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Cnpírulo 2

Delro e eurulçÃo: o DlscuRso tvtÉolco' o cRIME E os


OO SÉCUT.O XIX
cRIMINosos ertl PONTUGAL NA SEGUNDA METADC

Alexandra Patrícia Lopes Esteues'

asegundametadedacentúriadooitocentos,asociedadeemgeral
e, em particular, os homens ligados à medicina'
começaram a revelar
um interesse crescente por questões relacionadas tom
a crimina-
portugal esta temática mereceu
ìidade e com os criminosos. Também em
meio intelectual'? Para este
a atenção de algumas figuras proeminentes do
mas também as doutrinas
interesse concorreu não só o positivismo vigente'
destaque para a
que então se impunham como dominantes' com especial
supramencionada,
teoria evolucionista de Darwin que, associada à corrente
dominavaopanoramaintelectual,edeuumcontributodecisivoparaodes-
para a derrubada
moronamento de dogmas cristãos, então prevalecentes'.e
de determinadas posições face ao crime e ao criminoso''
Eml8T6,CesareLombrosoescreveuumaobraqueabriunovaspers-
pectivasnaabordagemdatemáticadacriminalidade,Ievando,tambémà
positivista italiana, que foi
Íormação de uma escola de pensamento, a escola
com um largo número de
ampÌamente divulgada em PortugaÌ e que contou
seguidores,sobretudoentreoshomensdamedicina'nãorecebendo'contu-
do, o mesmo acolhimento entre os
jurisconsultos.a Nomes como Alfredo Luís
Lopes,RobertoFrias,BasílioFreire,FerrazdeMacedoeJúliodeMatos'entre
outros,seguiramatendênciaeuropeiadominadapelopensamentodemédi-
coseantropÓlogos,queimpunhamoseudiscursosobreacriminalidade,em
umcontexto.marcadopeloprogressoemváriosdomíniosdaciênciaepelo
descréditoemqueiamcaindoaSestratégiasdecombateaocrimeatéentão
preconizadas'5
Para assinalar a presença e mostrar a influência da escola positil'is-.
italiana em Portugal, debruçamo-nos sobre as obras de três figuras marcan:-
da medicina portuguesa: Roberto Frias, Júlio de Matos e Basílio Freire.
Roberto Frias,ó na sua obra O Crime, dissertação inaugural, apresenta-:
em 1880, e defendida perante a EscoÌa Médico-Cirúrgica do Porto,T sustenta. :'
como Lombroso,8 cuja obral'tJmo delinquentelinhasido publicada quatro an.:
antes, que o crime constitui um facto natural entre tantos outros que preenchtl
aS noSSaS vidaS, ComO, pOr exempl6, o nascimento, o Casamento ou a mor::
Considera ainda a ciência responsável pela libertação do estigma da crimi:=
lização de certas maleitas, como a sÍfilis, a epilepsia, a lepra e até a Ìoucu:'.
Atribui ainda à ciência uma outra posição, de clara inspiração Ìombrosia:.
segundo a qual o criminoso não age por livre arbítrio, mas antes condicionac
por aquilo que podemos considerar uma espécie de determinismo biológico
Assim, o criminoso seria impelido para o crime pela sua própria na: --
reza e não por Iivre vontade, o que conduzia à desresponsabilização moral c:
indivíduo, e, consequentemente, acarretava a ineficácia dos sistemas pene-:
vigentes, que desde as Luzes se assentavam nos princípios da punição e c.
correcção dos autores de atos que atentassem contra a ordem Social, tenc:
em vista a sua regeneração.
Roberto Frias reserva para a medicina a missão de estudar oS proi:-
gonistas de atos delituosos, tendo em vista a descoberta dos seus intentc'>
concentrando-se nas suas características bioÌógicas, fisiológicas e patológica.
de modo a permitir a identificação dos potenciais criminosos e, por cons-
quência, limitar a sua ação e o seu impacto na estrutura social. Este médic'
português segue cÌaramente as orientações traçadas pela escola positivist.
ao considerar a infracção um mero sintoma, sendo possível prever e estuda:
a predisposição do criminoso para a prática delituosa, apurando as suas ce-
racterísticas distintivas, através de processos de observação e análise. Dess=
modo, tornava-se mais fácil não só combater a criminalidade através dos meic.
punitivos, que não excluÍam o aniquilamento físico, mas também preveni-la.
Na linha de Lombroso, Roberto Frias propõe, na sua obra, uma clar.
divisão entre criminosos habituais ou de profissão e aqueles que podemc's
designar d,e criminosos de ocasião. Para além destes, havia ainda os crin::-
nosos alienados, em relação aos quais se colocava, desde logo, a questão i;-
imputabilidade.
No que respeita aos criminosos habituais ou de profissdo, Frias alega que
estes indivíduos apresentam determinadas características, a diversos níveis
que os distinguem dos demais membros da comunidade que podemos designar
de normais. Concentram-Se, S6bretudo, nos espaço5 urbanos, estabelecendc
ìaçosentresi,ereveìamumaclaratendênciaparaaassociação,dadaasuaho-
de espécie de bandos'
nogeneidade comportamental, originando a formação
\\{eta{ss \st \(\\ t\guta dorrrinante. cu\os membros se submetem discipÌï-
ilarmente a uma espécie de código de conduta, que, embora não escrito, era
escrupulosamente resPeitado.
Importa salientar que o autor recorre à história para fundamentar
rls S€uS pontos de vista sobre os criminosos, defendendo a existência, em
vârìos periodos, ôe sociedaòes que se òesenvoNeïam no se\o de òiterentes
civilizações com o intuito de levar a cabo ações delituosas, como o aborto, o
envenenamento ou o homicÍdio.
Para desenhar o perfil tipo dos criminosos habituals, Frias procura
descobrir neles características comuns, socorrendo-se para isso da anatomia,
da fisiologia, da anatomia patológica e até da psicologia, traçando assim uma
biotipologia. Na obra já citada, e a propósito da possibiÌidade de identificar es-
tes indivíduos pela sua peculiar anatomia, afirma: "Anatomicamente a classe
criminal traz impresso em casa um dos seus membros o cunho typico,
que profissões longamente exercidas teem o condão de gravar [...]."'
Trata-se de indivíduos que apresentam um 4specto grosseiro, rude, "es-
túpido, olhos oblíquos, pupilas desiguais, frequência das convulsões cronicas
dos músculos oculares, orelhas mal plantadas, nariz torcido, barbas raras,
fronte deprimida, cabelo escuro, abundante, pele amarela, aspecto feminino".l0
'Para Frias, seguidor de estudos de base estatÍstica, que lhe servem de mo-
delo e base, também as mulheres criminosas habituais têm caracterÍsticas
bem distintivas que as diferenciam das demais, salientando, em particular, a
desproporcionaÌidade visível a nÍvel das formas e do aspecto,'que pode ser
assustador e repelente.Ìr O autor revela, assim, a sua adesão à ideia de que
é possível conhecer a personalidade do indivíduo por meio dos seus traços
fisionômicos, bem como prever as principais marcas do seu carácter.l2
PaÍa além das particularidades anatômicas, Roberto Frias vai mais longe,
aludindo a estudos craniológicos e craniométricos realizados em crânios de
criminosos e que, na sua perspectiva, reforçam a ideia de singularidade destes
indivíduos relativamente aos outros membros da sociedade, além de revela-
rem semelhanças físicas e comportamentais com os nossos antepassados. Os
criminosos possuem traços distintivos que os aproximam dos selvagens, e o
crime não é mais do que um sinal da sua inadaptação às sociedades modernas.
Deste lnodo, o autor surge como defensor do atavismo ao estabelecer esta
proximidade entre o homem pré-histórico e o criminoso habitual, que se ma-
nifesta a nível fÍsico e comportamental, sendo o crime a sintomatologia deste
processo atávico.l3
tto ' Alexandro Patrício Lopes Esteves

