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H
Cnpírulo 2
asegundametadedacentúriadooitocentos,asociedadeemgeral
e, em particular, os homens ligados à medicina'
começaram a revelar
um interesse crescente por questões relacionadas tom
a crimina-
portugal esta temática mereceu
ìidade e com os criminosos. Também em
meio intelectual'? Para este
a atenção de algumas figuras proeminentes do
mas também as doutrinas
interesse concorreu não só o positivismo vigente'
destaque para a
que então se impunham como dominantes' com especial
supramencionada,
teoria evolucionista de Darwin que, associada à corrente
dominavaopanoramaintelectual,edeuumcontributodecisivoparaodes-
para a derrubada
moronamento de dogmas cristãos, então prevalecentes'.e
de determinadas posições face ao crime e ao criminoso''
Eml8T6,CesareLombrosoescreveuumaobraqueabriunovaspers-
pectivasnaabordagemdatemáticadacriminalidade,Ievando,tambémà
positivista italiana, que foi
Íormação de uma escola de pensamento, a escola
com um largo número de
ampÌamente divulgada em PortugaÌ e que contou
seguidores,sobretudoentreoshomensdamedicina'nãorecebendo'contu-
do, o mesmo acolhimento entre os
jurisconsultos.a Nomes como Alfredo Luís
Lopes,RobertoFrias,BasílioFreire,FerrazdeMacedoeJúliodeMatos'entre
outros,seguiramatendênciaeuropeiadominadapelopensamentodemédi-
coseantropÓlogos,queimpunhamoseudiscursosobreacriminalidade,em
umcontexto.marcadopeloprogressoemváriosdomíniosdaciênciaepelo
descréditoemqueiamcaindoaSestratégiasdecombateaocrimeatéentão
preconizadas'5
Para assinalar a presença e mostrar a influência da escola positil'is-.
italiana em Portugal, debruçamo-nos sobre as obras de três figuras marcan:-
da medicina portuguesa: Roberto Frias, Júlio de Matos e Basílio Freire.
Roberto Frias,ó na sua obra O Crime, dissertação inaugural, apresenta-:
em 1880, e defendida perante a EscoÌa Médico-Cirúrgica do Porto,T sustenta. :'
como Lombroso,8 cuja obral'tJmo delinquentelinhasido publicada quatro an.:
antes, que o crime constitui um facto natural entre tantos outros que preenchtl
aS noSSaS vidaS, ComO, pOr exempl6, o nascimento, o Casamento ou a mor::
Considera ainda a ciência responsável pela libertação do estigma da crimi:=
lização de certas maleitas, como a sÍfilis, a epilepsia, a lepra e até a Ìoucu:'.
Atribui ainda à ciência uma outra posição, de clara inspiração Ìombrosia:.
segundo a qual o criminoso não age por livre arbítrio, mas antes condicionac
por aquilo que podemos considerar uma espécie de determinismo biológico
Assim, o criminoso seria impelido para o crime pela sua própria na: --
reza e não por Iivre vontade, o que conduzia à desresponsabilização moral c:
indivíduo, e, consequentemente, acarretava a ineficácia dos sistemas pene-:
vigentes, que desde as Luzes se assentavam nos princípios da punição e c.
correcção dos autores de atos que atentassem contra a ordem Social, tenc:
em vista a sua regeneração.
Roberto Frias reserva para a medicina a missão de estudar oS proi:-
gonistas de atos delituosos, tendo em vista a descoberta dos seus intentc'>
concentrando-se nas suas características bioÌógicas, fisiológicas e patológica.
de modo a permitir a identificação dos potenciais criminosos e, por cons-
quência, limitar a sua ação e o seu impacto na estrutura social. Este médic'
português segue cÌaramente as orientações traçadas pela escola positivist.
ao considerar a infracção um mero sintoma, sendo possível prever e estuda:
a predisposição do criminoso para a prática delituosa, apurando as suas ce-
racterísticas distintivas, através de processos de observação e análise. Dess=
modo, tornava-se mais fácil não só combater a criminalidade através dos meic.
punitivos, que não excluÍam o aniquilamento físico, mas também preveni-la.
