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UNIDADE 13
Semiótica, Análise do Discurso e Teologia
Direitos Autorais
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Proibida cópia total ou parcial deste material. A Faculdade Teológica Batista do Paraná reserva
todos os direitos, embasada na LEI N° 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO DE 1998.
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, considera-se:
VI - reprodução - a cópia de um ou vários exemplares de uma obra literária, artística ou cientí-
fica ou de um fonograma, de qualquer forma tangível, incluindo qualquer armazenamento
permanente ou temporário por meios eletrônicos ou qualquer outro meio de fixação que venha
a ser desenvolvido.
em História pela Universidade Federal do Paraná (Curitiba, PR), com bolsa do CNPq. Doutorando em
História pela Universidade Federal do Paraná (Curitiba, PR), com bolsa da CAPES. Professor de Ética
na Faculdade Teológica Batista do Paraná. Professor de pós-graduação em cursos de especialização em
Psicologia e Aconselhamento Pastoral, tendo artigos publicados no Brasil, tratando de temas sobre psico-
logia, história e religião. Membro da Comissão Consultiva da Revista Via Teológica (FTBP, Curitiba, PR).
Membro do Núcleo Paranaense de Pesquisa em Religião (NUPPER, PR). Pesquisador inscrito no CNPq.
Avaliação, Instrumentos, Critérios
Avaliação única presencial: espera-se que o aluno leia o conteúdo de cada unidade, preparando-se para a
avaliação presencial que está marcada para o final do semestre.
Quando da avaliação, cada aluno receberá um texto (e o mesmo para todos). Após a leitura do mesmo,
será solicitado que o aluno discorra sobre o conteúdo, propondo uma relação entre o texto sugerido e o
conteúdo das unidades, que foi disponibilizado.
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Bibliografia Básica
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
MAINGUENEAU, Dominique. Gênese dos discursos. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
Bibliografia Complementar
BRANDÃO, Maria Helena Nagamine. Introdução à análise do discurso. 2.ed. rev. Campinas, SP: UNI-
CAMP, 2004.
FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. 7.ed. São Paulo: Ática, 2000.
MAINGUENEAU, Dominique. Novas tendências em Análise do Discurso. Campinas, SP: Pontes e Ed.
UNICAMP, 1989.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. A Linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. São Paulo: Edi-
tora Brasiliense, 1983, p. 145-146.
PAN, Miriam Aparecida Graciano de Souza. Infância, discurso e subjetividade: uma discussão interdisci-
plinar para uma nova compreensão dos problemas escolares. Curitiba, 2003. Tese (Doutorado em Lingüística)
– Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná.
SAUSSURE, Ferdinan de. Curso de lingüística geral. São Paulo: Cultrix, 1989.
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O exercício da disciplina ....................................................................................................................... 43
Referências Bibliográficas ..................................................................................................................... 51
O estudo da teologia vem despertando o interesse de pessoas que integram os mais variados gru-
pos e denominações cristãs, como também daqueles que se dedicam aos estudos acadêmicos, rela-
cionados aos fenômenos da fé ou ligados ao sagrado. Assim, a teologia vem se constituindo num
Semiótica, Análise do Discurso e Teologia
dos principais assuntos de interesse de estudiosos na atualidade. Crescem também os estudos dos
fenômenos religiosos, quando muitos buscam compreender a produção discursiva realizada pelas
múltiplas religiões atuantes em todo o mundo.
Os estudos voltados para a Semiótica e para Análise do Discurso ocuparam a atenção de inúmeros
teóricos durante o século XX, abrindo uma discussão mais acadêmica sobre a linguagem, os signos,
os símbolos e a relação entre o discurso e o contexto no qual ele foi produzido. A partir destes es-
tudos mais consistentes sobre a constituição dos discursos, passou-se a considerar a importância de
um contexto sociocultural, que não pode ser dissociado de tal produção. Os analistas do discurso
(século XX) passaram a dizer que não é o indivíduo que elabora a sua fala isoladamente, mas a sua
produção discursiva reflete o contexto sociocultural ao qual está inserido.
Temos, então, um conjunto de conceitos e ideias que precisamos conhecer para compreendermos
o que significa semiótica e análise do discurso. De posse de tais informações, podemos partir para
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o entendimento da relação entre semiótica, análise do discurso e teologia. Procuramos refletir esta
intenção – a compreensão teórica e a análise prática dos vários discursos – na construção dos cinco
capítulos de nossa disciplina.
Quero, ainda, expressar a minha gratidão a duas pessoas: ao psicólogo Daniel Jaccoud Ribeiro de
Souza, que, mesmo em viagem acadêmica ao exterior, ajudou na construção deste texto, pois parte
do conteúdo que compõe os primeiros capítulos reflete os diálogos sobre alguns teóricos, como
Mikhail Bakhtin, Ferdinan de Saussure e Miriam Aparecida Graciano de Souza Pan; e ao Dr. Eu-
clides Marchi, que ajudou na discussão sobre a construção do texto e na estrutura dos capítulos,
indicando algumas referências bibliográficas fundamentais à compreensão do tema analisado.
Plano de Ensino
Ementa
Estudar os principais conceitos associados à Semiótica e à Análise do Discurso, partindo da contribuição
dos principais teóricos e suas propostas, buscando aproximar tais reflexões com os estudos teológicos ou
ligados aos processos religiosos.
Objetivo Geral
BCompreender a importância dos estudos relacionados à semiótica e à análise do discurso e sua pertinên-
cia para o desenvolvimento das reflexões teológicas na atualidade.
Objetivos Específicos
1. identificar e conhecer os principais conceitos e teóricos ligados à semiótica e à análise do discurso;
2. estudar objetivamente a trajetória de constituição da disciplina e suas interfaces;
3. compreender a produção discursiva a partir de imagens divulgadas pela denominação batista no Brasil;
4. analisar documentos e discursos produzidos pelos batistas no contexto da Convenção Batista Brasileira;
5. aproximar a Análise do Discurso à compreensão de textos bíblicos.
Conteúdo Programático
Capítulo 1 – Semiótica e Análise do Discurso: conceitos introdutórios
Introdução
A temática da disciplina visa abordar a relação entre a elaboração discursiva e a reflexão teológica, priori-
Semiótica, Análise do Discurso e Teologia
tariamente, de confissão cristã. Partindo dessa ideia inicial, propõe-se o seguinte título para esta aborda-
gem sobre a construção dos discursos: Semiótica, Análise do Discurso e Teologia. Num primeiro momento,
temos três disciplinas que se revelam com alguma autonomia. Nossa intenção é entender as duas primei-
ras, associando-as ao trabalho teológico.
A justificativa para pensarmos na relação entre semiótica, análise do discurso e teologia sustenta-se no
esforço que os estudantes desta última precisam realizar, recorrentemente, pois se utilizam dos textos
sagrados para propor uma reflexão sobre a Revelação de Deus à humanidade. Estudantes de teologia e
teólogos já constituídos debruçam-se sobre os textos para compreender a alma humana e a ação reden-
tora de Deus nos dramas de cada geração. Assim, compreender a construção discursiva dos autores dos
textos bíblicos – reconhecendo que toda a Bíblia é a Revelação de Deus aos seres humanos – constitui-se
o ponto de partida da disciplina.
Nesse sentido, o material preparado foi pensado a partir de uma proposta: entender a trajetória e as con-
tribuições dos teóricos relacionados às disciplinas Semiótica e Análise do Discurso, como também a sua
relação com a teologia cristã. Buscando alcançar este primeiro e principal objetivo, outros foram consid-
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erados, partindo da indicação e compreensão dos principais conceitos ligados à semiótica e a análise do
discurso, relacionando-os à reflexão teológica.
Temos, então, no primeiro capítulo uma proposta de compreensão dos principais conceitos relacionados
à semiótica e à análise do discurso. Com isso, os alunos e as alunas poderão perceber que o conceito de
discurso e as suas dinâmicas apresentam as suas especificidades. Este capítulo é introdutório. Assim,
alguns conceitos apresentados serão retomados nos capítulos seguintes. Didaticamente, o que pode ser
uma novidade neste primeiro capítulo vai se tornando conhecido no desenvolvimento da disciplina.
No segundo capítulo propomos um breve histórico da trajetória das disciplinas semiótica e análise do
discurso, partindo do pressuposto de que a teologia perpassa todas as outras disciplinas dentro do curso
em desenvolvimento. Podemos perceber que a análise do discurso se desenvolve de maneira consistente
a partir do século XX, recebendo influência e influenciando outras disciplinas.
Os três últimos capítulos constituem a segunda parte da disciplina, quando propomos utilizar os recursos
indicados pela semiótica e análise do discurso para compreender a produção discursiva religiosa e teo-
lógica. Essas análises são exemplificadas da seguinte forma: a) a análise de imagens e textos produzidos
pela Convenção Batista Brasileira; b) a análise de um discurso de caráter religioso, tratando de filosofia
moral, produzido pelos batistas na década de 1980, e c) a análise de um texto da Bíblia, a partir dos teóri-
cos e conceitos propostos pela análise do discurso.
O que se espera dos alunos e das alunas, durante o estudo da semiótica, da análise do discurso e da relação
destas com a teologia, é o entendimento de que podemos nos beneficiar dos vários instrumentos e recur-
sos disponíveis, para compreendermos a Graça de Deus na pessoa de Jesus Cristo. O material, então, foi
estruturado para que a compreensão seja progressiva, do primeiro ao último capítulo.
