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VIÇOSA
2022
BRUNO BERGER QUEMELLI
VIÇOSA
2022
BRUNO BERGER QUEMELLI
Aprovado em 22/02/2022
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Prof. Reginaldo Carneiro da Silva – UFV
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Prof (a) Maria Cláudia Sousa Alvarenga - UFV
___________________________________
Gustavo Emílio Soares de Lima - Doutorando
VIÇOSA
2022
RESUMO
QUEMELLI, B. B. Manifestações patológicas em pilares de concreto armado –
prevenção. 2022. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia
Civil). Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2022.
4.5 Cura.................................................................................................... 82
1 INTRODUÇÃO
1.1 Considerações iniciais
Verifica-se de forma expressiva que as estruturas de concreto armado tomam
conta do cenário nacional, estando presente em várias construções, seja para uso
residencial, comercial, industrial e etc. Atrelado a isso, observa-se também a
preocupação para que essas estruturas se mantenham duráveis a fim de que se
cumpra o seu papel o qual foi inicialmente proposto. Com isso, ao perceber que as
estruturas de concreto se deterioram ao longo do tempo, iniciou-se diversos estudos
para que se pudesse descobrir as causas desses problemas de forma a se evitar a
sua recorrência e garantir que ela não gere transtornos e acidentes aos seus usuários.
Dessa forma, o estudo das patologias de estruturas de concreto armado
aumentou de forma considerável ao longo das últimas décadas, principalmente quanto
as suas origens. A partir de estudos e pesquisas experimentais acerca do assunto,
pode-se entender o comportamento do concreto armado sob efeitos de certos agentes
agressivos do meio, assim como identificar os principais fatores das origens das
manifestações patológicas. Dessa forma, técnicas e procedimentos foram
desenvolvidas com o intuito de reduzir o risco da estrutura apresentar problemas no
futuro para o usuário, presentes nas Normas Técnicas que regem a forma correta de
projetar, executar e manter as estruturas de concreto.
Cánovas (1988) vincula a patologia das construções à qualidade, embora se
observe o avanço dessa última, assim como sua progressão, o mesmo não pode ser
visto para a redução das manifestações patológicas. Alinhado a isso, Thomaz (2020)
apresenta que países em desenvolvimento como o Brasil apresentam conjunturas
socioeconômicas que fizeram com que as obras fossem conduzidas em um ritmo cada
vez maior, com pouco rigor no controle dos materiais e serviços. Somado a um
complexo quadro de profissionais negligentes, além do processo de formação
inadequado de mão de obra, percebe-se uma queda gradativa da qualidade das
construções ao longo do país.
Dessa forma, a qualidade da estrutura parte da composição de seus elementos
estruturais, e uma das peças fundamentais são os pilares de concreto armado. Takeuti
(1999) afirma que os problemas patológicos que acompanham esses elementos são
importantes no conjunto da estrutura, podendo gerar consequências gravíssimas caso
eles venham a colapsar.
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Principais Ácidos
Inorgânicos Orgânicos
Carbônico Acético
Clorídrico Cítrico
Fluorídrico Fórmico
Nítrico Húmico
Fosfórico Lático
Sulfúrico Tânico
Fonte: Adaptado de Neville, 2015
Figura 2.2 - Ataques por chuva ácida em prédio da FAU/USP - São Paulo
Figura 2.3 – Corrosão por sulfatos da parede de concreto de um reator UASB em uma ETE
Figura 2.4 - Lixiviação de pilares em contato com água contaminada por sulfato
2.2.1.5 Carbonatação
Outra causa do processo de corrosão da armadura é o da carbonatação.
Segundo Neville (2015), no concreto, a carbonatação em si não causa deterioração,
porém, uma consequência é a redução do pH da água dos poros da pasta de cimento.
Dessa forma, com o pH, antes alcalino, agora próximo aos valores do pH da armadura,
o filme de óxido protetor formado no estado de passivação do aço se desintegra,
possibilitando a ocorrência do processo de corrosão.
Bolina, Tutikian e Helene (2019) afirmam que com a carbonatação, o aço corrói
de maneira generalizada, comparado a estar totalmente exposto à atmosfera sem
nenhuma proteção, como mostrado na Figura 2.10:
Thomaz (2020) apresenta dois outros fatores, sendo eles a retração química
ou autógena, que ocorre devido as grandes forças de coesão entre cimento e água
na reação química, fazendo com que haja redução de volume, e a reação por
carbonatação, devido a cal hidratada que é liberada na hidratação do cimento. A cal
reage com o gás carbônico do meio, liberando água, provocando a retração.
