! — Eu não
sabia o que deu em mim, mas comecei a flertar
com Conrado apenas para ver como Edu reagia. E
pelo visto, ele não gostou, pois fez uma careta.
Para suavizar a atmosfera, o garçom chegou e
deixou os sucos sobre a mesa. Eu me remexi na
cadeira à medida que sentia Edu me encarar. O que
ele queria que eu fizesse? Que rastejasse aos seus
pés como as suas cadelinhas? Ele que esperasse
deitado!
— Eu não sou rato de academia, Milena, mas
tento me manter em forma. Acredito que devemos
ter um equilíbrio entre corpo e mente.
— Conrado, além de bonito você é carismático!
— Em troca desse meu último comentário recebi
um apertão em meu quadril que me fez saltar da
cadeira. Caramba, Edu me beliscou? Quando dei de
cara com ele, Edu estava me encarando furioso.
— Eu adoraria conhecer melhor a academia.
Não venho com frequência e não faço ideia dos
privilégios que os associados possuem — Malu
comentou enquanto bebia seu suco. Acreditava que
aquilo tinha sido uma tentativa de quebrar a
tensão, que estava palpável no momento.
Conrado se adiantou e ofereceu a ela um tour
pelo local. Com um sorriso estampado no rosto,
Malu aceitou e os dois saíram rapidamente da
mesa, me deixando sozinha com o doutor Guerra.
Com o propósito de ingerir alguma vitamina, eu
provei a bebida sob o olhar atento do Edu, que até
agora não havia tocado em seu copo.
— Entendi o seu objetivo, Milena.
— O quê?!
— Você estava flertando descaradamente com
o Conrado! — rosnou furioso.
— E qual é o problema? — Arqueei uma
sobrancelha e ele comprimiu os lábios. — Eu sou
uma mulher solteira e não devo satisfação de
minha vida para ninguém.
— Ah, você deve! — Edu apoiou o braço sobre
a mesa. Dei uma risada baixa, repleta de sarcasmo
e resolvi disparar a merda toda em cima dele.
— Eu não devo explicações para ninguém, já
você... Eu acredito que deve alguma explicação para
a Kyara, não é esse o nome?
A expressão dele mudou e ele soltou uma
gargalhada gostosa, jogando a cabeça para trás.
— Você está com ciúmes da Kyara? — indagou
em tom divertido, passeando o polegar no lábio
inferior.
Ah, essa boca malditamente deliciosa. Que
tortura era olhar para ele e ter que me conter para
não beijá-lo. Mas que diabos estava pensando? Esse
safado colecionava uma lista de piranhas pegajosas
e eu ainda queria beijá-lo. Eu só podia estar louca!
— Edu, pouco me importa o que você faz ou
deixa de fazer de sua vida. Quem você come ou
deixa de comer, não me interessa — falei em um
rosnado, me levantando abruptamente.
— Oh, sim! Estou vendo! — ele sorriu
malicioso, analisando de cima a baixo o meu corpo
coberto pela malha colada.
— E você gosta do que vê? — Eu não acreditava
que tinha feito aquela pergunta! Afinal eu bebi
suco de açaí ou tequila? Edu se levantou e seu porte
imponente e másculo diante de mim me despertou
uma onda de eletricidade no meu corpo.
— Milena. — Ele abaixou a cabeça e se
aproximou do meu rosto — Se não estivéssemos
com uma plateia ao nosso redor, eu te jogava em
cima dessa mesa e te dava aquilo que você tanto
implorou ontem à noite. — Eu abri a boca perplexa
e excitada. — O que você precisa é de uma boa foda
e de vários orgasmos. E em breve eu te darei! —
concluiu presunçoso.
Graças a Deus eu fui salva pelo bip de meu
WhatsApp. Tirei meu celular da mochila e vi uma
mensagem do Ricardo. Eu havia saído com ele e
com a Malu ontem, e certamente ele queria saber
como estava.
— Ah, é o Ricardo! — Sorri.
— Que Ricardo?
— Ricardo Amorim.
— O delegado Amorim? — Edu falou o nome
do Ricardo como se fosse algo que o deixou com
gosto ruim na boca.
— O próprio! Bem, eu preciso atendê-lo. Até
mais, Edu! — Peguei as minhas coisas e saí
vitoriosa, deixando o juiz Guerra com várias pulgas
atrás da orelha.
Capítulo 5

Edu

— Conrado, seu filho da mãe! Você me deve


explicações! — rosnei ao telefone, enquanto
apertava o botão do alarme do carro e saía em
direção ao elevador da garagem do Fórum.
— O que é isso, Edu? — Ele riu. — Eu acho
bom você admitir que está rolando algo entre você
e a gata cor do pecado. — Ao ouvir a declaração do
Conrado eu inspirei fundo para conter a minha
raiva. Não gostava de saber que ele a achava
atraente. Na verdade, não queria que nenhum
homem a olhasse! Que porra era essa?
— Não está rolando nada, por enquanto. A
promotora é osso duro de roer. — Entrei no
elevador e apertei o botão do quinto andar. Meu
andar!
— Eu percebi. — Ele soltou outra gargalhada.
— Mas eu não quero falar sobre isso. Não
pense que vai escapar de me responder o que você
e o Gui fizeram por três meses na Austrália.
Estudando a língua inglesa e observando cangurus
é que não foi.
Conrado soltou um ar pesado do outro lado da
linha e percebi que algo estava acontecendo, mas
que por algum motivo, ele ainda não queria se abrir
comigo.
— Edu, você está falando merda!
— Desde quando nós temos segredos um com
o outro, hein?
— Eu preciso levar o Gui para o colégio. Um
dia desses a gente marca um happy hour ou algo
assim. — Ele tentou escapar de meus
interrogatórios.
— Saindo pela tangente, né Conrado ? — disse
descontente, mas acabei encerrando o assunto. —
Leve o Gui para a escola antes que o garoto chegue
atrasado. Mas não pense que você vai escapar de
me explicar o que está havendo. Quero saber de
tudo!
Eu e Conrado nos despedimos e eu saí
apressadamente em direção a minha sala. Quando
eu coloquei os pés no gabinete, senti como se me
socassem no estômago. Em cima da minha mesa
estava o ramalhete de rosas vermelhas que enviei
para Milena hoje pela amanhã.
— Cassiano, que porra é essa?!
— Edu, a promotora Venturini enviou as flores
de volta. — Cassiano estava sem graça, parado na
porta da sala, esperando conseguir se esconder
caso eu explodisse.
— Isso eu estou vendo — rosnei deixando a
valise sobre a mesa. Encomendei as flores da
floricultura dos pais da Malu, depois de fazer
Cassiano passar uma tarde inteira procurando
informações da loja e agora Milena me fez essa
afronta? — Isso não vai ficar assim! — disse
decidido. Segurei o maldito ramalhete e deixei a
sala.
Minutos depois, estava apoiado em meu carro
esperando por Milena na garagem da promotoria.
Se ela pensava que iria engolir uma afronta
daquelas, estava muito enganada. Ninguém
brincava com Eduardo Luís Guerra! Olhei o horário
no relógio de pulso e constatei que eram pouco
mais de cinco horas. Em breve a silhueta da deusa
durona surgiria diante dos meus olhos. Só de
imaginar a doutora Venturini pagando com juros e
correção monetária as fodas que ela me devia, o
meu pau deu sinal de vida.
Se eu não trepasse com ela, eu ficaria louco!
Nem me lembro de quanto tempo fazia que
enviava flores para uma mulher. Nunca tive tanto
trabalho para levar uma mulher para cama e estava
me sentindo um idiota, segurando esse maldito
buquê que eu mesmo enviei e que retornou para
mim em forma de um convite para um duelo. Isso
era o fim dos tempos!
Ouvi o barulho das portas do elevador se
abriram e logo o som de sapatos ecoaram. Não
demorou nem dois segundos para que Milena
aparecesse usando um vestido reto na cor
champanhe. O modelo marcava todas as curvas de
seu delicioso corpo e me deixou salivando de tanto
tesão. Como essa desgraçada era gostosa!
— Milena! — exclamei saindo em sua direção.
Ela interrompeu os passos e retesou o corpo. — Por
que você devolveu as flores? Não gosta de rosas?
— Doutor Guerra, você veio até aqui para
recuperar o seu celular? — Ela ignorou a minha
pergunta enquanto segurava firme alguns autos
processuais em uma mão e a valise em outra. Bufei
de forma deselegante e estreitei os olhos em sua
direção.
— Porra, Milena! Eu já disse para me chamar
de doutor Guerra somente no Fórum! E pouco me
importa o meu velho celular!
— Doutor Guerra — enfatizou o formalismo e
desconsiderou pela segunda vez. —, estamos nas
dependências do Ministério Público e é assim que
eu o tratarei: de maneira formal.
Dei dois passos a frente e, temerosa, ela
recuou, mantendo a distância entre nós dois.
Trinquei o maxilar e agarrei com tanta força o
maldito ramalhete, que senti alguns poucos
espinhos entrarem em minha carne. Fodida ideia
do caralho!
— Responda! — exigi enquanto avançava a
passos lentos. — Não gostou das rosas ou o quê?
— Sei muito bem qual é seu joguinho, Edu.
Mas não pense que sou uma de suas estagiárias
que cai em seu papinho de conquistador. — Ela me
enfrentou, embora estivesse sendo encurralada e
nem se dava conta disso.
— Nunca precisei de joguinhos para atingir
meus objetivos, Milena. — Declarei fechando a
distância entre nós.
Ela olhou ao redor e voltou seus olhos
castanhos para mim. Mas não se deu por vencida e
empinou o queixo, enquanto os autos processuais
estavam sendo praticamente exprimidos contra
meu peito.
— Só irei alertá-lo, doutor, que existem
câmeras de monitoramento na garagem do
Ministério Público.
— Como eu disse no outro dia: fodam-se as
câmeras! — rosnei inclinando a cabeça para baixo e
semicerrando os olhos. — Aceite as flores ou eu
não irei embora.
— Não quero nada que venha de você!
Abri um sorriso e percebi que a doutora estava
jogando. Excelente! Agora ela ia saber quem
mandava nessa situação!
— Não quer mesmo o ramalhete? — refiz a
pergunta.
— Não! Eu não quero!
— Ótimo! — Dei de ombros. — Mas isso eu sei
que você quer! — Deixei o buquê cair no chão e,
segurando seu rosto em minhas mãos, eu a beijei.
Milena começou a se debater, mas estava quase
impossibilitada de se mover. Ela derrubou a valise
e os autos que estava segurando e tentou me
empurrar para longe. Lutando contra mim, ela
desferiu alguns soquinhos em meu peito. Mas
vencida pela minha língua que clamava por
passagem, ela abriu a boca.
Seu gosto era inebriante e ganhou vida. O que
mais desejava era tomar dela tudo que tinha
direito. Já se passaram semanas desde o nosso
primeiro encontro e eu não parava de fantasiar que
estava fodendo-a de todos os jeitos. Os sonhos
eram sempre tão reais que eu acordava, ou em
meio a uma ejaculação noturna, ou com o meu pau
tão duro feito pedra.
O beijo se aprofundou e Milena gemeu em
minha boca. Suas mãos que antes esmurravam o
meu tórax, agora estavam entrelaçadas em meu
cabelo. Quando eu pensei que tinha o domínio da
situação, ela mordeu novamente meu lábio inferior
e me empurrou para longe.
— Seu cafajeste! Nunca mais ouse fazer isso,
ouviu? — gritou, enquanto pegava os autos
processuais e a valise que estavam espalhados pelo
chão. — Você é uma vergonha para a sua classe!
— Mas que porra é essa que você está falando,
doutora? — assobiei por entredentes.
— Se bem que acho que a classe que você
representa é a dos safados sem escrúpulos. Então
você acha que esse é um comportamento normal?
— Ela lançou um olhar cortante para mim e saiu
pisando duro em direção ao carro.
Meu queixo estava caído, literalmente caído.
Ela me chamou de filho da puta por entre linhas?
Milena não ousaria me acusar assim. Sabia que era
um safado, mas filho da puta eu não era!
Quando eu me virei para dizer umas boas
verdades, eu me deparei com o Thobias Gotardo,
um advogadozinho de meia tigela, que só sabia
encher o meu saco em audiências, transformando-
as em um circo. Era um dos sujeitos mais
desagradáveis e repugnantes que existia. Não
conhecia de leis e pelo jeito, não ME conhecia.
Thobias tinha um sorrisinho cínico nos lábios e sua
expressão era de completo divertimento.
— Está com intimidade com o Ministério
Público, doutor Guerra?
Fechei a minha cara e me aproximei. Quando
estava na sua frente, minhas mãos agarraram o
colarinho da sua camisa.
— Doutor Thobias, você está precisando
urgente de um banho. — Respirei fundo como se
estivesse inspirando o odor que emanava de sua
pele. — Seu cheiro podre está impregnando a
garagem inteira. Suma daqui!
— Doutor Guerra, o q-que é isso? Foi... Foi só
um... — Ele gaguejou e arregalou os olhos.
Simplesmente patético!
— Entre logo em seu carrinho popular e cai
fora dessa maldita garagem, antes que eu desfaça
esse sorrisinho besta! — Eu o soltei abruptamente
e ele se afastou ajeitando o nó da gravata.
— Desculpe, doutor. Desculpe! — Percebi que
a valise que trazia nas mãos tremia como vara
verde.
— Você é surdo, doutor Thobias? — rosnei
arqueando uma sobrancelha. — Eu já disse para
dar o fora! Porra!
Visivelmente intimidado, ele deu a volta e
desapareceu da garagem.
***

Depois daquela cena, não consegui trabalhar.


Pedi para Cassiano cancelar todas as audiências e
aleguei que não estava me sentindo muito bem.
Precisava ir para casa e espairecer.
Após tomar uma ducha, eu decidi ir até o
apartamento da Milena. A fúria que sentia era
tanta, que precisava esclarecer aquela merda toda
antes que eu explodisse. Vesti uma calça jeans,
camisa polo, peguei as chaves do carro e saí.
Momentos depois, eu estacionei a certa
distância do edifício onde a doutora deusa morava.
Olhei o horário no relógio de pulso e constatei que
eram quase 8horas da noite. E, com a intenção de
sair, eu levei à mão a maçaneta da porta. Porém,
algo fez com que eu retraísse a minha ação e ficasse
puto de raiva. Diante de meus olhos estava Milena
usando um lindo vestido solto de seda floral sem
mangas e sapato de salto alto. E, para meu
completo desprazer, o delegado Ricardo Amorim a
acompanhava com a mão na cintura dela.
Meu sangue ferveu e o desejo de esmurrá-lo se
manifestou com força total. O que o maldito filho
da mãe estava fazendo aqui? Milena tinha um caso
com Amorim? Eu não acreditava! Logo com aquele
miserável que fazia de tudo para atrapalhar o meu
trabalho no judiciário. Não era possível que ela
estivesse interessada naquele babaca!
Para não ser visto por eles, eu escorreguei no
estofado de couro. Ele abriu a porta do SUV e
Milena se acomodou no banco do carona. Ricardo
deu a volta e sentou-se no banco do motorista.
Assim que o carro começou a se movimentar, eu
me ajeitei e dei a partida no motor. Iria segui-los.
Queria ver aonde ele a levaria.
Segui-os e percebi que o miserável tomava o
caminho de um dos restaurantes mais caros da
cidade e de imediato eu peguei o celular. Enviei um
sms para Tânia, meu ex-caso e amiga, e a convidei
para sair. Não levou nem um minuto para que ela
respondesse com um “sim” em letras maiúsculas.
Enviei outro torpedo com a localização do
restaurante e recebi em troca uma caretinha
animada. Excelente! Tânia viria para participar do
espetáculo!
Conhecia Tânia há quase quatro anos. Ela
estava se divorciando de seu primeiro marido e os
dois lutavam pelo patrimônio. Como Tânia era
muito destemida e audaciosa, conseguiu o que
queria: cinquenta por cento dos bens do otário.
Hoje, ela estava vivendo seu segundo casamento
com um homem dez anos mais jovem do que ela.
Pelo que Tânia me contou dias atrás, estava muito
feliz e o amava de verdade.
Ela tinha 38 anos, mas como se cuidava e
praticava exercícios físicos, aparentava ser mais
jovem. Era uma bela mulher, que por ironia do
destino, se tornou uma grande amiga. Tínhamos
uma convivência maior agora do que quando
rolávamos nos lençóis.
Depois de esperar cerca de trinta minutos,
Tânia chegou de carro. Ela caminhou na minha
direção balançando os quadris como de costume. O
cabelo castanho claro estava preso em um rabo de
cavalo no alto da cabeça. O vestido justo que ela
usava marcava o contorno de seu corpo que eu
conhecia muito bem.
— Edu, quanto tempo, querido! — Ela me
beijou quase no canto da boca. Acariciou meu rosto
com os dedos e me fitou com seus olhos castanhos
esverdeados.
— Oi Tânia, é bom revê-la também. — Sorri.
— Estou surpresa com seu convite. Afinal, faz
um bom tempo que a gente não conversa e nem sai
para uma bebida.
— Eu tenho estado muito ocupado.
Ela interrompeu os passos e me encarou. Seus
olhos estavam brilhando, como se estivesse
aprontando alguma coisa.
— Eu tenho certeza de que você está tramando
algo, apenas não sei o que é... ainda. Provavelmente
precisava de uma cúmplice. Conhecendo você, Edu,
deve ter algum rabo de saia no meio! — Merda!
Será que era tão transparente assim?
— Tânia, eu não estou tramando nada. Eu só
quero uma companhia para um bom jantar — falei
lançando um olhar afiado para a mesa onde Milena
e Ricardo estavam acomodados.
O maître se aproximou e nos levou até uma
mesa que estrategicamente eu escolhi para ficar
atento na deusa. A mesa ficava a uma distância
razoável de onde a promotora estava e eu me
acomodei virado de frente para ela. Abri um
sorriso irônico e Milena arregalou os olhos,
admirada.
Tânia se sentou diante de mim, enquanto eu
estava me divertindo ao ver que a promotora estava
levemente pálida. Voltei a olhar para frente e
escolhi um bom vinho tinto nacional. O maître se
retirou, nos deixando sozinhos. Mas em vez de eu
puxar um assunto qualquer com Tânia, a minha
atenção estava totalmente voltada para o inusitado
casal que estava estragando a minha noite.
A minha amiga percebeu a direção do meu
olhar e, sem ser discreta, ela olhou por cima do
ombro e depois voltou sorrindo para mim.
— Agora entendi tudo. Quem é a garota?
— Que garota? — Eu me fiz de desentendido.
— Edu, eu conheço você muito bem e posso
apostar que aquela garota que está sentada com o
Ricardo é o foco de sua inquietação. — Ela riu
baixinho.
Respirei profundamente e passei uma das
mãos pelo cabelo. Não podia negar que Tânia me
conhecia melhor que ninguém, mas não me
conhecia plenamente.
— Como vão os negócios, Tânia? — questionei
mudando de assunto. Não responderia nenhuma
pergunta que Tânia fizesse a respeito da Milena.
Precisava manter a discrição.
— Fantástico! Adquiri mais dois imóveis esta
semana, o que significa mais dinheiro sendo
investido. — Sorriu amimada.
— Fico feliz em saber que está se dando bem
no ramo imobiliário. E o seu casamento, continua
fantástico também?
— Ah, eu e o Sérgio estamos muito bem.
Nunca pensei que pudesse ser tão feliz!
Nesse instante o garçom se aproximou e trouxe
a garrafa de vinho. Eu aproveitei que Tânia estava
distraída flertando deliberadamente com o rapaz e
lancei um rápido olhar em direção à mesa da
Milena. Nossos olhares se encontraram e ela
comprimiu os lábios, nada feliz. A deusa desviou o
olhar e focou-os no filho da mãe do Ricardo. O
garçom saiu e deu um sorrisinho por cima do
ombro para Tânia. Ela sorriu em resposta e bebeu
um gole de vinho.
— Tânia, você esqueceu que é casada?
— Edu, você nunca foi bom em dar lição de
moral. — Ela deu uma piscadinha — Ou você acha
que eu não sei de cada mulher que você levou para
a cama?
— Você sabe que não foram tantas assim.
Afinal, eu prefiro transar em lugares menos
previsíveis do que uma cama! — disse com uma
ponta de sarcasmo na voz.
— E como eu sei! — Sorriu maliciosamente. —
Mas só foi uma piscadinha inocente para o gatinho.
Nada mais! — Assegurou em tom divertido.
Minha atenção foi desviada pelo movimento do
delegado. O imbecil estava acariciando a mão da
Milena. Pisquei ligeiramente com a finalidade de
processar a cena que acabei de ver. Para meu
completo desprazer, Ricardo continuou deslizando
seus dedos pegajosos na pele da deusa. Ela sorriu
sem jeito e afastou a sua mão. A vontade quer tive
foi de matá-lo e cometer um homicídio doloso por
motivo fútil. Estava puto! O maldito jantarzinho
romântico entre os dois tinha que acabar! E seria
agora!
Eu me levantei abruptamente e fui até eles.
Cada passo largo que dava, sentia meus músculos
contraírem, o que me deixava ainda mais irritado.
Ao me aproximar da mesa, eu tentei controlar a
fúria que sentia.
— Milena, que coincidência encontrá-la aqui!
— rosnei parando ao lado da mesa. Ela engoliu em
seco e piscou seus longos cílios. Deixou o
guardanapo de boca sobre a mesa e empinou o
queixo para me fitar.
— Edu, como vai? — indagou Ricardo se
intrometendo na conversa.
— Confesso que eu poderia estar muito, muito
melhor. — respondi sem desviar meus olhos dela.
— Então, Milena, não tem nada melhor para fazer
esta noite?
— Doutor Guerra, eu estou jantando com um
amigo e me divertindo muito. Assim como você! —
ela ironizou dando um rápido olhar em direção à
mesa onde Tânia estava acomodada.
— Eu já lhe aconselhei a me chamar apenas de
Edu, Milena.
— Ei Edu, eu não sabia que você e a Tânia
tinham reatado o namoro. Achei que você estivesse
ainda com a Cibele.
Quem esse filho da mãe pensava que era para
se intrometer na minha vida? Era evidente que
Ricardo queria me deixar em uma saia justa com a
Milena, mas não conseguiria! Espalmei minhas
mãos sobre a mesa e inclinei o tronco em sua
direção. O delegado não recuou e me encarou de
olhar afiado. Parecíamos dois leões prontos para o
duelo, medindo um ao outro sem pestanejar.
— Ricardo, eu sugiro que você pense antes de
abrir a boca e dizer merda!
— Relaxe, Edu, foi só um comentário
inofensivo. — Ele abriu outro sorrisinho cínico me
deixando ainda mais possesso.
Voltei a minha posição vertical e o ignorei por
completo. Girei o rosto e encontrei Milena de olhar
estreito, lábios comprimidos em uma linha fina.
— Milena, eu preciso falar com você. Agora!
— Eu estou jantando com um amigo, Edu.
— Venha comigo! — Segurei em seu braço e
ela me olhou perplexa.
— Edu, me solte! — disse arregalando os
olhos.
Ricardo que até agora estava sentado, se
levantou e agarrou meu braço com força. Não
acreditava que ele teve a audácia de fazer isso
comigo! O delegado era mais um desinformado
que não me conhecia? Voltei o olhar para o
desgraçado enquanto sentia meu sangue se
aquecer. Se o Amorim não me soltasse, eu o
partiria em mil pedacinhos e distribuía como
sobremesa no restaurante.
— Nem experimente colocar em prática o que
você tem em mente, doutor Amorim.
— O que você fará, doutor Guerra? Vai
transformar o restaurante em um ringue de luta de
MMA? — Ricardo ironizou, mantendo seus olhos
castanhos fixos em mim enquanto algumas pessoas
nos olhavam e sussurravam entre si.
— Edu! — Ouvi a voz de Tânia ecoar em meus
ouvidos. Ela se aproximou e abriu um sorriso
nervoso. — Acho que teremos que deixar nosso
jantar para outra hora. Acabei de receber um
telefonema de minha irmã. Ela precisa de mim
agora.
Bufando de raiva, eu liberei o pulso da Milena
enquanto Ricardo soltava o meu braço. Ajeitei a
gola da camisa polo e voltei a olhar para a deusa
durona que continuava mantendo a sua postura
firme. Ela dividia a sua atenção entre mim e Tânia
que estava ao meu lado e parecia estar um pouco
incomodada. Mas incomodada com o quê, afinal?
Quem estava puto com a situação de merda era eu!
— Como vai, Tânia? — perguntou Ricardo
estendendo a mão para cumprimentá-la.
— Estou bem Ricardo, e você? — Sorriu Tânia
gentilmente.
— Estou muito bem também. — Ele devolveu o
sorriso. — Tânia, você conhece a doutora Milena
Venturini? Ela é a nova promotora criminal do
Ministério Público. — Fez as apresentações de um
jeito tão meloso que meu estômago se embrulhou
na hora.
— Olá, Milena. É um prazer conhecê-la — disse
Tânia amigavelmente.
— Olá! — Milena respondeu monossilábica
após apertar rapidamente a mão da minha amiga.
— Bem, vamos, Edu. — Tânia segurou em meu
braço e tentou me arrastar para fora do restaurante
sem sucesso. Eu dei um último olhar para Milena
que me fitava especulativamente. Ela parecia tensa,
pois vi sua respiração se tornar acelerada sob o fino
tecido do vestido que ela usava.
— Foi um encontro e tanto — Ricardo ironizou
acomodando-se a cadeira novamente.
Irritado além da conta, eu passei a mão pelo
meu cabelo enquanto tentava manter a razão. A
vontade que tinha era de esmurrar Ricardo e deixá-
lo com o nariz quebrado. Maldita ideia que eu tive
de segui-los. Nunca mais agiria por impulso.
Nunca mais!
— Sim, foi um encontro muito prazeroso —
rosnei não contendo o sarcasmo. Segurei a cintura
de Tânia e disse: — Vamos! — Saímos sem olhar
para trás. Deixei o local em meu carro e minha
amiga no dela.
Durante o trajeto até minha casa eu tive que
controlar mil vezes os pensamentos fodidos que
surgiam em minha mente. Era um pior que o outro.
Certamente que Ricardo devia ter levado Milena
para sua cama. Só de imaginar o que eles estavam
fazendo nesse exato momento, a fúria retornou.
Precisava saber o que tinha acontecido nesse fim de
noite e não deixaria aquilo barato. Milena que me
aguardasse.
Capítulo 6

Milena

O doutor Edu além de ser um safado era um


lunático. Como ele teve a coragem de exigir
satisfações? Não devia explicações da minha vida a
ninguém, muito menos a ele. Além do mais, Edu
não estava sozinho e pela maneira como interagiu
com a mulher que o acompanhava, certamente era
uma de muitas conquistas.
Decidi não pensar nele e lancei um olhar para
as flores que Ricardo me enviou esta manhã. Ao
contrário do que eu fiz com as rosas que Edu me
enviou ontem, essas eu mantive em cima da minha
mesa. O delegado foi muito gentil enviando as
flores. Aliás, ele era sempre muito gentil, além de
bonito. Tinha o corpo atlético, olhos e cabelos
castanhos e um sorriso encantador. Certamente
que existia uma longa lista de mulheres
interessadas nele, mas não me sentia pronta para
me envolver com alguém. No momento, queria me
dedicar a minha carreira.
Aline, minha assessora, entrou em minha sala
e passou a pauta de audiências que teria durante o
dia. Para meu completo desgosto, teria que encarar
o doutor Guerra. Após alguns minutos, eu estava
na sala de audiências. Edu me viu e estreitou os
olhos. Eu o ignorei e me acomodei ao seu lado. Ele
me seguiu com o olhar sem pestanejar e pude
sentir meu corpo aquecer. Que inferno! Maldito
homem!
Não demonstrei abalo e girei o rosto para lhe
fitar. Uma eletricidade atravessou a minha coluna
ao encontrar seus olhos fixos em mim. Ele estava
muito sensual como de costume. Usava um terno
grafite e gravata listrada em tons de azul claro e
escuro. Edu abriu um sorriso charmoso e desviou o
olhar para os papéis.
A primeira audiência se tratava de uma ação de
ameaça de morte. O caso era muito complexo. O
casal estava em processo de divórcio, cuja ação
corria no juízo cível. O autor alegava que além de
sofrer ameaça contra a sua vida, a ré o traía com
seu próprio amigo.
— Excelência, o meu cliente sofreu ameaça de
morte por parte da sua ex-companheira — começou
o doutor Thobias, advogado que representava o
ofendido. — Consta nas provas dos autos que a
acusada o ameaçou com uma faca, alegando que
iria cortar o seu pescoço por ele ter um caso
extraconjugal durante o casamento, o que não é
verdade, pois ficou comprovada a traição da ré no
processo que corre na Vara de Família.
— Bem, o que a acusada tem a dizer sobre
essas provas? — indagou Edu a advogada da
acusada.
— Excelência, a minha cliente nega ter
proferido qualquer ameaça de morte ao ofendido,
bem como de ter acusado o ex-companheiro de
traição — se pronunciou Bianca Novaes, a
advogada da ré.
O doutor Guerra leu os autos pela segunda vez
e coçou o queixo. Virou-se para mim e abriu um
sorriso de canto. Não sabia qual o propósito de sua
expressão zombeteira, mas não estava gostando
nada disso.
— A representante do Ministério Público quer
se pronunciar? — perguntou Edu se recostando na
cadeira.
— Nós não estamos aqui para discutir se
houve ou não a traição, pois não é considerado
crime no ordenamento jurídico. E também porque
o processo de divórcio é competência do juízo cível.
O que está em pauta é a suposta ameaça feita por
dona Vilma ao seu ex-companheiro — respondi
fazendo minha análise.
— Você está certa, doutora. Apesar de traição
não ser mais considerada crime, ela pode levar as
pessoas a cometerem outros fatos delituosos.
Como por exemplo, o caso em pauta — ele
argumentou em tom sério, voltando os olhos para
os autos em sua frente.
— Sim, excelência, o senhor tem razão. Afinal,
faz anos que a traição deixou de ser um crime no
código penal — o doutor Thobias concordou
abrindo um leve sorriso. O juiz estreitou os olhos
para o advogado que se encolheu um pouco.
— Doutor Thobias, a traição pode não ser mais
considerada crime no código penal. Mas para mim,
é o ato mais repugnante que existe.
Mas que merda de discurso infundado era
aquele? O que o doutor Guerra estava querendo?
Era evidente que ele estava fazendo algum jogo. Só
me restava descobrir qual era! Pigarreei e lancei um
olhar para ambos os advogados que se
entreolharam sem dizer nada. Eles estavam
atônitos diante do que acabaram de ouvir. E eu não
podia culpá-los por estarem assim, pois eu mesma
estava estupefata diante de tom de voz enérgico e
ríspido do juiz. O que deu neste homem, afinal?
— Mas, excelência... — Thobias tentou falar
sem obter sucesso.
— O senhor tem algo a dizer, doutor Thobias?
— Não, excelência. — O advogado engoliu em
seco, se encolhendo na cadeira.
— Ótimo! Então vamos dar prosseguimento à
audiência.
A tarde de audiências transcorreu sob um
clima pesado e desconfortável. Em nem um
momento eu me senti tranquila, ou à vontade.
Ainda mais quando Edu me olhava
especulativamente entre uma pauta e outra. Seus
olhos inquisitivos estavam sobre mim, exigindo
explicações que não devia.
Depois de cerca de três horas de intenso
trabalho, as últimas partes a serem ouvidas
deixaram a sala. Eu aproveitei para arrumar meus
papéis na valise e sair do local o mais depressa
possível. Precisava manter distância do doutor
Guerra para o meu bem e para o bem da minha
carreira.
Estava tão concentrada em meus afazeres que
não percebi que Edu se levantou e trancou a porta
pelo lado de dentro. Ergui meus olhos e o encontrei
retornando para se acomodar ao meu lado. Ele
tirou o casaco de terno, colocou-o na cadeira e
basicamente colou o seu corpo no meu.
— Doutor Guerra, o que você es...
— Você transou com Ricardo?
Eu ouvi direito? Edu estava perguntando sobre
a minha vida particular? Ele não tinha o direito de
me fazer qualquer tipo de questionário!
— Mas o que é isso?! Eu não devo satisfação de
meus atos para você! — assobiei, furiosa,
empinando o queixo.
— Responda a porra da minha pergunta! Você
trepou ou não com aquele filho da mãe?
— Não trepei, mas se eu tivesse trepado, não
seria da sua conta. — Edu estreitou os olhos e
respirou profundamente. — Eu volto a lhe dizer,
doutor, eu não lhe devo satisfação da minha vida!
Um breve silêncio se formou enquanto nos
encarávamos. O doutor Guerra passou uma das
mãos ao cabelo e percebi que ele estava furioso.
Ah, foda-se! Eu estava jantando com um amigo
quando ele chegou com uma de suas piranhas a
tira colo.
— Bem — Ele colocou a mão em meu joelho.
—, se traição não é mais crime, que nome eu devo
dar ao que aconteceu ontem no restaurante? —
Seus dedos começaram a escovar a minha pele nua,
despertando calor em meu corpo.
Abri a boca para dizer algo, mas a única coisa
que consegui fazer foi buscar o ar que me faltava.
Ele continuou seu processo de me torturar
enquanto me acariciava. Seus dedos longos e
macios agora avançaram em direção a barra da
minha saia empurrando o tecido lentamente para
cima.
Estava petrificada. Não conseguia me mover
nem sequer respirar. Apenas sentia o contato dos
seus dedos quentes que deslizavam em minhas
pernas. Minha vagina pulsava à medida que ele
espalmava suas mãos em minhas coxas, me
deixando efervescente de tanto tesão.
— O que está fazendo? — sussurrei ofegante,
sentindo a minha calcinha molhar.
O doutor Guerra não respondeu e suas mãos
avançaram, subindo um pouco mais o tecido da
minha roupa. Seus olhos se estreitaram repletos de
luxúria quando finalmente ele encontrou a minha
calcinha. Edu se deteve a apreciá-la enquanto
passava a língua pelos lábios. Seu olhar se tornou
tão selvagem e puramente sexual, que fez arrepiar
cada pelo de meu corpo e trepidar o chão abaixo de
meus pés. Quando pensei em falar algo para
impedi-lo, seus dedos foram ao encontro da minha
lingerie. Ele deslizou os dedos por ela lentamente e
afastou o tecido para o lado. Erguendo os olhos
para me fitar com luxúria, Edu inseriu o dedo
médio em mim.
— Porra, Milena! Você está molhada! — O
rosnado gutural que ele soltou, me deixou ainda
mais excitada! — Foda-se! Quero te comer agora! —
Edu segurou os meus quadris, me suspendeu e me
colocou sentada sobre a mesa.
Não acreditava no que está acontecendo.
Estava prestes a transar com o juiz dentro da sala
de audiências?! Eu só podia estar ficando louca ao
arriscar a minha carreira desse jeito. Queria pedir
para que ele parasse, mas a única coisa que
consegui fazer foi entrelaçar meus dedos em seu
cabelo e puxá-lo para um beijo ardente. Enquanto
estávamos com as bocas coladas e sôfregas uma
pela outra, Edu empurrou a minha saia para cima,
deixando-a na altura de minha cintura. Ele agarrou
as extremidades da minha calcinha e com um
puxão rápido, ela se partiu em duas. Suas mãos
apertaram as minhas coxas e ele voltou a inserir
seu dedo habilidoso em mim.
Comecei a gemer e me debati endoidecida ao
senti-lo me masturbar com dureza. Ele pressionou
meu ponto G e eu perdi a razão de tudo. O homem
que sabia a exata localização do ponto G de uma
mulher só podia ser expert em sexo. E nesse quesito
o safado do doutor Edu tinha PHD.
— Ah doutora, tão molhadinha para mim. Tão
fodidamente gostosa!
Edu aumentou o ritmo de seus movimentos
torturantes empurrando seu dedo em uma
deliciosa dança de ida e vinda. Com a outra mão,
ele abriu de qualquer jeito os primeiros botões de
minha camisa de seda e encontrou os meus seios
dentro do sutiã. Afastando a lingerie para o lado,
ele abocanhou um de meus seios. Edu sugou com
vontade e deu leves mordidinhas em meu mamilo
enrijecido. Fui torturada tanto pelo seu dedo
implacável como pela sua boca habilidosa.
— Seus seios são tão lindos! — elogiou e
voltou a me sugar com vontade, alternando entre
um seio e outro. Nunca fui tão sugada, mordiscada
e lambida em toda minha vida. Ele devia ser tarado
por seios, não tinha outra explicação.
— Oh doutor, não pare! Não pare! — Soltei
uma ladainha chorosa, sentindo o gozo emergir.
— Me chame de Edu, Milena, somente de Edu
— sussurrou e voltou a me beijar, inserindo sua
língua deliciosa em minha boca.
Meu corpo começava a estremecer e a cada
estocada de seu dedo, o meu orgasmo se
aproximava. Edu bombeou mais algumas vezes,
enquanto se fartava com meus seios e não resisti.
Me parti em duas, gozando e trepidando em cima
da mesa. A onda que se espalhou pelo meu corpo
era tão intensa que senti tudo ao redor girar.
Edu tirou seus dedos de minha vagina e se
livrou de sua gravata e camisa, jogando-a em um
canto próximo. A minha blusa e meu sutiã foram
arrancados de mim e se uniram as suas vestes.
Apesar da pouca luminosidade do cair da tarde que
entrava através das persianas, eu aproveitei para
analisá-lo. Meus olhos passearam pelo peitoral
definido, repleto de alguns pelos e eu fiquei
maravilhada. Umedeci os lábios ao contemplar a
musculatura bem trabalhada, os bíceps fortes, as
coxas grossas, a pele branca e macia. Tudo na
proporção exata. Nada de mais, nada de menos.
— A sua sentença agora será gozar muito. Mas
antes, quero sentir o gosto de sua bocetinha. — Oh,
meu Deus! Essa seria a melhor sentença de toda a
minha vida!
Edu me girou em cima da mesa e me colocou
de quatro. Minha bunda estava totalmente exposta
para ele, assim como minha abertura latejante.
Espalmei as mãos sobre o mogno e mordi os lábios
em expectativa. Sua língua entrou em mim com
extrema urgência, bebendo, sorvendo. Ele sugou
meu clitóris com força e o prendeu entre os dentes.
Isso foi demais para mim e comecei a arquejar sem
controle.
Suas mãos viajaram em minha bunda
acariciando de cima para baixo. Senti a ausência de
seus dedos e de repente, uma palmada queimou a
minha pele. Soltei um gritinho e mordi o lábio
tentando assimilar a sensação de calor que se
espalhava como fogo em mim. Edu espalmou as
mãos em minha bunda e mordeu minha carne. A
sensação era nova, mas muito prazerosa.
— Ah Milena, você tem uma bunda tão bonita.
Seu corpo é tão perfeito e sua pele é tão linda!
Edu voltou a inserir a língua em minha
abertura. Chupou, lambeu, mordicou meu ponto
sensível e me levou a loucura. Fui invadida por um
novo gozo que deixou meu corpo e minha mente
anestesiados e fora de órbita.
— Ah, Edu! Edu! — Seu nome saiu de meus
lábios como uma prece. Eu caí com o tronco
apoiado sobre a mesa, arfante e o coração
acelerado.
— Putinha gostosa! Agora é a vez do meu pau
sentir o seu calor, minha deusa de ébano.
Estava tão zonza que apenas me deixei ir, como
uma marionete em suas mãos. Os espasmos pós-
orgasmos deixaram o meu corpo mole, mas não
saciada. O que mais queria era sentir seu pênis
dentro de mim. Ergui o olhar e me deparei com ele
deslizando um preservativo sobre sua ereção. E que
ereção! Seu pênis era grosso e grande, não
gigantesco, mas o tamanho me agradou e muito. A
cabeça rosada, as veias se dilatando em sua
extensão.
— De onde você tirou esse preservativo? —
indaguei curiosa e louca para sentir tudo aquilo
dentro de mim.
— De um compartimento da minha valise —
respondeu espalmando as mãos em minhas coxas.
— Abra suas pernas para mim, Milena! Mostre o
quanto você deseja o meu pau.
Suas palavras repletas de pornografias me
excitaram. Edu me encarou faminto enquanto eu
arreganhava as pernas expondo minha vagina para
ele. Edu sorriu. Eu empinei minha bunda e me
ofereci de verdade, sem pudor ou vergonha
alguma. Até eu me surpreendi pela minha ousadia.
— Assim que eu gosto! Dá essa boceta pra
mim! — Ele me puxou pelos quadris e me penetrou
em um único golpe. Seu pênis entrou apertado,
esfomeado, estocando fundo.
Arfei e agarrei em seus bíceps fortes. Edu
manteve firme uma de suas mãos em meu quadril
e a outra entrelaçada em meu cabelo. Sua língua
faminta invadiu minha boca novamente. Enquanto
ele se enterrava dentro de mim, em um ritmo
compassado, as nossas línguas faziam sexo
sugando-se mutuamente. Ele bateu e voltou com
urgência. Moveu os quadris e me comeu gostoso.
— Porra! Como você é deliciosa! — rosnou sem
separar nossos lábios.
Os movimentos ganharam mais ritmo e meu
corpo deu sinal de um terceiro gozo. Edu
pressentiu que estava prestes a entrar em ebulição
e passou a meter fundo, pressionando o meu útero.
Ele deslizou uma de suas mãos em meu quadril e
deu uma palmada forte. O calor se misturou a
ardência e senti que logo gozaria.
— Ohhh, Edu! Com força! — choraminguei
apertando minhas pernas ao redor de seu corpo.
— Goze no meu pau agora! — disse enterrando
a cabeça em meu pescoço.
Fui atingida pelo prazer supremo da carne e
me parti ao meio, gemendo e me derretendo em
seus braços. Edu também liberou seu gozo em um
rosnado, me apertando junto de si.
Estávamos suados, abraçados um ao outro,
com a respiração ofegante. Aos poucos a minha a
minha razão voltou. Abri os olhos e o vi deitado
sobre mim. A culpa me atingiu e me senti
confortável com a situação. Estava em estágio
probatório, no início da minha carreira que tanto
lutei para conseguir, e acabei de transar com o juiz
na sala de audiências. Isso não acabaria bem!
Ouvi um barulho na porta e empurrei Edu para
longe. Ele se afastou de cenho franzido sem
entender nada. Tirou o preservativo e o guardou no
bolso da calça de terno. Saí de cima da mesa
rapidamente e comecei a me vestir. A apreensão
que tomava conta de mim era tão grande, que eu
me atrapalhei com os botões da blusa de seda.
— Milena, não se preocupe! A porta está
trancada.
— Tenho que sair daqui o mais depressa
possível — falei pegando minhas coisas e dando a
volta ao redor da mesa. — Isso não devia ter
acontecido!
— Você vai ignorar o que houve entre nós? —
Edu me encarou incrédulo e tentou se aproximar
novamente, sabendo que perderia a razão quando
estivesse em contato com ele.
— Edu, por favor! Não sei como reagirei ao sair
por aquela porta e enfrentar alguns funcionários
que ainda possam estar de plantão.
— Ei, Milena. — Ele se aproximou e segurou
meu rosto em suas mãos. — Está tudo bem. Sei que
o que fizemos aqui não foi correto, mas aconteceu.
E você queria tanto quanto eu!
— Não! Não! — Neguei balançando a cabeça,
me libertando de seu toque quente e perturbador.
— Você me seduziu com o propósito de acabar com
minha carreira. — Eu o acusei sem medir as
palavras.
— Você me acha que sou um cafajeste? —
indagou de olhos arregalados.
— Eu preciso ir embora. — Ignorei a sua
indagação e dei um passo para trás, mas ele me
deteve segurando meu pulso.
— Milena, o que há com você?
A cena do restaurante surgiu em minha mente
e me deixou confusa. Uma inquietação me invadiu
e nem sabia qual era o motivo desse desconforto
todo.
— Você me perguntou se eu havia transado
com o Ricardo, mas e você Edu? Não dormiu com a
Tânia? Ou será que você preferiu a tal da Cibele?
— O quê?!
— Você acha que eu não sei de seus casos?
Ouvi muita coisa sobre você e confesso que acho
melhor mantermos distância um do outro. Isso
nunca dará certo! — disse confusa, segurando
firme a valise. Ele pensou por um momento e
respirou profundamente.
— Talvez você tenha razão.
— Eu e você nunca daremos certo. —
Pronunciar isso em voz alta me deixou abalada,
mas sabia que era necessário.
— Eu quero dizer que você tem razão sobre eu
ter alguns casos. — Agora foi a minha vez de
arregalar os olhos, estupefata. — Sou homem,
Milena, e como todo o homem eu tenho casos, ou
tinha. Eu nem sei mais!
O silêncio se fez presente enquanto nos
fitávamos imersos em sensações desconhecidas.
Não sabia o que estava havendo comigo. Nunca
deixei me levar pela luxúria, ou agi por impulso. A
única coisa que sabia era que precisava ir embora
dali.
— Edu, a gente conversa melhor outro dia. —
Peguei a chave de cima da mesa e saí em direção à
porta.
— Milena? — Ele me chamou e eu girei o corpo
para encontrar seus olhos. — Eu não sou um filho
da puta!
Meu coração voltou a se comprimir. Não queria
que Edu pensasse que eu o considerava um homem
sem escrúpulos. Mas hoje eu estava impossibilitada
de lhe dar qualquer tipo de explicação. Melhor eu
fazer isso outro dia, quando estivesse com os
pensamentos em ordem.
— Eu não disse que você era! A gente se fala,
Edu. — Girei a chave na fechadura e saí mais
perdida do que nunca.
Capítulo 7

Edu

Estava deitado no sofá da sala com a Kyara


dormindo aos meus pés. Pelo menos a minha gata
dormia tranquila e feliz, já que eu estava intrigado
e muito reflexivo. Liguei baixinho em uma
coletânea de Legião Urbana e a melodia de Quase
Sem Querer, embalava os meus pensamentos.
Bebi mais um gole de uísque e deixei o copo
sobre o tapete. Em minha mente só havia espaço
para o fim de tarde excitante que passei com
Milena na sala de audiências. Como pude deixar
meus instintos mandarem em minha razão?
Arrisquei a minha carreira assim como a dela
agindo como um moleque inconsequente. Milena
tinha razão quando disse que o que fizemos foi
errado. Mas porra, o que podia fazer se quando
estava ao lado dela a cabeça de baixo governava a
de cima?
Ao contrário do que todos falavam a meu
respeito, eu não era esse galinha que comia as
estagiárias no local de trabalho. Nunca transei com
ninguém dentro do Fórum. Essa era uma de
minhas regras, embora hoje eu a tivesse quebrado.
E tinha que ser justamente com um membro do
Ministério Público?
Aliás, essa era a segunda regra que quebrei,
pois a primeira foi me envolver sexualmente com
Milena. Juro que quando eu a vi sentada ao meu
lado, com aquela saia-lápis marcando seu corpo, eu
perdi o controle de tudo, e passei a tarde inteira
querendo trepar com ela. A visão de sua pele
dourada, de sua bunda redonda, de seus seios
durinhos, de seus olhos castanhos e de sua boca
sensual, não saíam da minha mente. Só em pensar
em estar dentro daquela bocetinha apertada e
gostosa, o meu pau enrijeceu outra vez.
Tinha que admitir que estava fodido. A atração
que sentia por Milena era muito forte. Não me
recordava de sentir algo tão intenso assim por
outra mulher. Nem mesmo Cibele, que
praticamente morou em minha casa por quase
quatro meses, conseguiu me despertar uma única
vez com essa intensidade.
O som de meu celular me tirou dos devaneios.
Olhei no visor e vi o nome do meu pai, Antônio
Luís. Não queria falar com ele. Fazia dias que ele
me ligava e enviava mensagem de texto com a
pretensão de puxar assunto. Ignorei todo e
qualquer tipo de contato que veio de meu pai
canalha.
Deixei o telefone tocar até cair na caixa de
mensagem e meu pai desistiu. Sabia que ele devia
estar puto comigo, mas não estava nem um pouco
preocupado. Seu Antônio não se preocupou com a
esposa dedicada e o filho que o considerava um
herói, e trocou a sua família por uma piranha, de
nome Elisa. E se não bastasse isso, ele ainda se
casou e teve uma filha com ela. Sofia tinha 8 anos
de idade e eu não me relacionava com a minha
meia irmã. Mantinha distância dos três.
As pessoas que nos conheceram, não
acreditavam que hoje nos tratávamos como
estranhos. Nem eu acreditava nisso. Ele era o
homem o qual eu me espelhava desde criança.
Sempre o considerei um exemplo para seguir na
vida. Foi quem me ensinou a jogar futebol, a
apreciar a boa música brasileira, a ler bons livros, a
andar de bicicleta, a guiar um carro. A maioria das
coisas que eu sabia eu aprendi com o meu pai, com
exceção de trair quem se ama.
Fechei os olhos por um breve momento para
dissipar as lembranças, mas parecia que meu pai
não queria me deixar em paz, porque o telefone
tocou novamente. Rosnei e peguei o maldito
aparelho. Para minha surpresa era dona Myrthes,
minha mãe. Respirei aliviado e atendo a ligação.
— Oi mãe, tudo bem? — indaguei com
carinho, ajeitando a minha cabeça na almofada.
— Edu, meu amor, eu estou bem e você, como
está? — perguntou com voz amável.
— Estou bem e com saudades.
— Eu também estou com saudades de você,
meu filho. Afinal, faz quase uma semana que você
não vem visitar sua mãezinha, né? — Ela se
queixou e pude apostar que estava fazendo
beicinho. Essa era a dona Myrthes que eu amava!
— Mãe, desculpe por não ter ido te ver esta
semana. Mas tenho estado sobrecarregado de tanto
trabalho — expliquei enquanto Kyara mudava de
lugar e escalava meu corpo, vindo se aconchegar
em minha barriga. — Eu prometo que farei uma
visita ainda esta semana.
— Ficarei esperando com o bolo de brigadeiro
que você tanto gosta. É só avisar o dia — falou com
voz alegre e depois de um breve silêncio, mudou
de assunto. — Edu, você tem falado com seu pai?
— Não, por quê? — Afaguei os pelos macios
de minha gata que voltou a ronronar contente.
— Seu pai me ligou e disse que você não
atende as ligações dele. — Ela soltou um suspiro.
— Por que você continua agindo assim com seu pai,
Edu?
Entendi tudo! O velho Antônio Luís apelou
para a chantagem. Meu pai percebeu que eu não
quero falar com ele e estava usando a minha mãe
para fazer uma ponte entre nós dois. Que golpe
mais baixo usar a ex-mulher que ele traiu para
tentar uma reaproximação comigo. Não estava nem
um pouco admirado com essa atitude, ainda mais
vinda de meu pai calhorda.
— Não acredito que ele ligou para
choramingar em seus ouvidos. Papai não tem esse
direito, mãe!
— Meu filho, converse com seu pai, por favor, e
conserte essa desavença entre vocês — sugeriu
defendendo o safado.
— Mãe, você esqueceu o que ele fez com você?
Papai te traiu com uma vagabunda que hoje ocupa
o seu lugar. Eu não aceitarei isso nunca! — Eu me
levantei abruptamente, desligando o som. Até a
música começava a me irritar.
— Edu, veja bem, foi a mim que seu pai traiu e
eu já o perdoei. Por que você não faz o mesmo?
Filho, eu fico tão triste em saber que vocês não se
conversam mais.
— Sem chances, mãe! Não quero conversar
com ele e se você me ligou com o propósito de nos
reaproximar de novo, você perdeu o seu tempo. Um
vaso quebrado, se colado novamente, jamais será o
mesmo. — Caminhei até a janela e apoiei um braço
no vidro. Fechei os olhos e deixei a testa repousar
sobre o antebraço. Sabia que minha mãe ficava
triste em saber que seu único filho não tinha mais
um relacionamento amigável com o próprio pai.
Mas, era assim que pretendia continuar. Eu no meu
canto e meu pai no dele.
— Edu, por favor, meu amor. Pelo menos tente
— insistiu quase suplicando pelo canalha que a
apunhalou pelas costas.
— Mamãe, o papai não traiu somente você. Ele
quebrou o laço mais importante que há em uma
relação que é a de confiança. Nunca mais teremos
um bom convívio. Você sabe disso!
— Ah, filho! — Dona Myrthes respirou fundo e
senti sua insatisfação, mas nada podia fazer.
— Eu aviso o dia que irei até ai para saborear o
seu bolo. — Mudei de assunto, abrindo os olhos e
fixando-os nas luzes dos prédios vizinhos.
— Estarei esperando — disse do outro lado
com voz branda.
Falamos por mais alguns minutos sobre outros
assuntos e nos despedimos com carinho. Se minha
mãe pensava que eu perdoaria o meu pai algum
dia, ela estava muito enganada. Até tentei perdoá-
lo no passado e esquecer o que ele fez, mas então a
Elisa ficou grávida e a Sofia nasceu. Depois disso,
as coisas só pioraram. Meu pai esqueceu por algum
tempo de me procurar e apenas se dedicou a sua
mais nova família. Paparicava a vagabunda que ele
tem como esposa e a filha e, quando eu ligava para
marcar um almoço durante a semana, ele sempre
tinha uma desculpa.
E agora depois de anos, o velho Antônio
achava que podia consertar a merda que fez? Sério
mesmo que ele pensava que se podia passar uma
borracha em cima de tudo e voltar ao que éramos:
pai e filho? Meu pai estava muito enganado. Nada
mais seria como antes! Ele fez a sua escolha e agora
arcasse com as consequências. A vida era assim
mesmo.

***

O resto da semana estava sendo um caos. Além


de eu estar puto devido às ligações do meu pai, que
ainda não cessaram, tinha que enfrentar a
indiferença da Milena, que estava me ignorando
quando nos encontrávamos em algumas
audiências. Desde o dia em que transamos, ela me
tratava de modo muito formal, se dirigindo a mim
somente quando necessário e abordando temas
profissionais. Não estava acostumado a ser
ignorado. O que estava acontecendo com ela para
me tratar dessa forma?
Tentei uma aproximação no fim do expediente,
mas como sempre, Milena arrumou as suas coisas e
saiu sem me dar chances de explicar. Não queria
que ela pensasse que eu a usei para atingir algum
propósito sujo. Ou que eu estivesse planejando
acabar com a sua carreira, como ela mesma
mencionou outro dia. Precisava conversar com ela e
esclarecer o que houve. E faria isso o quanto antes.
Após sair do Fórum eu passei em casa apenas
para tomar uma ducha rápida e trocar o terno por
uma roupa informal. Tirei o excesso de água do
cabelo e ajeitei os fios com os dedos. Por eles serem
lisos, não costumava usar muito a escova. Bastava
uma passada de mão e estava tudo resolvido. Passei
a fragrância de Invictus, um dos meus perfumes
prediletos da Paco Rabanne, peguei as chaves do
carro e saí em direção ao apartamento da Milena.
Estava ansioso para conversar com ela, mas
não somente para conversar. Queria sentir o gosto
delicioso dos seus lábios, o calor de seu corpo
colado ao meu. Não era homem de ficar na vontade
e não seria hoje que mudaria meu estilo de vida.
Era um predador nato, um apreciador da beleza
feminina. E esta última, Milena tinha de sobra.
Cheguei ao seu prédio e me aproximei do
porteiro. Ele estava lendo um jornal acomodado em
sua cadeira e, quando eu pigarreei, o homem deu
um sobressalto e veio me atender.
— Boa noite, o senhor anuncie à dona Milena
Venturini que Eduardo Luís Guerra está na portaria
e deseja falar com ela.
— Boa noite, senhor. Só um minuto. — Ele
pegou o interfone e discou os números. — A dona
Milena disse que está com visitas e por isso não
poderá atendê-lo hoje.
Quem estaria no apartamento da Milena?
Curioso, eu tentei persuadir o porteiro a me contar
tudo.
— E quem está com ela, o senhor sabe me
informar?
— É um rapaz alto, fortão. — Gesticulou com
os braços dando as características do tal cara. —
Perguntou por ela e a dona Milena autorizou a
subida dele.
— O senhor sabe me dizer o nome dele?
— Acho que o rapaz se chama André.
— E quanto tempo tem isso?
— Faz cerca de meia hora — A essa altura, o
porteiro já estava me olhando com o semblante
especulativo.
Só em cogitar que a Milena podia ter um
namorado me tirava do sério. Esse André seria
algum caso dela? Talvez eu estivesse exagerando e
ele fosse apenas um amigo. Eu me recusava a
acreditar que ela estivesse saindo com alguém.
Refleti por um momento e a dúvida pairava em
minha cabeça. O comportamento da Milena no
trânsito, quando nos conhecemos e depois que
transamos na sala de audiências era típico de
alguém que se sentia culpada por ter cometido
uma traição. A promotora tinha mesmo um
namorado? Se ela tivesse, seria o meu fim. Como
conquistaria uma mulher que pertencia a outro
homem? Mas que merda eu acabei de pensar?
— O senhor vai esperar? — A voz do porteiro
me tirou de meus devaneios. Ele estava apoiado ao
balcão e sua expressão era de completo
divertimento.
— Não! Boa noite! — disse caminhando em
direção à porta de saída. E, antes de deixar o
prédio, eu voltei para ele. — Amanhã eu falarei
com a promotora no Fórum.
— O senhor é da justiça também?
— Sim! Sou juiz — respondi e o sorrisinho
besta que ele trazia nos lábios desapareceu.
— Oh, me desculpe, doutor Guerra.
— Está tudo bem. — Girei o corpo e saí em
direção ao meu carro.
Durante o trajeto de volta decidi que o melhor
para nós dois era mantermos um relacionamento
profissional. No fundo eu sabia que aquele deslize
que eu cometi iria me custar caro. E estava pagando
por isso!
***

O dia estava tumultuado no Fórum. Se não


bastasse os muitos despachos para fazer, e
sentenças para elaborar, eu ainda tinha uma
audiência para presidir ao lado da Milena. Parecia
que tudo estava conspirando para tornar o meu dia
uma catástrofe. Até a roupa que ela vestia não
ajudava em nada: um vestido reto, nude, até a altura
dos joelhos, com um cintinho delicado enfeitando a
cintura fina, e um par de scarpins vermelho. Seu
cabelo estava cuidadosamente preso em um coque.
Milena parecia muito compenetrada durante a
audiência, mas frequentemente senti seus olhos
castanhos sobre mim. Ela não me encarava, apenas
me observava pelo canto dos olhos. Quanto a mim,
conduzi as pautas ignorando-a o máximo que
podia. Se fosse desprezo que a promotora queria de
minha parte, era isso que ela teria.
A audiência era de furto qualificado e estava
extremamente cansativa. O advogado da parte
expôs seus argumentos, tentando a qualquer custo
defender o seu cliente. Ele alegou que não foi o
acusado que subtraiu a motocicleta da vítima e a
transportou para outro Estado. Segundo o
advogado, o autor do fato era o amigo do acusado,
que era menor de idade. O caso era de simples
solução, já que uma testemunha que passava no
local naquele momento reconheceu o acusado
como autor do delito.
Diante das provas contidas nos autos e nos
depoimentos testemunhais, eu sentenciei a pena
de reclusão de quatro anos. O advogado que
representava o acusado disse que entraria com
recurso contra a pena aplicada por mim. Bem, ele
estava fazendo o trabalho dele diante do judiciário
e eu o meu.
Exausto e impaciente, eu encerrei a audiência e
guardei meus papéis dentro da valise. Dessa vez
era eu que queria dar o fora da sala, e não Milena
como no outro dia em que trepamos em cima da
mesa. E esse pensamento me trouxe flashes vívidos
do tórrido fim de tarde que passamos ali. Com a
finalidade de esquecer o que houve, eu me levantei
e saí em direção à porta. Percebi que ela arrumou
suas coisas apressadamente e começou a andar
logo atrás de mim.
No corredor, Glenda surgiu ao meu lado,
carregando alguns autos e tagarelando. Cassiano
precisou se ausentar no dia de hoje para resolver
um problema de última hora, e a minha estagiária
se aproveitou da situação para lançar seu charme
nada discreto para cima de mim. Vinte palavras
que saíam de sua boca, dezoito flertavam comigo.
— Dr. Guerra, você foi fantástico nas
audiências de hoje. Estou lisonjeada em ser sua
estagiária e poder contar com a sua vasta
experiência no ramo das leis.
— Que bom que você está aprendendo comigo,
Glenda. Há muitas coisas que eu posso ensinar
ainda. — Dei corda só para ver a promotora, que
estava logo atrás, reagir. E ela reagiu! Estava
respirando profundamente e pisando mais duro,
fazendo os saltos dos seus sapatos soarem corredor
afora.
— Não vejo a hora de aprender mais e mais
com o senhor — minha estagiária falou
melosamente, passando uma das mãos no cabelo
loiro e lambendo os lábios a fim de me provocar.
— É só ficar atenta as instruções que eu passo
durante o estágio que você sairá daqui com a
cartilha do Direito na ponta da língua. — Abri um
sorriso provocativo e ouvi Milena pigarrear.
Lancei um olhar rápido para o relógio de pulso
e constatei que estava na hora de encerrar o
expediente. Com o propósito de me livrar da
Glenda, eu interrompi os passos e parei diante do
elevador. Milena fez o mesmo, se colocando ao meu
lado, olhando para frente, me ignorando outra vez.
— Glenda, leve esses autos para o gabinete e
pode encerrar o seu expediente.
— Sim, senhor. Tenha bom fim de tarde,
doutor Guerra.
Glenda saiu rebolando e eu ignorei apertando
o botão do térreo. A situação seria trágica se não
fosse cômica. Estávamos os dois parados em frente
ao elevador e com os olhos fixos na porta de metal.
Milena girou a cabeça lentamente na minha direção
e estreitou os olhos em fúria. Prevendo um possível
desentendimento, eu a ignorei e caminhei em
direção as escadas. Optei por descer seis andares,
do que dividir o espaço com a ela no elevador. Isso
seria demais! Mas parecia que a intenção dela era
me torturar, pois Milena me seguiu descendo as
escadas.
— Dr. Guerra? — Ela me chamou logo atrás. —
Edu? — Voltou a me chamar e eu desconsiderei. —
Edu, precisamos conversar.
— Doutora, o expediente de trabalho terminou
e não temos mais nada para tratar — disse em tom
seco, enquanto descia as escadas sem olhar para
trás.
— Edu, eu preciso que você me escute. — Seu
tom de voz demonstrava que ela estava nervosa, e
essa novidade que me deixou curioso.
Interrompi os passos e me virei para fitá-la. Me
deparei com seu corpo esbelto, seu rosto lindo e
seus olhos que me olhavam em súplica. Fraquejei.
Por que Milena tinha que ser tão bonita e mexer
tanto comigo?
— Eu já disse que conversamos tudo que
tínhamos para conversar na sala de audiências —
reiterei controlando o desejo de empareda-la na
escada.
— Edu... — Ela segurou meu braço
despertando uma onda de eletricidade em meu
corpo.
Sem poder controlar a proximidade entre nós,
eu a agarrei pelos ombros e a coloquei contra a
parede. Milena arregalou os olhos, ofegou, mas não
tentou se libertar. Seus olhos arregalaram, a boca
entreabriu e o corpo estremeceu. Ela estava
excitada!
— O que você quer, Milena?
— Eu quero conversar com você.
— Se quisesse mesmo conversar, você teria me
recebido em sua casa ontem. Mas pelo visto, você
tinha coisas mais importantes para fazer do que se
explicar comigo — disse puto da vida, sentindo a
razão dar espaço a emoção.
— Eu estava ocupada ontem, por isso não pude
recebê-lo. Espero que entenda. — Sua voz soou
baixa e seus olhos piscaram tensamente.
Sem poder suportar o tesão que estava entre
nós dois, eu a soltei e desci dois degraus, rosnando.
Como Milena ousava admitir na minha cara que
estava com visitas? Sabia que ela não me devia
satisfações de sua vida e nem eu da minha, mas por
que eu não gostei disso?
Decidi encará-la. Sem me conter, eu desci meu
olhar para contemplar a sua boca. Meus olhos
vaguearam pelo seu corpo, chegando ao decote
bem comportado que escondia os seios mais lindos
que eu já vi em toda minha vida. Respirei
profundamente e voltei à atenção para seu rosto
bonito.
— Eu te procurei para me explicar, mas você se
negou a me receber. E então, por que você não me
recebeu ontem? — indaguei sabendo a resposta,
mas só para saber a sua versão dos fatos.
Milena arquejou forte, comprimiu os lábios e
parecia tensa. Porra! As minhas suposições
estavam mais que certas. Agora sabia que se minha
carreira no judiciário viesse a dar merda, eu abriria
uma barraquinha como guru e começaria a fazer
consulta de vidência.
— Edu, eu não queria conversar com você na
presença do André. — Ela abaixou os olhos
desviando para o piso da escada.
Quem era esse maldito, afinal? Era evidente
que esse cara era alguém que ainda mexia com os
seus sentimentos. E só lembrar da conversa que
tive com o porteiro na noite anterior, a minha raiva
retornou.
— Doutora, não precisa se preocupar. Nós não
temos mais porra nenhuma para conversar!
— Por favor, não é o que você está pensando.
Edu, eu mereço ser ouvida! — Ela defendeu o
direito a palavra, caminhando logo atrás de mim.
— Eu também mereço ser ouvido!
Me virei tão bruscamente que nossos corpos se
chocaram sem querer. Milena se desequilibrou e eu
a amparei, envolvendo-a em meus braços. De
imediato o cheiro delicioso de sua pele entrou em
meus pulmões e me deixou faminto por ela. Milena
engoliu em seco enquanto nos fitávamos com
ardor. Ela desceu o olhar e analisou a minha boca
da mesma forma que eu analisava a dela. Ah, foda-
se! Pouco me importava quem fosse esse tal de
André. Eu queria essa boca na minha e queria
agora! Agarrei sua nuca com firmeza e nossos
lábios se uniram em desespero.
Capítulo 8

Milena

Estava presa nos braços do Edu, embriagada


com o gosto de seus lábios colados aos meus e de
sua língua buscando a minha sôfrega. Suas mãos
me apertaram com tanta intensidade que estremeci
de desejo. Elas estavam por todo o meu corpo,
acariciando os meus seios por cima do vestido,
apertando a minha bunda, deslizando em minha
nuca.
Ele me beijava com tanta voracidade que
parecia querer me engolir viva. Seus lábios macios
se moviam junto com os meus, enquanto sua
língua roubava os últimos resquícios de sanidade
que ainda tinha. Edu não só me beijava, mas
parecia querer se fundir. Senti sua respiração
pesada, o coração bater acelerado e os quadris se
movendo de encontro ao meu ventre, mostrando o
quanto ele me queria.
Minhas mãos apertaram seus bíceps por cima
do casaco de terno, explorando cada milímetro de
sua musculatura bem trabalhada. Subi em direção
a sua nuca e cravei meus dedos ali. Edu gemeu em
minha boca e sugou com mais volúpia a minha
língua. Não senti mais minhas pernas, apenas o
peso do seu corpo perfeito sobre mim. As coxas
bem trabalhadas apertando as minhas, fazendo
minha calcinha se encharcar por completo e os
seios doerem.
Edu separou nossos lábios por um momento e
eu aproveitei para buscar o ar que me faltava. Abri
os olhos e encontrei os seus faiscantes. Ele respirou
fundo e passeou o polegar em meus lábios, me
provocando ainda mais.
— Deusa de ébano! — sussurrou com voz sexy
roçando os lábios nos meus. — A coisa que mais
quero é estar dentro de você novamente. Mas para
isso — Fez uma pausa e seus olhos me encararam.
— nós precisamos conversar.
— Sim, Edu... — arquejei, sentindo seus lábios
distribuírem beijos e lambidas em meu pescoço.
Ele interrompeu as carícias e se afastou um
pouco ajeitando o casaco, soltando um pouco o nó
da gravata. Enquanto ele se ajeitava, eu aproveitei
para alinhar o meu vestido que estava puxado para
cima, deixando parte de minhas coxas a mostra.
— Se fosse uma situação diferente, eu te
arrastaria daqui direto para minha cama. Mas eu
preciso de respostas, Milena. E somente você pode
dá-las — disse em tom firme segurando minha
mão e descendo as escadas.
— Para onde estamos indo, Edu?
— Para a minha casa. — Arregalei os olhos e
ele interrompeu os passos. — Primeiro,
esclarecemos tudo entre nós dois e depois, eu
prometo que vou te foder bem gostoso. — Abri um
sorriso desejoso e ele se pôs a caminhar
novamente, de posse de minha mão. E só de
imaginar os planos sacanas que Edu tinha em
mente, meu corpo inteiro reagiu.
Oh, Deus! Esse homem acabaria comigo! E
estava louca para que isso acontecesse.