Na linha de Lombroso, Roberto Frias propõe, na sua obra, uma clar.
divisão entre criminosos habituais ou de profissão e aqueles que podemc's
designar d,e criminosos de ocasião. Para além destes, havia ainda os crin::-
nosos alienados, em relação aos quais se colocava, desde logo, a questão i;-
imputabilidade.
No que respeita aos criminosos habituais ou de profissdo, Frias alega que
estes indivíduos apresentam determinadas características, a diversos níveis
que os distinguem dos demais membros da comunidade que podemos designar
de normais. Concentram-Se, S6bretudo, nos espaço5 urbanos, estabelecendc
ìaçosentresi,ereveìamumaclaratendênciaparaaassociação,dadaasuaho-
de espécie de bandos'
nogeneidade comportamental, originando a formação
\\{eta{ss \st \(\\ t\guta dorrrinante. cu\os membros se submetem discipÌï-
ilarmente a uma espécie de código de conduta, que, embora não escrito, era
escrupulosamente resPeitado.
Importa salientar que o autor recorre à história para fundamentar
rls S€uS pontos de vista sobre os criminosos, defendendo a existência, em
vârìos periodos, ôe sociedaòes que se òesenvoNeïam no se\o de òiterentes
civilizações com o intuito de levar a cabo ações delituosas, como o aborto, o
envenenamento ou o homicÍdio.
Para desenhar o perfil tipo dos criminosos habituals, Frias procura
descobrir neles características comuns, socorrendo-se para isso da anatomia,
da fisiologia, da anatomia patológica e até da psicologia, traçando assim uma
biotipologia. Na obra já citada, e a propósito da possibiÌidade de identificar es-
tes indivíduos pela sua peculiar anatomia, afirma: "Anatomicamente a classe
criminal traz impresso em casa um dos seus membros o cunho typico,
que profissões longamente exercidas teem o condão de gravar [...]."'
Trata-se de indivíduos que apresentam um 4specto grosseiro, rude, "es-
túpido, olhos oblíquos, pupilas desiguais, frequência das convulsões cronicas
dos músculos oculares, orelhas mal plantadas, nariz torcido, barbas raras,
fronte deprimida, cabelo escuro, abundante, pele amarela, aspecto feminino".l0
'Para Frias, seguidor de estudos de base estatÍstica, que lhe servem de mo-
delo e base, também as mulheres criminosas habituais têm caracterÍsticas
bem distintivas que as diferenciam das demais, salientando, em particular, a
desproporcionaÌidade visível a nÍvel das formas e do aspecto,'que pode ser
assustador e repelente.Ìr O autor revela, assim, a sua adesão à ideia de que
é possível conhecer a personalidade do indivíduo por meio dos seus traços
fisionômicos, bem como prever as principais marcas do seu carácter.l2
PaÍa além das particularidades anatômicas, Roberto Frias vai mais longe,
aludindo a estudos craniológicos e craniométricos realizados em crânios de
criminosos e que, na sua perspectiva, reforçam a ideia de singularidade destes
indivíduos relativamente aos outros membros da sociedade, além de revela-
rem semelhanças físicas e comportamentais com os nossos antepassados. Os
criminosos possuem traços distintivos que os aproximam dos selvagens, e o
crime não é mais do que um sinal da sua inadaptação às sociedades modernas.
