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DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL: UMA ANÁLISE DO

PERSONAGEM PROTAGONISTA DA SÉRIE DEXTER


Juliana Nascimento de Carvalho

RESUMO: Esse artigo tem por finalidade fazer uma análise do desenvolvimento psicossocial do
personagem protagonista da série Dexter, embasado nos estudos da disciplina Psicologia do
Desenvolvimento II: Adulto e 3ª Idade. Para isso, discorre-se sobre os aspectos da vida de Dexter
Morgan durante oito temporadas da série, onde se é possível notar suas fases e estágios de
desenvolvimento, desde a infância à vida adulta. A análise revela que as etapas
do desenvolvimento psicossocial, teoria criada pelo psicanalista Erik Erikson, respondem uma série
de etapas pelas quais um indivíduo saudável passa ao longo de sua história de vida. Cada etapa
caracterizada por uma crise psicossocial de duas forças em conflito.
Palavras-Chave: Análise de personagem, psicossocial, Dexter Morgan, desenvolvimento.

ABSTRACT: The purpose of this article is to analysis the psychosocial development of the
protagonist in the Dexter series, based on the studies of Developmental Psychology II: Adult and
Senior Citizens. For that, it discusses the aspects of the life of Dexter Morgan during eight seasons
of the series, where it is possible to notice its phases and stages of development, from childhood to
adulthood. The analysis reveals that the stages of psychosocial development, a theory created by the
psychoanalyst Erik Erikson, answer a series of stages that a healthy individual goes through
throughout his life history. Each stage characterized by a psychosocial crisis of two forces in
conflict.
Key Words: Character analysis, psychosocial, Dexter Morgan, development.

1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho decorre sobre a Teoria do Desenvolvimento Psicossocial que, segundo
Erik Erikson, é observada com o crescimento psicológico organizado por estágios e fases, sendo
influenciado pelo ambiente social que se encontra o indivíduo. Toda análise de personagem
contida neste artigo é refletida ao estágio enviesado por uma crise psicossocial, dentro de um
contexto positivo e negativo. Ambos são úteis, porém é importante que se destaque a crise em
modo positivo. A forma como cada crise é ultrapassada ao longo de todos os estágios influenciará
a capacidade para se resolverem conflitos inerentes à vida.
Ao desenvolvimento psicossocial do adulto são destacadas quatro abordagens: modelos do
estágio normativo, modelo do momento dos eventos, modelos de traço e modelos tipológicos. Em
modelos do estágio normativo, as mudanças da personalidade normativa que têm a ver com metas
pessoais, trabalho e relacionamentos ocorrem em estágios. Já em modelo do momento dos
eventos, o momento não normativo dos eventos da vida pode causar estresse e afetar o
desenvolvimento da personalidade. Os modelos de traço explicam que a personalidade muda
substancialmente até os 30 anos, e mais lentamente daí em diante. E, os modelos tipológicos são

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tipos de personalidade tendem a apresentar uma continuidade da infância até a idade adulta, mas
certos eventos podem alterar a trajetória de vida. (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2013).

2. HISTÓRIA DE VIDA
Aos três anos de idade Dexter Morgan testemunha sua mãe sendo assassinada por
um traficante de drogas, com uma serra elétrica. Foi encontrado ainda na cena do crime por um ex-
policial chamado Harry que, na oportunidade acabou sendo adotado por este.
Ainda em uma idade precoce, Dexter começa a matar e desmembrar animais. Seu pai
adotivo, percebe que Dexter é um potencial assassino em série. Depois que as tentativas de conter o
comportamento violento da criança falharam, Harry concluiu que a necessidade de Dexter de matar
não poderia ser anulada. Tirando o melhor proveito de uma situação ruim, o pai decide treinar
Dexter como um vigilante, apenas para caçar e matar outros assassinos. Para evitar a prisão, Dexter
segue um conjunto de diretrizes, o Código de Harry, ensinado por seu pai mas criado por uma
Psiquiatra, tendo como regra principal matar apenas quem “merece”.
Quando Dexter tinha 19 anos, seu pai adoeceu de uma doença coronariana e foi internado
em um hospital. Harry logo percebeu que uma enfermeira estava intencionalmente dando uma
overdose nas pessoas. À beira da morte, Harry deu a Dexter sua "permissão" para matar a dita
enfermeira. Esta seria a primeira morte humana de Dexter Morgan.
O pequeno Dexter cresceu e tornou-se um Especialista Forense, o próprio é era um analista
de respingos de sangue, coletando, processando e interpretando evidências para o Departamento de
Polícia do Metrô de Miami . Ele frequentemente usava sua habilidade de acessar bancos de dados
policiais ou adulterar evidências para seu benefício pessoal. Para complementar sua perícia forense,
Dexter dominou diversas habilidades. Ele era retratado como um mestre da manipulação, mentiroso
experiente, arrombador de fechaduras, ladrão, atirador, caçador e rastreador, combatente corpo a
corpo, ator, hacker de computador e personificador. Essas habilidades se mostraram necessárias
para manter sua vida dupla, realizando suas atividades noturnas e se mantendo um passo à frente do
próprio departamento em que trabalhava.
Apesar de sentir frequentemente o desejo de matar, Dexter exibia uma quantidade incrível
de autocontrole. Para sobreviver, era necessário que tivesse em controle com seus desejos sombrios
e seguindo as regras do Código. Além disso, mantia-se muito organizado em todas as áreas de sua
vida, como ter sua casa limpa e arrumada, escrever relatórios de laboratório meticulosos e planejar
cuidadosamente a maioria de suas mortes. Dexter reconhecidamente se autodenominava um
"maníaco por controle". 