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linguagem durante o século XX, afirmou que “a
semiótica (ou, dito de outro modo, a ciência dos O suíço Ferdinand Saussure (acerca do qual
signos, science of signs, Zeichenlehre) tem o falaremos mais adiante), e o estadunidense Charles
direito e o dever de estudar a estrutura de todos Pierce, foram elementos importantes na criação das
os tipos e sistemas de signos e de esclarecer suas disciplinas modernas da semiótica e da linguística
diversas relações hierárquicas, a rede de suas e expressavam a opinião de que a semiótica (ou
funções e as propriedades comuns e divergentes semiologia, como chamava Saussure) deveria
de todos os sistemas em questão”, (JAKOBSON, abarcar o estudo da totalidade dos signos. Para
2010, p. 75). eles, tudo o que envolvesse formas e servisse para
a representação deveria estar dentro dessa ciência.
O termo “signo”, de acordo com os dicionários Essa visão, desenvolvida entre a segunda metade
Aurélio, Houaiss e Aulete, todos de língua do século XIX e o princípio do século XX, foi
portuguesa, pode ser entendido como um sinal, bastante difundida e adotada.
símbolo, ou indício. Podemos dizer, portanto,
que se trata de algo que identifica outra coisa Sobre isso, Fidalgo e Grandim afirmam:
diferente de si mesmo. Assim, por exemplo, no entanto, para além de uma história geral
dentro de uma igreja, uma cruz pode significar o da semiótica, isto é de uma semiótica de
sacrifício de Cristo. No trânsito, a cor vermelha certo modo avant la lettre, que incluiria tudo
pode identificar uma ordem de parada. Uma placa e todos, há a história da semiótica como
com o desenho de uma mão aberta cortada por disciplina do século XX. Aqui é inquestionável
uma linha traz a ideia de limites estabelecidos ou que Charles Sanders Peirce e Ferdinand de
de acessos proibidos. Em tribunais, uma balança Saussure são os fundadores da semiótica tal
como se viria a constituir nos nossos dias. A
indica a justiça, ou um lugar onde se busca praticar
semiótica é, vale dizê-lo, uma ciência recente
a justiça. Da mesma forma, temos conjuntos de para uma temática antiga. Dentro da história
sons e formas escritas – as palavras – que são da semiótica cabe portanto como seu núcleo
usados para representar objetos do mundo. duro a história da disciplina da semiótica tal
como ela se afirmou como disciplina autónoma
A semiótica é o ramo do saber humano que na contemporaneidade. E aqui não subsistem
se preocupa em estudar esses diversos signos. quaisquer dúvidas de que foi concebida pelos
Provavelmente, o campo mais destacado da seus fundadores como ciência dos signos,
semiótica seja o estudo dos signos utilizados na (FIDALDO e GRANDIM, 2004/2005, p. 173
linguagem. A isso chamamos linguística. Por isso, e 174).
Ernst Cassirer defendia que “a linguística é uma
parte da semiótica” (CASSIRER, 1945, p. 155,
os signos, tal como proposto por Saussure. Outros Se esse movimento teórico da década de 1960
teóricos, principalmente a partir da década de não produziu grandes mudanças no âmbito da
1960, começaram a questionar a importância dos semiótica, podemos dizer, por outro lado, que
signos e passaram a propor que a semiótica deveria mobilizou o surgimento de um novo campo de
se debruçar sobre os sentidos dos signos, ou seja, saberes. Das críticas à semiótica e à linguística
sobre a semântica e a significação. Entretanto, surge uma nova perspectiva teórica, preocupada
esses movimentos ainda não substituíram o cerne com a comunicação, com os sujeitos presentes
da semiótica. Dessa forma, “numa palavra, não nessa comunicação e com o sentido daquilo que é
restam dúvidas de que, quanto à semiótica de comunicado. Surge a Análise do Discurso.
proveniência peirceana, seguramente a corrente
pela Análise do Discurso para que possamos nos tanto à religião quanto à teologia.
próximos capítulos compreender como essa
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passagem bíblica.
(BAKHTIN, 2003, p. 270).
Para o teórico russo Mikhail Bakhtin, não faz
sentido estudar a linguagem tomando por Assim, podemos dizer que a Análise do Discurso
base apenas um punhado de códigos e regras apresenta uma visão distinta e defende que o
gramaticais, assim como não é suficiente atribuir discurso é sempre construído por pelo menos
a atividade da língua somente à pessoa que fala duas pessoas. Não há discurso se não houver
ou escreve, como se a linguagem estivesse sendo ouvinte ou leitor, assim como não há enunciado se
produzida por ela naquele momento. Na visão não houver outra pessoa que possa entender o que
desse pensador, o estudo da linguagem só pode foi dito e que responda a isso.
gerar bons resultados quando se observa seu
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sentidos. O fechamento em uma época não
que sua primeira aparição ocorre, logicamente, na
permite compreender a futura vida da obra nos
cultura de sua época de formação. Porém, quando séculos subseqüentes; essa vida se apresenta
observamos o diálogo dos enunciados, vemos que como um paradoxo qualquer. As obras
o fator histórico também exerce influência sobre dissolvem as fronteiras da sua época, vivem nos
a definição do significado do texto. Isso acontece séculos, isto é, no grande tempo, (BAKHTIN,
porque os enunciados, em geral, não “surgem 2003, p. 362).
do nada”, sendo desencadeados unicamente
essa autorização passa, invariavelmente, pelas determinam o que e de que modo ele deve se
instituições. Assim, para entendermos o papel da pronunciar.
pessoa que fala, não devemos realizar uma análise
Considerações Finais
Vimos neste capítulo alguns dos principais construída em grande parte em oposição ao
conceitos da Análise Discurso, que consiste em projeto de semiótica e linguística elaborados por
uma teoria do campo de estudos da semiótica. Saussure, uma vez que esse pensador ignorava o
Consideramos os conceitos de discurso, papel dos sujeitos na utilização da linguagem. No
enunciado, dialogia, responsividade, sentido próximo capítulo, abordaremos mais detidamente
e sujeito, e constatamos que todos eles estão o histórico de desenvolvimento da Análise do
relacionados à função comunicativa da linguagem. Discurso enquanto disciplina.
Ainda, notamos que a Análise do Discurso é
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Atividade de Auto-avaliação
Identifique, em cada uma das quatro questões a seguir, a única alternativa correta.
1. No estudo da linguagem, um signo é:
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a) uma figura do Zodíaco.
b) um modo de caracterizar os comportamentos e intenções das pessoas.
c) um sinal, símbolo ou indício que identifica outra coisa diferente de si mesmo.
d) uma letra grega.
Questão de Reflexão
Estudar a Bíblia com os instrumentos fornecidos pelos teóricos da Análise do Discurso implica considerar
que os diferentes livros conversam consigo mesmos, ao longo das épocas, e também conosco. O que você
Semiótica, Análise do Discurso e Teologia
pensa sobre isso? Você acha que os textos existentes nas Escrituras se relacionam entre si? Por quê?
Atividade de Aplicação
Procure nos evangelhos referências ao Velho Testamento e compare ambos os textos. Observe como
o Velho Testamento é revisto pelos escritores cristãos e considere a importância dessa responsividade
efetuada ao longo dos séculos
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as décadas de 1910 e 1930. Os formalistas russos complexa, Saussure questiona para depois afirmar:
foram os responsáveis pela abertura do caminho
mas o que é a língua? Para nós, ela não se
dos estudos discursivos dentro do campo da
confunde com a linguagem; é somente uma parte
linguística. determinada, essencial dela, indubitavelmente.
Entretanto, nos anos de 1930, o movimento É, ao mesmo tempo, um produto social da
faculdade de linguagem e um conjunto de
praticamente desapareceu. Algumas de suas ideias
convenções necessárias, adotadas pelo corpo
foram retomadas no Ocidente e ganharam enfoque social para permitir o exercício dessa faculdade
na década de 1950, com os trabalhos de Roman nos indivíduos. Tomada em seu todo, a
Jakobson. Porém, antes disso, pode-se considerar linguagem é multiforme e heteróclita; o cavaleiro
que os seguidores dos formalistas no campo de diferentes domínios, ao mesmo tempo física,
linguístico tenham sido os estruturalistas, que fisiológica e psíquica, ela pertence além disso ao
propunham estudar o texto nele e por ele mesmo, domínio individual e ao domínio social; não se
de acordo com uma abordagem interna do texto, deixa classificar em nenhuma categoria de fatos
excluindo, dessa forma, qualquer reflexão sobre o humanos, pois não se sabe como inferir sua
que está fora do mesmo. unidade, (SAUSSURE, 1989, p. 17).
Essa corrente estruturalista surgiu com o suíço O pensamento de Ferdinand Saussure era norteado
Ferdinand Saussure (já citado no capítulo anterior), pela visão positivista. Quando se estuda a construção
que entendia a linguagem como um amplo e do Conhecimento, nota-se que o Positivismo
complexo conjunto de símbolos sustentados ao (filosofia iniciada por Augusto Comte, no século
mesmo tempo por relações sociais e individuais. Para XVIII) é marcado pela tentativa de estudar o
ele, a própria abrangência da linguagem constitui mundo com neutralidade e objetividade. Por isso, a
um obstáculo ao seu estudo científico, uma vez que metodologia de observação de Saussure necessitava
as manifestações individuais da linguagem, aquelas de um objeto relativamente estável, uniforme e com
enunciadas e produzidas pelas pessoas concretas, regras gerais de funcionamento que pudessem ser
são únicas, irrepetíveis e não se prestam bem ao descobertas. Esses princípios excluíam qualquer
estudo com os instrumentos científicos tradicionais. possibilidade de investigação do texto em ligação a
uma conjuntura situada para além do próprio texto.
