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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

BRUNO BERGER QUEMELLI

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM PILARES DE


CONCRETO ARMADO - PREVENÇÃO

VIÇOSA
2022
BRUNO BERGER QUEMELLI

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM PILARES DE


CONCRETO ARMADO - PREVENÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Viçosa para
obtenção do título de Engenheiro Civil.

Orientador: Reginaldo Carneiro da Silva

VIÇOSA
2022
BRUNO BERGER QUEMELLI

MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM PILARES DE


CONCRETO ARMADO - PREVENÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Departamento de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Viçosa para
obtenção do título de Engenheiro Civil.

Orientador: Reginaldo Carneiro da Silva

Aprovado em 22/02/2022

___________________________________
Prof. Reginaldo Carneiro da Silva – UFV

___________________________________
Prof (a) Maria Cláudia Sousa Alvarenga - UFV

___________________________________
Gustavo Emílio Soares de Lima - Doutorando

VIÇOSA
2022
RESUMO
QUEMELLI, B. B. Manifestações patológicas em pilares de concreto armado –
prevenção. 2022. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia
Civil). Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2022.

As manifestações patológicas em estruturas de concreto armado aumentaram de


forma expressiva ao longo dos últimos anos, ocasionadas pelas falhas de projeto,
execução e/ou manutenção. Os pilares são peças fundamentais de uma estrutura e
entender o comportamento do concreto armado sob efeito de agentes agressivos
do meio, prevendo-os, se tornou uma ferramenta importante para a garantia de sua
segurança. Observa-se uma grande variedade de publicações a respeito de
patologias estruturais, porém estudos a respeito de pilares encontram-se de
maneira dispersa nas referências. Dessa forma, foi elaborado um estudo compilado
acerca das principais manifestações patológicas recorrentes em pilares de concreto
armado nas fases de projeto, execução e manutenção e formas de preveni-las.
Observou-se que a maior parte da ocorrência de manifestações patológicas se dá
na fase de execução desses elementos. Seja por falta de conhecimento das normas
vigentes ou pela não aplicação de boas práticas de engenharia consolidadas. Notou-
se também que uma parte das patologias se encontram na fase de projeto da
estrutura, com falhas de dimensionamento e detalhamento, além dos erros de
manutenção ao longo de sua vida útil. Por fim, ressalta-se a contribuição desse
estudo que mostra as principais manifestações patológicas de pilares e suas formas
de prevenção para o meio técnico da engenharia.

Palavras chave: Pilares de concreto armado, Manifestações patológicas, Concreto


Armado.
ABSTRACT
QUEMELLI, B. B. Pathological manifestations in reinforced concrete pillars -
prevention. 2022. Undergraduate thesis (Civil Engeneering). Universidade Federal de
Viçosa, Viçosa, MG, 2022.

Pathological manifestations in reinforced concrete structures are increasing


significantly over the last few years, caused by design, execution, and/or maintenance
failures. Pillars are fundamental parts of a construction and understanding the behavior
of reinforced concrete under the effect of aggressive agents in the environment,
anticipating them, has become an important tool to guarantee its safety. There is a
wide variety of papers on structural pathologies, but studies on pillars are found in a
dispersed way in the literature. Therefore, a compiled study was prepared regarding
the main recurrent pathological manifestations in reinforced concrete pillars in the
design, execution, maintenance stages, and ways to prevent them. It may be observed
that most of the pathological manifestation events occur during the execution phase of
these elements. Either due to lack of knowledge of current standards or due to the non-
application of consolidated good engineering practices. It is also observed that part of
the pathologies are in the structure design phase, with dimensioning and detailing
failures, in addition to maintenance errors throughout its service life. Finally, this study
contribution emphasizes the main pathological manifestations of pillars and their forms
of prevention for the technical engineering environment.

Keywords: Reinforced concrete pillars, Pathological manifestations, Reinforced


concrete.
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 - Processo de lixiviação por ataques de ácido em um reservatório
.................................................................................................................................. 18
Figura 2.2 - Ataques por chuva ácida em prédio da FAU/USP - São Paulo .. 19
Figura 2.3 – Corrosão por sulfatos da parede de concreto de um reator UASB
em uma ETE ............................................................................................................. 20
Figura 2.4 - Lixiviação de pilares em contato com água contaminada por sulfato
.................................................................................................................................. 20
Figura 2.5 - Desenvolvimento da reação álcali-agregado no concreto .......... 22
Figura 2.6 - Fissuração de bloco de fundação devido a RAA ........................ 22
Figura 2.7 - Processo de desplacamento do concreto devido à corrosão da
barra .......................................................................................................................... 23
Figura 2.8 - Exposição da armadura devido a elevado grau de fissuração ... 24
Figura 2.9 - Fissuras em pilares de concreto armado devido à corrosão da
armadura ................................................................................................................... 24
Figura 2.10 - Frente de carbonatação............................................................ 25
Figura 2.11 - Alto grau de corrosão da armadura em zonas marinhas .......... 26
Figura 2.12 - Fissuração de uma viga com alta relação água/cimento .......... 27
Figura 2.13 - Fissuração em lajes .................................................................. 28
Figura 2.14 - Diferentes formas de movimentação térmica. A) Junção de
diferentes materiais. B) Exposição do mesmo material a diferentes temperaturas e C)
Gradiente térmico em um mesmo material................................................................ 29
Figura 2.15 - Vegetação presente na Ponte José Magalhães Pinto, município
de Raposos, MG. ...................................................................................................... 30
Figura 2.16 - Configurações genéricas de fissuras em função do tipo de esforço
predominante ............................................................................................................ 31
Figura 2.17 - Fissuração devido ao assentamento do concreto .................... 32
Figura 2.18 - Fissura devido a retração hidráulica em pavimentos de concreto
simples ...................................................................................................................... 33
Figura 2.19 - Ninhos de concretagem em pilar e viga de concreto armado ... 34
Figura 3.1 - Ruptura pilar de subsolo por capacidade resistente inferior aos
esforços. .................................................................................................................... 40
Figura 3.2 - Fissuração em pilar devido a movimentação térmica de vigas... 40
Figura 3.3 - Pilar sobrepondo esquadria ........................................................ 41
Figura 3.4 - Incompatibilidade de eletrodutos com pilar estrutural ................. 42
Figura 3.5 - Fissuração devido ao subdimensionamento de estribos ............ 43
Figura 3.6 - Congestionamento de armaduras .............................................. 43
Figura 3.7 - Fissuras devido a falhas de projeto em estribos......................... 44
Figura 3.8 - Detalhamento de armadura de consolos curtos para ancoragem
em pilares .................................................................................................................. 45
Figura 3.9 - Diferentes formas de fissuração em consolos devido a erros de
dimensionamento e detalhamento de armaduras ..................................................... 45
Figura 3.10 - Fissuras em consolo e esmagamento de cabeça de pilar devido
a insuficiência e/ou falta de detalhamento de estribos .............................................. 46
Figura 3.11 – Fissuração e processo corrosivo avançado na base de pilares de
pontes ....................................................................................................................... 46
Figura 3.12 - Fissuração topo de pilar por falta de armadura ........................ 47
Figura 3.13 - Ninhos de concretagem em pilar .............................................. 51
Figura 3.14 - Formação dos ninhos de concretagem devido ao lançamento
incorreto do concreto em pilares ............................................................................... 52
Figura 3.15 - Lançamento correto de concreto em pilares............................. 53
Figura 3.16 - Concretagem simultânea de viga, laje e pilar ........................... 54
Figura 3.17 - Fissuras em pilares pela retração do concreto em vigas .......... 55
Figura 3.18 - Fissuras junta de concretagem................................................. 55
Figura 3.19 - Junta de concretagem mal executada ...................................... 56
Figura 3.20 - Fissuração por corrosão de armaduras .................................... 56
Figura 3.21 - Corrosão das armaduras de pilares presentes em costas
marítimas................................................................................................................... 57
Figura 3.22 - Corrosão de armaduras de pilares dentro do mar .................... 58
Figura 3.23 – Processo corrosivo de pilares de pontes sobre rios ................ 59
Figura 3.24 - Corrosão em estribos de pilares ............................................... 59
Figura 3.25 - Esmagamento da cabeça de pilar ............................................ 60
Figura 3.26 - Esforço de flexo-compressão atuante em painéis pré-moldados.
.................................................................................................................................. 61
Figura 3.27 – Fissuras de compressão localizada ou flambagem de armaduras
.................................................................................................................................. 61
Figura 3.28 - Choque de veículo em pilar de viaduto .................................... 62
Figura 3.29 - Proteção em pilares de pavimento garagem contra choque de
veículos ..................................................................................................................... 63
Figura 3.30 - Processo corrosivo somado a urina em pilares ........................ 64
Figura 3.31 - Fissuração em pilares de viaduto por falta de manutenção...... 65
Figura 3.32 - Principais manifestações patológicas em pilares de concreto
armado ...................................................................................................................... 66
Figura 4.1 - Sistema de formas pilar de concreto armado ............................. 70
Figura 4.2 - Sistema de forma pilar contraventado ........................................ 70
Figura 4.3 - Posicionamento armadura de pilares em concreto armado ....... 72
Figura 4.4 - Janelas em formas de pilar para concretagem ........................... 73
Figura 4.5 - Quadro de madeira para garantir a estabilidade das armaduras de
espera de pilares ....................................................................................................... 74
Figura 4.6 - Janelas para concretagem ......................................................... 77
Figura 4.7 - Utilização de cachimbos para facilitar a concretagem de pilares78
Figura 4.8 - Cachimbos para concretagem .................................................... 78
Figura 4.9 – Adensamento por vibrador......................................................... 80
Figura 4.10 - Pilar em concreto aparente....................................................... 82
Figura 4.11 - Cura úmida em pilares ............................................................. 83
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 - Ácidos severamente agressivos ao concreto.............................. 18
Tabela 2.2 - Principais sais que agridem o concreto ...................................... 21
Tabela 2.3 - Principais patologias e mecanismos ........................................... 35
Tabela 4.1 - Procedimento executivo de pilares de concreto armado ............ 85
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 12

1.1 Considerações iniciais ........................................................................ 12

1.2 Justificativa ......................................................................................... 13

1.3 Objetivos ............................................................................................ 14

1.3.1 Objetivo geral ............................................................................... 14

1.3.2 Objetivos específicos.................................................................... 14

1.4 Metodologia ........................................................................................ 14

2 PATOLOGIA DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO ................................ 16

2.1 Conceitos iniciais ................................................................................ 16

2.2 Principais mecanismos de deterioração ............................................. 17

2.2.1 Mecanismos químicos .................................................................. 17

2.2.2 Mecanismos físicos ...................................................................... 26

2.2.3 Mecanismos biológicos ................................................................ 30

2.2.4 Mecanismos mecânicos ............................................................... 31

2.3 Principais manifestações patológicas ................................................. 32

2.3.1 Fissuras ........................................................................................ 32

2.3.2 Porosidades excessivas do concreto ........................................... 34

2.3.3 Corrosão do concreto ................................................................... 35

2.4 Resumo .............................................................................................. 35

3 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM PILARES DE CONCRETO


ARMADO 37

3.1 Comentários iniciais ........................................................................... 37

3.2 Etapa de projeto ................................................................................. 38

3.2.1 Elementos de projeto.................................................................... 38

3.2.2 Compatibilização de projetos ....................................................... 41

3.2.3 Dimensionamento e detalhamento ............................................... 42

3.3 Etapa de execução ............................................................................. 47


3.3.1 Escolha e utilização de materiais ................................................. 49

3.3.2 Principais manifestações patológicas em pilares devido a falhas de


execução 51

3.4 Etapa de utilização ............................................................................. 62

3.5 Resumo .............................................................................................. 65

4 EXECUÇÃO DE PILARES DE CONCRETO ARMADO ............................ 67

4.1 Comentários iniciais ........................................................................... 67

4.2 Sistema de formas ............................................................................. 67

4.3 Armaduras .......................................................................................... 71

4.4 Concretagem ...................................................................................... 72

4.4.1 Cuidados preliminares .................................................................. 72

4.4.2 Plano de concretagem.................................................................. 75

4.4.3 Transporte do concreto ................................................................ 75

4.4.4 Lançamento .................................................................................. 76

4.4.5 Adensamento ............................................................................... 79

4.4.6 Juntas de concretagem ................................................................ 81

4.4.7 Acabamento ................................................................................. 81

4.5 Cura.................................................................................................... 82

4.6 Retirada das formas e escoramento .................................................. 84

4.7 Resumo .............................................................................................. 85

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 86

5.1 Conclusão .......................................................................................... 86

5.2 Sugestão de trabalhos futuros............................................................ 87

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 88


12

1 INTRODUÇÃO
1.1 Considerações iniciais
Verifica-se de forma expressiva que as estruturas de concreto armado tomam
conta do cenário nacional, estando presente em várias construções, seja para uso
residencial, comercial, industrial e etc. Atrelado a isso, observa-se também a
preocupação para que essas estruturas se mantenham duráveis a fim de que se
cumpra o seu papel o qual foi inicialmente proposto. Com isso, ao perceber que as
estruturas de concreto se deterioram ao longo do tempo, iniciou-se diversos estudos
para que se pudesse descobrir as causas desses problemas de forma a se evitar a
sua recorrência e garantir que ela não gere transtornos e acidentes aos seus usuários.
Dessa forma, o estudo das patologias de estruturas de concreto armado
aumentou de forma considerável ao longo das últimas décadas, principalmente quanto
as suas origens. A partir de estudos e pesquisas experimentais acerca do assunto,
pode-se entender o comportamento do concreto armado sob efeitos de certos agentes
agressivos do meio, assim como identificar os principais fatores das origens das
manifestações patológicas. Dessa forma, técnicas e procedimentos foram
desenvolvidas com o intuito de reduzir o risco da estrutura apresentar problemas no
futuro para o usuário, presentes nas Normas Técnicas que regem a forma correta de
projetar, executar e manter as estruturas de concreto.
Cánovas (1988) vincula a patologia das construções à qualidade, embora se
observe o avanço dessa última, assim como sua progressão, o mesmo não pode ser
visto para a redução das manifestações patológicas. Alinhado a isso, Thomaz (2020)
apresenta que países em desenvolvimento como o Brasil apresentam conjunturas
socioeconômicas que fizeram com que as obras fossem conduzidas em um ritmo cada
vez maior, com pouco rigor no controle dos materiais e serviços. Somado a um
complexo quadro de profissionais negligentes, além do processo de formação
inadequado de mão de obra, percebe-se uma queda gradativa da qualidade das
construções ao longo do país.
Dessa forma, a qualidade da estrutura parte da composição de seus elementos
estruturais, e uma das peças fundamentais são os pilares de concreto armado. Takeuti
(1999) afirma que os problemas patológicos que acompanham esses elementos são
importantes no conjunto da estrutura, podendo gerar consequências gravíssimas caso
eles venham a colapsar.
13

