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MARIANA BARROS BARREIRAS

MANUAL de
CRIMINOLOGIA

2021
2
NASCIMENTO
DA CRIMINOLOGIA

Nesse capítulo, vamos começar (porém não vamos concluir) a análise


das escolas criminológicas. Cada escola se aproxima do fenômeno criminal
a partir de postulados diferentes e, consequentemente, constrói formulações
distintas sobre a criminalidade. No capítulo presente, o foco serão as escolas
criminológicas que deram origem ao nascimento da Criminologia. As de-
mais escolas serão estudadas nos capítulos seguintes. Aqui, vamos analisar:
• os precursores que estudavam o fenômeno criminal antes de a Crimi-
nologia se firmar como ciência;
• a importância do Iluminismo para o nascimento da Criminologia;
• o embate entre as escolas Clássica e Positivista;
• As teorias que, no meio dessa luta de escolas, posicionavam-se de
modo intermediário.
De tudo o que estudaremos nesse capítulo, o que os examinadores mais
cobram nas provas de concurso é a diferença entre os clássicos e os posi-
tivistas. Secundariamente, são cobrados conhecimentos sobre as Escolas
Intermediárias. As questões sobre os temas do presente capítulo correspon-
dem a 10% do total de questões objetivas de Criminologia nos bancos de
dados (2005-2019).

1. PRECURSORES

Antes de falar dos clássicos e positivistas, vamos mencionar alguns auto-


res considerados precursores da Criminologia. Eles estudavam o fenômeno
Manual de Criminologia • Mariana Barros Barreiras
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criminal antes de a Criminologia se firmar como ciência, o que só veio a


ocorrer no século XIX.
Antonio García-Pablos de Molina1 e Sérgio Salomão Shecaira2 fizeram
extensas compilações de precursores, nas quais nos basearemos. Segundo
eles, os principais precursores da Criminologia se dedicaram a buscar, ge-
ralmente no corpo do delinquente, explicação para o cometimento de um
crime. Hoje é fácil perceber que essas explicações careciam de cientificidade,
ou seja, eram pseudocientíficas. Mas, por muito tempo, foram aceitas pela
comunidade das ciências criminais.
Apenas a título exemplificativo, podemos citar a oftalmoscopia, que ten-
tava explicar o caráter das pessoas pela observação dos olhos; a metoposcopia
que analisava as rugas; ou a frenologia, que se debruçava sobre o cérebro
humano, com o mesmo objetivo. Os fisionomistas estudavam a aparência
externa do indivíduo para deduzir seus caracteres psíquicos. Vamos men-
cionar alguns nomes de precursores.

1.1. Fisionomistas
Em um primeiro grupo vamos colocar os fisionomistas, que se dedicavam
a estudar a aparência externa dos criminosos.
O cientista italiano Giovanni Della Porta, por exemplo, na passagem do
século XVI para o século XVII, sustentou a perfeita correspondência entre
os aspectos interiores e a forma externa de uma pessoa.
Petrus Camper, anatomista e antropólogo holandês, no século XVIII,
mostrou a escala de perfeição dos seres, partindo do macaco até chegar a
Apolo.
O filósofo suíço Johann Lavater, no século XVIII, estudou crânios e
defendeu que o temperamento da pessoa pode ser lido pelos contornos da
face e que o delinquente tem maldade natural. É por isso considerado o pai
da fisiognomonia, a arte de conhecer a personalidade das pessoas através
dos traços fisionômicos.

1. GARCÍA-PABLOS de Molina. GOMES, Luiz Flávio. Criminologia: introdução a seus funda-


mentos teóricos. 5. ed. São Paulo: RT, 2006, p. 136 e ss.
2. SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 7. ed. São Paulo: RT, 2018, p. 78 e ss.
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Estudos de fisionomia acabaram levando a atuações judiciais insólitas. O


juiz napolitano Marquês de Moscardi, na Itália, costumava incluir em suas
sentenças o bordão “Ouvidas acusação e defesa e examinadas a cabeça e a
face do acusado...”. Era um ressurgimento do Édito de Valério, oriundo do
Império Romano, que determinava que quando se tem dúvida entre dois
presumidos culpados, condena-se sempre o mais feio.