Dessa forma, o estudo da linguagem promovido Portanto, ao afirmar-se como ciência, a linguística
por Saussure separa os dois polos da linguagem (as saussureana concentrou-se unicamente na
palavras e os falantes), privilegiando um deles em investigação das estruturas gramaticais do sistema
detrimento do outro. O objeto de investigação fica simbólico da linguagem. Saussure dizia que “não
restrito à língua, que consiste em um compêndio só pode a ciência da língua prescindir de outros
Preparando o terreno...
Na década de 1950, passos decisivos foram dados embora a obra de Harris possa ser considerada o
rumo ao aparecimento da análise do discurso marco inicial da análise do discurso, ela se coloca
enquanto disciplina. Maria Helena Brandão afirma ainda como simples extensão da lingüística
que, nesse momento, imanente na medida em que transfere e aplica
procedimentos de análise de unidades da língua
estudiosos passam a buscar uma compreensão aos enunciados e situa-se fora de qualquer
do fenômeno da linguagem não mais centrado reflexão sobre a significação e as considerações
apenas na língua, sistema ideologicamente sócio-históricas de produção que vão distinguir
neutro, mas num nível situado fora desse pólo e marcar posteriormente a Análise do Discurso
da dicotomia saussuriana. E essa instância da (BRANDÃO, 2004, p. 15).
linguagem é a do discurso. Ela possibilitará operar
a ligação necessária entre o nível propriamente Émile Benveniste, por sua vez, enfoca o papel do
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lingüístico e o extralingüísitico, (BRANDÃO, sujeito falante e sua inserção nos enunciados, tal
2004, p. 11). como fizera Harris, mas vai além. Esse teórico
levanta a questão da relação que se estabelece entre
Duas vertentes principais destacam-se nesse o locutor, seu enunciado e todo o contexto social.
momento. Por um lado, surge o trabalho de Zellig Na perspectiva estadunidense, o texto é visto de
Harris que indica a possibilidade de estender os forma reduzida, não havendo tanta preocupação
procedimentos da linguística americana para estudar com a origem do sentido, mas sim com as formas de
também os enunciados, ou discursos, em sua função organização dos elementos do texto. Desse modo,
comunicativa, ao invés de analisar apenas as frases a questão do sentido do discurso continua sendo
(cujo estudo, como já vimos, ignorava os falantes). tratada, fundamentalmente, como algo natural da
Por outro lado, aparecem as concepções de Roman própria linguagem, visão que a Análise do Discurso
Jakobson e Émile Benveniste a respeito do conceito não aceita.
de enunciação, como estudado no capítulo anterior.
As diferenças entre essas duas correntes vão marcar A corrente europeia, entretanto, opõe-se à americana
as visões divergentes em relação às posturas teóricas e aponta para a existência de relações entre o que
das escolas de análise do discurso americana, é dito e as condições culturais de produção desse
representada por Harris, e europeia, refletida em dizer. Tal corrente coloca, dessa forma, o contexto
Benveniste. exterior como marca fundamental do discurso.
Essa compreensão exige um deslocamento do
Embora Zellig Harris possa ser colocado entre estudo, que deixa de estar focado apenas nas
os pioneiros, sua visão limitada a um trabalho normas linguísticas e gramaticais (antigo objeto
apenas interno, com o enunciado, desconsiderou do estruturalismo de Saussure) e passa a observar
os aspectos sociais, históricos e culturais, que são também o que se passa na sociedade onde o texto
externos à linguagem. Já tivemos a oportunidade é formado.
de observar que, para a Análise do Discurso, esses
elementos externos são essenciais para a constituição
do discurso, motivo pelo qual o pensamento de
Harris ainda não havia se libertado suficientemente
do estruturalismo de Saussure. Essa observação,
daquilo que está para além do texto, é uma das
marcas decisivas da Análise do Discurso. Por isso é
possível dizer que,
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análise do discurso. Na virada da década de 1970,
se formou e se impôs, dentro de um sincretismo disciplina da Análise do Discurso. Embora os
notável, uma espécie de vulgata: a análise do teóricos europeus não entendam a análise discursiva
discurso dita francesa”, (MALDIDIER, 1997, p. como um braço da linguística (pensamento
16). preponderante na corrente estadunidense), Dubois
e Pêcheux aceitavam que a ampliação da linguística
Rompendo com as ideias linguísticas anteriores, tornou a Análise do Discurso possível.
principalmente as vinculadas ao estruturalismo de
Ferdinand Saussure, esses dois teóricos franceses Na medida em que esse novo método de análise
desenvolvem a análise do enunciado. O que é discursiva relaciona o linguístico e o social, dois
estudado não é apenas uma mera frase gramatical, conceitos tornam-se fundamentais: ideologia e
construída a partir de regras ortográficas, mas discurso.
sim uma unidade discursiva, uma fala ligada a um Como já temos abordado (e continuaremos
contexto extraverbal, um texto que se relaciona abordando) o tema do discurso, vamos fazer um
com a sociedade, com as pessoas, com a cultura e pequeno aparte para considerarmos o conceito de
com a história. ideologia, segundo três importantes pensadores
No entanto, quanto a essa dupla fundação, é dessa ideia: Karl Marx, Louis Althusser e Paul
importante destacar que vemos muito mais a Ricouer.
diferença do que a semelhança entre os teóricos. Em Karl Marx o termo ideologia está envolto em
O principal ponto de encontro entre o linguista uma carga semântica negativa. Segundo Helena
Dubois e o filósofo Pêcheux são as concepções Brandão, “Marx e Engels identificam ideologia
de marxismo e política, semelhantes para ambos. com a separação que se faz entre a produção das
Porém, várias diferenças podem ser levantadas, tais idéias e as condições sociais e históricas em que
como as concepções acerca do método de análise são produzidas”, (BRANDÃO, 1995, p. 19). Nessa
do enunciado, ou da posição da disciplina como um visão, a ideologia ignora a materialidade das ideias
modo de leitura, dentre outras questões. e seu contexto de surgimento, e acaba servindo
Dessas divergências, uma merece destaque especial: como mecanismo de controle utilizado pela classe
como a Análise do Discurso se relaciona com os dominante para assegurar a manutenção do sistema
saberes que estão fora de si mesma? Vimos que a econômico vigente. Dessa forma, a ideologia é
Análise do Discurso se relaciona, de alguma forma, “um instrumento de dominação de classe porque
com a linguística e com alguma outra disciplina a classe dominante faz com que suas idéias passem
que permitiria traçar essa ligação entre o texto e a ser idéias de todos. (...) Necessária à dominação
o contexto. Jean Dubois entende que a análise do de classe, a ideologia é ilusão, isto é, abstração e
mas procura ir além, demonstrando como isso ideológicas, históricas, sociais e institucionais.
ocorre na prática, devido ao uso do aparelho estatal.
Na compreensão de Helena Brandão, “Althusser Embora essa relação entre ideologia e discurso possa
afirma que, para manter sua dominação, a classe parecer supérflua, ela aponta para duas coisas muito
dominante gera mecanismos de perpetuação ou importantes na Análise do Discurso. Uma delas é
de reprodução das condições materiais, ideológicas a necessária relação do discurso com a sociedade.
e políticas de exploração. É aí então que entra o A outra, diz respeito à redução da importância do
papel do Estado que, através de seus Aparelhos sujeito falante. Michel Pêcheux aborda ambas as
Repressores – ARE – (...) e Aparelhos Ideológicos situações, mas a relevância de sua teoria está no
– AIE – (...) intervém ou pela repressão ou pela segundo aspecto.
ideologia, tentando forçar a classe dominada a
submeter-se às relações e condições de exploração”, Para Helena Brandão,
(BRANDÃO, 1995, p. 21, 22). Assim, a ideologia a contribuição de Pêcheux está no fato de ver
seria um dos meios utilizados pela classe dominante nos protagonistas do discurso não a presença
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(que controla o Estado, inclusive) para manter as física de ‘organismos humanos individuais’, mas
relações de poder sobre o restante da população. a representação de ‘lugares determinados na
estrutura de uma formação social, lugares cujo
Por fim, destaca-se Paul Ricoeur, com uma visão feixe de traços objetivos característicos pode ser
diferente da questão. Ricoeur alerta justamente descrito pela sociologia’. (BRANDÃO, 1995, p.
para uma tendência marcante originada na teoria 36).
marxista, que consiste em provocar uma redução
da concepção de ideologia à classe dominante, Sírio Possenti mostra que, enquanto a linguística
ignorando seus outros âmbitos de aplicação. tradicional apela para as características e
Comenta Brandão que, “uma definição de capacidades individuais, a Análise do Discurso
ideologia que a reduz às funções de dominação e olha para o contexto social onde estão o falante e o
de justificação é que nos leva a aceitar, sem crítica, ouvinte. Atenta para a história, para a cultura e para
a identificação de ideologia com as noções de erro, a ideologia. Se, para a linguística tradicional, uma
mentira, ilusão. Ele não nega a existência de tais disputa política é solucionada pela esperteza ou
funções, mas, antes de chegar a ela, diz ser preciso habilidade dos combatentes, a Análise do Discurso
entender uma função anterior e básica que concerne mostra que na verdade o que está em disputa
à ideologia em geral”, (BRANDÃO, 1995, p. 24). são valores sociais, históricos e culturais e que os
Assim, para Ricoeur há três instâncias no conceito falantes não são atores desempenhando papéis,
de ideologia: a função geral da ideologia, a função mas sim pessoas aceitando posições, mesmo que na
de dominação e a função de deformação. maioria das vezes não percebam.
A adaptação...
