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FORTALEZA
2017
FRANCISCO HERON CAVALCANTE FELIX
FORTALEZA
2017
FRANCISCO HERON CAVALCANTE FELIX
Área de concentração:
Data da apresentação:
Resultado:______________________
BANCA EXAMINADORA:
Prof.
Universidade Cidade de São Paulo ______________________________________
Prof.
Universidade Cidade de São Paulo ______________________________________
Dedico este trabalho a minha amada Gabriela
e a minha querida sogra, dona Leurice, pedras
fundamentais de minha família sem cujo apoio
esta conquista não seria possível.
AGRADECIMENTOS
Concrete structures are the predominant constructive method in our country; Therefore, the
issue of control and prevention of pathologies, which can occur in several stages of a
construction, is quite relevant. Sources of additional costs in construction projects, such
pathologies can be assessed as risks and have, upon them, typical tools of risk control in
planning applied. This work presents a list of the main pathologies and their manifestations,
through a bibliographic review, and adapts the analysis to the city of Fortaleza, through the
use of a specific database, which presents the characteristic occurrences of this city. It then
presents the risk matrix tool, adapting it in order to analyze pathologies and generating, with
the specific database and two hypothetical cases, two risk matrices as a result. As a
conclusion, na analysis of the usefulness of this tool for strategic planning and its adaptability
to tactical and operational approaches is performed.
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 10
1.1 Problema de Pesquisa....................................................................................................... 16
1.2 Delimitação da Pesquisa................................................................................................... 16
1.3 Objetivos (gerais e específicos) ....................................................................................... 17
1.3.1 Objetivo geral................................................................................................................. 17
1.3.2 Objetivos específicos...................................................................................................... 17
1.4 Metodologia....................................................................................................................... 17
2 O CONCRETO ARMADO................................................................................................. 19
2.1 Componentes do concreto armado.................................................................................. 19
2.1.1 Cimento........................................................................................................................... 21
2.1.2 Agregados....................................................................................................................... 21
2.1.3 Água................................................................................................................................ 24
2.1.4 Aditivos............................................................................................................................ 26
2.1.4.1 Aceleradores................................................................................................................. 26
2.1.4.2 Retardadores de pega................................................................................................... 27
2.1.4.3 Redutores de água (plastificantes)............................................................................... 27
2.1.4.4 Superplastificantes........................................................................................................ 28
2.1.4.5 Impermeabilizantes....................................................................................................... 29
2.1.5 Aço................................................................................................................................... 29
3 ANÁLISE DE RISCOS EM PROJETOS DE CONSTRUÇÃO CIVIL......................... 31
4 RISCOS E ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO............................................... 33
5 PATOLOGIAS EM CONCRETO ARMADO.................................................................. 40
5.1 Panorama geral................................................................................................................. 40
5.2 Fatores específicos: a deterioração do concreto............................................................. 45
5.2.1 Ações mecânicas............................................................................................................. 45
5.2.2 Ações físicas.................................................................................................................... 46
5.2.2.1 Variações de temperatura............................................................................................. 46
5.2.2.2 Abrasão......................................................................................................................... 47
5.2.2.3 Erosão........................................................................................................................... 47
5.2.2.4 Cavitação...................................................................................................................... 47
5.2.2.5 Retração........................................................................................................................ 47
5.2.2.6 Ciclo gelo/degelo.......................................................................................................... 49
5.2.2.7 Calor de hidratação...................................................................................................... 50
5.2.2.8 Temperaturas elevadas................................................................................................. 50
5.2.3 Ações químicas................................................................................................................ 53
5.2.3.1 Ácidos............................................................................................................................ 53
5.2.3.2 Água pura..................................................................................................................... 53
5.2.3.3 Sais de magnésio........................................................................................................... 53
5.2.3.4 Ataque por sulfatos....................................................................................................... 54
5.2.3.5 Reação álcali-agregados.............................................................................................. 54
5.2.3.6 Carbonatação............................................................................................................... 54
5.2.4 Ações biológicas.............................................................................................................. 55
5.3 Fatores específicos: a deterioração das armaduras....................................................... 56
5.3.1 Corrosão.......................................................................................................................... 56
5.3.1.1 Mecanismos de corrosão.............................................................................................. 57
6 MANIFESTAÇÕES DE PATOLOGIAS.......................................................................... 60
6.1 Nichos e vazios................................................................................................................... 60
6.2 Fissuras.............................................................................................................................. 60
6.3 Desagregação do concreto, eflorescência e lixiviação.................................................... 64
7 ANÁLISE DAS PATOLOGIAS COMO RISCOS........................................................... 65
7.1 Patologias em Fortaleza................................................................................................... 65
8 MATRIZES DE RISCOS.................................................................................................... 69
9. LEVANTAMENTO DE DADOS: INSPEÇÃO E AVALIAÇÃO DE PATOLOGIAS 71
10 CASO HIPOTÉTICO: CONSTRUÇÃO DA MATRIZ DE RISCOS.......................... 75
11. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 79
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 80
10
1. INTRODUÇÃO
O Brasil possui uma economia com grande potencial de crescimento econômico, porém
uma vez que a construção civil possui participação relevante no PIB nacional, e é sensível a
flutuações na economia do país, está sujeita a períodos de estagnação e falta de recursos; é,
portanto, necessário que se aprofundem os estudos e ferramentas relacionados aos vários
aspectos de seu controle, minimizando gastos.