***
Instantes depois, eu estava dentro do elevador
do edifício onde Edu morava e envolta em seus
braços. Ele passeava suas mãos quentes em minha
pele, enquanto me beijava, roçando sua costumeira
barba por fazer em meu rosto, arrancando
pequenos gemidos de minha garganta e deixando
minha calcinha completamente molhada.
As portas se abriram e sem se importar se
estávamos ou não sendo vistos por alguém, Edu
saiu me agarrando com um das mãos em minha
bunda e a outra em minha nuca, enquanto me
beijava. Ele me encurralou contra a parede e
continuou seu delicioso processo de apertar o meu
corpo contra o seu.
— Edu... — sussurrei por entre seus lábios, que
não me davam tréguas, tirando meu ar. — Edu,
alguém pode nos ver! — alertei, separando-o de
mim o mínimo possível para olhar em seus olhos.
— Milena, esse edifício tem um morador por
andar. Se eu quisesse te comer aqui e agora, eu
faria — falou subindo com a língua até o lóbulo da
minha orelha.
— Que bom! Eu tenho uma vizinha de 80 anos
chamada Ofélia. — Sorri, enquanto ele mordiscava
a minha orelha, me atiçando.
— Então uma hora dessas nós daremos um
show para a dona Ofélia. O que você acha? — Ele
abriu um sorriso de canto divertido, voltando a
lamber meu pescoço e a apertar a minha bunda.
— Edu! — exclamei com dificuldade,
espalmando as minhas mãos em seu peito. —
Primeiro nós temos que conversar, esqueceu?
— A gente pode inverter a ordem da pauta,
doutora. — Sorriu malicioso, enquanto abria a
porta de sua casa e me puxava para dentro. — Ah,
estou louco para sentir o calor de seu corpo, minha
deusa! — Ele fechou a porta com o pé e me levou
até o sofá da sala de estar.
Quando pressenti que sua intenção era me
colocar sentada sobre o sofá, eu virei o corpo e o
coloquei de frente para o móvel. Ele abriu um novo
sorriso sensual e deslizou suas mãos pelas minhas
costas.
— Você quer estar no comando, é? — indagou
em tom divertido.
— Eu falo sério! Precisamos esclarecer alguns
pontos. E isso é importante!
Edu ergueu as mãos para cima e tirou seu
paletó e sua gravata. Abriu os primeiros botões da
camisa, deixando parte de seu peito a mostra e
dobrou as mangas do tecido até a altura dos
cotovelos.
— Agora podemos conversar. — Sorri e, com a
palma de minha mão eu o fiz sentar-se no sofá. Ao
contrário do que pensei, ele não se opôs ao meu
comando e se deixou conduzir.
— Venha cá! — Edu me puxou pela cintura e
me colocou sentada em seu colo. Dei uma risada
divertida e envolvi meus braços ao redor de seu
pescoço.
— Você promete ficar quieto? — perguntei e
ele concordou com a cabeça. — Edu, você deve
estar querendo uma explicação pela minha fuga,
depois de transarmos na sala de audiências, não é?
— Sim Milena, eu fiquei intrigado e sei que o
que fizemos foi errado. Admito! Foi impulsivo e
inconsequente. Mas se você pensa que estou
arrependido, está enganada — completou com um
meio sorriso safado, dando uma palmada em
minha bunda.
— Edu, nós arriscamos a nossa carreira. Você
tem um nome a zelar no judiciário e eu não posso
perder o que tanto lutei para conquistar. Só eu sei o
quanto foi difícil chegar onde estou — finalizei
aflita, sabendo quanto tempo foi despendido para
que eu conseguisse finalmente realizar meu sonho
e dar uma vida mais digna a mim e minha família.
— Ei — Ele segurou meu rosto em suas mãos e
seus olhos buscaram os meus. — Nada disso irá
prejudicar sua carreira. Eu prometo! Não
acontecerá outra vez! Mas porra, Milena, eu queria
que aquilo acontecesse e você também!
— Sim, eu queria. Mas eu não posso me deixar
levar pelos meus desejos. Você não entende? — Eu
me libertei de seu toque e me levantei
abruptamente. Edu fez o mesmo e me encarou de
forma inquisitiva. — Eu dei meu sangue por esse
concurso e não vou jogar minha carreira pela
janela.
— Como eu disse, não voltará a se repetir. Eu
dou a minha palavra. Mas agora eu preciso saber o
porquê você não me recebeu ontem à noite? —
indagou mudando o rumo da conversa. Eu sabia
que Edu não deixaria o assunto passar
despercebido.
— Eu estava com visitas. — respondi,
começando de leve, pois sabia que o porteiro me
disse que ele ficou enfurecido quando eu avisei que
não o receberia.
— Isso eu sei! Milena, quem é André? —
questionou sendo muito direto para o meu pesar.
— Uma pessoa que eu conheço há alguns anos
— disse sem dar maiores explicações.
— Ele é seu namorado?
Merda! Estava pronta para contar parte de
minha vida particular ao Edu? Nunca cogitei me
abrir com ele assim. Transamos uma única vez e
senti como se estivesse na obrigação de dizer-lhe a
verdade.
— André é meu ex-namorado — respondi por
fim.
— Ex? — Ele arqueou uma sobrancelha
especulativa e eu concordei. — E o que o seu ex foi
fazer em seu apartamento tarde da noite?
— Ele foi me fazer uma visita, pois tinha
acabado de chegar do Havaí, onde estava em uma
competição de surfe. Ele apenas queria me dar um
oi. — Dei de ombros.
— E vocês não têm mais nada um com outro?
— Eu e André não temos mais nada faz mais
de um ano. Somos apenas amigos.
Edu coçou o queixo e se aproximou me
envolvendo pela cintura. A carranca que ele tinha
se desfez com um piscar de olhos. Seu olhar se
tornou intenso e carregado de magnetismo.
— Está tudo esclarecido então? — Eu
concordei com a cabeça e ele sorriu inclinando o
rosto para baixo para ficar próximo ao meu. —
Ótimo! A única coisa que quero fazer agora é me
enterrar em você!
A maneira que ele falava comigo, sempre
expondo suas intenções me excitava. Nunca
imaginei que seria o tipo de pessoa que gostasse de
uma conversa suja ao pé do ouvido, mas vi que
estava completamente enganada.
Sem me dar tempo para respirar, sua boca
encontrou a minha. Com os braços envoltos em
minha cintura, Edu me suspendeu do chão e me
conduziu pelo corredor. Quando chegamos ao seu
quarto, ele me colocou de pé e girou meu corpo, de
modo que eu ficasse de costas para ele. Uma de
suas mãos viajou em direção ao meu seio,
enquanto a outra deslizou por baixo do meu
vestido, contornando a barra da minha calcinha.
— E essa bocetinha, está pronta para receber o
meu pau? — Edu afastou o tecido para o lado e
logo o seu dedo está em minha abertura. — Porra,
Milena! Sempre molhadinha para mim. Não sabe o
quanto isso me dá tesão!
— Ah, Edu! Eu quero você e não os seus dedos!
— choraminguei, sentindo-o apertar meu seio por
cima da roupa, enquanto estocava o dedo dentro
em mim.
— Estou louco para te comer. Você sente o
quanto eu a quero? — Ele empurrou sua ereção
contra minha bunda, movendo os quadris
impiedosamente. Arquejei.
Edu puxou o dedo para fora e me virou com
rapidez. No instante seguinte, sua língua estava em
minha boca, me devorando com desejo. Enquanto
nos beijávamos sofregamente, as nossas mãos
impacientes despiam um ao outro. Meus dedos
desabotoavam os botões de sua camisa, os seus
abriam o meu cinto e desciam o zíper de meu
vestido, que caiu aos meus pés. Quase arranquei a
roupa de seu corpo, que escorregou ao chão,
deixando seu peito exposto para mim. Contemplei
sua masculinidade. Cada pedacinho dele. Sorri e
cai de boca na sua pele. Distribuí beijos, lambidas
e mordidas. Edu gemeu, entrelaçou os dedos em
meu cabelo e desprendeu o meu coque, deixando
meus cachos caírem em meus ombros.
Desabotoei o botão de sua calça de terno e
desci o zíper. Edu abriu os olhos e saiu de suas
calças, parando diante de mim. Eu me coloquei de
joelhos e subi meu olhar pelas coxas grossas e,
escondido em sua cueca boxer branca, estava o seu
pênis ereto, pulsando como um louco. Passei a
língua nos lábios e encarei seus olhos luxuriosos.
— Você quer provar o guerrinha, minha
putinha gostosa? — Sorriu, entrelaçando uma das
mãos em meu cabelo.
—Acho que de “guerrinha” seu pau só tem o
apelido. — Abri um sorriso sacana e tirei sua
cueca. Seu pênis saltou livre diante de meus olhos
e o que mais desejava é tê-lo em minha boca.
Segurei firme seu membro e massageei para
cima e para baixo. Beijei a cabeça rosada, fazendo
um joguinho de sedução. Edu agarrou com mais
firmeza meu cabelo e me encarou. Não me fiz de
rogada e abocanhei sua carne macia. Chupei com
gosto, indo e vindo, massageando suas bolas,
lambendo toda a sua extensão.
— Me fode com essa boquinha gostosa! —
rosnou enquanto eu o enterrava em minha boca.
Intensifiquei os movimentos, chupando com
mais força. Edu começou a mover os quadris,
bombeando ainda mais para dentro, tocando a
base da minha garganta. Acariciei suas bolas com
uma das mãos, enquanto a outra segurava sua
ereção em movimentos rítmicos. Suguei com
avidez e senti que ele enrijeceu o quadril. Edu
estava quase lá!
— Não para, minha deusa, que eu vou gozar —
chiou fechando os olhos e inclinando a cabeça para
trás.
Chupei mais rápido e voltei a circular a língua
na extremidade. Em questão de segundos, Edu
explodiu, gozando em minha boca. O líquido
ligeiramente salgado escorregou em minha língua
e Edu gemeu satisfeito.
— Que boca deliciosa, Milena! — Ele me
segurou pelos ombros e me colocou de pé. Passou
o polegar em meus lábios e os capturou em um
beijo quase pornográfico.
Deslizei meus dedos em seu bíceps, apertando,
acariciando. Cheguei até chegar a sua nuca e cravei
minhas unhas ali. Edu rosnou. Eu gemi. Me deliciei
com aquela loucura toda. Enrosquei os dedos em
seu cabelo, mordi seus lábios, suguei sua língua. E,
quando eu pensei que tinha o controle da situação,
ele se afastou ofegante e me encarou.
— Calma, minha deusa. Em minha cama sou
eu que dou a sentença e você só a cumpre,
gemendo muito para mim.
Uma das mãos prendeu meus braços atrás de
minhas costas enquanto a outra puxou suavemente
meu cabelo. Com o pescoço completamente
exposto para ele, sua língua voltou a deslizar
quente e úmida em minha pele.
— Oh, Edu! Eu quero você! — implorei
tentando mover as mãos para tocá-lo.
— E você terá! — Ele liberou meus pulsos com
cautela e suas mãos se concentraram em meu sutiã,
que caiu aos meus pés com extrema facilidade. —
Estou doido para cair de boca em seus seios,
Milena! — E ele o fez. Edu chupou, lambeu e beijou
os meus mamilos, me levando ao êxtase. Sua língua
habilidosa trabalhou tão bem em minha pele
sensível que meus seios doeram de excitação.
Após meus seios receberem uma preliminar
completa, sua língua deslizou na minha barriga,
contornando a barra da minha calcinha. Edu
segurou as extremidades da roupa íntima e a
escorregou em minhas pernas, beijando e
lambendo as minhas coxas. O contato de sua barba
por fazer em meu corpo despertou ondas de
eletricidade que me enlouqueceram. Estremeci
quando ele voltou subindo sua língua em minhas
pernas até encontrar a minha camada de pelos
púbicos.
— Agora chegou a minha vez de provar
novamente o gosto dessa bocetinha gostosa.
Edu me deitou sobre a cama, abriu as minhas
pernas, me deixando completamente exposta. Seus
olhos brilharam ao contemplar a minha vagina e eu
me contorci excitada. Ele agarrou firme minhas
coxas e deslizou sua língua por elas. Mordi o lábio
inferior e arfei quando senti sua língua em meu
clitóris. Edu sugou com vontade e prendeu meu
ponto sensível entre os dentes. Voltou a repetir o
processo e inseriu o dedo médio em mim.
— Olhe para mim, Milena, quero ver seu rosto
se contorcer enquanto você é fodida pela minha
língua. — Exigiu e retornou com o delicioso
processo de me chupar com força, enquanto seu
dedo entrava e saía de minha vagina.
Os movimentos ganharam rapidez e eu não
consegui mais aguentar. Com os olhos presos aos
de Edu, eu me debati, agarrei com força o lençol e
pronunciei palavras incompreensíveis, gozando
sem parar.
— Perfeita! Linda! — Suas palavras de elogio
me pegaram de surpresa outra vez e meu cérebro
formulou a mesma pergunta de sempre: será que
eu era bonita de verdade?
Edu abriu a gaveta do criado mudo e ouvi o
som do preservativo sendo rasgado. Ele elevou
minhas pernas e apoiou em seus ombros.
Suspendeu minha bunda o mínimo do colchão e
me invadiu. Lento. Forte. Fundo. Tomando tudo de
mim, dando tudo dele.
— Que bocetinha mais apertada, porra! —
grunhiu por entredentes, estocando um pouco
mais rápido, com os dedos cravados em minha
bunda, e os lábios deslizando na sola de meu pé.
— Me come, Edu! Ahhh... — implorei
inclinando o tronco para cima e a cabeça para trás,
fechando os olhos, sentindo-o tomar posse de meu
corpo com volúpia.
Para me torturar, ele retornou com os
movimentos lentos, me preenchendo e me levando
a loucura. Mordi o lábio, gritei, serpenteei
enquanto ele abaixava as minhas pernas,
penetrando até o fundo, pairando em cima de mim
para me encarar. A intensidade do seu olhar era
tanta, que por um momento me senti invadida,
como se ele visse além da imagem que eu oferecia
ao mundo.
Fui inundada por paixões violentas,
sentimentos que estavam surgindo aos poucos e
me deixando confusa. Deslizei minhas mãos em
suas costas, sentindo sua musculatura bem
trabalhada, seu vigor, seu cheiro. Apertei seus
braços, beijei seu pescoço. Edu rosnou, enquanto
me comia gostoso, bombeando em um ritmo
compassado.
— Milena, você tem noção do quanto me deixa
louco? — indagou ofegante retornando com os
movimentos punitivos.
Edu me comeu bruto, suave, forte, lento. Tirava
seu membro só para voltar a me penetrar com
tudo. Meu corpo tremia, minha cabeça girava e
meu coração batia como um louco. Era tão
embriagante, intenso e delicioso, que perdi o
controle de mim mesma. Quando dei por mim,
convulsionei gozando, gemendo alto, imersa em
tudo que ele estava significando na minha vida.
Edu me seguiu, se enterrando dentro de mim e
rosnando como um louco.

***

Estava deitada com a cabeça apoiada no peito


de Edu que afagava o meu cabelo. Inspirei fundo e
senti o cheiro de sua pele misturado ao perfume
gostoso que ele usava e estremeci. Fechei os olhos
por um momento e tentei refletir sobre o que
aconteceu entre nós. Embora eu soubesse que ele
era um safado, eu me deixei levar outra vez pela
sua sedução. E agora eu estava em sua cama!
— Você está muito quieta, Milena. — Seu tom
de voz era calmo e seus dedos deslizavam no meu
braço. Eu me remexi nos lençóis e a cena em que
ele conversava com a sua estagiária, hoje à tarde,
surgiu em minha mente. Sabia que Edu estava me
provocando e isso estava me deixando furiosa.
— Edu, você tem alguma coisa com a sua
estagiária?
— Eu não tenho nada com a Glenda.
— Mas pelo teor da sua conversa mais cedo,
não é o que parece.
— Milena — Ele se ajeitou na cama, apoiando-
se em um dos cotovelos para ficar de frente para
mim, que fiz o mesmo, me colocando na mesma
posição que ele. — Não tem nada acontecendo
entre mim e Glenda.
— Mas houve, não é? — indaguei sabendo a
resposta.
— Sim, nós transamos duas vezes. Nada mais
que isso. — Ele ficou observando minha reação
diante da notícia. A verdade era que me sentia
inquieta ao saber que ele trabalhava tão próximo de
alguém que já levou para cama.
— Edu, eu não quero estar no meio de seus
casinhos e... — Edu colocou o dedo em meus lábios
me impedindo de continuar.
— Eu não tenho nada com ninguém, Milena.
Acredite em mim! — assegurou com veemência.
Esperava que ele estivesse me dizendo a
verdade, caso contrário eu arrancava as bolas dele.
Sabia da sua fama de safado conquistador, mas não
o culpava por isso. Vi o jeito como a asquerosa da
Glenda se jogava deliberadamente em cima dele.
Cada gesto ou palavra dela flertavam com Edu de
um modo muito vulgar.
Nesse instante eu senti algo peludo se
movendo em meus pés e soltei um gritinho
assustada. Edu deu uma gargalhada gostosa,
enquanto um gato angorá cinza de olhos verdes se
movia entre nós dois. O bichinho parecia muito
dócil e acostumado a passear na cama. Ele
ronronava e se esfregava em mim sobre o lençol.
— Edu, eu não sabia que você tinha um gato —
disse afagando o pelo do animalzinho que parecia
feliz ao receber as minhas carícias.
— Essa é a Kyara! — Sorriu e eu arregalei os
olhos, atônita.
— Mas Kyara não é uma...
— Mulher? — Arqueou uma sobrancelha e não
reprimiu outra risada. — Milena, Kyara é minha
gata de estimação. — Ele afagou o bichinho que se
divertiu recebendo as nossas carícias. — Bem, eu
vou ver o que tem na geladeira para a gente comer
— disse pulando fora da cama e vestindo sua cueca
boxer. Engoli em seco e por um momento fiquei
perdida admirando seu físico invejável.
— Não precisa se preocupar com isso. Eu não
estou com fome — disse me movendo nos lençóis
com a intenção de deixar a cama.
— Ei, mocinha — Ele me deteve, segurando de
leve o meu braço. — A senhorita não vai a lugar
algum. Eu vou preparar algo para jantarmos e logo
depois nós vamos tomar um banho. Eu não
demoro. — Edu me beijou os lábios e saiu do
quarto.
A gata deitou ao meu lado enquanto eu me
controlava para não ir até a copa e esganar Eduardo
Luís Guerra. Afinal, outro dia na academia ele
insinuou que Kyara era uma mulher, deixando que
minha mente viajasse pensando em sua lista
interminável de mulheres. Agora entendia o
motivo de ele ter agido daquele jeito comigo: Edu
estava querendo me fazer ciúmes, ao pensar que eu
estava flertando com o Conrado . Homens! Revirei
os olhos e aproveitei para analisar o ambiente. A
suíte onde estava era muito confortável. Tinha de
tudo, desde uma tevê plasma grande de frente para
a cama, até duas poltronas de couro em um canto.
O chão era coberto por tapetes persas. Assim como
eu imagino que fosse o restante do apartamento, o
quarto era muito espaçoso, um pouco mais
espaçoso que o meu.
Os móveis do restante da casa também eram
modernos. Na sala de estar, sofás e poltronas de
couro em tom escuro contrastavam com o tapete
persa em tom claro. O porcelanato era em tom
bege e tão brilhoso que qualquer pessoa podia ver
seu reflexo refletido nele. O apartamento era
bonito, mas faltava um toque feminino como, por
exemplo, alguns arranjos de flores em cima das
mesinhas de canto.
Acariciei mais uma vez o pelo da Kyara e deixei
a cama enrolada no lençol. Fui até o banheiro, pois
precisava dar um jeito em meu cabelo que estava
um alvoroço. Parei diante do espelho e me assustei
com a minha expressão. Meu cabelo estava em
completo desalinho. Quem me visse agora, não
teria duvidas e acertaria em cheio, dizendo que eu
acabei de ter uma foda intensa.
Procurei por uma escova ou algo para prender
os meus fios cacheados, pois o laço que eu tinha
preso em meu cabelo estava perdido no quarto, em
meio aos lençóis.
Abri a primeira gaveta e não encontrei nada a
não ser creme de barbear e loção pós-barba. Todos
muito cheirosos. Procurei na gaveta debaixo e
meus olhos se arregalaram ao ver o que havia
dentro dela: um batom vermelho vivo de uma
marca caríssima, rímel e uma calcinha fio dental
também vermelha. Mas minha atenção se voltou
para um pedaço de papel escrito a mão que
continha a seguinte mensagem:

“Edu, meu amor, deixo essa calcinha para que você


nunca se esqueça das noites quentes que passamos
juntos. Beijos de língua de sua Cibele”.

CAFAJESTE! Um milhão de vezes cafajeste


safado!
Capítulo 9

Edu

Fazia algum tempo que não sabia o que era ter


alguém compartilhando a minha cama. Sempre tive
o lema de não misturar uma transa com minha vida
particular. Hoje eu quebrei essa regra gostei. Ainda
mais que finalmente consegui dobrar a durona
deusa de ébano e trazê-la junto comigo. Não foi
fácil, mas valeu a pena. Milena valia todo o esforço.
Sorri olhando para a lasanha de frango
congelada que tinha nas mãos e a coloquei no
microondas. Enquanto a comida era descongelada,
eu aproveitava para cortar alguns tomates e
preparar uma salada que tinha como complemento
azeitonas, pepinos e palmito.
Estava entretido preparando o jantar quando
passos vindos do corredor chamaram minha
atenção. Ouvi barulho de chaves e larguei tudo que
estava fazendo para averiguar o que acontecia no
hall de entrada. Ao chegar, eu me deparei com a
Milena vestida e o cabelo preso em um rabo de
cavalo. Ela mexia no trinco da porta, tentando abri-
la com as mãos apressadas.
— Milena, aonde você vai? — indaguei e ela
deu um sobressalto, virando-se abruptamente.
— Estou indo para casa. — Ela não me encarou
e respondeu em um tom seco, enquanto tentava
descobrir qual das quatro chaves abria a porta de
entrada.
— Mas eu achei que você fosse jantar comigo.
— Eu me aproximei, sem entender a situação.
— Eu não posso ficar, porque eu tenho muitas
coisas para preparar para o dia de amanhã. — Ela
encontrou a chave certa e girou a fechadura. Eu a
detive segurando em seu braço e girando seu corpo
de encontro ao meu.
— Você acha que eu aceitarei essa desculpa
esfarrapada, Milena?
— Me deixe, Edu. Eu quero ir embora! — Ela
tentou se debater presa em meus braços.
— O que está havendo?
— Nada que eu já não soubesse! — Milena se
libertou de mim e se moveu em direção ao
elevador. Eu a segui sem saber o que estava
acontecendo.
— Milena, por que está agindo assim comigo?
— Não pense que sou mais uma de suas
vagabundas. Você está me confundindo e muito,
doutor!
Mas que diabos deu nessa mulher? Ignorei o
seu disparate, segurei firme em seu braço e a
trouxe de volta para o apartamento. Entrei, fechei a
porta e a conduzi, sob protestos, até a sala de estar.
— Você não vai embora sem antes me dizer
que merda está acontecendo!
Milena foi até uma mesinha e pegou um papel.
Ela caminhou até mim e estendeu a mão em minha
direção.
— O que é isso? — Peguei o bilhete de suas
mãos e meus olhos queimaram.
— Um recadinho de uma de suas piranhas! —
disse furiosa, enquanto eu lia o maldito bilhete que
a Cibele deixou escondido para mim. Aquela
desgraçada conseguia foder com minha vida até
quando não estava presente.
— Esse bilhete é da Cibele, minha ex-
namorada. — Ficou óbvio que a Milena não
acreditou em mim, pois cruzou os braços e
estreitou ainda mais os olhos.
— Se fosse sua ex, Edu, não teria calcinha,
rímel e batom deixados pela Cibele na gaveta do
armário do banheiro! — Milena estava furiosa e
saiu pisando duro até a porta pela segunda vez. Eu
a segui, mas ela se virou e ergueu o dedo indicador
para mim. — Não ouse me deter, doutor Guerra, ou
eu arranco as suas bolas com as unhas. —
Arregalei os olhos, estupefato enquanto Milena se
movia em direção ao elevador. Ela apertou o botão
do térreo e me deu as costas.
— Milena, você não vai deixar eu me explicar?
— Sem me importar com as câmeras de segurança,
eu a segui até o hall, vestindo somente minha
boxer. O porteiro devia estar dando gargalhadas ao
assistir a nossa cena patética. Mas eu não me
importava nem um pouco.
— Contra fatos não há argumentos, doutor
Guerra — falou entrando no elevador. — O nosso
relacionamento será estritamente profissional a
partir de hoje. Boa noite!
— Mas que porra é essa? — esbravejei e escutei
minha frase fazer eco no corredor — Milena! —
Nesse momento as portas se fecharam e ela foi
embora.
Eu retornei ao apartamento para vestir uma
roupa e tentar alcançar Milena a tempo para me
explicar, mas o bip de meu microondas tocou me
detendo. Cheguei até a cozinha e constatei que
exagerei ao cronometrar o tempo para descongelar
a lasanha. Porra! Eu acabei de queimar o meu
jantar!

***

O meu humor estava terrível. Nem eu mesmo


me aguentava. Minha mesa estava repleta de autos
processuais e os meus pensamentos vagueavam até
a deusa de ébano. Tentei afastá-la de minha mente
e manter a atenção aos papéis que me aguardavam.
Passei o dia inteiro elaborando despachos e
sentenças. Para completar a carga de estresse, meu
pai tentou pela milésima vez entrar em contato,
ligando para meu celular. Ignorei todas as
chamadas e tranquei o aparelho dentro da valise.
Honestamente, meu pai era a última pessoa que
queria conversar no dia de hoje.
Encerrei o expediente e Cassiano caminhou ao
meu lado cabisbaixo. Ele estava muito calado, o que
era estranho para sua personalidade extrovertida.
O meu assessor estava sempre alegre e de bom
humor. O seu silêncio denotava que ele estava com
algum problema.
— Está tudo bem, Cassiano? — questionei,
interrompendo os passos, parando próximo ao meu
carro.
— Edu, eu tenho pensado muito sobre o
concurso da magistratura — desembuchou
pensativo, me olhando de canto.
— E sobre o que você tem pensado?
— Não sei se é isso que eu quero.
— Cassiano, você não está pensando em
desistir, não é? — perguntei frustrado, sem saber o
que deu nele para ter esse pensamento.
— Tenho estudado muito e isso tem se
refletido em minha vida pessoal. Eu e a Raquel
terminamos. Na verdade ela terminou comigo. —
Ele abaixou a cabeça, constrangido e visivelmente
tristonho.
— Ei, garoto! — Apertei gentilmente seu
ombro e ele ergueu os olhos para me fitar. —
Nunca desista do que você quer por causa de
outras pessoas. Se a Raquel não soube te dar valor e
entender o seu momento de estudo, é porque ela
não te merece — falei convicto, pois sabia o quanto
o meu assessor tinha estudado para esse concurso.
— É muito difícil entender a cabeça das mulheres.
A gente diz uma coisa e elas entendem outra.
— Ih, pelo jeito não sou só eu que levei um pé
na bunda. — Sorriu, tirando uma onda com a
minha cara.
— E eu sou homem de levar pé na bunda?
Parece até que você não me conhece! — rosnei
incomodado. — Quer uma carona? — Abri a porta
do carro, tirando o celular de dentro da valise,
antes de colocá-la sobre o banco traseiro.
— Não, obrigado. O meu carro já voltou da
revisão. Valeu pelos conselhos, Edu. Você está
certo!
— Quem fala é a voz da experiência. — Dei
uma piscadinha e nos despedimos. Eu entrei no
meu carro e Cassiano saiu em direção ao dele.
Logo que cheguei em casa, troquei meu terno
por minha roupa de exercício. Precisava dissipar a
inquietude que me assolava com um pouco de
atividade física. Saí para a minha costumeira
corrida no parque da cidade ao som de The Best of
You de Foo Fighters que tocava em meu iPod.
Permaneci no local por quase uma hora me
exercitando. Mas ao contrário do que eu pensava,
nem a malhação me tranquilizou. A minha mente
estava voltada para Milena e para o equívoco que
aconteceu. Eu tinha que falar com ela e esclarecer
as coisas de vez, mas antes disso, eu precisava ter
uma conversa séria com a Cibele. Esta sim me
devia satisfações!

***

Acomodado a uma poltrona no apartamento


de Cibele, eu esperava por ela que estava no banho.
A sua secretária do lar me ofereceu uma água e eu
agradeci deixando o copo sobre a mesinha de
centro. Não avisei que viria e acabei chegando
enquanto ela se banhava. Bem feito para mim e
para essa mania de não avisar ninguém dos meus
passos. Já fazia mais de vinte minutos que estava
esperando para conversar com ela e nada de Cibele
aparecer.
Entediado, eu abri a página do jornal a fim de
ler alguma coisa interessante. Uma reportagem
sobre a festa em comemoração ao aniversário da
OAB estadual, que acontecia neste final de semana,
despertou a minha atenção. Constava na referida
matéria que todas as autoridades seriam
convidadas para prestigiar o evento. Além de
advogados, estariam presentes juízes, promotores,
procuradores e delegados de polícia.
Me lembrei de ter recebido um convite nos
últimos dias sobre o evento, mas como eu andava
muito atarefado, nem deu tempo para estar a par
do que realmente aconteceria. Certamente a Milena
também recebeu o mesmo convite que eu e se faria
presente nessa festa. E eu faria de tudo para que
ela estivesse ao meu lado essa noite.
— Edu, que surpresa! — disse Cibele, se
aproximando.
— Olá, Cibele. — Deixei o jornal sobre a mesa
de centro e me levantei pegando a sacola que
continha as coisas dela.
— Eu não sabia que você estava a caminho,
senão eu estaria te esperando.
— Bem, eu não estou aqui para uma visita
social. — Esclareci e ela torceu os lábios. — Eu vim
até aqui entregar isso.
— O que é isso? Um presente?
— Não! Isso é mais uma de suas armadilhas
para forçar a nossa reaproximação — respondi com
sarcasmo enquanto ela pegava os objetos.
— Ah, a minha calcinha vermelha. — Ela
voltou a sorrir maliciosamente segurando a peça de
roupa nas mãos. — Eu me lembro de que você
adorava quando eu a usava. — Cibele largou a
sacola no sofá e se aproximou para passear as mãos
no meu peito.
— Cibele, por favor, não faça isso! — Agarrei
seus pulsos com firmeza fitando-a com
desaprovação.
— Edu, nos dê mais uma chance! Eu prometo
que dessa vez as coisas serão diferentes — Cibele
suplicou em vão, pois sabia que embora eu a
quisesse de volta, o que não era o caso, nada
mudaria.
— Não existe “nós”! — Eu a soltei e dou dois
passos me distanciando. — Cibele, você tem que
aceitar que terminou tudo entre a gente. Eu e você
somos muito diferentes no modo de pensar e agir.
Nunca dará certo!
— Mas eu te amo, Edu! — Ela ignorou minhas
palavras e se aproximando novamente.
— Cibele, escute. Você precisa se amar mais,
precisa ter uma ocupação em sua vida. Você precisa
preencher seus dias com algo produtivo em vez de
ficar passeando em shopping e salões de beleza —
disse em tom sério e ela interrompeu os passos
para me fitar de olhos estáticos. — Por que você
não tenta arrumar um trabalho na sua área ou
talvez trabalhar com o seu pai?
— Eu odeio a área administrativa e odeio as
indústrias Britto — grunhiu se referindo as
empresas de sua família. Não podia culpá-la por
ser do jeito que era. A mãe de Cibele a criou como
se ela fosse uma boneca de porcelana, que se cair
ao chão podia se quebrar. Então, a garota cresceu
mimada.
— Sinceramente Cibele, você está sendo
hipócrita em odiar as indústrias Britto, já que seu
pai te sustenta com os lucros dela. Todas as suas
idas ao shopping, e seus gastos são pagos por ela.
Eu espero que você reflita sobre o que eu disse. Até
mais! — Estava caminhando em direção à saída
quando percebi, pelo canto dos olhos, que Cibele
me seguia com um olhar de coitadinha.
— Você já vai? — indagou parando atrás de
mim.
— Sim. Eu só vim entregar as suas coisas —
disse abrindo a porta.
— Que pena... — lamentou-se engolindo em
seco, visivelmente frustrada.
— Adeus, Cibele. E se cuide! — Eu me despedi
e deixei o apartamento dela o mais depressa
possível.
Por mais que eu quisesse dizer alguns
desaforos, eu me abstive. Cibele não fez por mal ao
esquecer suas coisas em minha gaveta. Ela só
estava tentando me reconquistar a qualquer custo.
Foi criada sem limites, e acreditava que podia ter
tudo o que quisesse ao estalar os dedos. Era
irritante, mas ao mesmo tempo, era apenas
patético.
Depois de ter a conversa com minha ex-
namorada, eu aproveitei para ligar para o Conrado
e marcar um happy hour. Estava interessado em
descobrir qual foi o motivo que o levou a ficar por
três meses no continente australiano. Algo me
dizia que o meu primo podia estar encrencado e, se
ele estivesse, eu queria saber de tudo. Afinal, eu o
tinha como um irmão e vice e versa.
Cheguei ao pub onde costumávamos nos
encontrar e, para minha surpresa, Conrado já
estava a minha espera, acomodado a uma mesa.
— E eu que achei que você inventaria
desculpas novamente, Conrado.
— Você e suas suposições equivocadas, Edu. —
Ele me encarou com um ar debochado e chamou o
garçom para nos atender. Pedimos duas cervejas e
o rapaz trouxe os pedidos, deixando as bebidas
sobre a mesa.
— E o Gui? — indaguei após beber um gole da
cerveja gelada.
— Eu o deixei na escolinha de futebol antes de
vir para cá.
— Estou com saudades do garoto. Quero ver o
meu afilhado — rosnei em tom de brincadeira, pois
Conrado sabia que sentia saudades do menino.
— E ele também está com saudades de você.
Um dia desses vamos até o parque para um passeio
de bicicleta. O que você acha? — Percebi que a
sugestão do Conrado não era apenas pelo filho e
sim por ele também.
— Sim, será legal. — Inclinei o corpo para
frente e apoiei os braços sobre a mesa. Conrado
tinha que se abrir comigo. Eu precisava saber o que
está deixando-o tão preocupado. — O que está
havendo?
— Não está acontecendo nada. Pare de ver
fantasmas, primo! — Conrado tinha uma
personalidade mais forte do que a minha. Era um
verdadeiro Guerra em todos os sentidos da palavra.
Era duro consigo mesmo e não admitia que os
outros o ajudassem. O único que conseguia
amolecer um pouco o coração dele era o seu filho.
— Conrado, eu não sou o Gui e nem a dinda
Wanda que você engana com suas desculpas
esfarrapadas. — Usei o nome da mãe dele de
propósito, sabendo que a menção da minha
madrinha iria mexer com ele. — Desembucha logo.
O que está acontecendo?
O meu primo voltou a respirar fundo e
inclinou o corpo para frente, ficando mais próximo.
Percebi que a inquietação tomou conta dele e
minha apreensão aumentou.
— O passado não me deixa em paz, primo.
— O que diz respeito à Alice? — questionei,
mencionando a sua esposa falecida há quatro anos.
Conrado não disse nada e somente me fitou com o
semblante preocupado. Sabia que meu primo não
se abriria tão facilmente, mas não acreditava que
ele estivesse guardando segredos. E, como eu não
queria deixá-lo ainda mais tenso, eu me abstive de
fazer novas indagações. — Porra, Conrado! Eu
achei que isso tinha acabado!
— Não acabou. Terei que fazer algo para que
isso termine. — Ele tomou mais um gole de cerveja
e seus olhos vaguearam. — Eu fiquei um tempo
fora do Brasil porque quero manter o meu filho em
segurança. Você sabe que ele é tudo que eu tenho.
— Sim, eu sei. — Concordei e apertei o seu
ombro em solidariedade. — Você sabe que pode
contar sempre comigo, não é? Não hesite em me
chamar, Conrado. Nunca!
— Eu sei, Edu. Mas tem coisas que ninguém
pode resolver a não ser nós mesmos.
Nesse instante eu avistei Milena entrar no pub,
acompanhada de uma garota de cabelos ondulados
castanhos claros, corpo curvilíneo, feições
delicadas, pele branca e olhos cor de mel. Milena
estava conversando tão animadamente com a
garota que não percebeu a minha presença no
local.
Voltei a recostar o corpo à cadeira enquanto
Conrado lançava um breve olhar por cima do
ombro, em direção ao meu foco de atenção. Ele me
encarou e um sorriso divertido pairou em seus
lábios. Ignorei por um breve momento a malícia de
meu primo e fixei o olhar em Milena, que quando
me viu, arregalou os olhos, surpresa.
— A gata cor do pecado. — Conrado realmente
não esqueceu o apelido que criou para ela. — Eu
pensei que você repudiasse o pessoal do Ministério
Público, Edu. Mas estou vendo que seus conceitos
estão mudando. Desde quando está trepando com
a doutora Milena?
— Ãhn?! — Pigarreei sem jeito, bebendo um
gole da minha cerveja que passou de gelada para
ultraquente em fração de segundos. — E quem
disse que estou pegando a Milena? Você está louco,
Conrado? — Tentei parecer casual, mas meu primo
continuou rindo e balançando a cabeça de um lado
para o outro.
— Agora é a sua vez de se fazer de
desentendido, não é? Está estampado na sua cara
de safado que você está comendo e se esbanjando
naquele corpo. Vai negar? Me poupe, Eduardo Luís
Guerra!
— Olha só, Conrado Coimbra Guerra. As
minhas regras ainda estão de pé. — Ergui o dedo
para ele, que não demonstrou intimidação.
— E como diz o Gui, Papai Noel e Coelhinho
da Páscoa existem! — ironizou sorrindo.
— Estou sendo sincero com você. — Na
verdade, não estava sendo sincero, mas acreditava
que ele não tinha como saber sobre isso. Eu
quebrei algumas regras depois que conheci a
Milena. Achava que eu estava quebrando as minhas
próprias normas. Ah, foda-se as minhas regras!
— Edu, eu preciso ir. — Ele olhou para o
relógio de pulso, se levantando.
— Já?! — exclamei admirado, pois fazia não faz
nem trinta minutos que estávamos ali.
— Sim, eu tenho que passar no supermercado
antes de pegar o Gui na escolinha.
— Certo! Mas eu não vou embora agora. —
Abri um sorriso repleto de segundas intenções,
enquanto dividia minha atenção entre meu primo e
Milena, que me olhava vez ou outra.
— Você não tem jeito mesmo, Edu! —
exclamou me olhando incrédulo enquanto
caminhava comigo até o balcão para pagar a conta.
— Conrado, você sabe que eu tenho um grande
apetite sexual. Milena é fenomenal e sabe como me
animar. Sou macho e gosto muito de uma
bocetinha. Sei que você me entende — sussurrei e
ele soltou outra risada baixa se aproximando do
caixa.
— Você e seus termos sujos — Conrado disse e
eu esbocei outro sorriso, só que dessa vez era
irônico.
— Olha só quem fala. Até parece que você é
santo, doutor Conrado. — Zombei e ele sorriu
divertido.
— A minha vida sexual é bastante intensa,
confesso. Não é qualquer mulher que me aguenta
— falou sorrindo de canto com cara de safado. — E
sim, doutor Edu, eu adoro uma boa sacanagem. —
Ambos caímos na risada. Lancei um olhar rápido
em direção à deusa de ébano, que me observava
pelo canto dos olhos e sorri.
Não perderia essa chance por nada. Era hoje
que iríamos conversar e essa teimosa ia acreditar
que estava falando a verdade. Eu podia até ser um
safado que adorava um rabo de saia, mas não era
hipócrita. Faria de tudo para que ela percebesse a
minha verdadeira essência. Queria que Milena
visse que estava realmente interessado nela. Aliás,
mais interessado do que eu cogitei.
Capítulo 10

Milena

Sentia meu corpo inteiro ganhando vida sob o


olhar penetrante do Edu. Era irritante perceber que
o miserável estava tão lindo sem fazer esforço. E
ainda por cima tinha aquele sorriso, capaz de fazer
qualquer calcinha evaporar graças ao calor que ele
produzia no meu corpo. Ergui uma sobrancelha
sugestiva em sua direção e em seguida, decidi me
dedicar à Lívia, que estava acomodada a minha
frente. Falar era mais fácil do que fazer, e percebi
que não fazia a mínima ideia sobre o que minha
irmã estava falando. Maldito Eduardo Luís Guerra!
— Maninha, você está me ouvindo?
— Ãhn?! Sim, claro que sim. — Concordei com
a cabeça, mesmo que não fosse verdade, pois não
queria magoá-la. Nesse instante eu reparei que Edu
estava se despedindo do Conrado e caminhando
em nossa direção. A surpresa foi tão grande, que eu
me engasguei com a bebida.
— Você está bem, Lena? — Minha irmã me
chamou pelo meu apelido de infância, preocupada.
Mas não podia culpá-la, porque devia ter feito um
espetáculo e tanto. Edu chegava de mansinho às
costas de Lívia.
— Milena! — ele exclamou, ao parar ao lado de
nossa mesa. Seu olhar estava cheio de diversão,
enquanto sorria de forma inocente, como se
estivesse passando e esbarrou em um conhecido.
Até parecia!
Lívia ergueu a cabeça para olhar para Edu e
seu queixo caiu. Minha irmã era mais uma que
estava boquiaberta com a beleza do safado. Ela
engoliu em seco enquanto analisava o corpo dele
de cima a baixo. Edu percebeu que minha irmã
estava momentaneamente abduzida por sua
masculinidade surreal, e pigarreou passando a mão
pelo cabelo.
Eu não sabia mais o que eu sentia, pois se não
estivesse sentada na cadeira teria caído aos pés
dele como um saco de batatas. Mas não deixaria
que seu charme mexesse com meu corpo
novamente. Não depois de ter encontrado em sua
gaveta peças íntimas e bilhetes melosos de outra
mulher.
— Olá, eu me chamo Eduardo. Prazer! — Ele
estendeu a mão em direção a Lívia, se
apresentando formalmente.
— Oi, sou Lívia, irmã da Milena.
— Irmã?! — Ficou óbvio que Edu se
surpreendeu, pois lançou um olhar em nós duas,
como se tentasse encontrar alguma semelhança.
Desconfortável, eu deixei o copo sobre a mesa
e ergui o queixo para fitá-lo. Em vez de encontrar
em sua expressão algum tipo de divertimento pela
situação, o que eu vi foi um Edu sorridente e com
ar amigável. Ele estava escondendo a sua reação?
Não estava acostumada com esse desinteresse.
Toda vez que nos apresentávamos como irmãs, as
pessoas faziam algum comentário apontando o fato
de que éramos muito diferentes.
— Eu posso me sentar com vocês? — Ele
quebrou o silêncio puxando uma cadeira ao meu
lado. Respirei fundo e tentei acalmar meus nervos.
Estar tão próxima dele fazia com que o meu corpo
reagisse instantaneamente. E eu precisava de
alguns segundos para ordenar meus pensamentos.
Como era possível que a simples presença do Edu
me abalasse tanto?
— Oi, Edu. Eu não sabia que você estava aqui.
— Finalmente minha voz saiu em tom normal.
— Eu estava conversando com o Conrado, mas
ele teve que sair.
— Você é juiz criminal, não é? — perguntou
Lívia interessada.
— Sim, eu sou. E você, é formada em Direito
também? — Edu colocou os braços em cima da
mesa e me deliciei olhando seus bíceps bem feitos.
— Não, eu sou psicóloga. — Ela sorriu. — Lena
é a apaixonada por leis da família.
— Lena! — Ele voltou seus olhos verdes
acinzentados para mim. — Bonito apelido!
— É um apelido adquirido na infância. — Tive
a impressão de que a minha voz falhou um pouco,
mas abri um sorriso para disfarçar a tensão que
sentia.
Um silêncio se instalou na mesa. Lívia bebeu o
restante de seu suco de maracujá enquanto eu e
Edu nos fitávamos por um breve momento. Desviei
meus olhos dos seus, encontrando minha irmã com
um sorriso muito malicioso nos lábios. Não me
faltava mais nada!
— Milena, eu preciso conversar com você. — O
modo como ele pronunciou meu nome mexeu
comigo. — Mas não farei isso agora. Afinal, eu não
quero estragar o encontro com a sua irmã.
— Não se preocupe quanto a isso. Eu posso
deixá-los a sós. — Minha irmã se antecipou,
deixando o copo vazio em cima da mesa e pegando
a bolsa do encosto da cadeira. Mas que complô era
esse? Lívia era minha irmã ou minha inimiga?
— Oh, por favor, Lívia. Não precisa ir embora.
Eu falarei com a Milena mais tarde. — Ele alternava
o olhar entre nós duas, deixando claro sua decisão.
— Eu te procuro depois para a gente conversar,
Milena. — Edu se levantou rapidamente sem me
dar tempo para respirar, quanto mais responder
alguma coisa. — Foi um prazer conhecê-la, Lívia.
— O prazer foi meu, doutor Eduardo. — Sorriu
minha irmã, animada. Lívia precisava de um
babador! Que fiasco!
— Por favor, me chame de Edu.
— Até mais tarde, Lena. — Ouvir meu apelido
saindo da boca do Edu me deixou desconcertada. E
pela maneira como ele observava minha reação,
tinha certeza de que fazia de propósito.
— Até mais, Edu — eu me despedi sorrindo.
Ele se distanciou e deixou o restaurante
caminhando elegantemente. Sem perceber, eu e
Lívia acompanhamos seus passos até a saída.
Quando encarei minha irmã, ela ergueu uma das
mãos e começou a se abanar, como se o ar lhe
faltasse. Edu Guerra acabava de fazer mais uma
vítima.
— Lena, que homem é esse? Minha Nossa
Senhora das Calcinhas Molhadas! Que sorriso mais
quente que Edu tem! É um sorriso de... de... Ai, sei
lá! Só sei que quando ele sorri, o ar parece faltar.
— Não exagera Lívia, por favor — disse
incomodada, prevendo o que estava por vir. Ela
estreitou os olhos para mim e inclinou o corpo para
frente.
— Minha irmãzinha, você está dormindo com o
doutor Guerra! — exclamou acertando em cheio. —
Quero saber desde quando você está tendo um
caso com aquele pecado ambulante. Desembucha,
Lena! — Lívia voltou a se recostar na cadeira,
cruzando os braços sobre o peito.
— Não tenho nada para contar Lívia, você está
enganada.
— Lena, para de me enrolar. — Lívia riu
baixinho, colocando a mão sobre a boca para abafar
o som. — Edu só faltou arrancar a sua roupa com
os olhos e transar com você aqui na mesa. — Fiquei
de queixo caído com sua declaração, mas ela me
ignorou e continuou falando: — Jesus Cristo! Se
um homem me olhasse do modo como ele te
olhou... Bem, eu não sei o que eu faria. — Sorriu
com ar maroto. — Mas, uma coisa eu te digo: daria
meu dedo mindinho para presenciar a conversa de
vocês logo mais.
— Pare com isso, Lívia. Meu relacionamento
com Edu é estritamente profissional. — Mantive
minha feição séria, torcendo para que ela
acreditasse no meu blefe.
— Pare você de me tratar como se eu fosse uma
criança de cinco anos, Milena! — Rebateu fazendo
uma careta. — Eu quero saber como ele é na cama.
Deve ser um míssil teleguiado, hein?
— Está bem, Lívia! Eu responderei a sua
pergunta para acabar logo com essa conversa. Mas
nós não estamos aqui para falar de mim e sim de
você! — Apontei o dedo para ela. — Edu e eu
ficamos duas vezes, apenas isso. Ele é quente,
intenso, mas é um safado. E um homem como esse
não tem relacionamentos sérios. Satisfeita?
— Eu concordo com você nesse ponto. Os
homens são todos iguais e não prestam, Lena! E é
por isso que eu não acredito neles!
— Lívia, você está exagerando!
— Eu só estou constando a veracidade dos
fatos. Não é esse o termo legal? — Ela arqueou
uma sobrancelha zombeteira.
— Mana, como você pode dizer que homens
são todos iguais se você teve um único namorado
até hoje e faz um bom tempo que não sai com
ninguém?
Agora foi a minha vez de lançar-lhe um olhar
especulativo. Lívia se remexeu na cadeira e eu
percebi que meu comentário a deixou incomodada.
Nem sempre conseguia decifrar o que se passava
na cabeça dela. Minha irmã era muito reservada
quanto a sua vida pessoal.
— Não quero falar sobre o Israel e nem sobre
relacionamentos — respondeu se referindo ao seu
ex-namorado. — Eu decidi viver sozinha e você
sabe disso. E vamos mudar se assunto, por favor!
Concordei em silêncio, pondo um fim na
conversa. Bebi um pouco de suco e decidi falar
sobre sua carreira.
— Você me contou como está o papai e a
mamãe e falou também que está desgostosa em
relação ao seu emprego na clínica do doutor
Peixoto. Então o que você fará em relação a sua
carreira?
— Eu pedi demissão.
— Por quê? — perguntei atônita.
— Lena, eu fui aprovada em uma universidade
europeia para fazer uma pós-graduação. — Apesar
de ser uma notícia maravilhosa, seu olhar estava
triste, o que me confundiu.
— E você não parece feliz. Por quê?
— Eu não tenho dinheiro para custear o curso
— disse sem jeito, abaixando os olhos.
— Lívia, quando encerram as inscrições? — Ela
ergueu os olhos cor de mel para me olhar.
— Esta semana, mas eu não farei...
— Faça a inscrição ainda hoje. — Eu a
interrompi, decidida. — Será um presente meu!
— Lena! — Lívia deu um gritinho de felicidade
e se levantou da cadeira para me abraçar. — Ah,
nem sei o que fazer para agradecer a sua ajuda
financeira para custear a minha pós. Muito
obrigada, Lena. Você é a melhor irmã do mundo. —
Ela me soltou radiante e voltou a se acomodar na
cadeira.
— Não precisa me agradecer, Lívia. Eu faço
tudo por você, pelo papai e pela mamãe. Vocês são
tudo que eu tenho — falei com carinho.
— Sim, eu sei. Se não fosse você, os nossos pais
não teriam um seguro de vida, ou um plano de
saúde decente. Eu tenho orgulho de ter uma irmã
como você!
— Eu digo o mesmo, maninha — respondi com
ternura, pois sabia que minha família era o bem
mais precioso que possuía.
— Mas eu irei te reembolsar o valor do curso.
Será só um empréstimo — disse orgulhosa e eu
revirei os olhos.
— É um presente e não um empréstimo. E
presentes não se pagam. — Dei uma piscadinha e
ela voltou a sorrir de felicidade.
Conversamos por mais algum tempo e depois
nos despedimos. Lívia foi para sua casa e eu para a
minha. A conversa que tive com minha irmã e sua
aversão aos homens me deixou pensativa. Não
entendia o que estava acontecendo com ela e isso
me preocupava. Tinha a impressão de que existia
uma história por trás de todo o discurso de
“homens não prestam”. Mas se existisse tal
história, Lívia não estava pronta para compartilhar.
Eu precisava ficar atenta e deixar claro que estava
do seu lado e que ela podia contar comigo. O que
estava acontecendo com a Lívia?

***

Após chegar em casa e tomar um longo banho,


me joguei no sofá esperando por Malu.
Combinamos de passar uma noite tranquila no
apartamento, com direito a pizza e filme. Enquanto
esperava por ela, aproveitei para assistir pela
milésima vez Magic Mike. Juro que não me cansava
de ver Channing Tatum tirar a roupa nesse filme,
ou de admirar a beleza de Joe Manganiello. Estava
concentrada em uma cena de striptease dos dois
gostosões, quando a campainha tocou. Desviei os
olhos da tevê para fixá-los no relógio de parede e vi
que já passa das oito horas da noite. Será que era
Malu que estava subindo sem avisar? Ou era Edu
que estava do outro lado da porta?
Desliguei a televisão e amarrei o cinto do
roupão de seda. Ao abrir a porta, me deparei com
Edu encostado no batente. Ele estava muito bonito,
vestindo uma calça jeans clara e camiseta em tom
salmão. Seu cabelo estava molhado, dando a
impressão de que ele acabou de sair do banho.
Inspirei profundamente e fiquei encarando-o por
mais tempo do que era socialmente aceitável. Ao
perceber que eu estava inspecionando cada
milímetro do seu corpo, Edu me encarou de volta.
— Oi, Milena. Você está sozinha? — O seu
olhar vagueou lentamente pelo meu corpo. Seu
jeito era tão intenso que eu quase conseguia sentir
seus dedos percorrendo os locais onde ele estava
me analisando. Fiquei muito consciente de que
estava usando apenas um curto roupão e meu
corpo começou a se aquecer.
— Edu, como você subiu sem avisar? —
questionei de modo tão abrupto que a tensão
sexual se dissipou me deixando mais confortável
diante dele.
— Olá, para você também — zombou. — Eu
posso entrar?
— Acho melhor não. Se você veio até aqui
para...
— Eu vim até aqui para conversar com você e é
isso que eu farei. Quer você queira ou não! —
Revirei os olhos e sua proximidade súbita me
deixou ligeiramente perdida. Para não sucumbir
diante dele, eu caminhei em direção à sala. Edu
entrou e fechou a porta atrás de si.
— Você está perdendo seu tempo se pensa que
cairei em seu papo furado! — Rosnei, virando-se
para ele, com os braços cruzados sobre o peito.
— Eu vim até aqui para me explicar. Eu quero
ser transparente com você, Milena. — O tom de sua
voz soou sério, controlado. Fixei meus olhos nos
dele e vi que ele não estava mentindo para mim.
Me sentei ao sofá e apontei um lugar para ele,
de frente para mim. Mas Edu me ignorou e se
acomodou ao meu lado, fazendo com que eu
tivesse que virar o meu corpo em sua direção. Seus
olhos estavam brilhando, mas de forma diferente
da qual estava acostumada. Não era um olhar
predatório ou até mesmo malicioso. Era como se
ele estivesse pedindo para que eu o
compreendesse.
— Milena, eu sei o que você pensou quando
encontrou aqueles objetos da Cibele em minha
gaveta.
— Sim, eu acho que você sabe. — Senti o meu
corpo retesar. Ouvir Edu explicando sobre outra
mulher não seria fácil.
— Eu procurei a Cibele e nós dois
conversamos. Entreguei as coisas a ela e coloquei
um ponto final nessa história.
— Mas achei que as coisas entre vocês já
estivessem sido esclarecidas. Ela não é sua ex? —
Perceber que estava incomodada com a explicação
me deixou ainda mais nervosa. Desde quando a
vida pessoal de Edu me dizia respeito?
— Sim, eu e Cibele terminamos há dois meses.
— Seus dedos percorreram o cabelo escuro
molhado, demonstrando que ele estava
desconfortável com essa conversa. — Cibele não
aceita o fim da nossa relação, e faz joguinhos para
conseguir o que quer.
— E você a quer de volta?
— Claro que não! — O rompante dele me
pegou de surpresa. — Milena, o que eu quero que
você saiba que eu não tenho mais nada nem com a
Cibele e nem com ninguém! — Sua mão macia
tocou a minha em cima do colo. Senti a conhecida
sensação de fogo se espalhar em meu corpo e me
acender de imediato. Confusa e um pouco
temerosa, eu me levantei abruptamente buscando
ar nos pulmões.
— Você não me deve satisfação de sua vida —
Ele se levantou para ficar frente a frente comigo,
muito próximo. — Eu e você somos... Somos
colegas de profissão e...
— Que papo furado é esse, Milena? Eu e você
não somos apenas colegas de profissão. Entre nós
há muito mais do que isso e você sabe.
— Edu, por favor, vamos manter a nossa
relação apenas profissional. — Mas que merda era
essa que estava dizendo?
— Eu sei que você não quer apenas isso. —
Sorriu e me puxou de encontro a si, colando meu
busto em seu peito. Uma corrente elétrica
despertou em meu corpo quando senti uma de
suas mãos sobre o fino tecido de seda. Seus dedos
deslizaram em minhas costas até chegar a minha
nuca. Edu entrelaçou seus dedos em meus cachos
soltos e cheirou a minha pele.
No instante seguinte a sua boca estava na
minha, me beijando com tanta urgência que
chegava a doer os meus lábios. Edu me apertou
ainda mais contra seu corpo enquanto nossas
línguas faziam uma dança sensual. Me Esqueci de
tudo e enrosquei meus dedos em seu cabelo
levemente úmido. O que eu mais desejava era
senti-lo em mim, seu gosto, seu cheiro, seu toque
que me deixavam enlouquecida querendo mais.
Muito mais.
Não tinha dúvidas de que ele me desejava com
a mesma intensidade, pois sentia sua ereção
proeminente apertar o meu ventre. Nunca em
minha vida eu conheci um homem com a pegada
forte de Edu Guerra. Já conheci alguns safados
conquistadores, mas como ele, intenso, quente e
alucinante era a primeira vez.
Sem separar as nossas bocas, ele nos levou até
a parede da sala de estar. Colocou meu corpo
contra o concreto e me prendeu com o peso do seu.
Uma de suas mãos deixou a minha cintura e
escorregou em direção à minha perna. Ele afastou o
tecido de meu roupão e ergueu minha coxa para
cima, apertando a minha bunda. Eu mordi de leve
seu lábio inferior enquanto ele soltava um gemido
sexy que se uniam aos meus.
O beijo passou de intenso para pornográfico.
Sua boca se alimentava de mim, me fazendo viajar
para outra dimensão. Edu moveu os lábios macios
contra os meus com sensualidade e eu enlouqueci.
Arranhei sua nuca, desci com as unhas pelo seu
pescoço e meus dedos deslizaram para dentro de
sua camiseta.
Quando estava prestes a levá-lo para o meu
quarto e saciar a fome de ambos, a campainha
tocou. Ignorei o barulho e continuei a me esfregar
nele, atiçando-o. A campainha tocou novamente e
Edu separou nossas bocas, ofegante.
— Milena, você está esperando alguém? — Ele
estava arrumando a camisa e tentando manter um
pouco da compostura, enquanto eu ainda tentava
raciocinar.
— É a Malu! Nós havíamos combinado uma
noite de garotas.
— Acho bom você atender a porta.
Saí até a porta e ao abri-la encontrei Malu
sorridente, segurando uma caixa de pizza em uma
das mãos. Ela entrou no apartamento e quando se
deparou com Edu, ficou estática. Seus olhos
tornaram-se brilhantes e divertidos ao perceber
que eu não estava sozinha. Sem jeito, ela pigarreou
e voltou seus olhos verdes para mim.
— Desculpe, eu não sabia que você estava com
visitas, Lena.
— Não se desculpe, Malu. — Edu sorriu e se
aproximou para cumprimentá-la. — Olá, como vai?
— Estou bem e você? — ela respondeu
cumprimentando-o com dois beijinhos no rosto.
— Estou muito bem — ele garantiu lançando
um olhar quente para mim. — Eu estou aqui para
convidar a Milena para um evento que acontece
nesta semana. — Eu pisque sem entender, e ele
prosseguiu me olhando. — A festa de aniversário
da OAB acontece no próximo sábado. Milena, você
recebeu o convite, né?
— Oh, é claro. Eu recebi sim! — respondi me
lembrando de que Aline, minha assessora, havia
deixado esse convite em cima de minha mesa há
poucos dias.
— Que maravilha! — Malu estava com um
grande sorriso e obviamente animada com a ideia
de irmos a uma festa juntos.
— Milena, você me acompanha neste evento?
— perguntou interessado, parando ao meu lado.
Olhei para ele que espera ansioso por uma
resposta e em seguida lancei um breve olhar para
minha amiga que sorria alegre como uma criança.
Voltei a fitar Edu e não sabia exatamente o que
dizer. Será que isso era uma boa ideia? Afinal, o
que ele queria demonstrar me convidando para ser
sua acompanhante em um evento, que contaria
com a presença das autoridades máximas da
cidade? O doutor Guerra estava armando algo ou
apenas tentando me conquistar? Essas e outras
perguntas pipocavam em minha cabeça, me
deixando confusa.
— Você vai, né Lena? — indagou Malu, me
tirando de meus pensamentos temerosos.
— Bem, eu... Eu irei sim — afirmei e Edu sorriu
satisfeito.
— Então você aceita ser minha acompanhante,
Milena?
— Sim, eu aceito!
— Que ótimo! — Edu exclamou radiante, se
movendo até a porta. — Bem, eu tenho que ir. Vou
deixar vocês duas curtindo a noite das garotas.
Amanhã a gente se encontra no Fórum.
— Até amanhã, Edu! — Sorri sem jeito devido
ao olhar especulativo da Malu.
— Sim, até amanhã! — Ele sorriu e deixou o
apartamento, fechando a porta atrás de si.
Voltei o olhar para Malu que não reprimiu mais
o sorriso que se alargou em seus lábios.
Desconsiderei a sua malícia e caminhei até o sofá.
Ela deixou as coisas sobre a mesa da sala de jantar
e veio se acomodar ao meu lado, no sofá de três
lugares.
— Desembucha tudo, Lena! — Ela puxou as
pernas para cima do estofado e me intimou a
contar-lhe o que houve.
E a noite transcorreu animada. Enquanto
saboreamos a pizza, eu contei as últimas
novidades. Mas em meu pensamento havia apenas
uma pergunta: qual era a razão para Edu ter me
convidado para acompanhá-lo nessa festa? Ele
estava jogando outra vez? Se estivesse, eu achava
bom ele ter um “rei” guardado na manga, por que
as cartas de “às” estavam todas comigo.