É observado por Souza e Ripper (1998) que, deve-se ficar atento para peças
de grandes dimensões, a sua relação para com o meio durante sua concretagem,
principalmente a elevadas temperaturas, baixos teores de umidade e incidência direta
de raios solares. As lajes são um grande exemplo de componente estrutural que, por
possuírem uma grande área de superfície, o processo de retração hidráulica da peça
pode ser acentuado, caso não seja feita uma cura correta. A Figura 2.13 apresenta
uma típica forma de fissuração observadas em lajes devido à retração:
28
Souza e Ripper (1998) ressaltam que se deve ter uma atenção maior ao
dimensionamento e detalhamento de armaduras de estruturas que geram gradientes
térmicos, como lajes e reservatórios em coberturas, pois a chance de se ter formação
de fissuras nesses elementos é alta.
2.2.2.3 Desgaste superficial
O concreto pode sofrer desgaste superficial conforme o passar do tempo,
sendo uma das formas a abrasão, segundo Souza e Ripper (1998), ocasionadas por
partículas transportadas comumente pelo ar e a água, e também pelo atrito gerado
pelos veículos nas pistas de rolamento, por exemplo.
Neville (2015) também destaca o efeito da erosão, tipo de desgaste em
estruturas que possuem contato direto com água corrente. A erosão da superfície de
concreto depende principalmente da dimensão e dureza das partículas transportadas
pela água e da qualidade do concreto em geral.
Outro fator que gera desgaste superficial do concreto apresentado por Neville
(2015) é o efeito da cavitação, um concreto de boa qualidade pode suportar um fluxo
de água de alta velocidade, porém dificilmente resistirá à essa ação, que é a formação
de bolhas de vapor que ao se romper, provocam a entrada de água na superfície.
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Figura 2.15 - Vegetação presente na Ponte José Magalhães Pinto, município de Raposos,
MG.
Mecanismos de Mecanismos de
Origem Sintoma Situações Típicas
deterioração formação
Dissolução dos
Percolação de água
compostos da pasta por
Lixiviação Eflorescência em fissuras ou alta
águas puras, carbônicas
permeabilidade
ou ácidas
-Perda da alcalinidade
Peças de concreto pela carbonatação:
armado sujeitas a redução do pH,
Expansão ,
Corrosão de agentes agressivos - despassivação da
Armadura fissuração e
armaduras formação de célula armadura;
lascamentos
de corrosão -Ataques por íons Cl-,
eletroquímica penetração de Cl- por
difusão até armadura
Menor resistência a
Pilares em
Fissuras, choques, impactos,
garagens, guarda-
lascas recalques, acidentes,
Ações mecânicas corpos, etc
incêndios, sismos, etc
Deformação e Cargas excepcionais
Lajes e vigas
fissuras elevadas
CONCRETO ARMADO
Além disso, pode ocorrer também o esmagamento dos consolos e/ou cabeça
dos pilares, como apresentado na Figura 3.10:
Figuerola (2006) apresenta vários fatores que geram esse tipo de patologia,
sendo eles:
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concretos. A ABNT NBR 6118 (2014) orienta que seja dimensionada armaduras de
costura quando não se observa a rugosidade propícia da superfície de concreto
endurecida. A Figura 3.19 apresenta pilares comprometidos devido a falhas de
execução de juntas de concretagem:
3.5 Resumo
O esquema na Figura 3.32 apresenta as principais manifestações patológicas
nas etapas de projeto, execução e utilização em pilares de concreto armado:
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Fonte: Autor
Fonte: Autor
71
4.4 Concretagem
4.4.1 Cuidados preliminares
4.4.1.1 Formas
A ABNT NBR 14931 (2004) e ABNT NBR 15696 (2009) recomendam que antes
do lançamento do concreto devem ser conferidas as dimensões e posições, tanto de
nivelamento e prumo das formas da estrutura, a fim de assegurar que a geometria dos
elementos estruturais e da estrutura como um todo estejam de acordo com o projeto.
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4.4.1.2 Escoramentos
Deve-se verificar as posições e condições estruturais do escoramento antes do
início da concretagem de maneira a assegurar as dimensões e posições das formas
de acordo com o projeto e para que seja permitido o tráfego de pessoal e equipamento
durante à operação de concretagem.
