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SÃO CARLOS
2023
JOSÉ CAIO COUTO BEZERRA CARNEIRO
SÃO CARLOS
2023
RESUMO
Este projeto de pesquisa tem como objeto a proposição de um dispostivo de reforço estrutural
com potencial aplicação em pilares de estruturas em concreto armado, a fim de mitigar o
colapso progressivo proveniente de ruína de pilar em edifício com lajes lisas. A otimização é uma
das ferramentas utilizadas para racionalizar o uso de determinado dispositivo. Neste caso, o objetivo
principal é obter o melhor material conciliando tipologias de colapso progressivo, cuja simulação consistirá
na análise da ruína, total ou parcial, de pilar e a eficiência do dispostivo no combate à propagação deste
fenômeno. A formulação desta otimização deve levar em consideração os aspectos que contribuem para
a capacidade de absorção de energia por parte do dispositivo a falhas de estado limite decorrentes de ruína
do pilar, que podem levar à instabilidade global da estrutura. Além disso, estudos de custo-benefício,
a fim de encontrar o ponto de mínimo custo esperado total, são necessários para justificar o
potencial mercadológico do dispositivo. Ainda no contexto de justificar a aplicação do produto,
a vinculação do pilar a simular no modelo mecânico será em laje lisa protendida, tendo em vista
ser um sistema estrutural de ampla utilização nos últimos anos, pelas vantagens construtivas e
arquitetônicas. A escassez de estudos focados em propor dispositivos para combate a colapso
progressivo é o principal motivador desta pesquisa.
1.2 Objetivos.................................................................................................................... 7
3 METODOLOGIA ......................................................................................................... 39
6 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 58
6
1 INTRODUÇÃO
Embora a probabilidade de falha de uma estrutura civil seja baixa ao contrapor dados
de estruturas úteis e falhas, desde que dimensionadas e executadas em prerrogativas
normativas, sabe-se que nos excepcionais casos de ruína, vidas podem ser perdidas, que é um
custo imensurável e que deve demandar estudos que mitiguem cada vez mais esses
fenômenos indesejados.
7
Diante disso, é notória uma lacuna na literatura sobre dispositivos que aliem a
mitigação de causas diversas de colapso progressivo, principalmente simuladas em sistemas
estruturais de amplo uso. Além disso, essas proposições de reforço estrutural precisam ter
suas propriedades físicas e geométricas otimizadas e baseadas em custo-benefício, para
justificar uma potencial aplicação mercadológica.
1.2 Objetivos
O objetivo principal desta pesquisa é otimizar a capacidade do dispositivo a fim de
contribuir como um absorsor de energia em eventual colapso progressivo da estrutura
advindo de ruína de pilar pelas causas de impacto lateral e incêndio. Ressalta-se que este
dispositivo também deve ter mínima interferência arquitetônica. Diante disso, os objetivos
específicos são:
1.3 Justificativa
Embora haja uma quantidade significativa de pesquisas sobre colapso progressivo em
estruturas de concreto armado, contemplando tipologias de colapso provenientes de danos
diversos, a literatura ainda carece de pesquisas que proponham soluções para mitigação
desses fenômenos indesejados (KIAKOJOURI et al., 2022).
Sabe-se que os custos de falha advindos de ruína em pilares são mais significativos
que os custos advindos de ruína nos demais elementos (BECK et al., 2022). Além disso, a
literatura, apesar de ser escassa no tema, concentra dispositivo de mitigação de colapso
estrutural no elemento pilar (RANDAXHE et al., 2021; STAROSSEK, 2017; ZHOU e YU,
2004), o que justifica a escolha deste elemento estrutural como o enfoque desta pesquisa, em
termos de análise de ruína e aplicação do dispositivo. Ressalta-se que as causas de ruína no
pilar a analisar serão advindas de incêndio e impacto lateral em decorrência de os dispositivos
já propostos na literatura terem como enfoque essas ações.
