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O ATO DE CRUELDADE QUE SUPEROU O ELO SANGUÍNEO

FACULDADE UNINASSAU

Curso: Psicologia
Orientador: Arthur Eduardo dos Santos
Alunas: Andréa Ribeiro Alves
Camila Duarte Góes de Freitas
Ilza Maria de Oliveira Moura
Maryna Gabriele Vieira da Silva
Nájara Kaliene Pinto Andrade
Wigna Jamily Lima Fernandes

Introdução

Uma infância interrompida. O crime que tirou a vida de uma criança de


apenas 5 anos de idade, no dia 29 de março de 2008. Caso este que chocou o
Brasil e deixou muitas pessoas revoltadas pela tamanha barbaridade. Isabella
de Oliveira Nardoni morava com sua mãe, Ana Carolina Cunha de Oliveira, que
dividia a guarda da filha a cada quinze dias com o pai, Alexandre Alves Nardoni
que morava com sua esposa Anna Carolina T. P. Jatobá e mais dois filhos do
casal.

Segundo a mãe de Isabella, a criança era brincalhona, sorridente e de


um carisma inexplicável. De acordo com os relatos dos vizinhos, Nardoni e
Jatobá haviam se mudado para o apartamento no edifício London, localizado
na zona norte de São Paulo e mostravam indícios de uma relação ruim, onde
era possível ouvir brigas, pancadas, agressões verbais e tudo ocorria na frente
das próprias crianças. Ainda assim, o casal tentava mostrar uma vida de boa
aparência, mesmo que não houvesse uma boa relação social e familiar.
No dia 29 de março de 2008, a família saiu para realizar compras e no
caixa, o cartão foi recusado na tentativa de efetuar o pagamento. Diante deste
desgaste, no retorno para casa, Ana Jatobá agrediu Isabella atingindo-a na
testa, provocando o primeiro ferimento. Ao chegar no apartamento, o pai subiu
com a criança nos braços e a soltou no chão da sala fraturando o punho de
Isabella, após tal ato a madrasta a asfixiou. Ocorrendo isto, eles acreditaram
que Isabella estivesse morta. Nesse momento, o pai se dirigiu ao quarto dos
outros dois filhos, rasgou a tela de proteção e jogou a filha pela janela do 6º
(sexto) andar do prédio.

Em seguida, Ana manteve ligação 32 segundos com seu sogro onde


recebeu a orientação para simular a situação como um assalto seguido de
latrocínio, o pai desceu até o gramado onde a sua filha ainda se encontrava
com vida. O segurança do prédio fez a primeira ligação de urgência informando
a queda. Uma vizinha do casal chegou a relatar que ouviu gritos e pedidos de
socorro, mas não saiu para ver o que estava acontecendo. Apesar da tentativa
do casal em esconder a cena do crime, foi possível desvenda-lo através do
trabalho incessante dos peritos e da polícia.

Nardoni foi condenado 31 anos de prisão e a madrasta à 26 anos em


regime fechado no presídio de Tremembé. Após 15 (quinze) anos do ocorrido o
casal segue em regime semiaberto. Os filhos do casal passam boa parte do
tempo com o pai de Alexandre, e o mesmo é quem mantém financeiramente a
família.

A mãe de Isabella, precisou seguir sua vida mesmo de forma dura,


casou-se com uma nova pessoa, e juntos tiveram um casal de filhos. Por meio
das mídias sociais ela relata que nenhum filho consegue substituir a ausência
da filha Isabella, e que ela busca manter sua imagem viva, ainda guarda
roupas usadas em momentos importantes na vida da filha, fotografias ainda
são espalhadas pela casa, assim como alguns dos seus brinquedos preferidos.

O caso de Isabella foi um trágico evento que repercutiu intensamente na


mídia brasileira e mundial. A morte da menina despertou grande polêmica ao
ser divulgada como resultado de um suposto ato de violência cometido por um
invasor, que a teria jogado da janela do sexto andar do apartamento de seu
pai. No entanto, como dito acima, as investigações posteriores revelaram que
Isabella foi, na verdade, vítima de uma terrível violência praticada por sua
própria madrasta e seu pai. Um gesto considerado de extrema crueldade.

A crueldade é um tema complexo, tem sido objeto de estudo e reflexão


ao longo dos séculos. Quando olhamos para o caso de Isabella à luz da
psicanálise, somos confrontados com questões profundas sobre “aquilo que
nos remete ao avassalador e catastrófico na condição humana” (Figueiredo,
2012, p. 168), os impulsos violentos e as consequências devastadoras de tais
ações. E a psicanálise, uma teoria desenvolvida por Sigmund Freud, pode nos
ajudar a refletir sobre esses acontecimentos tão extremos.

