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NOVEMBRO DE 2021
ISEP – Mestrado em Engenharia Civil iii
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - aspeto exterior de uma parede Trombe em Porto Santo, Portugal (MONTEIRO, 2011) ............. 8
Figura 3 – aspeto das fachadas Oeste/Este e Norte/Sul do edifício Burgo (FREITAS, 2008) ..................... 10
Índice de Figuras............................................................................................................................................ v
1 Introdução ............................................................................................................................................. 1
O presente trabalho está inserido na unidade curricular de Conforto Térmico e Acústica das
Edificações do Mestrado de Engenharia Civil. O objetivo é apresentar um resumo geral das definições e
aplicações da arquitectura bioclimática em Portugal. Para a sua realização é necessário um extensa
revisão bibliográfica.
Em Portugal, o consumo da energia consumida nos edifícios carece de melhor gestão. Apesar disso,
Portugal tem todas as condições para realizar uma prática construtiva sustentável, pois detém os
conhecimentos arquitectónicos e técnicos para tal, assim como um clima privilegiado, temperado e
ameno, com níveis óptimos de radiação solar.
A comparação dos balanços energéticos de diferentes países europeus permite avaliar o nível de
racionalidade na utilização da energia. A concepção bioclimática deve ser o objectivo e o alicerce de
qualquer projecto. Tal premissa deve ser um dos pontos de partida para a aplicação de uma estratégia de
conservação e independência energética.
Arquitectura bioclimática consiste em projectar um edifício de acordo com as especificdades do
clima e as características ambientais do local onde se insere, de forma a atingir a eficiência energética e
em especial o conforto ambiental interno, utilizando a energia que pode ser directamente obtida do
ambiente.Aborda portanto o clima como uma variável importante no processo projectual.
O conforto térmico não apresenta um conceito exacto: é importante distinguir entre sensação e
conforto térmico: a sensação térmica corresponde à percepção objectiva do complexo térmico, através
de termorreceptores; já o conforto térmico é definido como o estado mental que expressa a satisfação
do indivíduo com o ambiente térmico envolvente.
Assim sendo, este trabalho visa dotar os alunos de competências de conceção e de projetos
segundo as diretrizes do conforto térmico e da arquitectura bioclimática, no âmbito da práctica
profissional da engenharia civil.
Nestes sistemas a massa térmica é interposta entre a superfície de ganho e o espaço a aquecer.
A radiação absorvida pela massa térmica transforma-se em energia calorífica, sendo transferida,
posteriormente, para o interior do edifício. Esta transferência pode ser imediata ou defasada, conforme
a estratégia de circulação de ar adoptada. Os tipos de sistemas mais utilizados são as paredes
termoacumuladoras e as paredes e coberturas de água.
Estufas
A grande superfície de captação solar gera temperaturas elevadas durante o dia, baixando
drasticamente durante a noite, motivado pelo elevado índice de condutância térmica dos envidraçados,
o que produz grandes amplitudes térmicas. Assim, as estufas não podem ser destinadas a espaços
habitáveis, pois o nível de desconforto interno seria bastante alto.
As estufas actuam como espaço tampão, reduzindo assim as perdas de calor do edifício. Apesar
da amplitude térmica ser muito grande nas estufas sem massa térmica, nos espaços habitáveis adjacentes
é muito reduzida, mostrando-se como um benefício na manutenção do conforto térmico interno.
Colectores de ar
Constitui-se por um circuito aberto onde o ar se move por convecção natural mediante às
diferenças de massa volúmica motivadas por alterações de temperatura ao longo do cirtuito. Permite
aquecer o ar exterior, que será posteriormente transmitido para o interior durante a época fria.
Paralelamente, possibilita a extracção de ar quente do interior dos espaços para o exterior, promovendo
a ventilação e arrefecimento do ar. Compõem-se por uma superfície de vidro e por uma outra com
capacidade de absorção, sem características de armazenamento térmico. O sistema funciona por
termossifão, permitindo ventilar os espaços contíguos ao longo do ano.
Sistema Barra-Costantini
Neste sistema a fachada com orientação a sul é isolada e funciona como coletor de ar. O ar
aquecido flui pelas placas ocas de betão, sendo estes o principal elemento coletor de calor do sistema,
fluindo depois de volta para as entradas inferiores da parede acumuladora. Durante o dia, existe uma boa
circulação natural auto-reguladora.
Permitem criar situações de conforto térmico interior durante o Verão, sem recorrer a sistemas
mecânicos convencionais. No entanto, a refrigeração nos períodos quentes é mais difícil de produzir do
que o aquecimento nos períodos frios, pois não existe nenhuma fonte natural de arrefecimento à altura
da energia solar.
Protecção solar
Ventilação natural
Baseia-se nas diferenças de pressões motivadas pela dinâmica do vento – ventilação natural
dinâmica – ou pelas diferentes temperaturas entre interior e exterior – ventilação natural térmica.