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Em luta com seus próprios instintos, tentou por diversas vezes ser uma pessoal mais
sociável, porém, seu lado oculto sempre prevaleceu. O que fez Dexter manter-se inacessível.
Por muitos anos, Dexter viveu sozinho, não tinha interesse em romance e achou melhor
evitar o sexo. Ele aprendeu a ter cuidado com a intimidade porque geralmente quando uma mulher
chegava tão perto dele, ela ficava assustada. Mas ele sabia que precisa de um relacionamento para
se integrar à sociedade. Por isso, passa a namorar Rita Bennett. A princípio, ele considera seu
relacionamento com Rita parte de seu “disfarce”. Mais tarde, parece que ele se preocupa mais com
Rita do que deveria. Ele posteriormente se casa com Rita, após terem um filho chamado Harrison.
Por causa de suas interações com outro assassino em série, Dexter encontrou Rita
assassinada com um Harrison chorando sentado em seu sangue. Como essa era exatamente a mesma
posição em que ele estivera quando criança, Dexter ficou muito preocupado em saber se Harrison
seria afetado como ele foi.
Após a morte de sua esposa, Dexter pensou que ele não seria um pai solteiro adequado e
quase abandonou seu filho. No entanto, ele aceitou a responsabilidade e fez o que fosse necessário
para cria-lo. Para todas as aparências, ele era apenas um homem normal. Por ser um pai solteiro
ocupado, contratou uma babá para cuidar do filho nos momentos em que ele tivesse que trabalhar
ou cometer os assassinatos.
Muitas pessoas na vida de Dexter foram morrendo, geralmente por motivos relacionados a
suas atividades mortais da vida dupla. No final, para proteger aqueles com quem ele se importava,
ele abandonou Harrison aos cuidados de Hannah, uma também assassina em série que se tornou um
romance. Fingiu sua própria morte e mudou-se para um local nunca revelado.

3. ASPECTOS SOCIAIS
Frequentemente se refere a "humanos" como se ele não fosse um deles. Porém, ele
reconhece lealdade a sua família, especialmente a seu pai adotivo morto. Em relação a ele, Dexter
declarou: "Se eu fosse capaz de amar, como teria amado Harry." Após a morte do pai, sua única
família até se casar é sua irmã adotiva, Debra Morgan. Embora mate assassinos de maneira
implacável e ritualística, sem remorso, muitas vezes ele deseja poder levar uma vida normal. Suas
tentativas de fazer isso acabaram sendo infrutíferas.  

4. ASPECTOS COGNITIVOS
Dexter é retratado como altamente inteligente, introspectivo, pragmático, calculista,
implacável, geralmente destemido e um "mestre da compartimentalização". Ele gosta de desafios,
tem um senso de humor seco e está ciente de seus defeitos humanos.