Deste lnodo, o autor surge como defensor do atavismo ao estabelecer esta
proximidade entre o homem pré-histórico e o criminoso habitual, que se ma-
nifesta a nível fÍsico e comportamental, sendo o crime a sintomatologia deste
processo atávico.l3
tto ' Alexandro Patrício Lopes Esteves
-itenta, aliás, que existe no sexo feminino uma predisposição natural para
:.:nes contra a propriedade, bem como para o envenenamento, o infanticídio
-, aborto. Quando pratica o crime de homicídio, a mulher, geralmente, não
:.ìiza qualquer arma, mas recorre sobretudo ao veneno, que se adequa mais
sua forma de ser, tida como dissimulada e matreira. Por outro lado, a crimi-
,iidade feminina é limitada pela sua personalidade e compleição física, bem
_'mo pelo seu quotidiano, já que as suas vivências diárias revestem um maior
..dentarismo quando comparadas com as do sexo masculino. Segundo Frias,
is estatÍsticas da época, referentes a diversos paíSes, não refletiam a verdadei-
ra participação da muÌher em atos delituosos, devido à natureza dos mesmos,
pois trata-se de crimês mais fáceis de encobrir, o que faciÌitava a ausência de
informação rigorosa junto da opinião pública, a distorção dos números das
estatístlcas e a fuga das maÌhas da justiça.
A prostituição é apontada como uma das principais responsáveis pela
oarticipação da mulher no universo da criminalidade. Mulheres que exerciam
diversos ofícios, como costureiras ou criadas de servir, não tinham qualquer
pejo em entregar-se à prostituição clandestina. Tal circunstância permite esta-
belecer a ligação entre a prostituição e a criminalidade, alicerçada nos estudos
invocados pelo autor, que revelam uma maior tendência para a reincidência na
ação delituosa por parte dos elementos do sexo feminino.le
Roberto Frias defende que, além do sexo e da idade, também a personali-
dade ou o estado de espírito, ou até o estado de saúde, podem interferir na rea-
lização de actos criminosos. No caso das mulheres, a menstruação ou a gravidez
são estados orgânicos que influenciam a sua predisposição para o crime.
No que respeita às profissões, não considera que a profissão em si
conduza à prática de transgressões, mas entende que o meio em que se desen-
volve e as condições de vida que proporciona influenciam os comportamentos
do indivÍduo. Refére as profissões de cocheiro e estalajadeiro como sendo as
mais atreitas ao vício do álcool, embora considere a vida militar como sendo a
que mais favorece a criminaìidade. Outras atividades que propiciam compor-
tamentos criminais são aquelas que colocam os mais carenciados em contato
com classes sociais mais abastadas, como é o caso dos camareiros, bem como
as que implicam o isolamento sexual ou social, as que proporcionam o contato
com sangue ou o manuseio de instrumentos passÍveis de utilização em atos
delituosos, como acontece com carniceiros, pedreiros e ferreiros, e aS que
permitem o contato com produtos químicos e farmacêuticos, como sucede
com médicos e farmacêuticos.2o
Roberto Frias defende que também a alimentação interfere no compor-
tamento dos indivíduos, adiantando que uma dieta composta essencialmente
130 Alexondra Patrícia Lopes Esteves
lropriedade.24
O terceiro e último grupo de causas que condicionam o comportamento
.ndiüdual inclui aquelas que Roberto Frias designa de cósmicos, e que englo-
5am o clima, sugerindo que nos países de clima quente o número de crimes
.ometidos é superior ao que se verifica nos paÍses em que as temperaturas São
:Ìtais baixas. Todaüa, nestes verifica-se um maior número de crimes contra a
Dropriedade, ao passo que nos países de clima mais quente predominam os
crimes contra pessoas. Considera ainda que a prática de delitos varia conforme
a estação do ano, sendo a primavera uma época de especial incidência crimino-
Sa. No verão, cometem-se mais crimes contra peSSOaS, aO passo que no inverno,
quando OS reCurSOS tendem a eScaSSeÍü, ocorrem mais crimes contra a proprie'
dade. As tempestades, os terremotos, os incêndios, também contribuem paÏa a
íormação de contextos que instigam à prática de determinados crimes' uma vez
que a elevada mortandade provocada por essas calamidades pode fazer com que
os sobreüventes não olhem a meios para alcançar o luxo e a riqueza.25
Roberto Frias considera, portanto, que o criminoso ocasional é condi-
cionado na sua ação por fatores de ordem física e social, colocando, desse
modo, em causa a noção de Ìivre arbítrio e indo de encontro à escola posi-
tivista italiana, em particular às ideias de Enrico Ferri, aluno de Lombroso,
que, embora seguidor das teorias do seu mestre, afasta-se dele ao defender a
ideia de uma maior preponderância de factores de ordem econômica, polÍtica
e social para explicar o desenvolvimento da criminalidade.26
Importa ainda salientar que, ao longo da sua dissertação, Frias tem como
objetivo encontrar justificativas de ordem científica para explicar o compor-
tamento criminoso e os crimes em si, de forma a alcançar um conhecimento
objetivo e preciso de realidades que se pretendem não apenas combater, mas
também evitar através da adopção de medidas preventivas.