***

O restante da semana passou muito rápido e o


sábado chegou. A expectativa me deixou ansiosa e
tentei conter a ansiedade tomando um banho
relaxante de espuma. A água ligeiramente morna
ajudava a manter o autocontrole e relaxar o corpo.
De banho tomado e as unhas devidamente
pintadas em tom claro, eu saí em direção ao closet.
Peguei o vestido longo, justo, de pedras douradas,
da Glória Coelho, o qual deixava parte das costas à
mostra e me vesti. Calcei minhas sandálias pretas,
de salto alto, e caminhei até o espelho.
Hoje eu optei por fazer uma escova em meu
cabelo, deixando-o sem os costumeiros cachos.
Mais cedo, no salão, enquanto uma das
cabeleireiras cuidava das minhas unhas, a outra
fazia o meu cabelo. Era bom mudar um pouco o
visual e o meus fios ajudavam, pois se adaptavam a
qualquer penteado com facilidade.
Fiz uma maquiagem mais carregada para festa,
passando uma sombra escura e esfumando o canto
dos olhos, para dar mais realce a eles. Passei um
pouco da fragrância do meu perfume predileto, 212
Sexy da Carolina Herrera, que eu gostava e sabia
que Edu adorava. Terminei o look passando um
rímel e um batom cor de pêssego em meus lábios.
Me olhei no espelho e gostei da imagem que vi.
Desci o olhar em meu decote generoso e de
imediato me veio à mente Edu. Tinha certeza de
que ele iria apreciar o decote, pois adorava seios.
Eu sabia que o deixaria louco com esse vestido.
Sinceramente, esse era o meu objetivo. Dei uma
piscadinha para o meu reflexo, peguei minha bolsa
de mão e saí.
Ao chegar no hall do meu prédio, eu encontrei
Edu me esperando. Eu que achei que ele não podia
ficar mais desejável e sensual do que era no dia a
dia, mas me enganei. Ele estava lindo e másculo em
um terno cor grafite, gravata cinza e camisa branca.
Tinha o rosto lavado, a barba feita e o cabelo
penteado em um estilo mais elegante. O desejo me
invadiu com toda sua fúria, e eu respirei com
dificuldade. Minhas pernas tremeram, o coração
bateu acelerado e a minha boca ficou seca. Edu
abriu um sorriso de canto e senti o chão sumiu
abaixo de meus pés. Jesus, Maria e José! Essa noite
prometia muitas emoções regadas à calcinha
molhada.
Sorri retribuindo a recepção que foi dada por
ele e caminhei em sua direção. Seus olhos verdes
acinzentados analisaram cada milímetro de meu
corpo. A intensidade de seu olhar era tanta, que eu
me senti como se estivesse nua diante dele.
— Minha deusa de ébano! — Ele me envolveu
pela cintura e sem cerimônias me deu um beijo
rápido na minha boca. Tanto o gesto como o beijo
me pegou desprevenida. Edu me soltou o mínimo
possível para voltar a sorrir com os olhos
cintilantes. — Você está esplêndida, Milena! Terei
que cuidar para que nenhum filho da mãe se
aproxime de você. — Que frase possessiva! Engoli
em seco e senti seus dedos irem e virem em meus
braços nus, despertando ondas elétricas em minha
pele.
— Que recepção mais calorosa, Edu. — Sorri
deslizando meus dedos em seu rosto.
— Não me provoque em público, Milena! —
Seus lábios se aproximaram de meu ouvido e ele
sussurrou: — Não vejo a hora de beijar seu corpo
inteiro e estar dentro de você. Vou te foder tanto
hoje, que amanhã você não conseguirá se sentar.
— Promessa é dívida! — Eu o provoquei,
abrindo um sorriso malicioso.
Edu agarrou a minha mão e me conduziu até
seu carro, que estava estacionado do outro lado da
rua. Nos acomodamos no veículo e em questão de
minutos estávamos nos movendo em direção ao
clube onde a festa acontecia.
A noite prometia e muito! Queria curtir cada
minuto ao lado desse homem que estava
despertando sensações adormecidas em mim. Não
deixaria nada e nem ninguém estragar a nossa
noite que seria excitante em todos os sentidos.
Capítulo 11

Edu

Chegamos à recepção e a maioria dos


presentes, fixou o olhar em nós dois e cochicharam
entre si. Enquanto as mulheres arregalavam os
olhos, estupefatas, os homens lançavam olhares de
desdém. Ignorei a todos e envolvi a deusa de ébano
pela cintura, cruzando o salão em direção a
Cassiano e Conrado, que conversavam do outro
lado.
Ao atravessar a pista, eu aproveitei para olhar
mais uma vez Milena, que estava divinamente
linda. O vestido longo e justo marcava de forma
clássica o contorno de seu corpo que me deixava
louco. E o decote... Ela sabia que eu achava lindo os
seus seios e usou este modelo de vestido somente
para me provocar. Certamente que a deusa tinha
planos perversos para o fim de noite. Bem, se os
dela eram perversos, os meus eram diabólicos.
A decoração da festa estava muito bonita. As
mesas estavam cobertas por uma toalha branca e
havia alguns botões de rosas vermelhas postos
sobre elas. Laços de cor vermelha estavam
amarrados ao redor das pilastras, deixando o
ambiente sofisticado. Esse ano a organização do
evento caprichou. Havia vários garçons servindo as
mesas com bebidas e salgadinhos variados.
Um garçom passou por nós e eu peguei duas
taças de champanhe, entregando uma a Milena que
sorriu animada. Ela bebeu um gole da bebida e
passou a língua nos lábios. Encarei sua boca e
precisei controlar a excitação. Respirei fundo
enquanto nos aproximamos de Conrado e Cassiano
que abriam um sorriso ao nos ver.
— Boa noite, pessoal. A festa está animada. —
Eu os cumprimentei com um breve aperto de mãos.
— A OAB está de parabéns. O evento deste
ano está muito mais movimentado que do ano
passado. — Sorriu Conrado lançando um olhar
especulativo para mim e para Milena.
— Milena, você conhece o meu assessor,
Cassiano Mello? — arrisquei, sabendo que eles só
se conheciam de audiências.
— Oh, sim! Claro que conheço. Tudo bem,
Cassiano?
— Tudo bem, doutora Milena. — Cassiano
devolveu o sorriso, lançando um breve olhar na
minha direção.
— É bom vê-los juntos. Vocês formam um belo
casal. — Conrado sabia que estava abusando da
sorte com esse comentário, mas tinha certeza de
que ele estava se divertindo com a situação.
— E então, têm muitos conhecidos presentes?
— Tinha noção de que minha pergunta era uma
maneira idiota de desviar do assunto, mas não via
alternativa.
— Sim, tem muita gente conhecida. Até
mesmo a Cibele está aqui — Cassiano respondeu e
eu enrijeci o corpo. O que a minha ex estava
fazendo em uma festa da OAB se ela não era
advogada?
Milena ergueu um pouco a cabeça e seus olhos
encontraram os meus. Percebi que a notícia dada
pelo meu assessor a surpreendeu tanto quanto a
mim. Eu só esperava que ela não estivesse
pensando besteiras, pois nem eu sabia que Cibele
estaria presente no evento. Com certeza a minha
ex-namorada veio com seu irmão mais velho, que
era procurador do Ministério Público. Mesmo
assim, eu precisava me manter em alerta. Afinal,
não sabia qual seria a reação dela quando me visse
com Milena.
— Cibele deve estar com o Mauro. — Dei de
ombros como se aquilo não importasse.
— Sim, ela está com o irmão e a família. —
Conrado estava atento na minha interação com
Milena e tentava amenizar a presença da Cibele.
Para demonstrar tranquilidade, eu a puxei um
pouco mais pela cintura e inclinei a cabeça próxima
ao seu ouvido. Ela estremeceu o corpo ao sentir o
contato de meus lábios no lóbulo de sua orelha.
— Nada vai estragar a nossa noite, minha deusa
— sussurrei e encarei seus olhos. Cassiano e
Conrado se entreolharam admirados, enquanto eu
e Milena sorríamos um para o outro.
— Assim espero, Edu.
Conversei um pouco mais com Conrado e
Cassiano. Em seguida, eu conduzi Milena até uma
mesa, onde nos acomodamos. Meu primo foi
conversar com Ricardo, seu amigo de longa data, e
Cassiano foi até alguns amigos advogados que
estavam do outro lado do salão.
Enquanto conversávamos assuntos triviais,
Milena e eu aproveitamos para degustar da comida
e bebida. Ela estava com ar descontraído e entre
um assunto e outro, saboreava alguns canapés e
doces feitos por um chef especialista em culinária
brasileira, muito requisitado na cidade. Eu assistia
a tudo atentamente, sem desviar meus olhos dela.
O sorriso que Milena ostentava em seu rosto e o
brilho de seus olhos voltados para mim era algo
que me deixa fascinado.
Com o propósito de espairecer um pouco, eu a
convidei para dançar ao som da banda que animava
o evento. Entusiasmada, ela envolveu sua mão a
minha e deixamos a mesa em direção à pista, onde
outros casais curtiam a noite assim como nós. E, ao
ritmo da música de Kid Abelha, Como eu Quero,
começamos a nos mover com os olhos presos um
no outro.
Ao redor da pista estavam alguns conhecidos
que nos observavam curiosos. Certamente eles
deviam estar surpresos, pois eu nunca tive tanta
liberdade com um membro do Ministério Público
como estava tendo com ela. Mas não me importava
o que essas pessoas pensavam. Nunca me deixei
levar pela opinião alheia. O que realmente era
relevante nesse momento era que eu tinha a deusa
de ébano em meus braços e nada nem ninguém iria
nos atrapalhar.
— Já disse que você está deslumbrante esta
noite? — sussurrei junto de seu ouvido, inspirando
o doce cheiro de seu perfume levemente adocicado.
— Sim, você já disse. — Sorriu escovando seus
dedos em minha nuca, despertando arrepios de
minha pele. — Edu, você me acha realmente
bonita?
Mas que pergunta sem fundamento era essa?
Milena tinha baixa autoestima?! Não! Eu me
recusava a acreditar que ela não se amasse ou não
se achasse bonita. Isso era totalmente atípico para
alguém linda como ela.
— Você é linda! Tem um corpo lindo, uma pele
perfeita, um rosto delicado. E não falo somente de
seu exterior, mas também de seu interior. Claro,
que ainda não te conheço plenamente, mas pelo
que percebi você é íntegra, determinada,
batalhadora — falei com sinceridade e ela sorriu.
— Edu, nem sei o que dizer. Você me
surpreende a cada dia, sabia? — Me aproximei
mais e escorreguei minha mão pelas suas costas
nuas, em direção a sua cintura.
— Minha deusa, eu não vejo a hora de arrancar
esse vestido de seu corpo e me enterrar em você. —
Apertei um pouco mais seu quadril, demonstrando
o quanto ela me dava tesão.
— E eu não vejo a hora de você cumprir todas
as suas promessas. — Ela me provocou falando
baixinho, erguendo a cabeça para deslizar
suavemente seus lábios em minha orelha.
— E eu as cumprirei. Pode ter certeza!
Demos as últimas voltas ao redor do salão e
quando a música terminou, voltamos a caminhar
em direção a mesa. Puxei a cadeira para Milena se
sentar, mas ela se deteve.
— Edu, eu preciso ir ao toalete retocar a
maquiagem.
— Eu espero por você’ aqui. Mas antes, eu
quero fazer isso. — Inclinei minha cabeça um
pouco para baixo e nossos lábios se tocaram
brevemente. O beijo foi rápido, porém intenso.
Quando a soltei, Milena olhou para os lados,
ofegante, com a mão na boca. Ela inspirou e,
lançando um olhar malicioso para mim, caminhou
até o toalete.
Enquanto a deusa de ébano estava retocando a
maquiagem, eu aproveitei para recuperar o
controle que perdi há pouco. Tinha que confessar
que Milena estava fazendo com que eu mudasse
alguns conceitos que tinha além de me
proporcionar momentos muito prazerosos. Ao lado
dela eu me sentia um novo Edu, e esse novo
homem estava experimentando sensações novas e
intensas.
O único receio que tinha era de que ela não
estivesse sentindo o mesmo em relação a mim. Não
sabia se suportaria uma rejeição da parte dela. Mas
que diabos eu estava falando? Desde quando eu fui
rejeitado por alguma mulher? Todas sempre caíam
aos meus pés. Se bem que ultimamente eu só tinha
olhos para Milena, e somente ela me interessava.
Balancei a cabeça para dissipar o pensamento
sem fundamento e me recostei na cadeira. Bebi um
gole de minha bebida e observei ao redor. Ao longe
eu vi que Conrado ainda conversava com Ricardo e
meu irritei. Nossos olhares se cruzaram e eu
semicerrei os olhos em direção ao delegado. Se
Ricardo pensava que eu esqueci o que houve no
restaurante, ele estava muito enganado. O nome
dele estava em minha lista. Queria ficar de olho no
delegado que era para ele não se aproximar mais da
Milena.
Fechei a cara para Ricardo e o desgraçado
ergueu o copo, com um sorriso estampado nos
lábios. Filho da mãe! Ele estava me provocando
deliberadamente em plena festa. Se o delegado
continuasse com suas provocações, eu partia da
teoria para a prática e transformava o salão em um
ringue de luta livre. Desde o acontecimento no
restaurante que estava me controlando para não
quebrar a cara dele. Ricardo que ficasse em seu
canto, que hoje eu não respondia por mim.
Desviei meu olhar do seu e senti alguém tocar
o meu ombro. Virei o rosto rapidamente e me
deparei com meu pai parado atrás de mim. A
surpresa foi tão grande que eu me levantei
abruptamente, ficando de frente para ele. Seu
Antonio Luís me fitava com olhar atento. Ele estava
vestido elegantemente em um terno escuro e
gravata vermelha. Como não me lembrei de que
meu pai poderia estar presente no evento? Como
pude me esquecer desse detalhe?
— Boa noite, meu filho. — Ele quebrou o
silêncio, esticando a mão em minha direção.
Permaneci imóvel e sem reação. Eu sabia que
esse maldito dia chegaria, mas nunca pensei que
meu pai usaria um evento público para tentar uma
reaproximação comigo. Típico golpe sujo. Ele
esperou por um momento e, percebendo que eu
mantive minha postura ereta, desistiu de me
cumprimentar e enfiou a mão no bolso. Respirei
profundamente e encarei meu pai. Não deixaria
que ele estragasse a minha noite.
— Eu não sabia que você estava namorando a
nova promotora. — Ele insinuou tentando puxar
assunto. — Você está mudando, Edu, e isso é bom.
— Pelo menos um de nós está mudando para
melhor, não é mesmo? — rebati com sarcasmo, não
contendo o desconforto. Afinal, o que o meu pai
sabia de verdade sobre mim? Nada!
— Meu filho, não seja tão cruel com seu velho
pai. Por favor, vamos conversar.
— Eu não tenho nada para conversar com você.
Com licença! — Eu tentei girar o corpo, mas ele
segurou meu braço, me detendo.
— Isso é criancice de sua parte, Eduardo! Você
seguiu a carreira do judiciário somente para me
afrontar — Meu pai era promotor aposentado do
Ministério Público e queria muito que eu seguisse
os seus passos. Fato esse que não ocorreu.
— Você quer chamar a atenção dos demais, é
isso Antônio? — Ignorei a sua pergunta e puxei o
meu braço de suas mãos, encarando-o com ar frio.
Meu pai não merecia o calor de meus sentimentos
de filho. Não depois de tudo que ele fez comigo e
com a minha mãe.
Ele levou uma das mãos no cabelo grisalho e
soltou um suspiro carregado. Quando voltou a me
fitar, seus olhos cinza estavam perdidos. Dei uma
rápida olhada ao redor e percebi que algumas
pessoas notaram a cena bizarra que havia entre
nós. Que maravilha! Agora éramos alvo de
cochichos e olhares especulativos dos convidados.
Olhei para frente e a minha noite se tornou um
completo caos. Elisa, a ex-amante do meu pai e
agora atual esposa, surgiu ao lado dele. Ela estava
usando um vestido azul longo e caro, como de
costume. O cabelo castanho claro estava preso em
um coque no alto da cabeça, deixando expostos os
brincos de pedras preciosas que ela ostentava na
orelha. Elisa sorriu para mim enquanto seus olhos
castanhos esverdeados me fitavam com
curiosidade.
— Boa noite, Edu! Que bom revê-lo depois de
tanto tempo — disse Elisa, sorrindo.
Não acreditava que ela havia puxado conversa
comigo. Quanta ousadia depois de tudo que ela fez
a mim e a minha mãe. Desviei meus olhos dela
para fixá-los em meu pai que assistia a cena com o
semblante sério.
— Não me ligue, Antônio, e muito menos
tente me procurar. Você tem uma nova família! —
cuspi as palavras para ele e saí pisando duro. Tudo
que eu precisava agora era encontrar Milena e
esquecer o episódio catastrófico que tive com meu
pai.
Cheguei à sacada para respirar. Fechei os olhos
por um momento, deixando a brisa suave tocar o
meu rosto. Nem sabia por que estava tão irritado:
se era pelo fato de ver o meu pai depois de mais de
dois anos, ou se era o fato de saber que ele e a
vagabunda que ele chamava de esposa estavam
felizes juntos. Era algo me corroia por dentro.
Precisava manter o controle de meus atos e
pensamentos, caso contrário a festa se
transformaria em um velório. Respirei fundo mais
de três vezes e girei o corpo em direção ao salão.
Meus olhos queimaram quando eu vi Ricardo
conversando com Milena. Não podia deixar a deusa
de ébano sozinha nem um minuto que já tinha
gaviões filhos da puta em cima dela. O que o
delegado queria? Me provocar ou conquistá-la?
Passei uma das mãos pelo cabelo e deixei a
sacada caminhando elegantemente com os olhos
fixos nos dois. Eles estavam entretidos conversando
sobre um assunto que eu não fazia ideia qual era,
mas eu descobriria agora.
Milena virou o rosto de lado e me encontrou
com o semblante duro e ameaçador. Vi que ela
engoliu em seco e uma rusga se formou no meio da
testa. O delegado olhou na mesma direção que ela
e, quando me viu, abriu um sorriso vitorioso. Era
hoje que eu cometia um crime doloso!
Capítulo 12

Milena

Edu se aproximava me encarando. O seu andar


podia denotar tranquilidade, porém seus olhos
estavam com um brilho cortante e ameaçador.
Enquanto Ricardo conversava, demonstrando
entusiasmo, eu tentava ordenar o pensamento.
Sabia que eles não eram amigos. E por que eu tinha
que estar no meio dessa desavença? A discórdia
entre ambos era antiga ou era caso recente?
Edu chegou e me envolveu pela cintura, me
segurando tão firme que por alguns segundos o ar
me faltou. Ergui os olhos para fitá-lo, mas seu olhar
estava totalmente voltado para Ricardo que estava a
nossa frente bebendo champanhe. Pisquei
ligeiramente e abri um meio sorriso, disfarçando a
tensão.
— Dr. Amorim, quem diria que você estaria
presente na festa da Ordem!
— Dr. Guerra, quem diria que você estaria na
festa da OAB. Logo você, que só sabe ferrar com a
vida dos advogados — rebateu Ricardo abrindo um
sorriso.
Por um momento me senti como se estivesse
no meio de um duelo, onde dois leões se mediam,
prontos para defender a sua caça. E pior de tudo,
que eu estava me sentindo como se fosse a própria
caça. E isso me desagradava muito.
— Olha quem está falando em ferrar com a
vida de quem, Ricardo. Você, além de me
prejudicar no judiciário, atrapalha o andamento da
justiça quando nega algum pedido corriqueiro que
eu envio.
— A festa está bem organizada, não é? —
Puxei outro assunto a fim de amenizar a situação.
— Realmente Milena, a festa da OAB este ano
está surpreendente. — Ricardo sorriu para mim,
tornando a sua frase dúbia aos meus ouvidos.
— Ricardo, que merda você está fazendo aqui?
— esbravejou Edu, inclinando o corpo para frente
para se aproximar um pouco mais do delegado, que
não se intimidava.
— Sou um homem público assim como você,
assim como a Milena. — Ele apontou em minha
direção. — Desempenhamos papéis diferentes no
âmbito da justiça, mas estamos no mesmo time.
— Ricardo está certo, Edu. — Ao me ouvir
concordar com o delegado, Edu respirou fundo,
apertando ainda mais a minha carne a ponto de
formar um hematoma. O que havia de errado com
ele? Edu estava tendo uma crise de ciúmes?
— Milena, o que acha de me conceder essa
dança? — Fiquei estupefata com a pergunta feita
por Ricardo.
— De jeito nenhum! — Edu respondeu por
mim enquanto fulminava o delegado com o olhar.
— Edu, você não pode escolher por mim! —
Senti como se fosse uma mercadoria a ser vendida
em uma feira.
— Você está comigo esta noite. Você é minha
acompanhante, Milena! — Ele deu ênfase no
pronome possessivo.
— Finalmente posso comprovar minha
suspeita — disse Ricardo com um sorriso triste nos
lábios. — Pelo menos você está mudando o seu
modo de pensar, Edu. E isso é bom! — Que
conversa sem fundamento era essa? Sobre o que
Ricardo estava falando, afinal?
— A mudança é a lei da vida, Ricardo.
— É, você tem razão! — O delegado respirou
fundo. — Bem, tenham uma ótima noite. Até mais!
— Ele se despediu com o semblante derrotado,
como quem acabava de perder uma batalha.
Fiquei frente a frente com Edu, tentando
processar tudo o que eu acabava de ouvir. A
conversa em enigma significava que os dois
dividiam uma história turbulenta, e tentei
compreender como essa história repercutia na
minha história com Edu. Será que era apenas um
peão em um jogo antigo?
— Edu, qual é o motivo para você agir de forma
grosseira com Ricardo?
— Que intimidade é essa com o Ricardo,
Milena? Vocês estão tendo um caso? — Ele arqueou
uma sobrancelha ameaçadora.
— Você escutou o que eu perguntei? — ignorei
a sua indagação e fiz a minha.
— E você escutou o que eu perguntei?
— Edu, por favor. Eu acho que eu respondi a
essa pergunta no dia... — interrompi a frase para
completá-la em tom mais baixo. — No dia em que
nós transamos na sala de audiências.
— Milena — Ele começou suavizando um
pouco a expressão e envolvendo os braços ao redor
de minha cintura. — Não quero que nenhum filho
da mãe lhe falte com o respeito. — Onde Edu
estava querendo chegar com essa conversa
descabida?
— Ricardo não me faltou com respeito em
momento algum. Muito pelo contrário. Ele sempre
foi muito gentil comigo.
— Eu não gosto de ver você e Ricardo juntos.
Isso me deixa puto. Quero ter você ao meu lado,
Milena. Somente comigo. Você entendeu?
— Mas eu estou com você, Edu. — Sorri e
envolvi meus braços ao redor de seu pescoço. Edu
me puxou um pouco mais de encontro a si e senti
sua ereção.
— Está vendo o que você faz com o guerrinha?
— sussurrou em meu ouvido e eu contive um riso
assim como o tesão. Edu deu apelido ao seu pênis
de guerrinha que de pequeno não tinha nada!
— Eu adoro provocar o guerrinha! — respondi
junto de seu ouvido, roçando os lábios em sua
orelha.
— Vamos nos misturar aos demais convidados,
antes que eu mande essa festa para o espaço e te
coma em uma das salas desse prédio.
— E por que não faz? — instiguei só para ver
até onde ele ia. E me surpreendi.
— Porque quando eu começar a te foder,
Milena, eu só vou parar quando amanhecer. — Sua
voz sexy e baixa em meu ouvido foi a minha
sentença de morte. Senti o corpo inteiro pegar fogo
e respirei fundo para não implorar a ele que
abandonasse a festa e concretizasse seu plano
perverso.
Edu voltou a me encarar e havia luxúria em seu
olhar. Ele me fitou ardentemente por um momento
e eu pensei que ele acabaria sucumbido diante da
tensão sexual que estalava entre nós. Mas em um
piscar de olhos, seu controle retornou. Ele agarrou
a minha mão e saíamos em direção a um grupo
onde Conrado e Cassiano estavam presentes.

***
A festa em comemoração ao aniversário da
Seccional da OAB acontecia animada. Algumas
pessoas dançavam na pista, outras conversavam
acomodadas as mesas e em pequenos grupos. Eu
assistia a tudo ao lado do Edu, que conversava
tranquilamente com seus amigos.
Ele acariciou o meu braço e deslizou a mão
para posicioná-la a minha cintura. Sorri e respirei
fundo para manter a razão presente. Enquanto eles
conversavam, eu aproveitei para refletir sobre o
que estava acontecendo entre nós dois. Sabia que
era apenas um encontro e que mais tarde nós
íamos acabar na cama. E não via a hora de estar nos
braços do Edu, sentindo-o me possuir com volúpia
e intensidade.
Embora eu soubesse que talvez fosse mais uma
para a sua coleção, eu não conseguia me afastar
dele. Edu era um homem muito sedutor, bonito e
decidido. Ele sabia que despertava a atenção do
sexo feminino onde quer que fosse, e se aproveitava
para alcançar seus objetivos. Fosse através da
beleza, ou da audácia. Mas eu não o estava
recriminando por ser assim. Cada um levava a vida
do jeito que queria.
Bebi um gole do champanhe e deixei a taça
sobre a mesa. Essa era a quarta taça de bebida que
eu bebia na noite e como eu não comi quase nada,
achei melhor parar por aqui. Não queria repetir a
cena da boate. Deus me livre! Lancei um olhar para
o relógio do celular e percebi que passava das onze
horas. Avisei ao Edu e fui retocar a maquiagem no
ao banheiro. O ambiente estava pouco
movimentado, pois alguns convidados já deixaram
a festa. Principalmente os casais que tinham filhos
pequenos.
Tirei o batom de dentro da bolsa e fixei o olhar
no espelho. Atrás de mim surgiu uma garota de
pele muito branca, olhos verdes, cabelos castanhos
ondulados, pouco abaixo dos ombros. Ela usava um
vestido preto longo, levemente rodado da cintura
para baixo. A garota era bonita, mas tinha uma
expressão de superioridade que acabava por torná-
la levemente vulgar.
Ela sorriu para o meu reflexo no espelho e eu
girei o corpo na hora. Seus olhos verdes me
analisaram por inteira, com ar de desdém. A
estranha media cada curva minha, desde o dedão
do pé até o fio de cabelo. Não fazia a mínima ideia
de quem fosse essa garota, a única coisa que sabia
era que eu não gostei dela e que ela também não
gostou de mim.
— Olá, doutora Milena Venturini, até que
enfim nos conhecemos. — Sorriu cinicamente,
estendendo a mão em minha direção. — Eu sou
Cibele de Britto.
Ao ouvir o seu nome, eu enrijeci o corpo e uma
náusea subiu até a minha garganta. A sirigaita, que
havia deixado um bilhete e uma minúscula
calcinha na gaveta do closet do Edu, estava
sorrindo e me tratando como se fôssemos amigas?!
Não sabia se eu girava nos calcanhares e a deixava
falando sozinha, ou se entrava no joguinho dela,
fingindo que estava tudo bem. Decidi seguir a
segunda opção e apertei rapidamente a sua mão.
— Oi Cibele, tudo bem? — Abri um sorriso
irônico, pois como diz o ditado: “se você estiver em
Roma, aja como os romanos”.
— Estou ótima! — Ela acomodou uma mecha
de seu cabelo brilhante atrás da orelha, deixando o
brinco de rubi a mostra. Típico ato de garota rica e
mimada que ganhava tudo de mão beijada. — Você
sabe quem eu sou, não?
— Acho que não! — Eu me fiz de
desentendida, colocando o batom dentro da bolsa e
voltando a encará-la. — Você não é uma dançarina
de pole dance? Por que se for isso, me desculpe, mas
eu não costumo ir a esse tipo de evento — ironizei
e ela comprimiu os lábios descontente.
— Eu sei qual é o seu jogo, Milena! — Ela
estreitou os olhos verdes em fúria. — Você sabe
sim quem eu sou. Eu sou a namorada do Edu!
— Namorada?! — Não contive uma risada
baixa o que a deixou ainda mais furiosa.
— Sim! Estamos afastados um do outro, mas é
por pouco tempo. Em breve ele voltará a ficar
comigo. Isso já aconteceu outras vezes e eu sei que
Edu sempre acaba voltando para quem ele ama de
verdade. — Ela fez o seu discurso fantasioso e eu
reprimi outra risada.
— De vez em quando é bom sonhar, Cibele.
Porém, devemos manter a razão presente. —
Pisquei um olho enquanto duas garotas que
estavam no toalete passavam por nós aos
cochichos. Elas saíram de fininho e Cibele mostrou
as garras de vez.
— Quem você pensa que é, Milena? Olhe para
você! — Ela fez sinal com a mão em minha direção.
— Você não passa de uma garota de classe média,
que sustenta os pais e a irmã — disparou seu
veneno sobre mim, falando de minha família como
se a conhecesse. Meus nervos ficaram a flor da pele
e me controlei para não partir para cima dela.
— Cibele, eu não sei qual é o seu propósito em
me atingir dessa forma. Eu não tenho nada contra
você.
Ela deu risada cínica e empinou o queixo, me
provocando. Enquanto a cobra se contorcia a minha
frente, eu rezava a Deus para manter a razão. Caso
contrário, Ricardo teria trabalho essa noite. Se ela
continuasse a me provocar, eu descia do salto e
desfazia com esse ar de superioridade que Cibele
trazia no rosto.
— Milena, quem está sonhando aqui é você!
Ou você acha mesmo que Eduardo Luís Guerra, um
dos maiores e mais respeitados juízes do estado e
por que não dizer do país, irá namorar uma... — Ela
voltou a me analisar, com um ar de repulsa. —
Bem, basta você se olhar no espelho. Sua Isaura! —
Quando eu pensei em dar uma resposta para a
sirigaita, ela deu um último olhar em minha
direção e saiu como um foguete, batendo a porta
do banheiro.
Engoli em seco e apoiei as mãos na bancada de
mármore. Parecia que o ar me faltava e não sentia
mais as minhas pernas. Aquela cobra desgraçada
conseguiu o que queria. Ela pegou o meu ponto
fraco que era a autoestima. Ergui os olhos com
dificuldade e encontrei meu reflexo no espelho. De
imediato a dor invadiu o meu peito, me fazendo
sua prisioneira outra vez.
A sensação horrenda se espalhou com fúria e a
minha cabeça começou a girar com velocidade. O
gosto do espumante veio a minha boca e eu saí
quase me arrastando até a privada. Entrei e mal
deu tempo de trancar a porta. O vômito veio à tona
e, junto com ele, a dor de saber o que os outros
realmente pensavam sobre mim. Cibele tinha
razão! Edu nunca teria nada sério comigo. E esse
pensamento fez com que o pranto se tornasse
intenso e rasgasse o meu peito.

***

Após secar o rosto, retocar a maquiagem e me


acalmar um pouco, eu deixei o banheiro. Cheguei
ao salão e a vontade de sumir me consumia por
inteira. Queria dar o fora dessa festa e ir para casa.
Não via a hora de tomar uma ducha e me aninhar
em minha cama, abraçando meu travesseiro que
era o único que sempre ouvia o meu lamento.
Estava parada observando ao redor quando
senti uma mão em minha cintura. Dei um
sobressalto, girando o corpo rapidamente para
encontrar o par de olhos verdes acinzentados que
me fitavam preocupados.
— Milena, onde você se meteu? Eu estava louco
atrás de você!
— Edu! — Trêmula, eu me atirei em seus
braços e ele me envolveu em um abraço gostoso.
— Minha deusa, você está tremendo.
Aconteceu alguma coisa? — indagou junto ao meu
ouvido, enquanto eu reprimia as lágrimas para não
cair.
— Não aconteceu nada. Eu só preciso ir
embora.
— Nós faremos isso! — Ele me soltou com
cautela e voltou a me fitar com afeto. — Vamos nos
despedir do pessoal e dar o fora dessa festa. Para
mim, isso aqui já acabou. O que mais quero é ficar
com você.
Enquanto fizemos o trajeto até o seu
apartamento, eu pensei sobre o que aconteceu
entre mim e Cibele no toalete. Percebi de imediato
que ela fazia o tipo de mulher vulgar, que usava de
meios sórdidos para atingir o seu objetivo. Era
nítido que Edu não a queria e que ela levou um
grande pé na bunda. Por isso ela estava com o
coração carregado de ódio e desamor.
Aquela cobra peçonhenta teve a audácia de
falar sobre minha família. Como ela sabia sobre
coisas tão íntimas? Será que Cibele andou
pesquisando a minha vida? Mas como? Através de
um detetive ou algo assim? Mas qual seria o seu
propósito? Eu e Edu não tínhamos nada sério. E
além do mais ele me assegurou que estava sozinho
e não tinha envolvimento com mulher alguma. Mas
então por que eu me sentia ameaçada?
Momentos depois, chegamos ao edifício onde
Edu morava. Ele estacionou o carro e saiu para
abrir a porta para mim. Segurando em sua mão, eu
desci e fui conduzida por ele até o elevador. As
portas se fecharam e Edu me surpreendeu, me
colocando contra a parede. O desejo emergiu com
fúria ao sentir o peso gostoso de seu corpo
pressionando o meu. Suas mãos viajaram em
minha pele e eu entrei em combustão. Enquanto o
elevador subia para o seu apartamento, nós
seguíamos nos amassando como adolescentes, sem
se importar com as câmeras de segurança.
— E se eu te comesse aqui e agora? —
sussurrou em meu ouvido, com uma de suas mãos
acariciando o meio seio e a outra apalpando a
minha bunda.
— Safado! — Comecei a lamber o seu pescoço,
subindo até encontrar a sua boca. Eu o beijei
delicioso, saboreando os seus lábios, mordendo-os
de leve, sugando a sua língua.
— O que você acha de darmos um show para
os seguranças, hein minha deusa? — Ele me
instigou, abrindo um sorriso, sem separar nossos
lábios. Uma de suas mãos escorregou em direção à
saia de meu vestido, puxando-o um pouco para
cima.
Estremeci excitada e molhada demais, quando
senti o seu dedo médio afastar a calcinha para o
lado. Ele ergueu um pouco a minha perna,
sustentando-a com o braço e no instante seguinte,
seu dedo estava dentro de mim. Suas investidas
eram exigentes e profundas. Edu empurrava o dedo
como se fosse seu próprio membro que agora
sentia latejar em minha coxa, louco para participar
da festa.
Ouvi um click e as portas do elevador se
abriram. Edu puxou os dedos para fora e, sem dar
tempo para eu processar o que viria a seguir, ele
me pegou no colo e saiu em direção à porta de
entrada. Soltei um gritinho abafado devido à
surpresa e ele deu uma gargalhada divertida.
— Edu, as câmeras de monitoramento!
— Estamos dando um show para os seguranças
do prédio. — Ele ignorou o meu alerta e voltou a
me beijar no pescoço, com as mãos na minha
bunda.
— Edu!
— Vamos entrar antes que eu te coma aqui no
corredor.
Edu se separou de mim o mínimo possível
somente para abrir a porta com um pontapé
certeiro. Entramos grudados um ao outro, boca
com boca, calor com calor. Ele me soltou e fechou a
porta atrás de si. Quando voltou para me encarar,
havia fogo e luxúria em seu olhar.
E a nossa festa particular se iniciou. Edu
começou a tirar a roupa lentamente, me encarando
sem pestanejar. Primeiro tirou sua gravata e jogou
a um canto, em seguida foi a vez do paletó e da
camisa ganharem o mesmo destino. Agora com o
tórax desnudo, ele avançou, me devorando com seu
olhar ardente.
— Hoje eu vou te foder até o amanhecer,
minha deusa de ébano!
Minha Nossa Senhora das Calcinhas
Molhadas! Era hoje que eu me perdia nesse homem
e não desejava me encontrar nunca mais!
Capítulo 13

Edu

Avancei a passos lentos até a deusa de ébano e


a puxei de encontro a mim. Uni os meus lábios aos
seus em um beijo apaixonado, que fez o meu pau
doer ainda mais dentro da calça. Desde que
chegamos que estava em estado de endurecimento,
louco para me aliviar. Mas não era um simples
alívio. O desejo que tinha era me enterrar em
Milena, dar tudo que tinha e roubar tudo que ela
tinha para me dar.
Nunca estive tão consciente do que queria
como agora. Nenhuma mulher despertou em mim
tanto desejo. Quando estava ao lado da Milena
tudo se tornava intenso, mágico e bonito. Ela me
fazia sentir coisas que nunca eu cogitei sentir.
Milena fazia com que eu quisesse sossegar, me
aposentar da minha vida boemia de sedutor
safado. E isso me assustava.
Dissipei o pensamento inquietante para longe
e carreguei Milena para o quarto. Com os braços
em volta de seu corpo, eu a deitei sobre os lençóis e
pairei sobre ela. Separei nossos lábios por um
momento para fitá-la com emoção. Em seus olhos
eu vi uma confusão de sentimentos. O medo e o
desejo lutando um contra o outro, e a razão dando
espaço à emoção. Tudo que Milena sentia era o que
estava sentindo, só que ela sentia em dobro.
Desci o zíper de seu vestido e caí de boca em
seus seios. Beijei, lambi, mordisquei e ela foi a
loucura com minha língua. Milena serpenteou
sobre os lençóis, enterrou os dedos em meu cabelo
e gemeu como uma gatinha no cio.
— Ah, Edu! Que delícia! — sussurrou
endoidecida, enquanto eu mordiscava um mamilo
com os dentes e acariciava o outro com a palma da
minha mão.
— Você gosta quando eu acaricio os seus seios?
— indaguei sugando forte seu seio inchado pelo
tesão.
— Sim! Eu adoro! — respondeu me fitando
com luxúria, contorcendo o corpo embaixo do meu.
Arranquei o restante de nossas roupas e voltei
a deslizar a minha língua em sua perna, em direção
à parte interna de suas coxas. Ela usava somente
uma calcinha fina de renda preta que me deixava
encantando. Sorri passeando o dedo na borda do
tecido.
— Espero que não fique zangada por isso. —
Com um golpe rápido, eu rasguei a lingerie que se
partiu em duas. Milena gemeu. — E você gosta
quando eu te chupo, minha putinha? — Sorri,
afastando suas pernas e escorregando a língua em
seu clitóris.
— Ohhhh, Edu! — choramingou tentando
mover os quadris no mesmo movimento que minha
língua. Segurei firme seu traseiro e investi nela,
chupando e lambendo seu ponto sensível.
Aumentei a pressão com minha língua e
Milena começou a ondular de prazer. Ela
entrelaçou seus dedos em meu cabelo e o puxou
para mais perto, querendo enterrar meu rosto
dentro dela. Enquanto ela era fodida pela minha
boca, eu acariciava um de seus seios com a mão,
torcendo o mamilo com os dedos. A deusa de
ébano começou a gemer e falar coisas
incompreensíveis. E, quando dei por mim, Milena
estava gozando lindamente, jogando a cabeça para
trás, rebolando no embalo de minha língua.
Sem dar tempo para ela se recuperar do
intenso orgasmo que teve, eu girei seu corpo e a
coloquei de bruços na cama, com a cabeça virada
de lado no travesseiro. Tirei rapidamente minha
boxer e meu pau saltou livre. Prendi suas pernas
com minhas coxas e me debrucei sobre ela.
— O meu pau está louco para comer sua
bocetinha, minha deusa — sussurrei meu
costumeiro palavreado sujo em seus ouvidos e ela
estremeceu.
— Me fode, Edu! Me fode, por favor! —
suplicou agarrando firme o travesseiro.
— Implore mais alto, Milena!
— Me fode, Edu!
— E eu vou te foder bem forte. Mas primeiro
eu quero fazer isso. — Dei duas palmadas em sua
bunda e ela arquejou com força. Segurei firme o
meu pau e aticei esfregando contra seu traseiro
tentador. Fiz círculos com o dedo em seu ânus e
Milena voltou a estremecer. — Muito em breve eu
comerei o seu rabinho. — Molhei o polegar com
um pouco de saliva e inseri em seu canal quente.
— Ah, Edu! Nunca fiz isso! — Ela se contorceu
de tesão, gemendo entrecortado.
— Gostei de saber disso. — Abri um sorriso
satisfeito por saber que seria o primeiro a explorar
o seu canal apertadinho. E isso me deixava louco.
— Vai doer? — questionou receosa e percebi
que ela não sabia muito sobre o assunto.
— Existem técnicas para isso. E, quando chegar
a hora, eu te mostrarei. — Espalmei as mãos em
sua bunda e dei mais dois golpes em sua carne. Ela
arquejou e eu voltei a passear minha língua em seu
corpo, deslizando em suas costas, até chegar ao seu
ouvido. — Você está tomando pílula?
— Sim. Você não está pensando em...
— Isso mesmo, Milena. Eu vou te comer sem
camisinha.
— Mas Edu, nós não sabemos nada um do
outro e... — tentou se justificar em vão.
— Milena, eu sei que não tenho doença
alguma. Faço exames periodicamente e está tudo
certo comigo. E você, tem receio de algo? —
indaguei e voltei a acariciar as sua bunda.
— Não! Está tudo em ordem comigo também.
Eu só acho que é muito cedo para isso – A
hesitação era contrastante com a excitação que ela
sentia. Eu não era o único que estava desejando
isso.
— Então, fique quietinha porque eu estou
doido para me enterrar em você! — Segurei o meu
pau e mirei a sua entrada tentadora. Agarrei seus
quadris e a penetrei lentamente. — Que bocetinha
quente que você tem, minha deusa!
Milena soltou gemidos constantes um atrás do
outro, despertando ainda mais o tesão em mim. As
estocadas começaram a ficar mais exigentes. Meti
fundo e forte, devorando-a, sentindo todas as suas
extremidades e calor. E como era quente. Milena
era uma fornalha.
— Porra! Desse jeito eu vou querer te comer
todo dia, toda hora, todo minuto. Deliciosa! — Dei
mais uma palmada em seu traseiro, enquanto
metia meu pau para dentro. Ela contorceu o corpo
e começou a rebolar junto comigo, me deixando
endoidecido. — Rebola no meu pau, gostosa!
— Ah... Edu! Assim... Forte! — disse ofegante,
enquanto eu saboreava a sensação de estar pele
com pele com ela.
Fodi gostoso. Tirei meu pau e voltei a penetrá-
la com tudo. Milena começou a resmungar coisas
incompreensíveis, agarrando o lençol com força,
gemendo sem parar. E ela não era a única que
estava perdendo o controle! Intensifiquei as
investidas e senti sua boceta estrangular o meu
pau. Milena estava gozando.
— Edu! Edu! Edu! Ahhhh! — Meu nome saiu
de sua boca em forma de prece, enquanto ela se
debatia e arfava.
A sensação de ela estar pronunciando meu
nome e de ter alguém ouvindo a nossa foda fez
com que meu gozo viesse potente, voraz e
arrebatador. Com as mãos em sua cintura, eu me
derramei dentro dela, sentindo meu pau latejar
como um louco.
— Caralho! Que delícia! — Rosnei com o corpo
suado, me deitando ofegante sobre ela e a
abraçando junto a mim.

***

Estávamos deitados sobre os lençóis em


silêncio, apenas sentindo um ao outro. Eu
acariciava o seu cabelo enquanto ela passeava os
dedos em meu peito. A estranha sensação de posse
voltou a me rondar, me deixando doido. Só em
pensar que Milena podia ficar com outro homem,
eu ficara fora de mim.
O que eu tanto temia estava acontecendo. Eu
estava fascinado por essa mulher e não tinha forças
para ficar longe dela. A sensação era tão forte, que
meu coração parecia querer explodir. Se existia um
vício ao qual estava dependente, esse vício se
chamava Milena Venturini.
Nunca nenhuma mulher fez as minhas pernas
tremerem e virou a minha cabeça como ela estava
fazendo. Eu não havia sentido essa sensação na
vida. Não até agora. Milena chegou com seu jeito
de durona e decidida e estava me conquistando aos
poucos. Estava sendo seduzido por essa mulher
que tinha feito os meus dias mais prazerosos e
coloridos. E estava gostando muito.
Ela sorriu e se levantou, parando nua ao lado
da cama. Contemplei seu copo e comecei a ficar
excitado. O que mais queria era trepar novamente
com ela. Se fosse por mim, ficaria o dia inteiro
dentro dela, saboreando o seu calor, o seu gosto,
sentindo o seu cheiro que me dopava.
— Onde você pensa que vai? — perguntei me
sentando a beirada da cama. Eu a puxei pelos
quadris e a coloquei sentada de costas no meu colo.
Milena estava praticamente montada em mim e a
sua boceta molhada roçava a cabeça de meu pau,
me enlouquecendo.
— Você é insaciável, Edu Guerra! — Ela sorria,
rebolando lentamente, me atiçando.
— Você me deixa assim, minha deusa de
ébano. — Afastei o cabelo dela para o lado, para ter
total acesso em seu pescoço, e distribuí beijos e
lambidas. — Quero me enterrar em você, minha
deusa. — Suspendi um pouco seus quadris para
cima e entrei nela.
— Ah Edu, que gostoso! — A maneira como ela
se entregava, jogando a cabeça para trás enquanto
eu fazia os movimentos de cima para baixo,
preenchendo-a com meu pau faminto, me deixava
louco.
Diminui as estocadas e comecei a inserir o
dedo indicador em seu ânus. A sensação fazia com
que Milena serpenteasse em meu colo,
comprimisse sua boceta bem como seu canal que
estava apertando o meu dedo. Ela delirou, gemeu,
mordeu o lábio e levou as mãos aos seios,
apertando-os.
— Deixe que eu faço isso, uma vez que seus
seios são meus — rosnei em tom possessivo
apertando seus mamilos, dando-lhe prazer de
todas as formas. — Sua bocetinha também é
minha, assim como seu corpo. — Voltei a meter
fundo e implacável comendo-a sem dó. — Você é
minha, deusa de ébano.
— Sou sua! E você é o meu safado gostoso!
— Sim! Eu sou o seu safado. Sou aquele que te
fode forte e intenso. Sou o único que pode te comer
assim. Depois de mim, ninguém mais! — disse
virando o rosto dela de lado, para beijar sua boca.
Meu corpo reagiu violentamente e eu passei a
meter como um louco. Bombeei esfomeado,
batendo e retrocedendo, enquanto agarrava seus
seios, acariciando-os. Em poucos instantes éramos
consumidos pelo prazer. Atingimos o clímax
juntos, gemendo alto, suados, esgotados e
saciados. Deixei o corpo cair sobre a cama e puxei
Milena para os meus braços. A mente girava, a
respiração falhava e o coração batia rápido. Tinha
que admitir que estava fodido. Eu estava amarrado
a uma mulher pela primeira vez na vida.
***

Acordei durante a noite e senti falta da Milena


ao meu lado. Deixei a cama e fui a sua procura.
Vesti um roupão e caminhei até o banheiro na
esperança de encontrá-la, mas ela não estava lá.
Será que a minha deusa foi embora em plena
madrugada e me abandonou?
Atravessei o corredor e cheguei à sala de estar
onde, para minha completa surpresa, eu a
encontrei. Milena estava acomodada a uma
poltrona, de costas para mim, vestindo uma de
minhas camisas, com as pernas sobre o sofá e os
braços em volta dos joelhos. A deusa estava no
escuro, com os olhos fixos no nada a sua frente.
Apenas a luz da lua lhe fazia companhia através da
enorme janela de vidro.
Me aproximei devagar para não assustá-la, mas
Milena pressentiu a minha presença e virou o rosto
de lado para me fitar. Seus olhos estavam perdidos,
tristes e opacos. Em seu semblante havia solidão e
dor. O meu coração se comprimiu angustiado,
enquanto mil ideias me passavam pela cabeça. O
que havia com minha deusa? Por que ela estava tão
triste assim?
Voltei a me mover em sua direção, fitando-a
com carinho. Tive o desejo de protegê-la de tudo e
de todos. O que mais desejava era colocá-la no colo
e dizer que ela estava segura em meus braços e que
nada, nem ninguém, iriam feri-la. Eu não deixaria
que isso acontecesse.
Sem entender o que estava acontecendo, eu
sentei ao seu lado e a puxei para junto de mim.
Milena se aconchegou em meu peito, tremendo e
chorando baixinho, sem dizer uma palavra. Não
sabia o que a fez ficar tão deprimida de um
momento para o outro. Essa Milena que estava
agora diante de mim não era a mesma Milena que
me enfrentava dentro e fora da sala de audiências.
Quem era essa garota frágil que chorava em meus
braços?
— Não chore, minha deusa. Eu estou aqui. —
Afaguei seu cabelo, beijei o topo de sua cabeça e a
apertei forte. Não sabia muito bem o que fazer.
Estava abalado e confuso. Nunca consolei ninguém
antes. Na realidade, nunca presenciei ninguém em
um estado de vulnerabilidade tão intenso como
Milena se encontrava.
Continuei abraçado a ela em silêncio, dando
carinho, apoio e calor humano. Acreditava que
fosse isso que ela precisava nesse momento e não
de uma pessoa que fizesse perguntas. Não que eu
não estivesse preocupado e quisesse saber o que
estava havendo. Eu estava aflito, inquieto e
reflexivo. Mas sabia que ela precisava se acalmar
para somente depois me explicar o motivo de seu
pranto.
Aos poucos o choro foi cessando e Milena
endireitou o corpo, de cabeça baixa, limpando as
lágrimas com a manga da camisa. Eu ergui seu
queixo e busquei seus olhos. Neles eu vi um
turbilhão de sentimentos desconexos que me
atingiu. Limpei seu pranto com o polegar e ela
respirou fundo.
— Milena, o que houve para te deixar assim?
— Não aconteceu nada — sussurrou
comprimindo os lábios, contendo a dor dentro de
si.
— Eu acordo no meio da madrugada e você
não está na cama. Saio desesperado a sua procura e
a encontro aos prantos. O que aconteceu, minha
deusa?
— Eu já disse que não aconteceu nada, Edu. —
Ela se levantou abruptamente, tentando esconder o
que sentia colocando uma máscara fria em seu
rosto. Milena fez menção em se mover para longe e
eu me levantei para encará-la.
— Porra! Você não confia em mim?
— Edu, eu não sou a garota que você pensa. —
Ela começou o seu discurso sem fundamento, com
a voz entrecortada e os olhos marejados outra vez.
— Eu sou apenas mais um caso para você.
Mas que conversa sem fundamento era essa?
Milena estava tendo uma crise de autoestima outra
vez? Ignorei sua insensatez e me aproximo
decidido. Se eu não abrisse o jogo com ela agora,
estava arriscando perdê-la e isso definitivamente
não estava em meus planos.
— Milena — Segurei-a pelos ombros, fazendo
com que ela me encarasse. —, você jamais foi
considerada somente um caso para mim. — Ela
abriu a boca e tremeu os lábios, enquanto as
lágrimas voltaram a molhar seu rosto.
— Você não entende... — Negou balançando a
cabeça, se recusando a acreditar em mim. Ela se
libertou de minhas mãos e deu um passo para trás.
— Você não vai me querer. Acredite, Edu! Eu não
sou a pessoa certa para você.
— Mas que maldito disparate é esse, afinal?
— Você ouviu! Eu não sou quem você pensa!
— Você é a garota que eu quero ao meu lado!
Milena fechou os olhos e comprimiu os lábios.
Não sabia o que se passava na cabeça dela, só sabia
que estava ficando nervoso. De repente, ela
começou a se despir com as mãos ligeiramente
trêmulas, chorando descontroladamente. Ela
arrancou a camisa que usava e ficou nua.
— Olhe para mim, juiz Eduardo Luís Guerra.
Você aceitará ao seu lado uma... uma...“Isaura”? —
gritou em meio ao pranto, se expondo para mim de
uma forma completamente equivocada.
Isaura?! Mas o que ela estava falando? Refleti
por um momento e levei um choque ao constatar
que ela estava se autoinjuriando. Abri a boca e não
acreditava no que acabava de ouvir. Eu me neguei a
aceitar que ela tinha preconceito de si mesma, que
não se amasse. Milena tinha um conceito
completamente errôneo a respeito de quem ela era.
— Milena, você está injuriando a cor da sua
pele, é isso? — indaguei atônito enquanto ela
envolveu os braços ao redor do corpo, tentando se
esconder de mim.
— Você não sabe sobre a minha vida. Você não
sabe... Eu sou um resto, um nada! — disse em meio
a soluços visivelmente frágil e perdida.
— Ah, minha deusa! — Eu me aproximei e a
envolvi em meus braços, abraçando-a forte. — Você
está se depreciando à toa. — Ergui seu queixo e ela
me fitou entre lágrimas com o corpo estremecido.
— Milena, você está equivocada a seu respeito e ao
meu também! Você acha que eu me importaria com
a cor de sua pele?
— Não sei... Estou tão confusa.
— Você não é negra e nem mulata. Milena,
você é morena e tem a pele mais linda que eu já vi!
— Edu, você não me conhece — murmurou
enquanto eu vestia a camisa em seu corpo.
— Teremos tempo para nos conhecer. Agora
venha comigo. — Eu a peguei no colo e ela
envolveu os braços ao redor de meu pescoço,
apoiando a cabeça em meu peito. Cheguei ao
quarto e a deitei na cama. Cobri-a com o edredom e
me aconcheguei ao seu lado.
Milena estava abraçada junto a mim, se
acalmando em silêncio. Senti sua respiração voltar
ao normal e os batimentos cardíacos também.
Enquanto ela adormecia, a minha mente dava
voltas e mais voltas tentando entender o que
aconteceu.
O que a atormentava para que ela se
autoflagelasse desse jeito, negando sua origem?
Era evidente que alguma coisa a entristecia e que
ela trazia isso consigo já havia algum tempo.
Ninguém tinha um surto desses à toa, sem ter um
motivo forte. Mas o que afinal Milena escondia?
Percebi outro dia no restaurante seu
desconforto quando ela me apresentou a Lívia, sua
irmã mais nova. Era óbvio que elas não eram irmãs
de sangue. Qualquer um via isso. Então era devido
a isso a sua revolta? Ao que tudo indicava sim. E,
depois do que aconteceu essa noite, as minhas
suspeitas estavam certas. Milena podia ser adotada.
A suposição embaralhou os meus
pensamentos. Estava confuso em relação a ela e
mais confuso ainda em relação ao que estava
sentindo por Milena. Algo estava mudando dentro
de mim e isso me deixava preocupado.
Capítulo 14

Milena

Acordei no outro dia com um pouco de dor de


cabeça. Enquanto Edu dormia de bruços ao meu
lado, eu aproveitava para refletir sobre o surto de
identidade que tive ontem à noite. Como eu pude
deixar transparecer o meu lado frágil na presença
dele? Sempre fui mestre em esconder dos outros a
minha fragilidade, os meus medos, os meus
traumas. E logo ontem, na presença do Edu, eu tive
que colocar essa merda para fora?
Maldita Cibele! Tudo por causa daquela cobra
peçonhenta. Mas ela que me aguardasse que o que
era dela estava guardado. Como dizia o velho
ditado: vingança era um prato que se comia frio.
Não que eu fosse adepta a retaliação, mas Cibele
teria o que merecia! Mais cedo ou mais tarde, eu
encontraria a sirigaita e ela veria do que eu era
capaz.
Escorreguei lentamente na cama para não
acordá-lo e Edu gemeu, abraçando o travesseiro.
Me sentei no colchão e olhei para o seu corpo
másculo e bem feito. Ele dormia tão tranquilo que a
vontade que tive era de tocá-lo, senti-lo mais uma
vez em mim. Mas me contive. Não queria que ele
despertasse e me pegasse no estado de fragilidade
em que me encontrava.
Fechei os olhos por um momento e me lembrei
de ser carregada por ele nos braços. Nunca
ninguém me amparou com tanto carinho. Nunca
ninguém ouviu minha dor sem questionar o
motivo. E Edu fez isso por mim.
Uma sensação estranha despertou. Um
sentimento esquecido no tempo se fez presente em
meu coração. Com a finalidade de dissipar essa
sensação perturbadora, eu deixei a cama
sorrateiramente. Vesti minhas roupas tentando
fazer o menor ruído possível, pois não queria ter
que me explicar com Edu logo pela manhã. Não
estava em condições de expor minha vida agora
para ele. Eu não queria que ele soubesse a verdade
sobre mim. Isso acabaria com tudo que conquistei
e me distanciaria de vez dele.
Calcei os meus sapatos de salto e antes de sair,
eu lancei um último olhar para ele. Edu dormia
como uma criança, ainda abraçado ao travesseiro.
Percebi que ele tinha um sono pesado e aproveitei
para sair de fininho. Somente depois de contemplá-
lo pela última vez na manhã, eu deixei o quarto.
Sabia que estava correndo e fugindo como uma
garotinha que não queria ser descoberta. Mas essa
era a única saída para mim. Embora, não fosse uma
saída justa, eu não podia correr o risco de ter que
inventar respostas para as indagações dele. Edu
não merecia ouvir minhas mentiras. Não depois de
ter escutado o meu pranto sem questionar o
motivo.
Assim que cheguei à calçada, eu fiz um sinal
para o primeiro táxi que passava. O carro parou e
eu entrei, me acomodando no banco traseiro. Disse
ao motorista o meu endereço e ele colocou o táxi
em movimento.
Estava imersa em pensamentos que nem
percebi o tempo passar. Meia hora mais tarde eu
estava descendo em frente ao meu prédio, me
sentindo mais cansada do que nunca. Tudo que
precisava agora era de um banho morno e da
minha cama. Mas ao cruzar a porta de entrada, eu
me deparei com a minha família que me esperava.
— Lena, minha filha! — exclamou dona Dalva,
vindo em minha direção, sorridente. Ela me
envolveu em um abraço carinhoso e eu fechei os
olhos para saborear o momento.
— Você sumiu e resolvemos fazer uma visita,
minha filha. — No instante em que minha mãe se
afastou, fui envolvida por um abraço de urso do
meu pai.
— Estou tão feliz por ter vocês aqui!
— Nós estávamos com saudades. — Dona
Dalva sempre me observava com um olhar
amoroso, e isso enchia o meu coração de amor.
— Maninha, viu o que eu te disse outro dia no
café? — indagou Lívia se aproximando de mim e
me beijando o rosto. — Papai e mamãe estavam
choramingando pelos cantos, sentindo a sua falta.
Também pudera, você sumiu essas últimas duas
semanas.
— Estive muito ocupada no trabalho.
— Queremos saber como está sendo a sua
adaptação em seu novo cargo de promotora —
falou meu pai orgulhoso.
— Eu contarei a vocês, mas antes vamos subir
para tomar um café?
— Nós adoraríamos, minha filha. Mas já passa
das onze horas — respondeu minha mãe com o
olhar especulativo.
— Estou um pouco perdida no horário. —
Fiquei sem jeito com o deslize e notei que saí do
apartamento do Edu sem ter noção do tempo.
— Filha, onde você estava? — Papai estava
analisando o vestido de festa que usava. Não
importava que eu morasse sozinha e tinha uma
vida longe dos meus pais, seu Otávio sempre agia
de modo protetor. Lívia me lançou um olhar
sugestivo e, percebendo que estava em uma saia
justa com nossos pais, veio em meu auxílio.
— Nós passamos aqui para convidá-la para
almoçar. — Sorriu, mudando de assunto. — Papai
está louco para comer um churrasco.
— Ah, eu adoro churrasco também! — Tentei
parecer o mais natural possível. — Bem, eu vou
subir para trocar de roupa e a gente pode ir. Vocês
sobem comigo?
— Oh, é claro que sim — disse minha mãe e os
três começaram a andar ao meu lado em direção ao
elevador.

***

Momentos depois, chegamos à churrascaria.


Meus pais vieram no carro deles e eu e Lívia no
meu. Achei estranho o comportamento da minha
irmã mais nova, pois ela veio calada e não
perguntou nada sobre onde eu passei a noite. Era
evidente que Lívia constatou que eu não dormi em
casa, mas por alguma razão, ela não quis tocar no
assunto.
Fomos encaminhados para uma mesa e o
garçom se aproximou para deixar o cardápio. Papai
que era o mais entusiasmado de todos, fez os
pedidos para nós. Era bom vê-los juntos e felizes e
melhor ainda era poder almoçar com a minha
família que tanto amava.
— Como está a adaptação ao novo trabalho? —
questionou meu pai sorrindo orgulhoso.
— Estou realizada e não me vejo fazendo outra
coisa. — E era verdade, pois amava o que eu fazia.
— Que bom que você está feliz, filha. — Minha
mãe sorriu alegre, enlaçando o braço dela ao redor
do braço de meu pai.
Eles se davam muito bem e sempre
demonstravam o amor que sentiam um pelo outro.
Meu pai tinha 65 anos e minha mãe 55 e, devido a
isso, o seu Otávio tinha ciúmes da esposa. Afinal,
não era para pouco, a minha mãe era bonita e se
cuidava. Tinha cabelos e olhos castanhos claros e
uma pele de seda de dar inveja a qualquer mulher
da sua idade. Já o meu pai tinha cabelo grisalho e
olhos cor de mel e pele muito branca. Lívia herdou
os traços dele, sobretudo a cor da pele e dos olhos.
Eu não tinha ninguém para me espelhar
fisicamente e essa constatação me dava um aperto
no peito. Queria tanto saber as minhas verdadeiras
origens, de onde eu vim realmente, que isso estava
se tornando uma obsessão para mim.
Mas não podia me queixar dos meus pais.
Embora eu não visse traços familiares em dona
Dalva e em seu Otávio, eu me identificava muito
com eles. Ambos eram íntegros, batalhadores e
muito amáveis. Os olhos dos meus pais
transmitiam o amor que eles sentiam por mim e
isso não tinha preço.
— E como é o trabalho de promotora pública,
querida? — O interesse de Dona Dalva era
evidente. Ela sempre queria saber tudo o que
fazíamos e eu a amava por ser tão interessada na
minha vida.
— É bem... excitante. — Meu pai franziu o
cenho sem entender nada. E, para piorar a situação,
a minha irmã mais nova soltou uma risada
maliciosa que me deixou roxa de raiva.
— Mamãe, você precisa conhecer o juiz Edu
Guerra. — A declaração da Lívia fez com que eu me
engasgasse com o suco de morango. Minha mãe
sorriu animada, enquanto meu pai me lançava um
olhar inquisitivo.
Estreitei meus olhos em direção a Lívia que
abriu um sorrisinho maroto nos lábios. Minha irmã
mais nova estava se divertindo com a situação.
— Por acaso ele não é parente do procurador
do Ministério Público, o doutor Antônio Luís
Guerra? — Não tinha ideia como o meu pai sabia
disso, mas ele acertou em cheio.
— Sim, Edu é filho do doutor Antônio. — Meu
pai estava pensando sobre essa informação,
franzindo o cenho como se buscasse algo em sua
memória.
— Edu! — exclamou dona Dalva com ar
sugestivo.
— Eu já ouvi falar sobre os Guerra. Família
repleta de juristas renomados — disse meu pai
bebendo de sua água gelada.
Respirei fundo e lancei um novo olhar para
Lívia que estava calada, apenas assistindo eu me
contorcer na cadeira. Ela me pagaria por essa!
Tentando sair dessa saia justa, eu mudei o rumo da
conversa.
— Não vamos falar sobre trabalho em pleno
domingo, não é? — Sorri disfarçando o desconforto
passageiro. Não gostava de falar sobre minha vida
particular com meus pais. Ainda mais quando se
tratava de assuntos que envolviam homens.
— Mamãe, é que a Lena e o Edu estão íntimos.
Sabe como é... — Lívia continuou insistindo na
conversa anterior.
— Lívia! — rosnei e ela sorriu.
— Filha, você e esse juiz tem algo além do
profissional? — Seu Otávio estreitou os olhos,
buscando alguma informação adicional.
— Claro que não! — Eu me adiantei em tom
firme, tentando demonstrar segurança nas
palavras. Vi que Lívia abriu a boca para falar e
aproveitei que ela estava sentada ao meu lado. Dei
um beliscão em sua coxa e ela estremeceu na
cadeira.
— Otávio, e se a Lena tivesse algo a mais com
esse rapaz, não é da nossa conta. — Dona Dalva
revirou os olhos teatralmente, diminuindo um
pouco a minha tensão. Ela sabia o quanto meu pai
era protetor e tentava amenizar a situação. Deus,
como eu os amava!
— Como não é de nossa conta, Dalva? —
indignou-se meu pai. — Todo e qualquer assunto
que envolva as nossas filhas, nos diz respeito sim!
— Lena e Lívia são bem crescidinhas, meu
amor. E elas estão na flor da idade. Têm que
aproveitar a vida — Diante do argumento da minha
mãe, seu Otávio resmungou algo incompreensível,
torcendo os lábios.
— Não se preocupe, pai. Eu posso assegurar
que entre mim e o doutor Guerra só há
profissionalismo — falei com a maior cara de pau e
vi pelo canto dos olhos que Lívia reprimia um
sorriso.
E o almoço seguiu agitado. Por mais que eu
tentasse não tocar no assunto “Eduardo Luís
Guerra”, o nome dele surgia entre uma conversa e
outra. Pelo menos a minha irmã me deu uma folga,
já que meu pai decidia manter o semblante
desconfiado.

***

Após o almoço familiar, nos despedimos com


carinho e deixamos o restaurante. Meus pais e
minha irmã foram para casa e eu para o meu
apartamento.
Cheguei em casa e o que mais precisava era de
uma ducha para refrescar o corpo. Tirei a roupa
casual, que havia vestido para sair com minha
família, e entrei no banho. Enquanto eu me
banhava, aproveitei para relaxar tanto o corpo
quanto a mente.
Essas últimas semanas foram cansativas.
Trabalho novo, vida nova e Edu Guerra faziam
parte de minha rotina há mais de quinze dias. Só
de pensar nisso, eu comecei a ficar confusa, sem
entender como ele conseguia me afetar tanto. Não
podia me envolver emocionalmente com Edu. Não
iria me envolver com ele. Isso estava fora de
cogitação.
Minutos depois, eu estava na cozinha, me
servindo de um copo de água. Vesti um short jeans
e uma regata, pois nem o ar condicionado estava
aliviando o calor que fazia nessa tarde de verão.
Meu celular vibrou e quem me enviou uma
mensagem de WhatsApp era a Malu. Ela avisava que
estava a caminho e que precisava conversar comigo.
O que será que aconteceu com ela? Não demorou
muito para que minha melhor amiga chegasse com
uma caixa de chocolate e um litro de Coca-Cola.
— Lena, que bom que você está em casa! — Ela
deixou as coisas e a bolsa sobre a mesinha de
centro e voltou a me olhar com uma carinha
preocupada.
— Malu, está tudo bem?
— Na verdade não. — Ela se acomodou no
sofá, cruzando as pernas sobre o estofado. Eu fiz o
mesmo, ficando de frente para ela. — Eu sou uma
boba, uma garota romântica que acredita em
relacionamentos açucarados — choramingou
pegando um bombom.
— Eu não estou entendendo. Você está se
culpando por ser romântica, é isso? — perguntei
atônita após servir dois copos de refrigerante.
— Ah, Lena. Eu sempre me dei muito mal em
meus relacionamentos porque sou uma sonhadora.
Você sabe melhor do que ninguém.
— Você pode ser romântica, mas não é
ingênua. — Dei uma piscadinha e ela abriu um
sorriso amarelo.
— Você tem razão! Eu sou romântica, mas não
sou nenhuma donzela inocente.
— Desembucha, Malu. Quem é o gato que você
está gamada dessa vez?
— Aí é que está! Não estou gamada! — Eu
fiquei surpresa com a sua resposta.
Definitivamente não era o que eu estava esperando.
— Então eu não estou entendendo nada. —
— Você sabe o quanto as minhas relações
amorosas foram frustrantes. Tive três namorados e
alguns casinhos. E todos foram desastrosos. — Ela
começou o relato balançando a cabeça de um lado
para o outro. — Dos três namorados que tive, não
sei qual experiência foi mais negativa. O primeiro
namorou comigo e com mais duas garotas ao
mesmo tempo, o segundo simplesmente sumiu
sem deixar pistas e o terceiro me traiu com uma ex-
colega de faculdade.
Afaguei sua mão com carinho e Malu abriu um
meio sorriso, mas sabia que ela estava triste. Talvez
estivesse dramatizando um pouco os romances
desastrosos que teve em sua vida, porém por outro
lado eu sentia uma ponta de melancolia em seu
tom de voz e fiquei preocupada. Malu era muito
mais que uma amiga para mim. Eu a considerava
uma irmã.
— Malu, não fica assim. Você não deve ficar se
lamentando por isso. Sacode a poeira e esquece. —
Tentei consolá-la e mostrar a veracidade dos fatos,
mas ela fechou os olhos e voltou a balançar a
cabeça.
— Está decidido, Lena. De agora em diante, eu
só vou curtir a vida. É melhor criar cactus do que
expectativa — disse convicta bebendo o seu
refrigerante.
— Ah, você só pode estar brincando!
— Estou falando sério. Chega de ficar me
iludindo com os homens. Agora quem vai brincar
com eles sou eu. — Ela deu um sorrisinho
zombeteiro. — E começarei muito em breve.
— E quem será a sua primeira “vítima”? —
perguntei em tom divertido.
— Doutor Robson Valverde, um quarentão
gostosão que ultimamente anda demonstrando
interesse em sair comigo. Já que o Conrado Guerra
não quer envolvimento nenhum.
— Como assim? Você e o Conrado ... —
Arregalei os olhos, perplexa. — Malu! Como você
não me contou nada?
— Ah, eu achei que não era importante.
— O que houve entre você e o Conrado?
— Nada. E quando eu digo nada é porque nem
um beijo rolou. Nada! Ele não está aberto a
relacionamentos. Parece que o cara não quer se
envolver com ninguém. Sei lá! Ele é um pouco
misterioso— respondeu revirando os olhos. —
Farei como a personagem da Clara do livro O Amor
não tem Leis. Ela prefere o lobo mau ao príncipe
encantado.
— Que livro é esse? — questionei interessada,
pois não era de ler romance.
— É um livro erótico que conta a história de
uma estagiária que cursa Direito e se envolve com
o chefe que é advogado. Mas a história é
completamente diferente da sua, uma vez que você
ainda prefere o príncipe encantado.
— Que conversa é essa, Malu? — Eu coloquei
as mãos na cintura e ela riu. — A romântica aqui é
você! — falei em tom divertido. — E desde quando
você gosta de ler literatura erótica?
— Ah, eu estou cansada de ler somente livros
técnicos. — Deu de ombros terminando de beber o
seu refrigerante.
— E quem disse que Edu é um príncipe? Ele é
uma mistura de príncipe, lobo mau e caçador —
disse em tom malicioso e Malu riu.
Nossa conversa foi interrompida pelo som da
campainha e eu estremeci. Só duas pessoas subiam
em meu apartamento sem avisar: Malu, que estava
sentada a minha frente e... Edu! Eu não acreditava
que ele estivesse aqui.
Fiz um sinal para Malu que sorriu animada, e
saí em direção à porta de entrada. Respirei fundo e,
quando girei a maçaneta, eu o encontrei. Ele vestia
uma bermuda cargo e uma camiseta branca. O
cabelo castanho estava em desalinho e ele cheirava
divinamente bem. Em seu rosto perfeito, havia um
leve cavanhaque bem desenhado e uma expressão
séria pairava em seus olhos verdes acinzentados.
— Oi, Milena. Acho que você me deve uma
explicação. — Edu entrou sem me dar chances para
respirar.
— Oi, Edu! — falou Malu sem jeito,
levantando-se do sofá.
— Olá, Malu — ele respondeu, e se virou na
minha direção. — Milena, eu não sabia que você
estava com visitas. Desculpe!
— Bem, se você tivesse avisado que estava
subindo, eu diria. — Me arrependi no mesmo
momento pela forma como eu respondi, pois não
queria ser estúpida com ele. Edu não merecia isso.
— Não se preocupe, Edu. Eu já estava de saída.
— Malu pegou sua bolsa e caminhou na minha
direção, já que estava parada próxima à porta. Ela
me lançou um olhar sugestivo e disfarçou sorrindo.
— Lena, eu te ligo mais tarde — disse dando dois
beijinhos de despedida em meu rosto.
— Se precisar, eu estarei sempre aqui. — Sorri
para ela, enquanto, impaciente, Edu enfiava as
mãos nos bolsos da bermuda.
— Até mais, Edu! — disse Malu abrindo a
porta.
— Até mais! — ele respondeu e minha amiga
saiu, nos deixando a sós. Girei meu corpo e
encontrei seus olhos me fitando com intensidade.
— Eu não sairei daqui sem você me dizer o que está
acontecendo, Milena. Dessa vez você não vai fugir
de mim!
Capítulo 15

Edu

— Eu não estou fugindo de você, Edu!