Souza e Ripper (1998), afirmam que o campo da patologia das estruturas se constitui
em "um novo campo da engenharia das construções que se ocupa do estudo das origens,
formas de manifestação, conseqüências e mecanismos de ocorrência das falhas e dos sistemas
de degradação das estruturas".
Gestão de riscos tem se tornado mais relevante na construção civil ao longo das últimas
décadas, o que tem envolvido vários subprojetos incluídos – no que tange às estruturas usuais
de concreto armado, sua durabilidade e, portanto, a prevenção e controle de suas patologias
despontam como relevantes, face às normas e legislação ora vigentes.
Wideman (1999), traçando um quadro geral do impacto dos riscos sobre um projeto ao
longo do tempo, possibilita uma análise primária ao longo do ciclo de vida de um projeto; em
seguida, ao identificar os riscos de forma discretizada, divide-os em classes, uma das quais de
riscos relacionados à construção (além de riscos econômicos, contratuais, políticos e de
gestão), o que aponta a relevância desta etapa.
12
A vida útil de uma estrutura está ligada a sua manutenção; segundo Helene (2004), “os
custos de intervenção na estrutura para atingir um certo nível de durabilidade e proteção
crescem exponencialmente quanto mais tarde for essa intervenção”. Tal afirmação explana a
chamada “regra de Sitter”, que estima esse custo segundo uma progressão geométrica de
razão 5.
Pode-se explicar o exposto na figura 5, de acordo com uma intervenção executada em:
Tais análises de riscos, embora possam conter outras camadas de análise, não abordam
as estruturas de concreto de forma específica. A abordagem mais comum em projetos de
construção civil baseia-se no tripé custo, prazo e qualidade – uma análise mais abrangente, no
entanto, é mais realista e mais produtiva, diferenciando-se a adequabilidade de métodos
quantitativos e qualitativos de análise (DE MARCO, 2014).
Embora levantamentos e descrições de patologias já tenham sido realizadas no Brasil,
no Ceará e mesmo em Fortaleza, a análise de tais fatores como riscos e a utilização de uma
ferramenta específica para este fim mantêm-se como oportunidade de pesquisa, sobre a qual
este trabalho se debruça. Para tanto, foi revisada extensa bibliografia e assinalados conceitos
mais relevantes ligados ao campo da pesquisa.
Este trabalho não almeja esgotar tal pesquisa: ao contrário, deseja-se estimular esta
abordagem no que tange às patologias, assinalando pontos mais importantes e sugerindo uma
ferramenta para análise.
No que diz respeito a edificações com estrutura usual em concreto armado, como
utilizar patologias como riscos, elencando-as na forma de parâmetros para a construção de
uma matriz específica para esta parcela da análise de riscos de um projeto de construção?
Este trabalho tem por objetivo principal construir uma matriz específica de riscos,
utilizando parâmetros relacionados a patologias em estruturas usuais de concreto armado, com
dados pertinentes à cidade de Fortaleza, Ceará.
1.4. Metodologia
aqui, a escolha estratégica foi pelo método misto sequencial, em que se deseja elaborar ou
expandir os resultados de um método com a utilização de outro método.