Ademais, as estruturas com lajes lisas protendidas são uma solução cada vez mais
adotada, especialmente em estruturas de múltiplos pavimentos, em decorrência de vantagens
econômicas: menor consumo de concreto pela redução da espessura da laje em decorrência
da protensão, racionamento eficiente do sistema de formas pela ausência de vigas, além dos
benefícios arquitetônicos decorrentes da possibilidade de maiores vãos e layout mais flexível
no posicionamento das alvenarias. Essas estruturas protendidas são comumente usadas em
situações que demandam vãos maiores, para as quais a ruína de um pilar pode ser ainda mais
prejudicial do que estruturas convencionais em concreto armado. Pesquisas focadas no
colapso progressivo deste tipo de estrutura ainda são escassaz (ADAM et al., 2018), o que
justifica a tipologia estrural a analisar nesta pesquisa.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O primeiro foco especial neste fenômeno foi em 1968, com o colapso parcial do
Ronan Point Apartment Tower, localizado em Londres (Figura 1). Esta estrutura era formada
por painéis pré-fabricados de concreto armado e sua construção foi pelo sistema Larsen-
Nielsen, a fim de minimizar custos de insumos e de mão de obra. Contudo, por falhas na
distribuição de esforços advindas da descontinuidade entre os elementos, houve um colapso
parcial na estrutura. Uma situação em que a minimização de custos interferiu na segurança
da estrutura (PEARSON et al., 2005; RUSSELL et al., 2019).
Após o episódio do Ronan Point, outros colapsos foram registrados e pesquisas foram
desenvolvidas para tratar o tema, geralmente em decorrência de algum novo colapso.
Entretanto, a comunidade científica passa a circundar o tema com maior constância após o
atentado ao World Trade Center, 2001, em Nova Iorque, devido à comoção mundial que o
evento causou. Neste caso, as duas superestruturas mostraram grande capacidade em
redistribuir esforços após a perda de pilares do perímetro externo da estrutura no impacto das
aeronaves. Contudo, a explosão causada pelo combustível dos aviões, e o incêndio
subsequente, foi suficiente para que a integridade da estrutura fosse comprometida e o
edifício entrasse em colapso progressivo (BAZANT et al., 2002).
A literatura sobre colapso progressivo e tópicos afins vem crescendo ao longo dos
anos, consolidando uma base de estudos e pesquisas, com a publicação de pelo menos quatro
livros e uma quantidade significativa de artigos de revisão (KIAKOJOURI et al., 2022).
Dentro desse contexto, o tema convergiu em segmentações, os quais delimitam as tipologias
de colapso, em suma, variando ação (causa) e local (elemento estrutural).
Figura 2 – (a) Colapso em estrutura delgada; (b) Colapso em estrutura não delgada.
(a) (b)
Por fim, os colapsos do tipo mixed são caracterizados quando duas ou mais tipologias
citadas são combinadas em uma ocorrência de colapso progressivo. O colapso represetando
pela figura 2.b representa esta tipologia, pois combina os tipos pancake e domino, mais
suscetível em estruturas não esbeltas.
Diante disso, entendendo esses sistemas como as estruturas, seus modos de falha
podem ser escritos por meio de equações de estados limites 𝑔𝑖 (𝐗), sendo 𝑖 o 𝑖-ésimo modo
de falha, em termos de um vetor de variáveis aleatórias X, cujos domínios de falha
elementares são dados por:
𝐿𝑆𝑛
𝛺𝑓𝑆𝑌𝑆 =∪𝑖=1 𝛺𝑓𝑖 (3)
13
A fim de determinar um intervalo mais preciso, pois desconta a interseção dois a dois
entre os diversos modos de falha, também pode-se aplicar os limites bi-modais, considerados
mais precisos que os uni-modais, com um nível de aproximação já satisfatório para diversos
tipos de problemas:
𝑛𝑙𝑠 𝑖−1 𝑛𝑙𝑠 𝑛𝑙𝑠
𝛻𝑔(𝑦 ∗ )
𝛼(𝑦 ∗ )=‖𝛻𝑔(𝑦 ∗)‖ (8)
Segundo Kiakojouri et al. (2022), o foco no colapso progressivo induzido pelo fogo
só surgiu após grandes desastres de colapso induzidos por este fenômeno. Das pesquisas que
propõem dispositivos de mitigação, resultantes deste foco, a maioria é mais voltada para
estruturas metálicas, como o dispositivo proposto por Randaxhe et al. (2021), Figura 4,
devido à maior fragilidade quando comparada com estruturas de concreto armado, embora
colapsos severos devido ao fogo também possam ser ocasionados nestas estruturas.