Roberto Frias invoca estudos anatômico-patológicos para corroborar


o estigma do criminoso habitual, defendendo a existência de um conjunto de
enfermidades que, apesar de náo serem específicas dos criminosos, neles ocor-
rem com mais frequência, como, por exemplo, a hidrocefalia, a osteoporose ou
meningites, em resultado do seu atavismo. Órgãos como o coração, o fígado
ou os órgãos genitais apresentam também, em alguns casos, características
índícíadoras da sua pafticular biologia. Apoiando-se em uárÍos estudos que
revelam alterações na forma, no volume e na posição do coração e que podiam
corresponder a uma tipoÌogia diferenciada de crime, conclui que atrofias
deÍormaçÕes e maleitas ou determinadas características variam consoante o
refere
delito a que o criminoso está mais propenso. A título exemplificativo,
pelas
que a hipertrofia do fÍgado seria própria.de criminosoE que se destacam
ações de grande violência'la
Desse modo, a ligação que a escola italiana estabelece entre o indivÍduo
e um determinado perfil bioantropométrico, que o relacionam com uma práti-
ca delituosa específica, associada a um determinado estilo de vida,
facilitaria
na prevenção da
o trabalho das autoridades na identificação dos criminosos e
criminalidade. Todavia, Roberto Frias reconhece a fragilidade destas conclu-
perfeitamente
sões, já que vários criminosos célebres apresentam fisionomias
a inevita-
normais, isentas de estigmas, e, inclusive, alguns deles contrariando
biìidade de associação da Íeaìdade aos criminosos'ls
Sob o ponto de vista fisiológico, outras perturbações são comuns nos
criminosos habituais, como, por exemplo, a alienação mental e a epilepsia, a
papeira e a escrofulose, sendo, no entanto, indivíduos dotados de uma grande
capacidade para suportar a dor. Sob o ponto de vista psicológico, também
apresentam singuÌaridades, nomeadamente uma maior predisposição para a
depressão moral ou intelectual, a imbecilidade ou a estupidez. Apoiado nas
ideias lombrosianas, Frias atribui ao criminoso habitual uma acentuada insen-
sibilidade moral, considerando-o incapaz de destrinçar entre o bem e o mal. c
que suscita a questão da desresponsabilização moral.
De entre as causas que impelem o criminoso habitual ou profissiona.
para a prática de atos delituosos, Roberto Frias destaca as cdusos indiuiduaís
designadamente a má educação ou a falta dela, as deformidades e as doenças
transmitidas hereditariamente, o alcoolismo, as doenças orgânico-físicas
como a alienação mental, os traumatismos acidentais, além de outros, como (-
género, a idade e a alimentação.
Para além das causas individuais, há outros factores que impelen-.
o indiúduo para o crime: as causas sociais, que incluem as reuoluções e ú
ciuilizaçã.o, no âmbito das quais assume particular impacto na sociedad.
Delíto e puníçao: o discurso médìco, o crime e os críminosos em Portugual na segundo mel.tade do século XIX 127

a crença na regeneração e na reabilitação, atravéS da moral e da religião, "de


unidades eiuadas do pecado original",t6 podendo levar a uma degenerescência
da própria humanidade; o militarismo, bem como a guerra em si e as formas
mais atrasadas de governação ou as emigrações. Todos estes fatores lançam o
homem na ociosidade e na miséria, e conduzem ao desequilíbrio das emoções
e dos sentimentos, potenciando o cometimento de crimes. Também os casQ-
mentos Se inserem nas causas desencadeadoras de instintos criminosos, pelo
que o autor chama a atenção para a ausência de quaÌquer tipo de legisla-
ção que impeça a reaÌização de casamentos consanguÍneos ou entre doentes,
o que facilita a proliferação de indiúduos degenerados.
A propósito da ciência mental, Frias admitia que os progressos registra-
dos tinham servido, sobretudo, para a desresponsabilização dos atos crimino-
sos praticados por indivÍduos considerados imputáveis ou por não cuÌpáveis
.Delas suas ações, e que, em vez de
serem punidos, eram devolvidos à socieda-
de, dando azo à reincidência na atividade criminosa. Ainda que de forma náo
explícita, sugere a ideia de uma espécie de seleção natural darwiniana, mais
tarde desenvolvida por Garofalo (1893), discípulo de Lombroso' que defendia
a eliminaçáo de todos aqueÌes que não se adaptassem às circunstâncias da
sociedade contemporânea, sendo o cometimento de crimes Sintoma dessa
inadaptação, pelo que os criminosos deviam ser aniquilados, o que implicava
o recurso à Pena de morte.lT
Por último, entre as causas que instigavam os criminosos habituais ou
Drofissionois à prática de atos deÌituosos, Roberto Frias salienta o que designa de
causas cósmicas, que englobam toda uma série de fatores de ordem telúrica e at-
*osfé.i.u, que podem influenciar o comportamento do indivíduo e a sua postura
perante os restantes membros do corpo social. Na sua perspectiva, o clima, a
temperatura, a humidade ou a secura do ar, condicionam não só comportamento
dos homens, como podem influir no destino de uma civilização inteira.
Podemos, assim, concluir que o autor se assume como seguidor das
concepções lombrosianas e da escola italiana, ao defender que o indivÍduo
apresenta a nível fisiológico, anatómico, patológico e psicológico característi-
cas que determinam o seu comportamento anormal e cuja identificação aiuda
a prever e a combater as práticas delituosas. No entanto, admite que' mesmo
em indivíduos tidos como criminosos habituais, existem causas exógenas que
favorecem a ocorrência dessas condutas. Ainda sublinha a relevância que é
concedida à famÍlia e à educação, ao ócio e à miséria, como elementos reve-
ladores de uma certa consciência cÍvica, que, de algum modo, encara o crime
como um problema social, e o criminoso não apenas como um Ser portador de
um determinismo biológico que condiciona as suas ações e as desculpabiliza,
naS também C0m0 Um hOmem que vive em sociedade e que reÍlete em si e
nas suas ações os problemas da mesma. A este propósito,
invoca os exemplos
doserviçomilitar,que,noseupontodevista,emvezdefuncionarcomoum
e em vícios que
tempo/espaço de disciplina, lança os jovens na vagabundagem
corrompiamaSuapersonalidade,edasprisõesquefuncionamComoverdadei-
ras escolas de crime.
Frias
como já referimos, a par do chamado criminoso habitual, Roberto
Trata-se, nesse
admite a existência do que ele apelida d.e criminoso de ocasiã'o'
caso, de indivíduos que, reÌativamente à sua anatomia e
fisiologia' se enqua-
quaisquer parti-
dram nos padrões normais, pelo que, verificada a ausência de
comportamentos
cuìaridades biológicas ou psicoÌógicas que possam explicar
que a dos criminosos
delituosos, a sua identificação torna-se mais difíciÌ do
habituais.
RobertoFriasconsidera,então,queaSaçõesdessesindivíduosnãosão
que não nascem naturalmente
reguladas por um determinismo biológico, dado
náo age por livre-ar-
criminosos. Todavia, continua a defender que o homem
a ocorrência de
bitrio, nem é criminoso porque o deseia. como explicar entáo
por base o Ìivre-arbritio?
desvios ocasionais no seio da normalidade, não tendo
Segundoele,o.indivíduotidoComonormalpodeserimpelidoparaocrimeou
que ele
comportamentos delituosos devido a um conjunto de circunstâncias
sociots e cósmicas' Ãs
agrupa em três núcleos distintos: causas indiuiduais,
causasqueservemapenasdealavancaparaocriminosohabitual,exercemum
papelpreponderanteparaodesenvolvimentodecomportamentosdesviantes
em indivÍduos considerados normais'
Noconluntodosfactoresindividuais,destacaaidade,osexo'osestados
civiì
orgânicos, as profissões, os alimentos, os vícios, as intoxicações, o estado
e a instrução.
No que diz respeito à idade, considera que o período entre os 15 e 20
já que os indi-
anos é especialmente propenso para o cometimento de delitos,
que
víduos Se encontram na pÌenitude do seu vigor físico. Defende, no entanto,
na
existem crimes específicos de determinadas faixas etárias. Por exemplo,
adolescência são mais comuns determinados crimes, como roubos, atentados
vai
contra o pudor ou violações. À medida que a idade avança e o criminoso
perdendo vitalidade física, a tendência aponta para uma actividade deÌituosa
mais refinada, mais siÌenciosa e por vezes também mais perigosa.l8
Quanto ao sexo, Roberto Frias considera que existe uma variação dos
crimes praticados de acordo com gênero, estando alguns delitos associados ao
sexo masculino, sobretudo aqueles que exigem maior destreza a nível físico, e
outros, que acha mais astuciosos e manhosos, que são tipicamente femininos.
Delito e puniçao:o discurso médico, o uime e os uiminosos em Portuguol na segundo metode do século XtX 129