Portanto, podemos caracterizar o princípio da iniciais orientaram o desenvolvimento da análise
análise do discurso na França, durante a primeira do discurso nessa segunda fase. Em virtude desse
metade da década de 1970. Entretanto, Maldidier pioneirismo e das próprias modificações teóricas
afirma que essa fase inicial logo sofreu modificações efetuadas tão rapidamente, Maldidier afirma que, “a
significativas. Com as alterações de conjuntura análise do discurso está presente em toda parte, mas
teórico-política pelas quais a sociedade francesa a análise do discurso francesa está, talvez, presente
passou, e isso por volta de 1975, nota-se que de forma mais intensa”, (MALDIDIER, 1997, p.
ocorreu uma total recomposição do quadro inicial 16).
da análise do discurso. As discussões e os problemas
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barreiras de divulgação. Bakhtin rompe com essa foram tão controversas, que a banca examinadora,
visão tradicional da linguística e, em seus escritos, após inúmeras discussões, não lhe cedeu o título
antecipa as orientações da linguística moderna. de doutor. Esse trabalho foi publicado em 1965
Portanto, embora não possa ser considerado como sob o título A cultura popular na Idade Média e no
um dos fundadores da Análise do Discurso, sua Renascimento: o contexto de François Rabelais e, ao lado
obra foi muito importante para a solidificação desse de sua obra sobre a arte de Dostoievski, constitui
estudo nas décadas de 1970 e 1980. um grande marco em sua teoria linguística. Em
1961, sua saúde se agrava e Bakhtin se aposenta
Mikhail Mikhailovich Bakhtin nasceu em Orel, do cargo que ocupava no Instituto Pedagógico de
Rússia, no dia 17 de novembro de 1895. Passou Mordovian, em Saransk. Em 1969, muda-se para
sua infância nas cidades de Orel, Vilnius (na Moscou em busca de uma maior atenção médica,
Lituânia) e Odessa. Em 1917, ocorreu uma grande onde permanece até sua morte em 07 de março de
reviravolta no território russo com a revolução 1975. São discutidas também a autoria de outros
socialista. Em 1918, Bakhtin terminou seus estudos trabalhos como Marxismo e filosofia da linguagem,
na Universidade de Petersburgo, diplomando-se O freudismo (lançados, respectivamente, em 1929
em História e Filologia. Mudou-se depois para e 1927 e assinados por Valentin Volochinov) e O
Nevel, pequena cidade russa, onde trabalhou por método formal no estudo literário (publicado em 1928,
dois anos, como professor. Nesse período, foi sob o nome de Pavel Medvedev), os quais, se não
formado o “Círculo de Bakhtin”, um grupo de escritos diretamente por Bakhtin, provavelmente
pensadores e estudiosos da linguagem. Fizeram receberam grande influência deste.
parte do grupo vários intelectuais, dentre os
quais Valentin Volochinov e Pavel Medvedev. Em Mas, afinal, por que Bakhtin foi deixado de lado
1920, Bakhtin mudou-se para Vitebsk e, no ano por tanto tempo? O teórico se distanciou dos
seguinte, casou-se com Elena Okolovič. Em 1923, ideais científicos de sua época, e realizou críticas
é diagnosticado com osteomielite, motivo pelo qual radicais aos pressupostos que norteavam os estudos
é obrigado a amputar a perna em 1938. Após tal da linguagem. Em especial, Bakhtin atacou o
intervenção, a sua saúde melhora, possibilitando estruturalismo de Saussure, mostrando a limitação
um importante período de produções teóricas. Em e a impossibilidade dessa corrente em, realmente,
1924, mudou-se para Leningrado. Em 1929, após compreender a linguagem em sua relação com os
várias e frustradas tentativas de propagação de seus seres humanos que a utilizam.
textos, Mikhail Bakhtin publicou Problemas da poética
em Dostoievski, seu primeiro grande trabalho, onde Assim como Saussure havia definido a primazia
já se encontra o conceito de dialogismo. Nesse da língua (a gramática) sobre a fala (o enunciado),
por entender que é o primeiro quem dá sustentação
Considerações Finais
Portanto, para Bakhtin, o enunciado discursivo capítulo anterior, essa é uma das grandes mudanças
falado entre as pessoas é mais importante do que promovidas pela Análise do Discurso.
a simples frase gramatical. Como já vimos no
22
Atividade de Auto-avaliação
Identifique, em cada uma das quatro questões a seguir, a única alternativa correta.
1. O que Ferdinand Saussure propôs no campo dos estudos da linguagem?
a) Estudar os enunciados e sua relação entre a linguagem e contexto extraverbal.
b) Abandonar a linguística, a semiótica e qualquer forma de estudo da linguagem, pois entendia
23
que eram campos do saber sem qualquer utilidade.
c) Que a evolução das espécies proposta por Charles Darwin justificava o desenvolvimento da
linguagem.
d) Simplificar o estudo da linguagem separando os dois polos (as palavras e os falantes) e fo-
cando a linguística nas palavras (a língua), deixando de lado a relação desta com as pessoas.
2. Em que país e período surgiu a Análise do Discurso? Quais foram seus teóricos iniciais?
a) Na Suíça, no final do século XIX, com Ferdinand Saussure.
b) Na frança, entre as décadas de 1960 e 1970, com Jean Dubois e Michel Pêcheux.
c) Nos Estados Unidos da América, na década de 1950, com Zellig Harris.
d) Na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, na década de 1930, com Roman Jakobson.
Questão de Reflexão
A grande questão na época do surgimento da Análise do Discurso era sobre a função da linguagem. Para
alguns, ela servia apenas para representar verbalmente as ideias e objetos do mundo. Para outros, ela
Semiótica, Análise do Discurso e Teologia
servia inclusive para criar essas ideias e objetos. Qual é sua opinião sobre isso?
Atividade de Aplicação
Procure em dicionários o conceito da palavra “discurso”. Compare a definição com a ideia que a Análise
do Discurso traz sobre esse conceito e reflita sobre o lugar que nossa cultura e sociedade dão ao discurso.
24
25
Entzminger aprovou, pensando numa reunião só
A ideia de se organizar uma convenção nacional, de missionários” estadunidenses atuantes entre os
visando à coordenação dos batistas em todo o brasileiros, (PEREIRA, p. 141).
Brasil, pode ser percebida em 1894. No entanto,
naquele período, não houve um entendimento No entanto, a ideia de uma organização nacional para
favorável a tal proposta, sendo organizada, os batistas brasileiros precisava ser discutida com
maior profundidade, pois alguns líderes concebiam
somente uma pequena Convenção de igrejas do
uma convenção mais ampla – diferentemente de
Rio, Estado do Rio e Estado de Minas. Dez anos
depois, a situação havia mudado: já havia um William E. Entzminger –, e que reunisse igrejas
órgão de divulgação, ‘O Jornal Batista’, havia uma locais, obreiros nacionais, entidades batistas e
Casa Editora, crescera o número de missionários, missionários vindos de outros países. Parece que
bem como o dos obreiros nacionais. Mais duas Arthur B. Deter estava convencido da importância
Convenções estaduais haviam sido estabelecidas, de uma organização nacional que promovesse, ainda
uma em São Paulo e outra em Pernambuco, mais, a expansão dos batistas brasileiros. Assim, o
(PEREIRA, p. 141). assunto foi novamente retomado e apresentado a
William E. Entzminger, propondo uma concepção
De acordo com José dos Reis Pereira, em 1904
mais abrangente dessa organização, pois “o que
os batistas contavam com uma estrutura formada
desejava era uma reunião de batistas brasileiros,
por convenções estaduais e um espaço para a
missionários e nacionais”, (PEREIRA, p. 141-142).
publicação de sua literatura; publicações de textos
e de documentos que se tornaram instrumentos de Diante de nova tentativa de Deter no sentido de
divulgação das concepções batistas durante todo organizar uma convenção nacional, houve outra
o século XX. Ao citar um documento do Annual negativa de Entzminger, que “foi contra, alegando
Southerm Baptist Convention, datado de 1899, ele que os brasileiros não estavam acostumados com
vai dizer que a ideia de se formar uma convenção esse tipo de trabalho, que não se interessariam
das igrejas batistas foi de Salomão Ginsburg, que por ele e que, por outro lado, as despesas seriam
“pode ser chamado o ‘pai da Convenção Batista muitas, acima das possibilidades dos crentes”,
Brasileira”, (PEREIRA, p. 141). (PEREIRA, p. 141-142). Após a partida de
Entzminger, que retornou aos Estados Unidos por
Mas a ideia não foi bem aceita no final do século
motivos de doença, Deter fez novos contatos com
XIX, sendo retomada por iniciativa de Arthur
líderes nacionais e missionários americanos, visado
Beriah Deter, outro missionário estadunidense que
concretizar o sonho de uma organização que (re)
exerceu influência nas atividades desenvolvidas
unisse os batistas brasileiros.
no Estado do Paraná. Ao escrever sobre mais
Fulgêncio Soren, o grande líder nacional, pastor de Missões Mundiais. Além dos textos impressos,
da maior igreja. Soren tinha o mesmo pensamento os batistas passaram a associar algumas imagens
de Entzminger: a fazer-se uma Convenção, deveria às suas atividades religiosas, como analisaremos a
ser somente de missionários”, (PEREIRA, p. 141). seguir.