17
Como dito antes, as pesquisas sobre colapso progressivo são escassas no tocante à
proposição de soluções, como os dispositivos citados, na literatura. Além disso, percebe-se
19
𝐸𝑎 (𝛿)
𝑆𝐸𝐴 = (9)
𝑚
𝛿𝑚á𝑥
𝐸𝑎 (𝛿) = ∫ 𝐹(𝛿)𝑑𝛿
0 (10)
Além do parâmetro SEA, é importante que durante o impacto, a força máxima, 𝐹𝑚á𝑥 ,
não seja muito elevada e que a estrutura possua alto valor de Crush force efficiency (CFE),
cuja definição é dada pela equação 11.
20
𝐹𝑚é𝑑𝑖𝑎
𝐶𝐹𝐸 = (11)
𝐹𝑚á𝑥
𝐸𝑎
𝐹𝑚é𝑑𝑖𝑎 = (12)
𝛿𝑚á𝑥
𝐹𝑚é𝑑𝑖𝑎 , equação 12, é a força média durante o impacto, enquanto que 𝛿𝑚á𝑥
corresponde ao deslocamento relativo à 𝐹𝑚á𝑥 .
Estas variáveis de projeto serão otimizadas em uma pesquisa em paralelo a esta, que
realizará uma otimização multiobjetivo, conciliando a resistência ao fogo e a capacidade de
dissipação energética em impacto ortogonal e perpendicular à direção do plano, de um corpo
de prova honeycomb.
A partir de meados dos anos 1990, o Brasil, por meio da Companhia Siderúrgica
Belgo-Mineira, passou a ter oferta de cordoalha engraxada para estruturas protendidas
(MELGES, 2001). Ao longo dos anos, este recurso estrutural que era mais comum em obras
de infraestrutura, passou a ser utilizado também em edifícios de grande porte e residências
de alto padrão. Isso se deve porque estruturas de concreto, comprimidas pelo efeito da
protensão, adquirem maior rigidez pela redução significativa de fissuras, possibilitando
deslocamentos menores em vãos maiores que os usuais de estruturas não protendidas.
22
Embora o insumo cordoalha para protensão seja historicamente mais caro que a
armadura passiva, as vantagens estruturais de estruturas protendidas em termos de redução
de armadura passiva, estão motivando cada vez mais construtores a adotar esta tecnologia
em suas obras, inclusive pelas vantagens em termos de maior liberdade arquitetônica, com a
possibilidade de vãos maiores, como também pela facilidade de execução e compatibilização
de projetos. Dentre as tipologias de lajes protendidas, uma das que mais se destaca nas
contruções atuais, é a de lajes lisas protendidas (Figura 8.b).
(a) (b)
Neste tipo de laje, não há vigas e nem engrossamento na laje ao redor do pilar, como
é necessário em lajes cogumelo (Figura 8.a), o que envidencia as vantagens citadas
anteriormente. Contudo, do ponto de vista estrutural, isso só é viável economicamente pelo
uso da protensão nestas estruturas, que permite o combate ao fenômeno da punção, que pode
gerar uma ruptura frágil na ligação laje pilar e consequente colapso progressivo, sem a
necessidade de engrossamentos ao redor do pilar ou de aumento expressivo na espessura da
laje.
Ressalta-se que as lajes cogumelo eram mais utilizadas antes da popularização do uso
da protensão, quando, pelas demandas de projeto, solicitava-se ao projetista que não
houvesse vigas na estruturas. Para possibilitar isso sem o uso da protensão e sem aumentar a
espessura da laje significativamente, a melhor solução era o engrossamento da ligação laje
23
pilar (Figura 9), localizado apenas na região de puncionamento, para viabilizar o combate a
este efeito. Após a oferta de protensão no país, este tipo de solução caiu em desuso.
Além da escassez de estudos focados nesta tipologia, outra razão para a análise do
dispositivo absorsor de energia ser em pórticos com laje lisa é a sua notável aplicação em
edifícios garagem, cujos pilares tendem a ter uma área próxima livre de painéis de vedação,
o que facilitaria o encamisamento do dipositivo, como ilustrado na Figura 10.
Cada elemento de pórtico possui dois nós e três graus de liberdade para cada nó
respectivo. A Figura 11 representa estes elementos e as forças nodais em cada nó, tanto para
o sistema global, como para o sistema local.
𝐊. 𝐮 = 𝐟 (10)
Uma vez definido o modelo estrutural reticulado para simulação numérica de uma
estrutura, adaptações precisam ser feitas para que o comportamento da ligação direta
25
laje/pilar em estrutura de concreto seja expressa pelo modelo numérico. Uma alternativa de
simples adaptação para um modelo em elementos finitos de pórtico, a fim de estimar a rigidez
aproximada dos elementos que compõem um pórtico em laje lisa é o Método dos Pórticos
Equivalentes (MPE).