Júlio de Mâtos, um outro adepto, em Portugal, da doutrina preconizada
peÌa escola positiüsta, na sua obra a Loucura, editada em 1889, alude à respon-
sabilização/desresponsabilização moral dos alienados. AÌega o desconhecimento
t5t Alexondra Potrícia LoDes Esteves
dado individuo.2e Não raras vezes, eram infrutÍferas as tentativas por parte de
médicos e psiquiatras para explicar que determinados crimes são motivados
pela ausência de faculdades morais e que os seus autores não transgridem leis
nem cometem atos delituosos por vontade própria, mas apresentam uma pre-
disposição inata, transmitida hereditariamente, para a execução dessas ações.
Assim, só conseguirá detectar Os sinais dessa predisposição e fazer o diagnós-
tico correcto quem para tal estiver devidamente habilitado e, dessa forma, ser
capaz de reconhecer os sintomas, ou seja, os médicos e psiquiatras.
Um sinal revelador de uma aproximação à escola positivista italiana
constitui a crítica que, na sua obra, Júlio de Matos faz aos códigos penais, que'
na sua perspeçtiva, baseiam a aplicação da pena apenas na responsabilidade
moral do indivÍduo, não tendo em devida conta influências exógenas que
contribuem para condicionar ou até mesmo explicar a sua ação criminosa,
defendendo, por isso, a individualização das penas.
Segundo os positivistas, os códigos penais oitocentistas assentavam
em noções metafÍsicas, como as de livre-arbítrio e responsabilidade moral,
sendo a pena uma espécie de castigo, cuja finalidade seria não apenas punir,
mas também regenerar, partindo do pressuposto de que o indivíduo prevari-
cou porque quis, o que na ótica positivista era errado e não tinha qualquer
sustentabilidade científica.3O Segundo Júlio de Matos,'que acolhia esse ponto
de vista, a ideia de inimputabilidade e não responsabilidade moral não era ver-
dadeiramente entendida por magistrados e júris, que a encaravam con-ìo uma
mera tentativa de descuÌpabilizaçâo, que poderia colocar em risco a ordem
social ao inocentar indivíduos a pretexto de uma suposta alienação apenas
detectada por médicos e psiquiatras.
Júlio de Matos subscreve a posição de Lombroso e seus discípulos, ao
encarar o crime como uma doença, podendo o delito ser estudado cientifica-
mente, bem como os seus protagonistas, cujaS acções podem ser prevenidas.3l
Considera que, apesar da variação e relatividade do conceito de crime, uma
que determinados comportamentos proibidos em determinado espaço ou
tempo podem ser aceites como lícitos num outro contexto espácio-temporal,
existe uma perenidade a nível das causas que conduzem ao cometimento des-
ses mesmos delitos. Por outro lado, partilha com Roberto Frias aÌgumas das
causas que condicionam a atividade criminosa, como a emigração, o áÌcool, as
guerras, as revoluções, as catástrofes, entre outras.