-itenta, aliás, que existe no sexo feminino uma predisposição natural para
:.:nes contra a propriedade, bem como para o envenenamento, o infanticídio
-, aborto. Quando pratica o crime de homicídio, a mulher, geralmente, não
:.ìiza qualquer arma, mas recorre sobretudo ao veneno, que se adequa mais
sua forma de ser, tida como dissimulada e matreira. Por outro lado, a crimi-
,iidade feminina é limitada pela sua personalidade e compleição física, bem
_'mo pelo seu quotidiano, já que as suas vivências diárias revestem um maior
..dentarismo quando comparadas com as do sexo masculino. Segundo Frias,
is estatÍsticas da época, referentes a diversos paíSes, não refletiam a verdadei-
ra participação da muÌher em atos delituosos, devido à natureza dos mesmos,
pois trata-se de crimês mais fáceis de encobrir, o que faciÌitava a ausência de
informação rigorosa junto da opinião pública, a distorção dos números das
estatístlcas e a fuga das maÌhas da justiça.
A prostituição é apontada como uma das principais responsáveis pela
oarticipação da mulher no universo da criminalidade. Mulheres que exerciam
diversos ofícios, como costureiras ou criadas de servir, não tinham qualquer
pejo em entregar-se à prostituição clandestina. Tal circunstância permite esta-
belecer a ligação entre a prostituição e a criminalidade, alicerçada nos estudos
invocados pelo autor, que revelam uma maior tendência para a reincidência na
ação delituosa por parte dos elementos do sexo feminino.le
Roberto Frias defende que, além do sexo e da idade, também a personali-
dade ou o estado de espírito, ou até o estado de saúde, podem interferir na rea-
lização de actos criminosos. No caso das mulheres, a menstruação ou a gravidez
são estados orgânicos que influenciam a sua predisposição para o crime.
No que respeita às profissões, não considera que a profissão em si
conduza à prática de transgressões, mas entende que o meio em que se desen-
volve e as condições de vida que proporciona influenciam os comportamentos
do indivÍduo. Refére as profissões de cocheiro e estalajadeiro como sendo as
mais atreitas ao vício do álcool, embora considere a vida militar como sendo a
que mais favorece a criminaìidade. Outras atividades que propiciam compor-
tamentos criminais são aquelas que colocam os mais carenciados em contato
com classes sociais mais abastadas, como é o caso dos camareiros, bem como
as que implicam o isolamento sexual ou social, as que proporcionam o contato
com sangue ou o manuseio de instrumentos passÍveis de utilização em atos
delituosos, como acontece com carniceiros, pedreiros e ferreiros, e aS que
permitem o contato com produtos químicos e farmacêuticos, como sucede
com médicos e farmacêuticos.2o
Roberto Frias defende que também a alimentação interfere no compor-
tamento dos indivíduos, adiantando que uma dieta composta essencialmente
130 Alexondra Patrícia Lopes Esteves