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5. ASPECTOS PSICOLÓGICOS
Dexter frequentemente faz referência à sua sensação interna de vazio. Em sua juventude,
isso levou a tentativas de "sentir-se vivo". Como adulto, ele gosta da pressa que sente ao perseguir,
matar e fugir da captura. Outra característica de Dexter é seu senso de superioridade. Por seguir um
código, ele acredita ter valores morais mais elevados do que os assassinos que mata. Ele justifica
suas ações como "levar o lixo para fora". É um mentiroso experiente e, na maioria dos casos, os
espectadores deveriam confiar mais em seus pensamentos do que em suas palavras.
Embora Dexter mate assassinos que provavelmente matarão novamente, não é por causa de
sua bondade, nem para tornar o mundo um lugar melhor. Dexter simplesmente acha que é melhor,
além de mais seguro, matar criminosos em vez de inocentes.
Um aspecto importante de Dexter é seu Passageiro das Trevas, uma manifestação
psicológica de seu pensamento interior que representa seu desejo de matar. É um nível de
“escuridão” que ele só pode manter sob controle com alto grau de controle. Por muitos anos, Dexter
acredita que seu “Passageiro das Trevas” é uma “entidade” real. Eventualmente, ele vê o 'Passageiro
das Trevas' como um bode expiatório que ele culpa por suas ações. Às vezes, Dexter pensa que
outros assassinos também têm Passageiros das Trevas.

6. ASPECTOS RELIGIOSOS
Dexter não entendia de religião. Ele pessoalmente nunca acreditou em um poder superior,
além da orientação de seu pai, Harry Morgan.  Em alguns momentos insinua ser ateu, embora não
tivesse problemas com aqueles que seguiam uma religião.
A fé de Dexter foi testada em várias ocasiões, mas ele nunca pediu ajuda a uma divindade
espiritual. Ele encontrou seu próprio caminho para sair de situações ruins. A exceção foi quando ele
se deparou com uma situação que não poderia resolver sozinho. Seu filho em uma cirurgia para uma
ruptura de apêndice. Duas vezes durante essa situação, Dexter orou a Deus. Profundamente
preocupado, ele prometeu que faria qualquer coisa se Harrison estivesse bem. Ele não tinha certeza
se realmente acreditava em um ser superior, mas, no momento, ele só queria que seu filho
sobrevivesse. Após a notícia do sucesso da recuperação de seu filho, ele disse “Graças a Deus”.
Decidindo que seu filho se beneficiaria de um estilo de vida estruturado, ele matriculou
Harrison em uma escola católica, mas o que significa um assassino em série indo em busca de uma
vida espiritual? Dexter sempre soube que não queria passar seu lado “sombrio” para o filho, então,
decidiu que essa era a melhor forma de ensiná-lo.

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7. ASPECTOS SEXUAIS
Por muito tempo viveu sozinho, não tinha interesse em romances e achou melhor evitar o
sexo. Mostrava ser heterossexual e aprendeu a ter controle da intimidade, porque sempre que uma
mulher tentava se aproximar, acabava assustada. Mas iniciou relacionamentos para se integrar à
sociedade e facilitar os assassinatos, todavia, sempre manteve sexo casual.

8. PRINCIPAIS FATORES DO DESENVOLVIMENTO IDENTIFICADOS NA


INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA E ADULTEZ
A necessidade de Dexter de matar decorre de um incidente na infância. Quando aos três
anos, ele testemunhou o assassinato brutal de sua mãe. Ele então foi deixado sentado em sangue por
dois dias. O incidente traumático fez com que algo dentro de Dexter "mudasse" e ele renasceu como
um assassino.
Quando bebê, era uma criança feliz e saudável, antes desse ocorrido. Os impulsos assassinos
de Dexter tomaram forma pouco antes da adolescência e foi sua irmã adotiva, Debra, quem viu os
sinais primeiro, mas ela não percebeu o que significava. Dexter havia desmontado cada uma de suas
bonecas, a demonstração de um desmembramento humano.
Analisando o desenvolvimento na infância de Dexter, a agressividade tanto física quanto
social tem fontes genéticas e ambientais, mas a influência relativa das duas difere. Entre 234
gêmeos de 6 anos de idade, a agressividade física era 50 a 60% hereditária; o restante da variação
era atribuível a influências ambientais não compartilhadas (experiências únicas). A agressividade
social é muito mais influenciada pelo ambiente; a variação era apenas 20% genética, 20% explicada
por influências ambientais compartilhadas e 60% por experiências não compartilhadas (Brendgen et
al., 2005).
Por que testemunhar violência leva à agressividade? Em um experimento clássico de
aprendizagem social (Bandura, Ross e Ross, 1961), crianças entre 3 e 6 anos observaram
individualmente modelos adultos se entretendo com brinquedos. As crianças de um dos grupos
experimentais viam o modelo adulto brincar em silêncio. O modelo para um segundo grupo
experimental passava a maior parte da sessão de dez minutos socando, chutando e atirando para os
lados um boneco inflável de tamanho natural. Um grupo-controle não viu nenhum modelo. Depois
das sessões, as crianças, que ficaram um pouco frustradas por ver brinquedos com os quais não
podiam brincar, entraram em outra sala de brinquedos. As crianças que tinham visto o modelo
agressivo agiram de maneira muito mais agressiva do que as dos outros grupos, imitando muitas das
coisas que viram o modelo dizer e fazer. As crianças que tinham visto o modelo silencioso eram
menos agressivas do que o grupo-controle. Esse achado sugere que os pais talvez estejam aptos a
moderar os efeitos da frustração servindo como modelo de comportamento não agressivo.