Admite também o ponto de vista de Ferri, ao considerar que o crime
acaba por ser o resultado de um conjunto de causas sociais e cósmicas,
associadas a tendências hereditárias e aos impulsos que acometem os indi-
víduos.32 Na sua ótica, baseada nos trabalhos positivistas finisseculares, o
134 Alexondra Paúícia Lopes Esteves
crime, encarado como um fato natural, assenta em dois tipos de causas que
condicionam o indivÍduo: cduscs extrínsecas, que se dividem em cósmicas,
englobando aqui o clima, o solo e a altitude, entre outros' e em sociais, abran-
gendo variáveis como a religião, a situação econômica e polítìca; e as cousos
intrínsecas, que fazem parte integrante do indivíduo, como o sexo' a idade, a
raça, entre outras,33
No entanto, considera que nem todos os homens respondem do
mesm6 modo perante uma mesma adverSidade, ou perante a mesma Causa.
O criminoso tem de ter algo mais que o impele para o delito. Para entender
essa realidade, julga necessário atender às classificações de criminosos que
foram elaboradas, especialmente a produzida por Lombroso. Assim, taÌ como
Roberto Frias, defende a ideia de uma biotipoligia lançada por aquele autor.
Admite, então, a existência de criminosos tidós como ndfos, catalogados por
Frias de profissionais/habituais, que revelam um conjurito de caracteres anatô-
micos específicos, bem como patologias próprias, como meningites, doenças
cardíacas, vasculares e hepáticas e afecções nos órgãos, estômago e medula
espinhal, denotando ainda uma grande insensibilidade à dor.
' Quanto à personalidade, considera que o criminoso nato se caracteriza,
geralmente, pela ausência parcial ou total de afetividade e de senso moral, bem
como pela privação de sentimentos de remorso ou de piedade. Destaca, ainda,
o fato de se tratar de indivíduos agressivos, vingativos, preguiçosos, vaidosos,
amantes de vÍcios como o álcool e o jogo, com necessidade de exteriorizar os
seus feitos, por mais sórdidos que sejam, e, não raras vezes, adeptos de uma
religiosidade exacerbada. Os níveis de inteligência variam no criminoso nato,
mas todos eles apresentam uma grande ligeireza de espírito. Estas caracterís-
ticas reúnem-se todas no mesmo indivíduo, associados a caracteres atávicos e
patológicos que são transmitidos pela via hereditária.3a
Júlio de Matos considera de primordial importância a conclusâo a que
chegou Lombroso ao colocar no mesmo patamar o criminoso nato e o louco
moral ou epiléptico. Defende uma classificação que, para além do criminoso
nafo, compreende o criminoso louco ou quase louco, o delinquente habüual,
que considera antropologicamente criminosos, uma vez que suas ações são
condicionadas por causas essencialmente intrínsecas, o criminoso ocasional e
acriminoso de paixão, que, na sua perspectiva, são juridicamente criminosos,
sendo os seus delitos resultado de causas exógenas aos mesmos.
A partir daqui, Júlio de Matos lança mais um atague à escola clássica,
tida como eminentemente correcionalista, pondo em causa a possibilidade de
corrigir um criminoso nato por meio da aplicação da pena, quando este apre'
senta como uma das suas particularidades uma parcial ou total ausência de
D"lito e puniçao:odiscurso médico, ocrime eos criminosos em Portugual na segunda metode do séculoXlX 135
de punição
sentido moraì.Assim, para o médico, a pena com a finalidade única
cuja punição deve
taoÍazsentido, dado que exclui, à partida, o criminoso nato,
serlevadaacaboemnomedaordemsocial.Porconseguinte,consideraque
e adotar medidas
: sociedade, enquanto organismo vivo' deve defender-sefundamentais: ação
quatro ações
:mpeditivas contra o crime, preconizando
que tendam a minorar a
preventiva, que visa o desenvolvimento de meios
iendênciaparaosurgimentodecausascriminógenas;açõesreparadoras,que
visamaaplicaçáodepenaspecuniáriascomoobjetivodeindenizarasvÍtimas
eoEstado;aplicaçãodemeiosrepressivos;eaindaaçõeseliminadorasque
prevendo a aplicação da pena de
têm como objetivo pôr termo à reincidência,
morte, deportação e prisão perpétua'
DefendeJúliodeMatosqueocritériodeaplicaçãodapenanãodeve
mas ao tipo e natureza do criminoso'
estar subordinado à qualidade do crime,
devendoosdelinquentesocasionaissersuieitosapenasrepressivas,aopasso
queaoscriminososnatosouìoucosdevemseraplicadapenaseliminatórias'
dado que o seu afastamento é essen-
tendo em vista a proteção da sociedade'
cialparagarantiracoerênciaeoprocessodeevoluçãonaturaldasociedade,
A pena a aplicar ao louco deve
pelo que os inadaptados devem ser eÌiminados'
ser entendida não como um castigo' mas
sim como uma forma de a sociedade
se defender, o mesmo sucedendo com o
encerramento perpétuo de menores.
