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SINDROME DE ESTOCOLMO
PRIMAVERA DO LESTE-MT
20/03/2024
SINDROME DE ESTOCOLMO
A Síndrome de Estocolmo tem suas raízes em um evento marcante ocorrido na capital sueca
em 23 de agosto de 1973. Naquele dia, durante um assalto à filial do Kreditbanken, localizada
na Praça de Norrmalmstorg, em Estocolmo, o assaltante Jan-Erik Olsson invadiu o banco
armado com uma metralhadora e explosivos, com a intenção de realizar um roubo. Após um
intenso tiroteio com a polícia, Olsson manteve quatro pessoas como reféns, enquanto fazia
uma série de exigências, incluindo armas, dinheiro, um carro e a liberdade, além de solicitar a
presença do criminoso conhecido Clark Olofsson, então encarcerado e notório no país. O
período de cativeiro estendeu-se de 23 a 28 de agosto de 1973. Durante o período em que
estiveram sob o controle dos sequestradores, os reféns desenvolveram laços emocionais com
seus captores, fenômeno que se tornou evidente quando, confrontados pelas táticas policiais
para sua libertação, eles recusaram ajuda e chegaram até a proteger seus sequestradores,
utilizando seus próprios corpos como escudo e atribuindo a responsabilidade do evento às
autoridades encarregadas de resolver a situação.
No ano de 2019, 53,8% desta violência era contra meninas com menos de 13
anos. Esse número sobe para 57,9% em 2020 e 58,8% em 2021. [...] Quanto à
característica do criminoso, esta continua a mesma: homem (95,4%) e
conhecido da vítima (82,5%), sendo que 40,8% eram pais ou padrastos; 37,2%
irmãos, primos ou outro parente e 8,7% avós. TEMER, Luciana; VIOLÊNCIA
SEXUAL INFANTIL, OS DADOS ESTÃO AQUI, PARA QUEM QUISER VER. 2022.
Disponível em: 14-anuario-2022-violencia-sexual-infantil-os-dados-estao-aqui-para-
quemquiser-ver.pdf (forumseguranca.org.br). Acesso em: 14/09/2022.
Não é incomum que algumas vítimas não desenvolvam traumas após o término da situação.
Esse fenômeno psicológico pode ser identificado em outras circunstâncias, como a relação
entre escravos e seus senhores, ou em indivíduos sujeitos a assédio moral no local de trabalho.
Em todos esses casos, características distintas incluem uma relação desequilibrada de poder,
ameaças de violência física ou psicológica e um período prolongado de intimidação. As
vítimas geralmente não estão cientes da Síndrome de Estocolmo, e seu principal objetivo é
proteger sua própria integridade. Após estabelecer uma conexão com o sequestrador,
assaltante ou agressor, as emoções e o estresse intensos podem levar a vítima a interpretar
qualquer gesto gentil do agressor como uma forma de proteção. Isso pode gerar um
sentimento de empatia, já que, nesse momento, a relação entre vítima e agressor é o foco
principal. Para ilustrar esse fenômeno, apresentarei um caso real e dois fictícios, destacando a
diferença entre o cativeiro físico, onde a vítima é fisicamente restringida em um local
específico com apenas o sequestrador, e o cativeiro psicológico, onde a vítima pode ter
liberdade de movimento, mas ainda se sente aprisionada por suas lembranças.
O filme "3.096 Dias de Cativeiro" é baseado no livro autobiográfico que se tornou um best-
seller internacional, escrito por Natascha Kampusch, uma austríaca que foi vítima de um caso
real relacionado à Síndrome de Estocolmo. Natascha nasceu em 17 de fevereiro de 1988, em
Viena, Áustria, e foi sequestrada em 2 de março de 1998. Durante oito longos anos, Natascha
foi mantida em cativeiro no subsolo, como se estivesse enterrada viva, em um pequeno quarto
sem janelas, onde era subjugada, indefesa e isolada. Quando as luzes eram apagadas, ela
enfrentava dias de escuridão total, e muitas vezes ficava sem comida e com racionamento de
água, resultando em subnutrição. Além disso, era obrigada a trabalhar intensamente, sofrendo
abusos físicos e verbais. Seu agressor, Wolfgang Priklopil, um homem de trinta e cinco anos,
a sequestrou quando ela tinha apenas dez anos de idade, enquanto ela estava a caminho da
escola. Natascha permaneceu em cativeiro por 3.096 dias, até conseguir escapar em 23 de
agosto de 2006. Embora cada caso deva ser analisado individualmente, existem cinco critérios
para classificar a Síndrome de Estocolmo. O primeiro desses critérios estipula que é
necessário que haja um trauma para que a síndrome possa ser considerada. No caso de
Natascha, o trauma foi desencadeado pelo próprio sequestro, que a separou de sua família, de
sua casa e de seus amigos, privando-a de sua vida normal. Na época do sequestro, Natascha já
enfrentava dificuldades em seu relacionamento com os pais, que estavam separados e
constantemente brigavam. Por ser apenas uma criança, ela acreditava nas palavras cruéis de
seu sequestrador, que a manipulava com atos perversos, dizendo que seus pais estavam felizes
por não tê-la por perto, que ela não era boa o suficiente e não tinha valor, e que o mundo lá
fora não a queria de volta. Consequentemente, Natascha sentia uma obrigação de gratidão
para com o homem que a submetia a humilhações físicas e psicológicas.
