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Leitor crítico — Jovem Adulto

Leitor crítico — 7ª e 8ª séries


Leitor fluente — 5ª e 6ª séries

CARLOS QUEIROZ TELLES


Sonhos, grilos e paixões

PROJETO DE LEITURA
Coordenação: Maria José Nóbrega
Elaboração: Rosane Pamplona
Árvores e tempo de leitura
MARIA JOSÉ NÓBREGA

O que é, o que é,
Uma árvore bem frondosa
Doze galhos, simplesmente
Cada galho, trinta frutas
Com vinte e quatro sementes?1

Enigmas e adivinhas convidam à decifra- Alegórica árvore do tempo…


ção: “trouxeste a chave?”.
A adivinha que lemos, como todo e qual-
Encaremos o desafio: trata-se de uma ár- quer texto, inscreve-se, necessariamente, em
vore bem frondosa, que tem doze galhos, um gênero socialmente construído e tem,
que têm trinta frutas, que têm vinte e qua- portanto, uma relação com a exterioridade
tro sementes: cada verso introduz uma nova que determina as leituras possíveis. O espa-
informação que se encaixa na anterior. ço da interpretação é regulado tanto pela
organização do próprio texto quanto pela
Quantos galhos tem a árvore frondosa? memória interdiscursiva, que é social, histó-
Quantas frutas tem cada galho? Quantas se- rica e cultural. Em lugar de pensar que a
mentes tem cada fruta? A resposta a cada uma cada texto corresponde uma única leitura,
dessas questões não revela o enigma. Se for é preferível pensar que há tensão entre uma
familiarizado com charadas, o leitor sabe que leitura unívoca e outra dialógica.
nem sempre uma árvore é uma árvore, um Um texto sempre se relaciona com outros
galho é um galho, uma fruta é uma fruta, uma produzidos antes ou depois dele: não há como
semente é uma semente… Traiçoeira, a árvo- ler fora de uma perspectiva interdiscursiva.
re frondosa agita seus galhos, entorpece-nos
com o aroma das frutas, intriga-nos com as Retornemos à sombra da frondosa árvore
possibilidades ocultas nas sementes. — a árvore do tempo — e contemplemos ou-
tras árvores:
O que é, o que é?
Deus fez crescer do solo toda es-
Apegar-se apenas às palavras, às vezes, é
pécie de árvores formosas de ver e
deixar escapar o sentido que se insinua nas
boas de comer, e a árvore da vida
ramagens, mas que não está ali.
no meio do jardim, e a árvore do
Que árvore é essa? Símbolo da vida, ao
conhecimento do bem e do mal. (…)
mesmo tempo que se alonga num percurso
E Deus deu ao homem este manda-
vertical rumo ao céu, mergulha suas raízes
mento: “Podes comer de todas as
na terra. Cíclica, despe-se das folhas, abre-se
árvores do jardim. Mas da árvore do
em flores, que escondem frutos, que prote-
conhecimento do bem e do mal não
gem sementes, que ocultam coisas futuras.
comerás, porque no dia em que dela
“Decifra-me ou te devoro.” comeres terás de morrer”.2
Qual a resposta? Vamos a ela: os anos, que Ah, essas árvores e esses frutos, o de-
se desdobram em meses, que se aceleram em sejo de conhecer, tão caro ao ser huma-
dias, que escorrem em horas. no…

2
Há o tempo das escrituras e o tempo da interpessoais e, progressivamente, como re-
memória, e a leitura está no meio, no inter- sultado de uma série de experiências, se trans-
valo, no diálogo. Prática enraizada na expe- forma em um processo interno.
riência humana com a linguagem, a leitura é
uma arte a ser compartilhada. Somente com uma rica convivência com ob-
jetos culturais — em ações socioculturalmente
A compreensão de um texto resulta do res- determinadas e abertas à multiplicidade dos
gate de muitos outros discursos por meio da modos de ler, presentes nas diversas situações
memória. É preciso que os acontecimentos comunicativas — é que a leitura se converte
ou os saberes saiam do limbo e interajam com em uma experiência significativa para os alu-
as palavras. Mas a memória não funciona nos. Porque ser leitor é inscrever-se em uma
como o disco rígido de um computador em comunidade de leitores que discute os textos
que se salvam arquivos; é um espaço move- lidos, troca impressões e apresenta sugestões
diço, cheio de conflitos e deslocamentos. para novas leituras.

Empregar estratégias de leitura e desco- Trilhar novas veredas é o desafio; transfor-


brir quais são as mais adequadas para uma mar a escola numa comunidade de leitores é
determinada situação constituem um proces- o horizonte que vislumbramos.
so que, inicialmente, se produz como ativi-
dade externa. Depois, no plano das relações Depende de nós.

