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Copyright © 2021 by Marsurvivor Publicações S.A.

Copyright © 2021 by K.a.c.e. Books

Revisão e Organização: Adriano T. B. Cruz

Revisado conforme o novo acordo ortográfico da língua portuguesa.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Santos, Marcos Antônio Ribeiro dos Santos, 1975-

Freud e os Serial Killers – Perfil criminal e psicanálise / Marcos Antônio Ribeiro


dos Santos – São Paulo : K.a.c.e., 2021

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Perfil Criminal e a Psicanálise


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Freud e os Serial Killers:


Perfil Criminal e a Psicanálise
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“Quando a raposa ouve o grito do coelho ela vem correndo, mas não para ajudar.”

Hannibal Lecter
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Por que escrevi este livro?

Meu Nome é Marcos Antônio, muitos me conhecem como Marsurvivor devido


a artigos e vídeos que publiquei sobre segurança, criminalística e sobrevivencialismo
urbano. Me formei em Direito e me pós-graduei em Direito Penal, Processo Penal,
Direito Civil, Processo Civil, Psicologia Forense e Investigação Criminal. Fiz pesqui-
sas junto a presídios durante oito anos, e pude observar que dentre a população
carcerária comum formada por homens que cometeram crimes contra o patrimônio
alheio, tráfico ou crimes de menor potencial ofensivo, existiam também aqueles que
possuíam uma mente predatória. Indivíduos que cometiam crimes bárbaros pelo pu-
ro prazer de fazer mal a outra pessoa, ficando felizes em mutilar e matar seus seme-
lhantes. Esses são o que conhecemos vulgarmente como psicopatas.

Com o passar dos anos me adentrei a estudos mais aprofundados, procuran-


do áreas como psicanálise e psicologia, e o resultado é está obra que trouxe até vo-
cês. O que faz uma pessoa se tornar um serial killer? Aqui utilizei o ponto de vista da
psicanálise para explicar o desenvolvimento e formação de tal personalidade perver-
sa. Existem verdades que a mídia não mostra, e a maioria da população prefere fin-
gir que não existem, como uma forma de manter uma certa paz interior. Pois é muito
inquietante saber que existem seres humanos com perfil predatório entre nós, con-
tudo este não é um fenômeno moderno, a negação da existência destas criaturas
como verão na presente obra é muito antigo. Na idade Média os seres humanos pre-
feriam acreditar na existência de monstros como lobisomens, vampiros, bruxas, en-
tre outros, do que nestes homens conhecidos hoje como serial killers. Monstros exis-
tem e estão no meio de nós, leia este livro e vislumbre esta realidade.

Prof. Marcos Antônio Ribeiro dos Santos


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9

1 SERIAL KILLERS NA HISTÓRIA ............................................................................. 10

2 SERIAL KILLERS PELA PERSPECTIVA PSICANALÍTICA ............................... 20

2.1 Perversão e Psicose .................................................................................................... 21

2.2 O Complexo de Édipo e o fenômeno da castração ................................................. 24

2.3 Narcisismo .................................................................................................................. 33

2.4 Sadismo, masoquismo, fetishismo ............................................................................ 35

2.5 Serial Killer e a psicose ............................................................................................. 40

3 PSICOLOGIA FORENSE: APLICAÇÃO DE CONCEITOS PSICANALÍTICOS A


CASOS REAIS ....................................................................................................................... 44

4 ANALISANDO UM CASO REAL ................................................................................ 49

5 TRATAMENTO? .............................................................................................................. 52

CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 57


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Introdução
No presente trabalho iremos abordar conceitos psicanalíticos que estão liga-
dos ao fenômeno serial killers (assassinos em série), e de que forma tais conceitos
podem ser utilizados para o entendimento do comportamento e o desenvolvimento
do perfil criminal destes indivíduos.

Veremos que estão presente na humanidade desde o inicio e a abordagem


tem relevância uma vez que se faz necessário a compreensão da formação de tal
personalidade, como funciona as suas estruturas psíquicas e o que desencadeias
estas ações, assim como é de suma importância a identificação de tais indivíduos
para preservação da segurança das demais pessoas em sociedade.

O serial killer assim como os demais seres humanos possuem as bases da


psique, porém devido a perversões e psicoses que podem aparecer ao longo do seu
desenvolvimento psíquico podem formar um perfil predatório e até delirante depen-
dendo do caso. Como objetivo, buscaremos neste trabalho demonstrar a importância
de conceitos como complexo de Édipo, fenômeno da castração, id, ego, superego,
perversão, psicose, entre outros para o estudo do fenômeno ora arrolado.

Na primeira parte do trabalho, abordaremos o que são os serial killers, e a


sua presença na história. Na segunda parte, traremos como mencionado acima
quais os conceitos freudiano podem ser observados nestes indivíduos, depois como
tais conceitos podem ser utilizados na construção de um perfil criminal, e finalmente
a analise de um caso real.

Para atingir esses objetivos, a metodologia empregada foi de pesquisa bibli-


ográfica e analise de casos reais.
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1. Serial Killers na história

O autor canadense Peter Vronsky aponta (2018) parte da história moderna o


fenômeno Serial Killer (Assassino em série) recebeu vários títulos diferentes ao lon-
go do tempo, tais como: "assassinato de desconhecidos", "assassinato por recrea-
ção", "assassinato por padrão", "assassinato por emoção", "multicídio", "assassinato
psicopata", “homicídio sequencial", "assassinato compulsivo ", "assassinato múlti-
plo", "assassinato sem motivação", " assassinato por luxúria ", " matança por farra "
e, de maneira equivocada: " assassinato em massa", que hoje definimos como um
único evento envolvendo de múltiplos assassinatos.

Serial killer (CASOY, 2014) é um termo criado nos anos setenta pelo agente
do FBI aposentando Robert Ressler que foi um grande estudioso do assunto, que
utilizou este termo para definir um tipo de criminoso que comete uma série de homi-
cídios durante um determinado período de tempo, sem um motivo aparente. Depen-
dendo do autor existem vários tipos de classificações tipológicas de serial killers,
mas o denominador comum entre todos os tipos é o “sadismo”, desordem crônica e
progressiva, podendo se observar que grande partes de suas ações estão ligadas a
compulsões de uma personalidade psicótica ou perversa, como veremos mais a
frente.
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Os agentes John Douglas e Robert Ressler, os fundadores da Unidade de Ciência


Comportamental do FBI.

Eles estão presentes (VRONSKY, 2018) na história da humanidade desde


sempre, foram eles que deram origem ao surgimento de lendas de criaturas e mons-
tros como lobisomens, vampiros, bruxas, entre outros, uma vez que para o ser hu-
mano comum era difícil conceber na idade média a existência de um individuo capaz
de tais atrocidades a outro semelhante.
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Lobisomens, bruxas, vampiros e outras criaturas foram criadas pelo ser humano co-
mo uma forma de negar uma terrível verdade: o ser humano pode caçar outros seres
humanos.

Devido a esse fato serial killers reconhecíveis são escassos nos registros
históricos até meados dos anos 1400. Foi durante o Renascimento que os serial kil-
lers começaram a aparecer nos registros judiciais, a uma taxa de apreensão anual
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quase comparável à taxa per capita de serial killers nos Estados Unidos moderno.
Cerca de 300 assassinos em série foram julgados na Europa nos 200 anos entre
1450 e 1650; para comparação, nos Estados Unidos havia 431 assassinos em série
nos 204 anos entre 1800 e 2004, de acordo com os dados de Eric Hickey. Exceto
que eles não eram chamados de serial killers naquela época. Os assassinos em sé-
rie foram presos, acusados e julgados como lobisomens ou licantropos, na época
um crime eclesiástico recém-introduzido, punível com a morte.

Nesta gravura antiga vemos uma caçada a lobisomem.