A. B. Deter não se deu por derrotado e passou
a escrever para líderes nacionais e missionários Neste capítulo, optamos por três imagens que
estadunidenses, buscando novo apoio para criar sugerem o posicionamento e o pensamento dos
uma convenção nacional. batistas no Brasil. A primeira imagem remete à
compreensão dos batistas sobre o meio ambiente,
Finalmente, após contatos e apoios assegurados, dentro de uma campanha promovida pelo
as barreiras que ainda restavam foram superadas, Departamento de Ação Social da CBB. As duas
e as resistências vencidas, abrindo caminho para imagens seguintes estão associadas às Juntas
a organização da Convenção Batista Brasileira Missionárias. Elas foram escolhidas porque
(CBB). Como resultado dos esforços de A. B. representam parte do pensamento missionário dos
26
Deter e de outros que desejavam constituir uma batistas na atualidade. O quarto discurso apresenta
organização nacional para os batistas, “a comissão ao povo brasileiro a preocupação dos batistas com
promotora já havia decidido que a Convenção a preservação da criação de Deus.
deveria ser em 1907, quando transcorriam os
primeiros vinte e cinco anos do início do trabalho Três aspectos podem ser percebidos nas imagens
batista no Brasil e na Bahia”, (PEREIRA, p. 141). a seguir: a) movimento ou ação; b) cores utilizadas
Após a constituição da CBB em 1907, os batistas para compor o conjunto do cartaz, e c) a relação
brasileiros passaram a produzir diversos textos e entre as imagens aplicadas e texto.
documentos, divulgando a sua forma de pensar e
29
sem qualquer slogam, ocupa toda a parte superior, das Luzes. Mas, embora permanecendo em aberto,
ficando a legenda para toda a parte inferior. A sabe-se que “eles” precisam do Pai e de sua graça
imagem superior não remete a qualquer povo amorosa.
especificamente, pois não é capaz de identificar,
enquanto símbolo, qualquer nacionalidade. Essa Enfatizou-se, ainda, que esta graça do Pai
imagem, que ocupa o espaço superior, não indicando disponibilizada a eles também foi oferecida aos
um determinado país ou povo, complementa-se batistas. Como nós precisamos, eles também
com o texto que encontra-se na base da imagem. precisam da graça do Pai. Assim, todos são carentes
Na base da imagem, como também na base de da graça de Deus.
31
interpretado na fisionomia da pessoa em destaque, Ao redor das pessoas inseridas na imagem, tudo é
que pode indicar a possibilidade de felicidade; mas as mais sombrio, conquanto haja uma luminosidade,
outras pessoas estão fragilizadas e não demonstram que se reflete na pessoas do cartaz. Se a palavra
emoções como alegria, felicidade, contentamento “feliz” foi destacada na parte superior da gravura, na
ou realização. parte inferior, mas também em destaque, podemos
ler: “por um Brasil – verdadeiramente – feliz”, pois
Para as duas pessoas que estão erguidas, e seguem o povo deste país pode não ser, de fato, um povo
o seu caminho, existe um número maior de pessoas feliz.
prostradas, acomodadas, dando a ideia de que
possível mais o ser humano continuar a ser um agente fiscalizador do uso sustentável da natureza
consumidor da realidade, da vida e do Planeta de modo a preservar também a vida humana,
Terra; os dilemas ambientais e ecológicos não evitando assim os desastres ambientais como os
afetam apenas o cosmos, mas também a natureza que ultimamente temos sofrido. Tudo isto para
humana e, neste sentido, o ser humano como que conquistemos a VIDA PLENA E O MEIO
um micro-cosmo também tem prejudicado AMBIENTE. Niterói (RJ), 91ª Assembléia da
a sua saúde física, mental-emocional, social e Convenção Batista Brasileira, 25 de janeiro de
espiritual pelo inconsequente e imediatista estilo 2011. Comissão da Carta de Niterói. Mere Márcia
de vida adotado; os cristãos, em geral, têm se Prado Bello; Norton Riker Lages e Lourenço
preocupado mais com a redenção espiritual do Stelio Rega (relator), (CONVENÇÃO BATISTA
ser humano, nem sempre considerando o ser BRASILEIRA. Disponível em: <http://www.
humano e a vida em todos os seus aspectos. batistas.com/index.php?option=com_content&
Por fim, CONCLAMAMOS que os cristãos view=article&id=457:conheca-a-carta-de-niteroi
de toda a Terra busquem compreender que o &catid=24:artigo3&Itemid=42>).
Evangelho todo é para todo o ser humano e para
o ser humano todo, incluindo a sustentabilidade
32
Considerações Finais
Ao concluirmos nossas reflexões sobre a em capítulos anteriores, a Análise do Discurso
construção discursiva dos batistas ligados à CBB, procura compreender, tanto aquele que se propõe
partindo de três imagens e um discurso textual, uma mensagem quanto aquele que a recebe e a
podemos fazer as seguintes considerações: interpreta, e c) as interpretações realizadas partem
a) as imagens e o documento sobre meio da minha subjetividade, permitindo outros focos
ambiente foram publicados por uma instituição de análise e compreensão, não existindo uma
denominada Convenção Batista Brasileira, única e verdadeira apropriação dos elementos
formada pelos batistas que livremente desejam constitutivos das imagens publicadas e analisadas
congregar na instituição; b) como consideramos
Indicações Culturais
Atividade de Auto-avaliação
Identifique, em cada uma das quatro questões a seguir, a única alternativa correta.
1. Que organização batista produziu imagens que permitem uma análise discursiva?
a) Convenção Batista Paranaense.
b) Conselho de Educação da Convenção Batista Brasileira.
c) Convenção Batista Brasileira, organizada em 1907.
33
d) Nenhuma das alternativas anteriores.
2. Existem, pelo menos, três elementos que podem ser percebidos no estudo das imagens.
Quais são?
a) Quando foi publicada, qual o custo da publicação e tempo de circulação do cartaz.
b) Movimentos e ações, cores utilizadas e a relação entre imagens e textos.
c) Quem escreveu o texto, quem cuidou das imagens e quem editou o cartaz.
d) Todas as respostas anteriores.
3. Neste capítulo, vimos que os batistas discursaram sobre alguns temas, utilizando, inclusive,
algumas imagens. Quais foram os temas?
a) Economia, segurança pública e ética cristã.
b) Vida cristã e meio ambiente; a graça do Pai dispensada a todos; a verdadeira felicidade para
o Brasil, e o cuidado e a preservação da criação de Deus.
c) Administração do tempo e dos bens materiais, trabalho comunitário e política brasileira.
d) Compromisso cristão, dons espirituais e participação nas assembleias administrativas da
CBB.
4. O discurso batista sobre o cuidado e a preservação da criação de Deus pode ser dividido em
três partes. Quais são essas partes?
a) Introdução, desenvolvimento e conclusão, dando ênfase à pregação no púlpito da igreja.
b) Contexto bíblico, aplicação prática e apelo aos leitores.
c) O discurso apresenta três ênfases: a) cremos, b) declaramos e c) conclamamos.
d) O pregador, a mensagem e o ouvinte.
Questão de Reflexão
Foi possível perceber que uma denominação religiosa (no caso os batistas no Brasil), ocupou-se dos mais
diversos temas: vida plena e meio ambiente; salvação oferecida aos que aceitam a graça do Pai; felicidade
Semiótica, Análise do Discurso e Teologia
verdadeira em Jesus Cristo. O que você acha sobre compartilhar as verdades bíblicas utilizando-se de
imagens? Qual o impacto dessas imagens na vida das pessoas?
Atividade de Aplicação
Procure em revistas confessionais utilizadas na EBD ou discipulados (literatura batista, presbiteriana,
entre outras) imagens que comuniquem algumas verdades bíblicas ou teológicas. Faça uma análise de tais
imagens e perceba o discurso que está associado às imagens.
34
35
Entre janeiro de 1974 e janeiro de 1985, os batistas número elevado de mensageiros, pois naquele ano
estiveram reunidos em onze grandes encontros os batistas completaram o seu primeiro centenário
nacionais, conhecidos como Assembleia Anual de atividades no Brasil, segundo a datação oficial da
da Convenção Batista Brasileira. Naquele mesmo denominação naquele momento, sendo um marco
período, a sociedade brasileira acompanhou as histórico na trajetória do grupo religioso.
transformações sociopolíticas efetuadas num Brasil
sob o regime militar. Este período (1974-1985) O documento em destaque foi elaborado por
pode caracterizar a segunda metade de tal regime, uma comissão especial e aprovado pelos batistas
sobretudo, marcado pela abertura ao processo que participavam da 62ª Assembleia Anual, entre
democrático. Foi no contexto das onze Assembleias os dias 22 e 27 de janeiro de 1980, na cidade de
Anuais da Convenção que vários documentos Goiânia – GO. Como dito na introdução desta
relevantes foram produzidos pelos batistas e aula, o texto selecionado para a análise discursiva
legitimados pelo plenário da CBB. A proposta do tinha como endereço o Gabinete do General João
presente trabalho/aula é analisar, de acordo com Batista Figueiredo, na condição de Presidente
a abordagem da Análise do Discurso (AD), um da República. Considerando que aquele era um
determinado texto, sobretudo, porque ele remete momento de transição política, quando o país teria
a uma tentativa de contato com o poder político em Figueiredo o seu último Presidente dentro
instituído. do regime militar, o texto dos batistas mostra-se
relevante para a historiografia da denominação.