Nos projetos de pilares em concreto armado, o dimensionamento e


detalhamento das armaduras devem ser feitos de forma criteriosa, procurando-se
evitar as altas taxas de armaduras. Alinhado a isso, têm-se o processo executivo de
pilares em concreto armado como um dos principais fatores de manifestações
patológicas, quando não se observa a norma vigente de execução de estruturas de
concreto ABNT NBR 14931 (2004) – Execução de estruturas de concreto –
Procedimento. Somado a isso, a forma de uso e manutenção desses elementos
garante uma maior durabilidade a eles.
O estudo das manifestações patológicas nesses elementos cruciais para as
estruturas de concreto armado garante a segurança de todos aqueles que utilizam
dela, pois danos irreversíveis aos pilares podem acarretar em acidentes ou até mesmo
em colapso da estrutura. Além da identificação dos fatores, é importante salientar que
a difusão de boas práticas da engenharia é importante para que não se tenha
transtornos gerados por manifestações patológicas.
Pode ser observado na literatura uma variada gama de fatores que levam o
concreto a se deteriorar, seja por agentes físicos, químicos e biológicos, assim como
suas principais manifestações patológicas, seja por fissuras, corrosão e afins. Porém,
detalhes quanto a elementos específicos de projeto, assim como técnicas construtivas
e forma de uso e manutenção para as peças de pilares de concreto armado, se
encontra dispersa em diferentes fontes de consulta.
Sendo assim, foi proposto uma revisão bibliográfica das principais
manifestações patológicas em pilares de concreto armado presentes nas fases de
projeto, execução e manutenção da estrutura, além de como evitá-las em cada uma
dessas etapas, baseando-se nas normas vigentes e boas práticas de engenharia
conforme a literatura.
1.2 Justificativa
Observa-se uma grande variedade de estudos e publicações sobre as
patologias das estruturas de concreto armado, buscando-se os principais fatores da
origem dessas manifestações, além da forma que a estrutura se comporta sob
atuação de certos agentes agressivos. É notório a importância desses estudos para o
desenvolvimento e reparação das estruturas que sofrem com o desgaste ao longo do
tempo, sempre buscando a segurança para os seus usuários. Tendo em vista isso,
aplicar essas ideias para um elemento estrutural importante como pilares faz com que
o presente estudo contribua de forma significativa para que o meio técnico da
14

engenharia civil possa se antecipar frente aos problemas enfrentados diariamente no


projeto, execução e manutenção das estruturas de concreto armado. Além disso, tem-
se técnicas construtivas baseado nas normas vigentes que facilitam para o construtor
empregar, de forma a garantir que a estrutura executada venha a apresentar um bom
desempenho ao longo de sua vida útil.
1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo geral
Elaborar uma revisão bibliográfica acerca das principais formas de
manifestações patológicas em pilares de concreto armado na fase de projeto,
execução e utilização, assim como apresentar a forma de evitá-las.
1.3.2 Objetivos específicos
• Elaborar uma revisão bibliográfica a respeito das principais
manifestações patológicas em estruturas de concreto armado;
• Apresentar formas de se evitar as manifestações patológicas em pilares
de concreto armado nas fases de projeto, execução e utilização;
• Apresentar técnicas construtivas de pilares para a obtenção de um
produto final de qualidade, a fim de se evitar manifestações patológicas
futuras.
1.4 Metodologia
Foi elaborada uma revisão bibliográfica sobre as manifestações patológicas em
pilares de concreto armado, principalmente sobre as publicações de Cánovas (1988),
Souza e Ripper (1998), Azevedo (2011), Bolina, Tutikian e Helene (2019) e Thomaz
(2020), buscando-se atualizações acerca do assunto.
Essa revisão foi dividida em três partes, onde na primeira buscou-se apresentar
as principais patologias das estruturas de concreto de forma geral, apresentando os
principais mecanismos de deterioração, apresentando-se um quadro resumo ao final
baseada na publicação de Azevedo (2011).
Em seguida, apresentou-se as manifestações patológicas mais recorrentes em
pilares de concreto armado nas fases de projeto, execução e utilização da estrutura,
através de artigos nacionais, assim como adequar as técnicas empregadas nessas
etapas para que essas patologias não venham a aparecer na estrutura.
Por fim, buscou-se apresentar a forma correta de se executar pilares de
concreto armado, baseado principalmente na norma de execução ABNT NBR 14931
15

(2004) – Execução de estruturas de concreto – Procedimento, além de boas práticas


de engenharia observadas de forma empírica por profissionais na literatura.
16

2 PATOLOGIA DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

2.1 Conceitos iniciais


Patologia pode ser entendida como a parte da Engenharia que estuda os
sintomas, os mecanismos, as causas e as origens dos defeitos das construções civis,
ou seja, é o estudo das partes que compõem o diagnóstico do problema (HELENE,
1992, p. 19). Essa definição resume de uma maneira geral o que a Engenharia de
Estruturas vem estudando nas últimas décadas, a fim de garantir que as estruturas de
concreto armado obtenham maior durabilidade e melhor desempenho durante sua
vida útil.
Segundo Souza e Ripper (1998), os conceitos de durabilidade e vida útil estão
completamente associados, pois entende-se por vida útil o período de tempo no qual
o material apresenta características acima das especificadas, e como durabilidade o
parâmetro que liga uma determinada construção a essas características. Também se
entende por desempenho o comportamento durante a fase de utilização de cada
produto, ao longo de sua vida útil. Aliado a esses conceitos, têm-se a norma de
desempenho ABNT NBR 15575:2013, que apresenta os parâmetros para que a
edificação tenha um bom desempenho.
Dessa forma, para que uma estrutura seja durável, ela deve apresentar uma
boa resposta às ações do meio em que ela se encontra, garantindo para os usuários
um bom desempenho durante sua vida útil. Isso está intrinsecamente ligado as fases
de projeto, execução e manutenção da obra.
Ainda de acordo com Souza e Ripper (1998), somente se consegue de fato
obter uma estrutura durável a partir do momento que se entende que a água rege
todas as características do concreto, como densidade, porosidade, permeabilidade,
compacidade, capilaridade e fissuração, para além de sua resistência mecânica.
Todas essas propriedades apresentam uma maior facilidade ou dificuldade para que
os mecanismos de deterioração possam adentrar nas peças de concreto.
Outro fator muito importante para a durabilidade e um bom desempenho
durante a vida útil da estrutura é a manutenção. Souza e Ripper (1998) a definem
como um grupo de atividades que visam garantir um desempenho satisfatório de
forma a prolongar sua vida útil. A ABNT NBR 6118:2014, em seu item 25.3 Manual de
utilização, inspeção e manutenção define que o profissional habilitado deve fornecer
17

ao contratante um manual que especifica, de maneira clara e sucinta, o conjunto de


atividades necessárias para a manutenção preventiva.
Além disso, tem-se ainda a norma vigente de manutenção, a ABNT NBR
5674:2012, que tem como objetivo fixar os procedimentos de orientação para
organização de um sistema de manutenção de edificações. A norma atribui ao
proprietário da edificação a responsabilidade de sua manutenção, além de definir e
organizar um adequado sistema de preservação do empreendimento.
Outra norma muito importante para a durabilidade da estrutura é a de inspeção
predial, ABNT NBR 16747:2020, que define os conceitos, diretrizes e procedimentos
referentes à correta inspeção predial das edificações.
2.2 Principais mecanismos de deterioração
De acordo com Bolina, Tutikian e Helene (2019), dificilmente relaciona-se a
deterioração das estruturas a somente um fator, normalmente tem-se a sobreposição
de efeitos oriundos de agentes agressores que, atuantes simultaneamente na
estrutura, ocasiona as manifestações patológicas. Isso fica bem claro em sistemas
estruturais em processo de deterioração bastante acentuado, nos quais a identificação
do problema principal fica mais complexa.
Cánovas (1988) afirma que é comum encontrar estruturas onde ali foi
acometido um grave erro, mas que a mesma não apresenta danos importantes, mas,
também é observado danos graves em estruturas decorrentes de causas de menor
importância, mas que atuantes de forma simultânea, geram consequências severas.
Dessa forma, pode-se dividir os mecanismos de deterioração de uma estrutura
de concreto armado em quatro grandes grupos, sendo eles: mecanismos químicos,
físicos, biológicos e mecânicos.
2.2.1 Mecanismos químicos
2.2.1.1 Ataques por ácidos
Bolina, Tutikian e Helene (2019) afirmam que um pH abaixo de 11,5 já é o
suficiente para que ocorra a despassivação da armadura.
A Tabela 2.1 apresenta os principais ácidos que podem gerar deterioração do
concreto:
18

Tabela 2.1 - Ácidos severamente agressivos ao concreto

Principais Ácidos
Inorgânicos Orgânicos
Carbônico Acético
Clorídrico Cítrico
Fluorídrico Fórmico
Nítrico Húmico
Fosfórico Lático
Sulfúrico Tânico
Fonte: Adaptado de Neville, 2015

A consequência mais frequente do ataque ácido é a desintegração da pasta de


cimento, devida principalmente à dissolução do hidróxido de cálcio e de magnésio do
cimento hidratado. Em alguns casos, os agregados também podem ser dissolvidos,
como os de origem calcária. Os principais efeitos são o aumento da porosidade do
concreto, a redução da seção resistente da peça, a perda da alcalinidade e a
exposição das armaduras ao ambiente agressivo (BOLINA; TUTIAKAN; HELENE,
2019).
A Figura 2.1 mostra claramente esse efeito de desintegração da pasta de
cimento, através do processo de lixiviação:

Figura 2.1 - Processo de lixiviação por ataques de ácido em um reservatório

Fonte: Harvey, 2014 apud Bolina, Tutikian e Helene, 2019


19

Outro fenômeno observado de ataque por ácidos é o da chuva ácida, ocorrido


principalmente nas grandes cidades. De acordo com Neville (2015), essas chuvas são
constituídas principalmente por ácido sulfúrico e nítrico, e devido ao seu pH muito
baixo (entre 4,0 e 4,5), geram processos de deterioração em estruturas de concreto.
A Figura 2.2 apresenta o processo de deterioração devido à chuva ácida na cidade de
São Paulo:

Figura 2.2 - Ataques por chuva ácida em prédio da FAU/USP - São Paulo

Fonte: Santos, 2011 apud Bolina, Tutikian e Helene, 2019

2.2.1.2 Ataques por sulfatos


De acordo com Neville (2015), os sais sólidos não reagem com o concreto, mas
podem atacar a pasta de cimento hidratada na forma de solução. Silva Filho (1994)
afirma que podem ocorrer duas manifestações distintas através da reação dos
compostos da pasta hidratada de cimento com íons sulfatos, sendo elas:
• Expansão do concreto;
• Perda progressiva de resistência, massa e rigidez
As Figuras 2.3 e 2.4 apresentam esse efeito expansivo do concreto e a perda
de sua resistência:
20

Figura 2.3 – Corrosão por sulfatos da parede de concreto de um reator UASB em uma ETE

Fonte: Kudlanvec Jr et al, 2018

Figura 2.4 - Lixiviação de pilares em contato com água contaminada por sulfato

Fonte: Padhi, 2015 apud Bolina, Tutikian e Helene, 2019

Os sulfatos podem ser encontrados em parques industriais, regiões em contato


com esgoto, armazéns de agrotóxicos, e também na água do mar. Para esse último
fator, têm-se construções à beira-mar, como cais, passarelas, pontes, que muitas das
vezes possuem fundações e pilares em contato direto com a água.
O processo de deterioração por sulfato pode ser acentuado nessas estruturas,
pois como afirma Neville (2015), quando ocorre alternados períodos de molhagem e
secagem pela água do mar, parte dos sais são dissolvidos pelo concreto após a
evaporação da água. Dessa forma, ao serem novamente hidratados na molhagem
21

subsequente, esses sais (principalmente sulfatos) aumentam de tamanho, exercendo


uma força de expansão sobre a pasta. Além disso, também há a formação do
fenômeno de eflorescência por lixiviação, formando-se manchas e estalactites.
Os principais sais que podem apresentar influência significativas, segundo
Brandão (1998), como mostra a Tabela 2.2:

Tabela 2.2 - Principais sais que agridem o concreto


Sais agressivos ao concreto presentes na água do mar
Cloreto de Sódio
Cloreto de Magnésio
Cloreto de Potássio
Sulfato de Magnésio
Sulfato de Cálcio
Sulfato de Potássio
Fonte: Adaptado de Neville, 2015

O ataque por sulfatos também pode desencadear o fenômeno da Formação de


Etringita Tardia (Delayed Etringite Formation – DEF), que de acordo com Pontes
(2019) ocorre quando se tem uma inadequada temperatura de cura e/ou
armazenamento do cimento. Também se observa esse fenômeno quando se utiliza
agregados contaminados com gipsita ou cimento com alto teor de sulfato. A formação
de etringita tardia ocasiona expansão de volume e desenvolve um processo de
fendilhamento geral.
2.2.1.3 Ataques por álcalis
A reação álcali-agregado é uma reação química que ocorre devido à presença
de agregados reativos e hidróxidos alcalinos da pasta de cimento hidratada, em
presença de umidade (BOLINA; TUTIAKAN; HELENE, 2019). Dessa forma, Souza e
Ripper (1998) complementa afirmando que a maior parte dessas reações tem caráter
expansivo, formando sólidos adicionais em meio confinado, ocorrendo de início a
fissuração, e após a desagregação da estrutura. A Figura 2.5 apresenta o esquema
da reação álcali-agregado na estrutura:
22

Figura 2.5 - Desenvolvimento da reação álcali-agregado no concreto

Fonte: Souza e Ripper, 1998

O principal elemento estrutural que sofre com reações álcali-agregado são os


blocos de fundações, por estarem sempre em contato com a umidade no solo.
A Figura 2.6 apresenta sérios danos a um bloco de fundação devido ao ataque
por álcalis:

Figura 2.6 - Fissuração de bloco de fundação devido a RAA

Fonte: Gomes e Oliveira, 2009 apud Thomaz, 2020


23

2.2.1.4 Corrosão das armaduras


Uma das funções do concreto é cobrir as armaduras presentes nas peças
estruturais, a fim de evitar que os agentes agressivos cheguem até elas. Bolina,
Tutikian e Helene (2019), afirmam que, com a porosidade do concreto muito elevada,
ou então pelo cobrimento insuficiente para com o meio, ocorre a facilitação dos
agentes agressivos que despassivam a armadura, que deflagram o processo de
corrosão, que de maneira expansiva, fazem com que ocorra o processo de
desplacamento da peça, como mostra a Figura 2.7:

Figura 2.7 - Processo de desplacamento do concreto devido à corrosão da barra

Fonte: Helene, 2000 apud Bolina, Tutikian e Helene, 2019

Outro processo mostrado também por Bolina, Tutikian e Helene (2019), é a


elevada fissuração decorrentes do subdimensionamento da peça, ou a não verificação
do ELS e/ou instalação equivocada das armaduras no momento da execução. Diante
desses fatores, ao ser submetida a cargas, a peça de concreto irá se deformar mais
do que o esperado, por consequência também ocorre maior fissuração. Essa
fissuração elevada abre espaço para os agentes agressivos do meio, no qual ao
adentrar na peça, promove o processo de corrosão da armadura, como mostra a
Figura 2.8:
24

Figura 2.8 - Exposição da armadura devido a elevado grau de fissuração

Fonte: Adaptado de Bolina, Tutikian e Helene (2019)

Conforme Thomaz (2020), toda reação de corrosão, independentemente de


sua natureza, produzirá óxido de ferro, cujo volume chega a ser de três a cinco vezes
maior o original do metal, dessa forma, ocorre o mesmo processo de desplacamento
dito anteriormente. A Figura 2.9 apresenta como o processo de corrosão afeta
estruturas:

Figura 2.9 - Fissuras em pilares de concreto armado devido à corrosão da armadura

Fonte: Thomaz, 2020


25

2.2.1.5 Carbonatação
Outra causa do processo de corrosão da armadura é o da carbonatação.
Segundo Neville (2015), no concreto, a carbonatação em si não causa deterioração,
porém, uma consequência é a redução do pH da água dos poros da pasta de cimento.
Dessa forma, com o pH, antes alcalino, agora próximo aos valores do pH da armadura,
o filme de óxido protetor formado no estado de passivação do aço se desintegra,
possibilitando a ocorrência do processo de corrosão.
Bolina, Tutikian e Helene (2019) afirmam que com a carbonatação, o aço corrói
de maneira generalizada, comparado a estar totalmente exposto à atmosfera sem
nenhuma proteção, como mostrado na Figura 2.10:

Figura 2.10 - Frente de carbonatação

Fonte: Lima e Leoncioni, 2010.