Gibson (2012) cita alguns exemplos famosos que foram historicamente re-
gistrados como Gilles Garnier, o lobisomem de Chalons e Peter Stubbe, enquanto
outros foram considerados vampiros como Erzsebet Bathory, Vincenzo Verzini e Jo-
seph Vacher ou bruxas como Catherine Monvoison e Gilles de Rais. Em vários ca-
sos como mencionamos o mesmo assassino em série era considerado um lobiso-
mem e um vampiro ou considerado uma bruxa. O que o registro público histórico
revelou é o fato de quando as pessoas acreditam e esperam ser vítimas de vampi-
ros, lobisomens ou bruxas, é exatamente isso que acreditam que acontece.

Contos de fada como Chapeuzinho Vermelho e João e Maria são exemplos


de contos que surgiram nesse cenário do período medieval como forma de instruir
sobre os perigos que moravam na floresta.
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Vai pelo caminho dos alfinetes? - Pergunta o Lobo (loup-bzou, que significa lobisomen) confirman-
do que Chapeuzinho era uma prostituta.

Somente no final do século XIX (INNES, 2009) com o desenvolvimento cien-


tifico é que se começou a estudar de maneira metodológica tais indivíduos deixando
de fora o folclore e o misticismo. Estudiosos como o psiquiatra italiano Cesare Lom-
broso em 1876 publicou no livro L’ uomo deliquente (O criminoso), e um livro poste-
rior, antropologia criminal (1895) com o resultado de estudo em 6034 criminosos, na
sua tentativa ainda primária de estabelecer um “padrão cientifico” descreveu que
assassinos teriam maxilares grandes, maças do rosto muito separados, cabelos es-
curos e grossos, barba rente e um rosto pálido.
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O Lobo da história da Chapeuzinho seria um serial killer matador de prostitutas assim como Jack
estripador.

O médico britânico Thomas Bond no final do século XIX ajudou na necropsia


da quinta vitima do famoso serial Killer Jack, o estripador, chamado inicialmente pa-
ra dar depoimento sobre o conhecimento cirúrgico do individuo, deu a policia uma
descrição do assassino, sendo assim considerado o primeiro perfilador criminal. O
psiquiatra alemão Ernest Kretschmer publicou no inicio do sec. XX em seu livro “Fí-
sico e caráter”, onde descreve pesquisas sobre o assunto, mas em 1949 William
Sheldon, na obra tipos de jovens delinquentes fez a primeira ligação sistemática dos
subtipos dos biótipos com a delinquência: mesomórfos fortes, musculosos, atléticos,
com esqueleto grande e desenvolvido, com personalidade forte e com uma tendên-
cia a agressividade e, ocasionalmente muito explosiva.
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O médico Dr. Thomas Bond foi o primeiro criador de perfilador d história, montando um
perfil detalhado do Jack, o estripador.

Contudo, estas primeiras descrições baseadas em aparências e outros crité-


rios questionáveis e sem fundamento de analise foram sendo derrubados, conforme
a pesquisa metodológica avançava começaram a se desenvolver estudos sérios so-
bre a mente criminosa, e assim surgiu nesta época da virada do século o trabalho
sobre o desenvolvimento da estrutura psíquica e pulsões do médico neurologista e
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psiquiatra Sigmund Freud, criador da psicanálise, que foi definitivo para inicio de
uma compreensão do mecanismo psíquico do ser humano.

Sigmund Freud em suas teorias criou estruturas para entender a mente humana.

Graças a essa evolução sabemos hoje que tais indivíduos, os serial killers,
antes tidos como monstros são na verdade portadores de transtornos antissociais
graves, e em outros casos como o vampirismo clínico temos a presença de psicoses
como a esquizofrenia, delírios e outros tipos de transtornos que tiram do individuo a
noção de realidade. À luz do avanço cientifico das áreas de estudo da mente huma-
na (psiquiatria, psicologia e psicanalise) sabemos que os canibais, por exemplo, são
indivíduos solitários, com pulsões sexuais violentas com fixação oral, onde o ato de
devorar e a consequente saciedade estão ligados ao prazer sexual, e que tais indi-
víduos são solitários e com sentimento de vazio interior, o que também o levam a
querer “preencher este vazio” com outras pessoas, como pode ser visto analisando
casos de canibais assassinos em série famosos como Jeffrey Dahmer, Albert Fish,
Andrei Chikatilo, Issei Sagawa, Armin Meiwes entre outros.
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O serial killer Jeffrey Lionel Dahmer assassinou e canibalizou 17 pessoas.

À luz do DSM-5 (O Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Men-


tais), os Serial Killers como veremos podem ser indivíduos portadores de transtorno
de personalidade antissocial, ou esquizofrênicos. Mas o que é um transtorno? Um
transtorno da personalidade (DALGALARONDO, 2018) é um padrão persistente de
experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectati-
vas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no iní-
cio da fase adulta.

Silva (2017) aponta que a característica essencial do transtorno da persona-


lidade antissocial é um padrão difuso de indiferença e violação dos direitos dos ou-
tros, o qual surge na infância ou no início da adolescência e continua na vida adulta.
Esse padrão também já foi referido como psicopatia, sociopatia ou transtorno da
personalidade dissocial. Visto que falsidade e manipulação são aspectos centrais do
transtorno da personalidade antissocial, pode ser especialmente útil integrar infor-
mações adquiridas por meio de avaliações clínicas sistemáticas e informações cole-
tadas de outras fontes colaterais para conseguir diagnosticar.
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Serial killer brasileiro Lázaro, que chamou a atenção da mídia em 2021.

Assim, para que esse diagnóstico seja firmado, o indivíduo deve ter no mí-
nimo 18 anos de idade (Critério B) e deve ter apresentado alguns sintomas de trans-
torno da conduta antes dos 15 anos (Critério C). O transtorno da conduta envolve
um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual os direitos básicos dos
outros ou as principais normas ou regras sociais apropriadas à idade são violados.
Os comportamentos específicos característicos do transtorno da conduta encaixam-
se em uma de quatro categorias: agressão a pessoas e animais, destruição de pro-
priedade, fraude, roubo ou grave violação a regras. Mas o que a psicanalise pode
nos dizer sobre eles? Os Portadores de transtorno antissocial (SILVA, 2017) sob a
perspectiva psicanalítica são indivíduos que se estruturaram na perversão, enquanto
os indivíduos que sofrem de esquizofrenia ou alucinações deliróides são enquadra-
das como psicose. A seguir iremos identificar e nos aprofundar nos conceitos psica-
nalíticos envolvidos na figura do serial killer.
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2. Serial killers pela perspectiva psicanalítica

O Serial Killer pode ser do tipo perverso ou psicótico, sendo que o que dife-
rencia estes dois é a percepção do mundo que os rodeia. Os assassinos em série
são criminosos que matam de tempo em tempo, e seus crimes geralmente de cunho
sexual estão relacionados com seu desenvolvimento psicossexual não desenvolvido
adequadamente, desenvolvendo assim compulsões destrutivas em relação a outras
pessoas, as quais ele desumaniza, vendo-as apenas como forma de satisfazer a sua
fantasia. Existem diversas classificações de assassinos em série, aqui vamos nos a
ter a suas duas bases mais comuns que estão presentes nos conceitos psicanalíti-
cos: os que são perversos e os que são psicóticos. O perverso tem a consciência da
realidade sobre o mundo a sua volta e as consequências de suas ações, e o psicóti-
co, seja portador de esquizofrenia ou algum outro transtorno deliróide vive em um
mundo de ilusões, agindo em decorrência destas fantasias, vamos ver a seguir estes
conceitos de forma mais detalhada.
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2.1 Perversão e Psicose

O serial killer Francis Dolarhyde do filme Dragão Vermelho, é do tipo psicótico.

Os psicóticos são indivíduos que apresentam quadros de psicose, que po-


dem ser portadores de esquizofrenia ou outros transtornos deliróides que os fazem
perder o contado com a realidade, podem ter alucinações cognitivos, auditivos ou
visuais ou delírios. Como exemplo de serial killer psicótico temos o assassino em
série americano famoso portador de esquizofrenia Richard Chase, o vampiro de Sa-
cramento, que acreditava que seu sangue estava envenenado e precisava matar
pessoas e beber o sangue para se curar.