Milena passou por mim e foi em direção à sala
de estar. Minha visita a pegou totalmente de
surpresa e percebi que ela estava nervosa. Ela
começou a arrumar algumas coisas que estavam
sobre a mesa de centro, e acabou derrubando uma
garrafa de refrigerante no chão. Por sorte que ela
estava com a tampa, caso contrário sujaria o seu
tapete.
— Eu acordei hoje pela manhã e você não
estava. — Ela parou de arrumar as coisas e me
encarou. — Por que você saiu sem me avisar ou
deixar um bilhete?
— Eu preciso levar essas coisas no lixo da
cozinha. — Milena ignorou a minha pergunta e
tentou escapar da sala de estar, mas eu a detive
segurando levemente o seu braço.
— Milena, chega de fugir! — Tirei o saco de
lixo de sua mão e coloquei a um canto próximo. —
O lixo pode esperar, eu não!
— Edu, você não entende...
— Eu não te entendo mesmo. — Não tinha
como negar que essa mulher era uma incógnita. —
Minha deusa, nunca mais fuja de mim daquele
jeito. — Acariciei seu rosto e vi o torvelinho de
emoções que apareciam em sua mente. — Você não
sabe o quanto eu fico perdido sem estar do seu
lado.
— Ah, Edu! — Suas mãos começaram a afagar
meus braços. Sem esperar mais nem um segundo,
meus lábios se uniram aos seus. Milena entrelaçou
seus dedos em meu cabelo e me puxou para mais
perto. Não queria me concentrar em mais nada
nesse momento que não fosse na deliciosa deusa
de ébano, que estava me deixando louco.
Seus lábios macios se moveram com os meus e
sua língua se enroscou com a minha, tentando tirar
o último resquício de razão que ainda tinha.
Apertei seu corpo de encontro ao meu e, posicionei
uma mão em sua nuca, descendo a outra em
direção ao sua bunda coberta pelo short jeans.
Apalpei a sua bunda e ela gemeu em minha boca,
despertando o meu pau que pulsava dentro da
bermuda. Mas não podia me deixar levar somente
pela excitação, caso contrário nós não
conversaríamos. Milena me devia respostas e eu
iria cobrá-las. Uma a uma. Contendo o desejo de
rasgar as suas roupas e transar com ela sobre o
tapete da sala, eu coloquei uma distância física
entre nós dois.
— Milena, eu vim aqui para conversar com
você. Precisamos manter o foco. Pelo menos dessa
vez. — Ela ficou frustrada. Aparentemente, eu não
era o único que perdia o controle.
— Edu, o que você quer de mim? — A sua
pergunta me pegou totalmente desprevenido.
Queria dizer a verdade. Tudo o que eu queria era
ela. Contudo, não podia responder agora. Nesse
instante, eu precisava entender o motivo da Milena
para estar sempre fugindo.
— Você logo saberá o que eu quero de você. —
Segurei em seu braço e a fiz se sentar no sofá, me
acomodando ao lado dela. — Mas antes eu preciso
saber o que está acontecendo.
Ela comprimiu os lábios e fechou os olhos por
um breve momento. E, quando os abriu, o brilho
que antes tinha em seu olhar se tornou opaco.
Agora eu não tinha mais dúvidas de que algo
estava atormentando a minha deusa e estava louco
para saber o que era.
— Eu não quero que a minha vida pessoal
prejudique a minha carreira. — Suas mãos estavam
tensas no colo, e a expressão de Milena era tão
dolorosa que senti uma fisgada em meu peito.
— O que a sua vida particular tem a ver com a
sua carreira? — perguntei sem entender sobre o
que ela estava se referindo.
— Edu, por favor, não me peça para contar
coisas que nem eu consegui assimilar ainda —
disse ainda mais nervosa, se levantando
abruptamente do sofá.
— Milena confie em mim — falei me
levantando também e me aproximando dela.
— Não sei se posso.
— Você tem receio que eu saiba do que
exatamente?
Milena engoliu em seco e percebi que minhas
perguntas a estavam afetando demais. Mas como
estava decidido a saber tudo sobre ela, eu não
voltaria atrás. Precisava saber a veracidade dos
fatos, somente assim poderia ajudá-la.
— Eu sou... Adotada.
— Ah, minha deusa! — Eu a puxei para os
meus braços e Milena se aconchegou junto ao meu
peito. Afaguei seu cabelo com carinho e ela
envolveu os braços ao redor de meu corpo.
Permanecemos calados por alguns minutos,
apenas sentindo o calor um do outro. E novamente
surgiu dentro de mim o instinto de protegê-la de
tudo e de todos. Milena ainda não sabia, mas estava
acordando algo adormecido em mim, que eram os
meus sentimentos.
— Você tinha medo de que eu a repudiasse por
ser adotada?
— Não somente você, mas a sociedade
também — respondeu e eu ergui o seu queixo,
buscando seus olhos.
— Você não me conhece de verdade. Eu jamais
faria isso! — falei com convicção e ela se afastou de
mim. Senti que Milena ainda estava me
escondendo algo e isso me deixou com o coração
apertado. O simples fato de ela ser adotada não era
o motivo de sua angústia. Havia um segredo maior
e mais comprometedor por trás de sua adoção?
— Não quero manchar a sua carreira e
tampouco afundar a minha. — Ela balançou a
cabeça, angustiada. Respirei fundo e, ignorando o
seu disparate, fui ao seu encontro.
— Milena, você acha que a sua carreira está
ameaçada por ser adotada?
— Edu, têm coisas que você não entende... —
Ela fechou os olhos por um breve momento,
contendo algo dentro de si. — Mas eu não quero
que ninguém saiba sobre isso. É muito importante
para mim.
— Ninguém saberá! Eu prometo! — Sorri
acariciando seu rosto bonito. E, com a finalidade de
suavizar o clima entre nós, eu convidei: — Vamos
sair um pouco?
— Para onde iremos? — Ela finalmente abriu
um sorriso tímido, iluminando o meu fim de tarde.
— Será uma surpresa. Mas aposto que você vai
adorar!
— Eu só preciso trocar de roupa — disse
entusiasmada, me beijando os lábios rapidamente.
Eu a prendi em meus braços e ela riu.
— Acho bom você ir logo antes que eu
arranque as suas roupas e te coma sobre este
tapete felpudo — Confessei a minha fantasia e dei
uma palmada em sua bunda. Milena voltou a rir e
eu a soltei devagar. — Ah, vista uma roupa casual.
— Sim, doutor Guerra.
Me acomodei ao sofá para esperar pela minha
deusa de ébano, enquanto mil pensamentos
invadiam minha mente. Não queria vê-la triste.
Tristeza não combinava com a sua personalidade
forte. O que combinava com ela era amor, alegria,
intensidade. E eu faria qualquer coisa para vê-la
sorrindo e cheia de vida.
Abri um sorriso satisfeito ao perceber que ela
não perguntou onde eu a levaria. Hoje eu queria
fazer o que havia algum tempo tenho pensado que
era apresentá-la a minha mãe. Dona Myrthes mal
sabia, mas estava indo lhe visitar acompanhado.
Seria um choque para ela e também para Milena. E
estava muito ansioso por esse encontro.

***
Estacionei o carro em frente à casa de minha
mãe e Milena me olhou com o semblante surpreso.
— Edu, onde estamos? — indagou desconfiada
se remexendo no banco do carona.
— Você já vai descobrir. — Sorri e saí do carro.
Dei a volta e abri a porta para ela. — Venha! —
Segurei em sua mão e a conduzi em direção à porta
de entrada.
Enquanto caminhávamos, eu aproveitei para
analisar melhor a roupa que Milena estava usando:
um vestido floral solto, sem mangas e uma
sandália estilo rasteirinha. Embora usasse uma
roupa mais despojada, ela estava divina como
sempre. Paramos em frente à porta e eu toquei a
campainha. Não demorou muito para que Cida, a
secretária do lar de minha mãe, aparecesse diante
de nós com um sorriso nos lábios.
— Edu, que surpresa maravilhosa! — Cida
falou entusiasmada enquanto lançava um breve
olhar para Milena, que assistia a tudo sem entender
nada. — Por favor, entrem. — Ela abriu espaço e
nós cruzamos a entrada. Cida nos conduziu até a
sala de estar e saiu para avisar a minha mãe.
— De quem é essa casa, Edu? — indagou
Milena em um sussurro, olhando ao redor,
desconfiada.
— Você já vai saber.
Alguns segundos depois, minha mãe apareceu.
Ao constatar a presença de Milena ao meu lado, ela
abriu um sorriso alegre e seus olhos verdes
brilharam em nossa direção. Dona Myrthes estava
muito elegante em um vestido longo estampado e
sapatilhas. O cabelo castanho curto estava
cuidadosamente penteado e ela exalava o seu
perfume predileto. Minha mãe não era uma mulher
que se parecia com essas estrelas de tevê, mas
mesmo com seus 58 anos, ela se cuidava e
mantinha tanto o corpo como a mente sã.
— Edu, não esperava você hoje. — Minha mãe
me deu um selinho nos lábios como de costume e
me deixou sem jeito. — Por que você não disse que
viria, meu filho?
Milena que estava ao meu lado, arregalou os
olhos. Ela ficou imóvel e não moveu um músculo
sequer de seu lindo rosto. Sabia que ela estava em
choque por saber que estava na casa de minha mãe,
e por isso, eu tratei logo de deixá-la mais a vontade.
— Mãe, essa é Milena Venturini. — Minha mãe
percebeu a surpresa de Milena e abriu um novo
sorriso para a deusa de ébano que continuava sem
piscar.
— É um prazer conhecê-la, Milena. Eu me
chamo Myrthes Andrade. Seja bem-vinda.
— É um prazer conhecê-la também, dona
Myrthes — respondeu Milena abrindo um sorriso
para minha mãe e me lançando um olhar
desaprovador.
Sabia que depois teria que me explicar com ela,
mas estava adorando a surpresa que fiz. Não avisei
a minha mãe que eu vinha e nem ela cogitou que
eu viesse acompanhado. Era uma novidade para
minha mãe, pois a única garota que eu trouxe em
sua casa foi Cibele, em uma única noite. Levando
em conta que foi uma noite catastrófica, tenho
certeza de que a dona Myrthes estava mais do que
feliz em apagar essa lembrança.
— Vamos para a varanda que aqui dentro está
muito quente. — Nós três nos dirigimos à área
externa da casa, onde nos acomodamos ao redor de
uma mesa e mamãe sorriu animada. — Meu filho,
se você dissesse que vinha, eu tinha feito o bolo de
brigadeiro que você adora.
— Mãe, não precisa se preocupar. Eu volto
outro dia para saborear o bolo com você.
— Você gosta de preparar surpresas, não é,
Edu? — Mamãe estava lançando um olhar curioso
para Milena que estava acomodada ao meu lado.
Ela ainda estava um pouco tensa, mas não parecia
mais tão irritada. — Bem, não temos bolo de
chocolate, mas a Cida fez um de fubá. Vou chamá-
la para nos servir o bolo com um delicioso suco de
graviola.
Momentos depois, Cida apareceu com uma
bandeja repleta de gostosuras e deixou em cima da
mesa. Mamãe cortou uma fatia de bolo para cada
um de nós, enquanto a sua secretária do lar servia
os copos de suco. Cida sorriu para mim e para
Milena e voltou para a copa.
— Esse bolo é uma das muitas especialidades
da Cida. — Mamãe falou entregando o prato de
doce para Milena.
— Deve estar muito gostoso. Obrigada! — ela
agradeceu sorrindo.
— De nada! — Minha mãe devolveu o sorriso.
Milena deu uma garfada no bolo e eu bebi um
pouco de suco para refrescar a minha garganta. Um
silêncio inesperado pairou no ar enquanto minha
mãe nos estudava meticulosamente. Seus olhos
brilhavam para mim e para Milena o que
evidenciava a sua suspeita a respeito de nós dois.
Dona Myrthes sabia que a deusa de ébano não era
minha amiga, pois eu nunca tive mulheres como
amigas. A única exceção era Tânia. Mas essa não
contava, porque antes de ser minha amiga, ela era
um de meus tantos casos.
— E como está o bolo?
— Está muito bom — respondeu Milena após
saborear mais uma garfada.
— Oh, que maravilha! Cida vai adorar saber
disso! — Mamãe exclamou entusiasmada. — De
onde vocês se conhecem? — A pergunta inesperada
de minha mãe fez com que Milena quase se
engasgasse com o bolo. Ela engoliu o lanche
rapidamente e bebeu um gole de suco.
— Eu e Edu nos conhecemos no ambiente de
trabalho. — A minha deusa tentou parecer
tranquila, mas percebi que ela estava tensa, pois
devorou a fatia de bolo em questão de minutos.
— Você é serventuária da justiça também?
— Mamãe, a Milena é promotora pública —
respondi por ela que estava com a boca cheia de
bolo. Minha mãe abriu um sorriso demonstrando
seu contentamento. — Nos conhecemos no Fórum,
entre uma audiência e outra.
— Que interessante! — Minha mãe sorriu. —
Aceita outro pedaço de bolo, Milena? — Minha
mãe parecia que estava gostando da Milena e isso
me agradava muito.
— Obrigada, mas eu estou satisfeita. — Milena
agradeceu deixando o prato e o garfo em cima da
mesa.
— Você se graduou em uma universidade
particular ou pública? — dona Myrthes continuou
com a sua curiosidade aguçada.
— Eu sempre estudei em colégios públicos e
fiz faculdade em uma instituição pública também,
assim como a especialização em Direito Penal.
— Além de ser uma moça muito bonita, você é
inteligente. — Minha mãe a elogiou e eu meus
olhos brilharam de satisfação. — Edu tem um bom
gosto. — Sorriu e agora era a minha vez de quase
me engasgar com um pedaço de bolo. Minha mãe
precisava ser tão indiscreta?
Milena girou o rosto para me fitar e eu respirei
fundo. Em vez de ver fúria em seus olhos castanhos
o que eu vi era satisfação. Ela estava gostando da
minha mãe e isso me deixava ainda mais feliz.
Nunca fiz algo tão inusitado que obtivesse um
resultado tão satisfatório.
— A senhora é uma mulher muito simpática,
dona Myrthes, e muito bonita também. — Milena
sorriu para mamãe que lhe devolveu o sorriso.
— Querida, obrigada. Mas eu só digo o que é
verdade.
— Mãe, como vão as coisas em seu
consultório? — perguntei mudando de assunto. Ela
era psicóloga e mesmo estando aposentada, ela
ainda atendia alguns pacientes.
— Estão um pouco cansativas, mas eu não me
queixo. Amo o que eu faço e prefiro trabalhar a
ficar em casa olhando para as paredes —
respondeu entre uma garfada e outra de seu
pedaço de bolo.
— A irmã mais nova da Milena também é
psicóloga.
— Você tem mais irmãos, Milena?
— Não, somente a Lívia — ela falou de modo
sucinto.
— Pelo menos você tem uma irmã.
Infelizmente, eu não pude dar mais irmãos ao Edu.
— Mamãe lamentou-se e nesse instante eu me
recordei dos dois abortos espontâneos que ela teve
depois que eu nasci. Eu tinha apenas quatro anos
de idade quando o primeiro aborto aconteceu e seis
anos da segunda vez, mas lembrava de que havia
uma sensação de tristeza na casa. — Eu engravidei
do Edu logo depois que me formei. Não é fácil você
criar um filho e ter que trabalhar também. Mas eu
consegui.
— Você é uma guerreira, mãe — afirmei com
carinho, pois sabia os apuros que ela teve que
passar nos últimos anos, depois que meu pai saiu
de casa para viver com a Elisa.
— Mas Edu tem uma irmãzinha.
Incomodado, deixei o prato sobre a mesa com
a fatia de bolo pela metade e lancei um olhar
reprovador para minha mãe. Não queria ter que
falar na família de meu pai agora. Definitivamente
não queria!
— Mãe, não vamos falar sobre isso!
Milena que estava sem entender nada dividia a
atenção fitando nós dois em busca de respostas.
Não sabia qual foi a intenção da dona Myrthes em
tocar nesse maldito assunto na frente da Milena. O
fim de tarde que até agora estava sendo ótimo,
perdeu o encanto.
— Sim, meu filho — concordou minha mãe,
contrariada, servindo os copos com um pouco de
suco de graviola.
— Dona Myrthes, eu preciso ir ao toalete —
disse Milena se levantando.
— Venha comigo que eu a conduzo — falou
minha mãe se levantando também. — É por aqui.
— As duas saíram e eu fiquei sozinho por um
momento. Aproveitei para terminar de comer o
meu bolo e apreciar a vista do jardim florido a
minha frente.
Não demorou muito para que e minha mãe
retornasse. Em suas mãos eu vi um envelope
lacrado e ela o deixou em cima da mesa. Franzi o
cenho confuso enquanto ela se acomodou na
cadeira onde estava sentada.
— Edu, você devia ter me avisado de que estava
namorando. Isso não se faz, filho! Quer me matar
do coração? — indagou sorridente em tom
divertido.
— Mãe, eu e a Milena não estamos namorando!
— Vi minha mãe dar uma risadinha baixa e
balançar a cabeça de um lado para outro.
— Ah meu filho, você está enganando quem? A
mim é que não é! — Ela deu uma piscadinha
inclinando o corpo um pouco para frente. — A
propósito, Milena é linda! Dessa vez, você acertou.
E além da beleza ela tem conteúdo, o que é mais
importante.
— Ela é linda por completo. — Sorri orgulhoso.
E, lançando um olhar rápido para o envelope sobre
a mesa, indaguei: — O que é isso que a senhora
tem ai, hein mamãe?
— Edu, esse é o convite de aniversário da sua
irmã Sofia.
— O que esse convite está fazendo aqui em sua
casa? Falta ainda um mês para esse aniversário! —
disse puto de raiva, só em cogitar a audácia que
meu pai teve para trazer esse convite para a sua ex-
esposa.
— Seu pai não obteve sucesso em falar com
você ao telefone, então passou aqui para deixar o
convite para que eu te entregasse.
— Não irei a essa festa! De jeito nenhum!
— Edu, por favor, termine essa desavença com
o seu pai e... — Dona Myrthes tentou me persuadir,
mas ouvimos passos vindos do interior da casa e
ficamos em silêncio. Era Milena que retornava do
toalete.
Ela parou próximo à mesa, mas não se sentou.
Percebi que Milena estava um pouco nervosa e de
imediato a preocupação se fez presente. Será que
ela não gostou de ter conhecido a minha mãe? Ou
era outra coisa que a estava deixando inquieta?
— Edu, nós podemos ir? — perguntou Milena
e minha mãe franziu o cenho demonstrando
descontentamento.
— Mas é cedo ainda. Por que vocês não ficam
para o jantar? — Convidou minha mãe
esperançosa.
— Eu preciso rever alguns autos processuais
para o dia de amanhã, que será cheio.
— Bem, assim como a Milena, eu também
tenho trabalho a fazer. — Eu me levantei e minha
mãe me seguiu fazendo o mesmo.
— Você não vai levar o convite de aniversário
de sua irmã? — questionou dona Myrthes, me
deixando na maior saia justa.
— Não, eu não vou.
— Eu adoro festa de aniversário, ainda mais de
criança. É sempre tão alegre! — Milena me lançou
um olhar sugestivo do tipo “pegue a porra do convite
de cima da mesa, Edu Guerra”!
— Edu, leve o convite do aniversário da Sofia.
— Minha mãe estendeu o papel em minha direção.
Muito contrariado eu peguei o envelope e guardei
no bolso da bermuda. Não queria discutir com ela
devido a um maldito pedaço de papel sem
importância.
Nós nos despedimos de dona Myrthes, que
entusiasmada, fez questão de marcar um jantar
para os próximos dias. Milena aceitou o convite e
saímos em direção ao carro. Minha mente estava
confusa e imersa em vários pensamentos. Um deles
era na reação inesperada de minha deusa, que
parecia tensa. Ao chegar próximo ao carro, ela
interrompeu os passos e ficou olhando ao redor.
Não entendi seu comportamento estranho e eu
também parei, fitando-a com ar especulativo.
— Milena, está tudo bem?
— Não sei. Você já sentiu a sensação de que
está sendo observado? — Eu a fitei sem entender
nada, e neguei com a cabeça. — Ah, deixa pra lá.
Deve ser coisa da minha cabeça.
— É bem provável, minha deusa. Eu não vejo
ninguém suspeito na área. — Brinquei abrindo a
porta do carro para ela se acomodar ao banco do
carona. Dei a volta e me sentei no banco do
motorista. — Estou louco para voltarmos ao seu
apartamento e realizar a minha fantasia de te
comer você sobre o tapete da sua sala de estar.
— Eu acho uma excelente ideia!— Ela sorriu
maliciosa, mordendo o lábio inferior. — Mas antes,
você me deve uma explicação por ter me trazido na
casa da sua mãe sem me consultar. E eu a exigirei
de você, doutor Guerra — falou em tom firme e eu
abri um sorriso sacana.
— Será um prazer, doutora Venturini. Um
enorme prazer eu diria. — Finalizei deixando a
frase repleta de interpretações e Milena muito
excitada.
Capítulo 16

Sandra

Estacionei o carro na garagem e deixei a cabeça


repousar sobre o volante. Não acreditava que segui
Milena mais uma vez. Precisava parar de fazer isso,
ou ela acabaria descobrindo. E, se isso acontecesse,
seria o meu fim. Seria o fim dela!
Respirei fundo e tentei buscar o controle que
me faltava. Olhei no relógio de pulso e constatei
que faltavam menos de duas horas para a recepção
na casa dos Resende e Silva. Eu precisava estar
deslumbrante ao lado do meu marido e da minha
filha. Tinha que mostrar a sociedade que éramos
uma família feliz e bem sucedida. Dinheiro era o
que não faltava, mas felicidade e amor... Bem, eu
vivi todos esses anos fingindo e me dei bem com
isso. Não seria agora que jogaria tudo o que
conquistei para o alto.
Saí do esportivo e acionei a fechadura
eletrônica. Senti as mãos trêmulas e frias devido à
tensão. Rever Milena me trouxe as velhas e
dolorosas lembranças. Acreditava que elas nunca
me abandonariam. O meu passado manchado pela
culpa e pela dor sempre estava comigo. Ajeitei a
saia do vestido italiano e atravessei a copa em
direção ao escritório. Carlos ainda não havia
chegado e provavelmente nem Karen, que estava na
aula de balé.
Entrei e me servi de uma dose de uísque, pois
precisava de algo forte para me acalmar. Bebi a
dose em questão de minutos e deixei o copo em
cima da mesa. Ouvi passos vindos do corredor e
logo a minha filha surgiu diante de mim. Ela trouxe
dois vestidos de festa, um em cada mão.
— Você já está em casa, filha? — indaguei
abrindo um sorriso.
— Sim, eu deixei a aula mais cedo, pois tenho
que escolher um vestido para a festa. Mamãe, o
papai disse que é para eu usar o vestido azul e não
o bege. — Ela revirou os olhos, descontente. — Ele
disse ainda que como eu tenho o cabelo castanho
claro como o seu e a pele muito branca como a sua
também, eu devo usar o azul, pois irá me destacar.
O que você acha?
— Oh, querida. Seu pai está certo. O azul dará
realce em seus olhos que são claros como os dele.
— Sorri me aproximando dela e tentando não
demonstrar que estava nervosa.
— Ótimo! Quero ver o dia que eu passar no
vestibular e me formar na faculdade. Papai vai
pirar. — Ela riu e deixou o escritório, subindo a
escada rapidamente.
Girei o corpo e voltei em direção ao bar.
Quando eu pensei em tomar mais uma dose de
uísque, eu ouvi a voz de meu marido.
— Sandra, onde você se meteu? — Carlos
entrou no escritório com o paletó dobrado no
braço. — Você esqueceu-se da recepção que temos
com os meus sócios?
— Claro que não, Carlos. Eu já estava subindo
para o banho e...
— Acho bom você se arrumar logo, pois eu não
quero chegar atrasado a essa festa! — Seu tom de
voz deixava claro que não devia argumentar. —
Antes de você ir se arrumar, quer me explicar o que
aconteceu com o seu celular? Você o desligou? —
Carlos era um homem extremamente paranoico, e
qualquer coisinha era motivo para irritá-lo.
Aprendi ao longo dos anos, que ele esperava uma
resposta rápida para todas as suas questões. Fazia
anos que me especializei nessa arte.
— O meu celular ficou sem bateria, você quer
conferir? — Peguei o aparelho de dentro da bolsa e
mostrei para ele. — Olha! Ele está mortinho.
Satisfeito?
— Onde você esteve, Sandra?
— Eu fui à manicure — respondi mostrando as
unhas pintadas de vermelho. — Ou você queria que
eu fosse a esse evento sem fazer as unhas?
— Você tem estado um pouco estranha
ultimamente, querida, — Seu tom era mortalmente
frio e seus olhos azuis me estudavam com astúcia.
— Não se esqueça de quem você é, Sandra. Você é
uma Gutemberg. E você sabe do que eu sou capaz
de fazer para manter esse sobrenome intacto.
— Oh, claro! — Dei uma risada sarcástica e ele
estreitou os olhos. — Eu não passo de um troféu
para você, Carlos! Desde que nos casamos você só
fala no sobrenome de sua família e no seu maldito
dinheiro! — cuspi as palavras da boca e ele avançou
sobre mim, furioso.
— Cale a boca! Isso não é verdade! —
esbravejou segurando os meus braços.
— O nosso casamento não passa de uma farsa
perante a sociedade. Você está comigo somente
para manter a união das empresas das nossas
famílias — Carlos bufou diante da minha
afirmação. Me desvencilhei das suas mãos e me
afastei, c-+om o estômago embrulhado pela
repulsa.Tudo o que eu disse era verdade, e até hoje
não entendia como meu marido conseguia ser tão
hipócrita.
— Acho melhor você ir se arrumar, Sandra.
Enquanto isso, eu vou subir e tomar um banho
rápido. — Ele lançou um último olhar para mim e
deixou o escritório sem olhar para trás.
Eu me afundei na cadeira executiva e meus
pensamentos me levaram ao passado. Fechei os
olhos e as lembranças surgiram tão vívidas que
chegavam a doer. Nunca me perdoei pelo que fiz,
mas eu não tinha saída. Eu era apenas uma garota
sonhadora e apaixonada. Se eu não estivesse noiva
do Carlos quando conheci o safado do Donato, as
coisas poderiam ter sido diferentes.
A minha vida era repleta de “e se”. E se eu não
estivesse noiva? E se eu não me envolvesse com
Donato? E se eu não abrisse mão do meu bem mais
precioso? Esses arrependimentos não valiam nada.
Eu fui envolvida pela sedução de um conquistador
trambiqueiro e me deixei levar pela paixão. E o
fruto desse relacionamento era a promotora de
justiça Milena Venturini, minha filha biológica. Eu
deveria ter pensado nas consequências, em vez de
agir por impulso. Assustada diante da gravidez
inesperada, eu não tive escolha. A única saída que
eu tinha foi me desfazer dela. Ninguém soube da
verdade. Eu fazia faculdade em uma cidade
distante do domínio dos meus pais, e isso facilitou
a minha decisão. Mas agora, depois de ter visto a
minha filha se tornar uma mulher linda e tão
parecida com o pai, o arrependimento me
consumia.
Queria tanto poder abraçá-la e pedir o seu
perdão. Mas será que Milena me perdoaria?
Certamente que não! Nem eu me perdoava pelo
que fiz. Apoiei a cabeça em minhas mãos e comecei
a chorar. Eu não merecia o perdão dela e nem de
ninguém. Talvez isso que estava passando hoje
fosse castigo pelo ato desumano que cometi. E eu
merecia cada instante de sofrimento.
Capítulo 17

Milena

Depois que ouvi partes da conversa do Edu


com a sua mãe, me senti desconfortável. Não
queria que eles pensassem que eu estava escutando
atrás da porta, mas infelizmente não pude deixar
de ouvir o final da conversa. Nunca pensei que Edu
tivesse um desentendimento com seu pai e que não
convivesse com a irmã mais nova. Pelo que percebi,
ele não amava a garotinha. Precisava reverter essa
situação. Irmão era irmão, fosse de sangue ou não.
Enquanto estávamos dentro do elevador,
subindo para o meu apartamento, Edu, como de
praxe, começou as preliminares. Suas mãos
estavam por todo o meu corpo, apertando,
acariciando. E não eram somente as suas mãos que
me deixavam alucinada, mas também os seus
lábios que estavam grudados aos meus, me
beijando com volúpia. Acreditava que ele devia ter
algum tipo de fetiche por elevadores. Não tinha
outra explicação!
— Edu, pare com isso! — sussurrei tentando
conter as suas mãos. As portas do elevador se
abriram e ele saiu agarrado a mim. — Eu não sou
como você que mora em um edifício que tem um
apartamento por andar. Eu tenho uma vizinha e ela
pode nos ver!
— Então vamos dar um show para a sua
vizinha! — Sorriu enquanto me beijava o pescoço,
com as mãos cravadas em minha bunda.
— A dona Ofélia tem 80 anos, lembra-se?! —
exclamei e ele soltou uma risada gostosa.
— Nesse caso então, não quero matar a
velhinha do coração. —Eu procurei as chaves
dentro da bolsa, enquanto Edu tentava me distrair
com as mãos agora embaixo da saia de meu
vestido. Seus dedos deslizaram em minhas coxas e
foram em direção a minha calcinha. Safado! Estava
tentando tirar o meu foco a qualquer custo!
— Achei as chaves! — Estava ofegante,
sentindo-o passear com os dedos sobre a lingerie
rendada.
— E eu achei a sua bocetinha! — sussurrou
com voz sexy em meu ouvido, massageando o meu
clitóris por cima da calcinha.
Com extrema dificuldade, eu abri a porta e
entramos grudado um ao outro. Suas mãos agora
estavam em minha bunda e com um único objetivo:
me enlouquecer de tanto tesão. Edu me virou de
frente para ele e, capturando a minha boca em um
beijo arrebatador, ele fechou a porta com um
pontapé.
— Edu? — Eu o chamei por entre seus lábios.
— Precisamos conversar. — Ele começou a descer o
zíper do meu vestido.
— E nós iremos, minha deusa. — Sorriu
deslizando as mãos em minhas costas nuas e
distribuindo beijos em meu pescoço.
— Edu, pare! — Eu me afastei um pouco para
fitá-lo nos olhos. Ele franziu o cenho
demonstrando seu descontentamento enquanto eu
fechei o zíper do meu vestido. — Data venia, doutor
Guerra, mas eu sei o que você está fazendo. Você
está tentando me seduzir e me levar para a cama,
em vez de se explicar comigo.
— Eu não quero te levar para a cama e sim eu
te foder sobre o tapete da sala. E com certeza eu
estou te seduzindo. — Sorriu divertido me
envolvendo pela cintura. — Bem, você tem dez
minutos para fazer as suas indagações e depois...
— Ele inclinou a cabeça para baixo e aproximou
seus lábios da minha orelha. — Depois eu quero
aquilo que me pertence. Ou seja, o seu prazer! —
Fechei os olhos por um momento e tentei não
sucumbir diante de seu charme avassalador.
— Acho que dez minutos serão o suficiente.
Claro, se você conseguir se explicar neste curto
prazo de tempo. — Sorri dando uma piscadinha e
fomos até o sofá. — Então, por que você me levou
para conhecer a sua mãe sem me avisar?
Edu respirou fundo e passou uma das mãos
pelo cabelo. Percebi que minha indagação mexeu
com ele, e comecei a imaginar que talvez não
tivesse sido uma boa ideia ter essa conversa agora.
Mas eu precisava saber qual era a intenção dele em
me apresentar para a sua mãe. Eu tinha esse
direito!
— Milena, eu queria te fazer uma surpresa.
Aliás, queria fazer uma surpresa a você e a minha
mãe.
— Uma surpresa? Só isso? — perguntei
confusa, pois mil ideias passavam pela minha
cabeça nesse momento.
— Não! Não apenas uma surpresa. —Edu
segurou a minha mão e me olhou direto nos olhos.
— Minha deusa, eu gostaria... Eu gostaria de tentar.
— Tentar?! — exclamei me perdendo no brilho
de seus olhos. — Você diz... Tentar... Eu e... você?
— Sim, Milena. — Edu fez uma pausa
enquanto eu tentava processar o que ele estava
tentando me dizer. — Você quer ser a minha
namorada? — Sorriu e meu coração disparou.
— Vo-Você... quer namorar comigo?
— Se você quiser...— Deu um sorriso de canto
me seduzindo ainda mais.
— Oh, Edu! — Pulei em seu pescoço,
distribuindo beijos em sua boca e em seu rosto.
— Eu acho que isso é um sim? — Ele riu, me
abraçando forte.
— Sim! Isso é um sim! — Sorri me sentindo a
mulher mais feliz e sortuda do mundo.
— Então, isso merece uma comemoração! —
declarou se levantando e me pegando no colo.
— E o que você fará?
— Eu havia pensado em você nua e eu no meio
de suas pernas no tapete da sala. Mas eu acho
melhor você nua e eu no meio de suas pernas em
cima da sua cama.
Atravessamos o corredor e chegamos ao meu
quarto. Edu me colocou de pé e seus dedos
avançaram rapidamente em direção ao zíper do
meu vestido. Em poucos segundos, ele me despiu e
eu fiquei nua.
— A oitava maravilha do mundo: VOCÊ! —
disse com olhar flamejante.
Sem fazer cerimônias, eu avancei sobre ele e
tirei as suas roupas. E, quando a sua cueca boxer
escorregou ao chão, e seu pau saltou livre diante de
meus olhos.
— Viu só como o guerrinha fica quando está
perto de você? — Ele abriu um sorriso sacana, me
segurou pelos ombros e me colocou de bruços na
cama. Edu literamente montou em cima de mim e
senti seu membro pulsar como um louco em minha
bunda. — Hoje eu vou te dar prazer de todas as
formas, Milena. Quero ouvir você chamar o meu
nome bem alto que é para a sua vizinha ter sonhos
eróticos durante a noite.
Edu espalmou suas mãos em minha bunda e
senti seu pênis ir e vir no meio de minhas nádegas.
Ele forçou o movimento e começou a gemer de um
jeito muito sexy que fez minha vagina arder em
antecipação. Não acreditava que ele estivesse
praticamente se masturbando com a minha bunda!
— Edu, o que você fará comigo? — sussurrei
agarrando o travesseiro e virando o rosto de lado.
— Surpresa! — sussurrou lambendo as minhas
costas em direção a minha nuca. Ele afastou o meu
cabelo e senti seu hálito quente incendiar a minha
orelha. — Estou louco para te sentir por trás,
minha deusa. — Estremeci e mordo o lábio, receosa
e excitada demais.
— Mas... Eu nunca...
— Eu sei! Não se preocupe. — Senti seu sorriso
em meu pescoço. — Porém, antes eu preciso saber
se você tem algo que possa servir de lubrificante.
— Respirei fundo e não acreditava que estava tendo
essa conversa com ele.
— Bem, eu acho que tem óleo mineral no
armário do banheiro.
— Excelente! — Sorriu satisfeito. — Fique de
quatro na cama que eu já volto.
Edu saiu e eu girei o rosto para observá-lo.
Minha boca se encheu de água ao contemplar seu
físico. Não acreditava que esse homem incrível,
sedutor e másculo me pediu em namoro.
Instantes depois ele estava voltando para a
cama, segurando o frasco do óleo mineral em uma
das mãos. Antes de se unir a mim, ele interrompeu
os passos e se deteve a procurar uma música no
aparelho de som. A melodia de Capital Inicial,
Fogo, começou a tocar em tom baixo. Eu me
posicionei conforme ele pediu e deixei minha
bunda exposta para ele.
— Estou vendo que você encontrou o que
procurava — disse ansiosa enquanto ele deixava o
produto sobre o criado mudo e se colocava atrás de
mim. Edu me abraçou e puxou um pouco meu
tronco para trás.
— Eu achei o que procurava no dia que te
conheci, no trânsito — sussurrou distribuindo
beijos e lambidas em meu pescoço e em minha
clavícula.
A declaração me pegou totalmente
desprevenida. Não sabia o que foi mais
surpreendente: o pedido de namoro feito por Edu
pouco antes, ou se foi ele me dizer que havia me
encontrado. Em toda a minha vida eu sempre me
escondi de tudo e de todos. Escondi meu passado,
minhas origens, meus traumas, minhas
frustrações. E ouvi-lo fazer revelações sentimentais
a meu respeito, fez com que eu sentisse que havia
esperança.
— Oh, Edu! — gemi e ele inseriu a sua língua
deliciosa em minha boca.
Enquanto Edu me beijava com volúpia,
enroscando as nossas línguas, uma de suas mãos
deslizou em direção a minha abertura encharcada.
Ele massageou meu clitóris com tanta intensidade,
que comecei a sentir pequenos espasmos
involuntários se manifestarem em meu corpo.
— Minha deusa de ébano! — falou por entre
meus lábios me torturando com seu dedo, que
agora estava dentro de mim, indo e vindo, me
deixando escaldante.
— Meu safado gostoso! — Sorri ofegante e ele
puxou o dedo para fora. — Ah, Edu! Agora que
estava ficando bom! — choraminguei frustrada.
— Quero te foder com meu pau e não com os
meus dedos. — E, dizendo isso, ele segurou firme a
minha cintura e me penetrou. Edu se movimentou
dentro e fora de forma implacável enquanto uma
de suas mãos acariciava a minha bunda e a outra o
meu clitóris.
— Me fode mais rápido, Edu! Mais rápido! —
supliquei deixando o tronco cair sobre o colchão e
agarrando o travesseiro.
— Gostosa do caralho! — disse inserindo o
dedo polegar umedecido pela sua saliva em meu
ânus. — O meu pau está louco pra te comer aqui,
Milena. — Ele desferiu estocadas ferozes tanto com
seu membro em minha abertura, quanto com o seu
dedo em meu segundo canal.
Enquanto Dinho Ouro Preto canta Fogo, eu me
remetia a uma fogueira propriamente dita. Sentir o
seu pênis potente e grande me devorar com
intensidade era o mesmo que estar em um
caldeirão fervendo. Edu batia e voltava, flexionava
os quadris e eu ia à loucura. As palavras sujas
proferidas por ele pouco antes, bem como o seu
membro me possuindo com sagacidade, eram a
minha perdição. Sem poder me controlar mais, eu
convulsionei em um orgasmo intenso que me
roubou a razão de tudo.
— Ahhhh, Edu! — Arfei, me movendo junto
com ele.
— Porra, Milena! — rosnou ofegante
bombeando com força. E quando pensei que ele
liberaria o seu gozo, Edu saiu de dentro de mim,
me deixando vazia.
— Por quê? — indaguei indignada enquanto o
vi pegar o frasco de óleo de cima do criado mudo.
— Eu tenho outras ideias ainda mais
prazerosas para pôr em prática — respondeu
abrindo um sorriso torto. Edu inseriu aos poucos o
polegar lambuzado pelo óleo em meu canal e eu
me contorci excitada outra vez. Ele deixou o frasco
sobre o criado mudo e empinou a minha bunda. —
Está confortável assim?
— Sim, acho que estou. — Eu estava ofegante,
sentindo cada músculo de meu corpo enrijecer.
— Segure o travesseiro e relaxe, minha deusa.
— Engoli em seco o sentido esticar em mim
lentamente, abrindo caminho para algo mais
grosso e grande.
Eu agarrei com força o travesseiro e fechei os
olhos saboreando essa sensação nova e muito
prazerosa. Edu tirou o dedo e lubrificou um pouco
mais o meu canal com o óleo. Depois, enfiou dois
dedos dentro de mim, metendo mais rápido, me
abrindo toda. Arfei alto e involuntariamente
comecei a rebolar no embalo de seus dedos.
A sensação era ardida e ao mesmo tempo
incrivelmente prazerosa. Após ser estimulada
várias vezes, ele tirou os dedos e eu sabia o que
viria a seguir. Segurei mais forte o travesseiro e
mordi os lábios, ansiosa.
— Agora você está pronta para receber o meu
pau — disse e senti a cabeça de seu membro
implorar por passagem.
— Aiiiii, está doendo — choraminguei
fechando fortemente os olhos.
— Relaxe, Milena. Deixe seu corpo se
acostumar comigo — recomendou e voltou a
bombear devagar.
Os primeiros movimentos eram ardentes e
desconfortáveis. A sensação era estranha e ao
mesmo tempo excitante. Para me deixar um pouco
mais relaxada, Edu massageou meu clitóris com os
dedos, me estimulando. Prontamente meu corpo
voltou a se acender. E aproveitando que estava
excitada demais, ele forçou um pouco mais e senti
a cabeça de seu pênis invadir o meu canal.
— Ahhhhhh! — Arquejei com força enquanto
a ardência voltava a dar sinal.
— Eu te machuquei, minha deusa? — indagou
preocupado permanecendo imóvel dentro de mim.
— Não, mas está queimando um pouco —
respondi segurando firme o travesseio, sentindo
lágrimas brotarem em meus olhos.
— Se quiser que eu pare, é só me dizer —
sussurrou manipulando meu ponto sensível com
intensidade. Embora a dor estivesse presente, ela
se misturava ao prazer.
— Não... Mas vai devagar! — disse tentando
me acostumar com o sexo anal.
— Você vai gozar muito comigo aqui dentro,
Milena. — Ele voltou a se movimentar e eu soltei
pequenos gemidos.
Edu mantinha suas mãos em meus quadris
enquanto se mexia lentamente dentro de mim. A
sensação desconfortável que eu sentia no início
começava a dar espaço ao prazer. Enquanto ele
metia em meu canal, os seus dedos trabalhavam no
meu clitóris. E para me deixar ainda mais
endoidecida, ele enfiou o dedo médio em mim. Edu
aumentou o ritmo das estocadas e senti seu
membro entrar mais e mais.
— Que delícia! Você é tão apertadinha! —
rosnou dando uma palmada na minha bunda. —
Quero te foder todos os dias, minha deusa! Todos
os dias! — E investiu em mim com voracidade. Edu
meteu seus dedos fundo em minha vagina,
enquanto me comia por trás.
— Ahhhhh! — gemi alto sentindo um novo
gozo se formar em mim.
— Rebola, minha putinha! — Eu fiz o que ele
pediu e Edu ficou mais intenso, quase me rasgando
inteira. — Ahhh... Porra! Que rabinho gostoso! —
chiou estocando rápido, mexendo com os quadris
impiedosamente. — Chame meu nome e deixem
que todos saibam quem está te matando de prazer.
As suas investidas se intensificaram e eu não
aguentei mais segurar o orgasmo. Serpenteei,
ofeguei pesado, agarrei com força o travesseiro,
enquanto sentia ambos os canais entrarem em
ebulição.
— Edu! Edu! Edu! — Seu nome saiu de minha
boca em forma de ladainha chorosa.
— Você vai acabar comigo! — Ouvir Edu dizer
isso me fez apertá-lo dentro de mim. Ele continuou
com mais três estocadas e começou a falar meu
nome, enquanto me enchia com o seu esperma
quente. — Milena! Ohhh, Milena!
Exausta devido à batalha intensa de prazer, o
meu corpo não aguentou e eu desmoronei sobre os
lençóis. As minhas pernas tremiam e o meu
coração martelava em minha garganta. Edu me
seguiu fazendo o mesmo e se debruçou suado
sobre mim. Permanecemos por alguns segundo
assim, apenas sentindo o calor um do outro.
Arfante, ele rolou para o lado e me puxou para
junto de si. Imersa em sensações novas, eu deixei a
minha cabeça repousar em seu peito viril. E neste
instante eu cheguei a uma conclusão: eu estava
apaixonada por Edu, e não sabia como lidar com
esse sentimento.
Capítulo 18

Edu

Abri os olhos e a minha primeira visão foi da


minha deusa dormindo com uma das pernas
entrelaçadas as minhas. Seus cachos castanhos
banhavam o meu peito e sua pele cor do pecado
brilhava com os raios de sol que penetravam pelas
frestas da cortina da janela. Sorri maravilhado e
acariciei seu rosto. Ela se mexeu um pouco e virou
do outro lado agarrando o travesseiro. O lençol que
cobria parcialmente o seu corpo deslizou para
baixo e deixou parte de sua bunda a mostra.
Prontamente o meu pau se tornou duro e louco por
uma foda matinal. E como não era homem de
passar vontade, eu comecei a deslizar a minha
língua em suas costas, lentamente. Milena gemeu
algo incompreensível, ainda adormecida.
Escorreguei o lençol do seu corpo, deixando-a
completamente nua. Ela sentiu as minhas mãos
acariciarem a sua pele e voltou a ficar de frente,
porém ainda com os olhos fechados em um estado
de sonolência. Eu aproveitei que ela estava na
posição certa e abri um pouco as suas pernas, me
encaixando no meio delas. Distribuí beijos em suas
coxas e ela arquejou. Fixei meus olhos em sua
boceta parcialmente depilada em forma de
pirâmide invertida e caí de boca em sua pele
rosada. Chupei de leve em diversas idas e vindas e
Milena agarrou meu cabelo, gemendo sem parar.
Quando prendi seu clitóris em meus dentes,
chupando-o com voracidade, ela abriu os olhos,
surpresa.
— Edu!
Sem falar uma só palavra, eu entrelacei nossas
mãos e investi naquela carne macia, tomando tudo
dela. Chupei, lambi mordisquei e Milena foi à
loucura. Poucos minutos depois ela explodiu,
gozando alto, arfando e se contorcendo sobre os
lençóis. Sorri e pairei em cima dela, que estava
ofegante se recuperando do orgasmo que teve.
— Bom dia! — disse beijando seus lábios.
— Nossa! Esse foi o melhor bom dia que tive
em toda a minha vida. — Ela acariciou o meu rosto.
— E ainda não acabou. — Sorri perverso,
pegando-a no colo. — Quero te comer no banheiro,
enquanto tomamos banho. — Não dei tempo para
ela pensar. Saí da cama e carreguei Milena até o
boxe. Coloquei-a de pé e ela mordeu o lábio de um
jeito muito sacana. Liguei a água que desceu na
temperatura ideal e a puxei para dentro,
encurralando-a contra a parede. — Você será o meu
café da manhã! — e dizendo isso, eu a beijei com
intensidade. Milena envolveu seus braços ao redor
de meu pescoço enquanto a água nos molhava.
Suspendi uma de suas pernas no ar e a
penetrei, duro e exigente. Ela gemeu em meus
lábios e isso foi o combustível puro para eu
começar a estocá-la com força. Meti fundo,
pressionado seu útero e, endoidecida, ela mordeu
minha orelha, querendo mais.
— Ahhh, Edu!
— Você gosta de ser fodida pelo seu
namorado? Gosta, minha deusa safadinha? —
perguntei ao seu ouvido, cravando meus dedos em
sua coxa, enquanto a outra mão entrelaçava em seu
cabelo molhado.
— Ohhh, sim! Eu adoro! — respondeu
ofegante, lambendo o meu pescoço, me deixando
louco. Depois de empurrar várias vezes, senti a sua
boceta começar a estrangular o meu pau. E, sem
poder segurar o gozo, eu aumentei o ritmo e
Milena soltou pequenos gemidos de prazer.
— Porra, Milena! — rosnei em seu ombro,
enquanto encontrávamos a nossa liberação juntos.

***

Enquanto Milena terminava de lavar o cabelo,


eu liguei para uma padaria próxima e encomendei
nosso café da manhã: pão de queijo, torradas,
geleia de morango, suco de laranja e cappuccino.
Cerca de vinte minutos depois, o rapaz chegou com
as encomendas.
Enrolei uma toalha branca na cintura e abri a
porta para atendê-lo. Eu paguei pelo café e o garoto
saiu em direção ao elevador. Quando eu girava o
corpo para entrar, surgiu na minha frente uma
senhora de cabelo grisalho e com os olhos azuis
arregalados, vestindo um roupão de cetim rosa.
Não levei nem dois segundos para constatar de que
se tratava de dona Ofélia, a vizinha da Milena.
— Bom dia, dona Ofélia! — Sorri
cumprimentando-a. A senhorinha me olha de cima
abaixo e fechou a cara para mim.
— Safado! — resmungou de cara feia. E, me
dando uma última olhada, ela bateu a porta com
força. Sem me conter, eu soltei uma risada
divertida e fechei a porta balançando a cabeça. Até
a vizinha da Milena sabia que eu era um safado.
Essa era boa! Certamente, ela ouviu a nossa transa
da noite passada e de hoje de manhã e, por isso,
estava me tratando mal.
Fui até a cozinha para desempacotar as coisas
na bancada de mármore. Estava terminando de
arrumar a mesa do café, quando Milena chegou
vestindo seu roupão de seda. Ela olhou para a mesa
e sorriu animada.
— Edu, eu ouvi vozes. Você estava conversando
com alguém?
— Oh, sim! Com sua vizinha. — Sorri
lembrando da cena engraçada.
— E a dona Ofélia viu você somente de toalha?
— Espantou-se mordendo um pão de queijo.
— Sim e ainda me chamou de safado. Você
acredita? — perguntei em tom zombeteiro, me
sentando ao lado dela.
— Edu, a dona Ofélia é uma senhora! E ela está
certa. Você é um safado! — Sorriu maliciosa. Eu
inclinei o corpo para o lado e me aproximei dela.
— Sou sim, mas sou o seu safado! — declarei
beijando seus lábios brevemente. — Está dolorida?
— questionei me remetendo a noite anterior.
— Um pouco... — respondeu e vi seu olhar
faiscar de desejo. Abri um sorriso malicioso e me
aproximei mais.
— Gostei de saber! — exclamei presunçoso por
ser o primeiro a lhe dar prazer no sexo anal. — Eu
pensei em sairmos para almoçar em uma
churrascaria. O que você acha? — sugeri alegre
mudando de assunto.
— Mas estamos tomando o café — resmungou
bebendo o cappuccino.
— Milena, são quase onze horas da manhã. —
Apontei para o relógio de parede e ela arregalou os
olhos. Terminei de comer a minha torrada e me
voltei para ela. — Eu quero apenas levar a minha
namorada para almoçar. — Sorri e ela riu. — Eu
falei alguma piada? — Franzi o cenho, desgostoso.
— Não! É que tudo isso é muito novo para
mim. O nosso status de namorados, entende? —
confessou deixando a xícara sobre a mesa.
— Entendo. É novidade para mim também.
— Bem, eu vou me arrumar. — Sorrindo,
Milena me deu um beijo nos lábios e saiu alegre da
cozinha em direção ao quarto. Eu acompanhei o
balançar de seu traseiro por cima do roupão e senti
um calor se alojar em meu pau. Porra! Esse maldito
pensava que tinha vida própria!
Momentos depois, estávamos em uma
churrascaria que, como de praxe nos feriados como
hoje, estava movimentada. Milena optou por usar
um vestido reto, azul claro, pouco acima dos
joelhos e para completar o seu visual, um par de
sandálias de salto não muito alto. Antes de vir para
cá, eu passei em casa e troquei de roupa. Vesti algo
mais casual: calça jeans, camiseta e sapatênis. Mas
acabamos nos atrasando um pouco, pois tive que
dar de comer a Kyara que quando ouviu minha voz,
correu se jogar em meus pés, implorando por ração
e também por carinho.
Puxei a cadeira para a deusa se acomodar e dei
a volta, me sentando a sua frente. Um garçom se
aproximou e pedimos sucos naturais para beber.
Enquanto o rapaz trazia as bebidas, eu olhei para
Milena, que estava linda como sempre.
— Você está divina!
—Você é o primeiro safado que admite que é
safado e além de tudo, é galanteador — disse
fazendo sua análise a meu respeito.
— Ah é? — Arqueei uma sobrancelha
divertida, desviando o olhar do menu para fixar
novamente nela. — Eu só estou dizendo a verdade.
— Ela voltou a sorrir e eu inclinei o corpo para
frente. — Se não estivéssemos em um local
público, eu arrancava as suas roupas e trepava com
você, aqui mesmo.
— Edu! — exclamou engolindo em seco e
movimentando as pernas por baixo da mesa. Foi
muito bom saber que Milena estava excitada. Ela
piscou e deixa o menu sobre a toalha. — Você
sempre consegue o que quer, não é?
— Na maioria das vezes. Mas o que eu
consegui desta vez? — indaguei me fazendo de
desentendido.
— Engraçadinho! — Ela fez uma careta e,
respirando fundo, mudou de assunto. — Você já
decidiu se vai à festa de aniversário da sua irmã?
O clima descontraído tornou-se imediatamente
tenso. Por que Milena tocou nesse assunto agora?
Estava tão divertido o joguinho de sedução entre
nós dois! Mas eu não podia ficar zangado com ela,
afinal Milena não sabia sobre o que aconteceu.
— Milena, não vamos falar sobre isso —
retruquei incomodado, fazendo sinal para o
garçom que se aproximou. — Você já escolheu o
acompanhamento do churrasco? — perguntei
mudando de assunto e ela torceu os lábios,
descontente.
— Sim, eu vou querer uma porção de saladas
diversas e um filé ao molho madeira.
— Ok! Então eu vou querer o mesmo — O
garçom anotou o nosso pedido e nos deixou
sozinhos.
— Edu, Sofia é a sua irmã! Eu não acredito que
você vai deixar a garotinha decepcionada por não
ter o seu irmão presente em sua festa!
— Eu já disse que não quero falar sobre isso.
— Eu sei! Aqui não é um local apropriado para
tocarmos nesse assunto. — concordou e eu
respirei, aliviado. — Mas quando estivermos a sós,
você vai me dizer o que está havendo.
— Você sempre consegue o que quer? — refiz a
sua indagação de poucos minutos atrás e ela sorriu
zombeteira.
— Na maioria das vezes — falou usando a
minha resposta e o mau humor se evaporou por
completo. Ambos soltamos uma risada baixa e o
garçom se aproximou, trazendo os nossos pratos.
O almoço transcorreu tranquilo e mais leve.
Milena e eu conversamos sobre diversos assuntos,
menos sobre a minha irmã mais nova. Não sabia se
estava preparado para contar o que aconteceu entre
mim e meu pai. Eu tinha vergonha de dizer a ela
que meu pai era um calhorda, que traiu a nossa
família. Que preferiu ficar com a amante e
abandonar o filho e a esposa que tanto o amavam.
Após terminar o almoço, eu paguei a conta e
nos levantamos para sair. Estávamos conversando
animados, quando uma voz masculina chamou por
Milena, de uma forma muito, muito íntima.
— Leninha!
Giramos o corpo e eu me deparei com um
homem alto, loiro, de olhos azuis, pele bronzeada
do sol e corpo com a musculatura bem trabalhada.
De imediato me veio à mente as características
dadas pelo porteiro da Milena na noite em que
estive em seu prédio e que ela não pode me
atender, porque estava com visitas. Era André, o ex-
namorado.
O bom humor foi embora quando vi o filho da
mãe abrir um sorriso e vir de encontro a ela,
envolvendo-a em um abraço íntimo. Eu trinquei o
maxilar e senti a raiva me rondar. Tive vontade de
esmurrá-lo!
— Oi! — disse Milena, após o loiro a largar
quase sem ar devido ao abraço de urso. Fechei a
cara para ele e puxei a deusa pela cintura, colando
seu corpo ao meu.
— Que surpresa encontrá-la aqui! —E, olhando
para mim, o sorriso que ele trazia nos lábios
desapareceu. — Quem é o seu amigo?
— Eduardo Luís Guerra. — Eu o encarei com
semblante sério enquanto ele estendia a mão na
minha direção. Apertei-a com tanta força que vi seu
rosto se contrair levemente. — Sou o namorado da
Milena. — Enfatizei a palavra namorado e ele
engoliu em seco, massageando os dedos da mão
que eu acabava de soltar.
— Eu me chamo André e sou ex-namorado da
Leninha. — Girei o rosto de lado e encontrei
Milena com os olhos arregalados e a expressão um
pouco tensa. Ela fixou os olhos aos meus e eu me
aproximei do seu ouvido.
— Leninha?! — rosnei sem perceber. Retesei o
corpo e voltei a encarar André, que sorria como um
bobo diante de mim.
— Eu não sabia que você estava namorando,
Leninha. Afinal, na noite em que jantamos no seu
apê, você não mencionou nada. — Santo Deus! Eles
jantaram juntos? Respirei fundo e invoquei as
forças divinas para não concretizar o meu plano:
esmurrar o filho da puta até ele sangrar.
— O nosso relacionamento é res... — Milena
tentou falar, mas eu a interrompi em tom firme,
fulminando André com os olhos.
— O nosso relacionamento é sério!
— Bem, eu estou com uma galera do surfe
aqui. Querem se juntar a nós? — perguntou
mudando de assunto e abrindo um novo sorriso.
— Obrigada, André. Mas Edu e eu estamos de
saída. — Sorriu Milena demonstrando educação.
— Oh, que pena! Mas será que vocês não
podem tomar pelo menos um cafezinho com a
gente?
— Não temos tempo para um café — disse me
aproximando um pouco mais de André que
arregalou os olhos. — Eu e minha namorada temos
coisas mais quentes para fazermos juntos. — Dei
uma piscadinha para ele e André passou a mão
pelo cabelo, nervoso.
— Desculpe! Eu não quero atrapalhá-los —
falou constrangido, nos olhando como um cachorro
que acabava de perder o osso. Para sempre!
— É... Nós precisamos ir — disse a minha
deusa abrindo um leve sorriso. — Foi muito bom
revê-lo e espero que tenha conseguido resolver
aquele problema. — Ela continuou com a sua
polidez e eu franzi o cenho estupefato. Que porra
de problema era esse que ela mencionou? Eles
mantinham segredos?
— Ainda não, mas obrigada pelo apoio,
Leninha — disse em tom meloso, voltando a
abraçá-la apertado. O abraço não durou muito e
logo André a soltou, estendendo a mão para mim.
— Foi um prazer conhecê-lo. Você é um homem de
sorte por ter Milena ao seu lado. — Ele parecia
dizer a verdade, porque não via ironia em sua voz.
— Obrigado, André. E sim, eu sou um homem
de sorte. — Sorri cumprimentando-o com menos
hostilidade que antes.
— Até mais, André. E você já sabe, se precisar
de algo, não hesite em me chamar. — Milena sorriu
ao se despedir, sendo gentil... Até demais!
Deixamos o restaurante e entramos no carro.
Depois de estarmos acomodados nos bancos, ela
no carona e eu no motorista, liguei o motor e o
Audi se pôs em movimento. O silêncio que pairava
era sepulcral, apenas a melodia de Ana Carolina,
Garganta, ecoava baixinho no som.
— Edu, por que você foi tão hostil com André?
Respirei fundo e agarrei com força o volante.
O ciúmes ainda me dominava, me deixando um
homem das cavernas.
— Não gostei do modo como ele a tocou,
Leninha. — Eu sabia que estava sendo infantil, mas
que se foda!
— Ah, Edu! Você está com ciúmes? — Ela abriu
um sorriso se ajeitando no banco para ficar quase
de lado para mim. — Você não precisa ter ciúmes
do André. Nós somos apenas amigos.
— Estou! E você pagará caro por me deixar
puto!
Minha mente começava a vaguear, pensando
nas diversas maneiras que eu iria puni-la. Talvez
não fosse seguro ficar pensando nisso enquanto
dirigia, porque a minha ereção crescente estava me
desconcentrando. Todos precisavam saber que
Milena era minha namorada, minha deusa, minha
mulher! E nenhum filho da puta a tiraria de mim.
Capítulo 19

Milena

Ao chegar na casa do Edu, Kyara veio correndo


e miando em nossa direção. O bichinho se
esfregava nas minhas pernas e ronronava
alegremente. Edu deu uma risada e a pegou no
colo, levando-a para a área de serviço. Enquanto ele
a alimentava, eu me acomodei no sofá da sala de
estar. Minutos depois, ele surgiu falando ao
telefone. E, pelo modo carinhoso que Edu
conversava, eu percebi que era a dona Myrthes.
— Jantar, mãe? — perguntou enquanto servia
dois copos com água tônica para nós. — Mas eu fui
vê-la ontem! Ok! Tudo bem! — concordou e se
voltou para mim me oferecendo a bebida gelada. —
Sim, a minha namorada irá também. — Sorriu. —
Beijos, mãe. Também te amo! — Edu desligou o
celular, pegou o copo com a tônica e se sentou ao
meu lado.
— Hum, jantar com a sua mãe?
— Ela nos convidou para quarta-feira à noite.
Não disse se era para comemorar algo ou se é um
simples jantar. Achei o convite inesperado e
estranho — disse desconfiado bebendo um pouco
de sua água. — A minha mãe gostou de você! — Ele
me beijou nos lábios brevemente.
— Eu também gostei da sua mãe. Ela me
pareceu ser uma pessoa íntegra, afetuosa,
inteligente e muito elegante — elogiei com
sinceridade, pois constatei que dona Myrthes era
uma pessoa de caráter.
— Sim, ela e tudo isso e muito mais. — Sorriu
orgulhoso. — Mas o mais importante é que ela
gostou realmente de você. E para mim, isso
significa muito! — disse acariciando o meu rosto
com carinho.
— Que bom! — Bebi meu copo de tônica e
decidi começar o assunto que foi interrompido por
ele durante o almoço. Precisava saber o porquê
meu namorado tinha tanta ressalva em relação a
sua irmã caçula. — Edu, você disse que me
explicaria o motivo de não querer participar da
festa da sua irmã... — Ele soltou um ar pesado e
deixou o copo em cima da mesa de centro. — Por
que você não quer ir a essa festa?
— Milena, eu tenho os meus motivos para
querer distância da nova família do meu pai.
— E você pode me dizer quais são esses
motivos?
— Meu pai traiu a mim e a minha mãe por um
bom tempo. Ele tinha uma amante, que agora é a
sua atual esposa. E três meses após o divórcio, ele
se casou com a vadia — A expressão de mágoa do
Edu cortou o meu coração, mas eu precisava
entender o relacionamento confuso dele com o seu
pai.
— É por isso que você não quer ir ao
aniversário dela? — continuei com as minhas
indagações.
— Não é somente por isso. O meu pai não
merece a minha presença nesta festa. Nem ele e
tampouco a Elisa, que passou de amante a esposa.
Eu me inclinei um pouco para frente e afaguei
o seu rosto. Ele abriu um sorriso de canto e beijou
os meus dedos. Precisava convencê-lo a ir a essa
festa, afinal a garotinha não tinha culpa de nada do
que aconteceu. E, tentando persuadi-lo, eu comecei
o meu discurso.
— Ontem, quando estive na casa de sua mãe,
eu escutei sem querer um pedaço da conversa de
vocês. Eu estava retornando do banheiro quando
ouvi a sua mãe dizer que ela havia perdoado o seu
pai pelo que ele fez e que você deveria fazer o
mesmo — confessei e ele arregalou os olhos,
surpreso. — Por que você não tenta? Não precisa ir
à festa por causa do seu pai, mas vá por causa da
sua irmã. Ela não tem culpa do que aconteceu!
Edu se levantou abruptamente e começou a
caminhar de um lado para o outro. Ele parecia
perdido e eu senti que as minhas palavras
realmente mexeram com ele. Eu sabia como era se
sentir assim, e por isso afirmava com clareza que
ele estava ferido.
— Você sabe o que é ser apunhalado pelas
costas pelo seu próprio pai? Por uma das pessoas
que você mais admira, ama e respeita no mundo?
— indagou com voz amargurada, parando diante
de mim. Eu me levantei e fui até ele.
— Eu entendo como você está se sentindo. Mas
Sofia não tem nada a ver com isso. Ela é apenas
uma criança, Edu! Ela é o resultado das ações
inconsequentes do seu pai, mas é inocente!
— Milena, o meu pai não deu valor ao meu
amor de filho e quebrou os laços de cumplicidade
que havia entre nós. Ele destruiu tudo! — disse
segurando meu rosto em suas mãos.
— Edu, você já conversou com a Sofia? Algum
dia você falou com ela para saber como ela se sente
por não ter o único irmão por perto? — questionei
e vi seus olhos ficarem estáticos. Ele me olhou
atônito e parecia estar reflexivo sobre o que eu
acabava de lhe dizer.
— Eu nunca falei com ela.
— Então, dê essa chance a sua irmãzinha. Eu
não sei o que seria de mim se não tivesse a Lívia
por perto. Temos os nossos desentendimentos de
vez em quando, mas eu a amo e sei que ela também
me ama.
— Ah, minha deusa! — Ele me puxou para
seus braços, afagando o meu cabelo. Eu enterrei a
cabeça em seu peito e o abracei com carinho. —
Não sei se posso fazer isso, mas eu pensarei no que
você me disse — disse beijando o topo da minha
cabeça.
— Fico feliz em ouvir isso. — Sorri e no
instante seguinte permanecemos calados.
Enquanto Edu pensava sobre o assunto que
discutimos, eu aproveitei para pensar em meus
sentimentos por ele, que a cada minuto
aumentavam mais e mais.

***

A semana transcorria agitada tanto na


Promotoria, quanto no Fórum. Como assumimos o
nosso namoro, nós não podíamos mais atuar juntos
em audiências e júris. Quando Edu recebia um
processo que era de minha competência, ele se
denominava suspeito e vice e versa.
Não tive coragem de me declarar para ele.
Embora eu sentisse que Edu estava envolvido
emocionalmente comigo, eu não tinha a segurança
necessária para abrir o meu coração. Não agora! Eu
precisava de tempo para assimilar o que estava
acontecendo entre nós dois.
Deixei a sala de audiências depois de um dia
intenso de trabalho. Enquanto caminhava em
direção ao elevador, encontrei Edu no corredor. Ele
havia encerrado seu expediente e estava indo para
casa. Glenda, a loira oxigenada asquerosa, o
acompanhava. Ela lançou um olhar cortante em
minha direção e empinou o queixo com ar de
superioridade. Com o propósito de chamar a
atenção, ela passou por mim e pelo Edu rebolando
mexendo os quadris dentro de seu vestido curto e
decotado.
Vi que Edu sequer olhou para a garota, que fez
de tudo para chamar sua atenção. Os olhos dele
estavam totalmente voltados para mim. Enquanto
ele conversava comigo sobre o jantar de logo mais a
noite, na casa de sua mãe, Glenda mexia no cabelo,
ajeitava o decote e continuava rebolando diante de
nós. Que ridícula!
— Dr. Guerra, o senhor precisa de mais alguma
coisa? — perguntou Glenda atraindo a atenção
para si.
— Não, Glenda. Você está dispensada —
respondeu Edu e voltou o olhar para mim.
— Se precisar de mim, para qualquer coisa, é
só me chamar, doutor — disse ela em tom vulgar
enquanto devorava Edu com os olhos. Que vontade
de esganar essa piriguete filha da mãe!
— Glenda, eu acho que o meu namorado e seu
chefe doutor Eduardo Luís Guerra foi bem claro
quando disse a você que você está dispensada. —
Sorri triunfante e Edu me lançou um olhar atônito.
Glenda comprimiu os lábios descontente e saiu
pisando duro em direção ao gabinete, a fim de
guardar os autos processuais que carrega.
— Milena, você está com ciúmes? — Edu estava
com um sorriso divertido estampado no rosto,
enquanto entrávamos no elevador.
— Não, eu não estou com ciúmes! Mas vou
avisar uma coisa a você, Edu Guerra! Se você preza
realmente as suas bolas, eu acho bom você ficar
bem longe daquela piriguete da sua estagiária.
Caso contrário eu não respondo por mim!
Edu avançou para cima de mim, me
encurralando contra a parede do elevador. Uma de
suas mãos subiu até a minha mandíbula,
segurando-a firme, enquanto a outra viajou em
direção à barra da saia rodada do meu vestido. Ele
ergueu um pouco o tecido para cima e logo seus
dedos estavam na borda da minha calcinha.
— Minha deusa, quando você vai entender que
não há outra mulher em minha vida? A única por
quem estou enfeitiçado é você! — Ele capturou a
minha boca em um beijo arrebatador. Fiquei
alucinada. Puxei-o pela gravata e colei meu corpo
ao seu, enquanto seus dedos deslizavam em minha
coxa, despertando arrepios em minha pele.
— Ohhh, Edu! — gemi seu nome, enquanto
nossas línguas se enroscavam, aprofundando ainda
mais o beijo.
Para o nosso completo pesar, as portas se
abriram e nós nos separamos imediatamente.
Entraram no elevador três serventuários da justiça,
que nos lançaram olhares especulativos. Edu
cravou as mãos na minha cintura e me puxou para
os fundos. Enquanto as pessoas começavam um
assunto qualquer, eu arrumei o meu cabelo e ajeitei
o vestido. Respirei fundo e tentei me comportar,
mas era humanamente impossível, pois Edu
empurrava a sua ereção contra minha bunda. Ele
afastou o meu cabelo para o lado e senti seu hálito
quente incendiar a minha orelha.
— Você sente o quanto eu a quero, Milena? —
indagou em tom baixo pressionando ainda mais o
seu pênis rijo contra minha carne, fazendo a minha
calcinha se encharcar por completo. — Essa será a
sua sentença depois do jantar na casa da minha
mãe: gozar ao redor do meu pau.
Nesse instante, uma moça que estava a nossa
frente girou um pouco o rosto e nos olhou com ar
sugestivo. Será que ela ouviu o que Edu disse? A
garota não demorou muito e voltou o olhar para
frente, se concentrando na conversa de seus
amigos. Eu abri a boca e busquei o ar nos pulmões,
tentando manter a calma. E embora eu soubesse
que meu namorado era um safado gostoso, eu
nunca me acostumaria com a sua língua afiada e
suja.