2.2.1.6 Íons cloreto


Os cloretos podem ser adicionados involuntariamente ao concreto a partir da
utilização de aditivos aceleradores do endurecimento, de agregados e de águas
contaminadas, ou a partir de tratamentos de limpeza realizados com ácido muriátrico.
Por outro lado, podem também penetrar no concreto ao aproveitarem-se de sua
estrutura porosa (SOUZA; RIPPER, 1998).
Thomaz (2020) também afirma que um ambiente bastante agressivo devido à
presença de íons cloreto são os ambientes marinhos, e Brandão (1998) reforça que a
estrutura ao ser submetida a ciclos de molhagem e secagem em zonas de respingo
de maré, é possível observar uma grande quantidade de cloretos nos poros do
concreto, que penetram a cada ciclo de molhagem, e cristalizam na secagem. Dessa
forma, os cloretos conseguem adentrar na estrutura através de seus poros, chegando
até a armadura, iniciando-se o processo corrosivo.
26

A Figura 2.11 mostra como a água do mar influencia no processo de corrosão


das armaduras:

Figura 2.11 - Alto grau de corrosão da armadura em zonas marinhas

Fonte: Hartt, 2014 apud Bolina, Tutikian e Helene, 2019

2.2.2 Mecanismos físicos


2.2.2.1 Retração do concreto
Conforme Souza e Ripper (1998) afirmam, a retração do concreto é um
processo natural no qual a pasta é contrariada por forças internas (barras de
armadura) e externas (vinculações). Sabe-se que, a retração de uma peça de concreto
está fortemente ligada à relação água/cimento presente em sua dosagem, de acordo
com Cánovas (1988), uma relação de 0,20 já seria o suficiente para a hidratação dos
componentes ativos do cimento, todo o excedente será refletido na compacidade.
Logo, ao se aumentar a quantidade de água, também se eleva a porosidade, a
retração e diminui-se a resistência mecânica. A Figura 2.12 apresenta fissuração de
uma viga de concreto armado devido à alta relação água/cimento:
27

Figura 2.12 - Fissuração de uma viga com alta relação água/cimento

Fonte: Thomaz, 2020

Thomaz (2020) apresenta dois outros fatores, sendo eles a retração química
ou autógena, que ocorre devido as grandes forças de coesão entre cimento e água
na reação química, fazendo com que haja redução de volume, e a reação por
carbonatação, devido a cal hidratada que é liberada na hidratação do cimento. A cal
reage com o gás carbônico do meio, liberando água, provocando a retração.
É observado por Souza e Ripper (1998) que, deve-se ficar atento para peças
de grandes dimensões, a sua relação para com o meio durante sua concretagem,
principalmente a elevadas temperaturas, baixos teores de umidade e incidência direta
de raios solares. As lajes são um grande exemplo de componente estrutural que, por
possuírem uma grande área de superfície, o processo de retração hidráulica da peça
pode ser acentuado, caso não seja feita uma cura correta. A Figura 2.13 apresenta
uma típica forma de fissuração observadas em lajes devido à retração:
28

Figura 2.13 - Fissuração em lajes

Fonte: Souza e Ripper, 1998

2.2.2.2 Movimentação térmica


Segundo Cánovas (1988), devido à baixa condutividade térmica do concreto, o
calor tem grande influência na formação de fissuras, devido a existência de um
gradiente térmico entre o interior da massa e a superfície. Dessa forma, ainda segundo
Cánovas (1988), diferença de 20°C entre a temperatura externa e a interna, já é o
suficiente para se produzir fissuras.
O coeficiente de dilatação térmica dos materiais componentes de uma estrutura
é o que dita o quanto o material irá dilatar ou retrair. Thomaz (2020) apresenta três
diferentes formas de movimentação térmica, sendo eles a junção de diferentes
materiais (com coeficiente de dilatação térmica distintos), exposição do mesmo
material a diferentes temperaturas e o gradiente térmico presente em um mesmo
material, conforme é mostrado na Figura 2.14:
29

Figura 2.14 - Diferentes formas de movimentação térmica. A) Junção de diferentes materiais.


B) Exposição do mesmo material a diferentes temperaturas e C) Gradiente térmico em um mesmo
material.

Fonte: Thomaz, 2020

Souza e Ripper (1998) ressaltam que se deve ter uma atenção maior ao
dimensionamento e detalhamento de armaduras de estruturas que geram gradientes
térmicos, como lajes e reservatórios em coberturas, pois a chance de se ter formação
de fissuras nesses elementos é alta.
2.2.2.3 Desgaste superficial
O concreto pode sofrer desgaste superficial conforme o passar do tempo,
sendo uma das formas a abrasão, segundo Souza e Ripper (1998), ocasionadas por
partículas transportadas comumente pelo ar e a água, e também pelo atrito gerado
pelos veículos nas pistas de rolamento, por exemplo.
Neville (2015) também destaca o efeito da erosão, tipo de desgaste em
estruturas que possuem contato direto com água corrente. A erosão da superfície de
concreto depende principalmente da dimensão e dureza das partículas transportadas
pela água e da qualidade do concreto em geral.
Outro fator que gera desgaste superficial do concreto apresentado por Neville
(2015) é o efeito da cavitação, um concreto de boa qualidade pode suportar um fluxo
de água de alta velocidade, porém dificilmente resistirá à essa ação, que é a formação
de bolhas de vapor que ao se romper, provocam a entrada de água na superfície.
30

2.2.3 Mecanismos biológicos


Conforme Brandão (1998), o ataque ao concreto por mecanismos biológicos
não é tão comum, exceto em tubulações de esgoto, e em geral, não é efetivamente
mais agressivo.
Souza e Ripper (1998) afirmam que os ataques biológicos podem gerar ataques
químicos a partir do crescimento de raízes de plantas ou de algas que se fixam em
fissuras do concreto.
Brandão (1998) ainda afirma que em superfícies altamente rugosas com alta
porosidade, pode ocorrer o fenômeno de proliferação de parasitas, podendo ser
observado um aumento considerável em locais com altas concentrações de
nutrientes. Esses parasitas podem ser tanto animais quanto vegetais, podendo ser
algas, moluscos e outros organismos microscópicos.
Souza e Ripper (1998) ressaltam os casos de organismos que se desenvolvem
nas fissuras e juntas de dilatação de estruturas, como as conchas. Nesse caso em
particular, a presença desses crustáceos pode ser danosa ao desempenho de
estruturas pelo fato de se solidarizarem a elas, acumulando água e modificando de
maneira considerável a massa da mesma. Ainda segundo Souza e Ripper (1998),
pode haver o ataque por cupins e formigas, que ao se instalarem na estrutura,
provocam diminuição da capacidade resistente da mesma.
A Figura 2.15 mostra como a vegetação pode se aderir nas estruturas, nesse
caso em uma ponte no município de Raposos, Minas Gerais:

Figura 2.15 - Vegetação presente na Ponte José Magalhães Pinto, município de Raposos,
MG.

Fonte: Mascarenhas et al, 2019


31

2.2.4 Mecanismos mecânicos


Cánovas (1988) considera que fissuras provenientes de ações mecânicas são
devido a esforços de tração, compressão, flexão, torção e cortante. De acordo com
Souza e Ripper (1998), muitas dessas fissuras ocorrem devido a falhas de projeto da
estrutura. A Figura 2.16 apresenta os tipos de fissuras associadas às suas respectivas
ações mecânicas:

Figura 2.16 - Configurações genéricas de fissuras em função do tipo de esforço


predominante

Fonte: Souza e Ripper, 1998

Brandão (1998) também afirma que um importante mecanismo mecânico que


gera patologias são as vibrações excessivas, oriundas principalmente de maquinários
e detonações. Deve-se atentar principalmente para as vibrações de caráter
permanente, como as ocasionadas por equipamentos. O grau de deterioração
depende da amplitude das vibrações, da distância da fonte, e da idade do concreto.
Souza e Ripper (1998) também destacam uma ação mecânica de recorrência
nas garagens e guarda-rodas de viadutos, que é o choque mecânico de veículos. É
comum de observar pilares de pavimentos garagens com considerável deterioração
devido ao contínuo impacto que os veículos tem para com eles.
32

2.3 Principais manifestações patológicas


2.3.1 Fissuras
De acordo com Azevedo (2011), as fissuras são manifestações patológicas que
ocorrem sempre que as tensões de tração superam a capacidade de resistência do
concreto. Cánovas (1988) define as fissuras como um dos mais importantes sintomas
patológicos, a partir do estudo da sintomatologia das estruturas.
Para Souza e Ripper (1998), é importante observar sempre antes de se concluir
a fissuração como deficiência estrutural, deve-se analisar a origem, intensidade e
magnitude do grau de fissuração, pois as mesmas são inerentes ao material concreto,
que não resistem as tensões trativas.
Neville (2015) afirma que as fissuras podem diminuir a durabilidade do
concreto, visto que elas dão passagem para agentes agressivos adentrarem no
concreto, e também influenciam na passagem de água, sons, e podem gerar
transtornos estéticos e visuais.
2.3.1.1 Fissuras no estado plástico ou em início de endurecimento
De acordo com Azevedo (2011), uma forma de ocorrência de fissuração se dá
quando o concreto se encontra ainda em estado plástico, em período de pega. Isso
se dá sempre que se tem o impedimento às deformações da massa gerada, a princípio
pelo assentamento dos componentes do concreto plástico, e posteriormente pela
retração do volume de água de amassamento.
Souza e Ripper (1998) afirmam que essas fissuras acompanham o
desenvolvimento das armaduras, formando-se um vazio por baixo da barra, criando-
se o efeito de parede, reduzindo a aderência da mesma ao concreto. A Figura 2.17
ilustra o assentamento do concreto:

Figura 2.17 - Fissuração devido ao assentamento do concreto

Fonte: Azevedo, 2011


33

O segundo instante da fissuração no concreto em estado plástico, definida por


Azevedo (2011), é a retração hidráulica devido a evaporação da água de exsudação.
É importante ressaltar que não se tem uma direção definida desse processo, que pode
ocorrer antes ou após o início da pega. Ainda de acordo com Azevedo (2011), a
evaporação da água é maior conforme maior a velocidade do ar, menor umidade
relativa do ar e maior a temperatura do concreto. A Figura 2.18 representa a
fissuração devido a essa retração:

Figura 2.18 - Fissura devido a retração hidráulica em pavimentos de concreto simples

Fonte: Azevedo, 2011

2.3.1.2 Fissuração no estado endurecido


As fissuras no concreto endurecido podem se produzir em decorrência de
deficiências no projeto, na execução, por uso inadequado da estrutura ao submetê-la
a cargas para as quais não estava projetada, pela ação de agentes agressivos e por
envelhecimento (CÁNOVAS; 1988). Dessa forma, o processo de fissuração das
estruturas pode ocorrer ao longo de toda sua vida útil, logo após o processo de
endurecimento, muitos fatores podem ocorrer para que aconteça manifestações
patológicas.
Azevedo (2011) complementa algumas causas, sendo elas recalques
diferenciais das fundações, variações de temperatura, expansão do concreto devido
à reatividade dos componentes e ação do fogo nas estruturas.
Ainda de acordo com Azevedo (2011), o processo de fissuração do concreto
no estado endurecido pode gerar certo transtorno para os usuários, tendo em vista
que a visualização de fissuras pode causar uma sensação de insegurança para com
a estrutura, mesmo, a princípio, não se tratando de um problema patológico.
34

2.3.2 Porosidades excessivas do concreto


Brandão (1998) afirma que um concreto durável está muito mais ligado às suas
características de permeabilidade, que está diretamente ligada à porosidade, do que
características de boa resistência mecânica.
Azevedo (2011) elenca vários fatores que geram as chamadas bicheiras, ou
ninhos de pedra, devido a porosidade excessiva do concreto, sendo:
• Composição do traço e resistência do concreto;
• Estruturas com alta densidade de armaduras;
• Alta intensidade de vibração;
• Grandes alturas de lançamento do concreto;
• Vedação das formas
• Acabamento superficial das formas
A Figura 2.19 apresenta como a porosidade excessiva do concreto é
manifestada:

Figura 2.19 - Ninhos de concretagem em pilar e viga de concreto armado

Fonte: Figuerola, 2006

De acordo com Garcia (1999), é muito comum se encontrar ninhos de pedra


com segregação. O mau planejamento da concretagem faz com que ocorra a
separação dos agregados da pasta de cimento, ocasionando a segregação, e logo
após, no adensamento realizado de maneira inadequada, ou incompatibilidade da
dimensão do agregado para com a armadura, ocorrem os ninhos de pedra, gerando
grandes vazios nas peças.
35

2.3.3 Corrosão do concreto


Em oposição ao processo de corrosão do aço das armaduras, que é
predominantemente eletroquímico, a do concreto é puramente química e ocorre por
causa da reação da pasta de cimento com determinados elementos químicos,
causando em alguns casos a dissolução do ligante ou a formação de compostos
expansivos, que são fatores deteriorantes do concreto (SOUZA; RIPPER, 1998, p.
72).
Alguns desses fatores é listado por Azevedo (2011), que contribuem para a
deterioração do concreto através de agentes físicos, químicos e biológicos, sendo
eles:
• Desgaste mecânico por erosão, abrasão e cavitação;
• Lixiviação por ataques químicos;
• Alteração química propriamente dita;
• Expansão por cristalização de sais
Azevedo (2011) ainda afirma que esses processos geram alterações de textura
e relevo da superfície, gera redução do cobrimento, abrindo espaço para mais ataques
de agentes agressivos.
2.4 Resumo
A Tabela 2.3 apresenta um resumo geral dos principais mecanismos de
deterioração, da sintomatologia, assim como suas situações típicas e mecanismos de
formação:
Tabela 2.3 - Principais patologias e mecanismos