1.2. Frenologistas
Ao lado dos fisionomistas, os frenologistas também desempenharam
papel importante como precursores da Criminologia. A ideia deles era lo-
calizar cada um dos instintos humanos em uma parte específica do cérebro.
Franz Joseph Gall, médico alemão que viveu nos séculos XVIII e XIX,
defendia que o crime é resultado de um desenvolvimento parcial e não com-
pensado do cérebro.
Johann Spurzheim, outro médico alemão, discípulo e colaborador de
Gall, chegou a elaborar uma carta cranioscópica, parecida com os mapas
da Geografia.
O linguista espanhol Mariano Cubí y Soler elaborou um manual de fre-
nologia em meados do século XIX e foi um dos primeiros a começar a falar
em criminoso nato, um subtipo humano com características que o levavam
a cometer crimes. Para ele, o criminoso é um enfermo que necessita de
tratamento.

1.3. Psiquiatras
Há ainda um importante grupo de psiquiatras precursores, que anali-
savam a correlação entre crime e enfermidade mental. O francês Philippe
Pinel (séculos XVIII e XIX) possuía ideias humanitárias de tratamento das
doenças mentais. Ele demonstrou que os delinquentes e os doentes mentais
eram coisas distintas.
Jean Esquirol, outro psiquiatra francês que viveu entre os séculos XVIII
e XIX, defendia que o ato criminal somente podia ser realizado sob esta-
do delirante. Como o autor do delito não está mentalmente são, não deve
haver punição, mas sim tratamento. Como consequência de seu trabalho
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com internos e loucos, foram criadas comissões para verificar o tratamento


dado aos reclusos.
Já o psiquiatra franco-austríaco Bénédict-Augustin Morel (século XIX)
associou criminalidade à degeneração. Para ele, o crime é uma forma de-
terminada de degeneração hereditária, de regressão.

1.4. Antropólogo
O antropólogo francês Prosper Lucas, em 1847, descreveu o conceito de
atavismo: reaparecimento, em um descendente, de caráter não presente em
ascendentes imediatos, mas em ascendentes remotos. A tendência criminal
seria transmissível por via hereditária.

1.5. Preocupados com questões prisionais


Outro precursor foi o inglês John Howard, um filantropo que inspecio-
nou estabelecimentos prisionais, denunciou o estado miserável dos apenados
em 1777 e buscou reformas carcerárias. Ele defendia a superação do pecado
do crime por meio da meditação, introspecção e trabalho.
Jeremy Bentham, filósofo inglês dos séculos XVIII e XIX e pai do utilitarismo,
defendeu a construção de panópticos, ou seja, de sistemas de construções pri-
sionais que permitiam, com o mínimo de esforço e o máximo de economia,
obter o máximo de controle dos condenados.
Da torre central de um presídio circular todos os corredores radiais seriam
observados, bastando, para tanto movimentar a cabeça nas diferentes direções,
para se ter o controle pleno de todo o edifício, sem que os presos pudessem
saber que estavam sendo vigiados3.

Como veremos mais adiante, há quem denomine esses autores de pré-


-clássicos.

1.6. Escola Cartográfica


Outra linha de precursores da Criminologia adveio da Escola Carto-
gráfica, cujo nome mais importante foi Adolphe Quetelet, estatístico belga

3. SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 7. ed. São Paulo: RT, 2018, p. 86.
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dos séculos XVIII e XIX. Desenvolveu a ideia de “homem médio”, um tipo


ideal e abstrato que podia ser visto como um padrão para análises socioló-
gicas. Ele defendia a existência de uma “lei dos grandes números”: o crime
apresentaria uma regularidade constante e seria representável em funções
matemáticas a depender dos estados econômicos e sociais do momento.
Haveria, então, uma relação constante entre a criminalidade real (todos os
crimes que acontecem), a criminalidade aparente (a criminalidade que se
conhece) e a criminalidade legal (os crimes que chegam ao conhecimento
do Sistema Judiciário).
A Escola Cartográfica tanto pode ser considerada precursora como in-
termediária às escolas clássica e positivista, já que nasce no momento em
que se tratava esse embate de teorias, como veremos em seguida.