***

— Olá, Milena tudo bem? — Dona Myrthes


sorriu ao me receber em sua casa. Trocamos dois
beijinhos no rosto e disse: — É um prazer recebê-la
em minha casa!
— É um prazer estar aqui também!
— Edu, meu filho! — Ela deu um selinho nos
lábios dele, que sorriu sem jeito. — Que bom que
você veio!
— Oi, mamãe! — ele disse após abraçá-la com
carinho.
Dona Myrthes nos conduziu até a entrada do
hall e nos deparamos com um senhor na faixa de
seus 60 e poucos anos, alto, cabelo grisalho, olhos
cinza e uma expressão ansiosa no rosto. Não levei
nem meio segundo para perceber que se tratava do
seu Antônio Luís, pai do Edu. As semelhanças
entre pai e filho eram gritantes. O charme do seu
Antônio era inconfundível, o sorriso de canto e a
postura elegante marcavam presença no homem
que estava diante de mim.
Girei o rosto para o lado e encontrei Edu com a
mandíbula tensa. Ele não piscava e sua expressão
era dura. Eu engoli em seco e lancei um breve olhar
para dona Myrthes que abria um sorriso nervoso.
Ela alternava o olhar entre o filho e o ex-marido, e
senti a atmosfera pesar entre nós.
— Boa noite, meu filho — falou seu Antônio se
aproximando e estendendo a mão em direção a Edu
que não esboçou reação alguma em cumprimentar
seu pai.
— Foi para isso que você me chamou até aqui,
mãe? — Edu indagou lançando um breve olhar
para dona Myrthes e em seguida voltando a fitar o
seu pai duramente.
— Filho, é apenas um jantar — respondeu ela
tentando manter a calma.
Eu me aproximei do meu namorado e segurei
em seu braço. Ele sentiu o meu toque e abaixou os
olhos para encontrar os meus. Eu o encarei em tom
de súplica para que ele aceitasse o cumprimento do
seu pai. Ele respirou profundamente e entendeu a
mensagem que eu queria passar com o meu olhar.
E, virando-se para frente, Edu finalmente apertou a
mão do seu Antônio. O cumprimento foi feito de
forma muito rápida, mas era o bastante para que o
pai e a mãe abrissem um sorriso de contentamento.
— Vamos para a sala de estar tomar um
drinque que logo a Cida põe o jantar na mesa —
convidou dona Myrthes mostrando a direção. Nós a
seguimos logo atrás de seu Antônio e nos
acomodamos no sofá de dois lugares. Os pais de
Edu se sentaram no outro estofado ficando de
frente para nós.
Minutos depois estávamos saboreando os
drinques que seu Antônio preparou no bar. Eu e
dona Myrthes bebíamos martini, enquanto Edu e
seu pai bebiam uma dose de uísque.
— Você é promotora, não é Milena? —
questionou seu Antônio quebrando o silêncio.
— Sim, sou. — Sorri olhando com o canto do
olho para Edu que até agora não disse uma única
palavra.
— Eu também pertenço ao Ministério Público,
mas faço parte dos inativos. Estou aposentado —
falou ele bebendo um gole de sua bebida.
Eu abri outro sorriso e um novo silêncio se
formou. Dona Myrthes se remexeu desconfortável
no sofá enquanto Edu mantinha a cara feia, de
poucos amigos.
— Oh, sim! Eu sei! — Sorri e achei estranho
Edu ter seguido uma carreira oposta a de seu pai.
— Atuei por longos anos na promotoria.
Carreira bonita a nossa, diferente do Judiciário —
disse ele lançando um olhar rápido para o filho que
estava a sua frente.
Edu bebeu o último gole de uísque e deixou o
copo sobre a mesinha de centro. E, quando ele
voltou a encarar o seu pai, os seus olhos estavam
raivosos. Eu estava tensa e sentia que a qualquer
momento um dos dois acabaria explodindo. E,
como já conhecia um pouco o meu namorado,
tinha quase certeza de que seria ele.
Para a nossa salvação, Cida, a copeira de dona
Myrthes surgiu na sala de estar e anunciou que o
jantar estava servido. Respirei aliviada e sorri para
a mãe de Edu, que me devolveu o afeto. Nós nos
levantamos e seguimos até a sala de jantar para nos
acomodarmos a mesa. Diante de mim havia um
banquete. Filé ao molho madeira, batatas ao molho
branco e um bom vinho. Cida nos serviu e depois
retornou a copa.
— Filé ao molho madeira! — exclamou seu
Antônio dando uma garfada na comida. — Está
delicioso! Cida sempre capricha na cozinha.
— Sim, ela é excelente — concordou dona
Myrthes.
Eu sorri e também provei do prato que estava
realmente muito bom. Olhei para Edu e vi que ele
sequer tocou em sua comida. Meu namorado ainda
estava muito magoado com seu pai.
— Como vai o trabalho, filho? — perguntou
seu Antônio tentando puxar assunto com Edu.
— Ótimo! — ele respondeu lacônico dando
uma garfada no filé.
— Fico feliz em saber sobre isso! Infelizmente,
você optou por não seguir os meus passos — disse
com certa tristeza na voz.
Edu soltou um ar pesado e deixou os talheres
sobre a mesa. Ele limpou a boca com o guardanapo
e encarou seu pai com semblante neutro. Santo
Deus! A rixa entre os dois era séria mesmo!
Capítulo 20

Edu

Meu pai só podia estar de brincadeira! Não


acreditava que ele teve a coragem de mencionar a
escolha que eu fiz em seguir carreira diferente da
dele na frente da Milena. O que ele queria? Acabar
com o meu namoro para me punir por não falar
mais com ele? Bufei e encarei meu pai friamente.
Malditos truques sujos do seu Antônio para se
reaproximar de mim!
— Aonde o senhor quer chegar, pai?
— Edu, seu pai quis dizer que você fez uma
boa escolha — interveio mamãe, colocando panos
quentes. — Não é, Antônio? — Ela olhou para o ex-
marido em busca de resposta.
— Oh, sim! — respondeu tentando apaziguar o
mal entendido que ele mesmo acaba de cometer.
— Então foi por isso que você me chamou aqui,
mãe? Para apresentar a minha namorada ao doutor
Antônio Luís? — indaguei para minha que olhava
de rabo de olho na direção do meu pai.
— Na verdade, fui eu que pedi para sua mãe
que programasse esse jantar. A ideia foi minha,
Edu.
— Com que finalidade, pai?
— Filho, você recebeu o convite de aniversário
da sua irmã, não é? — Seu Antônio limpou a boca
com o guardanapo e deixou os talheres sobre a
mesa.
Agora eu percebi o motivo desse encontro
familiar. Meu pai queria me persuadir sobre a festa
da Sofia e, para isso, estava usando outra vez a
minha mãe, na tentativa de fazer uma ponte entre
nós. O velho Antônio e seus truques baixos! Ele
nunca perdia o costume!
— Sim, eu recebi. — Meu pai sorriu. — Mas eu
não vou a essa festa. — O sorriso desapareceu de
seus lábios.
— Edu, é apenas uma festa de aniversário. —
Dona Myrthes e seu enorme coração de ouro
repleto de amor. Essa era a minha mãe!
— Bem, eu acho que o jantar acabou — disse
me levantando exasperado e sendo seguido por
todos que fizeram o mesmo. Eu não suportava mais
olhar para a cara do meu pai. Na verdade, eu estava
me sentindo mal com tudo aquilo.
— Meu filho, não faça isso com sua irmã. Sofia
quer tanto ter a presença do irmão mais velho em
sua festa. Ela não fala em outra coisa —
argumentou ele apelando para chantagem
emocional.
— Desculpe, mas não dá!
— Edu... — sussurrou Milena apertando a
minha mão, tentando me fazer mudar de ideia.
— Vamos embora! — falei para ela e me voltei
para minha mãe. — Eu sinto muito, mãe. —
Segurei a mão da Milena e girei o corpo com a
intenção de sair da sala de jantar. Porém a voz de
meu pai me interrompeu.
— Edu, se você quer punir alguém, puna a
mim e não a sua irmã!
— Pai, não vamos mais falar sobre esse assunto
na presença da Milena. Ela não tem nada a ver com
os nossos problemas.
— Você tem razão! — ele concordou e se virou
para a minha namorada. — Desculpe por isso,
Milena.
— Está tudo bem, seu Antônio.
— Temos que ir embora. — Mantive minha
decisão embora minha mãe me fitasse com tristeza.
— Depois nós dois conversamos, mãe. Obrigada
pelo jantar. Boa noite!
— Boa noite, meu filho. Me ligue esta semana
— disse ela me fitando se aproximando para se
despedir.
— Eu ligarei. — Abracei minha mãe e
caminhei com a Milena até a porta de saída.
— Edu? — chamou meu pai pela última vez. —
A sua irmã é apenas uma criança que quer ter o
amor do seu irmão. Pense um pouco sobre isso.
Ignorei o apelo do seu Antônio e decidi não
ficar por mais tempo. Dei um beijo de despedida
em minha mãe e saí com Milena de mãos dadas. A
minha deusa era tudo o que eu precisava agora. Ela
era a única que podia me entender, sem eu precisar
explicar muita coisa.
***

Outro dia, cheguei no Fórum irritado. Meu pai


havia extraído toda a paciência que havia reservado
para aquela semana. Eu precisava me acalmar,
senão ficaria louco.
Passei a mão no rosto, tentando me concentrar
na análise de um auto de prisão em flagrante,
quando Cassiano entrou em meu gabinete. Ele
depositou um pequeno pacote em cima da mesa e
se acomodou na cadeira a minha frente.
— Antes de lhe dizer o que tem dentro dessa
caixa, eu quero contar uma novidade — disse meu
assessor com os olhos brilhantes.
— Que novidade é essa, Cassiano? — Deixei os
autos de lado por um momento para lhe dar
atenção.
— Eu passei na primeira fase para a
magistratura! — respondeu eufórico e eu dei um
salto na cadeira. Esse garoto era de ouro! Abri um
sorriso enorme e saí de trás da mesa que nos
separava.
— Parabéns, garoto! Eu sabia que você
conseguiria — disse dando leves tapinhas em suas
costas. — Detone na segunda fase e tenho certeza
que você está dentro. — Estava orgulhoso por ele.
Cassiano merecia essa conquista. Sempre foi muito
disciplinado em seus estudos. E, além do mais, era
um garoto de ouro.
— Obrigado, Edu. Sabe que eu me espelho em
você!
— Não em tudo, eu espero! — Pisquei um olho
maliciosamente, voltando a me acomodar na
cadeira.
— Eu contei a novidade para o Conrado e ele
também ficou feliz por mim. Disse que se eu
passar em todas as fases, a gente vai comemorar do
jeito dele.
— Do jeito do Conrado? — Arregalei os olhos
e soltei uma risada. — Então se prepare para uma
mega festa, recheada de sacanagem, de mulheres e
muita bebedeira. — Cassiano riu junto comigo. —
O que tem nesse pacote? — indaguei mudando de
assunto.
— Esse é o dvd da câmera de monitoramento
do elevador no dia em que... Bem, no dia que você
pegou a promotora Venturini de jeito. — Sorri de
modo sacana enquanto abria a caixa.
—Obrigado! — Agradeci guardando aquela
preciosidade em minha valise.
— Sabe Edu, eu gostei de saber que você e a
doutora Milena estão namorando. Ela é muito
simpática, além de ser uma gata — Os olhos do
Cassiano brilharam com o humor. Ele percebeu que
eu ficava com ciúmes da minha deusa, e eu
apostava que ele esperou muito tempo para me
provocar sobre o assunto.
— Mais respeito com a minha namorada,
garoto! — Fui tomado pelo ciúme. Estava ciente de
que ele estava brincando, mas mesmo assim não
consegui ouvir outro homem falar da Milena.
— Calma, chefe. E quem disse que eu não
respeito a promotora?
— Eu sei. Desculpe... Eu só...
— Você está com ciúmes. Isso é interessante!
— É acho que sim. — Sorri desarmado diante
do inocente comentário feito por ele.
— E sabe o que isso significa?
— Não. O quê?
— Que você está apaixonado, Edu! —
respondeu e saiu em direção a sua sala, me
deixando abismado.
Embora eu quisesse negar para Cassiano que
não estava envolvido sentimentalmente por Milena,
eu me abstive em fazê-lo. Afinal, eu e ela
estávamos namorando e era natural eu estar
apaixonado pela minha namorada.
Sorri e volto à concentração nos autos,
contudo, sem deixar de pensar no jantar de hoje à
noite. Faria uma surpresa a Milena: um jantar a
beira do mar, flores e uma joia que comprei para
ela. Por incrível que pudesse parecer que estava me
tornando um homem romântico. O amor mudava
as pessoas!
Capítulo 21

Milena

Algumas semanas depois...

Estava curtindo o fim de tarde e bebendo água


de coco na beira da praia, na companhia da Malu e
da Lívia. Minha irmã havia me ligado dizendo que
estava com saudades e eu convidei Malu, que
aproveitou a folga do hospital para se juntar a nós.
A praia estava pouco movimentada devido ao
tempo fechado e a temperatura estava amena.
Algumas nuvens pairavam no céu e indicavam que
iria chover a noite. O calor que fazia dias atrás
estava se tornando menos intenso e em breve
estaríamos na estação do outono.
Respirei profundamente e senti a brisa tocar o
meu rosto. Embora eu não viesse com frequência,
eu gostava do ar praiano. Uma garçonete se
aproximou e serviu água de coco para nós. Malu era
a mais animada, e Lívia estava com uma expressão
preocupada. Algo aconteceu para deixar a minha
irmã assim e eu precisava saber o que era.
— Ah, que ótima ideia vir à praia no meio da
semana. Eu estava mesmo precisando relaxar um
pouco. O trabalho no hospital está me consumindo
— Malu sorriu abertamente, deixando claro que
estava adorando o passeio.
— Eu também estava precisando de um pouco
de descanso — concordei enquanto saboreava a
bebida gelada.
— Edu está te deixando cansada, maninha?
—É, deve estar deixando muito cansada de
tanto sexo quente — emendou Malu
maliciosamente, suspirando fundo e revirando os
olhos. — Aquele deus em forma de homem. — Ela
ergueu as mãos para o céu invocando a divindade
divina. — Oh, Deus! Me apresente um Guerra
solteiro, gato e safado como Edu. Amém! — Nós
três começamos a rir da palhaçada da Malu.
— Eu e Edu nos damos bem. Não vou negar
que ele é insaciável, mas qual é o homem que não
é?
— Homens são todos safados, isso sim —
resmungou Lívia e apontou o dedo indicador para
mim. — Tome cuidado para não se machucar com o
Edu, Lena! Aliás, se ele mijar fora do pinico, ele
terá que se ver comigo — ameaçou em tom firme e
Malu soltou uma gargalhada gostosa.
— Credo, Lívia! Não sei por que você tem tanta
ressalva quanto aos homens. Você devia curtir um
pouco mais a sua vida — aconselhou a minha
amiga e minha irmã revirou os olhos, descontente.
— Malu, se eu tenho as minhas ressalvas é por
que eu sei muito bem do que essa raça é capaz de
fazer. Homem nenhum presta! — disse Lívia
bebendo um gole de sua água de coco. — E ainda
mais se for bonito e gostoso como o Edu! O
cuidado tem que ser redobrado.
— Bem, eu só sei que estou em divertindo
muito com o sexo oposto. — Sorriu Malu animada.
— Ah, eu tenho uma novidade para contar a vocês!
— E que novidade é essa? — perguntei curiosa.
— Eu retornei para a minha aula de balé! —
Sabia o quanto Malu amava a dança e fiquei feliz
que ela tivesse voltado a praticá-la.
— Isso é o máximo! — exclamou Lívia
sorridente.
— Malu, eu sabia que você não aguentaria ficar
muito tempo longe do que ama. O balé faz parte de
você!
— Ah Lena, eu não consegui viver sem ele.
Mas está sendo muito cansativo. Eu estou me
desdobrando em duas para conciliar o hospital e as
aulas intensas de balé. Não está sendo nada fácil.
— Mas eu tenho certeza que no final valerá à
pena. — Dei uma piscadinha, entusiasmando-a.
— Eu também tenho uma novidade — disse
Lívia, mas em vez de estar alegre, seu semblante
estava sério.
— O que aconteceu, maninha?
— Eu não vou mais fazer a especialização na
Europa — respondeu e eu e Malu arregalamos os
olhos, surpresas.
— Eu achei que você estava tão animada — Eu
me lembrei do dia em que ela me contou sobre a
bolsa de estudos. Quando eu disse que arcaria com
as despesas, ela quase chorou de felicidade.
— Sim, mas eu mudei de ideia. Vou fazer
alguns cursos aqui mesmo. Não quero deixar o
Brasil e ir morar fora. Não sei se me adaptaria em
outro continente, outra cultura, enfim... Não vou
mais!
Conversamos por mais uma meia hora e
saímos em direção ao estacionamento. Lívia veio
no carro dela enquanto Malu pegou carona comigo,
pois seu veículo estava na revisão. Cruzamos o
calçadão e, ao chegar à rua, onde o meu carro
estava estacionado, eu me deparei com Cibele. Ela
estava discutindo com um homem, que ao que tudo
indicava, estava guinchando o seu esportivo por
estacionar em local proibido. A sirigaita estava
irritada. Erguia as mãos para o alto, gesticulava em
vão e o homem continuava a fazer o seu trabalho.
Eu observei a cena, enquanto Lívia e Malu
ficaram sem entender nada. Abri um sorriso
satisfeito ao ver que a sirigaita causava um
estardalhaço, para tentar escapar. Não negaria que
estava adorando ver Cibele se ferrar, e enfrentar as
consequências dos seus atos.
— O senhor sabe de quem eu sou filha? —
Cibele perguntou em tom petulante ao homem que
a ignorou. — Eu me chamo Cibele de Britto. Sou
filha do poderoso industriário Gilberto Antunes de
Britto e irmã do renomado procurador do
Ministério Público, Mauro de Britto.
— Olha só, moça, você pode ser filha do
presidente da República que não me interessa. Eu
estou apenas cumprindo a lei — respondeu o
homem enquanto terminava de guinchar o carro
luxuoso dela.
— Não, por favor! O senhor não pode fazer
isso! — Cibele estava implorando? Será que eu ouvi
direito?
— Aqui está a sua multa. Tenha um bom dia!
— Ele entregou o papel para ela e deixou o local,
levando consigo o carro guinchado. Cibele
esbravejou enfurecida e, quando girou o corpo, se
deparou comigo, com Malu e com Lívia. Ela
estreitou os olhos verdes para mim e retesou o
corpo em sua costumeira postura arrogante.
Ajeitou o vestido de seda e colocou a multa dentro
da bolsa.
— Agora sim o meu dia se transformou em
uma catástrofe — rosnou ela me fitando com o
olhar gélido.
— Quem é essa? — sussurrou Lívia curiosa.
— É a ex-namorada do Edu — respondeu Malu
no mesmo tom de voz.
— Me esperem aqui que eu já volto — falei a
elas e me aproximei da sirigaita. Era hoje que ele
me pagava pelo acontecido na noite da festa da
OAB. Não perderia essa oportunidade de jeito
nenhum! — Por que eu não me surpreendo diante
da sua atitude, Cibele? Afinal, você adora infringir
as leis!
— Não se aproxime de mim, sua... — Ela
interrompeu a frase e eu não me deixei intimidar.
Dei mais um passo e ela reagiu. — Eu disse para
não se aproximar de mim! — Cibele parecia uma
louca, chamando a atenção de algumas poucas
pessoas que passavam por ali no momento.
Aparentemente ter dinheiro nunca foi sinônimo de
classe!
— O que você vai dizer, Cibele? Vai me injuriar
de novo? — Eu a encarei enquanto mantinha seu
pulso preso em meus dedos.
— Eu vou dar queixa contra você por agressão.
Me solte, sua doida! — grunhiu se sacudindo, louca
para se livrar de mim.
— Quem vai dar queixa aqui, sou eu! E será por
injúria racial. Ou você pensa que ao me chamar de
Isaura, estava me dando um apelido carinhoso? —
rosnei controlando os nervos que estão à flor da
pele.
— Lena! — exclamou Lívia estupefata ao lado
de Malu que estava de queixo caído diante da cena
que via. Eu virei o rosto para elas e fiz um sinal
com a mão, gesticulando que estava tudo bem.
— Quem acreditará em você? — indagou
puxando o braço a todo custo para se libertar da
minha posse.
— Ouça o recadinho que eu vou lhe dar,
Cibele. Se você me dirigir mais uma ofensa que for,
eu não pensarei duas vezes. Presto queixa contra
você e meto uma ação criminal no seu rabo — disse
em tom ameaçador e ela prendeu a respiração.
Soltei-a abruptamente e Cibele levou a mão ao
pulso esfregando-o para aliviar o desconforto
momentâneo causado pela pressão dos meus
dedos. Ignorei-a de queixo altivo e me distanciei
caminhando em direção a minha irmã e a minha
amiga que me esperavam.
Sem olhar para trás, eu deixei a sirigaita
plantada na calçada. Me aproximei de Malu e Lívia,
elas começaram o interrogatório. Enquanto nos
dirigíamos até nossos carros, eu expliquei o
ocorrido a elas. Lívia e Malu se revoltaram tanto,
que eu tive que contê-las para que elas não
voltassem e quebrassem com a cara da sirigaita.
Não podia culpá-las por querer retaliação, pois eu
mesma tive vontade de esbofetear a Cibele. Meus
dedos estavam loucos para esquentar aquele rosto
de princesinha mal comida. Mas eu não era adepta
a violência e tinha uma carreira a zelar. Eu só
esperava que a cobrinha seguisse o meu conselho,
porque não seria tão benevolente com ela em uma
segunda oportunidade.

***

À noite Edu me levou para jantar em um


restaurante à beira do mar. Ele estava lindo e
atraente como sempre. Hoje ele usava calça jeans
clara e camisa polo preta. Hoje ele tinha o rosto
barbeado e bem feito. Edu sorriu e eu suspirei,
louca de tesão para senti-lo em meu corpo. Sempre
me sentia assim quando estava ao seu lado: como
um vulcão em erupção.
Ele puxou a cadeira para eu me sentar e depois
se acomodou na minha frente. A garçonete trouxe
o menu e nós escolhemos salmão grelhado e batatas
gratinadas. Para acompanhar o prato, Edu pediu
um vinho tinto nacional e a garçonete, que até
então não parava de babar em cima dele, respirou
fundo, como se saísse de um transe hipnótico.
Tinha que admitir que todas as mulheres
suspiravam maravilhadas para o meu namorado.
Pigarreei levemente desconfortável e a moça
anotou tudo apressadamente. Ela se retirou e nós
ficamos a sós.
— Milena, você não viu a mensagem de
WhatsApp que te enviei hoje a tardinha, viu?
— Ah, Edu! Desculpe, mas eu não vi mesmo.
Eu estava curtindo o fim de tarde com a Lívia e a
Malu em um quiosque. Esqueci completamente de
verificar o meu celular.
— Tudo bem. — Deu de ombros. — Eu dizia na
mensagem que confisquei o dvd da câmera de
segurança do elevador no dia em que eu te beijei.
— Eu não acredito que você fez isso! —
exclamei perplexa com a audácia dele.
— Minha deusa, já imaginou se aquele vídeo
cair nas mãos de alguém sem escrúpulos? As
nossas carreiras serão prejudicadas. — Eu não
podia deixar de concordar com ele. — Melhor ficar
no cofre de meu apartamento. Lá ele está seguro.
— E o que você fará com ele?
— Irei destruí-lo amanhã mesmo! — Sorriu e
aproveitei que ele estava de bom humor para tocar
no assunto do aniversário da sua irmã mais nova.
Queria persuadi-lo a ir. Eu imaginava o quanto a
garotinha devia estar ansiosa por ter a presença do
irmão mais velho em sua festa.
— Você pensou sobre a festa de aniversário da
Sofia?
— Eu não vou a essa festa, Milena —
respondeu em tom rabugento enquanto a
garçonete retornou a mesa e deixava o vinho. Ela
nos serviu e saiu logo em seguida.
— Ah, Edu! Você não vai mesmo? — Eu insisti
e ele bebeu um gole de sua bebida.
— Eu não quero ter intimidades com a nova
família do meu pai. Ele traiu a mim e a minha mãe,
Milena! — indignou-se visivelmente ferido. Agarrei
sua mão que estava sobre a mesa, dando-lhe
incentivo e carinho.
— Eu sei. Você me contou o que houve. Mas
Edu, a Sofia não tem culpa do que aconteceu. Ela é
apenas uma criança que quer ter o amor do seu
irmão. Você vê maldade nisso?
— Milena, eu sei que a garotinha não tem
culpa, mas é tão difícil aceitar isso. Você não tem
ideia!
— Eu entendo. Juro que entendo. Mas por que
você não tenta? Eu vou com você a essa festa. — Ele
me encarou de olhos arregalados. — Vamos apenas
levar um presente e dar um abraço na Sofia. O que
você me diz?
— Não sei, Milena. — Edu balançou a cabeça
de um lado para o outro.
— Por que você não pensa um pouco? Faltam
poucos dias para a festa. Pensa no que eu te disse.
— Sorri e ele acabou concordando.
— Você e sua árdua persuasão — falou
beijando a minha mão. — Eu pensarei sobre o
assunto. Mas não fique tão entusiasmada.
Eu abri um novo sorriso ao perceber que aos
poucos ele estava aceitando a sua irmã e, que muito
em breve, eles seriam amigos. Não queria forçá-lo a
nada, mas sabia o quanto era importante ter
alguém do mesmo sangue ao nosso lado. Alguém
com quem podíamos contar quando precisasse.
Sabia que não tinha isso, mas a família que me
criou era meu porto seguro. E não tinha fortuna no
mundo que pagasse o amor que eles sentiam por
mim e eu por eles.
Fomos interrompidos por um rapaz que trouxe
um ramalhete de rosas vermelhas. Ele parou ao
lado da mesa e entregou as rosas para Edu que
pagou pela encomenda. Edu comprou flores para
mim?
— Espero que dessa vez você as aceite. — Ele
me entregou o buquê e meu coração deu um salto,
apaixonado.
— Edu, elas são lindas!
— Mas elas vieram junto com isso. — Ele tirou
de dentro do bolso da calça jeans uma pequena
caixa e colocou diante de mim. — Espero que goste.
Abri a caixa e não acreditei no que via. Edu
acabava de me dar uma corrente em ouro com as
iniciais dos nossos nomes. Os pingentes continham
pequeninas pedras no M e no E, que estavam
entrelaçados, como se estivessem abraçados. Meus
olhos brilharam extasiados diante da joia e fiquei
sem fôlego.
— Edu! — exclamei em um sussurro, deixando
o ramalhete sobre a mesa. Ele se levantou, pegou a
joia e a colocou em meu pescoço.
— Eu quero que se lembre de mim enquanto
eu não estiver presente — disse sorridente
enquanto eu me levantava para dar um beijo nos
seus lábios.
— Oh, Edu! Eu adorei! Ela é linda!
— O que eu não faço para ver a minha deusa
feliz? — Sorriu e eu voltei a beijá-lo rapidamente,
envolvendo os braços ao redor do seu pescoço. —
Eu faço qualquer coisa por você, Milena! Qualquer
coisa! — falou com carinho e abriu um sorriso
sacana. — Acho bom sentarmos novamente, pois
estamos chamando a atenção de algumas pessoas.
Voltamos a nos acomodar na mesa e não
demorou muito para que o jantar fosse servido. Eu
não podia estar mais feliz. Enquanto Edu saboreava
o seu prato, eu fiquei apenas fitando-o com paixão.
Não tinha mais como segurar esse sentimento que
explodia dentro do meu peito. Precisava contar-lhe
o que estava sentindo por ele, já que hoje ficou
claro pra mim que ele também sentia o mesmo.
Edu está apaixonado por mim e essa constatação
me enchia de euforia.
Capítulo 22

Edu

Faz alguns minutos que estava feito um bobo


relembrando a cena do restaurante. A expressão de
felicidade da minha deusa ao ver as flores e o colar
era algo que não saía da minha cabeça. O amor que
sentia por Milena era tanto que eu precisava dividi-
lo com ela. E, depois de ontem, eu percebi que ela
também estava envolvida sentimentalmente por
mim. Não tinha como negar. Nós estávamos
apaixonados um pelo outro.
Voltei a me concentrar na análise de um
processo de paternidade post mortem, quando
Glenda entrou e fechou a porta. Ela rebolou a sua
bunda em um de seus vestidos “tomara que me
coma” e caminhou em direção a minha mesa.
— Dr. Guerra, esses autos processuais
acabaram de retornar do Ministério Público. — Ela
deixou os documentos em cima da minha mesa e
inclinou o corpo para frente.
— Leve-os para o Cassiano — disse com os
olhos fixos nos documentos a minha frente. Glenda
ignorou o meu pedido e contornou a mesa,
parando de pé ao meu lado. Seus dedos deslizaram
em meu braço por cima do casaco e fiquei pasmo
com sua atitude. O que deu na cabeça dessa garota
para se insinuar para mim em pleno gabinete?
Soltei um suspiro de desagrado e decidi esclarecer
a situação para que ela não perdesse sua bolsa de
estágio.
— Glenda, o que pensa que está fazendo? —
Segurei firme seu pulso e ela prendeu a respiração.
— Ah, doutor. Você está tão sensual neste
terno, ainda mais quando está sério — Como eu
pude ficar excitado com esse comportamento
antes? A maneira como Glenda mordia o lábio
estava me irritando. — Sente-se e me escute! — Eu
apontei para a poltrona que estava na frente da
minha mesa e ela se acomodou toda sorridente. —
Você preza o seu trabalho no Fórum?
— É claro que sim. Ainda mais quando posso
ficar ao seu lado.
— Então, se você realmente quiser continuar
seu estágio e conseguir uma boa avaliação que por
sinal, serei eu a assiná-la, acho melhor você mudar
a sua postura — Glenda piscou e o sorriso que
trazia nos lábios desapareceu. — Aqui é ambiente
de trabalho e não de farra. Sou o seu chefe e não o
seu parceiro de trepadas. Você entendeu?
— Sim, doutor Guerra. Mas eu achei que
tivéssemos algo mais íntimo — sussurrou, abrindo
um novo sorriso.
— Glenda, você se esqueceu de que o que
tínhamos era somente sexo e nada mais? —
enfatizei a palavra “tínhamos” para que ela
percebesse que o nosso caso estava no passado.
— Não, eu não me esqueci. — Finalmente ela
começou a perceber que eu estava falando sério. —
E tem mais, Glenda. A partir de hoje eu quero que
você venha vestida com roupas apropriadas para
trabalhar. A sala de audiências não é uma boate
onde você costuma ir com seus amigos. Estamos
entendidos? — Arqueei a sobrancelha e ela
concordou com a cabeça, ainda um pouco
constrangida. — Bem, é isso. Você está dispensada.
— Eu voltei à atenção para os autos e Glenda se
levantou, ajeitando o vestido.
— Tchau, doutor Guerra. — Ela se despediu
com voz frustrante e deixou a sala.
Sabia que fui rude com ela, mas não havia
alternativa. O burburinho que rondava os
corredores sobre as roupas que a menina usava era
algo que vinha me irritando. No início não dei
muita importância, mas depois que Glenda
começou a vir trabalhar usando microvestidos, a
coisa mudou. Queria manter a ordem e
principalmente zelar pelo nome da minha
jurisdição. E não deixaria que uma ninfetinha sem
noção transformasse meu local de trabalho em um
parque de diversões.

***

Após refletir muito nos últimos dias, eu fui à


festa de aniversário da minha irmã. Travei uma
batalha interna, mas cheguei a conclusão de que
Milena tinha razão. A garotinha não tinha culpa
pela traição cometida pelo meu pai. Sofia era mais
uma vítima involuntária dos erros do seu Antônio.
A festa acontecia nessa tarde de domingo e era
ao redor da piscina. Com um presente em minhas
mãos e Milena ao meu lado, eu finalmente cheguei
à casa do meu pai. Uma mistura de ansiedade e
revolta me rondava sem dar tréguas. Milena
percebeu a minha apreensão e segurou firme a
minha mão. Olhei para o lado e a vi sorrindo para
mim. A corrente que lhe dei, com as iniciais dos
nossos nomes, estava enfeitando o seu pescoço.
Entramos na casa e vi meu pai, que conversava
com um grupo de amigos. Ele ficou surpreso ao se
dar conta que eu compareci à festa e se despediu
das pessoas, caminhando na minha direção. Estava
esperando pelo cumprimento do meu pai, quando
fui surpreendido por um abraço ao redor da minha
cintura. Abaixei os olhos e vi a linda menininha de
cabelo cacheado cor de mel e olhos cinza, com os
braços ao redor do meu corpo. Era Sofia, que estava
graciosa em um vestido estilo princesa da Disney.
Para compor o visual, ela usava uma tiara com
pequenas pedrinhas que enfeitava o topo de sua
cabeça.
— Você veio, Edu!
Sofia parecia genuinamente feliz com a minha
presença. Não sabia o que estou sentindo. A
menininha não me largava de jeito nenhum. Ergui
a cabeça e percebi que estávamos chamando a
atenção de alguns convidados. As pessoas estavam
surpresas e cochichavam. Milena olhou para mim e
abriu um enorme sorriso. A minha deusa estava
feliz porque conseguiu atingir o seu objetivo. E eu
estava desarmado diante do gesto carinhoso da
minha irmã e não sabia como reagir a isso.
— Oi, Sofia. Parabéns! — Eu me abaixei até
ficar na altura dos seus olhos e entreguei o
presente em suas mãos.
— O que tem aqui dentro? — perguntou
sacudindo levemente a caixa na tentativa de
adivinhar o que eu comprei.
— É melhor você abrir — aconselhou Milena
sorrindo.
— Você é a Milena, a namorada do meu irmão,
né? — Sofia estava analisando a minha deusa com
o olhar especulativo.
— Sim, eu sou. Como você adivinhou? — Os
olhos da Milena brilharam de curiosidade, e ela
deu uma piscadinha para mim enquanto se
inclinava um pouco para conversar com a Sofia.
— Eu vi uma foto sua no jornal aqui em casa. O
papai estava lendo e me mostrou. Você é muito
bonita! — Sofia tinha um sorriso maravilhoso, e
pelo visto ficou encantada com a Milena. Ela
passava os dedos pelos cachos da minha deusa
como se estivesse fascinada.
— Obrigada! Você também é muito bonita e o
seu vestido é encantador!
Meu pai se aproximou e abraçou a filha pelas
costas. Ele esboçou um sorriso satisfeito e seus
olhos brilham ao constatar que eu e Sofia
estávamos mantendo contato mais íntimo. A
pequena avisou que ia abrir o presente na presença
de sua mãe e, antes de se distanciar, ela me
abraçou pela cintura novamente. Só então a minha
irmã saiu saltitante em direção a Elisa, que assistia
a tudo de uma distância segura.
— Que bom que você pode comparecer, meu
filho. — Seu Antônio tentou manter um diálogo,
mas a verdade era que se eu pudesse, eu o evitaria
durante a festa inteira.
— Eu vim somente por causa da Sofia, mas não
ficarei muito tempo. — Vi o sorriso desaparecer de
seus lábios. Milena envolveu seu braço ao redor da
minha cintura e me deu um leve aperto no quadril.
Senti que minha namorada não gostou do meu
comentário.
— Seu Antônio, a festa está linda! — Milena e
seu jeitinho de apaziguar as situações mais tensas.
— Obrigado! O que não fazemos pelos filhos,
não é? — Ele abriu um meio sorriso. — Mas, por
favor, vamos até a piscina. Tem um bufê e um bar
ao seu redor.
— Nós não... — Eu tentei completar a frase,
porém Milena me deu outro beliscão no quadril.
— Nós adoraríamos seu Antônio. — Ela sorriu
gentilmente.
— Por favor, me acompanhem.
Nós o seguimos até a beira da piscina, onde
para minha surpresa, encontrei Conrado que estava
com o seu filho Guilherme. Não demorou muito
para que meu primo se juntasse a nós em uma
mesa. Nós nos acomodamos e fomos servidos por
um garçom que colocava as bebidas na mesa e nos
oferecia uma bandeja de salgadinhos variados.
— Edu, eu estou surpreso com a sua presença.
Não achei que você viria. — Ele sorriu e ficou
esperando minha explicação, pois sabia que eu e
meu pai não nos falávamos.
— Pois é, primo, Milena praticamente me
coagiu. A culpa é dela! — disse bebendo um gole
de minha cerveja.
— Ah, Edu! — Milena deu um tapinha em meu
ombro e sorriu para Conrado. — Você tinha que ver
a carinha de felicidade da Sofia. Os olhos dela
brilharam quando ela abraçou o irmão.
— Não exagera, Milena! — resmunguei
incomodado.
— Que bom que você está se aproximando da
Sofia, primo. Ela é uma criança e precisa de
carinho.
— E quem disse que eu estou me
aproximando? Eu continuo quieto no meu canto e
querendo distância da nova família do meu pai!
— Edu, para de fazer birra! O tio está feliz por
você ter vindo. Ou você não percebeu a expressão
de satisfação estampada no rosto dele?
— Chega de falar sobre a família Guerra —
revirei os olhos e Milena riu.
— A genética dos Guerra é fogo, hein? — disse
minha namorada em tom divertido me dando um
beijo no rosto. A declaração feita por ela fez com
que eu e Conrado soltássemos uma gargalhada.
— Conrado, você tem alguma notícia da Bruna
e do Nuno? Faz tempo que eu não os vejo — Bruna
era a irmã caçula do Conrado e Nuno o do meio. Os
dois estavam frequentemente fora do país e
dificilmente conseguia saber o que acontecia com
eles.
— Papai intimou a Bru que assim que acabar o
curso de inglês na Inglaterra para que volte para
casa. Ela precisa terminar a faculdade de Direito. E
quanto ao Nuno, bem... Esse passa a maior parte
do tempo treinando para campeonatos. Quase
nunca está aqui. Mas papai já o intimou também
para estar mais presente na família. Sabe como é o
seu tio? Osso duro de roer — resmungou bebendo
a sua cerveja. Conrado trabalhava no escritório que
montou com sua família, além de mais dois sócios,
amigos seus de faculdade.
— Sim, eu conheço a personalidade forte do tio
Horácio. Mais um Guerra que é fogo — Dei uma
risada e ele fez o mesmo. — Conrado, onde está o
meu afilhado? Quero dar um abraço no Gui — falei
mudando o rumo da conversa, enquanto meu
primo procurava pelo filho em meio às crianças que
se divertiam na piscina.
Conrado fez um sinal para ele e o menino veio
em nossa direção. Não tinha como não olhar para
Guilherme e não ver a fisionomia de sua falecida
mãe. Ele era a cara da Alice. O cabelo loiro
levemente cacheado e os grandes olhos azuis eram
a sua marca registrada. Gui veio correndo e se
atirou em meus braços.
— Dindo Edu!
— E como está esse garotão? — perguntei
beijando-lhe a testa.
— Esperando por uma bicicleta nova de
presente! — De bobo esse garoto não tinha nada!
— Talvez no seu aniversário. O que acha? —
Dei uma piscadinha para ele, que sorriu eufórico.
— Oba! — exclamou batendo palmas. Gui
tinha oito anos de idade e era um ano mais novo
que a Sofia. — Essa é a sua namorada, dindo?
— Oi, Guilherme — adiantou-se a minha deusa
sorridente. — Eu me chamo Milena. — Ela sorriu
para ele, que sorriu mostrando as suas covinhas. —
Sabia que você tem um sorriso muito bonito?
— Ah, isso é a marca dos Guerra — ele
respondeu e nós três caímos na risada outra vez. —
Tia, você sabe que eu tenho dois dindos? O dindo
Edu e o dindo Nuno. Os dois são fera! — Sorriu
Gui animado.
— Modesto igual aos padrinhos dele —
zombou Conrado em meio ao riso.
Conversamos mais um pouco e Elisa apareceu
na piscina chamando todos para cantar os
parabéns ao redor do bolo. Contrariado, eu me
levantei junto com Milena e Conrado, que chamava
novamente pelo filho.
Ao chegar ao salão de festas, que estava todo
decorado no estilo Cinderela, eu me deparei com
todos reunidos. Meu pai, Elisa e Sofia estavam
posicionados atrás da mesa, em frente ao bolo.
Quando eu pensei que a situação não pudesse ficar
mais constrangedora do que estava, Sofia saiu
detrás da mesa e veio correndo em minha direção.
— Edu, você vem cantar os parabéns junto
comigo, né? — ela disse alegremente com os olhos
brilhantes.
— Sofia, eu... — Não consegui nem terminar a
frase e me dei conta que não foi exatamente um
pedido, pois a garotinha começou a me puxar pela
mão. Lancei um olhar suplicante para Milena e ela
sorriu satisfeita. Até a minha deusa estava
adorando essa situação. Mal sabia ela que estava
me sentindo como uma ovelha que era dada aos
leões para ser abatida. Maldita ideia de vir neste
aniversário!
Sem ter alternativas eu me deixei conduzir por
Sofia em direção à mesa. O burburinho que se
formava entre os convidados era inacreditável.
Certamente amanhã esse acontecimento estaria
estampado nas páginas sociais de jornais e sites.
Eu me coloquei atrás da minha irmã, enquanto
o nosso pai estava de um lado e a sua mãe, do
outro. O coro de “parabéns para você” era entoado
pelos presentes, seguido de uma salva de palmas,
enquanto um fotógrafo tirava várias fotos de nós
quatro juntos. Eu me esforcei para abrir um meio
sorriso e demonstrar tranquilidade perante os
demais, mas por dentro estava irritado.
Sofia apagou as velinhas e Elisa cortou a
primeira fatia do bolo. A pequena pegou o prato
com o doce e me ofereceu. A surpresa foi tão
grande que eu fiquei por sem reação. Nunca pensei
que ela pudesse gostar tanto de mim assim. Sorri e
aceitei o pedaço de bolo. Era impossível não se
apaixonar pela Sofia. A menina estava me
conquistando com o seu jeito meigo e doce.
Depois de cantar os parabéns, eu saí à procura
da Milena. Acabei perdendo a minha deusa de
vista, pois estava entretido enquanto o fotógrafo
tirava as fotos. Procurei por ela entre os
convidados, mas não a encontrei. Então eu deixei o
salão em direção à área interna da casa.
Estava entretido na busca de minha namorada,
quando ouvi passos se aproximarem atrás de mim.
Girei o corpo e me deparei com Elisa. Ela estava
parada a poucos metros de distância e seu
semblante era neutro. Puxei uma respiração afiada
e fechei a cara para ela. Elisa não merecia a minha
cordialidade.
— Edu, estamos felizes por você ter vindo.
Saiba que a sua presença está sendo muito especial
para a Sofia!
— Eu vim por causa dela, mas já estou de saída
— respondi secamente.
— Sofia não fala de outra coisa que não seja em
você. — Ela se aproximou um pouco, mas e se
deteve próximo a um sofá. — Ela está tão feliz!
— Elisa, eu não quero ser rude, mas não
precisa se esforçar em tentar ser gentil comigo.
Nós nunca seremos amigos. Será que você não
entendeu? — Minha boa vontade tinha limite, e ser
cordial com essa mulher ultrapassa todos eles.
— Você não gosta de mim. Eu sei! Você me
acha muito nova para ser esposa do seu pai, mas...
— A sua idade nunca foi o problema, Elisa! O
que sempre esteve em pauta é o fato de que você
era amante do meu pai, enquanto ele era casado
com a minha mãe. Enquanto ela trabalhava e se
esforçava para agradar e deixá-lo feliz, você só tinha
que tirar a calcinha para chamar a atenção dele.
Afinal, que homem de certa idade iria resistir a
uma ninfeta que se oferece constantemente?
— Então é isso que você pensa sobre mim? —
Vi seus olhos castanhos esverdeados se estreitarem
em fúria.
— Elisa, eu podia ficar aqui expondo milhares
de motivos por não gostar de você, mas eu tenho
coisas mais importantes para fazer. — Girei o meu
corpo para ficar o mais longe possível dela, mas
Elisa me deteve.
— Eu amo o seu pai! — antecipou-se e eu voltei
a fitá-la.
— Não vou falar sobre o amor com você.
Sinceramente, eu duvido muito que você “amaria”
o meu pai se ele não tivesse um centavo e nem
onde morar. Mas como você sempre recebe joia e
presentes extravagantes, além de morar em um
lugar luxuoso, o seu amor é “profundo”. Com
licença! — conclui com sarcasmo. E a única coisa
que precisava agora era achar logo a minha
namorada e dar o fora dessa festa.
A conversa que tive com Elisa estragou o dia.
Quem ela pensava que era para querer falar sobre
sentimento? Sobre amor? Sempre ficou muito
evidente para mim que a única coisa que ela se
preocupava era com o dinheiro e a boa vida que o
meu pai lhe dava. Quando ela começou a dormir
com o meu pai, ganhava um presente dele
praticamente diariamente, enquanto minha mãe,
que o apoiou durante anos, no máximo tinha um
jantar em um restaurante nas datas especiais.
O caso dos dois começou a ficar evidente no
trabalho quando Elisa, uma mulher com pouco
mais de vinte anos e estagiando no Ministério
Público, começou a desfilar com braceletes e
pulseiras caríssimas. Ela fez questão de deixar claro
para todos que tinha um caso com um homem
casado. E não era necessário muito esforço para
deduzir quem era: meu pai. Durante meses, minha
mãe foi alvo de comentários nos eventos sociais,
pois todos os funcionários do Ministério Público
sabiam que o seu Antônio Luís comia sua
funcionária em horário de serviço!

***

Era quase noite quando eu estacionei o carro


na garagem do meu prédio. O som estava ligado e a
música da Adele, Rolling in the Deep, tocava
baixinho, preenchendo o pequeno espaço. Girei o
rosto de lado e vi Milena sorrindo para mim de um
modo muito sensual. Ela passou a língua nos lábios
e eu comecei a me remexer no assento.
— Você está me provocando, minha deusa?
Milena não me responde e me puxou pela gola
da camisa. A minha boca encontrou a sua com
tanta urgência, que chegava a doer. Eu passei do
meu banco para o dela e reclinei a poltrona para
trás. Pouco me importava se nós estávamos no
estacionamento, o que eu queria era matar esse
tesão que estava me consumindo desde a festa da
minha irmã.
— Ahhh, Edu! — Porra, toda vez que a Milena
começava a gemer eu perdia o controle. Minhas
mãos estavam em sua calcinha e com um único
puxão, a peça se partiu em duas. Enquanto Milena
abria o botão e descia o zíper da minha bermuda,
eu acariciava os seus seios por cima da blusa de
seda.
Ela abaixou a minha bermuda com a cueca, e
eu abri as suas pernas, me encaixando no meio de
seu ventre. Tirei a parte de cima de suas roupas e
caí de boca em seus seios. Dei o devido carinho a
cada um deles. Lambi, chupei, beijei. Milena
começava a arfar, inclinando o tórax para cima.
Sempre fui tarado por seios, mas os dela eram
perfeitos: lindos e fartos, do jeito que eu gostava. A
minha deusa de ébano tinha o corpo mais belo que
vi em toda a minha vida. Disso eu não tinha
dúvidas!
Escorreguei uma das mãos no meio de suas
coxas e encontrei a sua boceta molhadinha, pronta
para mim. Estimulei seu clitóris com a palma da
minha mão e ela mexeu os quadris, no ritmo dos
meus movimentos. Segurei o meu pau e a penetrei
com força.
— Ah, que delícia! — exclamei, me movendo
dentro dela enquanto a beijava apaixonadamente.
A noite chegava e a garagem estava
parcialmente escura. Os vidros do carro estavam
embaçados devido as nossas respirações pesadas.
Sabia que estava arriscando em fazer sexo na
garagem. Embora não ouvisse barulho algum vindo
de fora, o risco de sermos pegos em flagrante por
alguém existia, mas pouco me importava, pois o
desejo me dominava.
Suspendi um pouco a bunda de Milena sobre o
banco e meti com profundidade. Flexionei os
quadris com um pouco de dificuldade devido ao
espaço apertado em que estávamos e passei a
devorá-la. Nesse instante a minha deusa começou a
sussurrar coisas incompreensíveis e pressenti que
ela gozaria.
— Ohhh, Edu! Que gostoso! — disse enquanto
sentia a sua boceta começar a comprimir o meu
pau gradativamente.
— Dê o seu prazer para mim, minha deusa!
Em poucos segundos, Milena se desfez
embaixo de mim. Ela gemeu, mexeu com os
quadris e entrelaçou as mãos em meu cabelo. Bati e
volto mais três vezes e liberei meu orgasmo
arfando alto e com a cabeça enterrada em seu
pescoço.
Capítulo 23

Milena

Estava acomodada na cama, refletindo sobre o


dia que passamos juntos. Fiquei tão feliz pelo Edu
ter dado o primeiro passo para se aproximar da
Sofia. Percebi o quanto foi difícil para ele ter que
encarar a família de seu pai, mas mesmo assim, ele
se manteve forte, inclusive na hora de cantar
parabéns. Por um momento, pensei que ele
recusaria ficar tão perto da Elisa e do seu Antônio,
mas foi só olhar para o sorriso da irmã que ele fez
as suas vontades. A menina era um doce e
conseguiu desarmar o meu namorado com um
simples abraço.
Ouvi passos vindos do corredor e, segundos
depois, Edu surgiu no quarto. Ele trazia uma
bandeja com duas taças de vinho branco e um
cacho de uvas. Deixando a bandeja sobre o criado
mudo, ele se sentou na beirada da cama.
— Você e sua perspicácia, hein doutora? — Seu
tom de voz era descontraído e ele aproveitou a
proximidade para pegar uma mecha do meu
cabelo.
— O que foi que eu fiz, doutor?
— Você consegue enxergar uma parte de mim
que nem eu sabia que tinha, e com isso, me
convencer de fazer coisas que antes eram
inimagináveis. O fato de eu ter ido ao aniversário
da Sofia é um exemplo da sua persuasão. —
desabafou e eu sorri. — Nunca cogitei ir a essa
festa e você conseguiu me arrastar até lá. Você é um
perigo, Milena! — exclamou ainda em tom
divertido me dando um breve beijo nos lábios.
— Então é melhor você tomar cuidado comigo!
— alertei gostando da atmosfera leve que pairava
entre nós.
— Vamos tomar um banho — falou me
pegando no colo e saindo comigo em direção ao
banheiro.
Edu me colocou de pé e começou tirar a minha
roupa. Primeiro ele tirou a minha blusa e depois a
minha saia. Seus dedos avançaram lentamente em
direção ao meu sutiã que logo era despido de mim.
Ele jogou todas as peças a um canto e se voltou
para mim com o olhar penetrante.
— Tão linda!
Ele se afastou um pouco e se despiu
rapidamente, me deixando maravilhada diante de
sua virilidade e beleza. Contemplei seus traços
marcantes em seu rosto: o maxilar quadrado, os
seus profundos olhos verdes acinzentados que
estavam cravados em mim, me desejando com
volúpia. Desci o olhar e admirei o seu peitoral forte
e bem torneado, o seu abdômen me deixava
fascinada, coberto por pelos finos, chegando até o
sexy V dos seus quadris, que eu tanto gostava. Vi
seu pênis ereto, pronto para mim, e mordi os
lábios.
Edu percebeu a minha excitação e avançou
sobre mim. Ele inseriu a sua língua deliciosa em
minha boca e eu enlouqueci. O beijo era delicioso,
carinhosos, intenso. Sua língua se enroscava a
minha e roubava todos os sentidos que ainda tinha.
De repente, um pensamento sombrio passou pela
minha mente: o que um homem como Edu Guerra,
que podia ter a mulher que quisesse em um estalar
de dedos, viu em mim?
O ataque sensual do Edu era tão intenso que o
pensamento se dissipou e eu me tornei uma
mulher movida pelas sensações. Ele deslizou a sua
mão grande em direção ao meu quadril e me virou
de frente para o espelho. Eu fechei os olhos e senti
seu hálito quente incendiar o meu ouvido e o seu
membro pulsar forte atrás de mim, me desejando.
Enquanto uma de suas mãos acariciava com
intensidade um de meus seios, a outra apertava a
minha bunda.
— Minha linda deusa de ébano!
Quando abri os olhos, eu me deparei com a
minha imagem refletida no espelho e a antiga
sensação de inadequação ressurgiu. Edu não
percebeu o meu desconforto e continuava a me
acariciar. Eu enrijeci o corpo e comecei a respirar
com dificuldade. Apoiei as mãos na bancada de
mármore segurando-a com tanta força que os nós
dos meus dedos ficaram esbranquiçados.
— Tão linda! Tão sedutora! Tão feminina! —
elogiava distribuindo elogios para mim.
— Pare, Edu! — Fechei os olhos não
aguentando mais olhar para mim mesma. Se ele
soubesse a verdade sobre mim, os seus elogios
cairiam por terra.
— Que pele maravilhosa! Cheirosa! Deliciosa!
— Suas palavras me levaram ao horror interno. A
confusão de sentimentos me invadiu e a dor me faz
mais uma vez sua prisioneira.
Tentei me livrar de suas mãos e, somente então
ele percebeu o meu pavor. Edu interrompeu as
carícias e eu voltei a fechar os olhos, virando o
rosto de lado. Não tinha mais forças para continuar
olhando para a minha própria imagem refletida no
espelho.
— Milena, o que foi? — perguntou
preocupado.
— Por favor, pare! — sussurrei em um fio de
voz, sentindo o pranto emergir rasgando o meu
peito.
— Por que você não gosta quando eu te elogio?
Você é linda e perfeita para mim!
— Não! Eu não sou! — Neguei com veemência
e ele ignorou virando o meu rosto para frente outra
vez.
— Abra os olhos, Milena! — disse segurando
em minha mandíbula enquanto eu mantinha os
olhos fechados.
— Não, por favor! — implorei em lágrimas
sentindo cada célula do meu corpo convulsionar de
angústia.
— Abra os olhos e diga o que você vê?
Abri os olhos e observei a minha imagem.
Quanta coisa eu tinha trancada dentro de mim, que
me atormentavam ao longo desses anos. Fatos que
marcaram a minha vida de uma forma muito
pesarosa, acontecimentos que eu não sabia lidar,
que não fui capaz de superar. Uma vida inteira
dedicada a encontrar algo que não queria ser
encontrada: eu mesma.
— Tristeza! — respondi em meio ao pranto
enquanto o coração martelava agoniado.
— Eu não vejo isso! — disse me virando para
ficar de frente para ele e nossos olhos se
encontram. Edu limpou as minhas lágrimas que
desciam sem controle e segurou meu rosto em suas
mãos. — Eu vejo amor. Você transpira amor,
Milena. — Sua declaração me fez chorar ainda
mais. Eu balancei a cabeça de um lado para o outro
não aceitando o que ele dizia.
— Não, Edu! Você está enganado — falei
abaixando os olhos e sentindo o corpo começar a
tremer consideravelmente.
— Não! Você está enganada a seu respeito! —
Ele ergueu o meu queixo e buscou os meus olhos.
— Eu sei que é amor, porque é isso que eu sinto por
você, Milena. — Eu abri a boca sem acreditar no
que acabo de ouvir. — Eu te amo!
Meu coração parou de bater por alguns
segundos e quando voltou, parecia que ia saltar
pela minha boca. Não consegui piscar e nem
respirar. Tudo ao redor estava inerte. Apenas sentia
o contato de seus dedos quentes em minha pele e
de seu olhar apaixonado cravado em mim. Uma
mistura de sentimentos desconexos emergiu com
fúria. Amor e dor duelavam em meu peito, me
deixando momentaneamente perdida.
Sem poder mais controlar as emoções eu
desabei novamente chorando feito uma criança de
colo. Edu me envolveu em um abraço apertado me
consolando em silêncio. Só Deus sabia o quanto eu
desejei ouvir essa declaração vinda dele. Sonhei
tanto com esse momento e agora estava tremendo e
convulsionando em seus braços sem nada dizer.
— Milena, você não sente o mesmo por mim?
— A voz dele soou ferida. Ergui os olhos marejados
e encontrei os dele apaixonados.
Respirei fundo enquanto ele me acariciava o
cabelo e me protegia do mundo. Precisava falar
para Edu que o que eu sentia por ele também era
amor. Precisava dizer a ele que eu o amava sem
medidas. Controlei o pranto e tomei coragem para
me declarar.
— Eu também te amo — disse sentindo o amor
encher o meu peito e me deixar sufocada. Edu
abriu um sorriso lindo e me olhou com sentimento.
— Mas... — Interrompi as palavras sentindo um nó
se formar em minha garganta outra vez.
— Mas o quê?
— Olhe para mim... — sussurrei e as lágrimas
voltam a descer descontroladamente.
— Não diga mais nada! — Edu me pegou no
colo outra vez e retornamos ao quarto. Ele me
deitou na cama e se aconchegou ao meu lado. —
Seja o que for que você que te atormenta, nós
venceremos isso. Agora se acalme! — Ele me puxou
para junto de si e eu descansei a cabeça em seu
peito que, para mim, estava sendo o meu porto
seguro. — O amor cura todas as feridas, Milena.
Todas
Sabia que tinha que superar os traumas sobre
minha origem e tentar viver uma vida normal e
feliz. Ainda mais agora ao lado do homem que
acabava de se declarar apaixonado por mim. Mas
era tão difícil aceitar de onde eu vim. Se eu não
soubesse a verdade sobre o meu passado, talvez eu
fosse uma pessoa feliz e sem neuras. Eu precisava
me dar a chance de ser feliz. E eu faria de tudo para
que a felicidade se tornasse algo constante em
minha vida.
Fechei os olhos e adormeci nos braços do
homem que amava. Não havia melhor lugar no
mundo para estar do que aninhada próximo ao seu
enorme coração de ouro.

***

Terminei o expediente de trabalho na


Promotoria e saí me encontrar com Úrsula. Mais
cedo eu lhe enviei uma mensagem de WhatsApp
dizendo a ela que queria conversar. Não marquei o
nosso encontro em seu consultório e sim em um
café. Não queria que a nossa conversa fosse de
paciente para médica, e sim um papo entre amigas.
Cheguei ao café e percebi que a minha amiga não
estava presente. Olhei no relógio de pulso e vi que
ela estava atrasada alguns minutos. Certamente
algum imprevisto aconteceu para que Úrsula se
atrasasse para um compromisso. Ela nunca se
atrasava.
Eu me acomodei a uma mesa, pedi um suco
natural de abacaxi e esperei por ela. Enquanto eu
degustava a bebida, vi ao longe a minha irmã Lívia
se levantar e sair acompanhada pelo advogado
Thobias. Eles se detiveram próximos à porta de
saída por um momento e conversavam
animadamente. Lívia não percebeu a minha
presença, pois estava entretida com algo que ele
falava. De onde minha irmã o conhecia? Será que o
relacionamento deles era somente de amizade?
Pela maneira como Thobias olhava para ela, ficava
claro o seu fascínio, porém a Lívia não percebia e
também não demonstrava interesse. Que situação
chata! Essa minha irmã era osso duro de roer!
O meu celular vibrou e eu desviei a atenção de
Lívia e de Thobias para fixar os olhos no aparelho.
Era Úrsula que me enviava uma mensagem de
WhatsApp. Ela explicava que teve um contratempo
em seu trabalho e que iria demorar um pouco para
chegar. Guardei o aparelho na bolsa e quando ergui
os olhos, eu me deparei com Cibele parada diante
de mim. Ela me fitava com o olhar frio,
demonstrando a sua costumeira postura arrogante.
Me senti desconfortável e irritada com a presença
da cobrinha peçonhenta. Fiz menção de me
levantar e ela me deteve.
— Não vai embora, Milena. Você não vai deixar
a sua amiga na mão, vai? — indagou se referindo a
Úrsula e meu queixo caiu. Como ela sabia que eu
estava esperando por alguém? Cibele estava me
vigiando?
Controlei todos os nervos que afloravam em
mim e respirei fundo para não avançar sobre ela. A
vontade que tinha era de arrancar os cabelos dessa
sirigaita mal amada. Sem me importar com seu ar
gélido e seu sorrisinho besta, eu deixei o dinheiro
do suco sobre a mesa e me levantei. Peguei a minha
bolsa e passei por ela como um foguete. Enquanto
caminhava em direção ao estacionamento, a
desgraçada me seguiu, fazendo barulho em suas
sandálias de salto alto.
— Milena, você não pode ir embora! — Eu a
ignorei totalmente, pois não cairia no joguinho
dessa garota. Não daria esse prazer a ela!
Continuei caminhando e a sirigaita estava
grudada em meus calcanhares. Cibele aparecia na
hora que dava na telha e ainda me fez perder o
encontro com uma de minhas melhores amigas!
Santo Deus! O que eu fiz para merecer essa
perseguição? Essa garota era louca ou o quê?
— Eu tenho algo muito importante para te
entregar.
Me virei e fiquei de frente para a cobrinha. E,
cogitando a ideia de que Cibele pudesse estar
tramando algo, uma ideia surgiu. Se ela estivesse
preparando uma armadilha para mim, era melhor
eu gravar a conversa para depois usar como prova.
Sem Cibele perceber eu enfiei a mão dentro da
bolsa, fingindo que estava procurando pelas
chaves, e liguei o gravador de meu celular.
— Não me interessa o que você tenha para me
entregar. Suma de minha frente, sua sirigaita! Você
não sabe nada sobre a minha vida! — rosnei com
raiva e ela sorriu cinicamente. Isso mesmo! A filha
da mãe ainda me debochava!
— Sei tudo sobre a sua vidinha medíocre. Você
foi deixada na porta de um orfanato, depois que
sua mãe biológica teve você escondida em um beco
qualquer.
Estremeci e o chão sumiu abaixo dos meus pés.
Não ouvi o barulho do trânsito lá fora, nem o canto
dos passarinhos. A única coisa que escutava além
dos batimentos cardíacos que estavam acelerados,
era o a voz fria da Cibele que ecoava dentro da
minha cabeça. A maldita conseguiu o que queria!
Ela fuçou e fuçou tanto em busca de algo que
pudesse me atormentar e tirar tudo que eu tinha, e
acabou de conseguir. Como ela descobriu sobre a
minha vida?
Pisquei depois de um longo tempo e busquei
ar nos pulmões. O mal-estar que sentia é tanto, que
eu não suportei o peso de minhas próprias pernas
e me apoiei ao capô do carro para não cair diante
da desgraçada. Cibele ergueu um envelope amarelo
para o alto e sorriu sarcasticamente.
— São interessantes as informações que tem
aqui dentro. Aliás, interessantíssimas — disse com
frieza deixando o papel ao meu lado, sobre a lata
do carro. — O nome do seu pai eu descobri, mas
ele já está morto. — Soltou um suspiro como se
estivesse entediada, como se o assunto fosse trivial
para ela. — Infelizmente não sei o nome da sua
mãe.... ainda. A única coisa que sei é que ela talvez
pertença a uma família influente. Bem, nem os
detetives conseguem descobrir tudo.
Com as mãos trêmulas eu peguei o documento
e meus olhos se tornaram inertes outra vez. Ela
descobriu a minha vida inteira, desde quando eu
era uma recém-nascida. Tudo! Antes e depois da
minha adoção. Estava escrito nesse documento que
o nome do meu pai era Donato da Silva Martins.
Nunca ouvi esse nome em minha vida. Se as
informações que estavam contidas aqui fossem
verdadeiras, esse papel podia me destruir. Meu
Deus! Se esse documento caísse nas mãos do
procurador Mauro de Britto, irmão da sirigaita, ele
podia ser minha completa ruína. Certamente que
Cibele não estava blefando e sabe muito bem o que
estava fazendo.
Pelo que estava escrito neste papel, o meu pai
estava sob investigação do Ministério Público pelo
crime de lavagem de dinheiro. E o promotor
responsável pelo caso, era o doutor Ronaldo de
Mattos, meu colega de trabalho. Meu Deus! Diante
de tudo que estava exposto aqui, o crime cometido
pelo meu pai biológico era muito grave e isso podia
me impedir de conseguir ascender no trabalho.
Claro que pela lei, não teria como isso ser um
empecilho. Mas como a filha de um bandido desse
calibre podia ser funcionária do mesmo órgão que
o investigou, sem gerar desconfiança entre os
colegas de trabalho? E quanto ao Edu? Um juiz
renomado com histórico profissional impecável,
namorando a filha de um bandido. Poderia
prejudicar a sua carreira também.
— E então, Milena? — Sua voz me trouxe de
volta a fria realidade. — Será que sua vontade de
trabalhar no Ministério Público não está
relacionada com o papai querido? Ou será que está
tentando ocultar provas do envolvimento da sua
mãe no esquema? — insinuou em tom
maquiavélico.
— Você é muito baixa, Cibele — rosnei
sentindo uma repulsa enorme ao olhar para ela.
— Como os seus colegas de trabalho olharão
para você depois de descobrir isso? Ah! — Sorriu
enquanto os olhos faiscavam ódio em minha
direção. — O meu irmão Mauro, que é um dos seus
superiores, irá adorar ler o que está escrito neste
documento.
— Desgraçada! Como você descobriu isso?
— Muito simples! Contratei o melhor detetive
que existe no mercado! — Eu queria tanto saber
sobre a minha vida, mas nunca cogitei a ideia de
saber de toda a verdade pelas mãos da Cibele.
Justamente ela que me odiava de morte. Agora
tinha certeza que ela faria de tudo para me destruir.
— O que você quer, sua cobra?
— Eu quero Edu Guerra em troca do que há
dentro desse envelope — Era óbvio que ela o
queria. A idiota não entendia que ele não tinha
interesse, independente de estar ou não comigo.
Estava com tanta raiva que cerrei os dentes,
sentindo o único fio de coragem que tinha brotar
com toda força.
— NUNCA! — esbravejei endireitando o corpo
e fulminando-a com o olhar. — Sua chantagista
filha da puta. O lugar que você merece é a cadeia
depois do que você me fez! — Ela começou a
gargalhar! Fiquei tão chocada com a perversidade
dessa garota, que por um instante não reagi,
apenas observei.
— Amanhã mesmo todos saberão de onde
você veio, Isaurinha — disse me injuriando por
entre linhas. — A sua vida ficará exposta para todos
como vitrine de uma loja barata.
— Você não tem ideia do que estás fazendo,
Cibele. Você pode ser punida por isso! — alertei
sabendo que o celular estava gravando a nossa
conversa inteira. Mas ela me ignorou e continuou a
me ameaçar.
— Deixe de ser ridícula, garota! — bufou
impaciente enquanto arregalava os olhos
parecendo estar enlouquecida. — Quero aplaudir
de camarote a sua queda profissional e pessoal.
Isso será um prato cheio para a os procuradores do
Ministério Público.
— Não! — falei em um sussurro sentindo cada
palavra que ela dizia como se fosse uma
apunhalada em meu peito.
— Você vai perder o Edu de qualquer jeito, só
que se você aceitar a minha proposta, a sua família
e o seu trabalho serão preservados. Seus pais,
professores aposentados, continuarão tendo o
plano de saúde e a sua irmã continuará a estudar as
suas custas. Não é você que banca a sua família?
— Você não teria coragem de fazer isso...
— Eu farei isso e muito mais! — ameaçou
destilando seu veneno sobre mim.
— Cibele, você é louca!
— Se você quiser manter a sua carreira e a sua
família postiça, basta aceitar o acordo. Caso
contrário, adeus para tudo! — disse friamente
enquanto eu tentava buscar uma solução para esse
impasse.
— Não tem acordo! — respondi decidida
sentindo o coração se comprimir angustiado.
— Bem, então amanhã a imprensa terá uma
boa matéria para divulgar. — Sorriu
sarcasticamente. — Que impacto isso causará em
sua carreira! Você pensou em quantas vidas estará
arruinando além da sua? Sua família adotiva, sua
mãe biológica e até mesmo Edu serão
prejudicados! — Ela girou o corpo e se moveu em
direção ao seu carro que estava estacionado
próximo.
— Espere!
Cibele interrompeu os passos e voltou-se para
mim novamente. Enquanto ela caminhava em
minha direção, eu tentava assimilar a triste
realidade. Estava prestes a perder ou a minha
família, ou Edu. E, eu não estava pronta para
perder nenhum deles. Eu não via a minha vida sem
as pessoas que amava. Mas eu tinha escolha diante
da realidade que se apresentava para mim?
Cega pelo medo e pela dor, eu acabei por
concordar com a desgraçada. Não queria que
outras pessoas destruíssem a sua vida por minha
causa. Endireitei o corpo me equilibrando em cima
de meus saltos e tomei coragem para fazer a
escolha, que nesse momento, era a mais justa.
— Eu aceito o seu acordo — disse em um fio de
voz e ela sorriu vitoriosa.
— Você fez a escolha certa, Milena. Edu ficará
bem ao meu lado. Acredite! — falou irônica
enquanto meu coração se desfazia em milhares de
pedaços.
— Nunca mais quero vê-la em minha frente,
sua chantagista miserável! — rosnei enfurecida e
ela deixou o local, triunfante.
Momentos depois, eu cheguei em casa e fechei
a porta atrás de mim. Não tinha forças sequer para
chegar ao corredor, quanto mais ao meu quarto. Me
arrastei com dificuldade até a sala de estar e caí de
joelhos no chão. A dor que sentia era imensa e ela
estava impregnada em mim como se fizesse parte
de meu corpo, de minha alma. O pranto emergiu
rasgando o meu peito e assolando o meu coração.
Sabia que um dia o passado bateria em minha
porta. Aliás, eu mesma procurei por isso. Contratei
um detetive, antes mesmo de me graduar em
Direito, e o homem conseguiu as informações no
orfanato. Ele me entregou tudo que eu sabia até
hoje. Eu fui abandonada durante a madrugada,
enrolada em uma manta, ainda com o cordão
umbilical. Naquela época eu não sabia quem eram
os meus pais. Mas depois de ler o documento que
Cibele me entregou, eu precisava saber se tudo que
ela disse sobre o meu pai era verdadeiro.
Tentei controlar o choro e saí cambaleante em
direção ao meu notebook, que estava em cima da
mesa da sala de jantar. Liguei o aparelho e digitei o
nome Donato da Silva Martins no site de busca.
Não demorou muito para que algumas
informações surgissem na tela. Sem saber ao certo
o que fazer e com a visão embaçada pelas lágrimas,
eu cliquei em um link e apareceu poucas
informações e uma foto dele com uma mulher de
cabelo cacheado castanho claro, usando óculos
escuros e chapéu de praia. Seria a sua esposa? O
meu pai teve uma família? Pelo que ouvi de Cibele,
os meus pais biológicos não chegaram a se casar.
Tiveram um caso ou um namoro que não deu certo.
A foto era um pouco antiga e pelo que estava
escrito na matéria no site, ela tinha mais de doze
anos. Arregalei meus olhos ao notar a semelhança
entre mim e o homem que estava na tela. A pele
dourada era o que mais chama a minha atenção,
sem falar nos olhos e nos traços faciais. Abaixo da
fotografia estava escrito que ele estava sob
investigação do Ministério Público pelo crime de
lavagem de dinheiro. Eu não acreditava no que
estava vendo! Eu me negava a acreditar que isso
fosse verdade.
Não consegui ler mais nada. A minha visão
estava comprometida pelo pranto que descia outra
vez. Desliguei o notebook e me arrastei até o
banheiro. Tirei minhas roupas de qualquer jeito e
liguei o chuveiro. A água desceu fria enquanto eu
escorreguei ao chão, completamente desolada.
Despejei sabonete líquido na esponja e comecei a
esfregá-la com tanta força em minha pele que senti
leves escoriações vermelhas começarem a surgir.
Precisava me limpar da sujeira que era a minha
vida. Tirar de mim a marca da minha identidade
manchada pela desgraça.
Nesse momento eu me dei conta de que
entreguei Edu de mãos beijada para a sirigaita.
Abdiquei do homem que eu amava e escolhi
proteger a todos ao meu redor. E isso não tinha
volta. Teria que cumprir a minha sentença e romper
o nosso relacionamento. Daqui para frente eu
estava sozinha.
Puxei as pernas juntos ao corpo e, abraçando-
as, eu afundei a cabeça no meio dos meus joelhos.
Chorei em desespero, alternando entre soluços e
gemidos e deixei a dor tomar conta de mim. Nada
mais importava! Nada!
Capítulo 24

Edu

Enviei mensagens de WhatssApp, sms e liguei


mais ou menos umas três vezes para Milena e
nada. Passei entre uma pauta e outra de audiências
remoendo o motivo do seu silêncio. Eu não sabia o
que estava acontecendo, mas sentia que talvez a
minha deusa estivesse passando por problemas. E
se fosse isso, eu precisava ajudá-la.
Não conseguia esquecer o que aconteceu no
banheiro. Milena estava tão alegre e, de um
momento para outro, se tornou triste. Fiquei aflito
com o ocorrido. O que será que a deixava tão
arrasada? A tristeza parecia ser bem mais profunda
do que a sua família adotiva. Eles a amavam
incondicionalmente e o sentimento era recíproco.
Milena escondia algo importante de todos,
inclusive de seus pais. Eu precisava encontrar um
meio de curar o coração ferido da mulher que
amava.
Deixei do Fórum as pressas para ir de encontro
a minha deusa. Não via a hora de tê-la em meus
braços. O amor que sentia por ela era imenso e mal
cabia em mim. Tinha certeza de que Milena era a
mulher da minha vida. Depois dela, não haveria
mais ninguém.
Poucos minutos depois, estava na frente do
prédio da Milena. A apreensão era tão grande que
eu tirei o casaco e abri os dois primeiros botões da
minha camisa. Precisava de ar. Subi de elevador,
mas estava tão ofegante que dava a impressão de
que subi pelas escadas. Apertei o botão da
campainha e nada. Tocou uma, duas... Cinco vezes
e nenhuma resposta. O porteiro me assegurou que
Milena não saiu de casa o dia inteiro. Então por que
ela não me atendeu?
Levei a mão na maçaneta da porta e constatei
que ela não estava trancada. Receoso, eu entrei e
me deparei com o ambiente completamente
silencioso. Não havia nenhum sinal da minha
deusa, o que me deixou ainda mais apreensivo. Fui
entrando em silêncio, olhando ao redor e não
encontrei nada.
— Milena? — Esperei alguns segundos e não
obtive nenhuma resposta. — Milena, você está ai?
Ao entrar no quarto, vi uma cena tão chocante
que nem mesmo em meus piores pesadelos
poderia imaginá-la: Milena estava sentada no chão,
enrolada em um lençol. Eu me aproximei
apressadamente e vi que havia algumas manchas
de sangue no tecido e o desespero tomou conta de
mim.
— Milena! — Meu grito saiu estrangulado e
senti minha garganta contrair ao pronunciar o seu
nome. Eu a peguei no colo e a coloquei sobre a
cama. O lençol escorregou, deixando parte de seu
corpo à mostra e, só então eu percebi que a sua
pele estava vermelha, o que denotava que ela sofreu
algum tipo de abuso. Meu desespero foi tão
grande, que deixei a fúria tomar conta dos meus
pensamentos. — O que houve com você? —
questionei segurando o seu queixo em minhas
mãos.
Milena ergueu os olhos para me fitar e parecia
que estava em choque. Ela não falava ou esboçava
qualquer tipo de reação. Meu coração se apertou ao
vê-la tão vulnerável e sem vida. Seus olhos
castanhos estavam vidrados e havia olheiras
profundas ao redor deles. Seus lábios estavam
levemente roxos. Sem falar na sua pele, repleta de
pequenas escoriações.
— Aconteceu algo com você, minha deusa?
Você foi violentada? Responda, Milena, pelo amor
de Deus! — Segurei seu rosto em minhas mãos
outra vez e ela piscou os olhos como se acordasse
de um transe.
— Úrsula... — sussurrou um nome que eu não
fazia ideia de quem fosse. — Hos-hospital... Eu pre-
preciso... — gaguejou perdendo os sentidos.
— Milena! — gritei desesperado enquanto ela
desmaiava em meus braços.