Os assassinos em série (serial killers) do tipo antissocial são portadores de


transtorno antissocial severo, caçam suas vítimas, as torturam e guardam troféus
que podem ser roupas, objetos, cabelo, pedaços do corpo, como o famoso serial
killer americano Edmund Emil Kemper que admitiu guardar cabelo, dentes e pele de
algumas vítimas. Dentro das organizações psíquicas estabelecidas pelo psiquiatra e
neurologista Sigmund Freud podemos defini-los como perversos, uma vez que em
sua estrutura psíquica e em suas ações vemos englobadas na objetificação de ou-
tra pessoa para busca de satisfação de suas pulsões sexuais destrutivas por meio
do fetichismo, o exibicionismo, o sadomasoquismo, pedofilia, voyeurismo, entre ou-
tras características próprias da perversão.
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A personalidade perversa ou transtorno de personalidade antissocial não é


uma doença, mas uma forma de personalidade resultante da estruturação do indiví-
duo, vinda da relação do complexo de Édipo. Assim, a perversão está ligada ao
complexo de Édipo, (SILVA apud FREUD, 2017) onde fenômeno da castração é
uma passagem necessária da formação e desenvolvimento da personalidade do in-
divíduo para que ele entenda a necessidade de limite nos seus desejos pulsionais.
Porém, como Silva (2017) deixa claro para entendemos melhor a origem dessas
pulsões mal adaptadas se faz necessário utilizar o modelo topológico Freudiano,
onde se divide o parelho mental em três estruturas: id, ego, superego. O id constitui
o reservatório de energia psíquica, é onde se localizam as pulsões de vida e de mor-
te (Eros e Tânatos). As características atribuídas ao sistema inconsciente são regi-
das pelo princípio do prazer. O Superego se origina com o complexo do Édipo, a
partir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade, sendo o nosso
freio moral. Ficando para o Ego, o encargo de estabelecer o equilíbrio entre as exi-
gências do id, as exigências da realidade e as ordens do superego. Assim temos a
verdadeira personalidade, que decide se acata as decisões do (Id) ou do (Supere-
go).

O problema do perverso (SILVA, 2017) vem do aparelho psíquico, onde o id


predomina em sua vida, pois a única coisa que importa é o prazer próprio, não se
importando se for preciso prejudicar outra pessoa para atingir os seus objetivos. En-
tão vemos no portador do transtorno antissocial estes desiquilíbrios entre as estrutu-
ras psíquicas onde se deixa guiar pelos seus instintos primitivos do id seja pela bus-
ca do prazer ou negação do desprazer, seja através da violência atacando pessoas,
ou outras atitudes em seu dia adia, enganando ou agindo de maneira irresponsável
no trabalho, fugindo de compromissos, por exemplo.

A verdade é que o perverso sabe o que quer, sabe o foco do seu desejo
(Silva apud FERREIRA E MENEZES, 2015), mas nega a raiz de onde ele se origi-
nou, responsabilizando as pessoas a sua volta por suas ações, pois ao mesmo tem-
po em que considera a realidade o perverso também a nega, substituindo-a pelo seu
próprio desejo. Então tal indivíduo necessita da negação como forma da defesa do
ego, e isso tem como consequência decorrente o impedimento do surgimento de um
insight sobre suas ações que poderia ajuda-lo a fazer uma integração saudável com
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seu ego. Como exemplo temos o serial Killer americano Edmund Kemper, conhecido
como “assassino de colegiais” que citamos anteriormente que matou dez pessoas,
ainda criança, com apenas dez anos de idade contou a uma de suas irmãs que es-
tava apaixonado por uma professora do colegial, mas chegou a terrível conclusão
que teria de matá-la para conseguir um beijo. Então vemos a racionalização de atos
inapropriados que fogem do padrão da realidade social. Na perversão o desejo apa-
rece como vontade de gozo, e o ato é praticado geralmente como vitorioso, isento
de culpa, como uma reconstrução da realidade a partir da sua ótica particular. Verifi-
ca-se aqui que um indivíduo perverso sabe o que quer, diferente do neurótico que
reprime esse desejo, não deixando que ele se manifeste na realidade.
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2.2 O Complexo de Édipo e o fenômeno da castração

Kevin Katchadourian, personagem do filme Precisamos falar sobre o Kevin, tem um


pai ausente e permissivo.

A relação com os pais (OLIVEIRA, 2007) no desenvolvimento infantil é im-


prescindível para o desenvolvimento psicológico do indivíduo. A psicanalista Milanie
Klein em suas teorias sobre desenvolvimento infantil nos mostra os conceitos das
posições esquizo-paranoide e depressiva que são fundamentais para compreen-
dermos as consequências de um bom ou e de uma má relação e interação comuni-
cativa com os pais.

Na teoria kleiniana vemos que o bebê quando nasce está envolvido na po-
sição esquizo-paranóide, e tal posição tem como particularidades: a fragmentação
do ego; a divisão do objeto externo, a mãe, ou mais especificamente o seio, que po-
de ser o bom, que é o garantidor, aquele que gratifica infinitamente enquanto o se-
gundo, o mau, somente lhe provoca frustração, não oferecendo saciedade o que
resulta na a agressividade e a realização de ataques sádicos dirigidos à figura da
mãe. Com elaboração e superação destes sentimentos surge a posição depressiva,
que resulta na integração do ego e do objeto externo (mãe/ seio), sentimentos afeti-
vos e defesas em relação à possível perda do objeto por causa dos ataques ocorri-
dos na posição anterior. Assim, observa-se o fato a se verificar é que uma criança
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ao nascer ainda tem um ego frágil em formação, e por outro lado tem pulsões muito
fortes, e estas primeiras reações são as primeiras comunicações da criança com um
outro ser humano sendo definidor para seu trajeto evolutivo.

Essas primeiras formas de comunicação e a sua capacidade de projetar,


contraprojetar seus desejos e frustrações e introjeta-los são definidores sobre a sua
forma de interagir com o mundo. Quando bebês precisam dessa comunicação pró-
xima e simbiótica com a mãe para a sobrevivência, pois temos muitas demandas
devido a fragilidade: alimentação, proteção contra intempéries, doenças, predado-
res, então está percepção autocentrada do mundo é vital. Porém conforme cresce-
mos e chegando na fase fálica, na terceira infância, precisamos redirecionar estas
pulsões que antes eram voltadas à mãe para a sociedade de forma construtiva em
busca de novos relacionamentos, desenvolvendo a nossa empatia, e interesse em
outras pessoas, esse redirecionamento das pulsões se da por meio do complexo de
Édipo. O complexo de Édipo (PAPALIA, 2013) é um fenômeno como dissemos que
aparece na fase fálica na terceira infância durante a evolução libidinal, e faz parte do
desenvolvimento natural das pessoas, que é responsável pelo surgimento do supe-
rego e a consequente compreensão dos limites sociais e respeito pelos direitos das
outras pessoas. Graças a este processo nossas energias pulsionais do id direciona-
das primariamente para a mãe sofrem o “processo de castração” diante da percep-
ção da presença e autoridade do pai. Isso faz o indivíduo levar essas pulsões para a
sociedade procurando novas associações e relacionamentos. Essas pulsões advin-
das do id (JORGE, 2005) podem como fora supramencionado ser direcionadas de
forma criadora ou destruidora, pulsões de vida e de morte respectivamente. A falta
ou o excesso desse limite na figura da autoridade paterna na fase fálica pode acar-
retar em uma não adaptabilidade para a vida, fazendo com que o indivíduo não res-
peite limites, regras, figuras de autoridade, e geralmente temos um histórico de más
condutas e/ou crimes desde jovem. Assim, a perversão (SILVA, 2015) se caracteriza
por uma fixação do desvio quanto ao objeto de desejo, e pela exclusividade de sua
prática. Essa sexualidade estaria definida e cristalizada, por conta de um prejuízo na
estruturação do Édipo na vida da criança.