por vegetais é a mais adequada para controlar e amansar os espíritos mais


voláteis e atreitos ao vício e à corrupção moral. No campo dos estimulantes,
considera o álcool como um vÍcio pefigoso, capaz de despertar as paixões e
os sentimentos.mais recônditos e abalar os espÍritos mais serenos. Mas outros
vícios produzem efeitos maÌéficos a nível fÍsico e moral, como o ópio, o haxixe
ou o tabaco. Todos'estes factores instigam comportamentos marginais e delin-
quentes ao libertarem o indiúduo de constrangimentos de toda a ordem'21
outro fator que interfere na conduta do indivíduo é o estado civil, já
que a estabilidade afetiva e emocional favorecem necessariamente uma maior
acalmia de espÍrito e uma espécie de domesticação comportamental.22
No que diz respeito à educação, Roberto Frias não está completamente
de acordo com o pressuposto de que a instrução funciona como elemento
dissuasor de comportamentos criminosos, dado que é necessário destrinçar a
inteligência da moralidade, não havendo a garantia de que no mesmo indivÍduo
perspectiva,
estes dois aspectos caminhem no mesmo sentido. AIiás, na sua
alimentar, por meio da instrução, a inteligência de um indivíduo sem moral e
educação, significa contribuir para que este aprenda técnicas mais rebuscadas
e perniciosas de crime, dificultando a sua detecção e captura'
Para além das causas individuais, é apontado um conjunto de causas
sociais que influenciam o indivíduo e podem lançá-lo em comportamentos
marginais, delinquentes e criminosos. Dentro destas Causas tidas como sociais,
coloca a ciuilização, considerando que, à medida que esta avança' aumenta,
concomitantemente, o número de delitos, bem como o número de alienados
mentais. Esta evidência pode ser explicada pelas alterações registradas no
pe.'
domínio da legislação que foi sendo produzida, pelas mudanças no campo
nal, bem como pelo desenvolvimento de meios de policiamento mais eficazes'
Mas, por outro Ìado, o desenvolvimento civilizacional faz com que a riqueza
concentrada em uma pequena percentagem de indivlduos que compõem o
corpo social seja ambicionada por uma maioria, que, não tendo acesso a ela
de forma lícita, tenta obtê-la por meios ilícitos é criminosos. A civilização, à
medida que se desenvolve, assume determinadas incongruências que alimenta
em
e que conduzem ao aumento dos delitos e de comportamentos desviantes,
resultado dessas mesmas contradições.23
A publicidade é outro factor que influi no indivíduo em termos compor-
tamentais, já que existe no ser humano a tendência para imitar determinadas
in-
ações praticadas por outrem, desde as mais básicas até as mais exigentes
pelo espaço/
telectualmente. Assim, a conduta humana é condicionada não só
meio em que se desenvolve, mas também pelo contato com outros indivÍduos'
Daí que certos lugares, frequentados por indivíduos de Índole duvidosa,
devem
Delitoe puniçoo:o discurso médico, ocrime eos.criminosos em Portugual na segunda metade do século XIX 131

:.r evitados. Ainda nesse campo, salienta o papel pernicioso da imprensa e da


:eratura na difusão de crimes hediondos e perversos' por vezes descritos ao
I rìÍrÌì€lo1r e que podem suscitar no indivíduo inclinações e comportamentos
-..enos próprios, por via da tendência para a imitação.
Por último, no âmbito das causas sociais, Frias coloca as crises, des-
:acando as de ordem financeira, que, embora afectem Sobretudo os mais
:)astados, tendem a propagar-se socialmente, e as alimentares, que fustigam
:specialmente os mais carenciados. Estas crises provocarão inevitavelmente
_, desenvolvimento de contextos propícios ao aumento de crimes contra a

lropriedade.24
O terceiro e último grupo de causas que condicionam o comportamento
.ndiüdual inclui aquelas que Roberto Frias designa de cósmicos, e que englo-
5am o clima, sugerindo que nos países de clima quente o número de crimes
.ometidos é superior ao que se verifica nos paÍses em que as temperaturas São
:Ìtais baixas. Todaüa, nestes verifica-se um maior número de crimes contra a
Dropriedade, ao passo que nos países de clima mais quente predominam os
crimes contra pessoas. Considera ainda que a prática de delitos varia conforme
a estação do ano, sendo a primavera uma época de especial incidência crimino-
Sa. No verão, cometem-se mais crimes contra peSSOaS, aO passo que no inverno,
quando OS reCurSOS tendem a eScaSSeÍü, ocorrem mais crimes contra a proprie'
dade. As tempestades, os terremotos, os incêndios, também contribuem paÏa a
íormação de contextos que instigam à prática de determinados crimes' uma vez
que a elevada mortandade provocada por essas calamidades pode fazer com que
os sobreüventes não olhem a meios para alcançar o luxo e a riqueza.25
Roberto Frias considera, portanto, que o criminoso ocasional é condi-
cionado na sua ação por fatores de ordem física e social, colocando, desse
modo, em causa a noção de Ìivre arbítrio e indo de encontro à escola posi-
tivista italiana, em particular às ideias de Enrico Ferri, aluno de Lombroso,
que, embora seguidor das teorias do seu mestre, afasta-se dele ao defender a
ideia de uma maior preponderância de factores de ordem econômica, polÍtica
e social para explicar o desenvolvimento da criminalidade.26
Importa ainda salientar que, ao longo da sua dissertação, Frias tem como
objetivo encontrar justificativas de ordem científica para explicar o compor-
tamento criminoso e os crimes em si, de forma a alcançar um conhecimento
objetivo e preciso de realidades que se pretendem não apenas combater, mas
também evitar através da adopção de medidas preventivas.
Júlio de Mâtos, um outro adepto, em Portugal, da doutrina preconizada
peÌa escola positiüsta, na sua obra a Loucura, editada em 1889, alude à respon-
sabilização/desresponsabilização moral dos alienados. AÌega o desconhecimento
t5t Alexondra Potrícia LoDes Esteves

do alienado sobre o real significado da lei, embora a conheça, e que, apesar


de ter a noção de transgressão, não a compreende, e por tal não se sente
impulsionado a obedecer a essa mesma lei. Assim sendo, defende a desrespon-
sabilização dos alienados, colocando-os no mesmo patamar que os seÌvagens e
animais. Por força da punição, os alienados podem obedecer, mas são incapa-
zes de entender o sentido da punição. Por consequência, as penas vulgarmente
aplicadas a um indivÍduo normal são entendidas pelo alienado como um castigo
e náo como uma condenação pela transgressão de determinada norma, o que
explica a reincidência de crimes cometidos por estes indiúduos.
Na mesma obra, Júlio de Matos defende a ideia, apoiada em estudos
de âmbito estatístico, de que nem todos os tipos de alienação apresentam a
mesma tendência para o desenvolvimento de comportamentos criminosos,
assumindo especial destaque a loucura epiléptica e a loucura moral.27
Divide os alienados criminosos em duas classes distintas: os alienados
criminosos, que apresentam caracteres degenerativos, nos quais o cometimen-
to de crimes constitui um ato meramente ocasional, à semelhança de um indi-
víduo mentalmente estável, e os alienados criminosos, que revelam caracteres
degenerativos transmitidos, fundamentalmente, por via hereditária, para os
quais o cometimento de crimes constitui um sintoma da sua própria degenera-
ção, cabendo neste grupo os imbecis, os epiÌépticos e os loucos morais. Assim,
no caso dos alienados do segundo grupo, o crime não é mais do que uma
manifestação inerente ao próprio estado mental em que se encontram. Júlio
de Matos define-os como "indiuíduos lúcidos muitas uezes inteligentes, ostutos
sempre",28 que desconhecem as leis morais, são desprovidos de afetividade e
de sentimentos altruístas, com tendência para a irritabilidade e frieza, o que
ajudará a explicar a prática de crimes de extrema violência e crueldade.
Os alienados criminosos que apresentam caracteres degenerativos
sÒfrem de perturbações que afetam a sua consciência diante de noções de
moraÌidade e sentido ético das ações, sendo difícil demonstrar a sua inimpu-
tabilidade nos tribunais, acabando, por isso, muitos deles condenados à pena
capital ou encerrados em prisões, em vez de serem internadosem asilos ou em
'
hospitais para aÌienados.
Na perspectiva de Júlio de Matos, os magistrados não estavam, em
finais da centúria do oitocentos, devidamente informados sobre a patologia
1