Quando o vento incide perpendicularmente (barlavento) a um edifício geram-se pressões negativas na
maioria dos seus planos (sotavento). Desta forma, para obter uma ventilação natural eficaz, a projecção
de aberturas deverá considerar as diferenças de pressão geradas pelo vento, situando-se,
preferencialmente, em planos opostos. A forma do edifício pode igualmente regular os fluxos de ar para
o interior ou exterior da edificação.
Ventilação cruzada
Efeito chaminé
O efeito da estratificação do ar nos edifícios pode produzir ventilação quando não existe
deslocação do ar exterior. Assim, colocando uma abertura na parte superior do espaço, o ar quente
tenderá a sair e será substituído por ar fresco exterior introduzido no edifício por aberturas localizadas a
um nível mais baixo.
o Chaminé solar
A câmara solar ou chaminé solar tem a mesma função do que uma chaminé comum, no entanto,
esta elimina ar quente interior. O procedimento consiste na aplicação de uma câmara-de-ar, com um
captador de radiação solar de cor escura, protegido por um invólucro de vidro, na cobertura do espaço a
climatizar. Desta forma, o ar presente dentro da câmara é aquecido, diminuindo a sua densidade e
provocando a extracção do ar no interior do edifício, devido ao fenómeno de estratificação do ar.
o Aspirador estático
O aspirador estático é outro sistema para gerar movimento do interior para o exterior, sendo
formado por um circuito que se inicia com a entrada de ar renovado pela abertura inferior do mesmo,
seguido pela extracção do ar pela cobertura. Estes elementos produzem uma depressão do ar interior
causada pela sucção produzida por um dispositivo estático aplicado na cobertura.
o Torre de vento
A torre de vento é uma técnica que funciona de maneira inversa aqueles anteriormente citados.
Aqui, a introdução de ar exterior no ambiente interior é realizada através de uma torre, que se encontra
a maior altura do que a cobertura, de forma a recolher o vento onde este é mais intenso. O ar captado é
transferido para a parte mais baixa do edifício através do uso de condutas. Quando o vento apresenta
uma direcção dominante, a torre possui apenas uma abertura orientada no sentido do vento, contudo,
quando são observadas várias direcções, a torre possui mais do que uma abertura, para melhor recolher
os ventos.
Radiação nocturna
O efeito de arrefecimento por radiação nocturna pode ser intensificado através da construção de
pátios fechados. O arrefecimento por ventilação nocturna consiste, sobretudo, em fazer circular o ar
fresco da noite e das primeiras horas da manhã, de forma a refrescar, não só os compartimentos
interiores, mas também os elementos de armazenamento térmico.
3 EXEMPLOS EM PORTUGAL
Vistas pelo lado exterior, aparentam ser janelas e, pelo interior, assemelha-se a uma parede comum: as
Paredes Trombe são colocadas nos alçados orientados a Sul (fachada que no hemisfério norte recebe mais
luz solar), nos espaços em que se pretenda receber ganhos solares indirectos durante os meses frios do
ano, aproveitando, durante a noite, o calor que acumularam durante o dia.
Figura 1 - aspeto exterior de uma parede Trombe em Porto Santo, Portugal (MONTEIRO, 2011)
As Paredes Trombe são sempre orientadas a Sul, porque apenas nesta posição é possível captar a
maior intensidade da radiação solar (período entre o final da manhã e o início da tarde). Esta orientação
favorece a baixa altitude solar (Inverno), sem prejudicar o conforto com ganhos indirectos excessivos
durante o verão. Durante o verão, estas paredes, que são exclusivamente orientadas a Sul, não têm
capacidade significativa para acumular os raios solares, dado que o sol incide num ângulo muito íngreme
sobre o vão envidraçado que as protege, resultando na reflexão da maior parte da radiação.
A transferência de calor por uma Parede Trombe é de cerca de 18min por cada 10mm de
espessura. Numa parede de 200mm de betão, a parede retarda em 6 horas (1820=360min=6h) a
irradiação do calor armazenado. Com o início da absorção da radiação solar no Inverno por volta das 12h
(11h solares), a parede começará a irradiar calor para o espaço interior por volta as 18h (fim de tarde,
início de noite) (Freitas, 2008).
Adotaram-se fachadas ventiladas como solução para as necessidades térmicas da torre. O facto do
isolamento térmico ser contínuo torna-o mais eficiente, pois ao eliminar ou prevenir as pontes térmicas
torna esta solução muito eficaz na reabilitação de fachadas com problemas de isolamentos deste tipo. A
aplicação do isolamento sobre o paramento exterior faz com que a capacidade térmica da parede esteja
totalmente disponível para elevar a inércia térmica interior do edifício; contribui-se também para redução
das amplitudes térmicas, prevenção de eventuais infiltrações e dissipação de condensações internas.
