Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
3ª Unidade
Criminologia Positivista
1
Conteúdo Programático:
➢ Criminologia Positivista:
5. Criminologia Crítica.
1MOURA, Esmeralda Blanco B. de. Prefácio. In: FERLA, Luis. Feios Sujos e Malvados Sob
Medida: A utopia médica do biodeterminismo (1920-1945). São Paulo: Ed. Alameda, 2009, p.
10.
2
1. Etimologia do termo Criminologia.
2 CALHAU, Lélio Braga. Resumo de Criminologia. 5ª ed. rev. e ampl. Niterói/Rio de Janeiro: Ed.
Impetus, 2009, p. 7.
3 FERLA, Luis. Feios, Sujos e Malvados sob Medida: A utopia médica do biodeterminismo. São
3
seja, o “eixo doutrinário dos clássicos se consolidou em torno das idéias de
Beccaria, Bentham e Von Feuerbach, associando o crime ao livre arbítrio, a
uma escolha do indivíduo, portanto assumindo, a partir disso, um discurso de
culpa e punição. As causas do crime e do comportamento desviante deveriam
ser encontradas na relação do indivíduo com a sociedade, e o fato do crime
seria a ruptura do contrato social. A ação era o objeto privilegiado da Escola
Clássica, não o sujeito da ação”.5
4
A obra mais influente de Cesare Lombroso, que estabeleceu os marcos
doutrinários da nova Escola, então denominada Criminologia Positivista, foi O
Homem Delinquente, publicada em 1876. “Nela, Lombroso desenvolveu a
teoria da origem atávica do comportamento anti-social e apresentou o
personagem que traria popularidade e controvérsia a suas teorias: o criminoso
nato”.6
O atavismo observa Ferla, “seria o reaparecimento, em um descendente,
de caracteres não presentes nos ascendentes imediatos, mas nos remotos.
Quando Lombroso escrevia o Homem Delinquente, o evolucionismo já gozava
de estatuto de paradigma científico, ainda que experimentasse múltiplas
interpretações e aplicações. “(...) Sempre posicionando o homem branco
europeu no começo da fila, os cientistas lançavam à tarefa de hierarquizar as
raças humanas”.7
Lombroso, com seu característico antropocentrismo, “iria buscar em
cada fase evolutiva sinais e manifestações da atitude criminosa, sob o ponto de
vista da civilização branca europeia. O que surpreende é a ousadia, para seus
próprios contemporâneas, de iniciar este percurso, logo no começo de seu
livro, pelas plantas carnívoras”. Segundo o médico italiano:
6 FERLA, Luis. Feios Sujos e Malvados Sob Medida: A utopia médica do biodeterminismo
(1920-1945). São Paulo: Ed. Alameda, 2009, p. 26.
7 FERLA, Luis. Op. cit., pp. 26 e 27.
5
se comportam como touros, cópulas de cisnes com gansos, alces com vacas,
um cão apaixonado por uma tigresa; ou associações de malfeitores,
‘escroques’, ladrões’, e até mesmo, ‘alcoólatras. Cesare Lombroso.
6
Figura da esquerda: “Classificação Antométrica”
Figura da esquerda: “Fotografias para fins da classificação dos
ditos criminosos ‘natos’”
Classificação Antométrica”
7
Raffaele Garófalo11
8
Como se vê, será justamente sobre essas formulações rudimentares e
grosseiras (como vimos em Cesare Lombroso e Raffaele Garófalo), que se
constituirá uma “escola de criminologia de enorme influência, havendo
extrapolado as fronteiras de seu país e ganho grande parte do mundo,
incluindo o Brasil”.12
15 Ibid., p. 50.
9
Nesse período, a influência da Escola Positiva no Brasil se fará bastante
intensa experimentando seu auge, paradoxalmente, num momento em que já
se encontrava em franca decadência na Europa.
16 FERLA, Luis. Feios Sujos e Malvados Sob Medida: A utopia médica do biodeterminismo
(1920-1945). São Paulo: Ed. Alameda, 2009, p. 50.
17 SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no
Brasil (1870-1930). São Paulo: Cia das Letras, 2000, p. 18. Apud, FERLA, Luis. Op. cit., p. 52.
18 FERLA, Luis. Op. cit., p. 53.
10
recorrentemente considerada por eles como ‘metafísicas’ e pré-científicas. (...)
Por isso, muitos dos juristas que se agarravam às ideias de livre arbítrio e
responsabilidade moral pareciam aos olhos dos positivistas como obstáculos
incômodos ao triunfo das verdades científicas, portanto ao próprio progresso do
país”.19
19 FERLA, Luis. Feios Sujos e Malvados Sob Medida: A utopia médica do biodeterminismo
(1920-1945). São Paulo: Ed. Alameda, 2009, p. 54.
20 Ibid., p. 64.
21 Ibid., p. 64.
22 ÁLVAREZ, Marcos. Bacharéis, criminologistas e juristas: saber jurídico e nova escola penal
11
Salvador que Nina Rodrigues exerceu a principal parte de sua vida
profissional”.24
12
implantação do ensino prático e a nomeação dos professores de medicina legal
como peritos da polícia. Na Medicina Legal, como em tudo o mais, transformou.
Afrânio Peixoto nos conta que Nina "deu tal lustro à especialidade que, por
todo o país, foi a cadeira mais ambicionada".