Outro ponto presente no perverso devido seu ego frágil não integrado é o
narcisismo. O psiquiatra Sigmund Freud atribui ao psiquiatra e criminologista russo
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Paul Näcke o primeiro a utilizar o termo narcisismo, que ele via como uma forma de
autoadoração do próprio corpo como objeto sexual. Assim, no transtorno de perso-
nalidade narcisista são observadas características como um sentimento de superio-
ridade, grandiosidade e busca pelo poder persistente, necessidade excessiva de
admiração, atitude pomposa e extremamente arrogante, muito presentes no Serial
Killer perverso. Contudo, é de se notar que apesar da atitude superior e prepotente
do portador de tal transtorno sua vida se torna bastante difícil em sociedade devido a
distância que se coloca das outras pessoas, prejudicando suas interações. O psicó-
logo americano Stanton E. Samenow (2020) percebeu que está era a principal ca-
racterística observada em criminosos em presídios em suas pesquisas. Em casos
mais severos pode ter repercussões na saúde física uma vez que pode não se ater a
limites para atingir seus objetivos de autoimagem. Muito se argumenta sobre a pos-
sibilidade de tratamento para reduzir tais ações danosas para o indivíduo, todavia
como veremos as próprias características que compõem o perfil peculiar do narci-
sismo como o sentimento de superioridade permanente e a arrogância, os tornam
insensíveis em relação a opiniões de outras pessoas, fazendo com que pouco se
importem com a distância social com as mesmas, não buscando assim qualquer tra-
tamento ou forma de controlar as suas ações.

Silva (2017) buscando algum possível motivo em potencial para a psicopatia


pesquisou os psicopatas mais famosos; e percebeu que tinham um ponto em co-
mum, sofreram algum tipo de abuso em sua infância. Sendo que cerca de 74% so-
freram em sua infância algum tipo de abuso e, em muitos dos casos abusos com
elevado cunho sexual, e 26% dos casos não foi encontrado nenhum indício de abu-
so; a princípio, são pessoas que tiveram tudo que uma criança precisa para se de-
senvolver com uma mente saudável; na psicologia comportamental, ficaria uma la-
cuna acerca da origem da psicopatia. Pois como explicar se levarmos em considera-
ção nos indivíduos que não sofreram nenhum tipo de trauma ou abuso na infância,
uma vez essas teorias se apoiam que os indivíduos que sofreram abusos estariam
reproduzindo aquilo que aprenderam, mas como vimos anteriormente a psicanálise
abarca a ausência de limites, e de uma figura de autoridade paterna também como
fator preponderante. Além disso, temos a neurociência, que traria o fator biológico,
onde o indivíduo já nasceria predestinado a psicopatia, devido as diferenças anatô-
micas em seu cérebro, como podemos ver no trabalho do psicólogo britânico Adrian
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Raine (2015) que abordaremos mais a frente de forma mais detalhada nos trazendo
assim tanto aspectos sociais como biológicos para esta questão.

Antes de continuarmos vamos citar alguns exemplos de serial killers, em que


podemos observar inadequação na relação com os pais em seus históricos:

a) O serial killer alemão Peter Kürten conhecido como "O Vampiro de Düssel-
dorf" que matou 24 jovens, tinha um pai autoritário, ausente e mulherengo.

b) O assassino Edmund Kemper por frustração de viver com sua mãe e suas ir-
mãs fugiu de casa para morar com o pai. Ed descobriu que o pai havia se ca-
sado de novo e vivia com a esposa e o filho dela. Por isso, resolveu ir morar
com os avós paternos, mas também não se contentou. Para ele, o avô era
senil e a avó tirava sua virilidade, então os matou, foi aí que seus crimes co-
meçaram.
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c) O americano John Wayne Gacy, conhecido como palhaço assassino, matou


33 jovens, vestido como seu alter ego: o palhaço Pogo. Seu pai era um alcoó-
latra abusivo que batia nele sem piedade e sem motivo, e até o deixava in-
consciente com seus brutais ataques físicos. Sua mãe fez o possível para
proteger John de seu pai, mas sem sucesso.

d) Brudos, serial killer americano, espancava suas vítimas, estrangulava, as ma-


tava, e guardava seus sapatos como troféus. Brudos era o mais novo de dois
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filhos, e sua mãe queria uma menina e ficou descontente quando teve outro
filho. Constantemente o menosprezou e o tratou com desdém, e ainda abu-
sou dele.

e) O americano Dennis Rader, conhecido como assassino BTK (um apelido que
ele deu a si mesmo, que é uma abreviação de "bind, torture, kill", ou, em por-
tuguês, "Amarrar-Torturar-Matar") ou "Estrangulador BTK", matou 10 pesso-
as. Seus pais trabalhavam muito e prestavam pouca atenção aos filhos em
casa; Rader, mais tarde, lembraria com especificidade o sentimento de ser ig-
norado por sua mãe e o ressentimento que isso gerou contra ela por causa
isso.
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f) Andrei Chikatilo famoso serial killer ucraniano, matou e canibalizou cerca de


53 vítimas. Seus pais eram trabalhadores rurais moravam em uma cabana,
dormia na cama com eles. Chikatilo, sofria de enurese e urinava na cama, era
frequentemente espancado por sua mãe como castigo.
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g) Francisco de Assis Pereira, serial killer brasileiro, matou 11. Em sua infância,
sofreu abusos sexuais, como a maioria dos assassinos em série. Sua tia ma-
terna, o teria molestado sexualmente na infância e com isso ele teria desen-
volvido fixação em seios.

Como pode ser notado nos exemplos acima fica claro que um desenvolvi-
mento psicossexual inadequado, e as consequentes pulsões mal adaptadas (SILVA,
2017) podem colaborar para a formação de uma personalidade perversa.

É fato que é de grande importante (SILVA, 2017) que a criança receba amor,
carinho e cuidado por parte da função materna, mas que também receba limites e
regras firmes por parte da função paterna. É muito importante que a função materna
nunca alivie essas regras, pois assim a criança aprenderá que leis são para serem
seguidas e não burladas. Lembrando que limites e regras não se assemelham em
nada com agressões e abusos como nos casos citados anteriormente, que na visão
comportamental seria o causador desse mal. Claro que se deve salientar que nem
todo indivíduo estruturado na perversão é um portador de transtorno de personalida-
de antissocial, já que pode ter introjetado dentro de si, aquilo que lhe foi ensinado
sobre regras morais e sociais. Estamos falando aqui de indivíduos que tiveram a sua
fase edipiana mal desenvolvida tendo um ego contido demais em razão de uma re-
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pressão excessiva da figura paterna recalcando suas pulsões, ou ao contrário a au-


sência dessa figura de autoridade do pai gerando uma expansão exagerada onde
poderá se observar um superego fraco incapaz de barrar as energias das pulsões
primitivas contidas no id.

O que é importante preconizar (SILVA, 2017) é que os portadores de trans-


torno antissocial como já abordamos são pessoas estruturadas na perversão que é
equivalente ao ego. Tem consciência da realidade, conhecem as leis, mas não as
respeitam, não só leis jurídicas, mas também leis sociais, o psicopata planeja, arqui-
teta tudo, ele está ciente de que seus atos não são aceitáveis pela sociedade. Assim
sendo, o portador de transtorno antissocial jamais pode ser vinculado ao psicótico,
pois o perverso sabe exatamente o que está fazendo, não age impulsionado por al-
guma alucinação ou delírio cognitivo, auditivo, ou visual. Os perversos (SILVA, 2015)
colocam em prática aquilo que os neuróticos não têm coragem de manifestar. Inclu-
sive, estes reprimem, recalcam muitos dos atos característicos dos perversos, isto é,
na perversão é possível considerar, ao mesmo tempo, as exigências do id e as da
realidade, sem que uma anule ou interfira na outra. Não há nem o recalcamento dos
desejos, como ocorre na neurose, nem rejeição à realidade, como ocorre na psico-
se.
33

2.3 Narcisismo

O serial killer narcisista Patrick Bateman do filme Psicopata Americano mantêm sua
aparência física e social acima de tudo.