***

Após eu ter dado todas as informações aos


enfermeiros, inclusive o nome citado por Milena
antes de desmaiar, tudo o que eu podia fazer é
esperar. O médico plantonista a atendeu e em
seguida a levou para um quarto. Momentos depois,
uma enfermeira me avisou que o médico pessoal
dela estava a caminho e também Úrsula, sua
psicóloga. Eles ainda não sabiam o que aconteceu
com minha namorada, mas me garantiram que ela
não foi violentada. Respirei um pouco aliviado,
porém ficaria tranquilo apenas quando soubesse
exatamente o que aconteceu com ela.
Através do número de telefone da Lívia, que eu
encontrei na agenda do celular da Milena, eu avisei
a sua família. Lívia se apavorou ao telefone e não
era para menos, eu ainda estava abalado, tentando
assimilar o ocorrido. Senti a minha cabeça doer
tanto que tinha a impressão de que ela iria explodir
a qualquer momento. Nunca pensei que pudesse
encontrar a minha deusa em um estado tão
devastador. Vê-la encolhida a um canto, como se
fosse um animalzinho indefeso, foi um baque
muito forte para mim. Aquela garota que estava
diante dos meus olhos, nua, perdida e em choque,
não era a minha Milena durona e destemida. Era
uma estranha, outra pessoa.
A noite chegou e eu era o único que estava
sentado no sofá da sala de espera. Não se ouvia
nada além de pequenos burburinhos de alguns
enfermeiros ou do pessoal da limpeza que
começava a fazer o seu trabalho, passando pano no
corredor. Não sabia ao certo quanto tempo fazia
que estava esperando notícias da minha namorada.
Talvez uma hora, ou mais.
De repente, ocorreu uma movimentação na
porta da sala de espera e vi a família da Milena se
aproximar com uma expressão preocupada. Lívia e
Malu estavam acompanhadas de uma mulher de
cabelos e olhos castanhos claros e um homem de
cabelo grisalho e pele muito branca. A semelhança
entre o homem e Lívia era enorme. Não levei nem
um segundo para constatar de que se tratava do pai
e da mãe da Milena.
— Oi, Edu! Como está a minha irmã? —
perguntou Lívia me cumprimentando com um
aperto de mãos.
— Eu ainda não sei. Os médicos estão
cuidando dela.
— Edu, esses são os meus pais. Seu Otávio e
dona Dalva — Dona Dalva apertou a minha mão de
uma forma calorosa e sorriu para mim. No entanto,
seu Otávio se manteve distante, apenas me
olhando desconfiado. Malu e Lívia se entreolham,
desconfortáveis, enquanto eu estava me sentindo
na maior saia justa da minha vida.
— Edu de que? — indagou seu Otávio coçando
o queixo e me estudando com o olhar.
— Pai, esse é o namorado da Milena, Eduardo
Luís Guerra— interveio Lívia explicando a situação.
Eu abri um meio sorriso e estendi a mão para ele.
— Prazer em conhecê-lo. — Sua expressão não
condizia com suas palavras, mas dada a situação
em que nos encontrávamos, achei melhor fingir
que não percebi.
— O prazer é meu.
— Então foi você que trouxe a minha filha para
o hospital?
— Sim, fui eu. — A mãe de Milena começou
cutucar o marido disfarçadamente, chamando a sua
atenção.
— E o que aconteceu com a minha filha? — O
seu interrogatório me deixava acuado. Eu não
estava acostumado a isso, normalmente sou eu
quem fazia interrogatório em sala de audiências e
não o contrário.
— Eu não sei, seu Otávio — falei por fim e ele
respirou fundo, nervoso.
— Úrsula está aqui! — Malu disse, olhando em
direção a uma mulher na faixa de seus 40 anos,
magra, estatura mediana, de cabelos e olhos
castanhos. Ela me lançou um olhar avaliativo e eu
apenas abri um meio sorriso.
A doutora cumprimentou a todos e voltou o
olhar especulativo em minha direção. Certamente
as enfermeiras informaram quem eu era, e era por
isso que ela estava me analisando de cima abaixo. A
mulher não era nem um pouco discreta. Ela olhava
para mim e depois se voltava para os pais de
Milena que esperavam ansiosos por uma resposta.
— Como está a minha filha? — perguntou
dona Dalva preocupada.
— Ela está bem, na medida do possível. Não
corre risco de morte, mas precisa ficar em
observação por vinte e quatro horas.
— O que o doutor Amaral disse? — Seu Otávio
estava visivelmente aflito. Todos nós estávamos.
— Seu Otávio, dona Dalva e Lívia, o doutor
espera por vocês na sala dele. Uma enfermeira os
conduzirá até lá — A doutora fez sinal para um
enfermeiro alto e magro, que conduziu a família da
Milena até a sala do doutor Amaral. Lívia chama
Malu, autorizando-a a acompanhar os pais da
Milena. Enquanto eles cruzavam o corredor, a
doutora se virou para mim e abriu um sorriso
discreto.
— Olá, sou Úrsula. Prazer! — Ela estendeu a
mão para mim.
— Prazer, sou o Edu!
— Você é amigo da Milena? — Eu tinha a
impressão de que ela sabia muito bem quem eu
era, e que estava me avaliando.
— Sou o namorado dela. — Minha resposta a
deixou satisfeita, pois ela abriu um grande sorriso.
— Edu, você pode me acompanhar até a minha
sala?
— Claro. — Nem hesitei ao concordar. Tudo o
que eu queria nesse momento eram informações
sobre o que aconteceu com a Milena, e acreditava
que a doutora Úrsula tinha as respostas.
— É por aqui. — Eu a acompanhei,
caminhando ao seu lado. Seu consultório era uma
sala pequena, mas aconchegante. Após fechar a
porta atrás de si, ela apontou para uma poltrona
em couro para eu me acomodar. Eu me sentei e ela
fez o mesmo, se acomodando de frente para mim.
— Eu soube que foi você quem trouxe a Milena
para o hospital.
— Sim, fui eu. — Concordei ansioso demais
por saber notícias de minha namorada. — Doutora,
eu preciso saber como ela está.
— Milena está bem, na medida do possível,
Edu. — Ela voltou a repetir a mesma frase que
disse no saguão, o que me deixava apreensivo.
— Úrsula, o que a Milena teve? Eu preciso
saber para poder ajudá-la.
— Esse assunto é complexo e particular.
Infelizmente, eu não posso dar informações sobre
os meus pacientes devido à ética da minha
profissão — Sua resposta não me tranquilizou em
nada.
— Sim, eu entendo — disse frustrado sabendo
que ela estava certa. — Milena tinha escoriações na
pele. Foi devido a quê? — perguntei me recordando
do modo como a encontrei em seu quarto.
— Bem, eu acredito que ela tenha causado
esses pequenos ferimentos em si mesma. — Úrsula
estava com um olhar distante e ao mesmo tempo
pesaroso e eu arregalei os olhos, atônito.
— Mas por qual razão ela faria isso? —
indaguei nervoso sentindo o meu coração se
apertar.
— Edu, a Milena precisa superar alguns
traumas que sofreu na vida. Infelizmente, ela
permite que pequenos problemas ganhem
proporções gigantescas, estressando-a e em sua
cabeça eles crescem de tal forma que ela os vê
como obstáculos intransponíveis. O que Milena
precisa é de amor e compreensão.
— E pode ter certeza que isso eu tenho para
oferecer a ela. E muito! — falei convicto. A doutora
sorriu e se levantou, saindo detrás da mesa que nos
separava. Eu a segui me levantando também.
— Eu não tenho dúvidas disso — disse fazendo
ajeitando os óculos de grau ao rosto. — Milena é
uma pessoa que tem o coração repleto de cicatrizes,
Edu. Mais cedo ou mais tarde, ela se abrirá para
você. E quando isso acontecer ouça-a e não a
julgue.
— Pode deixar. Obrigado pelo conselho,
Úrsula.
— De nada, Edu. Se precisar, estarei aqui. Até
mais! — Ela se despediu abrindo um sorriso
compassivo.
— Até mais!
Deixei a sala da doutora e voltei a me
acomodar no mesmo sofá de antes. Estava muito
reflexivo e preocupado. Embora eu entendesse que
a doutora não podia me dar informações sobre
Milena, eu fiquei angustiado. Afinal, eu precisava
saber o que se passava no coração da minha deusa
que a entristecia tanto assim.
Momentos depois, Lívia surgiu na sala de
espera. Eu me levantei rapidamente e fui até ela.
Precisava saber como Milena estava para me
acalmar um pouco. E claro, vê-la, lhe dar carinho e
amor. Sabia que ela estava precisando de mim,
assim como eu estava precisando dela.
— Lívia, como a minha namorada está?
— Lena está bem, Edu. Não se preocupe —
respondeu tentando me acalmar. — Por que você
não vai para casa descansar um pouco?
— Não saio desse hospital sem antes ver a
Milena. Quando eu posso vê-la? — perguntei com o
peito explodindo de tanto amor e aflição. Lívia
desviou seus olhos dos meus e comprimiu os
lábios. Deus do céu! O que estava acontecendo com
a minha namorada? Por que ninguém me
respondia algo coerente?
— Lívia, por que diabos ninguém responde as
minhas perguntas? — Eu me aproximei um pouco
mais a encarando sério.
— Edu, a Lena... Ela não quer te ver — Senti
como se tivesse sido socado no estômago e meu
coração se dilacerou.
— Como assim? — Essa recusa em me ver me
deixou ferido. O que estava acontecendo com a
Milena que tentava me afastar?
— Eu acho melhor você ir embora e descansar,
Edu. Dê um tempo a ela. Lena está com muitas
coisas na cabeça no momento. — Tive uma
sensação ruim logo após essas palavras da Lívia. —
Lena precisa ficar um pouco sozinha e organizar
algumas coisas. Eu espero que você entenda.
— Não! Eu não aceito isso! — exclamei
desesperado caminhando de um lado para o outro,
com as duas mãos ao cabelo. — Por que a Milena
está fazendo isso comigo? — questionei
interrompendo os passos enquanto vi Lívia me
olhar com pena. Não! Piedade, não! Por favor!
— Edu, faça o que eu estou te pedindo.
Quando a Milena se recuperar, eu tenho certeza de
que ela irá te procurar.
Respirei fundo e fechei os olhos por um
momento. Eu não acreditei em uma palavra do que
a Lívia me disse. Essa atitude da Milena não
condizia com a sua personalidade. Ela nunca foi de
se esconder de algo, pelo contrário, sempre bateu
de frente comigo. Eu conhecia muito bem o seu
gênio forte e destemido. Mas por enquanto eu não
tinha alternativa a não ser aceitar a posição imposta
por ela e rezar para que Milena se recuperasse
rápido. Para somente depois conversar com ela
para esclarecer de vez o que estava acontecendo.
Com o coração partido, eu me despedi de Lívia
e deixei o hospital. Nem sabia direito para onde ia.
Apenas entrei no meu carro e girei a chave na
ignição. E nesse momento som ligou e a minha
banda favorita tocou a música Eu Não Pertenço a
Você. A voz rouca de Jonathan Correa contribuiu
para destruir ainda mais o meu peito. A frustração
se uniu a dor e me devastou por dentro. Não sabia
o que estava se passando realmente no coração da
Milena. A única coisa que sabia era que o meu
estava ferido.
E, na esperança de que ela me respondesse, eu
enviei uma mensagem de WhatsApp:
“Minha deusa, estou louco para saber como você
está. Por que você não quis me ver?”

A mensagem foi enviada e poucos minutos


depois, ela me devolveu uma resposta:

“Não há mais nada entre nós. Terminou tudo!”

Meus olhos começaram a ficar embaçados,


enquanto eu lutava para assimilar o que acabava de
ler. Milena estava terminando comigo? Ela não me
amava mais? As indagações que se formaram
faziam zunir a minha cabeça. Eu dividi a atenção
entre o trânsito e a tela do meu celular, enquanto
tentava ligar para ela. Queria ouvir de sua boca que
ela não me amava mais, nem que para isso Milena
não estivesse olhando em meus olhos nesse
momento. O telefone tocou várias vezes e caiu na
caixa de mensagem. Desesperado, eu tentei mais
três vezes e nada. Foi nesse instante que a amarga e
crua verdade caiu sobre mim: Milena não me
queria mais!
Joguei o celular no banco do carona e passei
um das mãos no rosto, nervoso. Meu corpo ardia e
meu peito sufocava. A mulher que eu amava e que
queria para minha vida, simplesmente me ignorou.
Milena não me amava mais, não me queria mais ao
seu lado, me chutou para escanteio! Não! Não
podia ser! Esmurrei com vontade o volante e senti
minhas mãos ficarem doloridas e vermelhas.
Precisava fazer algo para esquecer essa dor
dilacerante que me partia ao meio. Eu precisava
beber!
Dobrei na esquina seguinte e segui em direção
ao bar onde eu costumava me reunir com meus
amigos. Poucos minutos depois, eu estava sentado
junto ao balcão esperando por uma garrafa de
uísque. O garçom, conhecido meu, arregalou os
olhos ao notar a minha expressão de derrotado.
Sim, estava arrasado! Me sentia impotente diante
da vida. Um nada! Ele não me questionou e serviu a
bebida, deixando a garrafa a minha frente. Hoje o
velho Jack seria o meu companheiro. Queria afogar
as mágoas já que meu coração estava sufocado.
Precisava esquecer Milena, nem que fosse por
algumas horas.
— Ei, cara, quem é que está cantando essa
música? — indaguei para o garçom ao ouvir um
som baixo ecoar no ambiente.
— É um som sertanejo que se chama Até Você
Voltar. É uma dupla muito boa. Eles se chamam
Henrique e Juliano.
— Que ironia... Essa música traduz a minha
vida neste momento. — Dei um enorme gole no
uísque enquanto a dor dilacerante voltava a dar
sinal. Abaixei a cabeça e deixei a solidão tomar
conta de mim.
Permaneci no local bebendo em silêncio até
que a garrafa estivesse quase pela metade. O álcool
começava a fazer efeito, transformando a minha
mente em um parque de diversões. Estava prestes a
me servir de mais uma dose, quando alguém tirou
a garrafa de minha mão. Ergui os olhos e encontrei
Conrado me encarando com ar desaprovador. E ele
estava acompanhado do Cassiano.
— Hora de ir para casa! — disse meu primo,
deixando o dinheiro do uísque sobre o balcão.
— E quem disse que eu vou para casa? —
resmunguei meio grogue tentando arrancar a
garrafa de sua mão.
— Eu! — Conrado respondeu, entregando o
restante do uísque para o garçom. — Vamos, Edu!
— Ele pegou em meu braço e tentou me colocar de
pé.
— Me deixe, Conrado! Eu não sou o Gui que
cumpre as suas ordens sem contestar! — protestei
sentindo que a língua se tornava pesada e que o
ambiente começa a girar aos poucos. Estava
fodidamente bêbado!
— Você é muito pior do que o meu filho. Agora
vamos!
— Como soube que eu estava aqui? Foi a
minha mãe que te contou ou o doutor Antônio? —
Porra! A gente não podia nem afogar as mágoas!
— Não foi difícil descobrir onde você estava.
Afinal, aqui era o nosso point! Ou a maldita bebida
está te dando amnésia, Edu? — zombou Conrado
com uma carranca enorme no rosto.
— Me deixe afogar as minhas mágoas, primo!
— Eu continuei protestando enquanto Conrado
segurou firme em meu braço, caminhando junto
comigo.
— O que aconteceu, Edu? — indagou Cassiano
que até agora esteve calado, apenas observando
tudo de olhos arregalados.
— Milena... Ela... Ela não me quer mais... —
choraminguei como uma criança pequena e me
senti mal diante de meus amigos. Não devia ter
exagerado na bebida, mas eu não tive escolha. Ou
eu afogava o amor, ou ele me engolia. Acho que
nesse quesito ninguém venceu!
Nós nos aproximamos do carro do Conrado e
eu fiquei surpreso ao constatar que ele trocou a sua
caminhonete por um Audi. Meu primo abriu a
porta e eu hesitei em entrar. Me virei para os meus
amigos ainda um pouco zonzo, e vi dois Conrados
s e dois Cassianos diante de mim.
— Conrado, desde quando você trocou o seu
SUV por um BMW Z4 conversível? Você passou de
advogado para assaltante de banco?
— Eu trabalho, Edu. Esqueceu? Agora entra
logo na porra desse carro que eu vou te levar para
casa — rosnou sem paciência.
— Não precisa se ofender. Foi só uma
observação inocente — disse piscando os olhos
com dificuldade. — Mas e o meu carro? —
perguntei me recordando de que deixei meu Audi
estacionado do outro lado de onde estávamos.
— Cassiano vai levá-lo para casa — meu Primo
respondeu e eu fiquei mais aliviado. — Agora
entre!
— A genética dos Guerra voltou a gritar nas
suas veias, Conrado ? — zombei sentindo tudo ao
redor girar. Mas antes de entrar eu me virei para
Cassiano e recomendei: — Ei garoto, cuida bem do
meu carro!
— Pode deixar, chefe! — Cassiano deu uma
piscadinha e saiu para cumprir a sua missão.
Minhas pernas não aguentaram mais o peso do
meu corpo e, eu caí sentado sobre o banco do
carona. Mal vi meu primo se acomodar ao meu lado
e ligar a ignição. Meus olhos não conseguiam mais
ficar abertos. Agora nada mais importava. Nem
carreira, nem vida particular, nem família. Nada! A
única coisa que eu tinha de melhor na minha vida
era Milena, mas ela me deixou sem ao menos dizer
o motivo. De que adiantava eu continuar? Em meio
ao desolamento, eu apaguei com o coração
quebrado dentro do peito.
Capítulo 25

Milena

Eu era uma covarde. Não tive coragem de


terminar com Edu frente a frente. Se eu tivesse que
encará-lo e dizer que não o amava, eu desabaria.
Ele tinha o direito a uma explicação, mas eu não
tinha como fazer isso. Estava novamente imersa no
limbo, onde a minha vida passava lentamente. Só
que dessa vez, eu tinha o amor para me fazer
companhia, mas estava o homem que eu amava.
Doía tanto que nem sabia se eu conseguiria
suportar tudo que aconteceu nas últimas horas.
Perdi o Edu e quase tive a minha vida revelada pela
filha da mãe da Cibele, que me chantageou. O
encontro com ela me desestabilizou de uma
maneira imensurável. Antes, eu apenas chorava
com a cabeça em meu travesseiro, mas dessa vez eu
precisei sentir a dor física além da emocional.
Fechei os olhos e lágrimas rolaram pelo meu
rosto. Sabia que agi como uma louca e estava cega
de tristeza e desalento, desprovida de amor
próprio. Nunca me amei de verdade e tudo isso era
decorrência de saber que fui abandonada por
minha mãe biológica, como quem descartava um
objeto sem uso. Depois de tanto tempo ignorando
a verdade, eu tive que enfrentá-la. Não conseguia
acreditar que a Cibele se rebaixou tanto para
conseguir o Edu. Ela soube me atingir direitinho:
primeiro me fazendo duvidar da minha aparência,
e depois trazendo o meu passado a tona. Gostaria
de saber como ela obteve essas informações.
Ouvi um barulho na porta e percebi meus pais
me observando. Eles haviam saído para falar com a
Úrsula e agora voltaram para ficar ao meu lado.
Lívia que até então estava absorta lendo uma
revista, se levantou e saiu para comer um lanche. A
minha família estava se revezando para ficar ao
meu lado. Senti que estava sendo um fardo para
eles, mas a verdade era que sem a presença deles,
eu não suportaria a ausência do Edu.
— Minha filha, como você está? — perguntou
mamãe se aproximando da minha cama e
acariciando o meu rosto.
— Estou bem...
— Estávamos tão preocupados com você, filha.
— Perceber a dor nos olhos do meu pai me
dilacerava mais um pouco. Eles estavam sofrendo
tanto por minha causa. — Nós conversamos com a
doutora Úrsula e ela nos contou algumas coisas. —
Ele lançou um olhar para minha mãe e depois se
voltou a me fitar com compaixão.
— Otávio, não vamos falar sobre isso agora.
Deixe a Milena melhorar e depois a gente conversa,
não é? — sugeriu minha mãe com voz branda.
— Filha, você não está feliz com a sua família?
— Meu pai se aproximou uma pouco mais e
segurou em minha mão. Sua voz soou triste, como
se estivesse prestes a chorar. Meu coração se
apertou ao vê-lo assim. Eu os amava tanto que
jamais queria magoá-los.
— Pai, se eu aguentei firme todo esse tempo,
foi devido a você, a mamãe e a Lívia. Vocês são tudo
que eu tenho. Eu os amo!
— Oh, minha filha! — exclamou meu pai me
dando um beijo na testa. — Sei que você não foi
gerada por nós, mas quando nós a pegamos nos
braços, ainda tão pequenina, com menos de um
mês de vida, sabíamos que era nossa.
— Verdade, filha. Eu não a gerei em meu
ventre como aconteceu com a Lívia, mas o amor
que temos por você é o mesmo que temos por ela.
Vocês duas são a razão da nossa vida!
— Ah, mamãe...
— Filha, eu quero que você nos prometa uma
coisa: pare de remexer no passado. Você não sabe o
quanto isso dói para mim e para a sua mãe — disse
meu pai em tom suplicante.
— Pai, eu entendo perfeitamente o que vocês
sentem, mas eu preciso saber o motivo por ter sido
abandonada — respondi decidida e meu pai
balançou a cabeça de um lado para o outro,
descontente.
— Otávio, a Milena tem esse direito. Vamos
respeitar a vontade dela — aconselhou mamãe e
meu pai ainda manteve o semblante nervoso. —
Milena será sempre a nossa filha amada. E o que vir
a acontecer, não vai mudar em nada isso.
Entendeu?
— Tudo bem, filha. A gente vai respeitar a sua
posição.
— Obrigada! Eu amo vocês! — Sorri e eles me
deram um abraço duplo repleto de sentimento.
Nesse instante uma das enfermeiras entrou
avisando que eu tinha mais uma visita. Era a dona
Myrthes, mãe do Edu. Por um instante, fiquei sem
reação. Nunca pensei que ela pudesse estar
sabendo do que houve comigo, e nem que viesse
até o hospital para me ver.
Mamãe e papai se entreolharam e tiveram uma
conversa significativa apenas com o olhar. Eles se
despediram de mim com carinho e deixaram o
quarto. Eu me acomodei melhor na cama para
receber a mãe do homem que eu amava. Nem sabia
direito o que diria a ela sobre o nosso rompimento.
Algo me dizia que dona Myrthes já estava a par de
tudo que aconteceu. Alguns minutos depois, ela
entrou com ar sereno e um sorriso afetuoso nos
lábios. Admirava muito a postura elegante, fina e
educada que ela tinha. Era uma mulher admirável
em todos os sentidos da palavra e um ser humano
ímpar.
— Oi, querida! — Ela se aproximou e me
beijou a bochecha. — Eu soube que estava
hospitalizada e vim saber como você está.
— Oi, dona Myrthes. Obrigada pela visita —
agradeci sem jeito enquanto ela se acomodava a
cadeira ao lado da cama e me fitava com o olhar
terno.
— Não agradeça. Eu gosto muito de você! —
Sorriu e lançou um breve olhar para os meus
braços que ainda estavam um pouco vermelhos
devido às escoriações que eu mesma provoquei. Ela
desvia o olhar rapidamente e ajeitou uma mecha de
seu cabelo atrás da orelha. Percebi que ela estava
nervosa, o que me deixou ainda mais
envergonhada. — Você deve estar se perguntando
como eu soube que você está aqui, não é mesmo?
— Sim... Eu estava realmente pensando sobre
isso — respondi sabendo que Edu devia ter lhe
contado que eu estava hospitalizada.
— Bem, eu não vou enganar você, porque isso
não faz o meu estilo — disse respirando
profundamente. — Edu me ligou há algumas horas
e contou o que houve. — Eu concordei com a
cabeça enquanto o meu coração se contraía no meu
peito. — Milena, eu não sei onde o meu filho está.
Ele desligou o celular logo após falar comigo.
— A senhora não sabe o paradeiro dele? —
Meu Deus! O que aconteceu com Edu? A minha
vida estaria acabada se algo de ruim acontecesse ao
homem que eu amo! Que merda que eu fiz?
— Não, mas eu imagino onde ele esteja neste
momento.
— E onde ele está?
— No lugar aonde todos os homens vão depois
que levam um pé na bunda: em um bar —
respondeu sem reservas e eu engoli em seco
completamente desconfortável. Dona Myrthes
sabia que eu terminei com seu filho e ainda acabei
o nosso namoro por mensagem de WhatsApp. Que
vergonha!
— Eu... Eu... sinto muito!
— Oh, querida! — Ela se levantou e me
abraçou com carinho. — Eu não sei de tudo que
houve entre vocês, mas a única coisa que sei é que
vocês se amam e estão separados. Por quê?
— Dona Myrthes, eu não mereço o seu filho —
falei com voz embargada limpando as lágrimas
com as costas das mãos. Na verdade eu nem sabia
o que dizer a ela para remediar a situação.
— Milena, não diga uma coisa dessas! Você foi
a melhor coisa que aconteceu na vida do Edu. É
uma garota inteligente, perspicaz, forte e bonita.
Eu conheço o meu filho como a palma da minha
mão e posso assegurar que ele está apaixonado por
você.
A declaração de dona Myrthes fez a minha
garganta fechar. Não reprimi um novo pranto que
se formou e veio devastando com tudo, aniquilando
cada célula do meu corpo e estilhaçando de vez
com o meu coração. Ela me abraçou outra vez sem
dizer nada. Permanecemos assim por alguns
minutos até que eu me acalmasse um pouco para
poder respirar.
— Querida, tudo será resolvido. Não se
preocupe. O mais importante agora é a sua saúde e
o seu bem-estar — falou afagando o meu cabelo
com carinho. — Você precisa se fortalecer
novamente para depois esclarecer esse mal
entendido com Edu. Tenho certeza que ele
compreenderá os seus motivos.
— Obrigada, por tudo! — agradeci em um fio
de voz me sentindo amparada pela mãe de meu ex-
namorado. Essa palavra assolava o meu peito e me
deixava desesperada. Eu não podia perder o
homem que eu amava. Não posso!
— Não agradeça. Agora eu tenho que ir. E você
precisa descansar.
— Dona Myrthes, eu preciso de um favor.
— O que é querida?
— Não conte para o Edu que a senhora esteve
aqui. Eu não quero que ele saiba que eu estou...
Bem, que eu estou tão... — procurei as palavras
certas para lhe dizer, mas não consegui achá-las.
— Eu sei! Isso será o nosso segredo. — Sorriu
beijando a minha testa. — Cuide-se, querida. Até
breve!
— Obrigada e até breve! — eu me despedi com
um meio sorriso e dona Myrthes deixou o quarto.
Após a visita da mãe de Edu eu deslizei nos
lençóis e refleti sobre tudo que ela me disse. Edu
estava sofrendo e eu era a culpada. Mas o que eu
podia fazer? Eu não encontrei opções para essa
situação! Cibele não me deu alternativas, ou eu
cumpria com o seu acordo, ou a vida daqueles que
eu amava seria destruída. Senti minhas forças
drenadas. Tudo o que eu conseguia pensar era que
eu magoei o homem que amava na tentativa de
salvar sua carreira, mas sabia que era impossível
seguir em frente sem ele ao meu lado. Observando
meus pais juntos e até mesmo a Dona Myrthes, eu
entendia que valia a pena lutar por quem se amava.
Meu futuro era com Edu e tinha que encontrar uma
maneira de vencer a Cibele no seu próprio jogo.
Capítulo 26

Lívia

Os acontecimentos dessa noite me deixaram


em estado de choque. Sempre soube que a Milena
procura conhecer seus pais biológicos, mas nunca
cogitei a ideia de que isso pudesse se tornar uma
obsessão. Muito menos que o fato de ter sido
adotada a transtornasse tanto assim. Eu não podia
julgá-la, pois também tinha os meus medos. Mas
até hoje eu lidei muito bem com eles. Diante de
meus pais e de Milena eu era a insensível e fria
Lívia Maria Venturini e era assim que pretendia
manter a minha postura.
Dissipei meus devaneios e me concentrei na
minha irmã que estava deitada em uma cama no
hospital. Pobre Lena! Estava tão abatida e sua
expressão piorou depois que ela soube que Edu
queria vê-la. Minha irmã não tinha ideia da merda
que fez! Os homens, em sua maioria, não
prestavam, mas eu percebi que Edu realmente a
amava e isso era o que importava.
Milena abriu os olhos e resmungou algo. Eu
me aproximei da cama para ver como ela estava e
seus olhos castanhos encontram os meus. Agarrei
em sua mão enquanto ela me fitava visivelmente
tristonha.
— Como está maninha? — perguntei
carinhosamente beijando-lhe a testa.
— Um pouco melhor...
— Lena, nós temos muitas coisas para
conversar — disse em tom firme e ela tremeu os
lábios. Puxei a cadeira e me acomodei ao lado de
sua cama. — Você não tem ideia do quanto nos
preocupamos com você. Papai, mamãe e eu te
amamos. Será que você não percebe isso?
— Eu sei! — sussurrou enchendo os olhos de
lágrimas.
— Eles ficam tão tristes quando você resolve
mexer no passado. Principalmente o nosso pai.
Você sabe o quanto seu Otávio é sensível, não é? Já
a mamãe sempre foi mais pragmática e firme, mas
o velho Otávio fica desolado quando vê você assim.
Não faça mais isso, Lena. Não se autoflagele por
causa do seu passado. Viva em paz e feliz ao nosso
lado.
— Desculpe... — Minha irmã estava tão
fragilizada. Sua voz parecia um sussurro e ela
começou a chorar.
— Lena! — Eu levantei da cadeira e me
aproximei outra vez para abraçá-la. — Não se
desculpe e não chore! — Meu coração apertou por
ela. Milena era tão forte e independente, que
observá-la vulnerável dessa maneira me deixava
sem chão.
— Você tem razão! — exclamou secando as
lágrimas com a palma da mão.
— Nós somos a sua família e te amamos! Você
nunca estará sozinha, maninha — falei com
carinho e ela abriu um meio sorriso. Esperei Milena
se acalmar um pouco, para em seguida tratar do
próximo assunto: Edu Guerra! — Lena, agora eu
tenho que falar seriamente com você. É sobre o Edu
— Ela arregala os olhos.
— Lívia, por favor, isso já está resolvido.
— Não! Não está! Eu nunca tive pena de
homem nenhum e você sabe disso! Mas o meu
coração ficou apertado ao ver o Guerra sair
arrasado daqui do hospital.
— Eu fiz merda, Lívia. Mas eu não pude
evitar... — Ela balançou a cabeça e tremeu os lábios,
nervosa.
— Foi a Cibele, não foi? — Era a única
explicação plausível para a Milena dispensar o Edu.
Aquela garota mimada devia ter feito alguma
merda.
Milena fechou os olhos e comprimiu os lábios.
Era óbvio que a desgraçada da ex do Edu aprontou
para cima da minha irmã. E se Cibele fez algo para
prejudicar a Milena, eu achava bom ela se preparar,
porque eu não descansaria até chutar a bunda
daquela imbecil.
— Sim... — respondeu sussurrando e eu bufei
de raiva. Essa filha da mãe da Cibele me pagaria! —
Ela me chantageou. Ameaçou prejudicar Edu e a
nossa família. Eu não podia deixar isso acontecer.
Achei que ela iria me ofender novamente, e por
precaução, gravei tudo no meu celular. — Quando
eu abri a boca para continuar o assunto, uma
enfermeira entrou para dar os remédios a Milena e
também para verificar a sua pressão arterial.
Aproveitei que ela estava em companhia da mulher
e me despedi. Dei um beijo na testa de minha irmã
e deixei o quarto.
Enquanto eu caminhava em direção ao meu
carro, eu pensei na melhor maneira de consertar a
cagada da Milena. E eu já sabia o que devia fazer!
Iria procurar o Edu e contar tudo a ele. Tinha
certeza de que depois que ele soubesse de toda a
verdade, a sua ex sem noção iria se ferrar. Cibele vai
entender de uma vez por todas que ninguém mexia
com a minha família!

***

Milena teve alta no dia seguinte da sua


internação. Ela se comprometeu a agendar uma
consulta com a Úrsula e como não havia nenhum
risco imediato, os médicos concordaram que ela
poderia descansar em casa. Eu aproveitei a
oportunidade para ir até a casa do Edu. Não foi
difícil conseguir o seu endereço. O homem era
muito conhecido no mundo jurídico e também na
sociedade. Mas a minha grande aliada foi a
internet, que me ajudou nesse processo. O que a
tecnologia não fazia hoje em dia?
Momentos depois eu apertei a campainha do
apartamento dele e esperei por um sinal. Não
demorou muito para que a maçaneta da porta
girasse e Edu surgisse com uma expressão abatida.
O homem com a barba por fazer, com o cabelo
desalinhado e vestindo camiseta e calça surrada de
moletom não era o mesmo Edu Guerra, elegante e
cheiroso que eu conhecia. Ele estava desolado e
abaixo de seus olhos verdes acinzentados pairavam
olheiras escuras.
— Oi, Edu. Eu posso entrar? — perguntei
quebrando o silêncio enquanto ele arregalava os
olhos, surpreso com a minha presença.
— Oi, Lívia. Claro! Por favor... — Entrei e ele
fechou a porta atrás de si.
Dei uma olhada ao redor e vi duas garrafas de
uísque, uma vazia e a outra pela metade, e mais
duas de água mineral que estavam sobre a mesinha
de centro da sala de estar. Junto com elas havia
uma caixa de pizza.
— Desculpe pela bagunça — explicou-se sem
jeito tentando recolher as garrafas.
— Está tudo bem, Edu. Não precisa se
desculpar. — Sorri imaginando o quanto devia
estar sendo difícil para ele o rompimento do
namoro com a minha irmã. — Pelo jeito não é só a
Lena que está como um zumbi. Você está bem? —
Ele interrompeu o que está fazendo para me fitar.
— Sim, eu estou bem na medida do possível —
respondeu e desistiu de guardar as garrafas
deixando-as onde estavam. — Lívia, como a Milena
está?
— Ela está bem, na medida do possível —
repeti a mesma frase dita por ele.
— Sua irmã me chutou sem motivos... — Edu
estava desolado e se afundou no sofá com a cabeça
entre as mãos. Eu me aproximei e me sentei em
uma poltrona ao seu lado.
— Edu, eu vou ser bem direta com você.
Milena não queria terminar o relacionamento de
vocês, mas se viu em uma situação na qual ela
acreditou que não tinha opção. Eu estou aqui para
te dizer quem foi a responsável por toda essa
confusão: a Cibele! — Se a situação não fosse triste,
eu ria da expressão do Edu. Seus olhos se
arregalaram tanto e seus lábios se contorceram de
tal forma, que ficou um pouco cômico.
— Cibele?! O que ela tem a ver com isso?
— Tudo! Ela é a responsável direta pelo seu
rompimento com a Milena — respondi sentindo
uma enorme raiva da vaca patricinha.
— Você tem certeza, Lívia?
— Edu, a Milena gravou no celular a conversa
que teve com a sua ex. Cibele ofendeu a Lena em
duas ocasiões distintas e quando ela abordou a
minha irmã novamente, Lena achou que ela iria
ofendê-la mais uma vez e gravou a conversa no
celular, por precaução.
— Cibele está louca? — Ele se levantou
abruptamente e começou a caminhar de um lado
para o outro. — Que tipo de ofensa ela fez? E por
que a Milena não me contou isso antes?
— Edu, a sua ex-namorada está fora de
controle. Pelo que eu sei, a Cibele já havia injuriado
a minha irmã chamando-a de “Isaura” por causa da
cor da pele da Milena ser um pouco mais escura
que a dela. Parece que isso aconteceu durante a
festa da OAB. — Senti ódio pela ex- namorada do
Edu. Como alguém podia ser tão preconceituoso?
— Meu Deus! — exclamou reflexivo e percebi
que ele se lembrou de algo. — Foi por isso que...
— O que aconteceu, Edu?
— Lívia, a Milena teve umas crises depois de
tudo que aconteceu. Eu não queria falar sobre isso
com você, mas agora está tudo esclarecido para
mim. A culpada direta por tudo que a Milena tem
passado é a Cibele — disse sem saber o restante da
história que envolvia a minha irmã.
— Eu não gosto da sua ex, mas ela não é a
culpada por tudo. Cibele ofendeu sim a Lena, e
tentou humilhá-la em mais de uma situação, mas
os traumas da minha irmã são bem mais antigos.
— Ele franziu o cenho, confuso. — Edu, eu não
posso dar maiores detalhes. Somente Milena
poderá contar tudo.
— Eu entendo... Mas a Cibele terá que arcar
com as consequências dela. Vou ter uma conversa
muito séria com ela. Injúria racial é crime!
— Bem, eu espero mesmo que Cibele entenda
que o que ela cometeu foi uma infração —
concordei suspirando. — Edu, a Milena terminou
com você porque foi coagida pela sua ex. A minha
irmã pode ser durona, cabeça dura, mas ela te ama.
Isso eu tenho certeza! E pelo jeito, a minha
maninha é correspondida.
— Sim, Lívia. Eu amo a sua irmã — disse com
emoção.
— Bem, eu preciso ir — falei caminhando em
direção à porta.
— Obrigado por ter vindo até aqui. Milena tem
sorte de ter uma família como a sua, que a ama e se
preocupa com ela — disse abrindo a porta para
mim.
— Somos nós que temos a sorte de ter a
Milena. Ela é mais do que especial. Até breve!
A sensação que tive foi de dever cumprido.
Mas daria tudo para ouvir a conversa que Edu teria
com a vaca patricinha. Pelo modo como ele ficou
furioso, se eu fosse a Cibele, eu tratava de sumir do
mapa. Certamente que Edu faria a sua ex pagar
pelos seus crimes. E eu não tinha pena dela.
Nenhuma! Cibele mereceria cada acusação feita.
Queria vê-la escapar de uma condenação.
Capítulo 27

Milena

Depois de ficar ausente da promotoria por


mais de dois dias, era hora de retornar ao trabalho.
Trouxe alguns autos processuais para casa para
serem analisados com mais calma, pois ainda
estava um pouco abatida devido à crise nervosa. A
vida de ninguém era perfeita, e eu já tive a minha
cota de tristezas, mas o que estava despedaçando o
meu coração era a minha situação com Edu. Era
uma dor imensurável, que se propagava a cada
minuto do dia.
Amanhã teria um júri de tentativa de
homicídio qualificado e eu estaria no tribunal como
expectadora. Edu presidiria o julgamento e
Ronaldo seria o promotor atuante no caso.
Analisei os autos processuais e, exausta, eu caí
na cama. Em poucos minutos adormeci.

***

O tribunal estava lotado. Entrei e me acomodei


na plateia. Os olhos meus e os de Edu se cruzaram
pela primeira vez depois do incidente. Meu coração
começou a bater descompassado, arrepios
atravessaram a minha coluna e as pernas
amoleceram. Bastou eu olhar para ele para me
sentir ainda mais apaixonada. Edu estava lindo em
um terno risca de giz, camisa branca e gravata
cinza. Eu o olhei pelo canto dos olhos e senti seu
olhar sobre mim. Primeiro ele analisou o meu rosto
e depois desceu admirando o decote coportado da
minha blusa de seda. A essa altura eu estava
entrando em combustão, tamanha era a
intensidade de seu olhar.
Por fim, Edu se concentrou em sua papelada.
Instantes depois o júri finalmente começou. As
testemunhas foram ouvidas e inquiridas pelo
promotor Ronaldo e depois pela advogada de
defesa, a doutora Luana Maia, uma experiente
advogada criminalista, bonita, alta, loira de olhos
claros. Percebi que os olhares que ela lançava para
Edu iam além do profissionalismo e me irritei. Será
que essa era mais uma das muitas que esse safado
comeu? Bem, e o que isso importava para mim?
Nós não estávamos mais juntos!
A manhã transcorreu sob um clima tenso.
Ronaldo tentou a todo custo mostrar aos jurados
que existiam provas de que o acusado tentou tirar a
vida de seu próprio irmão, usando uma emboscada
para isso. Já a versão da doutora Luana era que o
acusado agiu em legítima defesa. Não sabia por
que alguns advogados criminalistas sempre
usavam o argumento da legítima defesa perante o
tribunal.
A hora do almoço chegou e eu saí como um
foguete em direção ao banheiro. Precisava molhar
um pouco o rosto e a nuca para aliviar a tensão que
sentia. Liguei a torneira e molhei as mãos na água,
passando em minha pele. A sensação era
refrescante e gostosa. Pelo menos ela relaxava o
meu corpo, já que minha mente estava inquieta.
Estava com a cabeça baixa quando ouvi um
barulho na porta de entrada. Girei o corpo e
estremeci. Edu estava parado diante de mim com
as mãos enfiadas nos bolsos da calça. Levei um
baque diante de sua beleza e sensualidade e me
segurei na bancada da pia, pois sentia as minhas
pernas tremerem. Seus olhos verdes acinzentados
estavam cravados nos meus com o propósito de me
deixar fora de mim. Ficamos por alguns segundos
apenas nos fitando com amor e intensidade. Em
seus olhos eu vi o fogo da paixão aceso e pulsante.
Acreditava que ele nunca se apagou, apenas esteve
adormecido durante esses dias em que estivemos
longe um do outro.
— Milena... — disse com voz baixa e sensual.
Só de ouvi-lo dizer meu nome, meu corpo reagiu
violentamente. A minha boca ficou seca, o ar me
faltou e o chão some abaixo dos meus pés. — Como
você está? — perguntou dando um passo à frente.
— Eu... Eu estou bem.
— Eu fiquei quase louco sem ter notícias suas.
— Ele encurtou a distância entre nós e ficou de
frente para mim. Eu fiquei com a bunda
praticamente colada a borda do mármore da pia. —
Eu sei o porquê você terminou comigo.
— Sabe? Como? — indaguei atônita com os
olhos arregalados.
— Nós conversaremos sobre isso mais tarde.
— Ele tirou as mãos dos bolsos e as colocou sobre a
bancada do mármore, me cercando pelos quadris.
— Estou morrendo de saudades de você!
— Edu, estamos em um banheiro feminino,
nas dependências do Poder Judiciário — alertei
temerosa e excitada demais, louca para sentir os
seus lábios nos meus.
— Ah, Milena! Eu quero você! — Edu agarrou a
minha nuca e me beijou apaixonadamente.
O beijo era tão profundo que era como se ele
estivesse se alimentando de mim. Entrelacei meus
braços ao redor de seu pescoço e o puxei para mais
perto. Edu aproveitou que estávamos conectados
um ao outro e moveu os quadris lentamente,
deixando a minha calcinha completamente
encharcada. A saudade que senti dele era tão
grande que, por um momento, eu não me importei
de estarmos nos amassando em um banheiro
público. Simplesmente eu me desconectei com o
mundo exterior e deixei a paixão me dominar.
Edu me beijava movendo seus lábios macios
contra os meus e me apertava forte contra seu
peito. Suas mãos viajaram em meu corpo, me
apertando, me acariciando. Mas o beijo não durou
muito tempo, pois eu retomei a consciência de
onde estávamos e o que estávamos fazendo. Abri
os olhos e me afastei ofegante. Não podia deixar
que um deslize prejudicasse as nossas carreiras.
Temia que alguém entrasse por essa porta e nos
pegasse em flagrante. Seria o fim do julgamento!
— Edu, eu não quero que alguém nos pegue
em flagrante, aqui no banheiro — disse temerosa
enquanto ajeitava a blusa de seda para dentro da
saia-lápis.
— Você tem razão, mas depois que esse
julgamento acabar, eu irei até a sua casa e nós
vamos conversar. Eu sei que você foi chantageada e
eu quero saber de tudo, Milena! — Concordei com
a cabeça. Sabia que mais cedo ou mais tarde eu
teria que contar toda a verdade para ele. E,
honestamente, eu não aguentava mais guardar essa
história somente para mim.
— Quem te contou?
— Não vamos falar sobre isso agora. O
importante é que eu sei! — Ele afagou o meu rosto
com carinho. — Bem, acho melhor eu sair primeiro
e você esperar um pouco para depois você fazer o
mesmo — aconselhou com voz suave. — Adorei
saber que você está usando a nossa corrente, minha
deusa. — Seu olhar era de adoração, e seus dedos
deslizavam sobre a joia que ele me deu com as
iniciais dos nossos nomes.
— Ela sempre esteve comigo.

***

À tarde era a vez do doutor Ronaldo


apresentar as provas aos jurados e fazer a sua
acusação. Todos escutaram atentamente o discurso
dele, inclusive Edu que estava com uma expressão
serena.
Depois da réplica e da tréplica no tribunal do
júri, Edu, como juiz presidente, leu os votos dos
jurados, que condenaram o acusado pela prática de
crime de tentativa de homicídio doloso. Sendo
cinco votos a favor e dois contra. Edu leu a
sentença com seriedade, expondo todos os
acontecimentos e suas convicções, bem como o fato
de que o acusado era irmão da vítima. Eu fiquei
maravilhada diante da inteligência e perspicácia
dele. Realmente ele nasceu para fazer isso.
O julgamento terminou e eu fui direto para
casa, tomar uma ducha para relaxar. Após sair do
banho, vesti calça jeans e regata e fui preparar algo
para comer. Fiz um sanduíche com presunto, queijo
e alface e um suco de laranja. Coloquei o meu
“jantar ” em uma bandeja e saí em direção a sala de
estar. Dei uma mordida no pão e a campainha
tocou. Deixei o sanduíche sobre o prato e limpei
com a palma da mão os possíveis farelos de pão em
minha boca. Me levantei e fui atender à porta. Edu
parado junto ao batente. Seu cabelo estava
brilhante e alguns poucos fios lhe caíam sobre a
testa. Ele vestia uma camiseta branca e uma calça
jeans, e mesmo assim estava muito charmoso.
— Oi! — disse sorrindo e entrou no meu
apartamento sem fazer cerimônias.
Fechei a porta e quando me virei, Edu me
abraçou pela cintura e me deu um beijo intenso na
boca. Como esse homem conseguia ser tão
imprevisível? Acreditava que nunca me
acostumaria com o seu jeito impulsivo de ser. Ele
me soltou e eu busquei o ar que me faltava. A essa
altura nem precisava dizer que as minhas pernas
estavam bambas e que meu coração estava
acelerado.
— Eu estava morrendo de saudades de você! —
sussurrou enquanto seus lábios deslizavam em
minha pele, me deixando fora de mim.
— Ah, Edu! Eu também!
— Milena, eu estou aqui para conversarmos.
Preciso saber a verdade. — Não tinha mais como
fugir! E nem eu queria fugir mais! Decidi contar
tudo a ele, embora eu soubesse que a minha
história poderia nos separar novamente.
— Eu vou te contar tudo. Mas eu só não quero
te perder de novo.
— Você nunca me perderá, Milena. Nunca! —
disse me encarando nos olhos.
Fomos de mãos dadas até o sofá da sala de
estar e nos acomodamos. Edu sentou-se ao meu
lado e esperou eu começar o meu relato. Era difícil
me abrir com ele. Nunca falei sobre minha vida
antes com ninguém que não fosse da minha
família. Apenas os meus pais, Úrsula e Malu
sabiam parte da minha história.
— Eu sei que a Cibele te ofendeu e chantageou.
— Ele começou a falar e eu concordei com a cabeça.
— Por que ela fez isso?
— Por que ela queria você em troca do meu
passado — respondi e ele arregalou os olhos,
apavorado.
— Milena, a Lívia me contou que você gravou
essa conversa. Isso é verdade?
— Lívia falou com você? — indaguei sabendo a
resposta. Ela óbvio que a Lívia falou com Edu! Ela
ficou furiosa com o que a sirigaita me fez.
— Sim, a sua irmã me procurou. Mas não a
culpe por isso. Ela só estava querendo ajudar.
— Não se preocupe eu não a julgarei. — Ele
abriu um meio sorriso. — Edu, eu tenho tudo
gravado no meu celular — disse sentindo raiva da
Cibele por ela ter feito o que fez comigo.
— Ela pagará pelo que fez a você, minha deusa.
Isso eu posso garantir. Mas você não poderá atuar
no processo, já que é vítima. Seu caso irá para o
promotor Ronaldo de Mattos.
— Sim, eu sei. — Sorri, pois sabia que não
podia atuar em causa própria.
— Milena, eu quero que me conte o que está
acontecendo com você. O que a deixa tão infeliz?
— Edu, você sabe que eu sou adotada, não é?
— Ele assentiu com a cabeça. — Mas você não sabe
como eu fui adotada. A minha mãe biológica não
me quis.
— Ela te deu para a adoção? É isso?
— Não. Antes fosse... — Abaixei os olhos e
agarrei a almofada com força. — Logo depois que
eu nasci, a minha mãe... — Interrompi ofegante,
pois parecia que a mente travava e as palavras me
faltavam.
— Minha deusa, eu estou aqui. Pode confiar
em mim sempre. — Eu respirei fundo outra vez e
segui o seu conselho.
— Ela me abandonou logo após o parto. A
minha mãe biológica me enrolou em uma manta e
me deixou na porta de um orfanato, de madrugada.
Eu ainda estava com o cordão umbilical... — Eram
as únicas palavras que eu consegui dizer antes de
desabar chorando.
— Oh, Milena! — Edu me puxou para seus
braços e me deu alento, carinho e amor. Ele afagava
o meu cabelo enquanto eu tentava me controlar,
pois ainda não tinha acabado de lhe contar o
restante da minha fatídica vida.
— A história ainda não terminou... — Ergui os
olhos limpando-os com a palma da minha mão. —
Você será o único que saberá de tudo, além da
dissimulada da Cibele, claro.
— Milena, a Cibele pagará pelo que ela te fez!
— Sua ferocidade ao me defender era tão intensa
que eu me senti realmente protegida pela primeira
vez nada vida. — Mas o que mais você tem para me
dizer?
— É sobre o meu pai biológico... — Respirei
fundo enquanto as lembranças surgiam para me
ferir. — Ele se chamava Donato da Silva Martins e
faleceu há poucos anos. Eu não conheço
pessoalmente os meus pais biológicos, mas eu
soube de toda a história através da Cibele.
— Milena, a Cibele pode estar mentindo!
— Ela estava falando a verdade. A minha mãe
teve um caso com o meu pai enquanto estava noiva
do atual marido dela. E eu sou o fruto desse caso —
A velha sensação de desolamento começava a dar
sinal em mim. — Ela escondeu a gravidez da sua
família para não envergonhar o seu pai e tampouco
acabar com o casamento promissor. Então, a
melhor saída para ela, foi se livrar de mim —
Contar a história em voz alta era dilacerante, pois a
tornava ainda mais real.
— Oh, minha deusa! — Ele voltou a me abraçar
com força, me dando alento e amor.
— Minha mãe se livrou de mim para não
manchar a reputação de sua família influente. Eu
fui descartada como um lixo. Um nada! — concluí
entre soluços enquanto a dor da rejeição rasgava o
meu peito.
— Acalme-se, Milena. Tudo ficará bem! — Ele
beijou o topo da minha cabeça.
— A pior parte vem agora. — Eu me endireitei
no sofá para olhá-lo. — O meu pai biológico era um
infrator e estava sendo investigado pelo Ministério
Público, por lavagem de dinheiro. O promotor
Ronaldo de Mattos era o responsável pelo caso, na
época. — Abaixei os olhos, pois não tinha mais
coragem para encará-lo.
— Eu sinto muito! Mas e o que isso tem a ver
com você?
— Eu sou a filha biológica de um bandido,
Edu! — bradei me levantando, nervosa. Ele fez o
mesmo e me fitou sem entender.
— Milena, você não tem nada a ver com a vida
desse homem! O que ele fez ou deixou de fazer não
atinge você.
— Edu, como o Ministério Público reagirá ao
saber disso? Cibele está certa nesse ponto: as
pessoas irão sempre supor que eu ingressei no MP
para tentar adulterar alguma prova contra o meu
pai. E essa não é a pior parte! Você terá sua
reputação manchada também. Eu não posso deixar
isso acontecer com você!
— Me escute! Você não precisa ter medo de
nada! Eu falarei com Mattos e me interarei do caso
do Donato da Silva Martins e até lá, você fique
calma. Isso não é motivo para você achar que a sua
carreira está ameaçada ou que eu estou com a
minha imagem prejudicada. Você está equivocada,
minha deusa! Por mais que eu fique emocionado
em ter você defendendo minha honra, isso não é
necessário.
— Mas a Cibele sabe de tudo!
— Cibele colherá o que ela mesma plantou!
Quem terá que responder perante a justiça pelo
que fez é ela e não você. Ah, meu amor, você é uma
vítima indireta desse caos! — Respirei fundo entre
soluços e pequenos gemidos e não acreditei que
depois de contar toda a minha história fatídica ao
Edu, ele me chamou de “meu amor ”.
— Edu, depois de tudo o que eu lhe disse, você
ainda me ama? — perguntei erguendo os olhos
para fitá-lo.
— Entenda uma coisa, Milena, eu sempre irei
te amar. Não interessa o seu passado, muito menos
a sua origem. O que interessa é que eu não sei mais
ficar longe de você. Quero ter você sempre ao meu
lado. Quero dividir a minha vida com você. Como
eu não posso amar a minha deusa guerreira, que
montou um cavalo branco para me salvar? Eu
sempre achei os contos de fadas idiotas, mas
confesso que é bem sexy ter você me defendendo.
— A piscada sacana que ele me deu no final do seu
discurso, aliviou a minha dor, fazendo com que o
meu coração explodisse de felicidade.
— Oh, Edu! Eu te amo tanto! — Envolvi meus
braços ao redor de seu pescoço enquanto ele
limpava as minhas lágrimas com os dedos.
— Eu adorei ouvir isso! — Edu me pegou no
colo e me conduziu para o quarto.
Queria me esquecer de toda a dor que tinha
sentido durante esses anos. A única coisa que
desejava era me entregar de corpo e alma ao
homem que estava curando as minhas feridas com
o seu amor incondicional. O seu amor estava
preenchendo o vazio que antes eu sentia dentro de
mim. E agora eu tinha certeza de que eu não estava
mais sozinha. Edu estava do meu lado.
Capítulo 28

Edu

A história da Milena me comoveu


profundamente. Eu sabia que havia algo além da
adoção que a entristecia, que a deixava insegura em
relação a si mesma, mas nunca imaginei que a sua
história fosse tão dolorosa. Afinal, que tipo de
pessoa abandona uma criança com cordão
umbilical como se não fosse nada?
Milena não tinha o que temer. Ela era vítima de
pessoas inconsequentes, que por serem egoístas,
não a assumiram como filha. Ela podia ter perdido
a família biológica, mas Milena ganhou um lar de
verdade. Pais eram aqueles que criavam e davam
amor e não quem colocava no mundo. Isso eu não
tinha dúvidas! E, pelo que percebi outro dia no
hospital, a sua família adotiva a amava muito. E
isso era o que importava, no fim.
Queria dar a ela todo o amor desse mundo.
Faria de tudo que tivesse ao meu alcance para
ajudá-la a superar esse trauma e ter uma vida feliz.
E, claro, comigo ao seu lado, pois não via a minha
vida mais sem ela. Milena era tão generosa com os
outros. Até mesmo ao se deparar com uma
situação terrível diante da minha ex, sua maior
preocupação foi os seus pais e a minha carreira. Só
mesmo a minha deusa!
Deitei a minha deusa sobre os lençóis e me
juntei a ela. Milena estava um pouco mais calma e
parou de chorar. Acariciei seu rosto e beijei seus
lábios com amor. Ela me surpreendeu e
correspondeu o beijo, puxando a minha camiseta
para cima e começando a me despir. Seus dedos
foram rapidamente em direção ao botão da minha
calça jeans, que desceu com zíper e tudo.
— Ei, minha deusa, devagar — Fui beijando o
seu pescoço enquanto ela me ignorava e investia
sobre mim, enfiando uma de suas mãos dentro da
minha cueca. Milena encontrou o meu pau
enrijecido e começou a fazer movimentos fortes,
para cima e para baixo. — Que delícia! — Puxei a
sua regata para cima e afastei o seu sutiã para o
lado para abocanhar um de seus seios.
— Oh, Edu! Preciso tanto de você!
— E você me tem! Eu sou seu!
Arranquei o restante de nossas roupas e as
chutei para fora da cama. O que mais queria agora
era amar essa mulher e cair de boca em sua pele
dourada. E foi o que fiz! Chupei, lambi e
mordisquei os seus mamilos e Milena gemeu de
prazer, enroscando seus dedos em meu cabelo.
Após dar o devido cuidado aos seus lindos seios,
eu deslizei com a língua em sua barriga em direção
ao seu ventre. Ela pressentiu o que eu tinha em
mente e fixou seus olhos aos meus.
— Quero aquilo que me pertence, minha
deusa: seu prazer! — disse manipulando seu
clitóris que estava endurecido pelo tesão. —
Sempre molhadinha para mim. Adoro tanto isso!
Segurei firme em suas coxas e inseri a minha
língua dentro de sua boceta encharcada. Chupei
seu ponto sensível com intensidade e Milena
começou a se contorcer e gemer como uma louca
sobre a cama. Aumentei o ritmo de minhas
investidas e prendo seu clitóris com os dentes. Ela
arfou pesado, resmungou coisas incompreensíveis
e eu aproveitei para beber todo o seu mel.
— Ah, Edu! Estou quase gozando — disse
movendo os quadris no mesmo ritmo que a minha
língua. E, com o olhar preso ao meu, Milena
explodiu de prazer, gemendo e ondulando sobre o
colchão.
— Deliciosa! — sussurrei pairando sobre ela e
distribuindo beijos em sua clavícula, subindo em
direção ao seu pescoço. — Não sabe a saudade que
senti de você, minha deusa. Quase enlouqueci sem
você, Milena! — Beijei a sua boca enquanto abria as
suas pernas e me aconchegava no meio de seu
ventre.
Com os olhos presos aos dela, eu a penetrei.
Milena soltou um gemido rouco, envolvendo os
seus braços ao redor do meu pescoço. Elevei uma
de suas pernas para cima e meti fundo e forte,
tomando tudo dela e dando tudo de mim.
— Minha deusa de ébano. Só minha!
— Meu safado gostoso! Quanta saudade!
Saí de dentro dela e Milena choramingou
frustrada. Abri um sorriso perverso e a virei de
lado me posicionando atrás dela. Segurei firme as
suas coxas e voltei a preenchê-la, me
movimentando sem parar. Enquanto acariciava um
de seus seios, girei o rosto dela de lado e inseri a
minha língua em sua boca. Os movimentos se
intensificaram e eu comecei a estimular o seu
clitóris, preparando o seu corpo para o orgasmo
que era iminente.
O desejo me invadia e o amor me consumia.
Tudo se intensificava de maneira absurda quando
estava com a Milena. Não tinha dúvidas de que ela
era a mulher da minha vida, era aquela por quem
eu daria tudo, por quem eu lutaria até o fim.
Milena era minha própria vida!
Suspendi uma de suas pernas e entrelacei a
minha. Dei uma palmada em sua bunda e, em
resposta, Milena mordeu meu lábio inferior, me
deixando endoidecido. Ela começou a rebolar junto
comigo e eu perdi a razão de tudo. Queria tanto
prolongar o nosso prazer, mas fui vencido pelo
meu próprio gozo.
Em poucos segundos, ela se despedaçava,
arfando, estremecendo o corpo, se debatendo em
um orgasmo intenso. Gemi e a segui, me esvaindo
dentro dela, imerso em um sentimento que nunca
teria fim.
— Oh Milena! Milena! — rosnei, enterrando a
cabeça em seu pescoço e abraçando-a forte contra
mim. E ficamos assim, consumidos pelo amor que
nos unia, transformando-nos em um só.