Este método é baseado no teorema estático para determinar esforços atuantes em lajes
de concreto. A representação da estrutura é discretizada em uma série de pórticos em cada
uma das direções (Figura 12), 𝑙𝑦 representa o comprimento entre os pilares. Alguns códigos
que abordam seu uso para estimativa de esforços solicitantes a fim de dimensionar estruturas
em lajes lisas são o ACI 318, a NBR 6118, o Eurocode 2 e a norma inglesa (BS 8110/97).
A norma brasileira prescreve que as lajes apoiadas diretamente sobre os pilares devem
ser calculadas em regime rígido plástico, ou elástico, sendo este último o caso desta pesquisa.
Para que este método possa ser adotado, os pilares devem estar alinhados em ambas as
direções, possibilidade que corrobora com a ideia inicial de aplicação do dispositivo em
edifícios garagem, cujos pilares tendem a obedecer esta condição do método.
Além disso, a distribuição de momentos fletores, ao dividir os painéis das lajes, deve
ser feita da seguinte forma: 45% dos momentos positivos para as duas faixas internas, 27,5%
dos momentos positivos para cada uma das faixas externas, 25% dos momentos negativos
26
para as duas faixas internas e 37,5% dos momentos negativos para cada uma das faixas
externas. determinação geométrica dessas faixas entre os apoios está descrita na Figura 13.
O ACI permite que seja realizado um aumento da rigidez na região dos pilares em
decorrência da presença de capitéis, engrossamentos ou até mesmo a existência do próprio
pilar, como é o caso das lajes lisas tratadas nesta pesquisa. Neste caso, o momento de inércia
da “laje-viga”, 𝐼𝑒𝑞 , representado na Figura 14, no eixo do pilar até a face externa é tomado
como o valor do momento de inércia na face do pilar (havendo ou não engrossamento),
dividido por:
𝑐𝐴
(1 − ) (11)
𝑙2
1 1 1
= + (12)
𝑘𝑒𝑐 ∑𝑘𝑐 𝑘𝑇
Por conseguinte, a rigidez de uma barra bi-engastada pode ser calculada pela equação
13:
4𝐸𝑐 𝐼𝑐
𝑘𝑐 = (13)
𝑙𝑐
Sendo:
𝑥 𝑥³𝑦 (15)
𝐶𝑒𝑞 = ∑ [(1 − 0,63 ) ]
𝑦 3
Outra possibilidade para considerar a rigidez equivalente, que inclusive foi a adotada
para o desenvolvimento do modelo mecênico desta pesquisa, é por meio do cálculo do
comprimento equivalente para o pilar, de tal forma que a rigidez do pilar passe a ser a rigidez
equivalente do conjunto, como representado pela Figura 15.
Por fim, ressalta-se que, embora o método capture os esforços solicitantes para lajes,
a fim de dimensionar e calcular os estados limites últimos em diferentes situações, não foi
encontrado na literatura aplicações do método para estimar esforços nos pilares. Esta possível
lacuna no método não deve afetar o estudo do colapso para estruturas em laje lisa, pois estes
se caracterizam pela particularidade de preservar os pilares após ocorrência de colapso,
tendendo a falhar apenas as lajes, como ilustrado nas Figuras 16 e 17.
Por esta razão, apenas os modos de falha da laje, tal como na ligação laje/pilar, serão
abordados no estudo de confiabilidade do sistema. Os estados limites da laje são descritos no
tópico a seguir.
𝐴𝑠 𝑓𝑦
𝑥 = 1,25(0.85𝑓 𝑏 ) (17)
𝑐 𝑤
onde:
Esta equação 17 é válida apenas para concretos com menos de 50 MPa de 𝑓𝑐 e a seção
transversal precisa ser armada com armadura simples, a fim de garantir adequada ductilidade
à seção transversal. A Figura 18 representa as propriedades atuantes no processo de
dimensionamento da seção, tal como a direção do momento fletor solicitante.
31
2.5.2 Punção
De acordo com Pinto (1993), o fenômeno da punção, que, dentre outras situações,
ocorre em estruturas onde a laje se apoia diretamente nos pilares, tem sua ruína caracterizada
pela ausência de escoamento generalizado da armadura, sendo basicamente ocasionada pela
destruição local do concreto da zona comprimida no entorno do pilar, como ilustrado na
Figura 19. Esta ruptura é frágil, ao contrário daquelas caracterizadas por serem dúcteis,
ocorre de forma súbita, sem aviso prévio.