da loucura, bem como as suas variações de sintomatologia e formas de re-


presentação, o que dificultava a intervenção dos facultativos no sentido de
fazerem valer os seus exames e concÌusões e persuadir, perante a barra dos
tribunais, os magistrados da inimputabilida.de dos doentes mentais e da in-
fluência que as perturbações psÍquicas podem exercer sobre a conduta de um
Delitoe Dunicão: odiscurso médico,o críme eos criminososem Portugual no segunda metadedoséculo XIX 133

dado individuo.2e Não raras vezes, eram infrutÍferas as tentativas por parte de
médicos e psiquiatras para explicar que determinados crimes são motivados
pela ausência de faculdades morais e que os seus autores não transgridem leis
nem cometem atos delituosos por vontade própria, mas apresentam uma pre-
disposição inata, transmitida hereditariamente, para a execução dessas ações.
Assim, só conseguirá detectar Os sinais dessa predisposição e fazer o diagnós-
tico correcto quem para tal estiver devidamente habilitado e, dessa forma, ser
capaz de reconhecer os sintomas, ou seja, os médicos e psiquiatras.
Um sinal revelador de uma aproximação à escola positivista italiana
constitui a crítica que, na sua obra, Júlio de Matos faz aos códigos penais, que'
na sua perspeçtiva, baseiam a aplicação da pena apenas na responsabilidade
moral do indivÍduo, não tendo em devida conta influências exógenas que
contribuem para condicionar ou até mesmo explicar a sua ação criminosa,
defendendo, por isso, a individualização das penas.
Segundo os positivistas, os códigos penais oitocentistas assentavam
em noções metafÍsicas, como as de livre-arbítrio e responsabilidade moral,
sendo a pena uma espécie de castigo, cuja finalidade seria não apenas punir,
mas também regenerar, partindo do pressuposto de que o indivíduo prevari-
cou porque quis, o que na ótica positivista era errado e não tinha qualquer
sustentabilidade científica.3O Segundo Júlio de Matos,'que acolhia esse ponto
de vista, a ideia de inimputabilidade e não responsabilidade moral não era ver-
dadeiramente entendida por magistrados e júris, que a encaravam con-ìo uma
mera tentativa de descuÌpabilizaçâo, que poderia colocar em risco a ordem
social ao inocentar indivíduos a pretexto de uma suposta alienação apenas
detectada por médicos e psiquiatras.
Júlio de Matos subscreve a posição de Lombroso e seus discípulos, ao
encarar o crime como uma doença, podendo o delito ser estudado cientifica-
mente, bem como os seus protagonistas, cujaS acções podem ser prevenidas.3l
Considera que, apesar da variação e relatividade do conceito de crime, uma
que determinados comportamentos proibidos em determinado espaço ou
tempo podem ser aceites como lícitos num outro contexto espácio-temporal,
existe uma perenidade a nível das causas que conduzem ao cometimento des-
ses mesmos delitos. Por outro lado, partilha com Roberto Frias aÌgumas das
causas que condicionam a atividade criminosa, como a emigração, o áÌcool, as
guerras, as revoluções, as catástrofes, entre outras.
Admite também o ponto de vista de Ferri, ao considerar que o crime
acaba por ser o resultado de um conjunto de causas sociais e cósmicas,
associadas a tendências hereditárias e aos impulsos que acometem os indi-
víduos.32 Na sua ótica, baseada nos trabalhos positivistas finisseculares, o
134 Alexondra Paúícia Lopes Esteves

crime, encarado como um fato natural, assenta em dois tipos de causas que
condicionam o indivÍduo: cduscs extrínsecas, que se dividem em cósmicas,
englobando aqui o clima, o solo e a altitude, entre outros' e em sociais, abran-
gendo variáveis como a religião, a situação econômica e polítìca; e as cousos
intrínsecas, que fazem parte integrante do indivíduo, como o sexo' a idade, a
raça, entre outras,33
No entanto, considera que nem todos os homens respondem do
mesm6 modo perante uma mesma adverSidade, ou perante a mesma Causa.
O criminoso tem de ter algo mais que o impele para o delito. Para entender
essa realidade, julga necessário atender às classificações de criminosos que
foram elaboradas, especialmente a produzida por Lombroso. Assim, taÌ como
Roberto Frias, defende a ideia de uma biotipoligia lançada por aquele autor.
Admite, então, a existência de criminosos tidós como ndfos, catalogados por
Frias de profissionais/habituais, que revelam um conjurito de caracteres anatô-
micos específicos, bem como patologias próprias, como meningites, doenças
cardíacas, vasculares e hepáticas e afecções nos órgãos, estômago e medula
espinhal, denotando ainda uma grande insensibilidade à dor.
' Quanto à personalidade, considera que o criminoso nato se caracteriza,
geralmente, pela ausência parcial ou total de afetividade e de senso moral, bem
como pela privação de sentimentos de remorso ou de piedade. Destaca, ainda,
o fato de se tratar de indivíduos agressivos, vingativos, preguiçosos, vaidosos,
amantes de vÍcios como o álcool e o jogo, com necessidade de exteriorizar os
seus feitos, por mais sórdidos que sejam, e, não raras vezes, adeptos de uma
religiosidade exacerbada. Os níveis de inteligência variam no criminoso nato,
mas todos eles apresentam uma grande ligeireza de espírito. Estas caracterís-
ticas reúnem-se todas no mesmo indivíduo, associados a caracteres atávicos e
patológicos que são transmitidos pela via hereditária.3a
Júlio de Matos considera de primordial importância a conclusâo a que
chegou Lombroso ao colocar no mesmo patamar o criminoso nato e o louco
moral ou epiléptico. Defende uma classificação que, para além do criminoso
nafo, compreende o criminoso louco ou quase louco, o delinquente habüual,
que considera antropologicamente criminosos, uma vez que suas ações são
condicionadas por causas essencialmente intrínsecas, o criminoso ocasional e
acriminoso de paixão, que, na sua perspectiva, são juridicamente criminosos,
sendo os seus delitos resultado de causas exógenas aos mesmos.
A partir daqui, Júlio de Matos lança mais um atague à escola clássica,
tida como eminentemente correcionalista, pondo em causa a possibilidade de
corrigir um criminoso nato por meio da aplicação da pena, quando este apre'
senta como uma das suas particularidades uma parcial ou total ausência de
D"lito e puniçao:odiscurso médico, ocrime eos criminosos em Portugual na segunda metode do séculoXlX 135