Mecanismos de Mecanismos de
Origem Sintoma Situações Típicas
deterioração formação
Dissolução dos
Percolação de água
compostos da pasta por
Lixiviação Eflorescência em fissuras ou alta
águas puras, carbônicas
permeabilidade
ou ácidas

Concreto -Expansão por sulfatos


Tubulações de
Fissuração e com aluminatos e CH da
esgoto, blocos de
Ataques por perda de pasta, com formação de
fundação, elemento
sulfatos massa etringita; -Decomposição
em contato com solo
(resistência) do C-S-H devido à
contaminado
formação da gipsita
36

Reação entre a sílica do


Barragens, blocos agregado e os álcalis do
Reação álcali Expansão e
de fundação cimento e íons OH-,
agregado fissuração
(ambientes úmidos) formando gel expansivo,
em presença de água
Reação Oxidação de produtos
Manchamento
superficial de Superfícies úmidas ferruginosos dos
Concreto superficial
agregados agregados
Pavimentação com Atrito entre superfícies
Atrito seco
Desgaste da tráfego pesado sólidas
superfície Canais e condutos Água com partículas
Erosão
abertos sólidas
Desgaste da Sucção em desvios de
Cavitação Condutos forçados
superfície fluxo de água

-Perda da alcalinidade
Peças de concreto pela carbonatação:
armado sujeitas a redução do pH,
Expansão ,
Corrosão de agentes agressivos - despassivação da
Armadura fissuração e
armaduras formação de célula armadura;
lascamentos
de corrosão -Ataques por íons Cl-,
eletroquímica penetração de Cl- por
difusão até armadura

Menor resistência a
Pilares em
Fissuras, choques, impactos,
garagens, guarda-
lascas recalques, acidentes,
Ações mecânicas corpos, etc
incêndios, sismos, etc
Deformação e Cargas excepcionais
Lajes e vigas
fissuras elevadas

Fissuras Devido ao calor de


verticais em Concreto - massa: hidratação do cimento, há
Estrutura
contato com o barragens, blocos de volume e, após o
Dilatação térmica
elemento que fundação de resfriamento, contrai,
restringe a grandes volumes ocasionando tração, haja
contração restrição na base

Fissuração de tração, nas


Retração
Pavimentos, primeiras idades: perda
hidráulica Fissuras
grandes lajes prematura de água do
restringida
concreto

Fonte: Adaptado de Azevedo, 2011


37

3 MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM PILARES DE

CONCRETO ARMADO

3.1 Comentários iniciais


Os pilares são elementos estruturais fundamentais que compõem uma
estrutura. Dessa forma, qualquer tipo de manifestação patológica presente nesses
elementos deve ser criteriosamente estudado, a fim de encontrar as causas e reverter
os problemas nele encontrados.
Entre todas as partes componentes de um sistema estrutural, os pilares são as
peças mais solicitadas. Os esforços que incidem sobre as lajes, são transmitidos para
as vigas, que por sua vez descarregam sobre eles. Toda e qualquer tipo de patologia
apresentada nesses elementos geram grandes transtornos aos usuários da estrutura,
visto que qualquer intervenção nesses elementos gera alto custo de reparo.
Dessa forma, o responsável pelo projeto e/ou execução do empreendimento
deve estar atento a todos os possíveis desvios das boas práticas de engenharia,
descritas criteriosamente nas normas vigentes, como a ABNT NBR 6118 (2014) –
Projeto de estrutura de concreto – Procedimento e a ABNT NBR 14931 (2004) –
Execução de estruturas de concreto – Procedimento.
De acordo com Azevedo (2011), o desenvolvimento de um empreendimento
envolve fases de planejamento, projeto, fabricação e seleção de materiais e execução,
finalizando o processo com a fase de utilização, destinado aos usuários. A partir disso,
observa-se que as manifestações patológicas podem decorrer de inadequações de
projeto, erros executivos, como a escolha equivocada de materiais e suas aplicações,
ou até mesmo durante a etapa de uso da edificação.
Souza e Ripper (1998) afirmam que, salvo os casos de catástrofes naturais, os
problemas patológicos recorrentes em estruturas originam-se a partir de falhas de
uma ou mais dos processos inerentes da construção civil, que serão tratadas no
presente capítulo, sendo as manifestações patológicas decorrentes de erros de
projeto, execução e utilização para pilares de concreto armado, assim como sua
prevenção baseada em um correto projeto conforme ABNT 6118 (2014), e execução
de acordo com a ABNT 14931 (2004).
38

3.2 Etapa de projeto


De acordo com Souza e Ripper (1998), existe uma numerosa gama de fatores
que podem incidir em falhas na etapa de concepção da estrutura. Podendo ser
oriundas durante o estudo preliminar (lançamento da estrutura), na execução do
anteprojeto ou na fase da elaboração do projeto de execução.
Souza e Ripper (1998) ainda ressaltam que, ao se ter um estudo preliminar
deficiente, ou anteprojetos mal elaborados, tem-se por resultado final um maior custo
do processo construtivo, ou ainda transtornos para os usuários do empreendimento
na etapa de utilização.
Azevedo (2011) pontua que os projetos de estruturas de concreto armado
devem ser desenvolvidos a partir de três critérios, capacidade resistente, desempenho
em serviço e durabilidade.
A capacidade resistente, ainda conforme Azevedo (2011), relaciona-se quanto
a segurança da estrutura, cabendo ao autor do projeto estrutural fazer a correta
análise de todas as ações atuantes sobre a estrutura. Por desempenho em serviço, é
analisada às deformações que os elementos estruturais, tanto isoladamente quanto
em conjunto, poderão apresentar na fase de utilização, sem gerar danos aos mesmos.
Por fim, a durabilidade, que está relacionada à como a estrutura consegue preservar
suas características definidas em projeto ao longo de sua vida útil.
Um projeto adequado de pilar de concreto armado passa por uma série de
fatores que devem ser observados criteriosamente pelo projetista, sendo eles
adequação de elementos de projeto, compatibilização da estrutura com outras
disciplinas, escolha dos materiais, dimensionamento e por fim um detalhamento
adequado.
3.2.1 Elementos de projeto
De acordo com Souza e Ripper (1998), adequar corretamente os elementos de
projeto passa por definir as ações atuantes e combinações mais desfavoráveis das
mesmas, escolha do modelo analítico, memória de cálculo condizente com esse
modelo, além da avaliação da resistência do solo.
É importante ressaltar que para projetos de pilares de concreto armado a
análise dos efeitos de 2ª ordem se tornam imprescindíveis, tendo em vista que são
elementos estruturais que possuem esbeltez considerável, e desprezar esses efeitos
podem trazer grandes problemas quanto a deformabilidade da estrutura.
39

Conforme Scadelai (2004), efeitos de 2ª ordem se somam aos obtidos na


análise de 1ª ordem, quando a análise do equilíbrio passa a ser considerada a partir
de condição deformada. Esses efeitos devem ser considerados na análise estrutural
de edifícios, tanto de forma global, local e localizada. Como uma das funções dos
pilares é, além de resistir esforços axiais de compressão e de flexo-compressão,
também resistir às ações horizontais como as do vento, Gonçalves (2017) afirma que
a análise de 2ª ordem local para esses elementos de barra deve ser considerada já
que seus respectivos eixos não se mantêm retilíneos sob essas ações.
Outro ponto importante a se destacar para uma concepção adequada de
elementos estruturais como pilares é a necessidade de consideração de todos os
esforços nele aplicados. O levantamento de todas as ações atuantes sobre os pilares
deve ser efetuado ainda na parte de concepção do projeto estrutural, como esforços
de compressão provenientes do peso da estrutura, lajes e vigas, sobrecargas de
utilização e esforços horizontais de vento.
Thomaz (2020) ressalta um importante ponto de falhas de consideração de
projeto como agente patológico, inclusive de pilares, como a atuação de sobrecargas
nas estruturas. A atuação dessas, mesmo tendo sido consideradas no projeto
estrutural, mas por falhas executivas ou do próprio cálculo da estrutura podem solicitar
a peça a uma carga superior à prevista.
Ainda Thomaz (2020) frisa que, essas sobrecargas atuantes, previstas ou não
em projeto, pode produzir fissuração em componentes de concreto armado sem que
isso gere ruptura ou instabilidade da estrutura, já que a ocorrência desse fissuramento
em um elemento produz uma redistribuição de tensões ao longo desse componente
fissurado e também ao longo de seus vizinhos. Mas é importante ressaltar que, devido
ao critério de dimensionamento do componente, assim como a magnitude de suas
tensões, ou até mesmo pelo comportamento do sistema estrutural adotado, esse
raciocínio não pode ser aplicado a todos os elementos.
Cánovas (1988) afirma que peças muito esbeltas submetidas à compressão
podem apresentar fissuras muito perigosas na parte central das mesmas. Essas
fissuras tem por características ser finas e estarem juntas, podendo ser um índice
bastante claro do início de flambagem.
Cánovas (1988) ainda ressalta que pilares que possuam esbeltez superior a 30
estão sujeitos a flexão composta, o que pode gerar fissuração bastante variada,
podendo agravar-se com o surgimento de fenômenos de fluência e retração do
40

concreto. Deve-se tomar bastante cuidado com fissuras de compressão em pilares,


pois elas são sintomas de um colapso imediato da zona afetada, como mostra a Figura
3.1:
Figura 3.1 - Ruptura pilar de subsolo por capacidade resistente inferior aos esforços.

Fonte: Helene, 1992

Outro elemento de projeto que deve ser considerado na concepção de pilares


de concreto armado são as juntas de dilatação na estrutura. Thomaz (2020) mostra
que a fissuração por movimentações térmicas acontece principalmente pela falta
delas na concepção da estrutura, em aberturas e espaçamentos.
Isso ocorre principalmente em encontros de vigas com pilares, regiões
normalmente mais solicitadas. A falta de juntas de dilatação faz com que ao se ter a
movimentação da viga por dilatação térmica, seja acometido o processo de fissuração
aparente de pilares, como mostra o esquema na Figura 3.2:

Figura 3.2 - Fissuração em pilar devido a movimentação térmica de vigas

Fonte: Thomaz, 2020


41

3.2.2 Compatibilização de projetos


A compatibilização entre as disciplinas de projetos se tornou um fator
preponderante para o sucesso de uma obra, com ferramentas como o BIM (Building
Information Modeling), que auxiliam no alinhamento do projeto arquitetônico e
estrutural com os demais projetos complementares. Entretanto, é comum de se
observar graves erros de compatibilização da estrutura, com a arquitetura, hidráulica
e elétrica, nas quais se não revisados, podem ir para o canteiro e gerar sérios
transtornos ao empreendimento.
Menegatti (2015) afirma que, o sincronismo entre o projeto arquitetônico e
estrutural na maioria das vezes depende do bom senso e profissionalismo do arquiteto
e engenheiro, mas que em diversas situações isso não é observado, como mostrado
na Figura 3.3:

Figura 3.3 - Pilar sobrepondo esquadria

Fonte: Menegatti, 2015

Outro problema bastante comum é a falta de compatibilização entre os projetos


estrutural e os complementares, como o hidrossanitário e o elétrico. Frequentemente
os projetistas não se atentam quanto a locação correta dos elementos, fazendo com
que ao se sobrepor as pranchas, eles dividam o mesmo espaço. Sabe-se que passar
tubos de queda, tubulações de esgoto e água e eletrodutos dentro de elementos
estruturais devem ser previamente calculados pelo engenheiro calculista da estrutura,
pois a perda de seção de elementos como pilares pode acarretar em perda de
resistência, causa de possíveis manifestações patológicas no futuro, como mostra a
Figura 3.4:
42

Figura 3.4 - Incompatibilidade de eletrodutos com pilar estrutural

Fonte: AltoQI, Disponível em: https://maisengenharia.altoqi.com.br/estrutural/consequencias-


falta-compatibilizacao-em-projetos/. Acesso em: 13 nov, 2021

3.2.3 Dimensionamento e detalhamento


Após a definição dos elementos de projeto, como definição das ações e
combinações atuantes, escolha do modelo analítico, definição de sobrecargas, passa-
se para o dimensionamento e detalhamento do pilar propriamente dito.
A ABNT NBR 6118 (2014) define um procedimento de cálculo para pilares em
concreto armado que passa por análise de 2ª ordem, características geométricas
(comprimentos de flambagem, esbeltez, dimensões mínimas, comprimentos
equivalentes), excentricidades e define alguns métodos de cálculo, como o método
geral, métodos aproximados e cálculo simplificado, assim como o procedimento de
cálculo das armaduras longitudinais e estribos, ficando a cargo do calculista definir o
melhor método a se empregar.
Mesmo assim, é comum se encontrar erros de dimensionamento, como
dimensões de pilares inadequadas e armaduras longitudinais ou estribos insuficientes.
Para pilares, Thomaz (2020) mostra que uma das consequências de erros de projeto
é o subdimensionamento dos estribos, que pode gerar fissuração vertical em seu
corpo, originadas pela grande diferença do módulo de deformação do agregado
graúdo e do módulo de deformação da argamassa intersticial. Dessa forma, ocorre
43

uma deformação da argamassa muito mais acentuada, surgindo-se superfícies de


cisalhamento paralelas aos esforços de compressão, como mostra a Figura 3.5:

Figura 3.5 - Fissuração devido ao subdimensionamento de estribos

Fonte: Thomaz, 2020

Thomaz (2020) também aponta para outro problema recorrente no


dimensionamento, que é a alta taxa de armaduras longitudinais, também chamado de
ferro à milanesa, como mostrado na Figura 3.6:

Figura 3.6 - Congestionamento de armaduras

Fonte: Thomaz, 2020


44

Esse congestionamento de armaduras acarreta em sérios problemas de


execução, podendo gerar patologias graves como a segregação, ou ninhos de pedra,
ao impedir que o agregado passe pelas armaduras, que será explicado em patologias
geradas na fase de execução. Além do subdimensionamento de estribos apresentado
anteriormente, Thomaz (2020) também ressalta que a fissuração por falhas de projeto
nas armaduras transversais pode ocorrer no encontro de pilares com vigas, posição
de esforço cortante máximos nos apoios, como apresentado na Figura 3.7:

Figura 3.7 - Fissuras devido a falhas de projeto em estribos

Fonte: Thomaz, 2020

Outro ponto a se destacar são as deficiências de detalhamento das armaduras,


que segundo Souza e Ripper (1998), podem ocorrer por desconhecimento do
projetista, que não tem sabe da importância de certo detalhe, ou como por utilizar
escalas de desenhos inadequadas, dificultando ao armador e mestre de obras uma
correta interpretação da representação gráfica ali descrita.
Um caso bastante típico, ainda conforme Souza e Ripper (1998), é o
detalhamento incorreto de consolos curtos que se apoiam em pilares, como mostra a
Figura 3.8:
45

Figura 3.8 - Detalhamento de armadura de consolos curtos para ancoragem em pilares

Fonte: Souza e Ripper, 1998

Thomaz (2003) afirma que o dimensionamento errado e um detalhamento


inadequado das armaduras em consolos curtos ocorre geralmente ao não se
considerar as forças horizontais de coação H, sendo as forças de retração térmica ou
hidráulica, originando-se fissuras quase verticais em diferentes posições do consolo,
conforme Figura 3.9:

Figura 3.9 - Diferentes formas de fissuração em consolos devido a erros de


dimensionamento e detalhamento de armaduras

Fonte: Tomaz, 2003


46

Além disso, pode ocorrer também o esmagamento dos consolos e/ou cabeça
dos pilares, como apresentado na Figura 3.10:

Figura 3.10 - Fissuras em consolo e esmagamento de cabeça de pilar devido a insuficiência


e/ou falta de detalhamento de estribos

Fonte: Thomaz, 2020

Outro mecanismo que o dimensionamento inadequado pode acarretar é a


fissuração da base de pilares para superestrutura, apresentado na Figura 3.11:

Figura 3.11 – Fissuração e processo corrosivo avançado na base de pilares de pontes

Fonte: DNIT, 2010

As fissuras próximas à base do pilar, aproximadamente igual à largura do pilar,


ocorrem devido a tensões de tração na direção horizontal do mesmo. Thomaz (2003)
elenca as seguintes causas:
47

• Efeito da retração térmica impedida, que devida a rápida dissipação do


calor de hidratação do cimento do concreto das paredes do pilar,
podendo ocorrer nas primeiras idades, em semanas ou até mesmo dias;
• Efeito da retração hidráulica impedida, conforme a perda de água para
o meio com alta velocidade comparada a perda de água no bloco de
fundações, surgindo fissuras à longo prazo;
• Devido a concentração de tensões de tração sobre as barras verticais,
ocorre o processo de fissuração paralelas as mesmas, dessa forma, a
corrosão é desencadeada, já que as barras se encontram expostas aos
agentes agressivos do ambiente
A solução para evitar essa patologia é prever no projeto estribos maiores que
os usuais, até uma altura igual à largura do pilar.
A falta de armaduras, além da falta de consideração de um cintamento
adequado e placa de articulação levada até a extremidade também pode gerar
fissuras nos topos de pilares, conforme DNIT (2010) como mostra a Figura 3.12:

Figura 3.12 - Fissuração topo de pilar por falta de armadura

Fonte: DNIT, 2010

3.3 Etapa de execução


De acordo com Azevedo (2011), o surgimento de patologias futuras está
fortemente associado ao conjunto de atividades distintas que ocorrem na etapa de
48

execução de estruturas de concreto. Destaca-se as primeiras falhas de execução no


processo de montagem e desmontagem de formas, no qual é notório o desgaste do
material pelo número de reutilizações do mesmo, de forma a contribuir para patologias
caracterizadas por deficiência de compacidade do concreto, desalinhamento e
desnivelamentos.
Azevedo (2011) ainda ressalta uma atenção especial ao processo de
montagem de armaduras, principalmente quanto à disposição das barras, sempre
buscando estar de acordo com o detalhamento, principalmente para se garantir o
cobrimento correto e evitar que os agentes de deterioração adentrem à peça
estrutural. Observa-se que uma distribuição irregular das armaduras pode gerar uma
alteração na capacidade resistente das peças, gerando possíveis aparecimentos de
fissuras e comprometendo o seu desempenho.
Souza e Ripper (1998) resumem a ocorrência de problemas patológicos
originados na etapa de execução ao processo de produção, reflexo a priori de
problemas socioeconômicos, ocasionando uma baixa qualidade técnica da mão de
obra tanto de profissionais menos e mais qualificados.
Souza e Ripper (1998) também ressaltam a deficiência de um efetivo sistema
de controle de materiais no processo construtivo, sendo um fator que mostra a
fragilidade da indústria da construção. Dessa forma, menor durabilidade, baixa
resistência e manifestações patológicas tornam-se um fato recorrente nas estruturas
devido a baixa qualidade do processo construtivo.
A manifestação patológica em pilares de concreto armado é ocasionada na sua
grande maioria por erros no processo executivo, tendo em vista por serem peças altas
e esbeltas, é observado uma falta de controle quanto à altura correta de lançamento
do concreto, assim como realizar um adensamento adequado, além do processo de
montagem de armaduras, o processo de forma e desforma da peça e de cura do
concreto.
A ABNT NBR 14931 (2004) – Execução de estruturas de concreto –
Procedimento dita todo o processo adequado que a obra deve observar no processo
de execução da estrutura, a fim de se evitar manifestações patológicas, porém
observa-se que muitos profissionais do setor da construção civil não se atentam para
os procedimentos nela citados fazendo com que o processo final seja muito mais
oneroso tanto para a construtora tanto para o usuário que sofrerá com problemas no
empreendimento ao longo de toda a sua vida útil.
49

3.3.1 Escolha e utilização de materiais


Azevedo (2011) afirma que todos os materiais empregados na execução da
estrutura devem seguir às especificações de projeto e aos requisitos de qualidade
prescritos nas Normas Brasileiras. A qualidade do concreto depende
fundamentalmente de sua dosagem, tendo em vista que sua composição é oriunda
de uma mistura de insumos, portanto é indispensável o controle de suas propriedades,
a fim de se evitar aparecimento de patologias futuras.
Segundo Cánovas (1988), a escolha do cimento empregado no concreto pode
ser uma causa de patologias, dependendo da quantidade de adições inertes ou não
ativas que ele possa conter. Outro fator preponderante é a dosagem de cimento, que
pode gerar problemas no concreto. Deve-se empregar a menor quantidade possível
de cimento para uma determinada resistência de concreto, pois altos consumos geram
forte calor de hidratação, que com a elevação da temperatura, levarão em fortes
retrações térmicas, podendo gerar fissuração.
Conforme Azevedo (2011), o cimento Portland é um produto fabricado em
instalações industriais de grande porte, com elevado custo de processamento,
acondicionamento e distribuição, e que a qualidade da matéria-prima, assim como o
produto final é verificada constantemente pela ABCP – Associação Brasileira de
Cimento Portland, que monitora diariamente o processo das fábricas. Em razão disso,
os canteiros e centrais de concreto muitas vezes aceitam o produto final sem o devido
controle de qualidade do cimento, deixando de fazer ensaios cruciais para o controle
adequado do material, sendo eles: finura, tempo de pega, expansibilidade e
resistência à compressão, além de algumas determinações químicas quanto ao óxido
de magnésio e óxido de cálcio livre.
Azevedo (2011) também ressalta quanto ao controle de qualidade dos
agregados que entram na composição do concreto, sendo indispensável a realização
de ensaios para conhecimento das características dos materiais e a implementação
de um programa de análises periódicas para se ter o acompanhamento do
comportamento das propriedades ao longo do tempo de exploração. Percebe-se que
as variações das características físicas dos agregados, interferem diretamente nas
propriedades do concreto, especificamente no quesito trabalhabilidade,
principalmente aquelas relacionadas com a composição granulométrica, presença de
materiais pulverulentos e formato do grão. Dessa forma, esse fator pode trazer
maiores problemas quanto a aplicação do material nas formas, gerando deficiências
50

de compacidade pela presença de vazios no concreto, formando os ninhos de pedra,


patologia mais recorrente em pilares de concreto armado.
Cánovas (1988) aponta outro problema importante nos agregados, que é o
constituído pelos finos. Observa-se que os agregados que possuem finura comparável
à do cimento podem ocasionar interposição entre os grãos dos agregados e os do
cimento criando-se descontinuidade na pasta hidratada, a partes finas também podem
prejudicar o processo de aderência entre argamassa e agregados graúdos, assim
como as armaduras. Também se observa que, devido à grande superfície específica
desses finos, o processo de hidratação do cimento pode ser incompleto, devido a
grande necessidade de água para serem molhados, e isso também eleva a relação
água/cimento para se conseguir a mesma trabalhabilidade, diminuindo-se, portanto, a
resistência mecânica. Essa elevada quantidade de água que os concretos com finos
necessitam podem originar efeitos patológicos devido à maior retração e maior
porosidade desse concreto.
Outro ponto abordado por Azevedo (2011) é a escolha da água a ser
empregada na produção do concreto, que não deve conter substâncias que reduzam
o desempenho do material ao longo de sua vida útil. Observa-se que a água obtida
nas cidades após tratamento, muitas das vezes não possuem níveis aceitáveis teores
de cloretos, sulfatos, matéria orgânica, álcalis, além do seu pH.
Cánovas (1988) também observa que a quantidade de água a ser empregada,
que interfere diretamente na hidratação dos componentes ativos do cimento. Todo o
excesso repercute diretamente na compacidade do concreto, podendo gerar
concretos porosos e menos resistentes, com maiores retrações e mais susceptíveis a
ataques de agentes destrutivos.
Azevedo (2011) chama também a atenção para o uso de aditivos no concreto,
recurso amplamente utilizado em muitas obras. O processo de dosagem deve ser
criterioso ao se utilizar aditivos aceleradores de pega, pois muitos possuem cloretos,
onde um teor elevado desse componente pode gerar corrosão das armaduras da peça
de concreto armado. Cánovas (1988) aponta outro tipo de aditivo que pode gerar
problemas patológicos, sendo eles os incorporadores de ar, que podem reduzir a
resistência mecânica devido aos vazios deixados na peça.
Azevedo (2011) também aponta para os problemas que os aditivos
plastificantes e superplastificantes, associados a outros com efeitos retardados de
pega. Esses aditivos podem contribuir para o aparecimento de patologias
51

relacionadas à perda de compacidade e fissuração, se não for observado um controle


rígido de dosagem desses produtos no concreto, a fim de se evitar dificuldades de
aplicação e retardamento excessivo do endurecimento do material.
Para finalizar o processo de escolha e definição dos materiais, Azevedo (2011)
inclui o controle das propriedades das armaduras empregadas na peça de concreto
armado, principalmente quanto a sua resistência mecânica (tração), ductilidade
(dobramento) e tolerâncias de variação de bitola (massa linear).
3.3.2 Principais manifestações patológicas em pilares devido a falhas de
execução
3.3.2.1 Ninhos de concretagem
Uma manifestação patológica encontrada de forma expressiva em pilares de
concreto armado são os ninhos de concretagem, ou popularmente denominadas de
bicheiras, como apresentado na Figura 3.13:

Figura 3.13 - Ninhos de concretagem em pilar

Fonte: Pontes, 2019

Figuerola (2006) apresenta vários fatores que geram esse tipo de patologia,
sendo eles:
52

• Dosagem inadequada do concreto;


• Lançamento do concreto em alturas superiores a 3 metros;
• Alta taxa de armadura;
• Vibração excessiva (adensamento inadequado);
• Especificação incorreta do tamanho do agregado;
• Peças muito esbeltas, com concreto de baixo slump;
• Formas mal executadas, com baixa estanqueidade
A dosagem correta dos insumos presentes no concreto evita os ninhos de
concretagem principalmente naqueles que possuam uma quantidade insuficiente de
argamassa ou que tenha muito agregado graúdo. Ainda conforme Figuerola (2006),
lançamentos de grandes alturas fazem com que o agregado graúdo chegue à base
do elemento estrutural antes da argamassa, ocasionando a formação de ninhos na
parte inferior da peça, como mostra o esquema da Figura 3.14:

Figura 3.14 - Formação dos ninhos de concretagem devido ao lançamento incorreto do


concreto em pilares

Fonte: Thomaz, 2003

Thomaz (2003) recomenda que a altura de lançamento não seja superior a 2


metros, e que se faça o uso de tubos verticais ou mangueiras, no caso de concretos
bombeados, como mostra a Figura 3.15:
53

Figura 3.15 - Lançamento correto de concreto em pilares

Fonte: Thomaz, 2003

Quanto a alta taxa de armadura, Figuerola (2006) afirma que o


congestionamento de ferragens faz com que a brita fique retida e que se passe apenas
a argamassa, formando-se ninhos na parte superior do elemento estrutural. É
importante ressaltar que as relações entre o tamanho máximo do agregado presente
na dosagem do concreto, juntamente com as dimensões da peça, com as distâncias
horizontais e verticais entre as barras de aço devem ser condizentes para que não se
ocorra a formação desse tipo de patologia.
Figuerola (2006) ainda ressalta que a vibração excessiva pode segregar os
componentes, gerando os vazios de concretagem. Cánovas (1988) afirma que o
vibrador empregado no adensamento do concreto deve ser adequado às
características do mesmo, como sua frequência, amplitude e potência. Figuerola
(2006) completa que para o adensamento por imersão, deve-se inserir vibradores de
imersão ou agulhas de forma que toda a massa de concreto possa ser adensada
adequadamente.
Em relação a má execução de formas, Cánovas (1988) destaca suas
irregularidades superficiais, que podem gerar grupos de cavidades em forma de
54

ninhos de pedras devido principalmente a segregação, má compactação ou fuga de


nata através de suas juntas.
3.3.2.2 Fissuras de assentamento plástico e de pega/falsa pega
A concretagem simultânea de vigas, lajes e pilares, juntamente com mau
adensamento do concreto, concreto muito fluido e formas não estanques podem gerar
uma patologia em pilares de concreto armado denominado como fissuras de
assentamento plástico, de acordo com Helene (1992), como mostrado na Figura 3.16:

Figura 3.16 - Concretagem simultânea de viga, laje e pilar

Fonte: Takeuti, 1999

O fenômeno de assentamento das partículas sólidas que fazem parte da


composição do concreto é uma característica dos concretos mais plásticos, com maior
teor de água, como os concretos bombeados atualmente utilizados nos grandes
centros. A forma de minimizar esse fenômeno fundamenta-se em estudos de
dosagem adequada que promovam obter consistências mais fluidas com menor teor
de água (AZEVEDO, 2011, p. 1120)
Outra patologia observada em pilares descrita por Helene (1992) são as
fissuras de pega ou falsa pega, ocasionadas por cimento com excesso de anidrita, ou
devido ao atraso no lançamento do concreto, assim como calor excessivo e umidade
relativa do ar baixa. Azevedo (2011) afirma que a fissuração pode ocorrer antes ou
após o início da pega, não tendo uma direção definida já que o processo se manifesta
em todas as direções.
Neville (2015) define o fenômeno da falsa pega como sendo o enrijecimento
prematura anormal em poucos minutos após adição de água. Esse endurecimento
precoce gera fissuração na peça de concreto, como mostra a Figura 3.17:
55