4.4.1.3 Armaduras
A ABNT NBR 14931 (2004) indica que a montagem, o posicionamento e o
cobrimento especificados para as armaduras passivas devem ser verificados e as
barras de aço devem estar previamente limpas. Para pilares, Milito (2009) chama a
atenção para o posicionamento das barras de espera, que muitas vezes não
coincidem com sua localização em planta. Os motivos para que isso ocorra são:
• Falta de amarração adequada;
• Movimentação das barras durante a concretagem;
• Descuidos na locação dos pilares.
A fim de se evitar esse problema, Milito (2009) recomenda uma rigorosa
fiscalização das ferragens. Para que se impeça o deslocamento da armadura, é
recomendado que se execute um quadro de madeira de modo que sirva de apoio às
barras de espera, fixando-se no restante da armadura, além disso, os estribos devem
ser projetados de modo a permitir sua montagem nos trechos de intersecção com
vigas, para que seja garantida a estabilidade das barras de espera, como mostra a
Figura 4.5:
Figura 4.5 - Quadro de madeira para garantir a estabilidade das armaduras de espera de
pilares
Fonte: Autor
Fonte: O Autor
agulha do vibrador mecânico. Também pode ser conveniente para peças esbeltas e
verticais, como os pilares, a utilização de concretos de diferentes consistências, a fim
de reduzir o risco de exsudação e segregação.
A ABNT 14931 (2004) ainda define a relação entre lançamento, adensamento
e acabamento do concreto, em que o plano de concretagem deve garantir que a
relação entre as operações de lançamento e adensamento sejam suficientemente
elevadas para que seja evitada a formação de juntas frias e baixa o necessário para
evitar sobrecarga nas formas e escoramentos. É importante ressaltar que a norma
ainda frisa que o processo de lançamento deve ser contínuo e ininterrupto, até que
todo o volume previsto para a peça estrutural seja concretado.
4.4.5 Adensamento
A ABNT 14931 (2004) recomenda que durante e imediatamente após o
lançamento, o concreto deve ser vibrado ou apiloado contínua e energicamente com
equipamento adequado à sua consistência. Deve-se ficar atento para que o
adensamento seja realizado de forma cuidadosa para assegurar que o concreto
preencha todos os recantos das formas.
Deve ser tomado os cuidados necessários para que durante o adensamento
não seja formado ninhos nem que haja segregação da pasta. Também deve-se evitar
a vibração das armaduras de modo a não prejudicar sua aderência com o concreto.
A altura das camadas de concreto não deve ultrapassar 20 cm no adensamento
manual, e para todos os casos, a altura da camada de concreto a ser adensada deve
ser inferior a 50 cm, para que seja facilitada a saída das bolhas de ar. Deve ser
estabelecido no plano de lançamento as alturas das camadas de assim como o
processo mais adequado de adensamento. Para casos de alta taxa de armaduras,
devem ser tomados cuidados especiais a fim de garantir que todo o concreto seja
distribuído em todo o volume da peça bem como o adensamento ocorra de maneira
homogênea.
A norma ainda aponta para cuidados especiais que se deve ter no
adensamento com vibradores de imersão, que quando utilizados, a espessura da
camada deve ser aproximadamente 3/4 do comprimento da agulha, atentando-se
sempre que ao se penetrar uma camada de concreto, o vibrador penetre cerca de 10
cm na camada anterior. É importante ressaltar que tanto a falta quanto o excesso de
vibração são prejudiciais ao concreto.
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4.5 Cura
A ABNT NBR 14931 (2004) define que o concreto deve ser curado e protegido
contra agentes agressivos enquanto não atingir o endurecimento satisfatório para:
• Evitar a perda de água pela superfície exposta;
• Assegurar uma superfície com consistência adequada;
• Assegurar a formação de uma capa de superfície durável.
Nas primeiras idades, os agentes agressivos mais comuns ao concreto são as
mudanças bruscas de temperatura, secagem, chuva forte, água torrencial,
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Outra técnica também utilizada para obtenção de uma boa cura para pilares
consiste na utilização de espuma úmida em seu topo, a fim de se evitar a perda de
água para o ambiente, além do cobrimento da peça com lona úmida
Azevedo (2011) reitera que o processo de cura deve ser iniciado assim que se
verifique a pega do concreto e sempre antes da secagem da água de exsudação sobre
sua superfície, pois pode ser observado a partir desse momento uma evaporação da
água do interior da massa, fazendo com que ocorra retração volumétrica do concreto
aplicado. Caso ocorra a restrição dessa retração, por atrito com as formas, ou
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ter para o que possa ser retirada as formas, pois o concreto deve resistir às ações
sobre ele atuantes e não conduzir deformações excessivas, tendo em vista os
menores valores do módulo de elasticidade do concreto (Eci) nas primeiras idades.