Ouro aspecto evidente no perverso é o narcisismo, uma vez que são extre-
mamente autocentrados. Para Lowen (1983) o narcisismo descreve uma condição
psicológica e uma condição cultural. Tal espectro de personalidade indica uma per-
turbação da personalidade caracterizada por um investimento exagerado na própria
pessoa a custa da self. Tal espectro de personalidade indica uma perturbação da
personalidade caracterizada por um investimento exagerado na própria pessoa a
custa da self. Lowen (1983) ainda adverte que num consenso geral os psicanalistas
reconhecem que o problema se desenvolve nos primeiros anos da infância, sendo
que a fusão do self ideal, do objeto ideal e das imagens reais do próprio individuo
como uma defesa contra uma realidade intolerável na área interpessoal. Não sendo
capazes de distinguir a sua autoimagem real e o self da que imaginam ser real, pos-
suindo assim um falso senso de self.

Sabemos que existe uma grande importância na história e experiência de vi-


da, bem como a adequação social de cada indivíduo ao longo de seu desenvolvi-
mento, pois o conduz no desenvolvimento de sua psique, e consequentemente na
sua forma de interação com o mundo, como vimos anteriormente. A sua não adap-
tabilidade ou uma deficiência em seu desenvolvimento em determinados pontos de
34

fixação pode leva-lo a desenvolver mecanismos de organização psíquica tais como:


neuroses, psicoses e perversões, sendo que estas estruturas irão interferir nas rela-
ções intra e iterpsíquica deste indivíduo. Como vimos no tópico anterior no histórico
de muitos assassinos em série vemos pontos em comum como maus-tratos infantil,
por exemplo, sentimento de castração em relação aos abusos sofridos pelos pais.
Esses conflitos edipianos não resolvidos, bem como suas inadequações no âmbito
social resultam em uma personalidade violenta e agressiva focada em buscar algum
equilíbrio e controle liberando as suas pulsões destrutivas.
35

2.4 Sadismo, masoquismo, fetichismo

O personagem Alex DeLarge, do filme “Laranja Mecânica”, é um indivíduo perverso


extremamente sádico.

Silva (2017) afirma que cada estrutura psicológica tem suas subestruturas,
desta forma na perversão temos: sadismo, masoquismo, voyeurismo e exibicionis-
mo. Notamos em alguns psicopatas, ao longo de suas vidas, atos com forte cunho
sexual, salientando que sexual em psicanálise não está limitado ao coito; tendo um
sentido amplo que envolve o prazer em sua totalidade, atos de fetichismos que cor-
respondem a perversão. Fetichismo é a excitação sexual intensa e recorrente por
meio da utilização de um objeto inanimado ou de um foco muito específico em uma
parte, ou partes não genital. Ele colecionava cabeças de mulheres loiras na geladei-
ra, e também guardava filmes escondidos de suas práticas sexuais. Cada uma das
subestruturas tem mecanismos de defesas correspondentes a mesma.
36

O assassino americano Albert Fish é o exemplo do sadismo presente nos Serial Kil-
lers.

No sadismo há a necessidade de causar dor por meio de tortura física e até


mesmo psicológica como o assassino americano Albert Fish suspeito de ter matado
9.998 pessoas, que depois de ter assassinado uma de suas vítimas e ter feito uma
receita com sua carne, mandou uma carta contando todo o preparo da carne para os
pais. Abaixo, para ilustramos o grau de sadismo que pode chegar a mente de um
serial killer colocando a transcrição da carta enviada aos pais de Grace Budd, em
Novembro de 1934, sete anos depois o assassinato da criança:

“Querida Mrs. Budd

Em 1894 um amigo meu embarcou no Steamer Tacoma, Capt. John Davis.


Eles navegaram de S. Francisco para Hong Kong, China . Quando chegaram lá, ele
e dois outros desembarcaram e embriagaram-se. Quando eles voltaram o barco ti-
nha ido. Na altura houve fome na China. A carne de qualquer espécie foi de $1-3 por
libra. O sofrimento era tão grande entre os pobres que as crianças com menos de 12
anos eram vendidas para comida, para impedir outros morrerem de fome. Meninos e
meninas com menos de 14 anos não estavam seguros na rua. Você pode entrar em
qualquer loja e pedir bifes. A parte do corpo nu de um menino ou menina era mos-
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trada e eles tiravam apenas que você queria. As partes de trás de um menino ou
menina é a parte mais doce do corpo e é vendido como costeleta de carne de vitela
pelo preço mais alto. John ficou lá tanto tempo, que adquiriu gosto pela carne huma-
na. No seu regresso a Nova Iork ele roubou dois meninos, de 7 e 11. Levou-os para
casa, despiu-os e atou-os num armário. Depois queimou tudo o que eles tinham.
Várias vezes durante o dia e noite ele batia-lhes – torturava-os – para fazer a sua
carne mais tenra. Primeiro ele matou o menino de 11 anos, porque ele tinha o rabo
mais gordo e naturalmente a maior parte de carne dele. Todas as partes do seu cor-
po foram cozinhadas e comidas exceto a cabeça – ossos e tripas. Ele foi assado no
forno (todo do seu rebo), fervido, grelhado, frito e guisado. O menino mais pequeno
foi seguinte, da mesma maneira. Na altura eu vivia em 409 E 100 St, perto deles. Ele
dizia-me frequentemente que a carne humana era boa, e eu decidi provar. Num do-
mingo, dia 3 de Junho de 1928, fui chamado por si a at 406 W 15 St. Levei um pote
de queijo com morangos. Lanchámos. A Grace sentou-se no meu colo e beijou-me.
Decidi-me a comê-la. Sob o pretexto de a levar a uma festa. Tu disseste que sim,
que ela podia ir. Eu levei-a para uma casa vazia em Westchester, que já tinha esco-
lhido. Quando chegámos lá, mandei-a ficar fora. Ela apanhou flores silvestres. Eu fui
lá para cima e despi toda a minha roupa. Eu sabia que se não o fizesse ficaria com o
seu sangue. Quando ficou tudo pronto, fui à janela e chamei-a. Então escondi-me
num armário até que ela chegasse ao quarto. Quando ela me viu nu começou a cho-
rar e tentou descer as escadas. Agarrei-a e ela disse que iria contar à mãe. Primeiro
despi-a. Como ela lutava – mordia e arranhava. Abafei-a até à morte, depois cortei-a
em pequenas partes. Cozinhei e comi. Como era doce e tenro o seu pequeno rabo.
Levou-me nove dias para comer todo o corpo. Não a forniquei. Ela morreu virgem.”

Albert Fish admitiu mais tarde ao seu advogado que tinha mesmo violado
Grace. Por volta desta altura Fish tinha uma grande necessidade de masoquismo:
pegava em bolas de algodão, embebia-as em álcool e pegava-lhes fogo no seu
ânus, começou a espancar-se a si mesmo com um remo e espetava agulhas no seu
corpo, entre o seu reto e o seu escroto. Normalmente ele retirava-as, mas começou
a inseri-las tão profundamente que já não as conseguiu tirar. Raios X feitos posteri-
ormente revelaram 27 agulhas na sua região pélvica. McWilliams (2014) afirma que
atos agressivos e sádicos podem equilibrar o senso de self de uma pessoa antisso-
cial mitigando os estados desagradáveis de excitação e recuperação de autoestima.
38

Uma característica da experiência do self em pacientes perversos que é digno de


nota é a inveja primitiva, o desejo de destruir aquilo que mais deseja (MCWILLIAMS
apud KLEIN, 1957).

Raios X feitos depois da morte de Albert Fish mostraram 27 agulhas na sua região
pélvica.