Figura 21: Procedimento resumido de verificações sobre punção segundo a NBR 6118/14.
𝜏𝑅𝑑1 - Tensão de cisalhamento resistente de cálculo-limite para que uma laje possa
prescindir de armadura transversal;
𝜏𝑅𝑑2 - Tensão de cisalhamento resistente de cálculo-limite para verificação da
compressão diagonal do concreto na ligação laje-pilar;
𝜏𝑅𝑑3 - Tensão de cisalhamento resistente de cálculo;
𝜏𝑆𝑑 - Tensão de cisalhamento solicitante de cálculo;
𝑑 - Altura útil da laje;
𝐴𝑠𝑤 - Armadura de punção em um contorno completo paralelo à 𝐶′.
O ACI 318:2019 estabelece que deve ser feita a comparação entre a força atuante 𝑉𝑢
e a força nominal resistente 𝑉𝑛 , de forma semelhante ao processo de cálculo da NBR
6118:2014. Além disso, seu equacionamento considera o size effect, que consiste em
correlacionar modelos experimentais, em tamanhos reduzidos, com os elementos estruturais
em escala natural. Pode também ser entendido como a redução da tensão nominal ao
cisalhamento com o aumento da espessura do elemento estrutural.
Por fim, a última atualização do fib MODEL CODE: 2010, está baseada na Teoria da
Fissura Crítica de Cisalhamento, proposta por Muttoni (2008), adaptada para aplicações em
projeto por meio de coeficientes de segurança, como o 𝑘𝛹 , que é um coeficiente redutor da
resistência à punção, dependente da rotação da laje ao redor da área apoiada.
Para esta pesquisa, o procedimento adotado foi o ilustrado na Figura 21, em que
apenas a situação de dispensa de armadura de punção foi adotada. Com isso, a equação de
estado limite expandida pode ser descrita como:
34
1
20 𝑢
𝑔𝑝𝑢𝑛çã𝑜 (𝐗) = τ𝑅𝑑 − τ𝑆𝑑 = ξ (1 + √ 𝑑 ) (100𝜌𝑓𝑐 )3 − 𝐹𝑠𝑑 (1 + 𝑘𝑒 𝑊1 ) (18)
1
𝑀𝑠𝑑
𝑒= (19)
𝐹𝑠𝑑
onde:
ξ - Valor implícito de segurança no cálculo da punção pela NBR 6118/14;
𝑑 - Altura útil da laje;
𝜌 - Taxa de armadura negativa de flexão;
𝑓𝑐 - Resistência à compressão do concreto;
𝐹𝑠𝑑 - Força de puncionamento;
𝑢1 - Perímetro de controle na distância 2𝑑 do pilar;
𝑘 - Coeficiente de proporção dos lados do pilar;
𝑒 - Excentricidade da reação de esforço normal do pilar;
𝑊1 - Módulo de resistência plástica do perímetro crítico.
Com o objetivo de simplificar a equação de estado limite, o termo que multiplica 𝐹𝑠𝑑
será substituído por um 𝛽’(EUROCODE 2/10; BELLUZZI, 1971; ), que, ao retirar o termo
de excentricidade 𝑒 da reação, oculta a necessidade de consideração do momento fletor no
cálculo da punção. Este 𝛽’ é função da posição do pilar na laje: borda (𝛽’ = 1,40), interno
(𝛽’ = 1,15) ou canto (𝛽’ = 1,50).
1
20
𝑔𝑝𝑢𝑛çã𝑜 (𝐗) = τ𝑅𝑑 − τ𝑆𝑑 = ξ (1 + √ 𝑑 ) (100𝜌𝑓𝑐 )3 − 𝐹𝑠𝑑 𝛽’ (20)
35
Para o caso de armaduras positivas, esse 𝐴𝑠,𝑚í𝑛 pode ser multiplicado por 0,67,
redução que será adotada neste dimensionamento.