de punição
sentido moraì.Assim, para o médico, a pena com a finalidade única
cuja punição deve
taoÍazsentido, dado que exclui, à partida, o criminoso nato,
serlevadaacaboemnomedaordemsocial.Porconseguinte,consideraque
e adotar medidas
: sociedade, enquanto organismo vivo' deve defender-sefundamentais: ação
quatro ações
:mpeditivas contra o crime, preconizando
que tendam a minorar a
preventiva, que visa o desenvolvimento de meios
iendênciaparaosurgimentodecausascriminógenas;açõesreparadoras,que
visamaaplicaçáodepenaspecuniáriascomoobjetivodeindenizarasvÍtimas
eoEstado;aplicaçãodemeiosrepressivos;eaindaaçõeseliminadorasque
prevendo a aplicação da pena de
têm como objetivo pôr termo à reincidência,
morte, deportação e prisão perpétua'
DefendeJúliodeMatosqueocritériodeaplicaçãodapenanãodeve
mas ao tipo e natureza do criminoso'
estar subordinado à qualidade do crime,
devendoosdelinquentesocasionaissersuieitosapenasrepressivas,aopasso
queaoscriminososnatosouìoucosdevemseraplicadapenaseliminatórias'
dado que o seu afastamento é essen-
tendo em vista a proteção da sociedade'
cialparagarantiracoerênciaeoprocessodeevoluçãonaturaldasociedade,
A pena a aplicar ao louco deve
pelo que os inadaptados devem ser eÌiminados'
ser entendida não como um castigo' mas
sim como uma forma de a sociedade
se defender, o mesmo sucedendo com o
encerramento perpétuo de menores.
EmúltimaanáIise,estasmedidasvisamgarantiradeÍesadocorpussocialde
indivíduos cu!as ações são passíveis de corrompê-lo'
português, publica em 1889'
Basílio Augusto da costa Freire,35 médico
umaobraqueseinserenodomÍniodaAntropologiaPatológica,osCriminosos,
decÌarainspiraçãolombrosiana,ondediscorresobreocrimeeocriminoso.
que esta se reÌaciona à ideia da existên-
Critica a noçáo de livre-arbítrio, dado
ciadeumaresponsabilidadepsicológicaporpartedocriminoso,quealega
náoexistiremalgunssereshumanos,considerandoaindaqueexisteuma
componentefisiológicaquecondicionadeformaindubitávelaSSuaSacções'e
que tem de ser devidamente considerada'
Aliás,estemédicoreconhecequeaescolacriminalistaitalianadeixou
aosestudiososumimportantelegado:oprimadodoestudodocriminosoenr
o criminoso nato e o criminoso
detrimento do crime. Aceita a distinção entre
de caracterÍsticas físicas' psico-
de ocasião. Ao primeiro atribui um conjunto
Iógicasepatológicascombaseemconclusõesapresentadasporestudiosos,
que essas mesmas características
idênticas às traçadas por Roberto Frias' e
que o criminoso se encontra mais
variam de acordo com a natureza do crime a
propenso. Por exemPlo:
os assassinos, sobretudo, relevam-se pelo achatamento e pela estreiteza
da fronte, pela proeminência das arcadas supraciliares, pela energia da
face,.symetrica mas grosseiramente esculpturada, peìa frieza do olhar,
duro e violento, pela espessura dos lábios, peÌa largura da bocca, ener_
gicamente Íendida, pela altura do lábio superior, pelo prognatismo, pela
viciosa das orelhas largas, rudes e afastadas do craneo.r6

Partilha a perspectiva de que o criminoso nato é um ser insensível à dor,


dando o exemplo das tatuagens com que estes cobrem os seus corpos, e que a
par desta insensibilidade física apresenta também uma insensibilidade moral
que o impede de sentir remorsos ou piedade.
Defende, ainda, ideia de que o comportamento do criminoso está sujeito
a variações de ordem climática, e, tal como Frias, considera que esta circuns-
tância condiciona o tipo de delitos praticado: no inverno é cometido um maior
número de delitos contra a propriedade, no verão contra as pessoas. Assim, o
cometimento do delito não está apenas dependente de caracterÍsticas somáti-
cas, mas também de factores exteriores ao indivíduo.
Imbuído pelo positivismo da época e peÌo reconhecimento do priúa-
do da ciência sobre a religião, BasÍlio Freire, para além de negar a ideia do
livre-arbítrio, coloca em causa a possibilidade de reabilitação pela fé e pela
religiosidade, atribuindo mesmo a prática de alguns crimes à fé exacerbada.
Presumivelmente republicano este médico evidencia o convÍüo difícil da
ciência com certos postulados religiosos, no contexto positivista português
finissecular.3T vários criminosos apresentavam uma.grande fé, outros, como as
prostitutas, mostram cìaramente a sua religiosidade, apesar do tipo de delito
moral que praticam. A religiosidade excessiva era também considerada um
dos sintomas mais visíveis em um epiléptico e louco moral, cujos caracteres
físicos e psicológicos pouco se distinguiam dos criminosos instintivos.
Basílio Freire defende que a religião não regenera ou.melhora o indiví-
duo, antes o protege, e, tal como Roberto Frias, também entende que o celibato
dos religiosos pode conduzir a comportamentos degenerativos e anormais,
resultado de uma mescla paradoxal de pensamentos religiosos e lascivos de
forma concomitante em uma mesma mente.38
Quanto à capacidade intelectual do criminoso, considera que este é
acima de tudo preguiçoso, o seu cérebro não reage a estímulos externos, não
tendo qualquer tipo de curiosídade, muito menos científica.3e A linguagem uti-
lizada - o calão - é pobre, em resultado dos horizontes limitados apresentados
pelos indivíduos que se movem na esfera do crime, servindo para comunicar
entre si e para enganar a polÍcia.
o discurso médico, o üíme e os crimÌnosos em

Ao abordar as características próprias dos criminosos, Freire expõe os


pontos de vista lombrosianos sobre a caligrafia' que varia consoante a nature-
za do criminoSo. Segundo as conclusões obtidas através de estudos baseados
na observação da caligrafia dos criminosos conclui-se o seguinte:

o Typo calligraphico dos homicidas e salteadores parece constituído


pela forma alongada e curvilínea, gladiolada, firme, das lettas, termi-
nadas algumas vezes em Íorma de colchete, e pelo do t que é forte ou
prolondado.'''