Objetivamos, então, compreender a produção desse Considerando, ainda, que os batistas estavam às
determinado texto, elaborado por uma denominação vésperas de completar o seu primeiro centenário
cristã, e endereçado ao representante do Poder de atividades no Brasil (1882-1982), segundo
Executivo nacional. Buscando entender o contexto registros oficiais, o discurso apresenta-se como um
das Assembleias da CBB, vamos a algumas breves objeto valioso na compreensão da produção de
considerações sobre aqueles eventos. Entre 1974- textos pelos batistas no Brasil, considerando temas
1985, de acordo com os Anais da CBB, percebe- como poder político e filosofia moral, no início da
se que foi a 58ª Assembleia Anual (Manaus, 1976) década de 1980. Três teóricos que trabalharam com
que registrou o menor número de mensageiros questões sobre formação discursiva, e já citados em
participantes, num total de 838 inscritos. Por outro aulas anteriores, podem auxiliar na compreensão
lado, nota-se que o evento que registrou o maior do texto produzido pela coletividade batista: José
número de mensageiros foi a 64ª Assembleia Fiorin, Dominique Maingueneau e Eni Orlandi.
Anual, realizada em Salvador, no ano do chamado Cabe lembrar que esta aula tem como objetivo
Centenário dos Batistas no Brasil (1982), contando principal compreender a produção discursiva dos
com 6.020 mensageiros inscritos. Justifica-se um batistas, num determinado momento sociocultural,
três conceitos que estão relacionados tanto à será percorrido quando do desenvolvimento desta
política quanto à religião. O primeiro conceito está análise discursiva, não existindo, na presente aula,
relacionado ao poder político, pois a expressão a intenção de aprofundar a discussão sobre os
política traz um significado bastante amplo em seus significados destes e de outros conceitos
seu sentido clássico-moderno. O conceito é apresentados.
importante, pois o texto foi elaborado tendo em
vista o Presidente da República no Brasil, como O importante na análise do discurso é compreender
também parte do seu conteúdo. Assim, a expressão o caminho que um discurso percorreu até a sua
poder político, aplicada aos textos produzidos pela elaboração e publicação. Assim, o documento que
CBB, “pertence à categoria do poder do homem serve como objeto para esta análise percorreu uma
sobre outro homem, não à do poder do homem determinada trajetória, até ser apresentado como
sobre a natureza”, (BOBBIO, 2002, vol. 2, p. 955). proposta ao plenário da Convenção, sendo lido e
O segundo conceito é o de política eclesiástica, aprovado na décima quarta sessão, permanecendo
sendo que a expressão caracteriza “as relações entre registrado nas atas daquele evento. Os pontos
36
a sociedade civil e a sociedade religiosa”, (BOBBIO, que serão tratados no presente trabalho/aula
2002, vol. 2, p. 967), algo que pode ser aplicado ao são os seguintes: a) uma breve contextualização
texto em análise, pois uma denominação religiosa do momento sociopolítico entre 1974-1985; b)
parece solicitar algumas respostas do poder alguns detalhes sobre a origem do documento; c)
constituído, agindo sobre alguns acontecimentos a apresentação do discurso na íntegra, de acordo
no início da década de 1980. O terceiro conceito com os anais da 62ª Assembleia Anual, e d) propor
é o da teoria das decisões coletivas, sendo que “o um exercício de análise do discurso, a partir das
ponto de partida desta teoria é o da noção das reflexões de determinados teóricos.
37
A origem de um documento Batista
Para ajudar na compreensão da produção do os seus membros se dirijam por telegrama aos
documento de 1980, podemos recorrer a um Deputados Estaduais e Federais, aos Governadores
volume dos anais da CBB, datado de 1978. Naquela de seus respectivos Estados e ao Presidente da
Convenção, realizada entre os dias 19 e 25 de janeiro República, solicitando dos mesmos as medidas
de 1978, na cidade de Recife, dois assuntos foram acima propostas”, (ANAIS DA 60ª ASSEMBLÉIA
encaminhados à Comissão de Assuntos Eventuais: ANUAL DA CBB, 1978, p. 331).
o primeiro assunto tratava da Lei do Divórcio,
revelando pontos de vista divergentes em relação à Parece que os batistas já demonstravam certa
posição dos batistas diante da lei que estava sendo inquietação sobre a postura administrativa federal,
aprovada pelas autoridades legislativas; o segundo e isso desde o final do governo Geisel. De alguma
assunto considerado pelos participantes do evento forma, essa inquietação se concretizou no documento
foi propor “a esta Assembléia que encaminhe produzido em 1980, quando da 62ª assembleia
ao Sr. Presidente da República um documento convencional. Para traduzir o pensamento de uma
solicitando-lhe medidas governamentais para coibir coletividade religiosa, foi composta uma comissão
a continuação e o crescimento da pornografia, bem especial, formada de 06 (seis) mensageiros inscritos,
como a propaganda de cigarros e bebidas alcoólicas eleitos pela assembleia, visando à produção do
através de rádio e da televisão, (ANAIS DA 60ª texto a ser endereçado ao presidente do Poder
ASSEMBLÉIA ANUAL DA CBB, 1978, p. 330- Executivo. Os componentes da comissão foram:
331). Irland P. Azevedo; Nilson Fanini; Delcyr Lima;
José dos Reis Pereira; Eber Vasconcelos e Ebenezer
O primeiro assunto, que tratava da posição sobre Ferreira. Dos seis integrantes da comissão, quatro
a Lei do Divórcio, foi encaminhado ao plenário haviam ocupado cargos na diretoria estatutária da
pela comissão, evocando o princípio da liberdade Convenção, na função de presidente ou secretário.
de consciência dos batistas, e suas comunidades Outro integrante da comissão ocupou a tribuna na
locais, que deveriam assumir a posição que qualidade de orador oficial de uma das assembleias
melhor representasse o pensamento da igreja anuais. E o único que não ocupou cargo na
local. O segundo assunto, referente ao pedido a diretoria da CBB foi um destacado líder dos batistas
ser encaminhado ao Presidente da República, teve brasileiros. Era uma comissão composta de pessoas
uma melhor acolhida pela comissão, que assim se de reconhecimento e prestígio no meio batista, no
posicionou sobre o tema: “somos de parecer que início daquela década.
esta Assembléia solicite à Junta Executiva enviar
circular a todas as igrejas sugerindo que elas e todos
poder político e filosofia moral, que deveria ser particularmente os adolescentes e jovens. Por
encaminhado ao Presidente da República, o general outro lado, as situações cada vez mais freqüentes
de imoralidade na televisão, em certas publicações
João Batista Figueiredo:
ilustradas e expostas ao público nas bancas de
DOCUMENTO sobre moralidade pública, a jornais e a avalancha de livros pornográficos à
ser encaminhado ao Exmo. Snr. Presidente da venda nas livrarias concorrem para rebaixar e
República, conforme decidido pela Convenção desfibrar o caráter dos expectadores e leitores e
em sua 62 ª Assembléia: ‘MANIFESTO – O criar um clima de permissividade em que tudo
Pr. Delcyr de Souza Lima lê o Manifesto a ser é tolerado, em flagrante desrespeito às tradições
levado ao Presidente da República, hipotecando de nobreza e honradez do povo brasileiro, pondo
todo o apoio dos batistas brasileiros às medidas em risco a integridade da família e a própria
que estão sendo tomadas contra toda a sorte segurança do País. Porque, Senhor Presidente,
de imoralidade, criminalidade e sua divulgação sem sólidos fundamentos morais não há nação
através dos meios de comunicação. O documento que subsista. Convencidos de que o povo
é aprovado. (Ata da 14ª Sessão). brasileiro tem em Vossa Excelência um autêntico
guardião, manifestamos nossas apreensões mas,
38
Excelentíssimo Senhor General João Batista ao mesmo tempo, esperamos que o Governo
de Figueiredo, M. D. Presidente da República venha a tomar ou determinar as providências
Federativa do Brasil – Brasília, DF. tendentes a coibir os abusos daqueles que,
deslembrando ou mal interpretando os altos
Como líderes da Convenção Batista Brasileira,
ideais de Vossa Excelência no decorrer de seu
vimos à presença de Vossa Excelência para
Governo, estão a implantar em nossa terra o
manifestar, antes de tudo, nossa disposição
império da imoralidade e da violência. Nosso
de orar por Vossa Excelência e seu Governo,
progresso, nossa grandeza e nosso futuro no
como sempre fizemos e em observância do que
concerto das nações dependem da base moral
ensinam as Sagradas Escrituras. Reunida em
em que se assente a vida da nacionalidade. O
sua 62ª Assembléia Anual, nos dias 23 a 27 de
testemunho da história dá-nos conta de que
janeiro do corrente ano, na Cidade de Goiânia,
a imoralidade prevalecente na Sociedade tem
como 1.600 mensageiros inscritos e procedentes
produzido efeitos mais desastrosos do que
de todos os Estados da Federação, uma vez mais
inimigos armados na destruição dos povos.
os batistas dirigimos a Deus orações em favor
Senhor Presidente, a dois anos do 1º centenários
de Vossa Excelência e de todo o seu Governo.
da 1ª Igreja Batista no Brasil, que soma hoje
Os batistas caracterizamo-nos pela simplicidade
mais de 3.000 comunidades de fé, os batistas
de costumes, fidelidade às Sagradas Escrituras e,
brasileiros estamos anunciando que Só Jesus
conseqüentemente, pelo respeito às autoridades
Cristo Salva, tanto o indivíduo como a família,
constituídas, pelas quais constantemente oramos
a nação e os valores superiores do espírito. Nas
e às quais honramos, convencidos de serem elas
igrejas, nas fábricas, nas cátedras, nas tribunas, na
instituídas pela providência de Deus. Como
cidade ou no campo proclamamos e procuramos
povo ordeiro estamos perfeitamente integrados
viver, como súditos do Reino de Deus e cidadãos
no esforço de construção da grandeza de nossa
comprometidos com a nossa Pátria, as verdades
Pátria, no que estamos persuadidos que Vossa
supremas do Evangelho de nosso Senhor Jesus
Excelência também se engaja como Chefe da
Cristo. É com tais convicções, propósitos e
Nação. Julgamos, portanto, de nosso dever
compromissos, que sabemos se harmonizam
dirigir-lhe u’a mensagem a respeito dos grandes
com os propósitos que animam e informam o
males que estão a ameaçar o povo brasileiro.