Onde:
Por fim, o valor de τ𝑟𝑑 , considerando concretos com 𝑓𝑐𝑘 menor que 50 Mpa, resulta:
𝑑1
𝑑2
Encontrar 𝐝∗ = 𝑑3 que minimize 𝑓(𝐝)
⋮
{𝑑𝑛 }
𝑔𝑗 (𝐝) ≤ 0, 𝑗 = 1, 2, . . . , 𝑞
ℎ𝑖 (𝐝) = 0, 𝑖 = 1, 2, . . . , 𝑝
(29)
Em problemas práticos, geralmente não existe uma solução para o vetor 𝐝 que
minimize todas as k funções objetivo simultaneamente. Diante disso, o conceito de solução
ótima de Pareto (Pareto optimum solution) é utilizado em problemas de otimização
multiobjetivo.
Uma solução viável para o vetor 𝐝 será denominada de ótimo de Pareto (Pareto
optimal) caso não exista nenhuma solução viável Y tal que 𝑓𝑖 (𝒀) ≤ 𝑓𝑖 (𝐝) para 𝑖 = 1, 2, . . . , 𝑘
com 𝑓𝑗 (𝐝) < 𝑓𝑖 (𝐝) para pelo menos um dos 𝑗. Em outras palavras, uma solução viável para
𝐝 será chamada de ótimo de Pareto apenas se não existir nenhuma outra solução viável Y que
reduza alguma função objetivo sem causar um aumento simultâneo em pelo uma das outras
funções objetivo.
𝑐𝑒𝑓 = 𝑝𝑓 𝑥 𝑐𝑓 (31)
Determinar ∶ 𝐝∗
+𝑐𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑟𝑢çã𝑜 (𝐝)
+𝑐𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎çã𝑜 (𝐝)
+𝑐𝑖𝑛𝑠𝑝.&𝑚𝑎𝑛𝑢𝑡. (𝐝)
+𝑐𝑑𝑒𝑠𝑐𝑎𝑟𝑡𝑒 (𝐝)
(33)
+∑𝑖 𝑐𝑓𝑖 (𝐝) 𝑝𝑓𝑖 (𝐝, 𝑿).
Sendo 𝑐𝑓𝑖 (𝐝) o custo associado ao evento de falha 𝑖. Ressalta-se que X é o vetor de
variáveis aleatórias apresentado na definição de probabilidade de falha.
39
3 METODOLOGIA
Nesta seção são apresentadas as etapas da metodologia de forma detalhada, tal como
uma formulação base do problema mecânico, da confiabilidade aplicada a este modelo e do
problema de otimização do custo esperado total.
Determinar: 𝐝∗
que minimize:
𝑛𝐿
𝐿𝑆 𝐿𝑆𝑛𝐺
𝐶𝑒𝑡 (𝐝, 𝐗) = 𝐶𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡 (𝐝) + ∑𝑖=1 𝑝𝑓𝑖 (𝐝, 𝐗)𝑐𝑓𝑖 + ∑𝑗=1 𝑝𝑓𝑆𝑌𝑆,𝑗 (𝐝, 𝐗)𝑐𝑓𝑆𝑌𝑆,𝑗 (34)
Nesta equação, 𝐶𝑒𝑡 representa o custo esperado total, 𝐶𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡 representa o custo de
𝑛𝐿
𝐿𝑆 𝑛𝐺
𝐿𝑆
construção, enquanto que ∑𝑖=1 𝑝𝑓𝑖 𝑐𝑓𝑖 e ∑𝑗=1 𝑝𝑓𝑆𝑌𝑆,𝑗 𝑐𝑓𝑆𝑌𝑆,𝑗 representam, respectivamente, o
custo para modos de falha locais e para modos de falha globais.
O software TQS discretiza a estrutura como um pórtico espacial cujas lajes são
formadas por grelhas (Figura 25), enquanto que o programa desenvolvido nesta pesquisa
visa, por meio apenas de elementos reticulados, alcançar resultados satisfatórios com a
implementação das devidas adequações de rigidez aos elementos portantes. Esta
simplificação visa otimizar o tempo de processamento quando aplicadas as rotinas de
confiabilidade e de otimização.
44
Figura 25 – Modelos de análise do TQS à esquerda e o do autor, à direita, que concilia MEF
com MPE em um modelo 2D.
A planta baixa da laje simulada para o desenvolvimento desta etapa de validação está
representada na Figura 26. O pé direito é de 300 cm e só há uma laje.
45
Figura 26 – Faixa interna cujos esforços foram comparados entre o programa desenvolvido e
o TQS.
Figura 28– Descrição dos elementos, propriedades físicas e geométricas, cargas atuantes e
tipologia do elemento, laje ou pilar.