Apoiante da teoria do atavismo, suportada pela escola da Antropologia


Criminal italiana, encara o criminoso instintivo um representante de um pro-
cesso regressivo, quer em termos sociais, quer biológicos, patenteado
por um
conjunto de caracteres fisiológicos específicos que o aproximam do homem
primitivo. Esses estudos realizados por criminólogos do século XIX tinham
como objectivo evidenciar a existência de características comuns entre crimi-
nosos, homens pré-históricos e representantes de tribos em estado primitivo'
A presença desses caracteres atávicos, associados à sua incapacidade
de acompanhar uma sociedade em processo evolutivo, explicam o desenvolvi-
mento por parte destes homens de comportamentos delituosos, que se tornam
constantemente reincidentes e, por isso, a criminalidade não para de aumentar
nas sociedades ocidentais. Vários são os pontos de aproximação apontados en-
tre os seÌvagens primitivos, que se encontram atrasados no patamar da escala
evolutiva, e os criminosos, como a embriaguez, a falta de pudor, ou ausência
de afeto.
Para BasÍlio Freire, os caracteres fÍsicos e psíquicos de um indivíduo
normal pertencente a uma tribo ou raça considerada inferior em termos
evolutivos estão presentes, em várias circunstâncias, nos criminosos sob a
forma de estigmas e anomalias reveladoras da sua inferioridade, dado que os
indivÍduos selvagens, estudados pela Antropologia Física, eram considerados
menos evoìuídos em termo civiÌizacionais.
Apesar de admirador confesso da Lombroso, Freire admite a existência
de algumas fragiÌidades no que diz respeito à existência de um tipo antro-
pológico criminal, nomeadamente no que concerne aos estudos estatÍsticos
realizados. Lança a dúvida Sobre as amostras estudadas: Seriam suficientes os
indivíduos que apresentam caracteres anormais para se falar de uma estigma-
tização própria dos criminosos? vai mais longe, ao considerar que a própria
que
categoria de tipo, que define como "[...] coniunto de caracteres communs
n'um povo possam apreciar-se e destacar-se no vivo, no cadáver, no esqueleto
t38 Alexondro Potrício Lopes Esteves

e.esçeciatrnente. (\o c(à(Leo. eo( todos estes etocessos de anatyse de cçue a


ciência dispÕe [...]"0' necessita de ter em conta a mistura dos povos que se
foi realizando por meio da reprodução ao longo dos tempos e que conduziu,
obviamente, à fusão de características distintas entre os mesmos. Desse mo-
do, é difÍcil falar de tipo ou raça como realidades absolutas, devendo estas ser
encaradas, segundo Freire, como médias, o que pode inviabilizar o conceito
de tipo antropológico criminal preconizado por Lombroso. Defende que, para
Se taÌar de um tipo criminal, é necessârio encontrar no criminoso anomalias
específicas, distintas das presentes nos degenerados. Basílio Freire, como o
próprio Lombroso, sustenta que essa diferença não existe, admitindo que os
criminosos natos não se distinguem dos loucos morais e epilépticos.42 Essa
aproximação entre degenerados e criminosos é visível a nÍvel dos caracteres
fÍsicos, das patologias e da importância da hereditariedade.
Sustenta que o crime é antes de mais o resultado de uma ação cerebral,
embora reconheça que um criminoso pode sèlo sem apresentar especificida-
des físicas que o revelem, ao passo que certos indivíduos tidos como normais
podem ter características semelhantes às dos nossos antepassados ou às dos
selvagens sem terem qualquer tipo de tendência para comportamentos crimi-
nosos.43 Daí que aponte algumas imprecisões, ou pelo menos não certezas, na
teoria da regressão atávica.
Na tentativa de expìicar os comportamentos criminais, e, para além da
teoria da regressão atávica, Basílio Freire também expõe na sua obra a teoria
da paralisação infantil, segundo a qual existem semelhanças evidentes entre
uma criança, um selvagem e o criminoso, a nível físico, psicológico e de per-
sciralidade. Desse modo, o criminoso Seria encarado como um indivíduo que
estagnou na infância e não conheceu um processo de evolução, mantendo
os mesmos comportamentos pueris, como a ausência de pudor, a teimosia,
a crueldade, o gosto pelo jogo, a malÍcia, a ausência de afetos, entre outras.aa
Esta teoria considera que existiu trma suspensão no processo evolutivo do
indivÍduo, que permanecerá perpetuamente em um estado físico e orgânìco
que por norma devia ser transitório. A criança meiga e dócil de obras do llumi-
nismo Setecentista dá lugar a um ser cujos comportamentos se aproximam do
homem pré-histórico e do selvagem'
para BasÍlio Freire, a expÌicação para a criminalidade reside na confluên-
cia de duas teorias: a atávica e a da queda degenerativa. Atribui particular im-
portância a dois elementos na constituição do indivíduo: a hereditariedade e a
variabilidade. Segundo este autor, os povos, as raças e os indivíduos tendem
a misturar-se, a fundir-se e a conhecer transformações nos seus modos
de vida,

o que, por sua vez, conduz a rnodificações, fazendo com que a hereditariedade
o discu6o médico, o cilme e os üimtnosos em

se não houver
atue, mas de forma diversa. No entanto, se isso não acontecer,
cruzamentos, não há variabiÌidade, apenas impera a hereditariedade, o que
conduz ao ataüsmo e à degenerescência'
Basílio Freire impõe-se como defensor de um determinismo biológico'
resultantes
considerand o o criminoso instintiuo um degenerado, com estigmas
do atavismo que o aproximam do homem prêhistórico ou de um selvagem,

embora esse grau de aproximação varie. Cabe à sociedade


encontrar os
imune desta degene'
mecanismos de preservação necessários para se manter
defensor da
rescência e não ser corrompida. No entanto, não se assume como
penademort.e,avançandocomumaoutrasolução:areclusãoperpétuados
criminosos instintivos em casas de correcção'
reveste
Apesar do caráter hediondo e bizarro que contemporaneamente
que apresenta uma
a formulação da ideia de que o criminoso é Um indivÍduo
dadabiotipologia,quecondicionaoSeucomportamentoeoimpeleparao
um campo de
crime, não se pode negar o mérito de Lombroso, por ter aberto
estudo, pese embora estas ideias terem raizes no século
XMII, com Lavater
germina através de
e Joseph Gall, fundador da frenologia,a5 que ainda hoje
estudos biológicos que sáo levados a cabo para explicar comportamentos
antissociais.
de
Ainda em finais do século xx, a escoÌa positivista italiana será alvo
que a fará mergulhar no
inúmeras críticas, pelas suas falácias e incoerências, o
suas premissas' uma das crÍticas apon-
deserto do esquecimento algumas das
o próprio delito,
tadas aêst4 teoria do deteiminismo biológico prende-se com
já qud não se trata de um realidade abstracta como defendiam os positivistas
que o crime varia,
italianos, mas é antes de mais um conceito relativo, uma vez
quer a nÍvel espacial quer temporal'46
positivis-
Apesar das críticas e dos reparos feitos à antropologia criminal
as suas teorias
ta, esta manteve em PortugaÌ vários seguidores, mesmo após
continuavam
terem caído em.descrédito. Vários autores, sobretudo médicos,
veiculados por esta
a procurar impor os princípios teóricos e metodológicos
escoÌa.47

Notas
r Doutoranda em História pela Universidade do Minho - Portugal. Bolsista da Fundação para a Ciência e

Tecnologia de Portugal.
2 segunda metade do século XlX. Lisboa:
consulte-se vAz. Maria Joáo. crime e sociedade: Portugal na
Celta, 1998. P.63.
3 Veja-secuSsoN,Maurice.crlminologio.Lisboa:casadasLetras,2006.p.66-67.
, em Portugal, consulte-se PINÀ Luís' A antrophologia
sobre o desenvolvimento da antropologia criminal
portugat. Sintese histàrica]ln: CONGRESSO DO MUNDO PORTUGUÊ5' 1940' Lisboa' Anais"'
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ordem:justiçapena|,crimina|idadeepo|íciasécu|osX|X.XX.Lisboa:[s.nJ,2006.p.67-88.
6Em1840,1uísdePinaexa|taRobertoFriasporseroprecursordopensamentoIombrosianoemPortugaI
MUNDo PoR-
àortugal.Síntese histórica. In: CoNGRESSo Do
(plNA, Luís. A antrophotogìa crlminat em
1940' p' 687)'
TUGUÊS, 1940, Lisboa. Anors." Lisboa: [s'n]'