__________
1
In Meu livro de folclore, Ricardo Azevedo, Editora Ática.
2
A Bíblia de Jerusalém, Gênesis, capítulo 2, versículos 9 e 10, 16 e 17.

DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA pertence, analisando a temática, a perspec-


tiva com que é abordada, sua organização
UM POUCO SOBRE O AUTOR estrutural e certos recursos expressivos em-
pregados pelo autor.
Procuramos contextualizar o autor e sua obra Com esses elementos, o professor irá identi-
no panorama da literatura brasileira para jo- ficar os conteúdos das diferentes áreas do co-
vens e adultos. nhecimento que poderão ser abordados, os
temas que poderão ser discutidos e os recur-
RESENHA sos lingüísticos que poderão ser explorados
para ampliar a competência leitora e escri-
Apresentamos uma síntese da obra para que tora dos alunos.
o professor, antecipando a temática, o en-
redo e seu desenvolvimento, possa avaliar QUADRO-SÍNTESE
a pertinência da adoção, levando em conta
as possibilidades e necessidades de seus O quadro-síntese permite uma visualização
alunos. rápida de alguns dados a respeito da obra e
de seu tratamento didático: a indicação do
COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA gênero, das palavras-chave, das áreas e te-
mas transversais envolvidos nas atividades
Apontamos alguns aspectos da obra, consi- propostas; sugestão de leitor presumido para
derando as características do gênero a que a obra em questão.

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✦ nas tramas do texto
Gênero:
Palavras-chave: • Compreensão global do texto a partir de
Áreas envolvidas: reprodução oral ou escrita do que foi lido ou
Temas transversais: de respostas a questões formuladas pelo pro-
Público-alvo: fessor em situação de leitura compartilhada.
• Apreciação dos recursos expressivos empre-
gados na obra.
PROPOSTAS DE ATIVIDADES • Identificação e avaliação dos pontos de vis-
ta sustentados pelo autor.
a) antes da leitura • Discussão de diferentes pontos de vista e
opiniões diante de questões polêmicas.
Os sentidos que atribuímos ao que se lê de- • Produção de outros textos verbais ou ainda
pendem, e muito, de nossas experiências an- de trabalhos que contemplem as diferentes lin-
teriores em relação à temática explorada guagens artísticas: teatro, música, artes plásti-
pelo texto, bem como de nossa familiarida- cas, etc.
de com a prática leitora. As atividades
sugeridas neste item favorecem a ativação ✦ nas telas do cinema
dos conhecimentos prévios necessários à
compreensão e interpretação do escrito. • Indicação de filmes, disponíveis em VHS ou
DVD, que tenham alguma articulação com a
• Explicitação dos conhecimentos prévios obra analisada, tanto em relação à temática
necessários à compreensão do texto. como à estrutura composicional.
• Antecipação de conteúdos tratados no tex-
to a partir da observação de indicadores como ✦ nas ondas do som
título da obra ou dos capítulos, capa, ilustra-
ção, informações presentes na quarta capa, etc. • Indicação de obras musicais que tenham
• Explicitação dos conteúdos da obra a par- alguma relação com a temática ou estrutura
tir dos indicadores observados. da obra analisada.

b) durante a leitura ✦ nos enredos do real


São apresentados alguns objetivos orienta- • Ampliação do trabalho para a pesquisa de
dores para a leitura, focalizando aspectos que informações complementares numa dimen-
auxiliem a construção dos sentidos do texto são interdisciplinar.
pelo leitor.
DICAS DE LEITURA
• Leitura global do texto.
• Caracterização da estrutura do texto.
Sugestões de outros livros relacionados de
• Identificação das articulações temporais e
alguma maneira ao que está sendo lido, es-
lógicas responsáveis pela coesão textual.
timulando o desejo de enredar-se nas vere-
• Apreciação de recursos expressivos empre-
das literárias e ler mais:
gados pelo autor.
◗ do mesmo autor;
c) depois da leitura
◗ sobre o mesmo assunto e gênero;
São propostas atividades para permitir melhor ◗ leitura de desafio.
compreensão e interpretação da obra, indican-
do, quando for o caso, a pesquisa de assuntos Indicação de título que se imagina além do
relacionados aos conteúdos das diversas áreas grau de autonomia do leitor virtual da obra
curriculares, bem como a reflexão a respeito analisada, com a finalidade de ampliar o ho-
de temas que permitam a inserção do aluno rizonte de expectativas do aluno-leitor, en-
no debate de questões contemporâneas. caminhando-o para a literatura adulta.