Figura 3.17 - Fissuras em pilares pela retração do concreto em vigas

Fonte: Azevedo, 2011

3.3.2.3 Fissuras junta de concretagem


Outra patologia observada devido ao mau adensamento de uma peça de pilar
de concreto armado são as fissuras de junta de concretagem, conforme Helene (1992)
mostra. Ao se ter no topo do pilar excesso de nata de cimento, ou até mesmo sujeira,
forma-se fissuras na junção pilar-viga, como mostrado na Figura 3.18:

Figura 3.18 - Fissuras junta de concretagem

Fonte: Helene, 1992

É comum de se ter para pilares a concretagem em duas ou mais etapas, a fim


de se evitar a segregação, formando-se as chamas juntas frias, porém, deve-se
atentar para alguns detalhes, como descreve Munaro e Possan (2017), que devem
ser observadas questões estéticas da sua localização, de resistência e durabilidade.
Também deve-se realizar a limpeza adequada da região de concreto endurecido
removendo-se a nata de concretagem e outros resíduos antes da nova concretagem.
É importante deixar a superfície irregular de forma a garantir a aderência dos
56

concretos. A ABNT NBR 6118 (2014) orienta que seja dimensionada armaduras de
costura quando não se observa a rugosidade propícia da superfície de concreto
endurecida. A Figura 3.19 apresenta pilares comprometidos devido a falhas de
execução de juntas de concretagem:

Figura 3.19 - Junta de concretagem mal executada

Fonte: Munaro e Possan, 2017

3.3.2.4 Corrosão de armaduras


Helene (1992) apresenta a corrosão de armaduras como outro fator muito
importante quanto a manifestação patológica em pilares. A má execução da estrutura,
atrelado principalmente a um processo de cura mal feito, juntamente com cobrimento
insuficiente, permite que agentes agressivos adentrem sobre os elementos
estruturais, como mostra a Figura 3.20:
Figura 3.20 - Fissuração por corrosão de armaduras

Fonte: Sena et al, 2020


57

Thomaz (2003) mostra que pode ser observado a corrosão de armaduras de


pilares presentes em estruturas costeiras, sob atuação dos agentes marítimos,
somado com outros dois fatores já apresentados, as juntas e ninhos de concretagem,
tornam-se uma combinação perigosa para o ataque de mecanismos de deterioração
química dos pilares, como apresentado na Figura 3.21:

Figura 3.21 - Corrosão das armaduras de pilares presentes em costas marítimas

Fonte: Adaptado de Bolina, Tutikian e Helene, 2019

De acordo com Lima e Lencioni (2010), o processo de fissuração do concreto


começa após o início da corrosão do aço, devido à grande expansão que o mesmo
pode apresentar, da ordem de 6 a 10 vezes o volume inicial. Esse aumento de volume
gera tensões internas na peça de concreto, gerando mais fissuras acelerando o
processo corrosivo, em geral, parte da armadura já está comprometida, devido ao
surgimento de produtos de corrosão (óxidos solúveis) na superfície do concreto. Além
58

disso, outra consequência desse processo é a redução de aderência aço-concreto,


devido à natureza expansiva dos produtos de corrosão, como apresentado o esquema
da Figura 3.22:

Figura 3.22 - Corrosão de armaduras de pilares dentro do mar

Fonte: Adaptado de Thomaz, 2003

Thomaz (2003) afirma que é imprescindível para a execução de estruturas


dentro ou próximas a ambientes marítimos uma espessura adequada de cobrimento,
alto teor de cimento, uma baixa relação água/cimento, lançamento adequado a fim de
se evitar segregação, adensamento vibratório controlado, além de uma cura
cuidadosa e prolongada, a fim de se ter um concreto bastante impermeável. Observa-
se que o processo de corrosão é bastante acentuado em zonas de variação do nível
da água e de respingos, devido à presença elevada de água e oxigênio nesses locais
de movimentação da maré.
O processo corrosivo de armaduras também pode ser observado em pilares de
pontes sobre rios de água que contenham elevado teor de partícula sólida, ainda
segundo Thomaz (2003). As partículas sólidas geram um processo de abrasão nos
pilares, e ao chegarem nas armaduras longitudinais, desencadeiam a oxidação das
mesmas. Esse processo de oxidação das barras expostas resulta na fissuração ao
longo das barras acima do nível da água, como apresentado na Figura 3.23:
59

Figura 3.23 – Processo corrosivo de pilares de pontes sobre rios

Fonte: DNIT, 2010

Esse fenômeno ocorre principalmente pelo fato de se usar um concreto que


não possui resistência adequada para suportar o processo abrasivo proveniente da
alta velocidade da água carreada de materiais sólidos.
Outro processo corrosivo das armaduras devido à uma execução inadequada
pode ser observada em pilares de ponte que servem de apoio para uma
superestrutura, como apresentado na Figura 3.24:

Figura 3.24 - Corrosão em estribos de pilares

Fonte: Vitório, 2015


60

De acordo com Thomaz (2003), é observado nesse tipo de estrutura a


ocorrência da fissuração e expulsão do concreto nas regiões de dobra dos estribos.
Isso ocorre devido ao fato de as barras perderem a sua carepa de fabricação, que a
protegem inicialmente do processo corrosivo. Em pilares que servem como base para
esse tipo de superestrutura, a corrosão dos estribos e perda de cobrimento é
retardado devido as tensões de compressão vertical atuantes da carga da estrutura
que dificultam no processo de abertura de fissuras horizontais.
Para esse caso, a melhor solução é a execução de um concreto bem adensado
e com cobrimento suficiente para que haja impedimento da penetração de agentes
agressivos, como cloretos e sulfatos.
3.3.2.5 Sobrecarga nas estruturas e baixa resistência do concreto
Outro fator que influencia na formação de manifestações patológicas em pilares
são as sobrecargas nas estruturas, que além dos pontos abordados para a fase de
projeto, pode também ter efeitos devido a falhas no processo construtivo.
Thomaz (2020) afirma que, mesmo que a carga tenha sido considerada
corretamente no projeto estrutural, ao se ter erros na execução da peça, essa carga
pode se tornar excedente e danificar a estrutura, como o esmagamento do concreto,
sobretudo nas cabeças e bases de pilares, como mostrado na Figura 3.25:

Figura 3.25 - Esmagamento da cabeça de pilar

Fonte: Thomaz, 2020

Thomaz (2020) também indica outro tipo de patologia, observada em processos


construtivos em componentes pré-moldados. Pode ocorrer fissuras horizontais ou
ligeiramente inclinadas no corpo de pilares, suscetíveis de ocorrer devido à esforços
61

de flexo-compressão, ou até em caso mais graves, flambagem, ocorridos por falhas


no processo de montagem, apresentado na Figura 3.26:

Figura 3.26 - Esforço de flexo-compressão atuante em painéis pré-moldados.

Fonte: Thomaz, 2020

Esse excesso de sobrecarga apresentado, aliado a uma execução inadequada


de estribos nos pilares, juntamente com mau adensamento do concreto, pode se
manifestar as chamadas fissuras de compressão localizada ou flambagem de
armaduras, de acordo com Helene (1992), apresentado na Figura 3.27:

Figura 3.27 – Fissuras de compressão localizada ou flambagem de armaduras

Fonte: Helene, 1992

Cánovas (1988) aponta outro fator muito determinante no processo de


manifestação patológica para pilares, as falhas produzidas nos elementos estruturais
como consequência de falta de resistência do concreto. Pode-se notar uma influência
62

muito forte dessa resistência na capacidade resistente de peças submetidas a


compressão simples ou composta.
Cánovas (1988) ainda completa que essa deficiência em pilares ocorre
frequentemente devido a excesso de adensamento do concreto, assim como uma
dosagem inadequada da peça ou também a má distribuição do espaçamento entre os
estribos.
3.4 Etapa de utilização
Ao fim das etapas de projeto e execução, Souza e Ripper (1998) apresentam
que as estruturas podem sofrer com manifestações patológicas na fase de uso da
mesma, seja por mau uso do usuário ou falta de um programa de manutenção
adequado. A origem desses problemas está ligada a um completo desconhecimento
técnico, incompetência dos profissionais envolvidos e muitas das vezes somados a
questões econômicas.
Um dos problemas observados por Souza e Ripper (1998) que pilares de
concreto armado sofrem na fase de utilização da estrutura é o choque de veículos em
pavimentos garagem em edifícios. Também se observa em pilares de pontes os
efeitos dos impactos mecânicos de embarcações, gerando desgaste da superfície de
concreto, além do choque de veículos em pilares de viadutos, como mostra a Figura
3.28:

Figura 3.28 - Choque de veículo em pilar de viaduto

Fonte: Oliveira, 2019. Disponível em: https://portaldorn.com/veiculo-pega-fogo-apos-


motorista-perder-controle-e-bater-em-pilar-de-viaduto/. Acesso em: 1 de nov 2021.
63

Thomaz (2003) afirma que o impacto de caminhões ou ônibus contra pilares de


pontes, viadutos e passarelas podem causar sua destruição e a consequente queda
da superestrutura. Para esses casos é importante que seja feita uma proteção
utilizando-se barreiras de concreto ou de aço a fim de se proteger os pilares que
estejam sujeitos a impactos de veículos. Em pavimentos garagem de edifícios é
comum revestir os pilares com borracha para que se evite o desgaste e deterioração
do cobrimento de concreto por recorrentes contatos dos veículos, conforme Figura
3.29:
Figura 3.29 - Proteção em pilares de pavimento garagem contra choque de veículos

Fonte: Protechoque. Disponível em: https://www.protechoque.com.br/cantoneira-protecao-


estacionamento. Acesso em: 1 de nov 2021.

Bolina, Tutikian e Helene (2019) apresentam outro ponto a ser ressaltado, a


presença de urina, tanto de animais como de pessoas, em pilares de obras públicas,
pontes ou garagens. Essa prática desencadeia processo corrosivo ao longo do tempo,
visto que a urina possui ácido úrico, gerando processo de degradação do concreto,
como mostra a Figura 3.30:
64

Figura 3.30 - Processo corrosivo somado a urina em pilares

Fonte: Bolina, Tutikian e Helene, 2019

O grave problema da má utilização de estruturas, juntamente com a falta de


manutenção está presente em vários empreendimentos públicos, como pontes e
viadutos. Mascarenhas et al (2015) apresenta uma série de fatores que devem ser
observados para uma análise criteriosa de manifestações patológicas no processo de
manutenção de pontes, sendo eles:
• Fissuração paralela à armadura;
• Fragmentação do concreto de cobrimento;
• Desagregação do concreto
• Exposição de armaduras;
• Acúmulo de produtos de corrosão na superfície das armaduras expostas
• Perda de seção
• Flambagem das armaduras longitudinais de pilares
• Manchas de ferrugem na superfície de concreto
Os fatores acima citados têm suas origens a partir de erros de projeto e/ou
executivos, mas somado à falta de manutenção periódica, as manifestações
patológicas se agravam e podem comprometer a estrutura. A Figura 3.31 apresenta
fissuração de pilares de viaduto devido à falta de manutenção periódica da estrutura:
65

Figura 3.31 - Fissuração em pilares de viaduto por falta de manutenção

Fonte: Andrade apud Silva, Vitório e Oliveira, 2014.

3.5 Resumo
O esquema na Figura 3.32 apresenta as principais manifestações patológicas
nas etapas de projeto, execução e utilização em pilares de concreto armado:
66

Figura 3.32 - Principais manifestações patológicas em pilares de concreto armado

Fonte: Autor, 2022


67

4 EXECUÇÃO DE PILARES DE CONCRETO ARMADO

4.1 Comentários iniciais


Ao longo do processo de formação do profissional de engenharia civil, o aluno
passa por disciplinas de projeto e dimensionamento das estruturas de concreto
armado, conforme a ABNT NBR 6118 (2014) – Projetos de estruturas de concreto –
Procedimento, assim como também nas disciplinas da área da construção civil a
correta forma de execução das mesmas, com métodos e técnicas baseadas nas
normas vigentes, como a ABNT NBR 14931 (2004) – Execução de estruturas de
concreto – Procedimento.
Porém, percebe-se que muitos engenheiros acabam por não utilizar de forma
efetiva os itens presentes nessas normas, em especial a ABNT 14931 (2004), que
trata da correta execução para as estruturas de concreto, acarretando no
aparecimento de patologias futuras.
Até o ano de 2003, a ABNT NBR 6118 continha as partes de projeto e execução
de estruturas de concreto, a partir de então, a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) resolveu separar em duas diferentes normas a fim de se ter uma
melhor documentação acerca dos assuntos, criando-se a ABNT NBR 14931 (2004) –
Execução de estruturas de concreto – Procedimento.
Pode-se observar que muitos profissionais que trabalham diariamente nos
canteiros de obras deixam de aplicar os requisitos presentes na norma vigente de
execução, fato esse presente nos tipos de patologia encontrados nas estruturas, que
conforme apresentado nesse trabalho, acontece na etapa de execução. O engenheiro
que acompanha a execução da obra deve alinhar com toda sua equipe o correto
procedimento desde a montagem de armaduras, passando pelo sistema de formas,
escoramentos, concretagem, adensamento, cura e a retiradas das formas, todos
esses descritos de maneira criteriosa na ABNT NBR 14931 (2004).
4.2 Sistema de formas
A ABNT NBR 14931 (2004) define o sistema de formas tudo que compreende
as formas, o escoramento, o cimbramento, os andaimes, incluindo seus apoios e as
uniões entre os diversos elementos. Todo esse conjunto deve ser projetado de modo
a ter:
68