A torre do edifício Burgo apresenta uma dualidade nas fachadas, sendo estas envidraçadas a
Norte e Sul e opacas, em pedra granítica, nas outras duas orientações. Tal pedra apresenta-se como um
material dotado de elevada inércia térmica; além disso, há inclusão de isolamento térmico, alcança um
contributo positivo do armazenamento das temperaturas médias do clima.
Figura 3 – aspeto das fachadas Oeste/Este e Norte/Sul do edifício Burgo (FREITAS, 2008)
A utilização de vidros duplos reflectivos como é o caso do presente edifício, é uma das forma
efectiva de poder diminuir até 10% os gastos operacionais com equipamentos de ar condicionado. A
capacidade isoladora deste vidro fará com que não haja arrefecimento excessivo durante o Inverno; já no
Verão este problema não se porá, dado que a fachada Norte recebe pouca energia solar.
A fachada com maior dimensão encontra-se exposta a sul, à qual estão associados todos os
compartimentos com utilização mais permanente. No lado norte do edifício o terreno exterior é mais
elevado e a fachada possui uma diminuta área de vãos envidraçados. Também nas fachadas este e oeste
as aberturas foram reduzidas por forma a controlar a incidência solar.
Em relação ao isolamento térmico, foi aplicado pelo exterior e de forma contínua. As fachadas e
a cobertura possuem uma espessura de 5 cm de poliestireno expandido. Os vãos envidraçados são
compostos por vidro duplo e são complementados com estores exteriores. Na fachada sul, a existência
de palas assegura um sombreamento efetivo durante o regime de verão, enquanto permite o acesso aos
ganhos solares no regime de inverno.
O projeto teve também em consideração o contributo da inércia térmica, sendo que o pavimento
do rés-do-chão (exposto à maior área envidraçada do edifício) é composto por uma laje maciça revestida
por ladrilho cerâmico e coberta parcialmente com tapetes. Também foram projetadas seis colunas de
água pintadas de cor escura, disposta estrategicamente de forma a aquecerem devido à radiação solar.
No primeiro andar, no qual o pavimento é de madeira e os vãos envidraçados têm menores dimensões,
projetaram-se paredes de trombe. Para além destes contributos para a inércia térmica, soma-se o facto
de as paredes divisórias serem mais espessas do que é normal, constituindo assim um núcleo de inércia
térmica no centro do edifício. Em relação à ventilação, o edifício beneficia da ventilação transversal
noturna, garantida através da adequada colocação das aberturas e respetiva forma de abrir (bandeiras).
O edifício apresenta a fachada de maior dimensão exposta a sul e com a maior área de vãos
envidraçados. As fachadas exteriores têm 22 cm de espessura, com isolamento pelo exterior, sendo que
a cobertura é também isolada pelo exterior. Os vãos envidraçados são constituídos por vidro duplo
incolor, protegidos por estores exteriores de lâminas reguláveis.
Este edifício dispõe ainda de um sistema baseado no funcionamento das paredes de trombe, mas, neste
caso, recorre a um sistema fotovoltaico colocado da fachada sul do edifício. Ao integrar os painéis nesta
fachada, é possível aproveitar termicamente o calor produzido durante o regime de inverno.
A chaminé solar atinge seu potencial ótimo quando da combinação de alta radiação solar e
temperatura externa menor. Isso permite o desenvolvimento de um fluxo natural de ventilação que
introduz ar resfriado na zona ocupada, o que permite um decréscimo de até 3°C.
As principais dificuldades neste trabalho passaram por haver demasiada bibliografia sobre o tema,
e por outro, por ser esta uma área em intenso desenvolvimento, portanto com conceitos a serem revistos
e aplicados de forma localizada. O facto de haver em Portugal suficiente quantidade de edifícios
construídos de acordo com premissas bioclimáticas levou à sempre difícil tarefa de escolher quais incluir
e quais excluir neste estudo, ficando a decisão motivada pela maior ou menor profundidade de dados
encontrados em cada caso.
Restou como evidente a importância do tema no mercado de construção corrente, no qual tais
premissas já são aplicadas.
Para o grupo, a realização deste trabalho permitiu uma boa compreensão dos aspetos necessários
para o projecto bioclimático de um edifício, apesar da falta de experiência de trabalho resultar, por vezes,
em dificuldades.
AHRENS, C. D. (2017). Meteorology Today - An Introduction to Weather, Climate, and the Environment.
Boston: Cengage Learning, Inc.
BONACCORSO, N. (2019). Validated Simulation of Low-Cost Thermal Envelope Upgrades for Slum
Housing. Roma: 16th IBPSA International Conference and Exhibition.
Lisboa: FCT-UNLisboa.
VALENÇA, M. G. (2020) Um Guia de Arborização Bioclimática para a cidade do Porto. Porto: UPORTO.