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Na adolescência, Dexter sempre manteve antissocial e focado apenas em aprender mais
sobre seus desejos mortais. Começou a caçar com um rifle, já que ele passou por um extenso
treinamento com armas de seu pai. Matou e enterrou vários animais. Aos 19 anos praticou seu
primeiro assassinato humano e desde então não parou, sempre preferindo arma branca, pois assim
ele achava ser uma morte mais íntima.
Segundo (Dishion, McCord e Poulin, 1999), a maneira como os adolescentes antissociais
conversam, riem ou sorriem maliciosamente a respeito da quebra de uma regra e acenam
intencionalmente entre si parece constituir uma espécie de “treinamento para o desvio”. Essas
crianças-problema continuam a induzir uma parentalidade ineficaz da parte dos pais, que prediz
comportamento delinquente e associação com grupos de pares desviantes ou gangues.
Os que têm maior probabilidade de persistir na violência são meninos que tiveram
influências antissociais muito precocemente. Os que têm menor probabilidade de persistir são
meninos e
meninas que sempre tiveram um bom desempenho escolar e meninas que apresentaram
desenvolvimento pró-social desde a infância (Kosterman et al., 2001). Uma vez que o caráter dos
adolescentes ainda está em constante mudança, muitos psicólogos do desenvolvimento condenam a
tendência atual de transferir infratores juvenis do sistema judiciário juvenil, que é voltado à
reabilitação, para os tribunais criminais, onde eles podem ser julgados e condenados como adultos
(Steinberg, 2000; Steinberg e Scott, 2003).

9. ATUAL ETAPA DO DESENVOLVIMENTO EM QUE O PERSONAGEM SE


ENCONTRA
O protagonista Dexter encontra-se na fase adulta, vivendo uma vida dupla. Estabelecendo
uma vida estável de assassinato ritualístico, dobrado com sua vida como analista forense. Casa e
torna-se pai, tenta proteger o filho de modo que, este não veja nele um modelo a ser seguido e por
fim acaba viúvo.
O desenvolvimento atual de Dexter mostra que, o comportamento humano é resultado da sua
plena interação com o meio em que vive. O cérebro desenvolve uma atitude diferente do meio
ambiente que o circula. Para que os aspectos psicológicos sejam desenvolvidos em um âmbito
saudável, na vida adulta, este deve ser preservado na infância e adolescência. Assim, posteriormente
responderá efetivamente aos estressores vitais, resguardando os estímulos para os quais ainda se
encontravam imaturos.

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10. ANÁLISE FINAL SOBRE O PERSONAGEM CONSIDERANDO TODAS AS
INFORMAÇÕES LEVANTADAS
A ênfase dessa análise foi centrada nas informações coletadas sobre o protagonista de
série Dexter Morgan, baseado em todas suas atitudes calculadamente frias e criminosas. A primeira
etapa e talvez a mais importante do desenvolvimento de Dexter pode estar atrelada à inexperiência
de seu pai em entender essa série de comportamentos duvidosos como pedido de ajuda. Ainda que
tenha procurado estar próximo ao filho, este pois projetou sobre ele a personalidade de um homem
com uma série de fantasias sádicas, as quais afundaram ainda mais seu psiquismo de excitações. Ele
ainda terminou a última temporada com dúvidas sobre sua identidade e o que fazer dali para frente,
após os últimos acontecimentos. Previsto o lançamento de novos episódios da série, o que permitirá
observar ainda mais seus aspectos e a permanência da sua vida dupla por mais tempo sem
condenação.
O caso Dexter mostra evidentemente como pode ser recusada a imagem comum. É
possível, por meio desse caso emblemático, elaborar estratégias clínicas para acolher o sujeito que
optou consciente e inconscientemente pela violência perversa, oferecendo-lhe espaço para novas
simbolizações e novas possibilidades subjetivas mais integradas ao laço social.

Referências:
BEE, Helen. Teorias do desenvolvimento. A criança em desenvolvimento. 9 ed. Porto Alegre:
Artmed, 2003.
PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto
Alegre: AMGH Editora, 2013.

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