Outro aspecto perverso que podemos notar é o fetichismo como no caso do


assassino Jerry Brudos que na adolescência, para satisfazer seu fetiche por sapatos
femininos, espancava ou sufocava as vítimas até as deixar desacordadas, depois
fugia com seus calçados. No serial killer Dennis Rader (BTK) também encontramos
elementos fortes de sadomasoquismo e fetichismo, ele buscava satisfazer seus feti-
ches sexuais por voyeurismo, asfixia autoerótica e cross-dressing; ele costumava
espionar as vizinhas enquanto se vestia com roupas de mulher, incluindo roupas
íntimas femininas que ele havia roubado, e então se masturbava com cordas ou ou-
tras amarras nos braços e pescoço. Anos mais tarde, durante um período de pausa
nos seus assassinatos, Rader tiraria fotos de si mesmo vestido em roupas de mulher
e uma máscara feminina enquanto amarrado. Mais tarde, ele admitiria que fingia ser
39

suas vítimas como parte de uma fantasia sexual. Rader manteve suas inclinações
sexuais bem escondidas, e era amplamente considerado em sua comunidade como
"normal", "cortês" e "educado".

Dennis Rader, o assassino BTK, tinha o fetiche de se vestir com as roupas de suas
vítimas usando uma máscara de boneca.

Casoy (2014) lembra a importância da observação dos “troféus”, que estão


ligados a reviver estas inclinações. É comum os serial killers guardarem as coisas
que tira de suas vítimas. São vistas como troféus por ele e o ajudam a relembrar o
ataque. Guarda as coisas em local seguro, mas de acesso rápido.
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2.5 Serial Killer e a psicose

No século XIX, a psiquiatria designa a psicose como doença mental, sendo a


mesma popularmente conhecida como loucura.
Para Freud, a psicose seria um conflito entre o ego e o mundo externo, o
ego fracassa em manter-se fiel ao mundo externo e tenta silenciar o id;
assim o ego derrotado pelo id é afastado da realidade, então surge as
psicoses, segundo Freud. Winnicott diz que é essencial que a relação mãe-bebê
seja saudável, considerando que no primeiro ano de vida não há separação do “eu”
e do “não eu”. Não basta a mãe ser suficientemente boa, deve haver uma
interação entre mãe e ambiente, visando a formação da psique do bebê, caso isso
não ocorra, estabelece-se uma deficiência, gerando uma grande ansiedade no bebê
que vai dar origem a psicose.

O psicótico é uma estrutura que corresponde ao id, as características dessa


estrutura são impulsivas, o psicótico não conhece as leis, tudo que faz é por impul-
so, raramente, um psicótico vem a cometer homicídio, mas quando comete, foi algo
momentâneo, algo que ele achou que era certo. A estrutura psicótica é incapaz de
arquitetar grandes planos; devemos salientar que os psicóticos, em sua grande mai-
oria, são pessoas normais que podem passar toda sua vida sem nunca cometer atos
antissociais relevantes; alguns casos isolados ocorrem quando esse sujeito entra em
41

surto, podendo assim ter alucinações visuais ou auditivas. Alguns indivíduos dizem
ter matado a mando de vozes, mas nem todos os casos são verdadeiros, alguns di-
zem isso apenas para ter os benefícios que um psicótico teria, mas em alguns ca-
sos, são realmente reais. O neurótico constrói um castelo no ar. O psicótico mora
nele” (Jerome
Lawrence).

Existe uma grande confusão entre a psicopatia e a psicose, que mesmo sem
ter nenhuma afinidade, gera preconceito acerca dos psicóticos devido ao psicopata
ser também alvo de preconceitos por falta de conhecimento.

Vamos citar alguns exemplos de serial killers psicóticos:

a) O americano Ed gein, indivíduo esquizofrênico sem qualquer contato com


a realidade fazia utensílios e móveis com corpos de pessoas, foi dado co-
mo mentalmente incapaz e mandado para o Central State Hospital.

b) Richard Trenton Chase, americano, também conhecido como "O Vampiro


de Sacramento”, foi um serial killer esquizofrênico tipo "vampiro", canibal e
necrofílico, aniquilador de família, e que esteve ativo na Califórnia de de-
zembro de 1977 a janeiro de 1978. Acreditava que era alvo de seres alie-
42

nígenas, e que seu sangue estaria virando pó e que precisava beber san-
gue para se manter vivo.

c) O alemão Fabian Kramer, psicótico Fã de filme de terror, matou uma se-


nhora de 82 anos que lhe alugava a casa, com 50 facadas. Foi considera-
do com esquizofrenia cognitiva. Foi condenado a dez anos em uma unida-
de psiquiátrica.

d) O serial killer brasileiro Marcelo Costa de Andrade, o Vampiro de Niterói,


era psicótico. Bebia sangue das vítimas crianças, e acreditava que suas
43

vítimas iam direto para o céu. Marcelo cumpre pena em manicômios judi-
ciários desde 1993 e confessou 13 dos 14 homicídios.

Como se pode observar acima a falta de conexão de realidade nos casos re-
lacionados com psicose é uma constante.
44

3. Psicologia Forense: Aplicação de conceitos


psicanalíticos a casos reais

A psicologia forense é o ramo da psicologia que estuda a mente dos crimino-


sos e sua forma de agir, seu modus operandi, todos os rituais que realizam no local,
tudo o que deixam ou o que levam. Verificar (CASOY, 2014) o processo pelo qual o
criminoso escolhe ou seleciona sua vítima também é de óbvia importância, sendo o
conhecimento da vitimologia (estudo das vítimas) imprescindível. Os conceitos psi-
canalíticos são basilares para compreender as pulsões que movem o indivíduo, sua
estrutura perversa ou psicótica. Se observarmos no que tange a respeito de perver-
são Sigmund Freud o conceitua como desvios sexuais que fogem àquilo dito como
“normal” para obtenção de prazer, desta forma para fazer um perfil objetivo e com-
petente deve se levar em conta para entender a mente de um serial killer que geral-
mente já viveu seu crime em suas fantasias diversas vezes antes de realizá-lo, e a
maioria de seus comportamentos são para satisfaz um desejo, uma necessidade.
Aceitando essas duas premissas, o investigador pode deduzir os desejos ou neces-
sidades de um serial killer a partir de seu comportamento na cena do crime.

Silva lembra (2017) que existem diferentes visões da origem do transtorno


de personalidade antissocial, abordada por diferentes visões, a psicanálise, por
45

exemplo, tem por base um indivíduo estruturado na perversão, como descrito anteri-
ormente. Para a comportamental, o indivíduo associa a agressão recebida com a
ideia de que só recebe carinho por meio da agressão, já a neurociência traz uma
visão biológica. A questão tem que ser entendida como multifatorial, pois sabemos
que todo ser humano é biopsicossocial. Raine (2015) seguindo a linha da neurociên-
cia acredita que alguns indivíduos nascem com certas particularidades no cérebro,
tornando-o mais propício a desenvolver o transtorno ora analisado. Nossos pensa-
mentos, desejos e emoções se formam de acordo com o funcionamento do cérebro,
em determinadas ocasiões, o cérebro modifica suas atividades dependendo da oca-
sião em que se encontra. No nível emocional, a redução no funcionamento da região
pré-frontal resulta em perda de controle sobre as partes evolutivamente mais primiti-
vas do cérebro, como o sistema límbico, que geram emoções cruas, como a raiva e
a ira. O córtex pré-frontal, mais sofisticado, mantém uma tampa sobre essas emo-
ções límbicas.

Na tomografia acima vemos o cérebro normal, na imagem abaixo de um portador de transtorno


antissocial (psicopata), sistema límbico responsável pelas emoções com pouca atividade.
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De acordo com a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva (2008) é importante


ressaltar que os portadores de transtorno antissocial possuem níveis variados de
gravidade: leve, moderado e severo, sendo:

Leve: poucos problemas de conduta, se existem, além dos exigidos para fa-
zer o diagnóstico, sendo que os problemas de conduta causam apenas um dano
pequeno a outras pessoas.

Moderado: um número de problemas de conduta e o efeito sobre outras


pessoas são intermediários, entre “leve” e “grave”.