***

Depois de uma longa sessão de orgasmos


sobre os lençóis e embaixo do chuveiro, estávamos
acomodados na cama. Milena me mostrou o áudio
que ela gravou quando Cibele a chantageou e a
ofendeu e eu fiquei perplexo com a ousadia da
minha ex. Sempre soube que ela era mimada e
irritante, mas acreditava que suas ações eram birras
insignificantes. A verdade era que Cibele sempre
foi uma garota fria e totalmente dissimulada. Mas a
justiça seria feita! Cibele pagaria pelo seu crime.
Eu me aconcheguei ao lado de Milena e
dormimos de conchinha. Nunca dormi de
conchinha com ninguém antes e a sensação era
muito boa. Estava descobrindo algumas coisas
novas ao lado dela e isso tem me deixado muito
feliz. Milena me fazia feliz!
Acordei na manhã seguinte alegre, mesmo
sabendo que o trabalho no Fórum me esperava.
Audiências, despachos, análises de autos
processuais. O dia estava cheio, como de praxe.
Cassiano trabalhava ao meu lado, me passando as
coisas mais urgentes, tais como relaxamento de
prisão, produção antecipada de provas de processo
crime. Enfim, o dia seguiu muito agitado.
Deixei o trabalho um pouco mais cedo e fui até
o Ministério Público para conversar com o doutor
Mattos. Acomodado em uma poltrona em sua sala,
eu relatei o fato a ele, sem mencionar o nome da
Milena, claro. Não queria expor o nome dela sem
antes saber de toda a verdade. Ronaldo pediu o
desarquivamento urgente do caso que envolvia o
pai biológico da Milena e, poucos minutos depois,
os autos processuais estavam em sua mesa.
— Edu, pelo que consta aqui, não existe provas
do envolvimento do seu Donato da Silva Martins.
Inclusive, o falecido juiz de direito, doutor Jader de
Bastos, que conduzia o processo na época, pediu o
arquivamento do caso 15 dias antes do investigado
falecer.
— Tem certeza, Ronaldo?
— Absoluta! Mas por que você está
interessando neste caso antigo? — Mattos ficou me
observando, curioso.
— Isso é uma longa história. — Eu fechei os
autos e entreguei a ele. — Você sabe que eu e a
Milena estamos namorando, não é?
— Sim, eu sei! E o que isso te a ver com o caso
desse homem?
— Milena é adotada e Donato é o pai biológico
dela. Na verdade, ela descobriu isso há poucos dias
e ficou abalada ao saber que ele era um criminoso
— respondi, pois sabia que não adiantava esconder
isso. Mais cedo ou mais tarde, essa história viria à
tona.
— Nossa! Eu não fazia ideia!
— Ronaldo, eu gostaria que você mantivesse
segredo sobre esse fato. Afinal, somos amigos.
— Pode deixar, Edu. Eu e você não tivemos essa
conversa. — Deu uma piscadinha.
— Bem, obrigado por essa! — agradeci me
levantando e ele fez o mesmo.
— Amigos são para se ajudar quando for
preciso. — Sorriu apertando a minha mão e se
despedindo.
Eu podia confiar no Ronaldo, afinal éramos
amigos de longa data. E, apesar de trabalhar no
Judiciário e ele no Ministério Público, sempre
tivemos um ótimo relacionamento. Aliás, ele era o
único promotor com quem eu me relacionava de
forma amigável. Mattos era um profissional correto
e de bom caráter. Sempre cumpria a risca as leis,
assim como eu e Milena.
Saí da sala dele com a consciência leve. As
provas contra o pai biológico da minha namorada
eram frágeis e o homem foi inocentado, muito
antes de ser julgado. Infelizmente seu Donato não
teve a oportunidade de aproveitar a vida após ser
inocentado. Fatalidades acontecem.
Olhei para o relógio de pulso e vi que eram
pouco mais de 6 horas da tarde. Estava
determinado em falar com a Cibele. Hoje ela não
escapava. Entrei no meu carro e saí em disparada
para a casa dela. Nem a influência e o dinheiro que
ela tinha a salvariam de pagar pelo que ela
cometeu. A família dela que me perdoasse, mas
eles saberiam quem ela era: uma mulher
mesquinha e sem escrúpulos.
O trajeto foi tranquilo. Não havia muito
trânsito e apenas alguns minutos depois, eu estava
frente a frente com ela. Cibele me recebeu
sorridente e animada, mas mal sabia ela que eu
estava a par de todas as suas armações. Sabia o
quanto ela era cínica e arrogante. E que todo esse
tempo esteve planejando prejudicar a Milena.
— Edu, meu querido! — Ela atravessou o hall
de entrada como se estivesse desfilando. Antes, eu
ficaria encantado com a sensualidade, mas agora,
tudo o que eu via era o quanto ela era vulgar e
falsa. Ela fez menção de me beijar no rosto e eu me
esquivei dela, detendo-a pelos ombros.
— Não me toque!
— Edu, o que houve, meu amor? — Sua cara de
inocente me enojou. O meu estômago se
embrulhou de imediato diante de tanta hipocrisia
disfarçada de sentimento.
— Seus pais estão em casa?
— Não, papai está na indústria e mamãe saiu
fazer compras. Por quê?
— Vamos até o escritório de seu pai. Eu preciso
ter uma conversa com você! — Estava tão irritado
que cheguei a ser grosseiro e Cibele percebeu que
não estava de brincadeira.
— Mas o que houve?
— Vamos? — convidei impaciente enquanto
ela me fitava especulativamente.
— Está bem! — concordou por fim e saiu
comigo em direção ao escritório. Cibele entrou e
fechou a porta atrás de si. — O que está havendo,
meu amor? — Ela voltou a me chamar de modo
meloso, se aproximando para perto de mim.
— Cibele, pode parar com esse “meu amor ”.
Não temos um relacionamento e muito menos
somos íntimos para você me tratar dessa maneira
— esclareci em tom duro e a vi torcer os lábios,
desgostosa. — Eu estou aqui para tratar de um
assunto muito sério com você. É sobre a Milena. —
Ela revira os olhos, entediada e a minha vontade
era de pular no pescoço dessa garota.
— Ah, Edu! Se você veio até aqui para me falar
sobre a sua ex-namoradinha, você perdeu seu
tempo — disse com desdém, caminhando em
direção ao bar e servindo dois copos de uísque. —
Uma dose do velho Jack do jeito que você gosta. —
Sorriu e me ofereceu a bebida; Como Cibele era
dissimulada!
— Obrigado, mas não estou aqui para tomar
um drinque com você!
— Então eu vou beber sozinha — disse
caminhando de volta em direção ao bar, rebolando.
Era uma tentativa patética de sedução!
— Milena não é e nem nunca foi minha ex-
namorada. — Ela arregalou os olhos e deu um gole
na bebida. — Ela é a mulher que eu amo e que
escolhi para ficar ao meu lado. Será que você não
entendeu ainda?
Cibele tomou mais um gole do uísque e deixou
o copo sobre a mesa de seu pai. Ela se virou para
mim, me encarando incrédula, mas de queixo
empinado. Nunca perdia a pose de moça rica e
petulante. Nem mesmo quando ouvia a verdade
sobre os meus sentimentos por Milena, como
agora.
— Milena é muito diferente de você. O pai
biológico dela era um bandido. Você quer ao seu
lado a filha de um escroto?
— Eu sei de tudo, Cibele! Sei que você usou as
informações sobre o passado da Milena para
chantagea-la, além de tê-la injuriado. Como você
pode jogar tão sujo?
— Milena muito em breve terá que pagar pelo
crime que cometeu, acobertando a vida do pai
bandido. — Cibele estava louca! Será que ela tinha
algum transtorno mental? Não era possível que ela
realmente acreditasse na merda que estava falando!
Estreitei o olhar e me aproximei um pouco mais.
— Quem responderá perante a justiça será
você! Milena tem o sua vida pessoal e profissional
preservadas. Você não conseguiu atingir o seu
objetivo.
— Ela não é mulher certa para você, Edu! Será
que você ainda não percebeu isso? — indagou
completamente fora de si.
— E quem é a mulher certa para mim? Você?!
— ironizei sentindo piedade por ela ser tão egoísta.
— Edu! — Ela correu até mim e tentou a
qualquer custo me tocar, me acariciar. A repulsa
que tinha dela era tanta que eu dei um salto para
trás, me afastando novamente. — Eu te amo!
— Cibele, a única pessoa que você ama é você
mesma. Eu não passo de um simples capricho seu,
de uma obsessão doentia. Nada mais!
— Não! Não é verdade!
— Cibele, me ouça! — Fui obrigado a segurá-la
pelos ombros. Ela ficou com os olhos vidrados e me
encarou sem pestanejar. — Você infringiu a lei e
terá que responder perante a justiça. — Percebi
uma centelha de medo em seu olhar, mas
aconteceu tão rápido que nem ao menos tive
certeza de que foi real.
— Isso é mentira é mais uma armação
daquela...
— Você acredita que não temos provas do que
estou dizendo?
Tirei do meu bolso da calça uma cópia do
áudio que Milena gravou no dia em que foi
chantageada. Liguei o celular e a voz de Cibele
ecoou no espaço. Ela ficou tão surpresa que se
apoiou na mesa com a respiração ofegante. De um
momento para outro, a sua pele se tornou pálida e
o seu ar arrogante desmoronou diante de mim.
— Is-so... não é...ver-verdade...
— Para que tudo isso, Cibele? Para alimentar o
seu maldito ego, para mostrar aos outros que você
é poderosa, ou para envergonhar a sua família e
responder por mais de um crime perante a lei? Por
que é isso que acabará acontecendo.
— Edu, você não pode acreditar nisso. Isso é
uma montagem feita por aquela invejosa da
Milena. — Ela se aproximou desesperada tentando
me ludibriar, mas era em vão. — Ela quer nos
destruir, meu amor!
— Chega de me chamar de meu amor! —
Minha paciência se esgotou e eu estava possesso
com essa garota. — Milena não tem motivo algum
para mentir. Ela sabe que é a única mulher que eu
poderia amar, e que você é uma pessoa
insignificante. Eu só não jogo essa porra toda no
ventilador porque eu e a Milena temos uma
carreira a zelar e, também, porque seus pais não
merecem ver o sobrenome da família estampado
nos jornais por sua causa. Ao contrário de você, sua
família é trabalhadora e honesta, mas você
responderá por isso. E eu farei de tudo que tiver ao
meu alcance para que você pague pelos seus
crimes, sua chantagista miserável — avisei abrindo
a porta e saindo em direção ao hall.
— Edu, espere! Por favor! Espere! — gritou
apavorada logo atrás de mim.
— E tem mais, Cibele! — Eu me virei,
interrompendo os passos, ficando frente a frente
com ela. — Se eu souber de mais uma armação sua,
para você me separar de novo da Milena, eu acabo
com a sua reputação. Imagina o que suas amigas
vão pensar de você quando souberem a verdade?
Você será excluída da sociedade que tanto ama. E
ninguém melhor do que você para entender como
sua reputação ficaria destruída. Você me ouviu? —
Ainda a ouvi dizer qualquer coisa, mas ignorei as
suas palavras e deixei o prédio.
Parte do dever estava cumprida, agora a outra
era com o Ronaldo. E amanhã mesmo eu e Milena
iríamos ao gabinete dele apresentar as provas
contra a minha ex-namorada. Cibele procurou pela
sua ruína e agora responderia por isso.
Capítulo 29

Milena

Edu me acompanhou até o gabinete do doutor


Ronaldo de Mattos. Hoje eu daria queixa contra a
Cibele por tudo que ela fez comigo. Eu só tinha a
agradecer pelo apoio dele, pois estar no meu local
de trabalho, como vítima, era um pouco enervante.
Comecei a contar toda a história para o doutor
Ronaldo, que foi anotando tudo e interrompendo o
relato em alguns trechos para confirmar um ou
outro detalhe. Era uma situação complicada, pois
não podia atuar no caso e não gostava de ficar
aguardando. Paciência realmente não era o meu
forte! O caso ficou nas mãos do promotor Mattos,
que garantiu que as provas eram suficientes para
uma condenação da Cibele.
O mais triste de toda essa situação era que ela
era totalmente desnecessária. Cibele me ofendeu e
chantageou por causa de um homem que não a
queria mais. Quando parei para pensar nisso, eu vi
o quanto essa garota era patética, mas não podia
relevar seus atos. Ela errou e agora teria que pagar
pelo crime que cometeu. Também fiquei aborrecida
pela maneira como reagi, mas de certa forma sou
grata pelo episódio, pois permitiu que eu abrisse
meus olhos e entendesse que eu precisava de
ajuda.
Tive algumas consultas com Úrsula e uma das
coisas que eu aprendi era que não tinha problema
precisar de ajuda e pedir por ela. A outra, foi que
eu era extremamente sortuda em ter uma família
que me apoiava incondicionalmente, além de um
homem que me amava com tanta intensidade e era
capaz de fazer de tudo para me proteger. Ainda
tinha muito que trabalhar no meu emocional, mas
estava disposta a dar uma chance para uma vida
nova.
Depois de deixarmos o gabinete do doutor
Ronaldo, Edu saiu para se encontrar com Conrado.
Parecia que eles precisavam conversar um assunto
particular e eu fui para casa. Essa última semana
tinha sido extenuante, e eu estava usando todos os
minutos possíveis para relaxar. Edu se despediu de
mim e prometeu que mais tarde passaria em meu
apartamento. Trocamos um beijo apaixonado e ele
deixou o local. Enquanto eu caminhava em direção
ao meu carro que estava estacionado do outro lado
da rua, eu procurava por minhas chaves dentro da
bolsa. Estava entretida procurando-as, quando uma
voz feminina ecoou atrás de mim.
— Moça bonita, quer ler a sorte?
Me virei rapidamente e me deparei com uma
mulher vestida de cigana. Ela tinha os olhos
dourados e o cabelo preto estava preso em um
coque no alto da cabeça. O vestido que ela usava
era em tom de vermelho com alguns detalhes em
renda branca. Realmente era uma roupa muito
bonita e colorida. Ela me olhou com curiosidade e
abriu um sorriso tranquilo. Não sabia explicar, mas
a desconhecida irradiava paz em seu olhar.
— Oh, não obrigada — agradeci sorrindo
tentando me mover, mas ela me deteve.
— Logo saberás tudo que precisa para curar
seu coração — Eu a encarei e estremeci. Sobre o
que essa mulher estava falando? — O passado virá
ao seu encontro.
— Desculpe, mas eu não conheço você — falei
desconfiada e ela sorriu para mim.
— Eu me chamo cigana Sarita e você? —
indagou esticando a mão para me cumprimentar.
Hesitei por um momento, mas optei por retribuir a
gentileza.
— Prazer, eu sou Milena. — Sarita sorriu e
segurou minha mão por um momento. Ela abaixou
os olhos e se fixou em meus dedos, girou a palma
da minha mão e voltou a me encarar.
— As suas linhas são tortuosas e
fragmentadas. Você carrega uma grande dor com
você, desde o seu nascimento. — Engoli em seco e
ela continuou a sua análise. — Você descobrirá
tudo que precisa saber para se libertar desse
sofrimento. Mas para isso, você precisará perdoar
uma pessoa que te magoou muito.
— O q-quê? Sobre o que a senhora está
falando?
— Sobre seu passado, Milena. Você precisa se
libertar dele e sentir-se amada pelos que te
rodeiam. Sentir-se amada pelo seu companheiro. Vi
um homem que a ama muito, mas você precisa
entregar esse amor a ele. E lhe digo mais, você
precisa se amar também — ela finalizou o seu
discurso liberando a minha mão com cautela.
— Como você viu tudo isso na palma da minha
mão?
— Eu sou uma cigana e tenho meus dons. —
Sorriu e faz menção em girar o corpo.
— Espere! — exclamei e ela voltou a me fitar.
— Eu quero dar uma recompensa pelo que você me
disse. — Abri a minha carteira e entreguei uma
quantia de dinheiro.
— Muito obrigada, você é muito bondosa. Tem
muito amor no coração, Milena. Basta dá-lo a quem
merecer — aconselhou e foi embora, me deixando
absorver o impacto de suas palavras.

***

Estava aninhada no sofá, refletindo sobre o que


a cigana Sarita me disse hoje mais cedo. Como ela
soube tantas coisas de minha vida? Foi a primeira
vez que alguém fez revelações a meu respeito sem
me conhecer. Eu nunca dei importância para
vidências ou algo do tipo, mas talvez o meu
conceito sobre isso estivesse mudando. Tudo o que
ela me disse era a mais pura verdade. Parecia que
enquanto a mulher lia a minha mão, eu estava
vendo a minha vida se passar diante de meus
olhos. Dor, sofrimento, desalento e amor. Sarita me
disse palavras que eu precisava realmente ouvir.
Sabia que precisava me amar mais, me doar
mais aos que me amam e me libertar de meu
passado doloroso. Segundo as previsões dela, eu
logo descobriria aquilo que tanto procurava saber,
que era a minha verdadeira origem e o porquê de
tudo. Balancei a cabeça e decidi não pensar mais
sobre esse assunto. Me levantei e liguei o som em
uma coletânea de Britney Spears. Em poucos
segundos a voz gostosa dela invadiu o ambiente
com a sua melodia Piece of Me. A música me fez
relaxar um pouco e eu me senti mais leve.
Ouvi a campainha tocar e meu coração festejou
ao imaginar quem estava do outro lado. Abri a
porta e vejo Edu sorrindo e lindo como sempre. Ele
trazia uma caixa de pizza em uma das mãos.
— Oi, minha deusa! Eu trouxe o jantar! — Ele
me deu um selinho e entrou no apartamento, como
se fosse o dono do local.
— Que maravilha! — exclamei animada,
enquanto Edu deixava as compras em cima da mesa
da sala de jantar e se voltava para mim com o olhar
ardente.
— Escutando Britney?
— Para alegrar o nosso jantar — disse
mordendo o lábio, provocando-o.
— Esse seu vestidinho curto está me deixando
faminto, mas não de comida — Não tive tempo
para esboçar uma reação. Edu foi rápido e me
abraçou pela cintura, distribuindo beijos em minha
clavícula e colo.
— Meu safado insaciável! — Sorri envolvendo
os braços ao redor do seu pescoço. Edu inclinou a
cabeça para baixo e nossas bocas se encontraram.
— Acho que vou querer comer a sobremesa
antes do prato principal — disse por entre meus
lábios enquanto caminhava abraçado a mim em
direção à sala de jantar.
Edu me suspendeu do chão e me colocou
sentada sobre a mesa de vidro. Seus dedos
ansiosos deslizaram para baixo do meu vestido que
foi despido de mim. Ele inclinou minhas costas
para trás e eu senti choque térmico do frio do vidro
em contato com minha pele quente. Sua língua
começou a passear em meu corpo, me fazendo
estalar de tanto tesão. Quando senti seus dedos na
borda da minha calcinha, eu soltei um gemido
abafado e agarrei seu cabelo, enroscando meus
dedos nos fios.
— Ah, Edu! — choraminguei enquanto ele
escorregava a minha roupa íntima que caiu ao chão.
— A sua pele é tão linda, tão macia e cheirosa
— sussurrou voltando a me torturar com os seus
lábios agora em minhas coxas.
Fechei os olhos e o deixei me possuir como
quiser, pois gostava do jeito como ele me
surpreendia no sexo. Edu era uma verdadeira
caixinha de surpresas. Ele posicionou uma de suas
mãos em minha nuca e me puxou para frente.
Encarou meus olhos e nossas bocas voltaram a se
unir em um beijo arrebatador e delicioso.
Enquanto ele me despia do sutiã que usava, eu
avancei para o botão de sua calça jeans.
— Deixe que eu faço isso, minha deusa! —
Sorriu de um jeito sacana se afastando um pouco
para se despir. Em poucos segundos ele ficou nu
em minha frente. Eu passei a língua nos lábios ao
notar que seu membro já estava duro.
— Uau! O guerrinha já está animado! — disse
em tom divertido, me recordando do apelido que
ele deu para o seu pênis.
— Ao seu lado ele sempre está animado — E
como sempre, ele caiu de boca em mim e eu fui à
loucura. Adorava quando ele me dava prazer com
sua boca.
Edu chupou com tanta voracidade meus seios
que senti os mamilos arderem em uma mistura de
dor e prazer. Certamente amanhã eu estaria com os
seios doloridos, mas pouco me importava. O que eu
queria era me lembrar de que estive com ele e que
foi ele que me deu prazer.
— Adoro seus seios! Eles são meus! — falou
em tom possessivo deslizando uma de suas mãos e
apertando minha bunda que ficou exposta sobre o
vidro. — Você quer um pedaço de mim? —
sussurrou em meu ouvido traduzindo um trecho
da música da Britney.
— Eu quero você por inteiro!
Ele abriu um sorriso perverso, me puxou pelos
quadris e entrou em mim. No início os movimentos
eram mais lentos, mas com o tempo eles se
tornaram frenéticos. Edu mantinha uma de suas
mãos entrelaçadas em meu cabelo, enquanto a
outra controlava o ritmo de suas investidas.
— Um pedaço de mim! — falou por entre meus
lábios metendo forte, estocando com precisão. — O
melhor pedaço de mim! — rosnou presunçoso
enquanto me comia bem gostoso.
Entrelacei as pernas ao redor de sua cintura e
comecei a me movimentar junto com ele,
mostrando que eu também podia controlar o nosso
ritmo juntos. Em resposta, ele começou a meter
fundo e rápido, flexionando os quadris, me
deixando sem fôlego.
— Ah, essa sua bocetinha apertada do caralho
ainda vai acabar comigo — sussurrou sem separar
as nossas bocas me devorando tanto com os lábios
quanto com o seu membro que me abria mais e
mais.
— Oh, Edu! Edu! Mete tudo!
Ele bateu e retrocedeu. Tirou seu pênis de
dentro de mim, somente para voltar a me penetrar
com dureza. Os movimentos começaram a ficar
mais exigentes e senti que não aguentaria por
muito tempo. Eu estava na beira do prazer. Edu
pressentiu que eu iria gozar e aumentou os ritmos,
bombeando rápido.
— Porra, Milena! Goze bem gostoso no meu
pau! — Toda vez que o Edu começava a falar dessa
maneira, eu me descontrolava e o sacana sabia
disso. Era como se um botão ligasse no meu
interior e o meu corpo cedesse as suas exigências.
Ondas de prazer atravessaram o meu corpo, e
por um instante perdi a noção de tempo e de
espaço. Eu apenas senti. Edu gemeu e me seguiu
gozando como um louco, rosnando enquanto me
enchia com o seu líquido quente. Desabei ofegante
sobre a mesa e ele se deitou sobre mim, me
abraçando apertado.
— Eu te amo, Edu! — disse ao seu ouvido com
voz carregada de carinho, abraçando-o também.
— Eu também te amo, Milena! — disse com a
cabeça enterrada em meu pescoço.
Eu tinha um namorado que me amava, que era
safado e intenso entre quatro paredes e tinha a
boca mais suja que eu conhecia. Um cavalheiro na
sociedade e um amante pervertido na cama. Eu
podia querer mais que isso? Achava que não!

***
Depois de um banho, estávamos jantando na
mesa que serviu de cenário para a nossa transa
selvagem. Edu me servia de um pedaço de pizza
enquanto eu servia nossas bebidas. Ele sorriu para
mim e eu me derreti de tanto amor. Esse sorriso de
morte ainda acabaria comigo.
— Agora vamos ao prato principal — disse em
tom divertido e ele riu.
Após algumas garfadas, Edu deixou os talheres
sobre a mesa e se aproximou um pouco. Percebi
que ele queria falar algo importante porque seu
semblante se tornou sério. Eu me endireitei na
cadeira, limpo a boca com o guardanapo e esperei
pela sua declaração.
— Milena, eu sei que você quer muito conhecer
a sua mãe biológica. Você tem certeza sobre isso?
— Concordei com a cabeça, pois era o que eu mais
queria. — Bem, então eu irei ajudá-la a encontrar a
sua mãe.
— Ah, Edu! Eu nem sei o que dizer... —
sussurrei, emocionada por ele estar me ajudando
nesse processo tão difícil. — Obrigada, Edu!
— Não precisa agradecer, minha deusa. Eu irei
contratar um detetive, mas quero ter certeza de que
você sabe que tal descoberta pode ter
consequências desagradáveis.
— Sim, eu sei.
— Eu quero te pedir uma coisa: tome cuidado
para não magoar seus pais adotivos e a Lívia
durante essa busca. Eles te amam muito, Milena.
— Eu farei de tudo para não machucá-los. Eles
são minha família e eu não os trocarei por nada.
Tenha certeza — disse com convicção, pois sabia o
amor que minha família tem por mim era enorme,
assim como o meu por eles.
— Fico feliz em ouvir isso. — Edu colocou
minha mão entre as suas e a acariciou.
— Edu, eu quero me desculpar com você. —
Ele franziu o cenho, confuso. — Eu te magoei, fiz
você sofrer por ser covarde. Me perdoe! — Abaixei
os olhos me sentindo mal por tê-lo magoado.
Depois que recebi a visita de sua mãe no hospital,
eu percebi que eu havia ferido demais o seu
coração.
— Amor, você não tinha saída. Você tentou
proteger a mim e a sua família. Eu entendi o que
houve e você não deve ficar se culpando por isso.
— Ele me chamou com carinho, erguendo o meu
queixo e buscando os meus olhos.
— Mas, eu te fiz sofrer...
— Bem, confesso que não foi um dos meus
melhores momentos. Mas já passou e ficou tudo
esclarecido entre nós dois. E é isso que importa,
Milena. — Ele afagou meu rosto com ternura. —
Cibele pagará pelos seus crimes.
— Não entendo como uma pessoa pode querer
machucar tanto alguém — argumentei pensativa.
— A gente nunca sabe o que se passa
realmente no coração das pessoas. — O celular do
Edu tocou e ele atendeu a chamada. Ele não disse
nada, mas vi o sangue ser drenado de seu rosto e
Edu ficou ofegante.
— Sim, mãe! Estou a caminho — Depois de
encerrar a ligação, ele colocou a cabeça em suas
mãos, balançando-a de um lado para o outro.
— Edu, o que houve?
— Meu pai sofreu um enfarte. Tenho que
correr para o hospital, Milena — respondeu
desolado se levantando e pegando as chaves do
carro.
— Espere! Eu vou com você. Só preciso de
cinco minutos para vestir algo apropriado. — Meu
coração se apertou por vê-lo tão aflito. Sabia que
ele e o pai não mantinham um relacionamento
amigável. Comecei a rezar para que desse tudo
certo, pois sabia em meu coração que se Edu
perder o seu pai sem ter feito as pazes, ele ficaria
perdido.
Capítulo 30

Edu

Cheguei ao hospital às pressas. O fato da


Milena se oferecer para me acompanhar foi o que
me deu forças para enfrentar as notícias. Caminhei
acompanhado de minha namorada até a sala de
espera, onde minha mãe e Conrado já estavam
acomodados em um sofá. No canto oposto da sala
estavam Elisa e Sofia, que chorava muito. A minha
irmãzinha ergueu os olhos e veio correndo em
minha direção, me abraçando pela cintura
enquanto soluçava em desespero. Eu me abaixei e
peguei seu rosto em minhas mãos. Precisava
tranquilizar essa garotinha e tentar amenizar o seu
sofrimento, embora eu não conseguisse controlar
as minhas próprias emoções.
— Ei princesa, fique calma, ok? Papai vai sair
dessa — disse beijando a sua testa com carinho e
ela envolveu os braços ao redor do meu pescoço.
— Ele está cheio de tubos. — Não era possível
que a Sofia viu nosso pai nesse estado!
Segurando a mão da minha irmãzinha, eu
caminhei em direção aos demais que assistiam a
cena em silêncio. A minha mãe e Conrado forma os
primeiros a me lançarem olhares preocupados.
Embora dona Myrthes estivesse divorciada do
marido, ela estava com uma expressão abatida e
com os olhos vermelhos. Algo me dizia que ela
ainda amava o meu pai e isso fez com que meu
peito se sufocasse.
Eu abracei minha mãe e meu primo e em
seguida acenei com a cabeça em direção a Elisa que
retribui o cumprimento. Não era um momento
fácil para nenhum de nós. Sofia se aproximou da
mãe e se aconchegou ao seu colo.
— Mãe, como ele está? — indaguei aflito
enquanto as ideias ruins invadiam a minha mente.
— O caso do seu pai é delicado. Ele está na
UTI, filho.
— UTI?! — exclamei atônito. Milena agarrou
firme a minha mão e me olhou com compaixão. —
Qual é o diagnóstico? O que os médicos disseram?
— Edu, tio Antônio sofreu um enfarte e os
médicos dizem que o caso é delicado — respondeu
Conrado , que também estava preocupado. — Eles
estão monitorando o coração, mas não descartaram
uma cirurgia para colocar uma ponte de safena.
— Eu posso vê-lo? — Mamãe e Conrado se
entreolharam, espantados, e se voltaram o olhar
para mim.
— É claro que pode, meu filho. Porém são
somente alguns minutinhos. — Minha mãe abriu
um sorriso terno como se entendesse o meu
coração aflito. — Eu vou te levar até o cardiologista
do seu pai e dizer a ele que você quer vê-lo. — Eu
voltei o olhar para Milena que abriu um meio
sorriso, acariciando o meu rosto.
— Não se preocupe, vai ficar tudo bem! —
minha namorada disse com ternura. Dei um beijo
casto em seus lábios e saí com minha mãe em
direção à sala do médico.
Instantes depois, eu estava na UTI. Devido o
estado delicado em que meu pai se encontrava, a
equipe médica responsável me concedeu apenas 5
minutos de visita. Eu não contestei, pelo contrário,
agradeci por poder ficar ao menos um pouco ao
lado do velho Antônio.
Meu pai estava deitado repleto de tubos.
Aparelhos de oxigênio e de monitoramento do
coração estavam presentes, fazendo o seu trabalho.
Levei um baque tão profundo, que precisei me
segurar em uma mesinha para não cair. Meu pai
estava desacordado e muito pálido. Engoli em seco
e meu coração se comprimiu, aflito. Seu Antônio
sempre foi um modelo de vitalidade. Praticava
exercícios, alimenta-se corretamente e não parava
quieto. O homem inconsciente na minha frente não
se parecia em nada com ele.
Passei as mãos no rosto, nervoso, e me
aproximei de sua cama. Parecia incrível vê-lo tão
vulnerável em cima de um leito de hospital. Fechei
os olhos e a culpa me atingiu. Ele havia me pedido
que o perdoasse e eu neguei o perdão. E neguei
isso ao meu próprio pai, que me criou, que me
amou, que me ensinou quase tudo que eu sabia.
Olhei de um lado para o outro e quando dei
por mim, eu estava chorando como um garotinho.
Nem sabia quanto tempo fazia que eu não chorava.
Talvez a última vez que isso aconteceu tenha sido
no velório da minha avó paterna, há mais de 20
anos. Esfreguei os olhos e limpei as lágrimas de
meu rosto. Minha visão estava embaçada e meu
coração parecia que batia aos solavancos. Me sentei
na cadeira ao lado da cama e inclinei o corpo para
frente. Segurei a mão de meu pai e apoiei a testa
sobre a borda do colchão.
— Pai, me perdoe! Me perdoe, velho! Me
perdoe! — Estava falando sozinho enquanto a
única coisa que ouvia eram os barulhos dos
aparelhos que o mantinham vivo.
Permaneci por mais alguns segundos com a
cabeça baixa, refletindo sobre a merda que a nossa
convivência se tornou durante esses últimos anos.
Tudo veio à tona de uma forma muito dolorosa: a
descoberta da traição dele, a separação dos meus
pais, o casamento com a Elisa e o nascimento da
Sofia. Balancei a cabeça de um lado para o outro
sem acreditar no pesadelo que estava vivendo. Se o
pior viesse a acontecer ao meu pai, se ele... Deus!
Eu nunca me perdoaria na vida!
Uma das enfermeiras apareceu de repente para
me avisar que os meus 5 minutos acabaram.
Concordei com a cabeça e me levantei ainda um
pouco zonzo. Dei uma última olhada para o meu
pai inconsciente e então deixei a UTI
completamente arrasado.
Voltei para a sala de espera, onde todos ainda
aguardavam atualizações por parte do médico. A
primeira pessoa que se levantou e veio ao meu
encontro foi Milena. Ela me abraçou forte
demonstrando o seu apoio e o seu amor que tanto
precisava. Olhei por cima do seu ombro e vi minha
mãe me fitar tristonha. Ao lado dela, Conrado
estava com a mesma expressão preocupada. Elisa e
Sofia também me observavam. Ao que tudo
indicava eles perceberam o quanto eu estava sem
chão.
Fiz sinal para que Conrado me acompanhasse
até outra sala e saímos enquanto as mulheres
voltavam a se acomodar no sofá a espera de
notícias de meu pai. Meu primo caminhou ao meu
lado em silêncio, sem dizer uma só palavra.
Acreditava que ele sabia o que eu estava sentindo e,
por isso, preferiu ficar calado.
— Eu sinto muito, Edu.
— Eu sei.
— O relacionamento de vocês dois estava
estremecido há algum tempo, não é? — questionou
sentando-se no sofá.
— Sim. Faz mais de 2 anos que eu não
conversava com ele. Fiquei tão devastado quando
percebi que meu pai havia destruído nossa família,
mas agora me sinto culpado por não ter perdoado
seus erros quando conversamos.
— Edu, tio Antônio sairá dessa. Confie! Não se
derruba um Guerra assim! — Ele abriu um meio
sorriso tentando me animar.
— Deus te ouça! — exclamei e mudo de
assunto, pois precisava conversar com Conrado
sobre o caso da Milena. — Conrado , eu quero te
pedir um favor.
— Diga! Se eu puder ajudar, conte comigo.
— Eu gostaria de pedir a você que contrate um
detetive para mim. Tem que ser o melhor. Sei que
você tem alguns contatos, então se você puder me
ajudar eu ficarei imensamente agradecido.
— Conheço um homem que é “o cara”. Ele
descobre qualquer coisa em menos de 48 horas —
falou e me encarou com ar especulativo. — Mas por
que você quer os serviços de um detetive, Edu?
— Não é para mim, é para a Milena.
Relatei ao meu primo tudo que aconteceu com
a minha namorada, desde antes de sua adoção.
Conrado ficou perplexo após ouvir toda a história e
me prometeu que ajudaria a encontrar a mãe
biológica dela. Meu primo me assegurou ainda que
tinha o nome de um dos melhores detetives que ele
conhecia e, que ainda hoje, entraria em contato
com o homem. Eu agradeci ao Conrado pelo seu
apoio e nos despedimos.
Sem condições para aguentar mais a dor que
eu sentia por ver o meu pai inconsciente e cheio de
tubos, eu comecei a me despedir de todos. Lancei
um olhar para Sofia e ela veio me abraçar.
— Dará tudo certo, maninha! — Ela não disse
nada e apenas abriu um meio sorriso, mas ainda
tinha os olhos marejados.
Meu coração voltou a se apertar por ver uma
garotinha tão novinha passar por uma situação
dessas. Se não estava sendo fácil para mim, que era
um adulto; imaginava para ela que era apenas uma
criança! Beijei o topo de sua cabeça e, quando ergui
os olhos eu encontro Elisa me fitando com o
semblante preocupado. Não disse nada a ela e
apenas acenei. Sabia que o momento era difícil,
porém não estava com cabeça para conversar com a
mulher do meu pai.
Abracei a minha mãe e beijei o seu rosto com
carinho. Dona Myrthes abriu um meio sorriso doce
e afagou a minha bochecha. Até hoje não entendia
como minha mãe conseguia ser gentil com Elisa.
Depois de tudo que aconteceu, ela ainda
demonstrava educação com a mulher que destruiu
seu casamento. Cada dia que passava eu percebia o
quanto o coração de minha mãe era grande. E era
por isso que eu a amava incondicionalmente.
— Mãe, me mantenha informado sobre
qualquer notícia de meu pai. Não importa a hora,
mas eu quero ficar a par de tudo!
— Pode deixar, meu filho — Após nos
despedirmos, eu segurei na mão de Milena e deixei
o hospital. O que mais queria agora era ficar junto
da minha amada. Estava me sentindo muito
perdido e eu somente me encontrava era nos
braços de Milena. Ela era o meu refúgio. Acreditava
que seríamos o porto seguro um do outro para
sempre.

***

Convidei a Milena para passar a noite comigo


em meu apartamento. Acabei de abrir a porta e a
Kyara pulou de cima do sofá, pedindo ração. Dei
ração e água para a minha gata e retornei a sala de
estar onde encontrei Milena acomodada ao sofá.
Ela havia ligado o som e a música A Thousand Years
de Cristina Perri ecoava baixinho, transformando a
atmosfera ainda mais melancólica. Eu me
aproximei dela e me ajoelhei no meio de suas
pernas. Afundei a cabeça em seu colo e Milena
afagou meu cabelo com ternura. A dor que sentia
era tão grande que receava que ela pudesse se
tornar imensa se algo de pior viesse a acontecer.
— Eu não me perdoarei se... Se meu pai...
— Edu, tudo ficará bem! — Ela tentou me
consolar enquanto eu sentia uma sensação gélida
tomar conta de mim.
— Ele me pediu perdão várias vezes. E eu não
tive coragem para perdoá-lo e agora... Agora não
sei se terei essa chance — Milena me olhou com
amor e deslizou seus dedos em meu rosto.
— Não pense coisas ruins. Você terá a chance
de falar com o seu pai e se entender. Eu tenho
certeza! — Sorriu me encorajando.
— Ah, Milena! — Eu a puxei para um abraço
apertado. — Às vezes pagamos caro demais por
amar as pessoas e por não perdoá-las.
— Eu sei, Edu. Ninguém melhor do que eu
para saber sobre disso.
— Eu preciso fazer amor com você.
— Fazer amor?! — exclamou espantada, pois
nunca tinha escutado isso de mim.
— Sim, eu preciso exercitar o amor — disse
enquanto atravessava o corredor segurando-a em
meus braços.
— Eu estou aqui para amar você, Edu — falou
após eu colocá-la no chão do meu quarto.
— Para esquecer essa merda toda, eu preciso
me enterrar em você, minha deusa. — Eu comecei
despindo-a com urgência, arrancado as roupas do
seu corpo. Ela ficou nua e o meu pau reagiu diante
de sua beleza extraordinária. Tirei as minhas
roupas de qualquer jeito e as chutei para um canto.
Deitamos na cama e permanecemos por um
bom tempo, apenas nos tocando e sentindo o calor
um do outro. Meus pensamentos estavam
totalmente voltados para o meu pai e para o seu
estado crítico de saúde. Nunca fui muito de rezar,
mas pedi a Deus que meu pai se recuperasse e
ficasse bom. O velho Antônio não tinha o direito
de partir para o outro lado sem ouvir o meu pedido
de perdão.
Após fazermos amor, estávamos aconchegados
na cama. Milena dormia abraçada a mim, enquanto
eu ainda estava acordado, reprisando os últimos
acontecimentos. Eu disse uma vez a Milena que o
amor era capaz de curar todas as feridas, mas ele
não era o único, pois o perdão também era
libertador. E eu precisava me libertar e Milena
precisava se curar.
Nesse instante eu entendi que nós dois
precisávamos aprender a amar e a perdoar os que
nos rodeavam. Ela precisava amar a si mesma e
perdoar quem lhe fez sofrer no passado e eu
precisava demonstrar o amor que tinha pelo meu
pai e perdoá-lo pelo deslize que ele cometeu.
Ambos necessitavamos exercitar o amor e o
perdão.
Capítulo 31

Milena

Passaram-se três dias desde que o pai do Edu


estava na UTI e os médicos disseram que ele teria
que fazer uma cirurgia para colocar uma ponte de
safena. Mas, seu Antônio precisava reagir e sair do
coma em que se encontrava primeiro. Edu estava
sofrendo muito. Percebi que ele tinha se esforçado
para se focar no trabalho, mas nem sempre obtinha
sucesso. E, para piorar ainda mais a situação, o pai
de Cibele veio conversar com ele e pedir clemência
em nome de sua filha.
Eu não conhecia o seu Gilberto Antunes de
Britto, mas ele devia estar apavorado diante das
acusações graves que pesavam sobre a sirigaita
chantagista. Eu até entendia a preocupação dele em
tentar livrar a pele da filha. Afinal, para alguns
pais, os seus filhos eram perfeitos! Talvez para seu
Gilberto não fosse diferente, mas Edu não deu
ouvidos a ele e informou que quem estava
cuidando do caso era o promotor Ronaldo de
Mattos. Eu estava em dúvidas de que a Cibele
contou realmente a verdade para sua família.
Quando seu Gilberto for conversar com o
promotor, eu tinha certeza de que se surpreenderia
com as atitudes da filha.
Era tarde de sábado e Edu foi ao hospital com
dona Myrthes, a pedido do médico cardiologista
responsável pelo caso do seu Antônio. Enquanto o
meu namorado estava ao lado do seu pai, eu saí
para me exercitar um pouco no parque da cidade.
Fazia tempo que não colocava o corpo em
movimento e precisava aliviar o estresse e deixar a
mente livre das preocupações, nem que fosse por
algumas horas.
Vesti minha roupa de ginástica, calcei meus
tênis e peguei meu iPod. Entre tantas músicas
agitadas eu escolhi Crawling de Linkin Park e saí
fazer minha corrida. Permaneci em movimento por
mais ou menos uma hora. Quando senti meu corpo
começar a cansar, eu parei para beber a água que
trazia sempre comigo.
Estava acomodada a um dos bancos do parque,
apreciando a brisa suave, quando uma mulher na
faixa de seus quarenta e poucos anos, bem vestida
em um conjunto fino de saia, blusa de seda e
sapato de salto alto, se aproximou. A estranha tinha
a pele muito branca e profundos olhos cor de mel,
assim como o cabelo cacheado, um pouco abaixo
dos ombros. Ela parou próxima a mim e abriu um
sorriso, enquanto segurava a sua bolsa de grife.
— O dia está propício para uma atividade
física, não é?
— Sim, está — Nunca fui muito boa em puxar
papo com estranhos e a olhei desconfiada.
— Eu posso me sentar? — Ela apontou para o
espaço vazio ao meu lado.
— Claro! — Abri um meio sorriso e a
desconhecida se acomodou no banco.
— Eu me chamo Sandra. — Ela estendeu a mão
na minha direção.
— Prazer, Milena. — Eu a cumprimentei
educadamente.
— Bonito nome! —Não sabia por que, mas essa
mulher estava me deixando tensa. — Você vem
sempre aqui se exercitar?
— Eu venho quando eu posso — Sandra se
ajeitou melhor no banco, ficando de frente para
mim e cruzou as pernas. Olhei para suas mãos e vi
que ela usava algumas joias. Certamente era uma
mulher muito rica.
— Acompanho seu trabalho. Parabéns pelo
julgamento do outro dia. — Fiquei tão surpresa que
acabei engasgando com a água. Quem era essa
mulher?
— Obrigada. Você é advogada ou serventuária
da justiça?
— Oh, não! Eu me formei em administração,
mas não exerço a profissão. Sou dona de casa —
respondeu com uma ponta de melancolia na voz.
— Bem, o importante é que você seja feliz. —
Meu comentário fez com que o sorriso
desaparecesse de seus lábios.
— Felicidade é algo que eu não conheço.
— Não existe felicidade plena e sim momentos
felizes. Pelo menos é isso que eu venho
aprendendo nos últimos tempos. — Ela ergueu os
olhos e se fixou em mim.
— Você é feliz, Milena? — Eu me remexi
desconfortável sobre o banco e respirei fundo.
Nunca conversei assuntos particulares de minha
vida com pessoas desconhecidas e agora estava
falando com essa mulher como se a conhecesse.
— Sim, hoje eu posso dizer que sou feliz!
— Você não era feliz antes?
— Bem, eu preciso ir — disse fazendo menção
de me levantar, mas Sandra me deteve segurando
levemente o meu braço.
— Espere um minuto, por favor!— Permaneci
imóvel sobre o banco. Havia algo em seu olhar que
me deixava angustiada. Mas o que era pior era a
sensação de conhecê-la de algum lugar. Busquei
resquícios em minha memória para tentar
descobrir de onde eu a conhecia, mas foi em vão.
Nada surgia. Mas por que então eu sentia como se
a conhecesse?
— Desculpe, mas está na minha hora —
reiterei me levantando abruptamente e sendo
seguida por ela, que fez o mesmo.
— Espere um pouco. Eu não sei se terei outra
oportunidade de... — Ela interrompeu a frase e
inspirou profundamente. Vi que ela ficou nervosa e
seu rosto empalideceu. De um momento para
outro, Sandra se tornou vulnerável diante de mim.
— Eu não estou entendendo, Sandra. — Ela
passou uma das mãos à testa e pisca os olhos
ligeiramente.
— Eu preciso que... que vo-você... me perdoe —
gaguejou com dificuldade enquanto me encarava
de forma suplicante.
— Eu não a conheço Por que você está me
pedindo perdão?
— Você não me conhece, mas eu te conheço...
minha filha.
Estremeci e minhas pernas bambearam.
Agarrei com força na borda do banco, pois receava
de sucumbir diante de Sandra. Os batimentos
cardíacos estavam tão altos que parecia que teria
um enfarte a qualquer momento. Eu estava em
choque e minha cabeça girava. O peso da realidade
me atingiu de uma maneira violenta e dura. Sandra
acabou de me chamar de... filha?! Essa mulher que
estava diante de mim, que usava roupas e joias
caras, que tinha uma feição triste e dolorosa em seu
olhar era minha... mãe?!
Arregalei os olhos e tentei desesperadamente
buscar o fôlego. Durante todos esses anos eu
busquei saber quem era minha mãe biológica, e
não obtive respostas. E agora, a mulher que era
minha mãe biológica estava parada em minha
frente, apenas me olhando apavorada.
— O quê?!
— Milena, eu sou sua mãe. — Ela se aproximou
e eu me distanciei.
— Por favor... Fique longe de mim! — Foram as
únicas palavras que eu pude dizer antes de sair
correndo em disparada.

***

Fechei a porta de meu apartamento e não


consegui dar um passo adiante. Ofegante, eu
escorreguei ao chão e chorei descontroladamente.
Meu corpo inteiro tremia com magnitude e eu não
raciocinava direito. Afundei a cabeça em minhas
mãos gemendo e soluçando, sentindo a desolação
tomar conta de mim.
A mulher que estava há poucos instantes em
minha frente, usando roupas caras e coberta de
ouro da cabeça aos pés era a minha mãe biológica.
A pessoa que me descartou como um lixo! Pelo
jeito, levava uma vida de madame, mas não era
feliz. Ela mesma me confessou que não sabia o que
era felicidade.
Balancei a cabeça de um lado para o outro sem
acreditar no que aconteceu. De repente, as palavras
ditas pela cigana Sarita ecoaram em minha mente.
Ela sabia de tudo! A cigana leu a minha mão outro
dia e disse tudo o que estava acontecendo. E ainda
deu um conselho, para eu perdoar as pessoas que
me feriram no passado. Somente assim eu me
tornaria livre. Mas como perdoaria a Sandra? Uma
mulher que era rica e me abandonou em uma porta
de orfanato, no meio da noite! Por que ela fez
aquilo comigo?
Se eu a tivesse deixado falar, talvez eu
soubesse o motivo de tudo. Mas, eu saí correndo
como uma louca, sem ao menos dar chances para
ela se explicar. Fechei os olhos e senti a cabeça
latejar de tanta dor. Mas nada se comparava ao que
sentia em meu coração, que estava partido em um
milhão de pedaços.
Enxuguei as lágrimas com as mãos e ouvi o
celular tocar em algum canto da sala. Me levantei
com dificuldade e saí tropeçando no tapete e
esbarrando nos móveis. Ao avistar o aparelho em
cima da mesa de centro eu vi que era Edu que me
chamava. Deus do céu! Depois de tudo que
aconteceu nessa tarde, eu esqueci completamente
que ele estava no hospital com seu pai. Peguei o
aparelho e respirando fundo eu atendi a ligação.
— Edu! — disse em tom baixo tentando ao
máximo não deixar transparecer qualquer tristeza
em minha voz.
— Milena, onde você esteve? Eu liguei várias
vezes para você e enviei algumas mensagens de
WhatsApp. Você não viu?
— Não, desculpe. Eu fui correr no parque e
deixei o celular em casa — respondi me afundando
no sofá.
— Aconteceu alguma coisa? — Precisava
manter a calma, pois não queria que ele ficasse
preocupado comigo. Edu já tinha preocupações
demais com seu pai.
— Não. Está tudo bem. E seu Antônio como
está?
— Na mesma — disse tristemente. — Preciso
de você, minha deusa.
— Eu vou tomar um banho e estou indo te
encontrar.
— Estou te esperando. — Edu fez uma
pequena pausa. — Ah Milena, eu te amo! Só para
você não se esquecer. — Sua voz estava carregada
de carinho.
— Eu também te amo! — falei desligando o
telefone.
Despi minhas roupas e liguei o chuveiro. A
água morna desceu na minha pele enquanto eu
pedia a Deus forças para suportar tudo que estava
vivendo. Tinha que ser forte, pois Edu precisava de
mim nesse momento. Ele estava passando por uma
situação muito difícil. A minha dor podia ficar para
depois.
Ao chegar ao hospital eu encontrei toda a
família reunida, além de um casal que eu não
reconhecia e um homem muito bonito. Certamente
eram parentes do seu Antônio. Todos conversavam
baixinho e com a expressão preocupada. Edu veio
ao meu encontro e me abraçou forte, como se eu
fosse a sua tábua de salvação nesse momento. Eu
retribuí o carinho e ele beijou os meus lábios
brevemente.
— Milena, que bom que você está aqui!
— Desculpe pela minha demora — disse sem
jeito tentando controlar as minhas próprias
emoções que ainda estavam à flor da pele.
— O importante é que você veio. Venha, eu
quero te apresentar aos meus tios, pais do Conrado
e ao seu irmão do meio, Nuno. — Ele segurou em
minha mão saindo comigo em direção ao casal.
Edu me apresentou a sua tia Wanda, que me
cumprimentou com dois beijinhos no rosto. Ela era
muito bonita, tinha olhos esverdeados, cabelo
castanho claro e sorriso amigável. Em seguida, fui
apresentada ao senhor Horácio Guerra, um homem
muito elegante, de cabelo grisalho e com a
fisionomia muito parecida com a de seu Antônio.
— É um enorme prazer conhecer a namorada
do Edu — disse dona Wanda sorrindo para mim.
— É um prazer conhecê-la também, dona
Wanda.
— Milena, esse é Nuno, irmão do meio do
Conrado. — Era claro que o homem bonito era um
Guerra!
— Prazer, Milena. Eu ouvi muitas coisas boas
sobre a adorável namorada do meu primo Edu. —
Ele era alto, musculatura definida e aparenta ter
uns 30 anos. Tinha o cabelo castanho, olhos
castanhos esverdeados e um sorriso matador, como
todos os da família Guerra. Achava que fosse a
marca registrada desses homens, já que Edu e
Conrado também tinham um sorriso lindo.
— O prazer é meu, Nuno. — Sorri
educadamente e Edu me conduziu para eu me
acomodar ao sofá, ao lado de dona Myrthes que me
abraçou com carinho.
— Edu, qual era a verdadeira situação do meu
irmão mais novo? — indagou seu Horácio
preocupado.
— Os médicos disseram que ele precisa sair do
coma para depois avaliar a situação com mais
clareza, tio. Mas, se o papai sair dessa, ele terá que
fazer uma cirurgia para colocar uma ponte de
safena.
— Ele sairá dessa, Edu! Um Guerra não cai
assim tão fácil — disse o tio dando um tapinha
camarada nas costas do sobrinho.
— É o que eu digo sempre para o Gui: um
Guerra é um guerreiro. — Sorriu Conrado
acomodado na outra extremidade do sofá.
— Isso eu não tenho dúvidas! — concordou
Nuno sentando-se ao lado do seu irmão.
Lancei um olhar para outro canto da sala de
espera e vi Elisa com Sofia nos braços. A pequena
dormia aconchegada no colo da mãe, enquanto
Elisa mantinha a expressão preocupada. Senti
piedade por todos. Por mim, por Edu e sua família
e também pela atual mulher de seu pai. Todos nós
estávamos no mesmo barco e dividindo o mesmo
sentimento: a dor.
Capítulo 32

Edu

Meus tios e primos foram para casa depois de


passar o dia no hospital. Elisa teve que levar Sofia
para dormir, pois estava exausta. Todos nós
estávamos esgotados tanto físico, como
emocionalmente. Esses últimos dias tinham sido
uma verdadeira prova de fogo para todos,
principalmente para mim. Nunca estive tão
nervoso em toda minha vida. Raramente eu me
sentia assim, vulnerável diante das adversidades.
Estava acomodado ao sofá e Milena apoiava a
sua cabeça em meu ombro. Ela parecia muito
cansada e, embora eu recomendasse para ir para
casa, ela se recusou e permaneceu ao meu lado. A
minha deusa era a minha rocha, tentando amenizar
a angústia que sentia com muito amor e dedicação.
Mas eu sabia que somente estaria plenamente
tranquilo quando meu pai acordasse do coma e se
recuperasse.
— Filho, por que você e a Milena não vão para
casa? Está tão tarde — aconselhou minha mãe que
estava sentada em outra poltrona ao nosso lado.
— Realmente é tarde. — Lancei um breve olhar
para o relógio de pulso e observei que já passa das
22horas. — Mas e você? Vai ficar aqui, mãe?
— Confesso que hoje não conseguirei dormir
no hospital. Fiquei essas duas últimas noites aqui e
dormi muito pouco. Estou exausta.
— Eu acho que vocês duas devem ir para casa.
Amanhã é dia de acordar cedo para trabalhar —
disse para Milena que ergueu a cabeça para me
fitar.
— Mas e você, meu filho?
— Eu ficarei aqui. Hoje é a minha noite de ficar
ao lado do velho Antônio Luís. — Elas se
entreolharam surpresas. — Fiquem tranquilas. —
Sorri e me voltei para Milena. — Você pode dar
uma carona a minha mãe?
— Claro. — A minha deusa sorriu acariciando
o meu rosto.
— Você tem certeza, filho? Afinal, você está um
pouco abatido.
— Tenho sim! Podem ir para casa que eu ficarei
bem. — Dei um beijo em minha namorada que se
levantou juntamente com minha mãe.
Dona Myrthes veio se despedir de mim com
um abraço e um selinho nos lábios como de
costume. Ela afagou o meu rosto e deixou o
hospital na companhia de Milena. Não era justo a
minha mãe permanecesse mais uma noite
acordada se eu podia fazer isso. Era o mínimo que
eu podia fazer para amenizar o sentimento de
culpa que rondava o meu peito.
Antes de tomar um café e me aconchegar no
sofá da sala de espera, que serviria de cama essa
noite, eu fui ver o meu pai mais uma vez. Pedi a
uma enfermeira que me concedeu cinco minutos ao
lado dele e ela concordou a me levando até a UTI.
Ao me aproximar da cama, fui atingido por um
sentimento de perda. Essa sensação ruim estava me
cercando desde que soube que ele foi
hospitalizado. O estado de saúde dele se mantinha
inalterado, rodeado de aparelhos e cheio de tubos.
Puxei a cadeira e me sentei ao seu lado. Segurei sua
mão e reprimi o pranto. Fechei os olhos e respirei
fundo com a finalidade de dissipar esse sentimento
perturbador. Mas era em vão. Nada me acalmava.
— Pai, eu sei que você não pode me ouvir, mas
eu quero que saiba que eu te perdoo. Eu te perdoo!
— Abaixei a cabeça e apoiei a testa sobre a cama.
— Por favor, me perdoe! Eu te amo, velho. Não vá
agora!
Foi nesse momento que eu presenciei um
milagre. Eu senti um pequeno aperto dos seus
dedos e ergui um pouco os olhos, fixando-os em
sua mão. Não podia ser! Ele se mexeu? Permaneci
olhando para a sua mão que estava sobre a minha e
nada. Talvez fosse um reflexo, ou até mesmo a
minha imaginação me fazendo sentir coisas.
— Eu também te amo, filho. — Levei um
choque tão grande que ergui a cabeça de imediato e
encontrei os olhos cinza de meu pai me fitando
com amor. Deus! Ele acordou!
— Pai, vo-você... — gaguejei enquanto ele
piscava com dificuldade, devido a pouca
luminosidade que invadia a sua íris depois de dias.
— Você acordou! — Eu me levantei na intenção de
chamar uma enfermeira e ele segurou meu braço.
— Me perdoa, filho?
— Oh, pai! Você é que tem que me perdoar —
falei segurando a sua mão com carinho.
— Eu te perdoei faz tempo, Edu. — Não
consegui dizer mais nada. Beijei sua testa e saí
como um louco atrás da equipe médica. As minhas
preces foram ouvidas. Meu pai finalmente acordou
do coma.

***

Três semanas depois...

Meu pai já estava em casa, mas precisava de


cuidados devido à cirurgia para colocar a ponte de
safena. Sofia não saía do seu lado. Passava o dia
inteiro mimando-o e contando histórias. Se eu
soubesse que o perdão era libertador, eu teria
perdoado meu pai bem antes. Mas o que importava
agora era que reatamos a nossa relação entre pai e
filho. A minha relação com Elisa ainda era
estranha. Eu me limitava a cumprimentá-la
educadamente, mas nada mais. Não sabia se ainda
estava preparado para perdoá-la.
Depois da turbulência que passamos nos
últimos dias, estava curtindo um jantar que eu
mesmo havia preparado para a minha deusa de
ébano. Mal sabia ela, mas eu estava decidido a
oficializar de vez o nosso amor. Queria torná-la
minha em todos os sentidos da palavra.
Compartilhar de alegrias e tristezas, conquistas e
problemas. Enfim, queria tê-la inteira somente para
mim. Mas algo estava me deixando preocupado.
Percebi que ela andava um pouco mais calada e
com a expressão abatida.
— Você fica muito elegante vestindo esse
avental, Edu. — Milena sorriu enquanto me
ajudava no preparo do jantar. Ela cortava alguns
vegetais para eu colocar em nosso salmão que logo
iria para a grelha.
—Então você me acha sensual de avental, é? —
Arqueei uma sobrancelha divertida limpando as
mãos e abraçando-a pela cintura.
— Você é sensual e sabe disso! — Ela envolveu
os braços ao redor do meu pescoço.
— Você que é linda! — disse beijando-lhe os
lábios com paixão.
— Estou muito feliz por você e a Sofia estarem
se dando tão bem. E mais feliz ainda por você ter
reatado o relacionamento com seu pai.
— É... O perdão é libertador. — Milena me
soltou olhando para baixo como se as minhas
palavras a afetassem intensamente. — Milena, há
algum problema?
— Eu não quero te preocupar...
— Eu vou colocar o salmão para grelhar e você
pode me esperar na sala de estar? — Eu segurei o
seu queixo e encarei seus olhos com ternura. Ela
concordou me dando um beijo nos lábios e saiu em
direção à sala.
Coloquei o salmão no formo e regulei o tempo
no relógio. Liguei o aparelho e tirei o avental. Mas
antes de me unir a Milena, eu peguei uma garrafa
de vinho branco e duas taças, somente então deixei
a cozinha e fui até ela. Cheguei à sala e a encontrei
encolhida no sofá, com as pernas sobre o couro. Ela
tinha o olhar perdido e meu coração se apertou.
— Minha deusa, me diga o que está
preocupando você? — Eu me acomodei ao seu lado
e ofereci uma taça de vinho.
— Eu conheci a minha mãe biológica.
— Quando isso aconteceu? — perguntei
atônito, pois Conrado não me disse nada sobre a
evolução das investigações.
— No dia em que o seu pai acordou...
— E por que você não me contou nada?
— Eu não queria te preocupar, Edu. Você tinha
problemas demais com seu pai no momento —
respondeu bebendo um gole de vinho e deixando a
taça sobre a mesinha de centro.
— Milena, eu sempre quero saber de tudo que
se passa com você. Nunca mais me esconda nada.
Não há segredos entre nós! O detetive a
encontrou?
— Não! Na verdade, foi ela que me encontrou.
— Ela se ajeitou melhor no sofá para ficar de frente
para mim. — Aquele dia eu estava cansada e
preocupada com o estado de saúde de seu pai e
então eu resolvi sair para correr no parque.
Precisava espairecer e ficar mais tranquila. Fiz
meus exercícios e parei para beber um pouco de
água. Foi nesse momento que uma mulher bem
vestida, usando roupas caríssimas e coberta de
joias da cabeça aos pés se aproximou de mim. —
Milena fechou os olhos por alguns instantes. — A
minha mãe biológica, Edu, é rica. Leva uma vida de
madame. Tem muito dinheiro e é de família
influente. Ela se chama Sandra.
— Meu Deus! E vocês conversaram?
— Não! Quando ela me chamou de filha... Eu
achei que o meu mundo iria acabar. Foi um choque
tão grande que tive medo de cair na frente dela.
Eu a puxei para os meus braços e afaguei os
seus cachos. Milena se aconchegou junto a mim e
nada falou, apenas chorou baixinho externando sua
dor. Por essa eu não esperava! Juro! Contratei um
detetive para achar a mãe dela e a mulher a achou
primeiro? Será que essa tal de Sandra já não estava
seguindo a minha namorada e esperando o
momento oportuno para se apresentar?
— Milena, você precisa conversar com ela.
Somente assim você saberá o que aconteceu e os
motivos que a levaram a fazer o que fez.
— Eu não sei se tenho coragem, Edu!
— Você tem sim! — Ergui seu queixo e encarei
seus olhos. — Você é segunda mulher mais
destemida que eu conheci em minha vida. A
primeira é a minha mãe — falei sabendo que as
duas se pareciam muito em personalidade e
caráter. — Tenho certeza de que você terá coragem
para ouvi-la. Afinal, você sempre buscou saber o
que realmente aconteceu em sua vida, não é?
Então, essa é a chance que você tem de descobrir
toda a verdade.
— Talvez você tenha razão — Milena ainda
estava abalada, mas se recompôs.
— Eu vou ver como está o nosso salmão.
— Edu, eu não estou com fome. Não agora!
— Então vou apenas desligar o forno. — Dei
uma piscadinha para diminuir a tensão que essa
conversa causou.
— Eu vou para a cama. Eu te espero no quarto.
— Ela abriu um meio sorriso, deu um beijo em
minha boca e seguiu em direção a suíte.
Minutos depois, estávamos abraçados sobre os
lençóis. Kyara ronronava feliz aos pés da cama e
nos fez companhia. Milena estava mais calma e eu
pensava que esse era momento certo para me
declarar. Beijei a sua testa e respirei fundo para
tomar coragem e fazer uma declaração nada
convencional. Odiava formalismos! Já chegava os
que eu tinha que conviver todos os dias devido a
minha profissão no judiciário.
— Milena, você não acha que está na hora de
unir as nossas escovas de dente? — indaguei e ela
ergueu a cabeça me olhando com os olhos
arregalados.
— Somente as escovas de dente?
— Não! Unir as minhas cuecas com as suas
calcinhas também seria muito interessante. —
Sorri de um jeito sacana.
— Edu Guerra, você está...
— Sim! Eu estou! Aceita ser a senhora Guerra?
— Estava na expectativa com a sua resposta. Não
sabia se era pelo meu nervosismo, mas tinha a
impressão de que ela demorava muito para
responder.
— Oh, Edu! Você sempre me surpreende! —
Ela me beijou nos lábios com amor. — É claro que
eu aceito ser a senhora Eduardo Luís Guerra.
— Então você será minha para sempre! —
disse com o coração repleto de sentimento
distribuindo beijos em seu rosto, boca, nariz, testa.
Ela riu pela primeira vez na noite, transformando
ainda mais o meu mundo.
Abri a gaveta do criado mudo e tirei uma caixa
pequena de veludo. Milena me fitou desconfiada
enquanto eu me voltava para ela com o objeto em
minhas mãos.
— O que tem ai, Edu?
— Uma demonstração do meu amor por você.
— Abri a caixa e um par de alianças grossas de
ouro, com nossos nomes gravados na parte interna,
surgiu diante de seus olhos. Milena sorriu e seus
olhos se encheram de água. — Eu não sei se o
tamanho é o certo, mas podemos mandar ajustar.
— Segurei a sua mão delicada e me dei conta de
que estava tremendo um pouco. — Minha noiva
linda! — Estava eufórico, e beijei o seu dedo que
agora estava com a aliança.
— Edu, ela é linda! E ficou no tamanho exato
— disse radiante. — Confessa! Você sabia o
tamanho do meu dedo?
— Juro que não! Eu sou um bom observador.
— Sorri enquanto ela pegava a outra aliança e
colocava em meu dedo.
— Meu noivo safado! — E a nossa noite de
amor começou quente sobre os lençóis. Estava tão
feliz que parecia que era um sonho. A deusa de
ébano seria minha esposa, minha mulher, minha
companheira, meu tudo!
Capítulo 33

Milena

O pedido de casamento nada convencional


feito por Edu me pegou totalmente desprevenida.
Eu não conheci um homem que fosse tão
surpreendente quanto meu noivo. Nem podia
acreditar nisso! Meu coração estava explodindo de
tanta felicidade. Estava nas nuvens literalmente.
Pensar que em breve seria a senhora Guerra,
despertava em mim uma ansiedade enorme. E para
mostrar o quanto ele me amava, a sua língua está
deslizando em meu corpo nesse exato momento,
indo e vindo em meu ventre, me deixando
extremamente excitada.
— Minha deusa de ébano! Só minha!
Edu deixou a roupa íntima no chão e me
despiu do meu vestido, me deixando nua. Ele se
posicionou no meio de minhas pernas e abriu um
sorriso sacana, tirando a sua camiseta e expondo
seu peitoral definido. Eu pisquei, afetada e me
contorci excitada ao contemplar a sua virilidade.
Mas o que me deixava com água na boca era a sua
ereção que saltava diante de meus olhos quando ele
tirou a cueca boxer. Mordi o lábio e Edu sabia o que
estava pensando. Em um movimento rápido eu o
segurei pelos ombros e troquei de posição,
deitando-o sobre o colchão e montando em cima
dele. Ele sorriu animado com a minha ousadia e
deu uma palmada na minha bunda.
— Você quer me dominar, é? — perguntou em
tom divertido, enquanto acariciava os meus seios.
— Eu quero te dar prazer também!
Começo lambendo e mordendo de leve o seu
peito másculo. Edu gemeu e serpenteou,
demonstrando que estava gostando das carícias.
Desci mais um pouco e vi o seu membro de
prontidão. A cabeça rosada e as veias dilatadas em
sua extensão. Fixei os olhos aos de Edu que
estavam faiscantes, e passei a língua nos lábios,
provocando-o. Me inclinei para baixo e o
abocanhei.
— Porra, Milena! Que delícia! — Fiz o percurso
diversas vezes, indo e vindo, aumentando as
investidas e ele começou a mover os quadris no
mesmo ritmo de meus movimentos. Edu quase
enterrou seu membro em minha boca e eu o senti
tocar a base da minha garganta.
— Me fode com essa boca gostosa! — A minha
velocidade aumentou e ele começou a enrijecer os
quadris, pronto para ejacular em minha boca. Não
pensei duas vezes e fiz o trabalho
direitinho,chupando cada vez mais forte.
— Toma tudo, minha deusa! — rosnou
enquanto se esvaia em minha boca.
Voltei à posição vertical e passei a língua no
dos lábios outra vez, somente para tirá-lo do sério.
E eu consegui! Edu me segurou pelos ombros e me
jogou de costas sobre o colchão. Prendeu meus
braços no alto da minha cabeça e as minhas coxas
com as suas pernas grossas.
— Adoro esse seu lado, Milena! — sussurrou
no meu ouvido chupando o lóbulo da minha
orelha. — Você é uma dama na sociedade e uma
puta na cama. E eu a tenho só para mim! — Suas
palavras me deixavam enlouquecida de tesão. A
minha abertura latejava tanto que chegava a doer.
Edu soltou os meus braços com cautela e deslizou a
sua língua em minhas costas, lambendo e
mordendo a minha pele.
— Oh, Edu! Não me torture mais! Me fode com
força!
— E essa boceta? Está prontinha para mim? —
perguntou, inserindo dois dedos em mim.
Ele fez movimentos rítmicos dentro e fora e
pressionou com vontade o meu ponto G. Isso foi
demais para mim! Arfei alto e gozei muito,
rebolando a bunda no embalo de sua língua. Ainda
estava sentindo espasmos pós-orgasmos
atravessarem o meu corpo, quando Edu me
penetrou com tudo. Ele cravou os dedos em meus
quadris e estocou fundo. Seu membro veio faminto
e implorando por mais espaço, pressionando o
meu útero e me fazendo debater como uma louca.
— Edu! Edu! Edu!
— Sim, minha deusa, sou eu que estou te
matando de prazer! — Ele mordeu a minha nádega
esquerda e deu uma palmada, apertando-a. Os
movimentos se intensificaram e eu não aguentei
mais segurar um novo orgasmo que veio
devastando tudo.
— Ohhhh, Edu! — gritei enquanto o gozo me
consumia, me deixando mole. Eu me debati,
agarrei com força o travesseiro e ele me seguiu,
estocando mais rápido.
— Milena, você vai acabar comigo! — disse se
enterrando inteiro dentro de mim enquanto gozava
rosnando enlouquecido. Edu caiu suado e exausto
sobre as minhas costas. Me abraçou apertado e
ouvi a sua respiração ofegante em meu ouvido. —
Não sei mais viver sem você!
— Nem eu! — confessei, pois sabia que a
minha vida era dele assim como a dele era minha.
Agora éramos um só!

***

Passaram-se três dias desde a conversa que eu


tive com Edu sobre a minha mãe biológica. Edu
estava certo quando me disse para procurá-la para
conversarmos, mas ainda estava receosa. Enquanto
eu deslizava os dedos pela corrente que meu noivo
me deu, pensava em todas as consequências que
esse possível encontro traria para nós duas. Sandra
era casada, tinha marido e certamente tinha filhos.
Será que a sua família me aceitaria? Será que ela
contaria sobre minha existência a eles?
Decidi procurar por minha mãe e não foi
difícil, pois eu contei com a ajuda do detetive que
Edu contratou. O homem me passou o seu número
de telefone e o endereço de onde ela morava.
Recebi tudo por mensagem de WhatsApp e fiquei
em dúvida se devia ou não ligar. Eu estava pronta
realmente para conversar com Sandra? Respirei
fundo e tomei coragem para fazer a ligação. Se não
fosse agora, não seria nunca!
— Alô?
— Sandra? — indaguei tentando controlar as
emoções.
— Sim, sou eu! Quem está falando?
— Aqui é a Milena.
— Milena?! — exclamou em um sussurro
enquanto ouvi o barulho de uma porta sendo
fechada. Com certeza, ela estava falando as
escondidas comigo ao telefone. — Como você
descobriu meu número?
— Isso não importa! Eu gostaria de saber se
você pode me encontrar ainda hoje?
— Hoje?! — Houve uma longa pausa e a linha
ficou em completo silêncio. — Pode ser! Onde?
Eu não queria me encontrar com ela em um
local público, mas também receava de levá-la até a
minha casa. O que eu faria? Reflito por um breve
momento e pensei na Malu. Sabia que ela estava
trabalhando no hospital até tarde e certamente a
minha melhor amiga não se incomodaria em ceder
o seu apartamento por algumas horas.
— Eu vou te passar o endereço. Você tem como
anotar?
— Sim, pode me dizer. — Eu dei o endereço a
ela e nos despedimos. Sandra prometeu me
encontrar às 18horas. Agora só restava eu falar com
Malu e pegar a chave de seu apartamento.