Governo de Vossa Excelência, que os batistas
É do conhecimento de Vossa Excelência,
brasileiros resolvemos dirigir-lhe esta mensagem,
Senhor Presidente, que uma onda avassaladora
ao mesmo tempo que lhe hipotecamos todo o
de imoralidade se vem abatendo sobre o País
apoio moral e espiritual. ‘Bem-aventurada é
inteiro e se manifesta especialmente na televisão
a nação cujo Deus é o Senhor’, Salmo 33:12.
e em certa imprensa cujo único intento parece
Respeitosamente, pela Convenção Batista
ser a poluição moral da gente brasileira. Na
Brasileira, Irland Pereira de Azevedo, Nilson
televisão, as cenas de violência contam-se pelas
do Amaral Fanini, Delcyr de Souza Lima, José
centenas diariamente e são, a nosso ver, uma
39
conhecidos pelo público em geral, ficando restritos
aos livros de atas das mesmas, conservando uma Se por um lado o discurso verbal revela uma fala
história importante sobre a religiosidade no Brasil. “rigorosamente individual, pois é sempre um eu
Os textos e documentos da CBB podem ser datados quem toma a palavra e realiza o ato de exteriorizar
do início do século XX, mais especificamente, a o discurso”, (FIORIN, 2000, p. 11), o discurso
partir de 22 de junho de 1907, quando a organização impresso, produzido por alguns e aprovado pela
passou a congregar e coordenar as atividades de maioria, pode revelar a instância ou instituição
uma coletividade religiosa. A Convenção Batista que toma a palavra e expressa as suas intenções.
Brasileira não tem poder de ingerência sobre as Por isso, é possível dizer que o texto não indica a
igrejas locais, constituindo-se de uma organização aprovação dos batistas ao pleno exercício do poder
que busca coordenar as atividades da denominação político instaurado, mas uma postura no sentido de
cristã. interceder a Deus pelas autoridades constituídas,
como o discurso indica. Mas cabe uma pergunta,
Para compreender a essência da CBB naquele a partir do discurso: como os batistas entendiam
período (1980), pode-se recorrer ao seu Estatuto, o presidente como “um autêntico guardião”?
que dizia: Em seu apoio à figura de autoridade constituída
pelo Presidente Figueiredo, pode-se dizer que os
Capítulo II – Fins e Representação. Art. 3° - A
batistas esperam que “o Governo venha a tomar
Convenção tem por fim coordenar o trabalho
geral das igrejas batistas que com ela cooperam, ou determinar as providências tendentes a coibir
buscando desenvolver a obra da evangelização e os abusos daqueles que, deslembrando ou mal
missões, a beneficência, a educação e a literatura interpretando os altos ideais de Vossa Excelência
cristã. § Único – A convenção não exerce poder no decorrer de seu Governo, estão a implantar em
jurisdicional ou legislativo sobre as igrejas; apenas nossa terra o império da imoralidade e da violência”,
dirige os trabalhos que mantém e recomenda às (ANAIS DA 62ª ASSEMBLÉIA ANUAL DA
igrejas a maneira pela qual poderão cooperar com CBB, 1980, p. 05-06).
esses trabalhos. (ANAIS DA 62ª ASSEMBLÉIA
ANUAL DA CBB, 1980, p. 11). Podemos, então, propor algumas considerações. Em
primeiro lugar, o documento pode ser entendido
Numa análise preliminar não se encontrou como fruto de um processo de construção discursiva
nenhuma orientação de incentivo ou de qualquer que a sociedade produziu. Não foram apenas os seis
constrangimento à produção de documentos de líderes religiosos, legitimados por uma instituição,
poder político pelos batistas brasileiros, podendo que produziram o documento em análise. Pode-se
levar a outra conclusão preliminar: pode-se deduzir entender que tal formação discursiva, para lembrar
que os textos sobre poder político e filosofia moral Maingueneau, foi o resultado de outras elaborações
Afinal, o texto que foi publicado nos anais da Senador, um ministro do Supremo Tribunal Federal
CBB é parte integrante do pensamento e das e um Governador de Estado. Há vários Deputados
inquietações de toda uma coletividade religiosa, os estaduais e dezenas de Vereadores, bem como vários
batistas brasileiros, que pede um posicionamento da Prefeitos e altas autoridades, nas administrações
sociedade e também do Poder Executivo Federal, estaduais”, (PEREIRA, 2001, p. 375).
na pessoa do Presidente da República. Em terceiro
lugar, no que pese o discurso ser produzido num Um terceiro objetivo é compreender o efeito de
contexto religioso, ele não se enquadra na tipologia sentido que o documento produziu, entre os batistas
de um discurso teológico, indicando questões e a sociedade. Embora pareça um exercício fácil,
doutrinárias ou dogmáticas. bastando identificar o sentido literal para contrapor
o efeito de sentido, Eni Orlandi vai afirmar que não
No caso em questão, trata-se de um discurso que é razoável que se excluam os limites entre sentido
trata do poder político constituído e dos princípios literal e derivações, ou efeitos de sentido, já que
ligados à filosofia moral, produzido por uma isso não permitiria a distinção entre o implícito e
Assembleia representativa dos batistas brasileiros,
40
Considerações Finais
Dessa forma, pode-se dizer que os anais da CBB posicionando-se sobre alguns temas, mas também
indicam textos que podem revelar o desejo dos revelando a sua inquietação sobre a participação
batistas em transformar a sociedade brasileira, de outras instâncias nos rumos do país.
Atividades
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Indicações Culturais
Algumas cenas e acontecimentos bíblicos foram uma análise feita das diversas pinturas da Ceia do
retratados ao longo dos séculos. Acontecimentos Senhor.
como a tentação de Adão e Eva, como também
a arca construída por Noé, quando se preparava Disponível em: <http://www.youtube.com/watc
para o grande dilúvio, foram pintados por alguns h?v=Eyo2OjJKt9I&feature=related>
artistas. Uma das reproduções mais conhecidas Acesso em: 13 de julho de 2011.
é a pintura sobre a Última Ceia do Senhor. Veja
Atividade de Auto-avaliação
Identifique, em cada uma das quatro questões a seguir, a única alternativa correta.
1. O documento analisado neste capítulo e produzido pelos batistas brasileiros considerou que
temas e foi publicado em que período?
a) Inserção dos batistas (décadas 1880-1900).
b) Organização dos batistas (décadas 1900-1940).
c) Cruzadas evangelísticas dos batistas (décadas 1940-1960).
d) Ética, filosofia moral e os batistas (1974-1985).
Atividade de Auto-avaliação
Semiótica, Análise do Discurso e Teologia
4. A partir do discurso analisado, os batistas estavam convictos com relação a que verdade,
entre outras coisas?
a) Igreja e Estado precisam se unir.
b) A religião está acima dos governantes.
c) Sem sólidos fundamentos morais não há nação que subsista.
d) Os governantes devem controlar as denominações religiosas.
Questão de Reflexão
Os batistas elaboraram e publicaram inúmeros discursos, posicionando-se sobre diversos temas, indicando
ao povo brasileiro a sua compreensão sobre os acontecimentos sociais, políticos e religiosos. Qual a sua
opinião sobre o posicionamento das denominações religiosas sobre tais temas na atualidade? Como os
estudos e discursos religiosos e teológicos podem favorecer o crescimento de toda a sociedade?
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Atividade de Aplicação
Volte ao discurso inserido neste capítulo e procure associar a interpretação da Bíblia ao emprego de
expressões discursivas, aplicadas ao Presidente da República e a toda a população brasileira.
A proposta de um tema
A presente reflexão sobre O Exercício da Disciplina presente texto.
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teve origem numa reunião do Corpo Docente da
Faculdade Teológica Batista do Paraná (FTBP), Propomos, então, desenvolver uma análise do
no final do ano letivo de 2009. Naquela ocasião, discurso de um texto bíblico, tomando nesta
cogitou-se sobre um tema que poderia ser exposto reflexão como um documento produzido pelo
aos alunos, professores e outros ouvintes, na Cristianismo, que foi preservado até os nossos dias.
abertura do ano letivo de 2010, fato que se deu Assim, a análise discursiva que vamos empreender
em 08 de fevereiro. Após algumas considerações reconhece, primeiramente o valor da Bíblia Sagrada
dos professores durante a reunião, pensou-se num como inspiração de Deus para o sujeito e toda a
assunto que abordasse a importância do exercício sociedade, em todos os tempos e para todos os
pessoal, mas que contemplasse também a disciplina lugares. Entendemos, também, que esse texto
na trajetória acadêmica dos estudantes de teologia sagrado constitui-se num documento produzido
na atualidade. Como resultado das considerações num determinado momento da história da religião
dos colegas, pensei em tratar sobre O Exercício da cristã, podendo indicar o pensamento de uma
Disciplina, na primeira aula da Faculdade em 2010. época e como os princípios bíblicos se conservam
Assim, a partir de uma aula de abertura do ano ao longo de séculos.