EmúltimaanáIise,estasmedidasvisamgarantiradeÍesadocorpussocialde
indivíduos cu!as ações são passíveis de corrompê-lo'
português, publica em 1889'
Basílio Augusto da costa Freire,35 médico
umaobraqueseinserenodomÍniodaAntropologiaPatológica,osCriminosos,
decÌarainspiraçãolombrosiana,ondediscorresobreocrimeeocriminoso.
que esta se reÌaciona à ideia da existên-
Critica a noçáo de livre-arbítrio, dado
ciadeumaresponsabilidadepsicológicaporpartedocriminoso,quealega
náoexistiremalgunssereshumanos,considerandoaindaqueexisteuma
componentefisiológicaquecondicionadeformaindubitávelaSSuaSacções'e
que tem de ser devidamente considerada'
Aliás,estemédicoreconhecequeaescolacriminalistaitalianadeixou
aosestudiososumimportantelegado:oprimadodoestudodocriminosoenr
o criminoso nato e o criminoso
detrimento do crime. Aceita a distinção entre
de caracterÍsticas físicas' psico-
de ocasião. Ao primeiro atribui um conjunto
Iógicasepatológicascombaseemconclusõesapresentadasporestudiosos,
que essas mesmas características
idênticas às traçadas por Roberto Frias' e
que o criminoso se encontra mais
variam de acordo com a natureza do crime a
propenso. Por exemPlo:
os assassinos, sobretudo, relevam-se pelo achatamento e pela estreiteza
da fronte, pela proeminência das arcadas supraciliares, pela energia da
face,.symetrica mas grosseiramente esculpturada, peìa frieza do olhar,
duro e violento, pela espessura dos lábios, peÌa largura da bocca, ener_
gicamente Íendida, pela altura do lábio superior, pelo prognatismo, pela
viciosa das orelhas largas, rudes e afastadas do craneo.r6
o que, por sua vez, conduz a rnodificações, fazendo com que a hereditariedade
o discu6o médico, o cilme e os üimtnosos em
se não houver
atue, mas de forma diversa. No entanto, se isso não acontecer,
cruzamentos, não há variabiÌidade, apenas impera a hereditariedade, o que
conduz ao ataüsmo e à degenerescência'
Basílio Freire impõe-se como defensor de um determinismo biológico'
resultantes
considerand o o criminoso instintiuo um degenerado, com estigmas
do atavismo que o aproximam do homem prêhistórico ou de um selvagem,
Notas
r Doutoranda em História pela Universidade do Minho - Portugal. Bolsista da Fundação para a Ciência e
Tecnologia de Portugal.
2 segunda metade do século XlX. Lisboa:
consulte-se vAz. Maria Joáo. crime e sociedade: Portugal na
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ToutrostrabaIhosforamapresentados,entrefinaisdosécuIoX|Xeprimórdiosdenovecentos,naEsco|a
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142 Alexandra Patício Lopes Esteves