***

Depois de falar com Malu e explicar os últimos


acontecimentos, estava acomodada no sofá da sala
de estar do seu apartamento. A ansiedade era
tanta, que eu já bebi três copos de água. Precisava
me manter calma para falar com minha mãe
biológica. Hoje era o dia que teria todas as
respostas que sempre ansiei.
Ouvi a campainha tocar e me levantei para
atender a porta. Do outro lado estava Sandra, bem
vestida como no primeiro dia quem nos
encontramos. O seu semblante era tenso, assim
como o meu. Ela me fitou um pouco constrangida e
apertou a alça da bolsa.
— Por favor, entre! — Ela passou e eu fechei a
porta atrás de mim. — Vamos até a sala. É por aqui.
— Eu a conduzi até o ambiente e apontei uma
poltrona para ela se acomodar. Sandra se sentou e
eu a segui, me acomodando a sua frente.
— Eu fiquei muito surpresa quando você me
ligou, Milena. Achei que depois daquele dia no
parque, eu nunca mais veria você.
— Eu estive muito ocupada e precisava refletir
sobre nós duas — disse, sentindo o coração
disparar angustiado dentro do peito.
— E a que conclusão você chegou?
— Quero saber tudo sobre a minha vida —
disse decidida e ela arregalou os olhos. — O que a
motivou a me abandonar como um objeto
descartável na porta de um orfanato? Vergonha?
Medo? Ou os dois?
O sangue sumiu do rosto de Sandra. Ela
passou uma das mãos pelo cabelo cacheado e me
encarou por um momento. Em seus olhos eu vi o
seu desespero. Esse assunto não estava sendo fácil
para ela, mas quem disse que seria fácil para nós
duas?
— Eu contarei tudo, mas só quero que
entenda...
— Entender o quê?
— Eu não tive escolha na época. — Sandra
fechou os olhos e tive a impressão de que ela estava
relembrando em sua mente os acontecimentos. —
Eu tinha 19 anos e era uma caloura na faculdade.
Eu estudava fora e raras eram as vezes que eu vinha
ver os meus pais aqui. Era um sonho se tornando
realidade, pois meus pais eram extremamente
controladores, sempre alegando que eu precisava
zelar pelo sobrenome da família. Ter tanta
liberdade foi inebriante. Eu era sonhadora,
acreditava no amor e em príncipes encantados. Até
que eu conheci o seu pai, que de príncipe não tinha
nada. — Senti que ela estava muito nervosa, pois
apertava a alça da bolsa que estava em seu colo com
tanta força que a ponta dos seus dedos ficaram
esbranquiçados. — Eu não deveria ter me
envolvido com ele, uma vez que eu estava noiva e
de casamento marcado com o homem que hoje é
meu marido.
— Você se envolveu com o meu pai biológico,
estando noiva de outro? — Arregalei os olhos,
atônita.
— Sim! Meu noivado aconteceu por insistência
das duas famílias. O casamento iria unir nossos
pais nos negócios e para eles, era tudo o que
importava. Como a boa filha que eu era, não discuti
com meus pais. Mas a verdade é que não havia
paixão ou romance no relacionamento entre mim e
meu noivo. Então, quando eu conheci o seu pai,
fiquei maravilhada. Ele soube me conquistar com
pequenos gestos: uma flor, recadinho ou
simplesmente carregando meus livros. Não
demorou muito para que eu acreditasse que
estávamos apaixonados. Eu cometi um erro... — Eu
Fui considerada um erro para essa mulher sem
coração.
— Como eu nasci?
— Você nasceu de parto normal.
— Em um hospital?
— Não! — Ela fechou os olhos por um
momento e, quando o abriu, havia dor e desalento
neles. — Você nasceu em uma rua deserta... Era
noite e eu comecei a sentir contrações. Então eu
peguei o meu carro e sai. Não podia ter você em
um hospital, ou até mesmo em casa. As pessoas
descobririam e eu não sabia o que fazer. — Sandra
balançou a cabeça de um lado para o outro. — Não
tinha ninguém em quem confiar. Passei por tudo
isso sozinha. Eu não engordei muito durante a
gestação e comecei a usar roupas largas ou então
várias camadas de roupas. Como não tinha muitos
amigos na faculdade, ficou mais fácil de disfarçar e
quando você nasceu, eu não tive escolha. Enrolei
você em uma manta e deixei na porta de um
orfanato. Apertei a campainha e entrei no carro.
Fiquei observando se alguém viria atender a porta e
uma senhora apareceu. Ela te pegou no colo e
olhou ao redor. Como não viu nada, entrou com
você nos braços.
— Meu Deus!
— Depois de alguns anos, voltei ao orfanato e
encontrei a mesma senhora trabalhando por lá. Eu
conversei com ela e expliquei toda a minha história.
Pedi segredo, porque já estava casada e ela viu uma
oportunidade de lucrar. Garantiu que ficaria em
silêncio e me daria todas as informações
disponíveis sobre você se eu a pagasse. E foi o que
eu fiz! Desde então, eu tenho observado a sua vida
de longe — concluiu sua narrativa.
— O meu pai sabia que você estava grávida?
— Não! Assim que eu percebi, eu terminei
com ele e pedi para que nunca mais me procurasse.
Sei que agi errado, mas na época eu estava
apaixonada pelo seu pai e desesperada porque
estava grávida de você — admitiu e meu queixo
caiu. Deus! O que mais estava por vir?
— O que aconteceu realmente com meu pai?
— Seu pai morreu há alguns anos...
— Como e por quê?
— Não sei ao certo o motivo, só sei que ele foi
baleado em um bar. — Seus olhos se encheram de
água. — Eu amava o Donato demais, mas ele era
muito diferente de mim... Em todos os sentidos. E
por mais que eu o quisesse ao meu lado, por mais
que eu estivesse disposta a acabar com meu
noivado, os meus pais nunca o aceitariam.
— E por que o seus pais não o aceitariam?
— Milena, o seu pai era um homem sem
escrúpulos. Na época em que eu o conheci, ele
estava iniciando na vida no crime. Eu estava tão
apaixonada por ele, que fingia não ver o que ele
fazia. Meus pais nunca aceitariam que eu trocasse
um noivo promissor, capaz de expandir os negócios
da família pelo Donato — falou enxugando uma
lágrima que caía enquanto eu tentava processar
todas as informações ditas por ela.
— Eu sei tudo sobre meu pai biológico. Eu sei
que o Ministério Público estava investigando o seu
possível envolvimento no crime de lavagem de
dinheiro, mas o caso foi arquivado por falta de
provas, alguns dias antes dele falecer.
— Meu Deus! — Sandra estava em estado de
choque. — Eu não sabia nada sobre isso! Afinal,
depois que tive você, eu vi o Donato apenas duas
vezes.
Foi muita maldade da minha parte soltar as
informações dessa maneira, mas sinceramente essa
conversa estava me deixando estressada. Sandra
chorava e se lamentava, mas deixava claro que seu
envolvimento com Donato foi um erro. Só podia
concluir que eu também fui um erro. Respirei
fundo e me recusei a deixar minhas inseguranças
prevalecerem nessa conversa.
— Seu pai tinha a pele dourada como a sua. Eu
achava linda a cor da pele dele. Não só isso, claro.
Mas o jeito malandro, conquistador e safado. Eu o
amava de verdade. — Ela abriu a bolsa, tirou uma
foto e me entregou. — A foto é antiga, mas esse é
seu pai.
Meus olhos contemplaram a mesma fotografia
que vi na tela do meu computador, no dia em que
eu buscava saber informações sobre o meu pai
biológico. Então era Sandra a mulher que usava
óculos escuros e chapéu de praia?
— E por que se livrou de mim se amava o meu
pai? — questionei entregando a foto para ela. Não
queria olhar mais para essa figura.
— Milena, se eu aparecesse grávida de outro
homem seria o meu fim. Os meus pais nunca
aceitariam uma neta ilegítima e muito menos
aceitariam o seu pai. Você não conhece a minha
família... — A sua expressão ao mencionar a
própria família era de puro terror.
— Não conheço e nem quero conhecer! —
bradei em tom firme me levantando. — Você se
desfez de mim para encobrir a sua traição e para
salvar a sua bela família influente de cair na lama.
Acha que isso tem conserto, Sandra? — Joguei a
verdade em sua cara e ela se levantou, me
encarando com desespero.
— Por favor, me perdoe por isso. Eu sei que
errei e que eu não mereço o seu perdão, mas eu não
tive escolha naquela época — implorou, dando um
passo a frente tentando se aproximar de mim. Eu
me distanciei dela, pois não podia mais ficar perto
dessa mulher. — Eu padeci todos esses anos pelo
que eu fiz a você. A dor nunca me deixou e eu não
sei até hoje o que é felicidade. — Era a segunda vez
que eu a encontrava e ela novamente falava de sua
infelicidade. Uma voz dentro de mim afirmava que
a vida dessa mulher era muito complicada, mas
estava sofrendo tanto que não conseguia ser
racional.
— Você pensa que pode pedir perdão depois
do ato desumano que você cometeu? Acha mesmo
que isso merece perdão? — Nesse instante, Sandra
não era a única que estava chorando. Eu também
estava me debulhando em lágrimas.
— Eu procurei saber de você desde quando eu
a abandonei. Eu juro! Estive sempre observando de
longe, me alegrando com as suas conquistas e me
entristecendo com as suas derrotas. — Algumas
vezes eu senti que estava sendo vigiada, mas nunca
pensei que quem estivesse me observando fosse a
minha mãe biológica! Era tão surreal que fiquei
alguns instantes sem reação.
— O que você espera de mim? Que eu a perdoe
como se nada tivesse acontecido? Como se o
passado fosse algo a ser esquecido?
— Milena, o perdão é o ato mais puro que um
ser humano pode fazer. Mas somente você poderá
dá-lo para me libertar dessa dor. — Eu relembro as
palavras proferidas pela cigana Sarita, sobre o
perdão ser libertador. Será que Sandra merecia
meu perdão?
— Não sei o que dizer ou o que pensar a seu
respeito. Depois de vinte e sete anos, você acha que
pode aparecer do nada e ter o meu perdão? Pensa
que tudo se resolve como em filmes e novelas,
onde os finais são sempre felizes? — Sandra
abaixou a cabeça e chorou novamente. Seu corpo
inteiro tremia e ela se apoiou ao sofá para não cair
em minha frente. Sabia que estava sendo dura e
fria com a minha mãe biológica, mas o que ela
esperava de mim? Demonstrações de afeto e
palavras gentis?
— Eu queria tanto que tudo fosse diferente —
disse em meio aos soluços tentando em vão secar o
pranto que descia pelo seu rosto e pescoço.
— Mas não é! O que eu faça ou deixe de fazer
agora não mudará o passado.
— Sei que você nunca me chamará de mãe e
não me amará como ama seus pais adotivos. Mas
ao menos eu espero que você me perdoe.
Balancei a cabeça, confusa e imersa em
sentimentos desconexos: angústia, amor, solidão,
raiva. Tudo isso estava impregnado em mim, me
sufocando. Quando pensei que Sandra desistiria de
implorar pelo meu perdão, ela se jogou aos meus
pés, abraçando as minhas pernas e chorando
descontroladamente.
Meu corpo tremia devido a forte carga
emocional que estava entre nós duas. Abaixei os
olhos e fixei-os na mulher que estava de joelhos
diante de mim. Não estava acreditando na cena que
via. Sandra era uma mulher rica, que tinha tudo e
ao mesmo tempo não tinha nada. O mais
importante que era a felicidade, ela não tinha. Essa
mulher estava implorando pelo meu perdão para se
libertar da dor.
— Sandra, por favor, se levante! — Estava
rezando a Deus para que ela me ouvisse.
— Me perdoe! Por favor, me perdoe! Eu prefiro
a morte se você não me perdoar! Me perdoe! —
gritou desesperada, abraçando ainda mais forte as
minhas pernas.
— Levante-se, Sandra! — Não podia mais
presenciar o seu estado de humilhação.
— Não exigirei seu amor, mas quero seu
perdão. Por favor!
Segurei-a pelos ombros e com dificuldade ela
ficou de pé. Estávamos frente a frente, uma
encarando os olhos da outra. Vi em seus olhos
tanta dor, infelicidade e solidão, que me coração se
contraiu. Sabia o que era sentir isso. Eu passei
esses anos todos me consumindo por algo que feria
e estilhaçava a minha alma. E hoje eu tinha a
chance de me libertar dessas sensações ruins e
deixar a minha mãe biológica livre para viver sua
vida. Era o certo a se fazer. Dar liberdade para nós
duas e que cada uma seguisse seu caminho.
Ela me fitou em meio ao pranto, esperando por
uma reação. Eu pisquei os olhos rapidamente e
enxuguei algumas poucas lágrimas que caíam.
Precisava dar a chance a ela para viver com a
consciência mais tranquila. E afinal, quem era eu
para não perdoar outro ser humano?
— Eu perdoo — sussurrei por fim, enquanto
sentia a respiração se tornar ofegante e o coração
bater descompassado.
— Oh, Milena! — Quando dei por mim, ela
estava me abraçando apertado. Eu travei e não
consegui retribuir o carinho. Tudo que estava
acontecendo era demais para eu assimilar.
Sandra me abraçou por um momento e
percebendo que eu não me movia, ela me soltou
com cautela. O silêncio que se seguiu foi sepulcral.
Nenhuma de nós falou uma palavra sequer.
Apenas ouvi o som de nossas respirações pesadas.
Ela enxugou o restante das lágrimas que rolaram
pelo seu rosto e abriu um sorriso triste nos lábios.
Seus olhos foram parar em minha mão direita e seu
sorriso se alargou quando ela viu a minha aliança
de noivado.
— Sei que você será muito feliz. Você terá a
felicidade que eu não tive. E isso para mim é o que
realmente importa. Obrigada por você ser essa
pessoa humana e de bom coração. Sua família deve
te amar muito.
— Sim, eles me amam muito e eu os amo
incondicionalmente também. — Ela caminhou em
direção à porta, mas se deteve por um momento.
— Obrigada por me libertar de minha
clausura. Obrigada por aceitar meu perdão —
disse, abrindo a porta.
— Adeus, Sandra! — Eu me despedi dela,
sabendo que talvez nunca mais a veria novamente.
— Até mais, Milena! — Ela me lançou um
último olhar repleto de sentimento e deixou o
apartamento.
Eu me arrastei até o sofá e me afundei no
estofado. Abaixei a cabeça em minhas mãos e
recomecei a chorar. Só que dessa vez, o choro não
era de tristeza, e sim de alívio. Senti como se meu
coração estivesse bem mais leve e minha alma mais
limpa. Desse momento em diante, sabia que a vida
me deu uma segunda chance.
Capítulo 34

Milena

Decidi contar tudo aos meus pais adotivos. Eu


devia a eles a verdade, por tudo o que fizeram por
mim durante todos esses anos. Marquei uma
reunião na casa da minha família e convoquei
todos. Papai, mamãe e Lívia estavam acomodados
ao sofá enquanto eu estava sentada em uma
poltrona de frente para eles. Edu estava me
esperando no carro, pois achava que seria melhor
para todos se conversássemos a sós. Prometi a ele
que contaria o que aconteceu depois.
— Filha, o que está acontecendo? — Minha
mãe estava me olhando preocupada, e preparada
para entrar em ação, se necessário. Seu instinto
maternal protetor sempre me deixava emocionada.
— Eu tenho um assunto muito sério para tratar
com vocês. É sobre a minha adoção e também
sobre meus pais biológicos. — A surpresa era
evidente em seus rostos. Papai coçava o queixo
enquanto Lívia me fitava com semblante confuso.
— Então fale, minha filha! — Meu pai tinha
esse jeito mandão e quem não o conhecia,
acreditava que ele era um pouco rígido demais. A
verdade era que ele se derretia todo pelas três
mulheres de sua vida, e era capaz de mover
montanhas para nos manter protegidas.
— Eu conheci a minha mãe biológica. Ela me
abordou alguns dias atrás, durante uma das
minhas corridas. Ela se chama Sandra Gutemberg.
Vocês já ouviram esse nome alguma vez? — Os três
ficaram em estado de choque com a minha
declaração, mas minha mãe foi a primeira a sair do
estupor.
— Não! Nunca! — Sua convicção deixava claro
que ela realmente não tinha ouvido falar da minha
mãe biológica. Meu pai estava com um semblante
triste e seus olhos estavam sem vida, enquanto
processava as informações.
— E o nome Donato da Silva Martins, vocês
conhecem?
— Eu nunca ouvi falar — respondeu meu pai,
passando a mão pelo cabelo grisalho em um gesto
tenso.
— Quem é esse homem, Lena? — perguntou
Lívia.
— Era o meu pai biológico. Ele faleceu há 5
anos. Ele era criminoso...
— Santo Deus! — Minha mãe estava perplexa e
pressentindo como essa história me afetava, se
acomodou ao meu lado e me embalava, como uma
criança pequena. — Como você soube sobre isso
tudo, filha?
— A história é longa, mas eu prometo que
contarei a vocês em outra oportunidade com mais
calma. Nesse momento, eu quero falar sobre a
Sandra.
Relatei toda a história para eles desde o início.
Não deixei nem um acontecimento para trás. Ao
final do meu relato, minha mãe que não era de se
emocionar tão fácil, estava chorando juntamente
com Lívia que agora estava sentada ao meu lado,
me abraçando com carinho. Mas a reação mais
chocante era a do meu pai. Ele estava caminhando
de um lado para o outro, nervoso.
— Essa mulher é um monstro! — esbravejou
seu Otávio enfurecido. — Se eu soubesse dessa
história antes, eu teria ido ao encontro dessa
madame. E pouco me importa se ela tem dinheiro,
se é de família influente e se tem uma vida de luxo.
O que ela fez a você, minha filha, é um ato covarde
e desumano. — Após o seu desabafo, ele se sentou
na mesinha de centro de frente ao sofá onde nós
três estamos acomodadas.
— Pai, eu sei, mas...
— Quero falar com essa mulher! — Como
nunca o vi tão transtornado, acabei sendo
surpreendida.
— Otávio, será que isso é uma boa ideia? —
Mamãe ficou preocupada. — Afinal, a mulher tem
uma família.
— Não me interessa, Dalva! Eu quero ouvir da
boca dessa insensível essa história. Ela terá que se
explicar olhando nos meus olhos!
— Pai, eu acho melhor não!
— Lena, o papai tem razão! A tal da Sandra nos
deve explicações! — Lívia finalmente manifestou
sua opinião sobre o assunto, e pelo jeito, ela e o
papai não iriam mudar de ideia.
— Bem, então o mais certo a fazer seria marcar
um encontro com Sandra — sugeriu dona Dalva,
acariciando o meu cabelo.
— Será que ela concordaria em conversar com
vocês? — Estava nervosa com esse encontro, pois
tinha medo de que meu pai se magoasse ainda
mais ouvindo isso diretamente da Sandra.
— Ligue para essa mulher e diga que se ela não
vir se explicar com a sua família, nós iremos até ela!
Senhor Deus! E essa agora? Temia que esse
encontro fosse uma catástrofe e gerasse
consequências desastrosas para ambos os lados.
Mas meu pai me deixava sem saída e eu nada podia
fazer a não ser concordar com seu pedido. Embora
temendo o que estava por vir, eu assegurei a minha
família que tentaria um contato com Sandra e
proporia um encontro.
Eu me despedi com carinho de todos e deixei a
casa de meus pais muito preocupada. Não queria
destruir a família que me criou com tanto amor e
zelo, que sempre esteve ao meu lado, me apoiando,
me ajudando, mas também não desejava mal
algum para minha mãe biológica.
***

Sandra me surpreendeu aceitando se encontrar


com meus pais. Eu expliquei a ela os motivos pelos
quais eles desejavam ter essa conversa, ela não faz
objeções. Então, combinamos de nos encontrar no
final da tarde no apartamento da Malu. Estava
prestes a sair para o encontro, quando o meu
celular tocou. Olhei para a tela e vi que era o
Ricardo me ligando. Hesitei por um momento, mas
optei em atendê-lo.
— Oi Ricardo, tudo bem? — Eu o
cumprimentei enquanto saía e fecho a porta do
meu apartamento.
— Tudo bem, Milena. E você como está?
— Estou bem! — Revirei os olhos, pois sabia
que a minha vida familiar estava turbulenta.
— Eu soube que você e o Guerra ficaram
noivos. — Agora entendi motivo de sua ligação
repentina.
— Sim, estamos — disse entrando no elevador
e apertando o botão da garagem.
— Bem, eu desejo felicidades a vocês dois. —
Tive dificuldade de acreditar na sinceridade desses
votos. Seu tom de voz indicava exatamente o
contrário. Mas achei melhor não dizer nada.
— Obrigada, Ricardo. Você receberá um
convite do nosso casamento.
— Milena, não faça isso, por favor! Está sendo
difícil aceitar o seu noivado com o sortudo do Edu e
ir ao seu casamento, seria exigir além do que eu
posso fazer. Desculpe! —Não imaginei que a
novidade do meu casamento fosse deixá-lo tão
afetado.
— Eu adoraria que você estivesse presente.
Ricardo era um bom amigo e sempre esteve
presente quando eu precisei. Nós nunca tivemos
um momento romântico e, mesmo sabendo que ele
flertava de vez em quando, nunca levei a sério. Será
que estava enganada? Fiquei divagando enquanto
observava os números dos andares acima de minha
cabeça.
— Eu não posso. Sinto muito! Bem, eu preciso
terminar os meus afazeres aqui na delegacia. Só
liguei para desejar felicidades a você e ao Edu. Sei
que vocês se amam e merecem ser felizes.
— Obrigada, mais uma vez, Ricardo. Você é um
amigo incrível!
— Até mais, Milena.
— Até mais! — Desliguei o celular e, segundos
depois, as portas do elevador se abriram.
Estava um pouco chateada por Ricardo não
comparecer ao meu casamento, mas entendi a sua
posição. Nunca pensei que ele estivesse falando
sério. Mas não queria dizer que não tinha
sentimentos genuínos e que até quisesse um
relacionamento. Desejava de todo o coração que ele
encontrasse uma mulher que o fizesse feliz e que
soubesse valorizar a pessoa maravilhosa que
Ricardo era.

***

Se um estranho observasse a cena nesse


momento, imaginaria que era uma gravação para
alguma telenovela. Meus pais, Lívia, eu e a Sandra
estávamos na sala de estar do apartamento da
Malu. Enquanto as mulheres estavam sentadas no
sofá, meu pai perambulava de um lado para o
outro, encarando Sandra de uma maneira quase
hostil.
— Bem, vamos ao que interessa — começou
seu Otávio se aproximando um pouco mais. —
Estamos aqui porque a Milena, nossa amada filha,
nos contou que descobriu como ela foi parar na
porta daquele orfanato há 27 anos. E como nós
somos a sua família, nós queremos ouvir a história
diretamente de você, Sandra.
— Seu Otávio, eu era jovem, imatura,
apaixonada por um homem que estava na vida do
crime e estava noiva de outro. Eu não tive
escolhas... — Enquanto Sandra se pronunciava, ela
não encarava ninguém na sala. Seus olhos
observavam o chão e sua postura era de total
derrota.
— Mas isso não justifica o ato desumano que
você fez com nossa filha — se pronunciou a minha
mãe. — Sandra, você não pensou nas
consequências que a sua imaturidade poderia
causar a todos?
— Eu pensei, mas como disse, não tive saída.
— Ela ergueu os olhos para encarar a minha
família. — Vocês não conhecem meus pais, muito
menos sabem o que eu passei e passo na minha
vida particular. — Ela se voltou agora para minha
mãe. — Dalva, eu vivi todos esses anos me punindo
pelo que eu fiz a Milena. Acredite! Eu nunca fui
feliz. Tenho uma filha de 17 anos e sou casada com
um homem que não amo. Quem observa nossa
vida, acredita que representamos a família perfeita,
mas isso é uma ilusão.
As suas palavras eram repletas de mágoa e
sofrimento. Eu não sabia como era a vida pessoal
da Sandra, se ela estava dizendo a verdade ou não.
Podia até estar enganada, mas algo me dizia que a
minha mãe biológica estava dizendo a verdade.
Aliás, uma dolorosa verdade.
— Seu marido é bom para você e para a você e
para a sua filha, Sandra? — indaguei interessada.
— Carlos é um homem que gosta das coisas de
uma determinada maneira, Milena. O seu principal
objetivo de vida é manter o nome da família
impecável e prosperar cada vez mais nos negócios.
Para conseguir o que ele quer, às vezes ele é um
pouco controlador, exigindo saber onde estou ou o
que estou fazendo, mas não é uma má pessoa. Não
posso me queixar dele como pai, é um excelente pai
para a nossa filha, mas tenho medo de que quando
nossa filha não conseguir cumprir suas
expectativas, ele se torne diferente com ela. Eu não
o amo e isso torna a nossa relação cada dia mais
desgastada. — A confissão de Sandra me deixou
desnorteada, pois não conseguia imaginar viver em
um ambiente tão claustrofóbico e desprovido de
carinho. Meus pais sempre colocaram o amor e a
cumplicidade em primeiro lugar e esse era o
exemplo que eu tentava me espelhar diariamente.
— Bem, nós não estamos aqui para falar sobre
a sua família e sim sobre a nossa filha. Seu marido
rico sabe sobre o que aconteceu? — Seu Otávio
estava magoado com a minha história. Geralmente
ele era tão compreensivo e esse seu jeito de agir era
apenas a maneira como ele tinha de desabafar.
— Não! E se ele souber, será o fim do meu
casamento e o fim dos meus pais, que ficarão sem
um tostão no bolso — respondeu e voltou a baixar
os olhos, constrangida.
— Você vai esconder o que fez de todos pelos
simples capricho de salvar seu casamento falido?
— esbravejou Lívia que até agora esteve calada. —
Eu não acredito!
— Você não sabe muita coisa da vida, mocinha.
Em primeiro lugar, se eu contasse a verdade, ele
iria querer o divórcio e com o dinheiro e influência
que ele possui, conseguiria a guarda da minha filha
sem nenhum esforço. Além disso, o motivo pelo
qual meus pais insistiram tanto nesse casamento, é
que eles estão completamente falidos e meu
marido é quem sustenta o seu estilo de vida. O
status social deles permanece porque ninguém
sabe a verdade, mas caso isso acontecesse, eles
perderiam todos os “amigos” e não teriam a quem
recorrer. Depois do casamento eu não trabalhei
fora de casa, fui a esposa troféu padrão, então você
pode imaginar como eu iria sustentar meus pais e
minha filha? Duvido muito que o mercado de
trabalho tenha tantas oportunidades assim para
alguém da minha idade. Sendo assim, como eu
poderia pagar um advogado para lutar pela guarda
da minha filha? Você acha que eu não pensei em
tudo isso antes? — O discurso de Sandra não era
ríspido. O seu tom era melancólico, como se
estivesse conformada com seu destino.
Por um instante, a sala ficou em um silêncio
sepulcral. Lívia se segurou para não dar uma
resposta engraçadinha, apenas para ter a última
palavra na discussão. Mas pelo seu olhar acreditava
que ela estava tentando entender o lado da Sandra.
Foi a dona Dalva quem quebrou o silêncio.
— Sandra, você sabia que a Milena tinha sido
adotada por nós?
— Sim! Eu soube poucos anos depois e sempre
estive por perto, por assim dizer. — Ela me olhou
com compaixão. — Observando de longe, apenas
assistindo o momento familiar entre vocês.
Confesso que muitas vezes a vontade que eu tinha
era de me apresentar à você, Milena. No final, eu
me distanciava porque percebia o quanto você era
amada e bem cuidada, e seria muito egoísmo da
minha parte tirar isso de você. Quando eu chegava
em casa, chorava muito, me amaldiçoando pelo que
eu fiz — falou com os olhos cheios de água. — De
certa forma, eu sempre te amei, mesmo você não
sabendo quem eu era. — As lágrimas rolaram em
seu rosto e rapidamente Sandra tentou secá-las
com a manga de sua blusa.
O silêncio se instalou novamente no ambiente.
Todos nós precisávamos de alguns instantes para
absorver o lado da Sandra nessa história. Até
mesmo meu pai, que tinha sido duro com ela. Ele
estava pálido e seus olhos vidrados, como se
estivesse tentando visualizar tudo o que a Sandra
passou.
Senti uma profunda dor no coração. Embora eu
soubesse que Sandra me abandonou quando eu
ainda era um recém-nascido, não podia negar que
foi essa mulher que me deu a vida. Se não fosse por
ela, eu não estaria aqui, nem teria pais
maravilhosos, que me ensinaram a amar e me
amaram desde o primeiro momento. Eu não
conheceria Edu, o homem que me ensinou a me
aceitar como sou. Com ele, aprendi que eu sou uma
mulher incrível e que a minha origem não importa;
que o fato da Sandra ter me abandonado não era
culpa minha, eu não tinha nada de errado. O que
aconteceu era que ela não sabia lidar com a sua
vida e suas responsabilidades. Depois de ouvir sua
história completa hoje, só posso dizer: Muito
obrigada por ter me abandonado! Eu tinha uma
família tão maravilhosa que não podia imaginar
uma vida sem eles.
— Sandra, até parece loucura o que irei dizer,
mas eu só tenho a agradecer a você por ter nos
dado esse presente. — Minha mãe foi se
levantando enquanto falava com a Sandra. — Você
nos deu a Milena, a nossa filha amada, e eu
agradeço a você por isso.
— Você está me agradecendo pelo que
aconteceu? — Sandra estava confusa com a
declaração.
— Sim e não! Acredito que você entendeu o
que eu disse — Dona Dalva evitou se prolongar no
discurso. — Bem, eu acho que essa reunião acabou!
— Sua declaração fez com que todos os demais se
levantassem também.
— Eu entendo sim... — sussurrou Sandra. Ela
caminhou até a porta e girou corpo para me fitar. —
Milena, eu disse em nosso último encontro que
desejava que você tivesse a felicidade e o amor que
eu não tive, mas eu acredito que você já tenha tudo
isso e muito mais! Adeus! — Sua despedida era
agridoce. Enquanto eu observava a minha mãe
biológica ir embora, eu sabia que ela tinha razão.
Eu já tinha toda a felicidade e amor necessários na
minha vida.
Sandra realmente estava arrependida do que
me fez, eu vi isso em seus olhos pouco antes.
Porém, ela temia pela sua família e eu entendia
seus medos. Sabia que não seria nada fácil para
nenhuma de nós daqui para frente. E quanto
menos gente envolvida nesta história, melhor!
Capítulo 35

Edu

Estávamos no meu apartamento, aconchegados


na cama. Milena começou a contar sobre o
encontro com sua mãe biológica e o que aconteceu
com sua família nos últimos dias, quando eles
descobriram toda a história.
— Foi tão difícil, Edu! Eu nunca pensei que a
Sandra pudesse se jogar aos meus pés e implorar
por perdão! Muito menos que a dona Dalva
pudesse agradecer a Sandra.
— Eu entendo perfeitamente o que você está
sentindo, minha deusa! Para mim, foi muito difícil
perdoar o meu pai — falei enquanto afagava seu
cabelo. Milena sentou-se sobre o colchão e me
olhou com os olhos marejados. — E quanto a sua
mãe, eu faço dela as minhas palavras: agradeço a
sua mãe biológica por ter te dado a vida.
— Ela estava desesperada. Nunca vi ninguém
se humilhar tanto como a Sandra. — Ela afundou a
cabeça nas mãos chorando baixinho. — Foi tão
doloroso vê-la naquele estado de vulnerabilidade.
Todas as minhas inseguranças ressurgiram, mas
dessa vez foi mil vezes pior. — Ela ergueu os olhos
para me fitar e eu enxuguei suas lágrimas com o
polegar.
— Milena, eu sei que você sofreu muito, mas
acredito que a Sandra também sofreu. Como ela
mesma te disse, era jovem demais, além de ter a
família influente e ela estava noiva — argumentei
tentando amenizar a situação, mas era em vão.
— Você está defendendo o que a Sandra fez? —
indagou atônita tirando conclusões precipitadas.
— Não estou defendendo as atitudes da
Sandra. Eu apenas estou dizendo que não deve ter
sido nada fácil para ela.
— Nunca pensei que pudesse perdoá-la ou que
a minha família iria querer conhecê-la. — Milena
voltou a se aconchegar junto a mim.
— E como você está se sentindo depois de tudo
que aconteceu?
— Estou me sentindo livre, mas meu coração
ainda está um pouco angustiado — respondeu,
acariciando o meu peito.
— Eu me senti assim em relação ao meu pai.
Mas ao contrário de você, eu reaprendi a amá-lo
outra vez.
— Eu não sei se um dia amarei a Sandra. Acho
que isso seria exigir muito do meu coração.
— Faça somente o que o seu coração mandar,
meu amor! Só isso! — Beijei o topo de sua cabeça
com ternura.
— Eu estou fazendo, amor. Eu estou fazendo!
— sussurrou, fechando os olhos e adormecendo em
meus braços.

***

Dois meses depois...


— Eu que achei que eu nunca veria esta cena.
— Conrado estava gargalhando enquanto eu
experimentava o terno para o casamento, que era
daqui a três dias.
— Você se acha muito engraçadinho, não é
Conrado ? — rosnei, fazendo uma careta para ele,
que continuava rindo acomodado a uma poltrona
no ateliê do estilista que era responsável pelo
minha vestimenta.
— Isso precisa ser imortalizado. — Tânia falou
entusiasmada. A minha amiga ficou muito feliz
quando soube que eu iria me casar e fez questão de
indicar o seu estilista particular para fazer a minha
roupa e a da Milena, além de me acompanhar nas
provas do terno.
— Nem pensar, Tânia! — avisei ao perceber
que ela estava tirando uma foto minha com o
celular. — Eu não gosto de exposição!
— Ah Edu, você é um chato! — Ela mostrou a
língua. — Bem, eu preciso ir. Estou feliz por você e
pela Milena. Finalmente alguém conseguiu fisgar
seu coração. — Tânia me deu um beijo no rosto e
deixou o local.
— Nada mal, chefe. — Cassiano estava sentado
ao lado de Conrado . Eles vieram comigo para
acompanhar os últimos ajustes em minha roupa.
— Eu sempre arraso, garoto! — Deu uma
piscadinha para ele e nós três começamos a rir.
Após experimentar o terno e deixar tudo
acertado com o estilista, eu fui para casa esperar
por Milena. Achamos melhor unir as escovas de
dente antes mesmo de oficializar a união. Ela
estava morando comigo tinha um mês, e mesmo
seu Otávio não aprovando completamente a
situação, tivemos o apoio dele. Eu não poderia
estar mais feliz, dormindo e acordando ao lado da
minha amada.
Infelizmente, teríamos que realizar algumas
alterações na nossa vida profissional. Devido ao
nosso matrimônio, um de nós teria que deixar a
vara criminal em que estávamos atuando para
tomar posse em outra. Como eu não quis que
Milena sofresse uma mudança drástica em sua
rotina, muito em breve eu estaria atuando na Vara
das Execuções Criminais. Cassiano me
acompanharia, mas pelo ritmo em que estava indo
os seus estudos e as fases de seu concurso para a
magistratura, eu o perderia em breve como meu
assessor e teria mais um colega no judiciário.
Estava orgulhoso demais desse garoto. Ele merecia
toda a felicidade do mundo.
Quanto a Cibele, ela estava pagando pelo crime
que cometeu. Sendo ré primária e com uma família
influente, o advogado dela conseguiu converter sua
pena pelo crime de injúria racial em prestações de
serviços à comunidade.
Os pais da Cibele ficaram ao seu lado durante
o julgamento, mas seu Gilberto decidiu que a filha
precisa aprender a respeitar o próximo e entender
como era a vida de uma pessoa trabalhadora. Ele
parou de pagar suas contas, e como consequência,
ela ficou sem o apartamento luxuoso, empregadas,
cartão de crédito ilimitado e até mesmo o carro.
Para sobreviver, Cibele arrumou um emprego em
uma empresa e estava trabalhando pela primeira
vez na vida, em período de experiência. Se ela
conseguisse corresponder às expectativas da
empresa, teria a carteira de trabalho assinada,
senão, seria dispensada. Era claro que, ela tentou
de tudo para convencer o pai a mudar de ideia:
chorou, esperneou e até implorou, mas seu
Gilberto não ficou convencido e até mesmo proibiu
a esposa de tentar ajudá-la.
Como acordado em juízo, Cibele estava dando
palestras em escolas e entidades públicas sobre
discriminação e sobre responsabilidade social.
Encontrei seu irmão um dia desses e ele comentou
que ela estava irreconhecível. Todos os dias
utilizava o transporte público, acordava cedo e só
chega em casa à noite para dormir. Não usava mais
roupas de marcas e até mesmo diminuiu os
cuidados com o cabelo e andava sem maquiagem.
Até a maneira de falar mudou: estava mais
educada, o que para mim, foi a maior surpresa de
todas. Não estava completamente convencido, mas
torcia sinceramente para que essa mudança fosse
real.

***

Estava tão nervoso que conferi o horário no


relógio de pulso diversas vezes. Nem acreditava
que estava me casando hoje. Isso era surreal para
alguém que até pouco tempo, fugia de
compromisso como o diabo foge da cruz. Lancei
um olhar para os convidados que estavam
presentes na igreja e constatei que, além das
nossas famílias, estavam presentes todos os nossos
amigos e funcionários do Fórum e do Ministério
Público, com exceção da minha estagiária Glenda e
do delegado Ricardo. Honestamente, eu dei graças
a Deus por ele não ter vindo. Não desejava mal ao
Ricardo, pelo contrário, queria que ele fosse feliz e
encontrasse uma pessoa legal, mas que ficasse bem
longe da Milena.
Ao meu lado estavam os meus padrinhos:
Conrado e a sua mãe Wanda, Cassiano e Tânia. Do
outro lado, estavam os padrinhos da noiva: Lívia e
um amigo de infância da Milena que se chamava
Bernardo, Malu e Robson Valverde, um médico que
trabalha com ela. Parecia que esses dois últimos
eram mais do que amigos pelo modo íntimo como
conversavam e se tocavam.
A marcha nupcial começou e todos os
convidados se levantaram. Meus olhos se fixaram
na entrada e meu coração começou a bater
desgovernado. Em poucos segundos Milena surgiu
sorrindo e esplêndida em seu vestido de noiva.
Nesse momento nada mais existia além dela. O
vestido branco contrastava com a sua pele dourada,
deixando-a em evidência. Seu cabelo estava preso
em um coque e uma tiara cravejada com pequenas
pedras enfeitava a sua cabeça. Ela carregava um
buque de rosas vermelhas, que combinavam
perfeitamente com ela, pois o vermelho exalava
paixão, amor, vida. E Milena era tudo isso!
Seu Otávio conduziu a filha até o altar com o
semblante sério. Sabia que ele estava tendo
dificuldades em deixar outro homem cuidar de sua
“garotinha”, mas no momento tudo o que me
importa era que eu seria esse homem. A cada passo
dado por ela, o meu coração dava um salto. Milena
seria minha mulher. Seria minha para sempre e eu
seria dela!
Sua mão se uniu a minha e um sentimento de
plenitude me invadiu. Ela abriu um novo sorriso,
iluminando a minha noite e eu respirei fundo
controlando o amor e a excitação que tomavam
conta de mim.
— Tome conta da minha filha.
— Com certeza! — Apertei a mão dele e eu e
Milena ficamos de frente para o padre.
A cerimônia transcorreu normalmente e
chegou a hora tão esperada, a troca das alianças. Eu
me virei para Milena e segurei sua mão. Ela me
fitou com o olhar apaixonado, enquanto eu
encontrava as palavras que tinha preparado para
esse momento.
— Minha amada Milena, eu, Eduardo Luís
Guerra, recebo-te por minha esposa e prometo ser-
te fiel, estar ao seu lado na saúde e na doença, na
alegria e na tristeza e amar-te incondicionalmente
todos os dias da nossa vida. — Enquanto
pronunciava meus votos apaixonados, coloquei a
aliança em seu dedo anelar esquerdo, tornando-a
para sempre minha esposa.
Agora era a vez de Milena pegar a aliança e
fazer seus votos, com os olhos fixos nos meus.
— Meu amado Eduardo, eu, Milena Venturini,
recebo-te por meu marido e prometo ser-te fiel,
estar ao seu lado na saúde e na doença, na alegria e
na tristeza, e, sobretudo, a amar-te
irrevogavelmente todos os dias de nossa vida. —
Sorriu e colocou a aliança em meu dedo.
Nesse instante o padre disse para beijar a
noiva e a vontade que eu tinha era de dar um beijo
nada comportado na frente do sacerdote e deixar o
coitado morto de vergonha. Segurei na cintura de
Milena e beijei seus lábios brevemente, fazendo
um esforço enorme para não meter a língua na sua
boca. Aproximei os meus lábios do seu ouvido e ela
se arrepiou.
— A vontade que tenho é de rasgar esse seu
vestido e começar a nossa noite de amor aqui
mesmo! — rosnei baixinho e volto a fitá-la. Milena
engoliu em seco enquanto uma salva de palmas
ecoava dentro da igreja.
Momentos depois, estávamos na festa de
recepção aos convidados. Uma banda tocava de
tudo. Eu estava feliz e excitado, e a única coisa em
que conseguia pensar era na noite de núpcias. Não
via a hora de me despedir de todos e levar Milena
para a cobertura de um hotel luxuoso que aluguei
somente para a nossa noite especial. Sem falar na
lua de mel, que preparamos juntos.
Tiramos inúmeras fotos para guardar de
recordação. Inclusive, duas delas sairiam nas
colunas sociais, fazendo referência ao nosso
casamento. Depois de tantos flashes, agora era a
hora de fazer as honras, passando nas mesas e
cumprimentando os convidados. Recebemos os
votos de “felizes para sempre” da maioria dos
presentes, que estavam alegres com o nosso
casamento. Mas certamente eles não estavam mais
felizes do que eu e Milena, que me olhava com
amor e sorris para mim.
Quando nos aproximamos da mesa onde Elisa,
Sofia e meu pai estavam acomodados, a minha
irmã foi a primeira a se levantar para vir nos
abraçar. Eu me abaixei e Sofia pulou no meu
pescoço, radiante.
— Parabéns, pelo casamento, mano!
— Obrigada, minha princesa. — Ela foi até a
Milena e o gesto se repetiu.
Após sermos abraçados pela minha irmã, foi a
vez do meu pai e de Elisa se levantarem e vir nos
cumprimentar. Recebi um abraço apertado do meu
velho e um breve abraço de Elisa, que sorriu e
desejou felicidades para nós dois. A minha relação
com ela continuava do mesmo jeito, mas nos
respeitávamos. Cada um em seu canto.
— Parabéns, filho! — Seu Antônio deu um
tapinha camarada nas minhas costas. — Estou
muito feliz por vocês dois!
— Obrigado, pai! — Sorri de volta.
Deixamos a mesa do meu pai e chegamos onde
os pais da Milena e também Úrsula estavam. Dona
Dalva se levantou e vem nos cumprimentar
juntamente com Lívia. Elas nos desejaram
felicidades eternas e nos abraçaram com carinho.
Seu Otávio foi o último a se levantar. Ele abraçou a
filha com amor e em seguida se voltou para mim
com o semblante sério.
— Hoje eu entreguei a mão da minha filha
mais velha a você, Eduardo. E o único pedido que
eu tenho a fazer é que você a faça muito feliz!
— Pai! — Milena lançou um olhar reprovador
para ele.
— Não se preocupe seu Otávio. Eu amo demais
a sua filha e dou a minha palavra de que a Milena
será a mulher mais feliz desse mundo ao meu lado
— Minha declaração pareceu acalmar as
preocupações do meu sogro, que abriu um meio
sorriso.
— Ah, eu desejo que vocês sejam felizes para
sempre. Tão felizes como nos contos de fada —
falou Úrsula. — Afinal, ninguém melhor do que eu
para saber o quanto vocês dois passaram para
chegar até aqui. Vocês merecem toda a felicidade
desse mundo!
Após cumprimentar os pais da minha amada,
foi a vez de chegarmos à mesa onde se
encontravam os meus melhores amigos. Conrado ,
Cassiano e Nuno fizeram um enorme alarido
quando nos aproximamos. Eles nos
cumprimentaram com tanto entusiasmo que
despertaram atenção de algumas pessoas.
— Quem diria que o boêmio da turma iria se
aposentar? — A provocação veio do Nuno, que
estava bebendo um gole do seu champanhe.
— Olha só quem fala! — Sorri divertido. Nuno
sempre se deu muito bem com o público feminino.
Isso se devia ao fato de bonito e famoso.
— Estava na hora de um de nós usarmos a
coleira, não é? E como Conrado deixou claro que
não irá repetir a dose, sobrou para você! — Sabia
que o Nuno estava brincando, mas o irmão mais
velho o encarou rígido. Desde a morte da Alice,
nunca mais vi meu primo com mulher alguma e ele
ficava irritado quando comentávamos algo a
respeito.
— Eu desejo toda a felicidade do mundo para
vocês! — Conrado brindou, erguendo seu copo e
logo em seguida abraçou tanto eu quanto a Milena.
— Obrigada, Conrado . Nós já somos muito
felizes — disse a minha esposa.
— Nuno, será que seus fãs não vão te deixar
em paz nem no meu casamento? — Percebi que
alguns convidados ficavam rondando a mesa e os
mais atrevidos, pediam autógrafos e tiravam
algumas fotos. Sempre era assim quando meu
primo do meio estava presente em eventos sociais.
E não seria diferente em meu casamento!
— Sou uma pessoa pública e a fama tem seu
preço. — Ele deu de ombros, soltando uma risada
divertida.
Senti alguém abraçar as minhas pernas por
trás e girei o corpo com dificuldade. Era Gui, que
chegava para se juntar a nós. Abracei o meu
afilhado com carinho e, após conversar um pouco,
Milena avisou que era hora de jogar o buque.
Ela subiu em cima do palco e convocou todas
as mulheres da festa para se colocarem em sua
frente. Algumas entraram na brincadeira dizendo
que queriam se casar e que desejavam
desesperadamente um marido. Os demais
convidados caíram na risada achando graça das
frases que escutavam. Milena ficou de costas para
elas e começou o ritual.
— Um! — disse a minha esposa, fazendo
menção de jogar o buque. — Dois! — Ela repetiu o
gesto e alguns gritinhos ecoaram dentro do salão.
— Três! — E finalmente o buque foi lançado e caiu
nos braços de Lívia, que estava sentada na mesa
com seus pais. Ela arregalou os olhos em choque,
como se tivessem colocado uma cobra em suas
mãos em vez de flores.
— O quê?! Não, não, não!— Minha cunhada
começou a exclamar totalmente apavorada. Sem
saber direito o que fazer com as flores, ela
praticamente as jogou para a Malu, que abriu um
sorriso.
— Ah, Lívia! Buque doado não tem validade! —
Todos os convidados soltaram uma gargalhada
diante da situação.
Permanecemos na festa por mais duas horas
saboreando a deliciosa comida e bebida, além de
conversar com amigos e familiares. Mas era
chegado o momento de nos despedir e fazer a
nossa própria festa particular. Bebi o último gole de
champanhe e deixei a taça sobre a mesa. Enquanto
Milena se despedia de seus pais, eu me despedia
de minha mãe que estava emocionada com a
cerimônia. Dona Myrthes até chorou depois que eu
e a minha deusa trocamos de alianças no altar. A
minha mãe sempre foi muito sentimental quando o
assunto era casamento.
— Meu filho, eu estou tão feliz por vocês dois!
O casamento foi lindo e a recepção está
maravilhosa. Tudo muito bem decorado e o bufê
está divino.
— Obrigado, mãe. Eu sou o homem mais feliz
que existe — agradeci beijando sua testa.
Deixamos o casamento sob uma forte salva de
palmas dos convidados e nos dirigimos ao meu
carro que estava estacionado próximo a recepção.
Percebi que Milena olhava para os lados e se deteve
a entrar no carro. Abri a porta e lancei um olhar
especulativo para ela.
— Está tudo bem? — perguntei preocupado
dando uma breve olhada ao redor.
— Não sei. Sabe aquela sensação que tive
quando você me levou pela primeira vez na casa da
sua mãe? Pois é, eu estou sentindo de novo. Acho
que tem alguém me observando — respondeu com
o olhar perdido em direção ao aglomerado de
carros que se encontrava no estacionamento.
— Você está pensando que...
— Talvez... — Nós dois trocamos um olhar de
compreensão: sua mãe biológica. — Edu, vamos
sair daqui. Estou louca para chegar ao hotel e ficar
com você!
— Então somos dois! Estou doido para passar a
noite inteira te dando prazer, meu amor! — Beijei
seus lábios com paixão e ela se acomodou ao banco
do carona.
Meia hora depois, chegamos ao elevador do
hotel e as preliminares começaram ali mesmo.
Éramos bocas e mãos para todos os lados. Puxei a
saia do seu vestido para cima e encontrei a sua pele
lisinha e quente. Apertei as suas coxas e meus
dedos deslizaram em direção a sua calcinha de
renda.
— Ah, minha deusa! Não sei se aguentarei
subir mais sete andares para me enterrar em você
— disse por entre seus lábios enquanto afastava
sua lingerie para o lado e inseria o dedo médio em
sua boceta.
— Ahhh, Edu! — Milena estava enlouquecida!
Ficava inclinando a pélvis para frente e se
esfregando em meu pau sem dó.
Aumentei o ritmo das investidas e senti que
logo ela gozaria. Como eu não queria que o
primeiro orgasmo de Milena depois de se tornar
oficialmente a minha esposa, acontecesse com
meus dedos, eu os puxei para fora e ela
choramingou frustrada.
— Oh, não! — disse piscando os olhos
rapidamente. Eu levei os dedos à boca e chupei
com vontade a sua excitação. Milena abriu um
sorriso e passou a língua nos lábios me
provocando. — Meu safado gostoso! — Ela me
puxou pela camisa e me beijou com paixão.
Poucos minutos depois, saímos grudados do
elevador. Entramos na suíte nos despindo, sem
desgrudar as nossas bocas. A única dificuldade que
eu encontrava era em tirar o seu vestido e mais a
saia que o acompanhava.
O tesão era tanto que eu praticamente joguei a
Milena na cama. Tirei o restante de nossas roupas
íntimas e comecei a acariciar o seu corpo, passando
a língua em seu pescoço a apertando os seus seios
firmes. O meu pau não aguentava mais esperar e
doía em desespero.
— Ahhh, Edu! — Milena não parava de gemer
enquanto meus lábios tocavam os seus mamilos.
Chupei com voracidade, alternando entre um e
outro. Ela inclinou o corpo para cima, fechando os
olhos e mordendo os lábios.
Dei o devido carinho a cada um deles e desci
com a língua em sua pele quente e dourada. Lambi,
mordisquei e beijei as suas coxas e ela serpenteou
endoidecida. Abri as suas pernas e me aconchego
no meio de seu ventre.
— Minha deusa de ébano! Minha esposa! —
disse em tom possessivo, enquanto a penetrava
lentamente. Milena arquejou forte e entrelaçou
seus dedos em meu cabelo, se movimentando
junto comigo.
— Meu safado! Meu marido!
Suspendi um pouco a sua bunda do colchão e
comecei a meter, flexionando os quadris, batendo e
retrocedendo. Milena arquejava e se contorcia,
exigindo por mais. Nossos corpos agora estavam
em um movimento uníssono, se chocando
duramente, mas cheios de paixão e sentimento.
Bombeei com força, retirei meu pau e voltei a bater.
Segurei firme suas coxas e ergui as suas pernas,
apoiando-as em meu peito. O ritmo aumentou e
senti que não aguentaria por muito tempo. era
muito tesão e amor envolvido entre nós dois.
— Rebola junto comigo, minha deusa! — exigi
e Milena começou a se mexer em volta do meu pau.
— Caralho! Que delícia! — Com as mãos cravadas
em sua bunda e com as nossas bocas grudadas
uma a outra, atingimos ao clímax juntos, gemendo
e se debatendo de prazer. Eu enterrei a cabeça em
seu pescoço e ouvi o som dos nossos corações.
— Eu te amo desde o primeiro dia que te vi no
trânsito — falei ofegante em seu ouvido, beijando
seu pescoço.
— E eu te amo desde o primeiro dia que você
jogou seu celular dentro do meu carro — Ambos
nos remetemos à data de quando nos conhecemos
em um engarrafamento e sorrimos com a
lembrança.
Eu saí de cima dela e a puxei para os meus
braços. Milena se aconchegou e eu a abracei com
carinho.
— Além de ser a minha deusa de ébano, você
também é a deusa Themis, guerreira e justiceira,
mas que estava vendada para o amor em todos os
sentidos. — Eu afaguei seu cabelo enquanto me
remetia a mitologia grega.
— E você foi o responsável por tirar a minha
venda e mostrar o amor em todas as suas formas.
— Ah, é? — Abri um sorriso apaixonado.
— Sim, meu amor! — Ela me beijou os lábios e
sorriu.
Nesse instante senti o amor tomar conta de
tudo. O maior e mais sublime sentimento que
existia e que estava sempre em constante
julgamento em nossas vidas. Era esse sentimento
que movia o mundo e as pessoas. Era esse
sentimento que nos dava esperança de uma vida
melhor. Era o amor que transformava tudo.
Transformava tristeza em alegria, dor em prazer e
curava todas as feridas do coração e da alma.
Cena Extra

Conrado

Algumas horas antes...

Bebi mais um gole do meu uísque enquanto


observava meu primo Edu e sua esposa Milena
passarem as mesas para cumprimentar a todos. A
felicidade e o amor que sentiam um pelo outro
estavam estampados em seus olhos. Nunca pensei
que Edu fosse deixar a vida boemia para se casar.
Ele sempre foi avesso a compromissos mais sérios
e levava a vida na farra.
Estar no casamento do meu primo trazia
memórias vívidas à tona. Me recordei dos belos e
doces momentos que vivi ao lado de Alice, minha
falecida esposa, e meu coração se apertou. A partir
do dia que Edu me convidou para ser padrinho
dele no altar, que eu tinha estado muito nervoso.
Nunca mais tinha assistido casamento algum e não
poderia dizer não para meu primo que considerava
como um irmão. A sensação de estar presenciando
a troca de alianças e juras de amor, me deixou por
um momento sem chão.
Após a tragédia que aconteceu com a Alice que
eu me tornei um homem muito diferente. Em
todos os sentidos! Fechei meu coração para o amor
entre homem e mulher e passei a me dedicar
somente ao meu filho Guilherme, que era a razão
da minha vida. Desde então eu tinha conduzido a
minha vida de uma forma mais fria, desprovida de
sentimentos e de compromissos. Tinha meus casos.
E muitos! Dificilmente passava mais de duas noites
sem sexo. E quando começava, eu transava a noite
inteira. Não era qualquer mulher que me
aguentava. E isso tudo para quê? Para suprir a falta
que Alice fazia em minha vida. Ninguém a
substituiria!
Olhei para o lado e vi Gui e Sofia correndo e
brincando alegremente. Abri um sorriso ao
constatar que eles eram amiguinhos inseparáveis.
Meu filho merecia ser feliz e viver uma vida
normal. Era o que eu mais desejava!
— Perdido em seus pensamentos, mano? — A
voz de Nuno ecoou em meus ouvidos e me
despertando para a realidade.
— Estou apreciando a festa.
— Sei... — Ele me lançou um olhar
especulativo, deixando o copo de bebida em cima
da mesa. — Juro que não estou acreditando que
Edu se casou e que você foi um dos padrinhos. —
Deu uma risada divertida balançando a cabeça de
um lado para o outro.
— É... Nem eu! Mas não poderia recusar o
pedido.
— Sim, eu sei. Vocês se dão muito bem. — Um
silêncio pairou entre nós enquanto eu observava a
festa transcorrer animada. — Conrado, você não
pensa em ter alguém ao seu lado? Uma mulher que
seja boa para você e para o Gui? O garoto sente
falta de uma figura feminina presente ao lado dele.
— Ninguém suprirá a falta da Alice, Nuno.
Será que você não entende? — Estava incomodado
com o rumo da conversa. Por que meu irmão teve
que falar nesse assunto? — Gui tem figuras
maternas presentes ao lado dele. Ele tem a nossa
mãe, a nossa irmã Bruna e a minha sogra que
mimam o menino até demais.
— Sim, eu sei que ele tem. Mas eu só quero ver
você e o Gui felizes. Acredito que um novo
relacionamento te faria muito bem.
— Olha só quem fala! E você, Nuno, por que
ainda não se casou? Ou vai farrear o resto da vida?
— Eu ainda não encontrei a mulher certa. Sabe,
aquela que faz você ficar louco de tesão e paixão?
Pois é, ainda não achei! — Ele pegou outro copo de
uísque que um garçom deixou na mesa e bebeu um
gole da bebida.
— Do jeito que você é famoso e faz o que quer
com todas as mulheres que caem aos seus pés, eu
acredito que isso demorará a acontecer. — Nuno
abriu um sorriso safado e inclinou o corpo, se
aproximando. Tive um mau pressentimento. Toda
vez que Nuno tinha esse olhar, eu sabia que ia me
ferrar. Era assim desde que éramos crianças.
— Vamos fazer uma aposta!
— Uma aposta? Que tipo de aposta, Nuno?
— Conrado, quer apostar quanto que você vai
ficar de quatro por uma mulher bem antes do que
eu?
— Está falando sério?
— Muito!
— E apostaremos o quê? — Nuno pensou por
um instante e abriu outro sorriso.
— Uma viagem de 8 dias para Cancún.
— Você está arriscando alto, maninho. — Dou
uma risada sabendo que ele perderá a aposta. —
Ok! O primeiro que se apaixonar, perde a aposta. —
Estico a mão para ele e selamos o nosso
compromisso com um aperto de mãos.
Nuno sabia que eu não fugia de uma boa briga
e fazia isso somente para me provocar. Mas, gostei
do desafio proposto por ele. Queria só ver a cara do
meu irmão quando tivesse bancando a minha
viagem para Cancún. Porque EU ganharia essa
aposta!
Epílogo

Milena

Depois de passar a manhã fazendo compras


para partir em viagem de lua de mel com meu
marido amanhã, eu deixei a loja de roupas íntimas
e caminhei em direção ao meu carro. Estava ansiosa
para surpreender Edu com as novas peças de
lingerie e biquínis. Afinal, amanhã estaríamos em
lua de mel nas belas praias do nordeste e eu queria
ficar ainda mais desejável para ele.
Estava chegando ao carro quando vi Sandra
acompanhada de uma garota jovem muito bonita.
Não levei nem dois segundos para constatar de que
se tratava de sua filha, ou seja, minha irmã. As
duas eram muito parecidas fisicamente.
— Oi, Milena! — Sandra cumprimentou e se
aproximou mais um pouco, mas não fez nenhum
movimento para me tocar.
— Olá! — respondi e a jovem que a
acompanhava me olhou de maneira curiosa.
— Parabéns pelo seu casamento! Eu vi as fotos
na coluna social do jornal e fiquei muito feliz. —
Agora entendi tudo! Era ela que estava me
observando quando deixei festa com Edu. Eu sabia!
— Obrigada, Sandra!
— Essa é a minha filha, Karen. — Ela me
apresentou para a garota que continuava apenas
me fitando. Será que Karen sabia quem eu era?
— Muito prazer, eu me chamo Milena. —
Estiquei a mão em sua direção e ela hesitou por um
momento, mas em seguida correspondeu ao meu
cumprimento.
— Eu sei quem você é! Você é minha irmã. Mas
não se preocupe, eu não estou aqui para julgar
minha mãe ou você. — A maneira como ela falava,
indicava que Karen estava sendo sincera e eu me
senti relaxar. — Mamãe me contou tudo!
— Sim, nós somos irmãs.
— Será que poderíamos conversar um pouco
em outro lugar que não seja em um
estacionamento? — Após a sugestão de Sandra, eu
comecei a observá-la com mais atenção. Ela estava
tensa, olhando ao redor como se estive com receio
de ser reconhecida ou de encontrar seu marido.
— Claro! Mas eu não posso demorar muito,
pois estou de viagem marcada para a lua de mel e
ainda tenho que arrumar as malas — concordei
explicando a situação a ela.
— Tudo bem! — Sandra sorriu.
— Tem um café do outro lado da rua — disse
mostrando a direção. Guardei as compras dentro
do carro e saí com elas até a cafeteria.
Nós nos acomodamos na mesa e uma
garçonete se aproximou para fazer os pedidos.
Sandra e Karen preferiram tomar uma água sem
gás e eu as segui.
— Desculpe por te emboscar dessa maneira —
começou Sandra sem jeito. — Mas eu queria
apresentar você para a Karen.
— Sim, eu entendo. — Sinceramente eu não
entendia, mas o que eu poderia dizer quanto a
isso?
— Mamãe me contou sobre você e eu fiquei
curiosa em te conhecer. Eu não tenho irmãos e
sempre quis ter um. — Eu preciso admitir que
Karen parece ser uma garota meiga. Enquanto fala,
ela fica ajeitando uma mecha de seu cabelo cor de
mel atrás da orelha, sinal de que está nervosa com
esse encontro. Tento deixá-la o mais confortável
possível.
— Eu tenho uma irmã. Ela se chama Lívia. É
muito bom ter irmãos.
— Deve ser... —E, quando ela voltou a me fitar,
seu olhar estava angustiado. — Meu pai não sabe
sobre você e se descobrir, minha mãe estará na rua!
Eu acho que ele me expulsará também...
Nesse instante a garçonete se aproximou com
os nossos pedidos e, enquanto ela nos servia eu
tentava organizar meus pensamentos. Sandra
apertou a mão da filha sobre a mesa e voltou seu
olhar para mim. Percebi que as duas temiam ficar
sem um lar e meu coração se apertou. Quem era
esse homem frio com quem Sandra se casou?
Durante a conversa que tive com ela, no
apartamento da Malu, eu percebi que seu marido
era um ser humano desprovido de sentimentos. E
agora, diante do medo de Karen, eu constatei que
eu estava certa.
— Carlos não pode saber de nada, ele nunca
entenderia. — Sandra bebeu um pouco de água
para dissipar seu nervosismo.
— Não se preocupe, seu marido nunca saberá
sobre minha existência. E, se um dia ele souber,
não será por mim. Tenha certeza disso!
— Obrigada! — sussurrou a minha mãe
biológica.
— Milena, eu não sei o que é ter um irmão. Sou
muito sozinha... Eu posso vê-la de vem em quando?
A pergunta feita por ela me pegou totalmente
desprevenida. Bebi um pouco da minha água, pois
sentia a minha garganta seca. Fixei o olhar na
jovem de olhos claros, de pele bem branca e cabelo
longo cor de mel e meu coração voltou a se
comprimir em meu peito. Não estava em meus
planos manter relacionamento íntimo com a
família de minha mãe biológica.
— Karen, eu não quero arriscar a sua vida e
nem a da Sandra — argumentei, rezando para que
ela me ouvisse.
— Mas você não pode ser minha amiga? Tipo
uma amiga secreta? — Olhei para Sandra que
parecia suplicar com o olhar para que eu aceitasse
o pedido de sua filha. Deus! Isso não podia estar
acontecendo comigo!
— Tudo bem, seremos amigas secretas. —
Acabei me rendendo ao seu pedido, afinal de
contas, Karen era mais uma inocente no meio de
toda essa confusão.
— Sério?! — Ela se levantou e me abraçou. Eu a
abracei com carinho e lancei um olhar por cima de
seu ombro, em direção a Sandra que estava
emocionada.
Apesar de não ter a intenção de manter um
relacionamento aberto com minha mãe biológica,
eu me permiti envolver Karen na minha vida, da
mesma maneira que Edu fez com a Sofia. Tinha
certeza de que quando contasse as novidades para
meu marido, ele iria gargalhar da minha cara.
Também pudera. Eu insisti tanto para que ele
mantivesse um relacionamento com a meia-irmã e
seria muita hipocrisia da minha parte não fazer o
mesmo.

***

— Hum, que delícia! — Estava deitada na


esteira do hotel de frente para uma das mais belas
praias do nordeste, enquanto meu marido
distribuía beijos em minha boca e em meu
pescoço. Edu estava usando apenas uma bermuda
jeans, uma camiseta branca e um Ray-Ban. Ele tirou
os óculos escuros e colocou na gola de sua
camiseta. De imediato seu olhar verde acinzentado
me incendiou mais do que os raios do sol.
— Esse seu biquíni sexy está despertando a
atenção de alguns abutres, doutora Milena
Venturini Guerra. — Ele me tratou com um
formalismo divertido e sentou-se na esteira ao meu
lado. — E eu não estou gostando nem um pouco do
modo como eles estão olhando para você!
— Acho que você está exagerando, doutor
Eduardo Luís Guerra. Eu não vi nada! — Edu
inclinou um pouco o tronco para frente e se
aproximou.
— Você está comestível usando essa roupa
minúscula — sussurrou ao meu ouvido,
mordicando de leve a minha orelha. Estremeci.
— Ah, Edu! — Comecei a gemer enquanto suas
mãos deslizavam pelos meus braços sem parar.
— Se nós não estivéssemos cercados por essa
gente toda eu te comeria aqui mesmo!
— Edu! — Toda vez que ele começava a falar
dessa maneira comigo eu ficava ao mesmo tempo
envergonhada e excitada.
Edu se levantou abruptamente segurando em
minha mão. A expressão que ele trazia no rosto era
enigmática e repleta de luxúria. Tinha certeza de
que ele estava aprontando alguma sacanagem
delirante para o fim de tarde. Me ergui e peguei a
minha saída de banho. Mal deu tempo de vesti-la e
Edu saiu de mãos dadas comigo, atravessando a
piscina do hotel a passos rápidos.
— Para onde você está me levando?
— Para um passeio em uma praia deserta não
muito longe daqui — respondeu me guiando para
fora do hotel em direção a um carro que nos
espera. Ele interrompeu os passos e me encurralou
em um canto de pouca visibilidade. — Hoje eu vou
te comer ao ar livre, minha deusa de ébano.
— Desde quando você pensou nesta
sacanagem? — Eu mordi o lábio inferior e o
provoquei ainda mais.
— Hoje de manhã! — disse voltando a
caminhar comigo em direção ao buggy praiano que
nos aguardava.
Deixamos o hotel em direção à praia isolada.
Edu continuava me surpreendendo com as suas
atitudes a cada dia que passava. Eu gostava desse
clima inusitado e quente que ele me envolvia. Não
foi à toa que me apaixonei perdidamente por esse
homem. Ele era fogo puro!
Chegamos à praia que não ficava muito longe
do hotel e eu constatei a presença de poucas
pessoas. Alguns casais circulavam por ali,
banhando-se no mar ou tomando um banho de sol.
As mulheres aproveitavam que o ambiente era
quase deserto para fazer topless. O lugar era
paradisíaco, repleto de palmeiras e de algumas
rochas compostas por cavernas e lençóis de água.
O homem nos deixou e voltou para o hotel.
Edu se virou para mim e abriu o famoso sorriso de
morte que me deixa sem ar, sem chão e sem razão.
Eu voltei a ficar excitada. Ele agarrou a minha mão
e começamos a caminhar até uma das cavernas.
— Que lugar lindo! — exclamei ao contemplar
a beleza que o sol proporciona quando batia na
água do mar e refletia na parede rochosa.
— Você que é linda! — Edu me puxou ao seu
encontro e me beijou com ardor. Meu biquíni
praticamente saiu voando pela caverna, assim
como sua roupa.
Estávamos parcialmente imersos em um dos
poços que se formava com a maré, completamente
sozinhos. Edu avançou faminto e rosnando como
um louco. Ele acariciava meus seios com sua língua
e eu serpenteava dentro da água. Uma de suas
mãos descia até a minha bunda, apertando-a e
erguendo a minha coxa para cima.
— Edu, alguém pode nos ver...
— Sabe que essa ideia me excita! — Ele abriu
um sorriso perverso e deslizou os dedos em
direção ao meu clitóris, estimulando-o.
Não sabia se éramos nós que estávamos
quentes demais, ou se era o calor do local, mas a
temperatura da água subiu muito de um minuto
para outro. Me senti tão quente que estava prestes
a entrar em combustão.
— Ahhh, Edu! — Comecei a arfar enquanto ele
me dava prazer com os seus dedos, agora
estocando fundo e forte dentro de mim. Quando eu
estava próxima a explodir, ele retirou seus dedos
abruptamente.
— Agora é a vez do meu pau entrar em ação!
— Senti a cabeça de seu membro em minha
entrada e com um único impulso, ele me invadiu.
— Eu quero te comer todinha, minha deusa.
Todinha! — Seus movimentos se tornam intensos e
selvagens. A água começa a se mover seguindo
ritmo de nossos corpos e a única coisa que ouço
além de nossos gemidos, é o barulho das ondas
quebrando na praia.
— Não para, Edu! Não para! Ahhhh... — quase
gritei quando o senti pressionar meu útero. Seu
membro grosso e grande estava como sempre
implorando por mais, querendo mais, muito mais.
E eu lhe dei! Comecei a rebolar junto com ele e Edu
rosnou como um louco.
— Porra, Milena! Que delícia! Que delícia!
— Ohhh, Edu! Não vou aguentar...
— Então toma tudo que você tem direito,
minha deusa. Tudo! — Ele aumentou o ritmo dos
seus movimentos, me devorando com intensidade
como somente ele sabia fazer.
Gozamos juntos, gemendo e se debatendo
dentro da água. Eu o abracei forte e ele fez o
mesmo, beijando os meus lábios com a respiração
ainda ofegante.
Após o sexo explosivo dentro da caverna, nos
vestimos e sentamos na areia para apreciar o pôr
do sol que estava chegando. Estávamos diante do
azul do mar sem fim e uma infinidade de
esperanças e sonhos. Respirei fundo e senti a brisa
tocar de leve meu rosto. Entrelacei meus dedos aos
de Edu e nos olhamos com completa devoção.
Sorrimos um para o outro e não falamos nada.
Afinal, de que adiantava palavras diante de um
oceano de sentimentos que tomava conta de nós?

FIM

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