“(…) Priklopil queria apenas criar seu próprio mundinho perfeito, com uma
pessoa que estivesse ali só pra ele. Provavelmente ele nunca teria podido fazer
isso do jeito normal e decidira, assim, forçar e modelar alguém para isso. Em
essência, ele não queria nada mais do que as outras pessoas: amor, aprovação,
calor. Queria alguém para quem ele fosse a pessoa mais importante do mundo.
Ele parecia não ter visto outro modo de conseguir isso senão sequestrando uma
menina tímida de 10 anos e a afastando do mundo exterior, até que ela
estivesse tão psicologicamente alheia que ele pudesse ‘recriá-la'”.
(KAMPUSCH, 2011, p.330).
O filme "O Diabo Veste Prada" é uma adaptação do livro homônimo de Lauren Weisberger,
que revela os bastidores da influente revista de moda de Nova York, a Runway Magazine,
explorando os intricados caminhos do mundo da moda.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É possível inferir que a Síndrome de Estocolmo desencadeia uma ligação emocional entre o
agressor e a vítima de maneira inconsciente. Em busca de autopreservação, a vítima busca
entender melhor seu agressor, resultando em uma relação amistosa na qual ela passa a não
mais reconhecê-lo como alguém que a colocou em perigo, mas sim como um protetor a ser
protegido daqueles que estão "de fora" e buscam puni-lo. Esta relação vítima-agressor pode
tornar-se mais significativa do que o desejo da vítima de ver seu agressor punido pelo
sofrimento causado.
Apesar da falta de estudos exclusivamente dedicados à síndrome, uma vez que ela não é
formalmente reconhecida como patologia, diversos estudos investigam a relação entre a
Síndrome de Estocolmo e outros eventos, como sequestros e assaltos. A mente da vítima cria
uma estratégia ilusória para proteger sua psique. A identificação emocional com o
sequestrador ocorre como uma forma de distanciamento emocional da realidade perigosa e
violenta à qual a vítima está submetida.
Como visto nos casos de Natascha e nos exemplos fictícios, as vítimas demonstram
comportamentos hostis de maneira inconsciente em relação àqueles que tentam expor a
verdadeira natureza de seus agressores ou sequestradores. Isso inclui a redução da capacidade
de se comunicar adequadamente com outras pessoas, incluindo o agressor, a incapacidade de
manter contatos sociais, desacreditar ou prejudicar sua própria reputação pessoal, além de
afetar negativamente sua saúde física e mental, submetendo-se a procedimentos
desnecessários. Concluímos que, através das similaridades observadas nos casos
mencionados, as vítimas buscam aceitação de seus sequestradores, identificando-se de
maneira a conquistar lealdade a eles, utilizando essa ligação emocional como uma estratégia
ilusória para proteger sua psique, embora ainda mantendo uma esperança de fuga, mesmo que
acompanhada por um sentimento de impotência.
É imperativo realizar mais estudos e divulgação científica sobre essa psicodinâmica, para que
as vítimas possam reconhecer e compreender a situação em que se encontram, identificando-
se como vítimas da Síndrome de Estocolmo. Este reconhecimento é essencial para quebrar o
ciclo de silêncio co-dependente e buscar a ajuda profissional necessária. Embora a Síndrome
de Estocolmo não seja formalmente reconhecida como uma patologia, deveria ser considerada
como tal, dada a complexidade e relevância dos aspectos relacionados a ela, conforme
evidenciado por este estudo. Portanto, recomenda-se que a investigação sobre esse tema seja
conduzida em diversas áreas do conhecimento, a fim de aumentar a conscientização sobre o
sofrimento causado por essa síndrome. Isso permitirá que aqueles que sofrem possam
encontrar o apoio necessário e alcançar um prognóstico positivo, similar ao experimentado
pelas personagens estudadas.
REFERENCIAS
FRANKEL, David. O DIABO VESTE PRADA. Direção. Los Angeles. 20th Century Fox
Film Corporation, 2006.
HORMANN, Sherry. 3096 DIAS DE CATIVEIRO. Constantin Film, Paris Filmes. Alemanha,
2013.
SALVADOR, Luiz. ASSÉDIO MORAL: DOENÇA PROFISSIONAL QUE PODE LEVAR À
INCAPACIDADE PERMANENTE E ATÉ À MORTE. Jus Navigandi, Teresina, a. 6, n. 59,
out. 2002.