letivo de nossa Faculdade Teológica, proponho Com isso, objetiva-se, a partir da reflexão que se
uma compreensão sobre tal exercício disciplinar, faz de um fragmento da Carta de Paulo a Timóteo
buscando empreender uma análise discursiva de – II Timóteo 3.10-4.05 –, abordar o texto religioso
um documento do Cristianismo, que circulou no meio visando compreender os contextos culturais e
cristão durante o Império Romano, tendo como históricos. Outro objetivo que se tem ao tratar
base o texto bíblico de II Timóteo 3.10-4.05. O Exercício da Disciplina está relacionado aos
Duas perguntas que se colocam, quando se propõe elementos básicos da abordagem denominada
discutir um tema como este é: como O Exercício da Análise do Discurso, principalmente quando esses
Disciplina pode ser compreendido, considerando a elementos identificados no texto sagrado podem
orientação bíblica e as contribuições da psicologia? ser associados ao exercício pessoal e acadêmico,
E, quais os elementos básicos para uma introdução sobretudo daqueles que estão construindo um
ao Exercício da Disciplina, tomando-se como pensamento teológico no contexto de América
referência a abordagem da análise do discurso? Latina. Cabe, então, destacar que a aplicação da
Essas perguntas devem nos lembrar que as disciplina denominada de análise do discurso tem
considerações que se seguem não pretendem ser como objeto de estudo um texto bíblico. O texto
originais e nem conclusivas, pois outros aspectos analisado, que foi retirado de um conjunto mais
podem ser indicados e tratados a partir de outras amplo de orientações do autor ao seu leitor, é aceito
abordagens metodológicas, não contempladas no no contexto cristão como norteador dos rumos
o aprendeu. Porque desde criança você conhece Você, porém, seja moderado em tudo, suporte
as Sagradas Letras, que são capazes de torná-lo os sofrimentos, faça a obra de um evangelista,
sábio para a salvação mediante a fé em Cristo cumpra plenamente o seu ministério, (BÍBLIA
Jesus. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil SAGRADA, NVI, II Timóteo 3.10-4.05, p. 1.575
para o ensino, para a repreensão, para a correção e 1.576).
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décadas de formação das igrejas cristãs, e isso pois, para a presente análise discursiva, parte-se da
na antiguidade, como houve uma retomada das tradição cristã, que aceita e reconhece os textos
discussões sobre a legitimidade desses documentos atribuídos ao apóstolo de Paulo, e que integram o
históricos e religiosos, também a partir do século conjunto das Sagradas Escrituras, constituindo o
XIX. Cabe lembrar, que o objetivo da presente Cânon do Novo Testamento. A posição assumida
análise não é considerar a autenticidade ou não das anteriormente, que considera Paulo o autor dessa
Cartas Pastorais atribuídas a Paulo e destinadas a carta a Timóteo, não ignora a possível participação
Timóteo e Tito, mas identificar a existência de de colaboradores ao lado do autor, como alguém
discussões sobre a produção desses documentos no que o assistiu na elaboração textual. Após essas
contexto da cristandade. breves considerações sobre esse documento
atribuído a Paulo, podemos avançar no sentido de
Observa-se, então, que a discussão acadêmica sobre compreender o texto sagrado a partir da análise do
a autoria da Carta de Paulo a Timóteo pode passar discurso.
por três vertentes, entre outras que os estudiosos
objeto acabado; enquanto objeto empírico, o texto pode o cristão se apropria do texto e o torna uma palavra de
ser um objeto acabado (um produto) com começo, meio Deus ao seu íntimo, podendo transformar a sua vida.
e fim. Porém, se o consideramos na perspectiva da análise O texto de Paulo a Timóteo se completou quando o
de discurso, lhe devolvemos sua incompletude, pois o autor endereçou as suas orientações a Timóteo, pois
referimos as suas condições de produção”, (ORLANDI, entendemos que o receptor o leu e o aplicou à sua própria
p. 204). Quando se considera o texto como um objeto vida. O texto de Paulo a Timóteo também se completa
em condições de produção, é necessário pensar na ideia quando cada cristão, em qualquer lugar do mundo e em
de reversibilidade, que se caracteriza pela “troca de papéis todas as épocas, se coloca como receptor da mensagem
na interação que constitui o discurso e que o discurso e a aplica à sua própria vida.
constitui”, (ORLANDI, p. 214). Enquanto cristão,
texto? Como consideramos anteriormente, aceita-se um documento enviado por seu orientador espiritual,
que Paulo escreveu essa orientação e a encaminhou a num período histórico marcado pela força do poder
Timóteo, tratando dos desafios inerentes ao ministério político Romano. Nós, na atualidade, vivemos com
cristão. Aceita-se, também, que Timóteo recebeu o certa liberdade de expressão, considerando a democracia
texto original, lendo-o e apropriando-se dos seus brasileira. Outros cristãos, em outros lugares do mundo,
ensinamentos. Mas além dessas convicções no contexto não experimentam esta mesma liberdade de culto, já
do Cristianismo, podemos propor um exercício prático: na segunda década do século XXI. Historicamente,
penso que a maioria dos leitores do Novo Testamento Paulo produziu uma mensagem dentro de um contexto
concorda que o texto indicado neste trabalho teve sociocultural, mas esse mesmo texto está sendo
como autor o apóstolo Paulo. No entanto, quem está apropriado e analisado num contexto diferente daquele
lendo o texto na atualidade não é Timóteo (pelo menos de sua produção, pois nos achamos no que se denominou
não o destinatário original), e sim todos nós, que nos América Latina.
aproximamos do texto e também nos apropriamos
dos seus ensinamentos. O que queremos dizer é que a Assim, a partir do que observamos até o momento, como
reversibilidade pode estar presente, além da materialidade podemos colocar em prática O Exercício da Disciplina?
do documento histórico, criando uma possibilidade de Indico quatro pontos, tendo como apoio algumas ideias
múltiplas interpretações pessoais e coletivas, tendo como da psicologia moderna, que podem ajudar no exercício
base a mesma passagem bíblica. de nossa disciplina, aplicada a várias áreas de nossa vida,
mas de forma específica à nossa vida acadêmica. O que
A segundo pergunta que pode ser feita é: qual o contexto temos em mente é a análise do discurso que se aplica
sociocultural de produção e leitura do texto bíblico em também à área da teologia de confissão cristã, visando,
análise? Sem aprofundarmos nas referências históricas, sobretudo, aos desafios ministeriais que se colocam
não é difícil afirmar que o contexto sociocultural vivido diante de todos nós, líderes e servos no contexto de
por Paulo, quando produziu a sua reflexão sobre os Reino de Deus na sociedade contemporânea.
desafios ministeriais, foi diferente do nosso contexto
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a uma percepção internar, quando a pessoa olha texto: “você, porém seja moderado em tudo”.
para si mesmo, antes de perceber e julgar os erros Parece que Paulo, após escrever sobre a sua vida
daqueles que estão ao seu redor. Sobre esse aspecto, e os sofrimentos experimentados, desejava que o
pode-se ler em II Timóteo 4.02. Depois de um seu leitor (primeiramente Timóteo), considerasse
imperativo – pregue a palavra –, dito de outra forma as implicações relacionais, no contexto cristão e
na análise do discurso, não pregue nada além da palavra, ministerial.
Considerações Finais
Mas gostaria de concluir a presente análise andamento na atualidade; c) cabe lembrar que na
discursiva apontando para quatro considerações disciplina pessoal é preciso ter metas, estabelecer
objetivas: a) penso que o texto de Paulo é tão objetivos de crescimento e perseguir os alvos que
importante na atualidade como o foi ao tempo de foram propostos, e d) com relação à disciplina
Timóteo; b) entendo que todos nós, que militamos acadêmica, vale lembrar que o tempo é um bem
na área teológica, somos responsáveis pela precioso e que podemos aproveitá-lo com leituras,
construção deste conhecimento no Brasil e em em conversas que levam ao crescimento, buscando
toda a América Latina; conhecimento que está em cumprir bem o ministério que nos foi confiado.
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Atividade de Auto-avaliação
Identifique, em cada uma das quatro questões a seguir, a única alternativa correta.
1. De acordo com o prof. Dr. Euclides Marchi, citado no capítulo, existem alguns elementos
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que devem ser procurados no discurso. Dos elementos citados, podemos indicar três.
a) Procurar um teórico para explicar o discurso; usar a sua teoria, e aplicá-la a novos discursos.
b) Identificar uma metodologia; explicar tal metodologia, e questionar essa metodologia no
discurso.
c) Propor uma tese; rebater com uma antítese, e escrever uma síntese.
d) Localizar globalmente o texto; buscar o sentido geral do texto, e identificar os elementos de
significação.
3. No capítulo foram indicados alguns teóricos que ajudam a entender a Análise do Discurso.
Podem ser citados três:
a) Dominique Maingueneau, Eni Pulcinelli Orlandi e José Luiz Fiorin.
b) Apóstolo Paulo, Timóteo e Tiago.
c) Glenn Hinson, Israel Belo de Azevedo e Mikhail Bakhtin.
d) Nenhuma das respostas anteriores.
Questão de Reflexão
Podemos entender que, originalmente, Paulo escreveu a Timóteo orientando-o sobre a vida ministerial.
Trata-se de uma carta entre duas pessoas que reconheciam o senhorio de Jesus Cristo e procuravam viver
Semiótica, Análise do Discurso e Teologia
uma vida de compromisso com este Senhor. Procure entender o contexto no qual Paulo escreveu para
Timóteo e as implicações, para aquele período, das recomendações do apóstolo. Mas, qual a importância
deste mesmo texto sagrado para a vida do cristão na atualidade?
Atividade de Aplicação
Tomando como referência do título deste capítulo, procure compreender como O Exercício da Disciplina
pode ser aplicado à sua vida pessoal, religiosa e acadêmica.
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