De acordo com a psicanálise, a mente humana é composta por três


instâncias: o id, o ego e o superego. O id é a parte mais primitiva e impulsiva
da mente, orientada pelos desejos e necessidades básicas. O superego, por
outro lado, representa a consciência moral e os valores internalizados da
sociedade. O ego atua como um mediador entre essas duas forças, buscando
um equilíbrio entre os impulsos do id e as demandas do superego.

No caso de Isabela, podemos especular que o agressor agiu de acordo


com os impulsos cruéis do id, sem levar em consideração as normas sociais e
consciência moral, pois “a lógica do inconsciente é outra e a psicanálise não
oferece álibis”, como aponta Figueiredo (2012, p.174). A psicanálise também
destaca a importância da infância na formação da psique humana. Traumas,
abusos ou negligência durante essa fase são cruciais e podem ter efeitos
duradouros na personalidade de um indivíduo.

Outro conceito fundamental da psicanálise é o recalque, que ocorre


quando certos impulsos ou desejos inaceitáveis são recalcados no
inconsciente. Dentre os muitos destinos possíveis, esses desejos recalcados
podem encontrar expressão na forma de comportamentos cruéis e sádicos,
tornando-se uma forma de aliviar a pressão interna. Nesse sentido, é possível
que o agressor de Isabella estivesse lidando com conflitos internos e
profundos.

A psicanálise também destaca a importância da pulsão de morte, ou


Thanatos, em contraste com a pulsão de vida, conhecida como Eros. Enquanto
a pulsão de vida busca a preservação e a criação, a pulsão de morte está
associada à agressão e à destruição. Segundo Freud (1933, p. 98), “As
pulsões são entidades míticas, magníficas em sua imprecisão. Em nosso
trabalho, não podemos desprezá-las, nem por um só momento, uma vez que
nunca estamos seguros de as estarmos vendo claramente.” A presença dessas
pulsões opostas dentro da psique humana pode explicar os atos cruéis e
violentos cometidos por algumas pessoas.

Esse crime retrata a violência, que segundo Freud é a antítese da


civilização (FREUD, 1974 [1929-1930]). Buscando a aniquilação do outro e o
rompimento dos laços sociais, sendo assim nos parece justificado apontar o
fato da violência desabrochar como um gozo sem mediação.

A violência e a agressividade estão no coração da civilização, razão pela


qual Freud se mostrava pessimista com o destino da humanidade. Nesse
sentido podemos pensar nos motivos banais e as razões insensatas que
levaram o casal a ceifar a vida da pequena Isabella

Ainda sobre esse acontecimento, nos interessa destacar que, a partir da


publicação deste caso na mídia, observou-se um aumento significativo nas
discussões e debates em outros meios de comunicação, que colocaram em
foco as complexas dinâmicas relacionais entre pais, madrastas e crianças.

Esse trágico evento desencadeou uma intensa reflexão sobre a


perversidade, tanto do ponto de vista psicológico quanto social. No caso de
Isabella, a perversidade manifestou-se de maneira chocante, revelando uma
distorção profunda nas relações familiares e uma inversão perversa da função
de proteção e cuidado que deveria existir entre pais e filhos.

A partir desse evento, as discussões em torno da temática da violência


contra crianças e das relações familiares tiveram uma visibilidade nacional
renovada em abril de 2014. O caso de Isabella tornou-se um marco na
conscientização pública sobre os abusos e maus-tratos infantis, estimulando
debates sobre a importância da proteção das crianças, a identificação precoce
de sinais de violência doméstica e a necessidade de promover um ambiente
seguro e afetivo para o desenvolvimento saudável das crianças.
Referências

MELO, Guaíra Moreira Camilo de et al. Da [má] ternagem e suas pulsões: a


crueldade na função materna sob o olhar psicanalítico. 2017.

[21:19, 14/06/2023] Ilza Moura (Bia): MELO, Guaíra Moreira Camilo de et al. Da
[má] ternagem e suas pulsões: a crueldade na função materna sob o olhar
psicanalítico. 2017.

[21:19, 14/06/2023] Ilza Moura (Bia): Referência utilizada: MELO, Guaíra


Moreira Camilo de et al. Da [má] ternagem e suas pulsões: a crueldade na
função materna sob o olhar psicanalítico. 2017

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