A revisão bibliográfica, elaborada de forma a prover compreensão do problema,
também seguiu a metodologia mista, focando em características de pesquisa qualitativa (coleta
de dados e compreensão do problema) e quantitativa (provendo direcionamento para que se
atinjam os objetivos); em uma abordagem sequencial, a literatura é apresentada em cada fase,
de forma consistente com o método ali empregado (CRESWEL, 2009).
Sinteticamente, dos parâmetros utilizados para a construção de uma matriz de riscos
específica para estruturas de concreto, dois foram objetivos (classe de agressividade ambiental,
“An”, e frequência, “fn”) e um foi subjetivo (gravidade da patologia, “Gn”). Este último, no
entanto, baseia-se em critérios estritamente objetivos; torna-se um parâmetro subjetivo pela
necessária interpretação dos dados que gera o parâmetro, uma vez que depende do profissional
envolvido. A parcela subjetiva pode, ainda, ser refinada, de forma a tornar-se mais objetiva –
este, porém, não foi o escopo deste trabalho.
Por fim, a ferramenta apresentada tem como aplicação uma análise qualitativa de
projetos estruturais, em sua fase de planejamento.
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2. O CONCRETO ARMADO
2.1.1. Cimento
Define-se cimento Portland como a mistura obtida pela mistura de calcário, argila ou
outros materiais silicosos, alumina e materiais que contenham óxido de ferro. Essa mistura é
queimada à temperatura de clinquerização, sendo o material resultante dessa queima, o
clínquer, moído. Nenhum material, além de gipsita (sulfato de cálcio), água e agentes de
moagem deve ser adicionado após a queima. Em contato com água, os silicatos e aluminatos se
hidratam – em uma reação exotérmica, mensurável pelo parâmetro “calor de hidratação” –,
formando compostos que, com o tempo, produzem uma massa sólida e resistente; a grosso
modo, essa mudança do estado fluido para o rígido denomina-se “pega” (NEVILLE e
BROOKS, 2013).
A depender da composição química, cimentos diferentes apresentam propriedades
diversas, o que levou à geração de variados cimentos, visando a assegurar a durabilidade do
concreto sob condições específicas.
O Brasil produz uma ampla gama de cimentos, com normatização específica.
2.1.2. Agregados
Definidos pela NBR 9935 como “material granular, geralmente inerte, com dimensões
e propriedades adequadas para a preparação de argamassa ou concreto”. Correspondendo a
aproximadamente 75% do volume do concreto, sua qualidade é de grande importância:
limitam a resistência do concreto e refletem diretamente sobre sua durabilidade e desempenho
estrutural.
Os agregados utilizados no concreto possuem dimensões entre 10mm e 50mm (20mm
em média); para resultados de maior qualidade, utiliza-se a separação em duas partes, sendo o
valor referencial 5mm, correspondente à peneira ASTM no 4, resultando na divisão entre
agregados graúdos e miúdos, como as areias por exemplo – à distribuição das dimensões
denomina-se granulometria.
22
Uma vez que a absorção representa a água contida no agregado (na condição saturado
superfície seca) e o teor de umidade é a água excedente a essa condição, compreende-se que,
ao determinar-se a quantidade total de água nas misturas, o valor do teor de umidade deve ser
obtido para correção da massa de água a ser adicionada à mistura.
No caso da areia, a umidade causa um aumento de volume, alterando sua densidade e
seu consumo – num fenômeno chamado “inchamento”. Assim, a fim de evitar-se alteração na
proporção de materiais, é necessário defini-la em função das massas respectivas, e não dos
volumes. Convém assinalar que o volume relativo dos agregados (em relação ao da pasta de
cimento) influi na trabalhabilidade do concreto – que, por sua vez, deve ser equilibrada de
forma a evitar a segregação.
Cuidado também deve ser tomado de forma a evitar contaminação por impurezas
orgânicas, argila (e outros finos, que formam películas e prejudicam a aderência),
contaminação por sais (potencial oxidação das armaduras), uso de partículas instáveis
(afetando a resistência do concreto).
24
2.1.3. Água
𝑉𝑐 2
fc = K[𝑉𝑐+𝑉𝑤+𝑎𝑟]
onde:
fc é a resistência do concreto;
Vc, Vw e ar são os volumes absolutos de cimento, de água e ar aprisionado;
K é uma constante.