Variáveis Desvio
Descrição Distribuição Média Fonte
Aleatórias Padrão
Resistência
à
compressão Normal 1,22𝑓𝑐𝑘 0,183𝑓𝑐𝑘 (SANTIAGO, 2019)
𝑓𝑐 do concreto
(MPa)
Tensão de
escoamento
da armadura Normal 1,22𝑓𝑦𝑘 0,0488𝑓𝑦𝑘 (SANTIAGO, 2019)
𝑓𝑦 de flexão
(MPa)
Ação
𝑔 permanente Normal 1,06𝑔 0,1272𝑔 (SANTIAGO, 2019)
(KN/m²)
Ação
variável
para
𝑞50 estrutura Gumbel 𝑞𝑛 0,40𝑞𝑛 (LOPES et al., 2023)
intacta
(KN/m²)
Fonte: Autor (2022).
Tanto pórticos com pilares internos, como também de borda e de canto serão
contemplados nas futuras análises, a fim de comparar o efeito desta tipologia de posição na
confiabilidade do elemento portante da ligação laje/pilar e na confiabilidade do sistema.
50
Uma vez encontradas as probabilidade de falha para cada elemento portante, tanto
para punção, como para flexão, é determinar o valor da 𝑝𝑓𝑆𝑌𝑆 . Ressalta-se que neste resultado
preliminar só foi obtida a probabilidade para a estrutura intacta, mas a versão final também
irá conter o valor de 𝑝𝑓𝑆𝑌𝑆 para a estrutura com remoção de pilar interno e externo, como
também com lajes protendidas, com armadura de punção e com armadura contra o colapso
progressivo. Todas essas situações serão avaliadas para o pórtico interno e para o pórtico de
extremidade.
4 RESULTADOS PRELIMINARES
Figura 31 – Identificação dos trechos da laje para leitura dos dados da tabela 2, Figura 32,
Figura 33, Tabela 4 e Figura 34.
Tabela 2 -Resumo dos esforços absolutos em exemplo para validação do modelo numérico
mecânico.
PÓRTICO
MEF integrado
ESPACIAL COM
com MPE –
LAJE
TRECHO programa MEF
DISCRETIZADA
PÓRTICO
EM GRELHA - TQS
𝑀𝑐 (tfm) 𝑁𝑐 (tf) 𝑀𝑐 (tfm) 𝑁𝑐 (tf)
L1 2,98 23,25 3,22 22,42
L2 0,81 35,65 0,86 33,59
L3 0,81 35,38 0,86 33,59
L4 2,98 23,77 3,23 22,42
V1 14,3 - 14,74 -
V2 9,49 - 8,95 -
V3 15 - 14,74 -
A1 10,99 - 11,23 -
A2 21,57 - 23,91 -
A3 21,96 - 23,91 -
A4 10,8 - 11,23 -
Fonte: Autor (2023).
52
𝑨𝒔 (cm²) 𝑨𝒔 (cm²)
Elemento
negativo positivo
1 0,00 0,00
2 21,63 0,00
3 25,11 0,00
4 0,00 0,00
5 70,60 0,00
6 69,50 0,00
7 0,00 0,00
8 69,50 0,00
9 70,60 0,00
10 0,00 0,00
11 25,11 0,00
12 21,63 0,00
13 0,00 8,82
14 0,00 43,65
15 0,00 23,15
16 0,00 43,65
17 0,00 8,82
Fonte: Autor (2023).
𝑝𝑓𝑆𝑌𝑆= 4,04E-05
TRECHO 𝛽𝑆𝑌𝑆= 3,942
𝑝𝑓 𝛽
L1 2,84E-06 4,5377
L2 2,15E-07 5,0556
L3 2,15E-07 5,0556
L4 2,84E-06 4,5377
V1 2,81E-06 4,5403
V2 1,67E-06 4,6487
V3 2,81E-06 4,5403
A1 1,95E-05 4,1138
A2 4,48E-06 4,4411
A3 4,48E-06 4,4411
A4 1,95E-05 4,1138
6
Convergência de b
A1=A4
3
A2=A3
V1=V3
2
V2
L1=L4
1
L2=L3
0
0 10 20 30 40 50 60 70
Iteração
6 REFERÊNCIAS
ACI COMMITTEE 318. Building code requirements for structural concrete: (ACI
318- 19); and Commentary (ACI 318R-19). Farmington Hills: American Concrete
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