• Resistência às ações a que possa ser submetido durante o processo de


construção, sendo essas ações de fatores ambientais, carga da
estrutura auxiliar, carga das partes da estrutura permanente a serem
suportadas pela estrutura auxiliar até que o concreto atinja suas
especificações, assim como efeitos dinâmicos acidentais produzidos
pelo lançamento e adensamento do concreto;
• Rigidez suficiente para que seja assegurada as tolerâncias
especificadas para a estrutura a fim de que sejam satisfeitas a
integridade dos elementos estruturais.
A norma ainda afirma que o formato, a função, a aparência e a durabilidade da
estrutura não devem ser prejudicadas devido a qualquer problema com as formas,
escoramentos ou sua remoção.
Aliado a isso, o profissional de engenharia também deve estar atento as
recomendações da ABNT NBR 15696 (2009) – Formas e escoramentos para
estruturas de concreto – Projeto, dimensionamento e procedimento executivos, que
trata sobre as técnicas adequadas para a obtenção de um sistema de formas de
qualidade. A norma afirma que no plano de obra deve constar a descrição do método
a ser seguido para montagem e remoção de estruturas auxiliares, devendo ser
especificado os requisitos para manuseio, ajuste, contraflecha intencional, desforma
e remoção.
Quanto a execução do sistema de formas, a ABNT NBR 14931 (2004) começa
pelo processo de escoramento, que deve ser projetado de modo a não sofrer, sob
ação de seu peso próprio, peso da estrutura e das cargas acidentais que possam atuar
durante a execução da estrutura de concreto, deformações prejudiciais ao formato da
estrutura ou que possam causar esforços não previstos no concreto.
Devem ser consideradas a deformação e a flambagem dos materiais assim
como as vibrações que o escoramento estará sujeito. Deve-se apoiar o escoramento
sobre cunhas, caixas de areia ou outros dispositivos apropriados a fim de facilitar a
remoção das formas.
Em relação as formas, a norma vigente de execução de estruturas de concreto
afirma que elas devem ser suficientemente estanques, de modo a impedir a perda de
pasta de cimento, admitindo-se como limite a surgência do agregado miúdo da
superfície do concreto. Além disso, deve-se estar atento para que os elementos
69

estruturantes das formas estejam dispostos de modo a manter o formato e a posição


da forma durante sua utilização.
Tanto a ABNT NBR 14931 (2004) quanto a ABNT 15696 (2009), afirmam que
elementos estruturantes das formas, barras, tubulações e similares podem ser
colocados dentro da seção da peça a ser concretada, desde que:
• Esteja fixada para assegurar o posicionamento durante a concretagem;
• Não altere as características estruturais da peça;
• Não reaja de maneira nociva ou prejudicial com os componentes do
concreto;
• Não provoque manchas nas superfícies de concreto aparente;
• Não prejudique o desempenho funcional e a durabilidade da estrutura;
• Permita que as operações de lançamento e adensamento do concreto
possam ser realizadas de maneira adequada.
As duas normas também definem os parâmetros de uso de agentes
desmoldantes, que devem ser aplicados exclusivamente na forma antes da colocação
da armadura de maneira a não prejudicar a superfície de concreto. É importante
ressaltar que o uso de agentes desmoldantes devem ser aplicados de acordo com as
especificações do fabricante e normas nacionais, evitando-se o excesso ou falta do
mesmo.
Deve-se garantir que os produtos utilizados não deixem resíduos na superfície
do concreto para que não ocorra nenhuma alteração na qualidade da superfície ou
alteração de cor em superfície de concreto aparente, assim como prejuízo da
aderência do revestimento a ser aplicado.
Para o sistema de formas de pilares em específico, Milito (2009) descreve que
os mesmos são formados por painéis verticais travados por gravatas, e para que se
mantenha o seu prumo, deve-se prever contraventamentos em duas direções
perpendiculares entre si, como apresentado na Figura 4.1:
70

Figura 4.1 - Sistema de formas pilar de concreto armado

Fonte: Autor

Para pilares altos, Milito (2009) recomenda contraventamentos em dois ou mais


pontos de altura, e em casos de contraventamentos longos, deve-se prever travessas
com sarrafos para que evite a flambagem. Além disso, é importante ressaltar que
devem ser colocadas gravatas com dimensões proporcionais às alturas os pilares
para que tenha resistência ao empuxo lateral do concreto fresco. A Figura 4.2 mostra
o sistema de formas de pilar contraventado:

Figura 4.2 - Sistema de forma pilar contraventado

Fonte: Autor
71

De acordo com a Comunidade da Construção, entidade sem fins lucrativos e


mantida pela Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), os principais pontos
a serem conferidos a respeito da montagem de formas dos pilares são:
• Verificar se foi aplicado o desmoldantes nas formas;
• Checagem do posicionamento das galgas e espaçadores e se o
espaçamento entre tensores ou barras de ancoragem atendem ao
projeto;
• Aferição do prumo das formas;
• Checagem da altura do topo de cada painel;
• Verificação do travamento dos painéis, conferindo-se a imobilidade do
conjunto escoras, barras de ancoragem e gastalhos;
• Checagem de todos os encaixes para que não haja folgas;
• Verificação da estruturação e vedação dos painéis.
4.3 Armaduras
A ABNT NBR 14931 (2004) define várias regras de execução para que seja
feita uma correta armação das peças de concreto armado. Uma delas está
relacionada a limpeza, em que a superfície da armadura deve estar livre de ferrugem
e substâncias deletérias que possam afetar de maneira adversa o aço, o concreto ou
a aderência entre eles. Toda armadura que apresente produtos destacáveis em sua
superfície devido a corrosão deve passar por limpeza superficial antes do lançamento
do concreto.
É importante ressaltar que armaduras levemente oxidadas por exposição ao
tempo em ambientes de agressividade fraca e moderada podem ser empregadas em
estruturas de concreto, desde que estejam sob exposição de até três meses, sem
produtos destacáveis e sem redução de seção.
Caso a armadura venha a apresentar nível de oxidação que reduza a sua
seção, deve ser feita uma limpeza enérgica e após deve ser feita uma avaliação das
condições de utilização da mesma. No caso de corrosão por ação e presença de
cloretos, onde se tenha formado pites ou cavidades, a armadura deve ser lavada com
jato de água sob pressão para a retirada do sal e dos cloretos desses pontos.
Para a montagem das armaduras, a norma vigente afirma o processo deve ser
feito por amarração, utilizando arames. No caso de aços soldáveis, a montagem pode
ser feita por pontos de solda. Para garantir o cobrimento especificado em projeto,
72

deve-se utilizar dispositivos adequados ou espaçadores sempre referentes à


armadura mais exposta. Também pode-se utilizar espaçadores de concreto ou
argamassa cuja relação água/cimento seja inferior a 0,5, e espaçadores plásticos, ou
metálicos com as partes em contato em contato com a forma revestidas com material
plástico ou material similar.
Deve-se proteger as barras de espera caso a concretagem seja interrompida
por mais de 90 dias, pintando-as com pasta de cimento para proteção contra a
corrosão. Ao se retomar a concretagem, as barras devem ser limpas para que se
garanta uma boa aderência com o concreto. A Figura 4.3 apresenta o correto
posicionamento de armadura de pilares de concreto:

Figura 4.3 - Posicionamento armadura de pilares em concreto armado

Fonte: Trazzi e Giandon, 2016

4.4 Concretagem
4.4.1 Cuidados preliminares
4.4.1.1 Formas
A ABNT NBR 14931 (2004) e ABNT NBR 15696 (2009) recomendam que antes
do lançamento do concreto devem ser conferidas as dimensões e posições, tanto de
nivelamento e prumo das formas da estrutura, a fim de assegurar que a geometria dos
elementos estruturais e da estrutura como um todo estejam de acordo com o projeto.
73

Deve-se garantir a limpeza da superfície interna das formas e a verificação da


condição de estanqueidade das juntas, de maneira a evitar perdas de pasta ou
argamassa. No caso de pilares, deve ser deixadas aberturas provisórias próximas ao
fundo para que se faça uma limpeza adequada, como mostra a Figura 4.4:

Figura 4.4 - Janelas em formas de pilar para concretagem

Fonte: Milito, 2009

Deve-se molhar até a saturação formas construídas com materiais que


absorvam umidade ou que facilitem a evaporação, para que venha a reduzir a perda
de água do concreto, fazendo-se furos para que haja o escoamento da água em
excesso, sempre respeitando-se o projeto. Para casos de concreto aparente, deve-se
fazer o tratamento das superfícies das formas de maneira que o acabamento
requerido seja alcançado.
Milito (2009) recomenda que seja feita a correta verificação de prumo e
travamento das formas dos pilares, e que seja engravatada a cada aproximadamente
50 cm, e em casos de pilares altos, abrir janelas para o lançamento do concreto a 2
metros de altura, a fim de se evitar o processo de segregação da pasta.
74

4.4.1.2 Escoramentos
Deve-se verificar as posições e condições estruturais do escoramento antes do
início da concretagem de maneira a assegurar as dimensões e posições das formas
de acordo com o projeto e para que seja permitido o tráfego de pessoal e equipamento
durante à operação de concretagem.
4.4.1.3 Armaduras
A ABNT NBR 14931 (2004) indica que a montagem, o posicionamento e o
cobrimento especificados para as armaduras passivas devem ser verificados e as
barras de aço devem estar previamente limpas. Para pilares, Milito (2009) chama a
atenção para o posicionamento das barras de espera, que muitas vezes não
coincidem com sua localização em planta. Os motivos para que isso ocorra são:
• Falta de amarração adequada;
• Movimentação das barras durante a concretagem;
• Descuidos na locação dos pilares.
A fim de se evitar esse problema, Milito (2009) recomenda uma rigorosa
fiscalização das ferragens. Para que se impeça o deslocamento da armadura, é
recomendado que se execute um quadro de madeira de modo que sirva de apoio às
barras de espera, fixando-se no restante da armadura, além disso, os estribos devem
ser projetados de modo a permitir sua montagem nos trechos de intersecção com
vigas, para que seja garantida a estabilidade das barras de espera, como mostra a
Figura 4.5:
Figura 4.5 - Quadro de madeira para garantir a estabilidade das armaduras de espera de
pilares

Fonte: Crusius e Correa, 2011. Disponível em: https://www.ufrgs.br/eso/content/?tag=pilares.


Acesso em: 9 fev 2022.
75

4.4.2 Plano de concretagem


Deve-se seguir um plano de concretagem definido pelo projetista de forma a
assegurar o fornecimento da quantidade adequada de concreto com as características
necessárias a estrutura. O plano de concretagem deve prever os seguintes aspectos:
• A área ou o volume concretado em função do tempo de trabalho;
• A relação entre lançamento, adensamento e acabamento;
• As juntas de concretagem, quando necessárias, a partir de definição de
comum acordo entre os evolvidos pela execução e projeto estrutural;
• O acabamento final que se tem como pretensão.
Deve-se garantir que a capacidade de lançamento permita que o concreto se
mantenha sempre plástico e livre de juntas não previstas durante a concretagem.
Manter todos os equipamentos utilizados durante o lançamento o concreto limpo e em
condições de utilização é imprescindível, além de que possam permitir que o concreto
seja levado até o ponto mais distante a ser concretado na estrutura sem que ele sofra
segregação.
Todos os equipamentos devem ser dimensionados de forma a se adequar ao
processo de concretagem escolhido e devem estar em quantidade suficiente para que
o trabalho seja desenvolvido sem atrasos, além de se garantir que a equipe de
trabalho seja suficiente para que seja assegurada as operações de lançamento,
adensamento e acabamento de forma adequada.
A liberação e inspeção do sistema de formas, armaduras e outros itens da
estrutura devem ser realizadas antes do início da concretagem, de forma bastante
criteriosa, a fim de assegurar que tudo está de acordo com o projeto, especificações
e normas técnicas.
4.4.3 Transporte do concreto
A ABNT NBR 14931 (2004) afirma que o concreto deve ser transportado do
local do amassamento ou da boca de descarga do caminhão betoneira até o local da
concretagem em um tempo compatível com as condições de lançamento. Importante
ressaltar que os meios utilizados para o transporte não devem acarretar em
desagregação dos componentes do concreto ou perda de sensível de água, pasta ou
argamassa por vazamento ou evaporação.
Azevedo (2011) ressalta que o uso de carrinhos de mão, jericas, baldes
carregados por operários ou gruas impõem sobre o concreto uma vibração que pode
76

promover um adensamento prévio, com consequente segregação dos seus


constituintes. A ABNT 14931 (2004) recomenda que o intervalo de tempo transcorrido
entre o instante em que a água de amassamento em contato com o cimento e o final
da concretagem não ultrapasse a 2 horas e 30 minutos.
A norma ainda indica que para concretos bombeados, o diâmetro interno do
tubo não deve ser menor que quatro vezes o diâmetro máximo do agregado. Além
disso, o sistema de transporte deve, sempre que possível, permitir o lançamento direto
do concreto nas formas, evitando-se depósitos intermediários, a fim de se tomar
precauções contra o segregamento da mistura de concreto.
4.4.4 Lançamento
A ABNT NBR 14931 (2004) recomenda que seja feita a remoção cuidadosa de
todos os detritos antes da concretagem. Além disso, deve ser garantido o lançamento
e adensamento do concreto de modo que toda a armadura, além dos componentes
embutidos previstos em projeto, seja adequadamente envolvida na massa de
concreto.
A norma ressalta que em nenhuma hipótese deve ser realizado o lançamento
do concreto após o início da pega, ou em casos de concreto contaminado com solo
ou outros materiais. Também deve-se lançar o concreto o mais próximo possível de
sua posição definitiva, a fim de se evitar incrustações de argamassa nas paredes das
formas e das armaduras.
Precauções para que se mantenha a homogeneidade do concreto devem ser
garantidas, como no lançamento convencional, os caminhos não devem possuir
inclinação excessiva, para que se evite o processo de segregação da massa
decorrente do transporte. Deve-se preencher o molde da forma de maneira uniforme,
evitando-se deformações do sistema de formas decorrentes do lançamento em pontos
concentrados.
Devem ser empregadas técnicas que eliminem ou reduzam significativamente
a segregação entre os componentes do concreto, atentando-se maiores cuidados
quanto maiores forem as alturas, caso de pilares, e quanto maior for a densidade de
armadura. Esses cuidados devem ser elevados quando a altura de queda livre do
concreto ultrapassar 2 metros, no caso de peças estreitas e altas, a fim de se evitar
segregação e falta de argamassa nos pés de pilares, criando-se janelas para a
concretagem como mostra a Figura 4.6:
77

Figura 4.6 - Janelas para concretagem

Fonte: Autor

Também é recomendado o lançamento em camadas inferiores a 50 cm para


que seja garantida uma vibração do concreto eficiente nos pilares. A ABNT NBR
14931 (2004) recomenda algumas medidas que se evite o processo de segregação:
• Utilização de concreto com teor de argamassa e consistência
adequados, a exemplo de concreto com características para
bombeamento;
• Lançamento inicial de argamassa com composição igual à da
argamassa do concreto estrutural;
• Utilização de dispositivos que conduzam o concreto, como funis, calhas
e trombas, a fim de minimizar o processo de segregação.
Milito (2009) recomenda que seja feito os chamados cachimbos nas janelas
para que se facilite a concretagem, como mostram as Figuras 4.7 e 4.8:
78