2.1.4. Aditivos
Define-se, de acordo com a NBR 11768, aditivo como produto que adicionado em uma
taxa máxima de 5% da massa de material cimentício, altera suas características tanto no estado
fresco quanto no estado endurecido. Além disso, trata-se de produto durante o processo de
preparação do concreto, na etapa da mistura – enquanto adição é o produto adicionado na etapa
de produção do cimento.
Neville e Brooks (2013) listam como principais os seguintes tipos de aditivos:
2.1.4.1.Aceleradores
2.1.4.4. Superplastificantes
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2.1.4.5. Impermeabilizantes
2.1.5. Aço
Regulados por parâmetros estipulados pela ABNT, os aços utilizados para projetos
estruturais são classificados como CA-25 e CA-50, para barras, e CA-60, para fios. Os
diâmetros e seções transversais nominais são definidos pela NBR 7480. Adota-se, como massa
específica, o valor de 7850 kg/m3.
A interface entre aço e concreto é fundamental para a função estrutural; assim, os fios e
barras podem ter superfícies lisas, entalhadas ou possuindo mossas – o coeficiente η1
quantifica a capacidade aderente.
30
(A) (B)
No tocante a relação entre vida útil funcional de edificações e vida útil estrutural, esta
última desponta como de grande importância; sendo definível, de forma genérica, pela relação
entre distribuições estatísticas das ações sobre tais estruturas, efeitos ambientais
compreendidos como “A”, e da resistência de seus respectivos materiais, uma parcela
controlável em projeto e aqui compreendida como “R”, entregando como resultado a
segurança da edificação em si, “S” (BRANCO et al, 2013). Os conceitos de durabilidade
estrutural e de manutenção (este diretamente relacionado com a variável “A”) destacam-se,
portanto, constando explicitamente nas atuais normas técnicas brasileiras; entre estas,
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destacamos a NBR 6118, que define como a “capacidade de a estrutura resistir às influências
ambientais previstas e definidas em conjunto pelo autor do projeto estrutural e pelo
contratante, no início dos trabalhos de elaboração do projeto”.
Para o cálculo estrutural, a NBR 6118 determina que as ações, em favor da segurança,
deverão ser majoradas pelo coeficiente γ f:
γf = γf1 . γf2 . γf3
onde:
Nos casos de pilares (e pilares-parede) com dimensões entre 19cm e 14cm e de lajes
em balanço, os esforços solicitantes devem ser multiplicados por um coeficiente adicional γ n.
Tabela 12 – coeficiente adicional γn para pilares e pilares-parede.
do concreto, deslocamentos de apoio, etc. Assim, parâmetros utilizados para análise de suas
repercussões sobre as estruturas e sobre seus respectivos cálculos, embora concentrem-se no
que diz respeito às reações na estrutura, seguirão essa lógica.
A qualidade do concreto armado executado tem relação intrínseca com os índices
previamente apresentados e a relação acima; destacam-se entre outros fatores, a relação
água/cimento e a classe de concreto utilizada – vide tabela 4 abaixo –, além do cobrimento
nominal mínimo das armaduras (definidos segundo as classes de agressividade ambiental –
vide tabela 5).
Embora não seja o escopo deste trabalho, a durabilidade das estruturas, é importante
frisar, segue em paralelo à durabilidade de elementos não-estruturais, que lhes são acessórios
e, portanto, incluem-se no esforço de manutenção total de uma edificação. É o caso de juntas
de dilatação, revestimentos impermeabilizantes, aparelhos de apoio, entre outros.
Uma matriz de riscos específica, utilizável para análise de estruturas usuais de
concreto, possuirá, portanto, como fundamental uma etapa de listagem de eventos
compreendidos como deletérios a tais estruturas: as patologias.
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Correntes elétricas
Por fim, a NBR 6118 também elenca as principais causas de patologias, de forma
sucinta:
Gerados por solicitações externas, com tensões e esforços superiores aos admissíveis
em condições de serviço, são eventos nos quais formam-se anomalias que iniciam um
processo deletério.