Grave: muitos problemas de conduta além dos exigidos para fazer o diag-
nóstico ou problemas de conduta que causam dano considerável a outras pessoas.

Cabe fazer uma diferenciação (SILVA, 2008) em relação aos casos severos,
com métodos cruéis sofisticados, eles sentem um enorme prazer com seus atos bru-
tais como vemos nos casos de serial killers (assassinos em série). Contudo deve-se
ressaltar qualquer que seja o grau de gravidade, todos, invariavelmente, deixam
marcas de destruição por onde passam, sem piedade. Felizmente os psicopatas
graves são a minoria. Segundo a classificação norte-americana de transtornos men-
tais (DSM-IV-TR), a prevalência geral do transtorno da personalidade antissocial ou
psicopatia é de cerca de 3% em homens e 1% em mulheres, em amostras comunitá-
rias.

Existem (CASOY apud Dr. JOEL NORRIS), seis fases do ciclo do serial kil-
ler:

1. Fase áurea: onde o assassino começa a perder a compreensão da reali-


dade;

2. Fase da pesca: quando o assassino procura a sua vítima ideal;

3. Fase galanteadora: quando o assassino seduz ou engana sua vítima;

4. Fase da captura: quando a vítima cai na armadilha;

5. Fase do assassinato ou totem: auge da emoção para o assassino;

6. Fase da depressão: que ocorre depois do assassinato.


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Quando o assassino entra em depressão, engatilha novamente o início do


processo, voltando para a Fase Áurea. Também para entender a atuação do serial
killer em campo o estudo vitimológico como já mencionado também é um fator im-
portante, uma vez que as vítimas do serial killer são escolhidas ao acaso ou por al-
gum estereótipo que tenha significado simbólico para ele. Vamos usar como exem-
plo, uma obra da ficção: o filme “Psicopata Americano” (2000) baseado no livro ho-
mônimo, nele acompanhamos a história do serial killer Patrick Bateman, as vítimas
que seleciona são mulheres loiras, isso na vida real poderia indicar que sua mãe, ou
seja a primeira pessoa que investiu energia pulsional, ou sua primeira namorada
que seria a primeira pessoa fora do núcleo familiar a direcionar tal energia, muito
provavelmente deveria ter as mesmas características das vítimas. Pois esta é uma
das principais formas de seleção que a maioria dos serial killers do tipo perverso se-
guem, diferente dos psicóticos que não seguem critérios tão rígidos na escolha de
suas vítimas, uma vez que geralmente suas demandas são provenientes de alucina-
ções e delírios.

Analisando os locais do crime, vítimas, algumas características do agente


poderão ser observadas. São elas: constituição física, sexo, tipo de trabalho e hábi-
tos, remorso ou culpa, tipo de veículo utilizado, histórico criminal, nível de habilidade,
agressividade, localização da moradia em relação ao crime, histórico médico, estado
civil e raça. Em conjunto, essas informações vão fornecer um retrato do criminoso
que pode ser comparado com outros, conhecidos ou suspeitos.
48

4. Analisando um caso real

Vamos analisar o caso do serial killer americano Jerome Henry "Jerry" Brudos
ou mais conhecido como Jerry Brudos que mencionamos algumas vezes anterior-
mente que torturava e matava suas vítimas e colecionava seus sapatos. Ele era um
serial killer do tipo perverso com subestruturas sádicas e fetichistas. Ele tinha um
fetiche por sapatos de mulher desde os cinco anos, depois de brincar com sapatos
de salto alto numa lixeira. É evidente o desenvolvimento de patologias devido o mau
desenvolvimento em determinados pontos de fixação, nesse caso na fase fálica. In-
cidindo em perversão, em atos masoquistas e o evidente fetiche. Brudos sofreu
abuso infantil, sua mãe queria uma menina e o maltratava, ele roubava da vizinhan-
ça calçados femininos e roupas intimas, ainda criança. Alegadamente tentou roubar
os sapatos da sua professora do primeiro ano. Passou os primeiros dez anos a en-
trar e sair da psicoterapia e de hospícios. Começou a perseguir mulheres enquanto
adolescente, batendo-lhes e asfixiando-as até ficarem inconscientes, fugindo com os
seus sapatos.

Sua fixação por sapatos era tamanha que mesmo depois de preso seu fetiche
continuou, o levando a colecionar inúmeros catálogos de sapatos femininos em sua
cela para se masturbar. Então vemos mais uma vez aqui a importância da análise do
trófeu levado pelo serial killer para determinar o tipo de fixação e possível histórico,
49

uma vez que ele nos conta a necessidade de reviver a realização dos desejos dos
id, e seus conteúdos pulsionais. O fetiche pode ser descrito como uma substrutura
da perversão onde o objeto de prazer está vinculado a parcialidades como um objeto
inanimado, ou partes do corpo por exemplo. Esta satisfação de pulsão sexual focada
em parcialidade explica ainda a obtenção de troféus de muitos serial killers, já que
uma mecha de cabelo ou um sapato, como vimos no caso de Brudos, pode ativar a
lembrança do prazer que teve vinculado com a violência contra a vítima.

O assassino Jerry Brudos fotografava suas vítimas antes de matá-las, e pegar seus
sapatos para sua coleção.

Brudos também era necrófilo, fazia sexo com os cadáveres das vítimas o que
demonstra uma objetificação da vítima, pois não as via como uma pessoa, mas co-
mo um meio de atingir suas fantasias perversas de domínio e prazer, fica mais evi-
dente quando nos deparamos com o fato dele guardar em sua residência um seio
preservado como peso de papel e um pé de uma das vítimas que usava para se
masturbar. O assassino Jerry Brudos não é um serial killer do tipo psicótico, pois
apesar dos seus atos serem hediondos o portador de transtorno antissocial severo
não perde contato com a realidade, pois na perversão não existe uma alienação em
50

relação a realidade como na psicose, ele sabe perfeitamente o que faz e o contexto,
apenas há a adulteração simbólica parcial do que ele elege. Há diferença em rela-
ção a neurose, pois ao contrário do neurótico, o perverso não se abstém do prazer,
vai a busca da satisfação dos seus desejos. E selecionada a vítima com determina-
do perfil que procura, planeja e à captura, e a vítima uma vez estando sob seu do-
mínio em um ambiente isolado e controlado permite que exerça sua fantasia de do-
mínio e satisfação sexual que incluem na maioria dos casos práticas sádicas.

Local onde Jerry Brudos abandonou o corpo de uma de suas vítimas, Harvey
Glatman, depois de mata-la.
51

Modus Operandi de Brudos: amarrava, fotografava, torturava, estrangulava, e matava.

O assassino Brudos além de fetichista era sádico, depois de sequestrar suas


vítimas as amarrava e fotografava, antes de torturara-las e mata-las, denotando o
seu prazer tanto na dor psicológica quanto física que proporciona as suas vítimas. O
sadismo como vimos em tópico anterior é outra subestrutura característica do per-
verso presente e predominante na organização psíquica dos serial killers, uma vez
que para a constituição psíquica satisfatória ser alcançada necessita do sofrimento
e humilhação alheia, característica essa que pode ser entendida como uma deriva-
ção do fetichismo.
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5. Tratamento?

Em relação a indivíduos psicóticos, que sofrem de esquizofrenia, alucinações,


delírios, existe o tratamento psicofarmacológico, porém em relação aos indivíduos
portadores de psicopatia a situação já é mais complicada por diversos fatores. A psi-
copatia como lembra Silva (2017) não é considerada uma doença e sim uma perso-
nalidade, devido a isso o psicopata não é alguém que sofre por isso, já o psicótico é
alguém que tem um sofrimento mental. O portador de transtorno antissocial não tem
cura, mas tem como inibir parte de seus comportamentos antissociais através de
terapia, mas raramente ou nunca, o psicopata vai buscar tratamento, porque ele não
se incomoda, acha que o problema está sempre nos outros, como citamos anterior-
mente o narcisismo é muito comum, impedindo que vejam além de si mesmos.