13
Na sua obra, “Os Africanos no Brasil”, o biodeterminista e racista
Raimundo Nina Rodrigues escreveu:
14
1.
“Exame antropométrico no Instituto de Identificação do Rio de Janeiro”.
Fonte: FERLA, Luis. Feios Sujos e Malvados Sob Medida: A utopia médica do biodeterminismo
(1920-1945). São Paulo: Ed. Alameda, 2009, p. 328.
“O Antropômetro de
“O Viola
Antropômetro de de
do Instituto Viola do Institutodo
Identificação Oscar
Rio de
Freire”.
Janeiro (em repouso)”.
2.
Fonte:
Fonte:
FERLA,
FERLA,
Luis.
Luis.
Feios
Feios
Sujos
Sujos
e Malvados
e Malvados
SobSob
Medida:
Medida:
A utopia
A utopia
médica
médica
do biodeterminismo
do biodeterminismo
(1920-
3. (1920-1945).
1945). SãoSão
Paulo:
Paulo:
Ed.Ed.
Alameda,
Alameda,
2009,
2009,
p. 326.
p. 327.
15
“O Antropômetro de Viola do Instituto de Identificação do Rio de Janeiro (em uso)”.
Fonte: FERLA, Luis. Feios Sujos e Malvados Sob Medida: A utopia médica do biodeterminismo (1920-1945). São
Paulo: Ed. Alameda, 2009, p. 327.
“Fotografia de examinado”.
Fonte: FERLA, Luis. Feios Sujos e Malvados Sob Medida: A utopia médica do biodeterminismo (1920-
1945). São Paulo: Ed. Alameda, 2009, p. 330.
16
“Gráfico de Deformações”.
Fonte: FERLA, Luis. Feios Sujos e Malvados Sob Medida: A utopia médica do biodeterminismo
(1920-1945). São Paulo: Ed. Alameda, 2009, p. 329.
17
Como vimos o discurso positivista priorizou, no período em que nos
ocupamos, de “comportamentos e grupos sociais que representassem algum
‘perigo à sociedade’ (...). Todos eles de alguma forma transitavam na fronteira
muitas vezes ambígua que separava a norma da lei: os loucos, os alcoólatras,
as prostitutas, os epiléticos, os ‘vagabundos’, os menores, os homossexuais e
os trabalhadores urbanos. Na verdade, os três últimos eram objetos de uma
maior preocupação por parte da medicina legal positivista. De longe eram os
mais assíduos frequentadores das revistas especializadas”.27
18
Também o artigo 35 do Código Penal assim dispõe:
Art. 35. Aplica-se a norma do art. 34 deste Código, caput, ao condenado que
inicie o cumprimento da pena em regime semi-aberto.
Como se vê, o exame criminológico que, como vimos, tem seu advento
com a ideologia biodeterminista e racista da Escola Criminológica Positivista,
ainda persiste em nossa legislação. Tal é exigido, como nas disposições acima
citadas, no início do cumprimento da pena, seja em regime fechado (art. 34),
seja em regime semi-aberto (art. 35).
30 MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal I: Parte Geral. 25ª ed. São Paulo: Ed.
Atlas, 2009, p. 240.
31 Ibid., p. 240.
19
restringe a ele, mas tem sua ampla recepção em nosso Sistema Penal como
um todo.
20
§2º. Idêntico procedimento será adotado na concessão de livramento
condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos previstos nas
normas vigentes. (NR)
21
5. Criminologia Crítica:
33
QUINNEY, Richard. O controle do crime na sociedade capitalista: uma filosofia crítica da
ordem legal. In: TAYLOR, Walton e YOUNG (org.). Criminologia crítica. Trad. J. Cirino dos
Santos & S. Tancredo. Rio de Janeiro: Ed. Graal, 1980, p. 224.
34
Henrique Ferri foi o precursor da denominada “Sociologia Criminal”.
35
BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed.
Revan, 2001, p. 31.
36
Para uma vertente Neokantista o jurista não podia questionar sobre a realidade do direito – o
ser do direito –, uma vez que seu objeto de estudo era tão somente a lei posta – o dever ser
do direito. Para essa vertente, portanto, havia um “desprezo olímpico pela realidade”, afinal
essa nada importava à sua análise. Cf. BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal
Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Revan, 2001, p. 28.
22
de quem) se elaborou este código e não outro. A Criminologia Crítica, portanto,
não se auto-delimita pelas definições legais de crime (comportamentos
delituosos), interessando-se igualmente por comportamentos que impliquem
forte desaprovação social (desviantes). A Criminologia Crítica procura verificar
o desempenho prático do sistema penal, a missão que efetivamente lhe
corresponde, em cotejo funcional e estrutural com outros instrumentos formais
de controle social (hospícios, escolas, institutos de menores, etc.). A
Criminologia Crítica insere o sistema penal – e sua base normativa, o direito
penal – na disciplina de uma sociedade de classes historicamente determinada
e trata de investigar, no discurso penal, as funções ideológicas de proclamar
uma igualdade e neutralidade desmentidas pela prática. Como toda teoria
crítica, cabe-lhe a tarefa de ‘fazer aparecer o invisível’”.37
37
BATISTA, Nilo. Introdução Crítica Ao Direito Penal Brasileiro. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed.
Revan, 2001, pp. 32 e 33.
38
CASTRO, Lola Aniyar de. Criminologia da reação social. Trad. E. Kosowski. Rio de Janeiro:
Ed. Forense, 1983, p. 52.
23