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CARLOS QUEIROZ TELLES
Sonhos, grilos e paixões

UM POUCO SOBRE O AUTOR

Poeta e dramaturgo, Carlos Queiroz Telles Brasileira de Letras (1972), APCA — Associa-
nasceu em março de 1936, em São Paulo. Na ção Paulista dos Críticos de Arte (1972, 73,
Faculdade de Direito da USP, onde se for- 75, 77, 81, 84, 88, 92), Jabuti (1991) e Oswald
mou, participou da fundação do Grupo de de Andrade (1990). Sobre sua obra, em 1984,
Teatro Oficina, que estreou com a peça A o professor Marco Antonio Guerra defendeu
ponte, de sua autoria. De 1957 a 1973 tra- tese de mestrado na Escola de Comunicações
balhou em publicidade, nas áreas de cria- e Artes da USP. Carlos Queiroz Telles foi con-
ção e planejamento, e em jornalismo. Dedi- selheiro do Museu Lasar Segall. Faleceu em
cou-se nos anos seguintes ao magistério, 17 de fevereiro de 1993, no momento mais
como professor titular de redação da Facul- criativo de sua carreira.
dade de Comunicação da FAAP, e à criação
de programas para televisão. De 1977 a 1986, RESENHA
foi diretor da TV Cultura de São Paulo e
conselheiro de programação do SINRED — Ai que medo que dá esse prazer de estar so-
Sistema Nacional de Rádio e Televisão zinho…
Educativas. Tem 53 obras editadas e mais de Eu hoje amanheci passageira de mim mes-
duas dezenas de peças teatrais encenadas ma…
no Brasil. No exterior, seus textos Muro de Meu último amor eterno acabou antes de
Arrimo e Marly Emboaba, com traduções em ontem…
aproximadamente doze idiomas, já foram Já não sou quem eu fui nem sei quem se-
encenados profissionalmente em mais de rei…
vinte países. Pelos seus trabalhos, recebeu,
entre outros, os prêmios Molière (1972 e Absurdo? Contradição? Loucura? Não, ape-
1975), Arthur Azevedo, da Academia nas adolescência…

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COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA pregado no título. O que todos esses ele-
mentos sugerem?
O corpo que muda, o namorado que se vai,
o pai que já não é o mesmo, o primeiro bei- 3. Verifique se alguém conhece outra obra
jo, a primeira barba… de Carlos Queiroz Telles. Talvez seja interes-
Essa é uma coletânea de poemas para ado- sante conversar um pouco sobre a trajetória
lescentes, dividida em três partes, que já do autor.
enunciam os temas tratados: coisas da vida,
coisas da cabeça e coisas do coração. Os jo- Durante a leitura
vens acharão aqui muitos de seus pequenos 1. Embora todos os poemas tratem do univer-
dilemas retratados de uma forma delicada, so do adolescente, alguns deles dizem respei-
o que pode estimular o desejo de auto-ex- to mais diretamente às meninas, outros aos
pressão, muito saudável nessa época, normal- meninos. Peça que leiam, verificando se con-
mente tão conturbada da adolescência. O cordam ou não com a diferenciação feita.
autor também se aproxima do leitor ao em-
pregar uma linguagem bem acessível, porém 2. Antecipe que alguns poemas citam ou re-
criativa e extremamente expressiva. criam frases conhecidas, de brincadeiras tra-
dicionais ou mesmo de propagandas. Peça
QUADRO-SÍNTESE que leiam anotando as passagens em que isso
ocorre.
Gênero: poema
Depois da leitura
Palavras-chave: adolescência, sentimen-
tos, transformações, dúvidas ✦ nas tramas do texto
1. Retome a proposta de diferenciação entre
Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, Ci-
os poemas “femininos” e “masculinos” e
ências
verifique em que se apoiaram para classificá-
los. Às vezes, pode ter sido o tema (cresci-
Temas transversais: Ética, Orientação se-
mento dos seios, a primeira barba); outros
xual
simplesmente são trazidos com voz femini-
na (com a forma gramatical no feminino),
Público-alvo: alunos de 5a e 6a séries do
mas poderiam ser transformados para o mas-
Ensino Fundamental
culino, por exemplo, o poema Perguntas. Ou
não? Olhar no espelho é coisa de menina?
PROPOSTAS DE ATIVIDADES Ou ser confusa e apaixonada é que marca a
personalidade feminina?
Antes da leitura Na verdade, essa atividade pode dar pano
para uma boa discussão.
1. Apresente à classe o livro que vão ler. O que
o título faz pensar? Verifique se a palavra 2. Discuta a respeito do tema do poema Caso
“grilo” faz com que dirijam as espectativas Complicado.
para o território do adolescente. Dinheiro é importante? Quem concorda que
“tudo e todos nos ensinam a gastar”? É ver-
2. Observe a capa: de costas, um jovem cola
dade que “a gente acaba querendo o que
um quarto pedaço de papel em uma pare-
de em que já estão afixados um coração e quer e o que não quer”? Peça que escrevam
três outros pedaços semelhantes ao que o um pequeno texto posicionando-se em rela-
jovem coloca. Observe o estilo de letra em- ção ao assunto.