Contudo, em transtorno de conduta, alguns casos podem ser revertidos, pois


sua personalidade ainda não está completamente desenvolvida; devido a isso é
possível que o tratamento tenha êxito. O psicólogo Samenow (2020) desenvolveu
extensos trabalhos de recuperação junto a presídios com sucesso. Para o psicólogo
Raine (2015) o tratamento farmacológico é eficaz em reduzir a agressividade na in-
fância e na adolescência pela atuação em uma ampla gama de condições psiquiátri-
cas, incluindo o TDAH, o autismo, o transtorno bipolar, a deficiência intelectual e a
esquizofrenia. Em relação ao tratamento, Raine menciona fármacos que aumentam
53

a frequência cardíaca, como estimulantes, reduzindo o comportamento antissocial.


Raine (2015) aponta uma pesquisa da Alemanha descobriu que as crianças que an-
tes do tratamento tinham frequências cardíacas mais baixas foram menos responsi-
vas à terapia comportamental. As intervenções podem ser mais eficazes em crian-
ças antissociais com frequência cardíaca normal ou elevada, nas quais as causas do
seu comportamento antissocial podem ser mais ambientais do que genéticas.

Raine (2015) acredita que o conhecimento da frequência cardíaca de repouso


pode não apenas ajudar a prever quais crianças correm maior risco de apresentar
comportamento criminoso mais tarde, como também proporcionar um conhecimento
inestimável em programas de tratamento, e que há cada vez mais evidências de en-
saios clínicos randomizados que comprovam a eficácia do ômega-3 na redução de
comportamentos antissociais. Mas Raine (2015) adverte que devemos tomar cuida-
do para não estigmatizar os pacientes com esquizofrenia ou personalidade esquizoi-
de como “loucos e maus”. Ao mesmo tempo, precisamos reconhecer as elevadas
taxas de violência entre os esquizofrênicos, para que possam receber tratamento
visando a redução da probabilidade de violência e, assim, reduzir o estigma.

Silva (2008) assim como Raine aponta que a psicopatia apresenta dois ele-
mentos causais fundamentais: uma disfunção neurobiológica e o conjunto de in-
fluências sociais e educativas que o psicopata recebe ao longo de sua vida. A en-
grenagem psicopática funcionaria desta maneira: a predisposição genética ou a vul-
nerabilidade biológica se concretizaria em uma criança que apresenta o deficit emo-
cional. Uma criança assim possui um sistema mental deficiente na percepção das
emoções e dos sentimentos, na regulação da impulsividade e na experimentação do
medo e da ansiedade. Nos casos em que os pais realizam de forma muito compe-
tente suas tarefas educacionais, essas características biológicas podem ser com-
pensadas ou canalizadas para atividades socialmente aceitas. No entanto, quando o
ambiente não é capaz de fazer frente a herança genética, seja por falhas educacio-
nais por parte dos pais, ou por uma socialização deficiente ou ainda por essa baga-
gem genética ser muito marcada, o resultado será um indivíduo perverso.

É mais sensato para Silva (2008) falarmos em ajuda e tratamento para as ví-
timas dos psicopatas do que para eles mesmos. Temos que ter em mente que as
psicoterapias são direcionadas às pessoas que estejam em intenso desconforto
54

emocional, o que as impede de manter uma boa qualidade de vida. Os portadores


de transtorno antissocial uma vez que não se importam com as pessoas a sua volta
e as consequência de seus atos eles não se preocupam em mudar, estão satisfeitos
consigo mesmos e não apresentam constrangimentos morais ou sofrimentos emoci-
onais como depressão, ansiedade, culpas, baixa autoestima etc. Não sendo possível
tratar um sofrimento inexistente. Ao contrário, para se ter uma ideia (McWILLIAMS,
2014) a transferência básica de uma pessoa com perfil perverso com o terapeuta é
uma projeção de sua necessidade predatória interna. O paciente perverso parte do
pressuposto de que o terapeuta deseja usa-lo com um propósito egoísta, uma vez
que não é capaz de ter qualquer experiência emocional de amor ou empatia, o pa-
ciente antissocial não tem como compreender os aspectos generosos do interesse
do clinico e tentará imaginar o lado do profissional. Se tiver motivos para acreditar
que o terapeuta pode ser usado de forma útil para seus objetivos, ele pode ser incri-
velmente convincentes, a ponto de fazer o terapeuta iniciais caírem no jogo. Mcwilli-
ams (2014) ainda traz a contratransferência habitual que é a preocupação do paci-
ente perverso em usar o terapeuta ou em “levar a melhor” na agenda presumivel-
mente exploradora do profissional, ou seja, a identidade essencial, alguém que aju-
da do terapeuta, está sendo eliminada. O profissional ingênuo pode sucumbia à ten-
tação de provar que isso não é verdade, que sua intenção é de ajudar, então ele cai
no jogo de manipulação.

Diante disso analisando o desenvolvimento do ser humano vemos a grande


responsabilidade dos pais no auxilio de uma boa formação e desenvolvimento psí-
quico da criança para que sua organização psíquica não se prenda a determinada
fase de desenvolvimento ou retroceda, podendo ter um equilíbrio interno e externo,
chegando a maturação e interagindo socialmente de maneira saudável com as de-
mais pessoas.
55

Conclusão

Como vimos os serial killers são um fenômeno presente na sociedade desde


o inicio da história. Na antiguidade eram vistos como pessoas dominadas por forças
sobrenaturais malignas, uma vez que para as pessoas era difícil admitir que um se-
melhante era capaz de atos tão brutais. Com o avanço científico da virada do século
XIX, foi possível uma analise metodológica fugindo de critérios míticos. Freud com a
criação da psicanalise deu um impulso fantástico não só para a busca do conheci-
mento psíquico do indivíduo comum como também para entender a mente dos serial
killlers.

Neste trabalho por meio de pesquisa bibliográfica e analise de casos abor-


damos os principais conceitos psicanalíticos que podem ser observados neste fe-
nômeno, como funcionam, e como podem ser aplicados. Desenvolvimento psicosse-
xual, fixações, tópicas, complexo de Édipo, fenômeno de castração, perversão, sa-
dismo, masoquismo, fetichismo, psicose, esquizofrenia foram os conceitos encontra-
dos, e vimos que o seu conhecimento é inestimável para o desenvolvimento de per-
fis criminais sendo muito úteis para elaboração do perfil do assassino em série a
partir de suas ações, escolhas de vítimas, locais de crime, e troféus.

Identificamos no presente trabalho por meio da perspectiva psicanalítica os


dois tipos existentes de serial killers: o psicótico e o Perverso. E assim vimos que o
primeiro não tem noção de realidade, muitas vezes portadores de transtorno esqui-
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zofrênico com alucinações auditivas, visuais ou cognitivas, e/ ou fantasias deliróides.


Já o perverso tem plena realidade do mundo a sua volta e da existência de regras
sociais, porém devido a um problema no seu desenvolvimento humano na fase edi-
piana ele desenvolve uma personalidade sem empatia, e sem limites, apresentando
então dois elementos causais fundamentais: uma disfunção neurobiológica e o con-
junto de influências sociais e educativas que o perverso recebe ao longo de sua vi-
da.

Finalmente, verificamos que em relação a tratamentos os serial killers psicó-


ticos podem receber tratamento psciofarmacológico para controlar suas perturba-
ções cognitivas, alucinações e delírios. Porém, com o portador de psicopatia já não
se pode falar em tratamento já que não é uma doença, mas sim um traço de perso-
nalidade, e portadores de tal transtorno geralmente não tem interesse psicoterapias,
uma vez que não há sofrimento para seus comportamentos, mas geralmente apenas
as pessoas a sua volta. Tais características analisadas são importantes para o en-
tendimento do fenômeno serial killers, e auxilia na construção de um perfil que possa
ajudar a identificar e localizar estas pessoas, sendo possível a sua contenção e as-
sim salvando a vida das outras pessoas na sociedade que muitas vezes nem imagi-
na a existência deste fenômeno que nos acompanha deste o inicio dos tempos.
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