Além disso, a ABNT 14931 (2004) e a ABNT 15696 (2009) ressaltam que não
se deve realizar o procedimento de retirada de formas e escoramento com choques
assim como deve ser obedecido o plano de desforma previamente elaborado para o
tipo de estrutura.
4.7 Resumo
A Tabela 4.1 apresenta o procedimento que deve ser realizado para a execução
de pilares de concreto armado:
Tabela 4.1 - Procedimento executivo de pilares de concreto armado
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 Conclusão
A partir do estudo realizado das manifestações patológicas em pilares de
concreto armado, foi possível observar as origens e os efeitos que elas exercem sobre
o comportamento estrutural. O pilar é uma peça fundamental, fazendo com que
projetos e execuções inadequadas acarretam em consequências graves.
Pode ser observado ao longo dos últimos anos um aumento substancial de
manifestações patológicas em estruturas de concreto armado, o que torna cada vez
mais imprescindíveis estudos nessa área. A fim de se evitar esses tipos de problemas,
é muito importante para o meio técnico possuir referências acerca das manifestações
patológicas das estruturas, principalmente para elementos como os pilares.
Observações desde o processo de concepção da peça, aliado a uma correta
execução e manutenção minimizam a aparição dessas patologias. É importante
ressaltar que alguns profissionais não levam em consideração projetos bem feitos e a
execução de seus elementos, acarretando em diversas situações evitáveis.
Em projetos, observam-se pilares com dimensionamento de seção transversal
insuficiente e/ou altas taxas de armaduras. Na execução, é bastante comum de se ter
falhas de desaprumo nas formas, do uso incorreto de desmoldantes e retirada
precoce, além de falhas de concretagem, principalmente nas etapas de lançamento e
adensamento. Observam-se também falhas na manutenção desses elementos, sendo
exemplo muitos pavimentos garagem, com pouco espaço para área de manobras,
gerando quebra de quinas devido ao impacto dos veículos.
Muitos desses problemas evitáveis, principalmente observados na fase de
execução, se dá pelos engenheiros, encarregados e operários não observarem
recomendações relativamente simples presente nas normas vigentes, além das
recomendações de boas práticas de engenharia. Atrelado a isso, observa-se também
engenheiros que delegam funções de controle de qualidade a encarregados, quando
os mesmos deveriam exercer esse papel.
Pode-se concluir que o presente trabalho que é importante para o meio técnico
pois muitas informações estão dispersas em diferentes publicações. Compilar
informações importantes a respeito das principais manifestações patológicas de
pilares de concreto armado observados nas fases de projeto, execução e manutenção
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faz com se possa ter procedimentos adequados que levam à uma estrutura de
qualidade e segurança para os seus usuários.
5.2 Sugestão de trabalhos futuros
Tendo em vista o trabalho realizado, fica como sugestão temas acerca de
corrosão em estruturas de concreto armado, tópico bastante importante para
patologias das estruturas. Também há de se ressaltar trabalhos específicos em
inspeção de estruturas de concreto armado, baseado na ABNT NBR 16747: 2020 –
Inspeção Predial, além de trabalhos sobre a ABNT NBR 15575: 2013, que trata sobre
desempenho. Por fim, recomenda-se estudos em complemento ao tema sobre
recuperação e reforço de estruturas em concreto armado.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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pilar de viaduto. Disponível em: https://portaldorn.com/veiculo-pega-fogo-apos-
motorista-perder-controle-e-bater-em-pilar-de-viaduto/. Acesso em: 1 nov 2021
SENA, Gildeon Oliveira de et al. Patologia das construções. Salvador: 2B, 2020.
SILVA FILHO, Luiz Carlos Pinto da. Durabilidade do concreto à ação de sulfatos:
análise do efeito da permeação de água e da adição de microssílica. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, RS, 1994.
TAGLIANI, Simone. Pilares de concreto: saiba o que estes elementos significam para
a engenharia e arquitetura. Disponível em: https://engenharia360.com/pilares-de-
concreto-na-engenharia-e-arquitetura/. Acesso em: 2 nov 2021.
THOMAZ, Eduardo C.S. Fissuração – 168 casos reais. Rio de Janeiro, 2003.
THOMAZ, Ercio. Trincas em Edifícios, causas, prevenção e recuperação. 2. ed.
São Paulo: Oficina de Textos, 2020.