Figura 4.7 - Utilização de cachimbos para facilitar a concretagem de pilares

Fonte: Milito, 2009


Figura 4.8 - Cachimbos para concretagem

Fonte: O Autor

A norma ainda recomenda o cuidado especial para que se evite o deslocamento


de armaduras, ancoragens e formas, além de se não produzir danos as superfícies
destas, especialmente quando o lançamento for realizado em peças altas por queda
livre.
Deve-se preencher as formas em camadas compatíveis com a altura do tipo de
adensamento a ser realizado, de forma que as camadas sejam inferiores à altura da
79

agulha do vibrador mecânico. Também pode ser conveniente para peças esbeltas e
verticais, como os pilares, a utilização de concretos de diferentes consistências, a fim
de reduzir o risco de exsudação e segregação.
A ABNT 14931 (2004) ainda define a relação entre lançamento, adensamento
e acabamento do concreto, em que o plano de concretagem deve garantir que a
relação entre as operações de lançamento e adensamento sejam suficientemente
elevadas para que seja evitada a formação de juntas frias e baixa o necessário para
evitar sobrecarga nas formas e escoramentos. É importante ressaltar que a norma
ainda frisa que o processo de lançamento deve ser contínuo e ininterrupto, até que
todo o volume previsto para a peça estrutural seja concretado.
4.4.5 Adensamento
A ABNT 14931 (2004) recomenda que durante e imediatamente após o
lançamento, o concreto deve ser vibrado ou apiloado contínua e energicamente com
equipamento adequado à sua consistência. Deve-se ficar atento para que o
adensamento seja realizado de forma cuidadosa para assegurar que o concreto
preencha todos os recantos das formas.
Deve ser tomado os cuidados necessários para que durante o adensamento
não seja formado ninhos nem que haja segregação da pasta. Também deve-se evitar
a vibração das armaduras de modo a não prejudicar sua aderência com o concreto.
A altura das camadas de concreto não deve ultrapassar 20 cm no adensamento
manual, e para todos os casos, a altura da camada de concreto a ser adensada deve
ser inferior a 50 cm, para que seja facilitada a saída das bolhas de ar. Deve ser
estabelecido no plano de lançamento as alturas das camadas de assim como o
processo mais adequado de adensamento. Para casos de alta taxa de armaduras,
devem ser tomados cuidados especiais a fim de garantir que todo o concreto seja
distribuído em todo o volume da peça bem como o adensamento ocorra de maneira
homogênea.
A norma ainda aponta para cuidados especiais que se deve ter no
adensamento com vibradores de imersão, que quando utilizados, a espessura da
camada deve ser aproximadamente 3/4 do comprimento da agulha, atentando-se
sempre que ao se penetrar uma camada de concreto, o vibrador penetre cerca de 10
cm na camada anterior. É importante ressaltar que tanto a falta quanto o excesso de
vibração são prejudiciais ao concreto.
80

A norma recomenda alguns cuidados que se deve ter ao utilizar vibradores de


imersão:
• Deve-se aplicar o vibrador preferencialmente na posição vertical;
• Deve-se vibrar o maior número possível de pontos ao longo do elemento
estrutural;
• O vibrador deve ser retirado de forma lenta, mantendo-o sempre ligado,
de forma a garantir que a cavidade formada pela agulha se feche
novamente;
• O vibrador não deve entrar em contato com a parede da forma, para que
se evite a formação de bolhas de ar na superfície da peça, mas
atentando-se para a promoção de um adensamento uniforme e
adequado de toda a massa de concreto, inclusive cantos e arestas, para
que não haja a formação de vazios;
• Mudar sempre o vibrador de posição quando a superfície se apresentar
brilhante.
A Figura 4.9 apresenta o concreto sendo adensado por vibrador:
Figura 4.9 – Adensamento por vibrador

Fonte: Comunidade da Construção. Disponível em:


https://www.comunidadedaconstrucao.com.br/sistemas-construtivos/3/concretagem-
praticas/execucao/60/concretagem-praticas.html. Acesso em: 9 fev 2022.
81

4.4.6 Juntas de concretagem


A ABNT NBR 14931 (2004) reitera que em casos quando o lançamento do
concreto for interrompido e assim ocorrer o processo de junta de concretagem não
prevista, deve-se tomar devidas precauções para a garantia da ligação entre o novo
trecho de concreto com o já endurecido. Deve-se realizar um perfeito adensamento
até a superfície da junta, utilizando-se de formas temporárias, do tipo pente por
exemplo, quando for necessário, a fim de garantir condições de adensamento
adequada. Importante ressaltar que sempre deve ser feita a remoção de detritos antes
de qualquer aplicação de concreto.
Antes de se começar a nova concretagem, deve ser retirada toda a nata
vitrificada da pasta de cimento, assim como feita a limpeza da superfície da junta.
Pode-se utilizar aplicação de jato de água sob forte pressão logo após o fim da pega.
Para que se obtenha a aderência necessária entre as camadas, pode-se utilizar de
jateamento abrasivo ou apicoamento da superfície da junta, com posterior lavagem,
de modo a deixar o agregado graúdo exposto.
É importante ressaltar que nesses casos, o concreto já endurecido deve
apresentar resistência suficiente para que não haja perda indesejável de material,
formando-se vazios na região da junta. Deve-se ficar atento também para que não se
tenha acúmulo de água em cavidades formadas pelo método de limpeza da superfície.
Precauções devem ser tomadas de forma a garantir a resistência aos esforços
que possam agir na superfície da junta, sendo que uma dessas medidas consiste em
deixar arranques de armadura ou barras cravadas ou até mesmo reentrâncias no
concreto mais velho. Deve-se aplicar argamassa de mesma composição a de concreto
sobre a superfície da junta na retomada da concretagem a fim de se evitar formação
de vazios.
4.4.7 Acabamento
A ABNT NBR 14931 (2004) afirma que a escolha do traço e consequentemente
da consistência do concreto deve atender aos requisitos e condições de
trabalhabilidade necessárias.
Todo o processo de lançamento e adensamento devem ser realizados de forma
a garantir um material final homogêneo e compacto, sem apresentar vazios na massa
de concreto, com mínimo de manuseio possível, para que se obtenha os níveis de
acabamento desejados da peça estrutural.
82

É importante ressaltar que deve ser evitada a manipulação excessiva do


concreto, como processos de vibração muito longos ou repetidos em um mesmo local,
evitando-se que ocorra a segregação do material assim como a migração do material
fino e da água para a superfície, fenômeno de exsudação, de forma a não prejudicar
a qualidade da superfície final com o aparecimento de efeitos indesejáveis. A Figura
4.10 apresenta um pilar com superfície em concreto aparente efetuado de maneira
adequada:
Figura 4.10 - Pilar em concreto aparente

Fonte: Pinto e Moreira, 2016

4.5 Cura
A ABNT NBR 14931 (2004) define que o concreto deve ser curado e protegido
contra agentes agressivos enquanto não atingir o endurecimento satisfatório para:
• Evitar a perda de água pela superfície exposta;
• Assegurar uma superfície com consistência adequada;
• Assegurar a formação de uma capa de superfície durável.
Nas primeiras idades, os agentes agressivos mais comuns ao concreto são as
mudanças bruscas de temperatura, secagem, chuva forte, água torrencial,
83

congelamento, agentes químicos, além de choques e vibrações que possam produzir


fissuras na massa de concreto ou prejudicar a aderência à armadura.
Para casos em que endurecimento do concreto seja acelerado por meio de
tratamento térmico ou pelo uso de aditivos, não deve ser dispensado medidas de
proteção contra a secagem, assim como utilizar aditivos que não contenham cloreto
de cálcio em sua composição.
A norma recomenda que os elementos estruturais devem ser curados até que
atinjam resistência característica à compressão (fck) igual ou maior a 15 MPa,
conforme ABNT NBR 12655 – Concreto de cimento Portland – Preparo, controle,
recebimento e aceitação – Procedimento. Para pilares, é observado o processo de
cura por envolvimento úmido, que consiste em envolver a peça estrutural com lona
molhada, como mostra a Figura 4.11:
Figura 4.11 - Cura úmida em pilares

Fonte: Comunidade da Construção. Disponível em:


https://www.comunidadedaconstrucao.com.br/sistemas-construtivos/3/concretagem-
praticas/execucao/60/concretagem-praticas.html. Acesso em: 8 dez 2021.

Outra técnica também utilizada para obtenção de uma boa cura para pilares
consiste na utilização de espuma úmida em seu topo, a fim de se evitar a perda de
água para o ambiente, além do cobrimento da peça com lona úmida
Azevedo (2011) reitera que o processo de cura deve ser iniciado assim que se
verifique a pega do concreto e sempre antes da secagem da água de exsudação sobre
sua superfície, pois pode ser observado a partir desse momento uma evaporação da
água do interior da massa, fazendo com que ocorra retração volumétrica do concreto
aplicado. Caso ocorra a restrição dessa retração, por atrito com as formas, ou
84

aderência com barras de aço internas, ou em função da geometria da peça, o


processo de fissuração pode ser desencadeado, que são evitadas com a cura.
Azevedo (2011) ainda ressalta que a porosidade superficial do concreto é
elevada consideravelmente com a evaporação da água de amassamento, dessa
forma, é reduzida a capacidade de proteção da armadura contra agentes agressivos
presentes no meio ambiente, como o gás carbônico, umidade e cloretos.
4.6 Retirada das formas e escoramento
Para que não seja comprometida a segurança e desempenho em serviço da
estrutura, a ABNT NBR 14931 (2004) e ABNT NBR 15696 (2009) recomendam que
todo o processo de desforma e retirada de escoramentos seja de acordo com o plano
de desforma previamente estabelecido. Devem ser considerados os seguintes
aspectos:
• Peso próprio da estrutura ou da parte a ser suportada por um
determinado elemento estrutural;
• Cargas devidas a formas ainda não retiradas de elementos estruturais
de outros pavimentos;
• Sobrecarga de execução;
• A sequência da retirada de formas e escoramentos;
• Operações particulares e localizadas de retirada de formas, como em
locais de difícil acesso;
• As condições do meio ambiente no qual o concreto estará submetido,
assim como o processo de cura;
• Possíveis exigências relativas a tratamentos superficiais posteriores.
Além disso, a norma ainda recomenda que nenhuma forma ou escoramento
seja removido até que o concreto obtenha resistência suficiente para suportar a carga
imposta ao elemento estrutural nesse estágio, além de evitar deformações excessivas
da peça, assim como resistir a danos para a superfície durante a remoção.
Para formas que possam de alguma forma impedir a livre movimentação de
juntas de retração ou dilatação, deve se considerar uma atenção especial quanto ao
tempo para a retirada. Para pilares, onde as formas são partes integrantes do sistema
de cura, o tempo de retirada deve atender aos requisitos da mesma.
O projetista estrutural deve informar ao engenheiro da obra os valores mínimos
de resistência a compressão e módulo de elasticidade que a peça de concreto deve
85

ter para o que possa ser retirada as formas, pois o concreto deve resistir às ações
sobre ele atuantes e não conduzir deformações excessivas, tendo em vista os
menores valores do módulo de elasticidade do concreto (Eci) nas primeiras idades.
Além disso, a ABNT 14931 (2004) e a ABNT 15696 (2009) ressaltam que não
se deve realizar o procedimento de retirada de formas e escoramento com choques
assim como deve ser obedecido o plano de desforma previamente elaborado para o
tipo de estrutura.
4.7 Resumo
A Tabela 4.1 apresenta o procedimento que deve ser realizado para a execução
de pilares de concreto armado:
Tabela 4.1 - Procedimento executivo de pilares de concreto armado

Execução de pilares de concreto armado


Etapa executiva O que considerar
Verificação da aplicação de desmoldantes

Checagem do posicionamento das galgas e se o espaçamento


entre tensores e barras atendem ao projeto
Sistema de formas
Aferição dos prumos
Checagem da altura do topo de cada painel
Checagem de todos os painéis
Verificação da estruturação e vedação dos painéis
Verificação da limpeza das barras
Montagem pelo processo de amarração feitos por arames
Armaduras
Pintar as barras de espera com pasta de cimento
Utilizar quadro de madeira para evitar o deslocamento das barras
Plano de Consideração da área ou volume a ser concretado
concretagem Prever as juntas de concretagem
Utilizar materiais que não causem segregação da pasta
Transporte Intervalo máximo de 2h e 30min entre o contato da água de
amassamento com o cimento e o fim da concretagem
Criação de janelas de concretagem para alturas maiores que 2m
Lançamento Lançamento em camadas inferiores a 50 cm
Utilização de funis, calhas ou cachimbos
Camada de adensamento inferior a 50 cm
Aplicação do vibrador na posição vertical
Adensamento Vibrar maior número possíveis de pontos
Retirada lenta do vibrador
Mudar sempre o vibrador ao se ter a superfície brilhante
Curar o elemento até que se atinja fck >= 15 MPa
Cura Envolvimento da peça com lona úmida
Utilização de espuma úmida no topo dos pilares
Elemento suporte o peso próprio e as demais cargas aplicadas
Retirada das
sobre ele
formas
Não retirar com choques e pancadas
Fonte: Autor, 2022
86

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 Conclusão
A partir do estudo realizado das manifestações patológicas em pilares de
concreto armado, foi possível observar as origens e os efeitos que elas exercem sobre
o comportamento estrutural. O pilar é uma peça fundamental, fazendo com que
projetos e execuções inadequadas acarretam em consequências graves.
Pode ser observado ao longo dos últimos anos um aumento substancial de
manifestações patológicas em estruturas de concreto armado, o que torna cada vez
mais imprescindíveis estudos nessa área. A fim de se evitar esses tipos de problemas,
é muito importante para o meio técnico possuir referências acerca das manifestações
patológicas das estruturas, principalmente para elementos como os pilares.
Observações desde o processo de concepção da peça, aliado a uma correta
execução e manutenção minimizam a aparição dessas patologias. É importante
ressaltar que alguns profissionais não levam em consideração projetos bem feitos e a
execução de seus elementos, acarretando em diversas situações evitáveis.
Em projetos, observam-se pilares com dimensionamento de seção transversal
insuficiente e/ou altas taxas de armaduras. Na execução, é bastante comum de se ter
falhas de desaprumo nas formas, do uso incorreto de desmoldantes e retirada
precoce, além de falhas de concretagem, principalmente nas etapas de lançamento e
adensamento. Observam-se também falhas na manutenção desses elementos, sendo
exemplo muitos pavimentos garagem, com pouco espaço para área de manobras,
gerando quebra de quinas devido ao impacto dos veículos.
Muitos desses problemas evitáveis, principalmente observados na fase de
execução, se dá pelos engenheiros, encarregados e operários não observarem
recomendações relativamente simples presente nas normas vigentes, além das
recomendações de boas práticas de engenharia. Atrelado a isso, observa-se também
engenheiros que delegam funções de controle de qualidade a encarregados, quando
os mesmos deveriam exercer esse papel.
Pode-se concluir que o presente trabalho que é importante para o meio técnico
pois muitas informações estão dispersas em diferentes publicações. Compilar
informações importantes a respeito das principais manifestações patológicas de
pilares de concreto armado observados nas fases de projeto, execução e manutenção
87

faz com se possa ter procedimentos adequados que levam à uma estrutura de
qualidade e segurança para os seus usuários.
5.2 Sugestão de trabalhos futuros
Tendo em vista o trabalho realizado, fica como sugestão temas acerca de
corrosão em estruturas de concreto armado, tópico bastante importante para
patologias das estruturas. Também há de se ressaltar trabalhos específicos em
inspeção de estruturas de concreto armado, baseado na ABNT NBR 16747: 2020 –
Inspeção Predial, além de trabalhos sobre a ABNT NBR 15575: 2013, que trata sobre
desempenho. Por fim, recomenda-se estudos em complemento ao tema sobre
recuperação e reforço de estruturas em concreto armado.
88

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