Enumeram-se:
a) impacto: ação de curta duração, com tensões elevadas na superfície do
elemento estrutural, eventualmente gerando esforços superiores à resistência projetada - pode
ocasionar fissuração, deformação ou mesmo rompimento ou colapso da estrutura;
b) cargas excessivas: não estipuladas em projeto, podem provocar fissuração
excessiva, propiciando o início de outras deteriorações;
c) deslocamentos: podem gerar esforços elevados, quando gerarem
excentricidade, por exemplo. Neste sentido, De Souza (2003) realizou interessante estudo de
caso acerca das causas de ruptura de estacas em uma edificação – devido à variação das
características do solo no terreno, não percebidas na sondagem. O concreto armado, em geral,
não possui capacidade de deformação que possa acomodar deslocamentos significativos (e os
esforços que lhes são consequentes);
d) explosões: ações instantâneas, geradas por uma abrupta liberação de energia;
podem ter diversas causas – ondas de choque, calefação, etc.
e) vibrações: ações contínuas e recursivas (seguindo uma frequência, como em
caso de maquinário) ou de curta duração, como no caso de sismos.
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Uma vez que implicam em variação de volume, gerando movimento que, se contido,
gera tensões de compressão ou tração; tais ações, no caso de superarem a resistência do
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concreto, podem gerar fendilhamento, destacamento, entre outras manifestações. Pode ser
considerada uma modalidade de retração.
5.2.2.2.Abrasão
5.2.2.3.Erosão
Desgaste da camada superficial em função de água, vento e ar, pode ser agravado pela
presença de irregularidades e partículas sólidas em suspensão;
5.2.2.4.Cavitação
5.2.2.5.Retração
Assim, no gráfico acima, explana-se que é importante que o momento de retirada das
formas gere tensões que sejam inferiores à resistência do concreto à tração (f ctm) – a NBR
14931 é bem clara ao afirmar que “escoramentos e formas não devem ser removidos, em
nenhum caso, até que o concreto tenha adquirido resistência suficiente para suportar a carga
imposta ao elemento estrutural nesse estágio, bem como evitar deformações que excedam as
tolerâncias especificadas e resistir a danos para a superfície durante a remoção.
d) retração química: no processo de hidratação do concreto, a água quimicamente
fixada sofre contração de volume; gera aumento dos vazios internos do concreto.
Uma vez que o concreto não possui, particularmente, grande resistência a esse tipo de
ataque, essa categoria é uma das principais causas de deterioração das estruturas. Como
principais processos químicos com efeitos nocivos, enumeram-se:
5.2.3.1. Ácidos
Salvo se houver infiltração constante, trata-se de processo bastante lento; carreado pela
água (lixiviação), o hidróxido de cálcio reage com o CO 2 atmosférico, precipitando-se em
crostas de carbonato de cálcio.
Ocorre quando álcalis liberados pela hidratação do cimento reagem com agregados
reativos, gerando um gel higroscópico expansivo. Podem ocorrer em duas modalidades:
a) ataque álcali-sílica: forma-se um gel ao redor dos agregados de rochas silicosas, que
se dispersa em solução, em uma reação expansiva na presença de umidade – implicando em
tensões internas e fendilhamento, geralmente acompanhada de eflorescências.
b) ataque álcali-carbonatos: formam-se zonas de reação em torno das partículas de
agregados, implicando em fendilhamento tanto paralelamente à interface com a pasta de
cimento quanto radialmente.
5.2.3.6. Carbonatação
g) ataque por cloretos: tais íons podem ser introduzidos no concreto em sua produção,
quer em seus componentes quer em aditivos, ou podem estar presentes no ambiente em que o
elemento estrutural se encontra. Atacam a camada de passivação do concreto e as armaduras,
em mecanismo analisado posteriormente.
5.3.1. Corrosão
O concreto é um ambiente protetor para as armaduras contra a corrosão, tanto por sua
composição química (com pH básico) quanto pela barreira física em que se constitui. Apesar
disso, não é um composto inerte; sua composição, sua porosidade e capilaridade e a própria
natureza de sua execução, que possibilita variações quanto a fatores como cobrimento e
compactação, além da comum presença de fissuras (que, em virtude da classificação de
agressividade do ambiente da cidade de Fortaleza como III possui relevância), torna
necessária a análise desta categoria de ação deletéria de forma mais detalhada.
Helene (1986) estabelece quatro fases no processo de penetração de agentes
agressivos:
d) Fase D: diminuição de pelo menos 25% da seção das barras de aço, com risco de
ruína estrutural.
b) uma zona catódica, onde há reações com o oxigênio, liberando hidroxila (OH-).
H2O + 1/2O2 + 2e 2OH-
O resultado gera, na solução, íons H+ e Cl- livres, o que reduz o pH, atacando a
camada de passivação de concreto (H+), e realimenta todo o processo (Cl-).