ToutrostrabaIhosforamapresentados,entrefinaisdosécuIoX|Xeprimórdiosdenovecentos,naEsco|a
Médico-CirúrgicadoPorto,quevisavamtemáticasre|acionadascomocrimeeasprisóes,dequesão
pereira, intitulad a As prisoes, apresentada em 1881; de sérgio
exemplo as dissertaçoes oá loao Antónia A tatuoqem
gerais\, de 1902; de Álvaro Teixeira de Bastos'
Moreira da fonseca. o crime (consideraçoes oliveira intitulado, o Problema
1g03 e o trúalho de Manuel José de
dos criminosos.pr"r"nr"á.
Lombroso (Estudo
",
críil;;;e a teoria atávica
bio-sociologia) sobre do crime, de 1904 (coRRÊA, A' A'
de
Mendes.AEsco|aAntropo|ógicadoPo.rtuense.In:CoNGRESSoDoMUNDoPORTUGUÊs,1940,Lisboa.
' Anaisi;...Lisboa: [s.n], 1940' p'619-626)'
2007' p' 129'
8 Dicionório de criminologio' sáo Paulo: Ícone'
Leia-se sANTOS, Gizelda Maria Scalon seixas.
, a systematisação da criminaIidade' Porto: Typ. A|exandre da
FR|AS, Robert. o crlrne: apontamentos para
Fonseca Vasconcellos, 1880' P' 15'
ro lbid., p.l6.

'1 lbid., P.16.


definiçáo desta forma de conheci-
r2 Estetipo de conhecimento designa-se fisiogn91i1, Para uma melhor
Maria Scalon seixas' Dicionáriodecriminologio'
au tr"nãrogi."uela-se sRúTos, Gizelda
mento precursor"
São Paulo: ícone, 2007' P' 102'

13Sobreoatavismoeretratodocriminosolombrosianoveja-seCUSSON,Maurice.Criminologia.Lisboa:
Casa das LetÍas,2006' P'6O-62'

14FR|AS,Robert.ocrime:apontamentosparaasystematisaçãodacrimina|idade'Porto:Typ'A|eXandreda
Frnseca Vasconcellos, 1880' P' 19'

" lbid., P.20-21.


da
da criminalidade' Porto: Typ' Alexandre
ró FRIAS, Robert. o crime: apontamentos para a systematisaião
Fonseca Vasconcellos, 1880' p' 38-39'
das ligações entre o psicologia e o direito
,7 Leia-se PAIS, Lúcia Maria de Sousa Gomes Gouveia ' lJma história
emPortuga|:períciaspsiquiátricasmédico-|egaise.períciassobreapersonaIidadedosanaIisadores'Tese
p'110{11'
(Doutorado)-FaculdadetePsicologiaeCiênciasdaEducação'Porto'2004
rsFR|AS,Robert.ocriÍne:apontamentosparaasystematisaçáodacrimina|idade'Porto:Typ'A|exandreda
Fonseca Vasconcellos, 1880' p' 50-51 '
l,FRlAs,Robert'ocrime:apontamentosparaasystematisaçãodacriminaIidade.Porto:Typ.A|exandreda
880' p' 51 -54'
Fonseca Vasconcellos, 1

D tbid., p.56-58.

'?] lbid.,
p.58-64'

" lbid., P' 64-65' '


,3FRlAs,Robert'ocrime:apontamentosparaasystematisaçãodacriminaIidade.Porto:Typ.Alexandre-da
Fonseca Vasconcellos, 1880' p'73-77'
Delitoepuniçoo-odìscurso médíco,oÜimeeos ariminososem Pottuguol na
segunda metode do séculoxtx 141

,o FRIAS, Robert. O crirne: apontamentos para a systematisaçáo da criminalidade' Porto: Typ' Alexandre da
Fonseca Vasconcellos, 1 880. p. 80-81 .
r5 lbid., p.84.

ró Sobre o pensamento de Ferri consulte-se PAIS, Lúcia Maria de Sousa Gomes Gouveia ' Uma histório das
psiquiátricas médico-legais e perícias sobre
ligações entre a psicologia e o dìreito em Portugal; perícias
i-pËrsonatidaae dos aÃalisadores. Tese (Doutorado)-Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação,
Porto,2004. P. 108{09.
:. cu ra. s. Paulo: Teixei ra e rmão, 1 889. p. 237 -238.
consuf te-se MATOS, Júlio de . A lou I

: Yeia'se lbid', P' 241.

2e Confirme-se lbid., P.295-297'


s0Consufte-se,CUSSON,Maurice'Criminologia'Lisboa:CasadasLetras'2006'p'68-70'
lrmáo' 1889' p' 307'
3' Coófirme-se MATOS, Júlio de'Aloucuro'S Paulo:Teixeira e
Paulo:Teixeira e lrmáo' 1889' p' 311'
" Veja-se MATOS,Júlio de'Aloucura'S'
33 Confirme-se lbid', P' 313'
3a Leia-se lbid'' p'323-325'
I na universidade de coimbra' em
1885' intitulada
rs Basílio Freire apresentou a sua tese de doutoramento
osDegenhrados,ondetraçaumapredominânciadedeterminadasma|formaçõesfísicasemindivíduos
1885)'
Coimbra: Universidade de CoimbÍa'
degenerados (FREIRE, Y^'itio'O' d'g'nerados'
da Universidade' 1889' p"I89{90'
16 FREIRE, Basíli o.Osctimnosos' Coimbra: lmprensa
]TConsulte-seP|NA,AnaMaria.Criminosos,criançasese|vagens.Ama|dadehumana,nacu|turaportu-
itX' Ler História'Lisboa'.n' 53' p' 121-122'119--)'
guesa, no ocaso Oo
'"t'io Universidade' 1889' p' 100-103'
r8 FREIRE, Basílio. Os c4mlnosos' Coimbra: lmprensa da

jFREIRE,Basílio.Oscdminosos'Coimbra:lmprensadaUniversidade;1889'p'106-108'

,r tbid., p. 123.
,,FRE|RE,Basílio.oscriminosos.coimbra:lmprensadauniversidade'1889'p'190'

': lbid., P. 191'


': lbid., P. 197.
" lbid., P' 199.
.:Afreno|ogiafoifundadape|omédicoeanatomistaFranxJosephGa||.osfrenó|ogosavaliamocarácter
sobre o crânio'
do indivíJuo através deestudos realizados
p' 63'
Veja-se, CUSSON, Maurice' Cri
minologio'Lisboa: Casa das Letras' 2006'
"
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