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3. Proponha que transformem um dos poe- nião dos alunos e sugira que escrevam algo
mas que desenvolve aspectos mais voltados “de coração” para alguma pessoa especial
ao universo feminino em masculino, ou o na vida deles.
inverso. Por exemplo, o Iniciação técnica,
com algumas alterações, poderia falar de ✦ nas telas do cinema
uma menina se depilando. Ou o Momento
Muitos filmes falam sobre essa delicada pas-
de glória poderia mostrar a descoberta dos
sagem da infância para a adolescência. Su-
primeiros pêlos de barba.
gerimos dois:
Meu primeiro amor
4. Leia com eles a lista de referências a textos
Agora e sempre (direção de Lesli Linka Glatter)
conhecidos levantada durante a leitura. De-
expõe de uma maneira sensível o encontro
tenha-se no poema Abre-te, sésamo! Verifi-
de quatro amigas que, juntas, relembram a
que se eles perceberam as duas referências.
época em que eram adolescentes.
Eu vou, eu vou… é a canção dos sete anões
voltando para casa. Observar que a glória aqui
✦ nos enredos do real
não é voltar para casa, ao contrário, é sair dela.
E a fórmula mágica Abre-te, sésamo!, o que 1. Os poemas Sonho, Momento de glória, Eu
abria? A caverna do tesouro de Ali-Babá. Você em mim e Corpo de verão tratam, com delica-
sabia que sésamo é a nossa conhecida semen- deza, das transformações que o corpo do ado-
te de gergelim? A semente tem de se abrir lescente sofre. Essas mudanças podem ser vivi-
para germinar, e essa é a chave para o tesou- das até com muito sofrimento para alguns, e
ro. Discutir com eles: a liberdade é um tesou- um dos recursos para encará-las com mais sere-
ro? Ter a chave da casa significa liberdade? O nidade é conhecer o lado biológico delas: como
poema fala de liberdade conquistada: Ali-Babá é o corpo do homem e o corpo da mulher? Que
também deu duro para ficar com seu tesouro. transformações marcam a puberdade?
Pergunte-lhes: o que é preciso fazer hoje para Mas é importante também não descuidar dos
se conquistar a liberdade? Polemize ainda tumultuados corações juvenis e convidar es-
mais: hoje, a liberdade dos jovens só depende pecialista, um psicólogo, por exemplo, que
da permissão dos pais? O que se encontra hoje possa acolher os sentimentos dos jovens em
pelas ruas, na madrugada? É seguro andar relação ao seu próprio corpo.
pelas ruas, hoje?
2. O novo código civil reduziu a maioridade
5. Faça um levantamento dos assuntos que civil de 21 para dezoito anos. Pela nova legis-
os alunos mais gostaram de ver tratados nos lação, jovens com dezoito anos podem prati-
poemas. Proponha que escolham um deles car todos os atos da vida civil sem autoriza-
para criar outro. Uma sugestão é aproveitar ção dos pais, por exemplo, abrir conta em
os primeiros versos de um deles para dar um banco e até casar-se, mas perdem o vínculo
empurrãozinho. Por exemplo: Então sempre de dependência em clubes, planos assistenciais
chega um dia… (A bruxa); ou Meu último e o direito à pensão alimentícia, que antes era
amor eterno acabou antes de ontem obrigatória até os 21 anos.
(Truques e táticas); outra, é aproveitar a es- • Promova a leitura do texto legal; se possí-
trutura de repetição presente em alguns de- vel convide um advogado para esclarecer as
les, como em Perguntas; Tentação; O prazer dúvidas de seus alunos.
dá medo; Recado, que lembra a música Eu
não mudo de opinião, sucesso de Nara Leão DICAS DE LEITURA
— seria interessante que eles a ouvissem.
◗ do mesmo autor
6. Os poemas que se dirigem ao pai e à mãe A cama que sonhava — São Paulo, Moderna
são dos mais emocionados. Pergunte a opi- Sementes de sol — São Paulo, Moderna

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◗ sobre o mesmo gênero
Flor de poemas — Cecília Meireles, Rio de
Janeiro, Nova Fronteira
Nariz de vidro — Mário Quintana, São Paulo,
Moderna.

◗ leitura de desafio
Em se tratando de poemas que falam de sen-
timentos e de amor, nada melhor do que
conhecer a obra de Vinícius de Moraes, que,
com seus versos emocionados e muitas vezes
irreverentes, vem conquistando os adolescen-
tes de todas as gerações. Uma sugestão é
Soneto de fidelidade e outros poemas, Rio
de Janeiro, Ediouro.

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