6. MANIFESTAÇÕES DE PATOLOGIAS
Onde:
6.2. Fissuras
Além deste critério, a inspeção visual permite compreender os esforços que originam a
fissuração e a gravidade do dano. Souza e Ripper (1998) expuseram algumas das
peculiaridades de tais manifestações:
63
flexão
torção
tração
perda de aderência
Figura 30 – fissuras em interações entre elementos estruturais: torção (A) e punção (B)
(B)
(A)
Uma vez determinado, de forma geral, um quadro das patologias do concreto armado,
prossegue-se com a análise das manifestações patológicas propriamente ditas, sob o ponto de
vista de riscos estruturais.
Embora nenhum dado tenha sido coletado de edificações com uso classificado como
industrial, a maior parcela (76,76%) encontrava-se inserida em um ambiente salino (onde a
névoa salina atinge o mais alto grau de agressividade) ou urbano. Apesar de manter sigilo
acerca dos dados, coletados da Divisão de Materiais (DIMAT) do Núcleo de Tecnologia
Industrial do Ceará (NUTEC), a autora afirma que esta grande maioria pertence à capital,
Fortaleza.
Da Silva (2011) construiu um rol de patologias representativas para o Brasil: fissuras,
infiltrações, corrosão de armaduras, desagregação, segregação, manchamento superficial,
deformações excessivas, eflorescência, fungos. Em seguida, restringiu a abrangência desta
lista, catalogando a ocorrência ou não de cada uma, bem como a porcentagem de incidência.
67
Uma vez que é afirmado que “76,67% das obras coletadas que apresentaram algum
tipo de manifestação patológica no estado do Ceará localizadas em sua capital” (DA SILVA,
2011), os dados de áreas urbanas e salinas serão adotados para representar Fortaleza e,
portanto, isolados em um novo grupo amostral, de 24 obras, a ser utilizado.
69
8. MATRIZES DE RISCOS
Definir a gravidade de uma patologia para uma determinada estrutura requer método
específico para identificação e diagnóstico. Granato (2002) propõe dois níveis de inspeção
para que se obtenham os dados necessários.
Será adotada a técnica “GUT” (gravidade, urgência e tendência) para construir uma
matriz como resultado de uma inspeção regular. Tal técnica “baseia-se na ponderação do grau
de comprometimento (ou da criticidade) para cada enfoque analisado nas incorreções
construtivas” (GOMIDE et al, 2011). Adotam-se 5 graus de comprometimento nesta técnica.
74
Uma vez que os pré-requisitos para se alimentar uma matriz de riscos são um valor ao
qual seja associado o dano (na matriz acima, o equivalente ao campo “nota”) e a
probabilidade de ocorrência deste dano, é possível agora construir uma matriz específica
voltada a patologias estruturais, com base na expressão:
Rn = An x Gn x fn
Onde:
Rn – risco associado a um evento “n” (a ser inserido nas células da matriz de riscos);
An – índice associado à agressividade ambiental do local em que a estrutura ou o
elemento estrutural se encontra;
Gn – gravidade associada a um evento “n”;
fn – frequência associada a um evento “n”.
Ao contrário da matriz “GUT”, a matriz de riscos não tem por objetivo estabelecer
prioridade de intervenções de manutenção. Trata-se de uma ferramenta de gestão de projetos,
associada portanto a auxílio na tomada de decisões de projetos estruturais, dentro de um
contexto de melhoria contínua.
Os índices “An” serão construídos de forma crescente, com o único objetivo de
estabelecer uma hierarquia entre si, permitindo coerência entre os resultados.
75
Fonte: autor
0-20% (raro);
20,01-40% (improvável);
40,01 – 60% (possível);
60,01-80% (provável);
80,01-100% (quase certo).
Por fim, uma vez que a agressividade do ambiente será levada em conta, os resultados
terão serão categorizados em intervalos:
Fonte: autor
Fonte: autor
78
Fonte: autor
A partir destes resultados, é possível construir duas matrizes de risco, específicas para
as estruturas de concreto “A” e “B”.
Fonte: autor
79
Fonte: autor
REFERÊNCIAS
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Mestrado. Universidade de São Paulo.
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de Janeiro, 2011.
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PRITCHARD, Carl L. Risk Management – Concepts and Guidance. 5th Edition. Florida,
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