2. ILUMINISMO

A Europa, nos séculos XV a XVIII, vivenciou o que se convencionou


chamar de Antigo Regime. Era a época das monarquias absolutistas, com o
regime centralizado nas mãos do rei. A figura do rei era sagrada e incontestá-
vel e a visão teocêntrica do mundo, amplamente dominante. Nesse período,
o sistema penal era caótico, cruel e arbitrário. O crime era amplamente en-
carado como um pecado ou como uma afronta direta ao poder monárquico.
A pena simbolizava castigo e vingança, a reafirmação da vontade de Deus e
do soberano. Havia uma natureza religiosa a mística nos institutos penais.
Os réus, de maneira geral, não possuíam as garantias processuais e penais
que hoje existem nos sistemas democráticos.
No século XVIII surgiu o Iluminismo, movimento filosófico que exaltou
o poder da razão em detrimento do poder da religião. Ideologias absolutistas
e religiosas foram substituídas pelo conhecimento racional do mundo. O
Iluminismo, portanto, promoveu o culto à razão e passou a fornecer ex-
plicações racionais para os problemas sociais. É comum, e correto, que se
associe a Escola Clássica do Direito Penal ao Iluminismo. Mas, em realidade,
o movimento Iluminista é considerado a base tanto dos autores clássicos
do Direito Penal quanto dos autores positivistas da Criminologia. A Escola
Clássica e a Escola Positivista formam o que se costuma denominar Cri-
minologia tradicional, em oposição à Criminologia moderna, de forte viés
sociológico e crítico.
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3. ESCOLA CLÁSSICA

A Escola Clássica, do século XVIII e que teve na Itália seu grande epicen-
tro, foi a primeira a empregar os postulados Iluministas para analisar o crime.
Mas não se trata, ainda, de uma teoria criminológica. O mais adequado é
chamá-la de Escola Clássica do Direito Penal.
Aliás, para Cezar Roberto Bittencourt, os diversos juristas representantes
dessa corrente não apresentavam conteúdo homogêneo. A denominação
Escola Clássica foi dada pejorativamente, a posteriori, pelos positivistas que
negaram o caráter científico das valorações jurídicas do delito4.
Na esfera penal, o Antigo Regime contava com práticas punitivas bár-
baras, aleatórias, desproporcionais. No século XVIII, com o advento do
Iluminismo, novos códigos penais entraram em cena, com técnicas mais
humanas e racionais de punição. Nascia, então, um Direito Penal como co-
nhecemos hoje, com elaboradas racionalizações e construções dogmáticas.
O alemão Paul Johann Anselm von Feuerbach, ou simplesmente Feuerbach,
é considerado o fundador da moderna dogmática penal.
Os autores clássicos reconhecem que as pessoas possuem livre-arbítrio,
ou seja, podem fazer escolhas. Para eles, o criminoso é considerado generi-
camente, abstratamente, uma pessoa como outra qualquer. O cometimento
de um crime é fruto de uma decisão que implica quebra do pacto social de
convivência pacífica. O delinquente deve ser punido pelo mal que causou
com a sua escolha. A ele, então, são aplicáveis as penas previstas no orde-
namento jurídico, utilizando-se a técnica dedutiva de subsumir a conduta
a uma norma penal incriminadora.
Os clássicos consideram que o crime é, antes de tudo, um ente jurídico.
É necessário que haja previsão legal para que uma conduta seja considerada
criminosa. Por isso, o enfoque clássico se vale de um método dedutivo: parte
da regra geral (normas jurídicas por exemplo) para analisar o fenômeno
criminal. O método é também abstrato, pois baseia-se sobretudo na lei,
um comando genérico. É, ademais, formal, pois há regras procedimentais
estabelecendo como as leis devem ser aplicadas. A lei é justa e deve ser im-
plementada de maneira racional e igualitária para todos.

4. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. 17 ed. São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 195.
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A questão central para os clássicos foi a relação entre crime e punição:


quanto de punição o Estado pode empregar em um certo delito? Por isso,
seus principais objetos de estudo eram as leis e as penas. A Escola Clássica se
preocupou em responder ao delito com uma pena justa e útil. Ocupou-se da
organização e defesa de uma Política Criminal baseada em princípios, como
os da legalidade, da dignidade, da humanidade. Para os clássicos, a pena é
retribuição, castigo pela escolha da conduta contrária às normas. Essa Escola
não se ocupou de tentar compreender outras variáveis, como por exemplo as
razões que levam alguém a cometer um delito. Ou seja, a etiologia criminal
não era objeto de atenção dos pensadores clássicos.
Alguns autores clássicos são Pellegrino Rossi, Giovanni Carmignani e
Gian Domenico Romagnosi. Há quem inclua entre os clássicos, ou pré-clás-
sicos, autores que catalogamos como precursores, como Jeremy Bentham,
Johan Howard e Adolphe Quetelet. Os principais autores clássicos relem-
brados por terem contribuído para a Criminologia são os seguintes:

3.1. Feuerbach
Principal redator do Código Bávaro de 1813. Lá, situou o Direito Penal
dentro do Direito Público e o separou do processo penal. Fez a distinção entre
crime e outros tipos de ilícitos. Desenhou a autonomia da disciplina (Direito
Penal) e colocou a tarefa de criar delitos e impor penas nas mãos do soberano,
entregando ao Estado a exclusividade do poder criminal. Defendeu a separa-
ção entre Direito e moral. Especificou que as penas deviam estar previamente
declaradas em leis e que somente com observância dessas leis o Direito Penal
podia ser aplicado, dando forte ênfase ao direito positivado, ao princípio da
legalidade e, portanto, à proteção das liberdades individuais do cidadão5.
Feuerbach elaborou a teoria da coação psicológica: o Estado, para prevenir
crimes, deve realizar uma coação psicológica eficaz, consistente na ameaça
da pena. Por meio dessa coação, o indivíduo estaria ciente de que se ele re-
sistisse ao impulso criminal, enfrentaria um desgosto (o desgosto pessoal de
não ter cometido o crime que ele queria praticar); mas que se ele cedesse ao
impulso criminal, estaria livre desse desgosto, mas teria que enfrentar um
mal muito maior (a pena). Assim, para ele a pena é, sobretudo, intimidação.

5. Cf. QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. A teoria penal de P.J.A. Feuerbach e os Juristas Brasi-
leiros do Século XIX. 2008. 395f. Tese (Doutorado em Direito) – Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2008.
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3.2. Cesare Bonesana, o Marquês de Beccaria


Cesare Bonesana, também conhecido como Marquês de Beccaria, é con-
siderado o principal expoente da Escola Clássica.
Sua obra Dos Delitos e das Penas, de 1764, serviu de base para a valo-
rização da dignidade das pessoas e para a consequente humanização das
penas, em contraposição à crueldade das sanções existentes até a primeira
metade do século XVIII. O indivíduo escolhe ou não obedecer às leis, mas
o Estado não pode escolher tratamentos cruéis e desumanos. As leis, para
Beccaria, devem ser simples, conhecidas pelo povo. As penas devem estar
previstas em leis. Criticava o sistema de provas que não admitia o testemunho
da mulher; que não dava atenção ao depoimento do condenado; e que era
complacente com a tortura. Preocupava-se com a situação deplorável das
prisões e defendia a necessidade de provas robustas para a condenação de
alguém. A obra de Cesare Bonesana é considerada fundamental não apenas
para a Escola Clássica, mas para o pensamento penal e criminológico como
um todo, até os dias atuais.
“O juiz deve fazer um silogismo perfeito. A premissa maior deve ser a lei
geral; a menor, a ação conforme ou não à lei; a consequência, a liberdade ou
a pena. Se o juiz for obrigado a elaborar um raciocínio a mais, ou se o fizer
por sua conta, tudo se torna incerto e obscuro. (...) Quando as leis forem
fixas e literais, quando apenas confiarem ao magistrado a missão de examinar
os atos dos cidadãos, para indicar se esses atos são conforme a lei escrita,
ou se a contrariam (...) então não se verão mais os cidadãos submetidos ao
poder de uma multidão de ínfimos tiranos (...). À proporção que as penas
forem mais suaves, quando as prisões deixarem de ser a horrível mansão do
desespero e da fome, quando a piedade e a humanidade adentrarem as celas,
quando, finalmente, os executores implacáveis dos rigores da justiça abrirem
o coração à compaixão, as leis poderão satisfazer-se com provas mais fracas
para pedir a prisão.”6

Note-se que Beccaria descreve um raciocínio dedutivo e silogístico, tí-


picos do Direito, porque, como já dissemos, no século XVIII ainda não
há que se falar, em Criminologia, com seu método indutivo, empírico e
interdisciplinar. Como veremos nos próximos capítulos, a Criminologia do

6. BECCARIA, Cesare Bonesana, Marches di. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martin Cla-
ret, 2014, p. 24.
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século XX ajudará a desconstruir o mito, em que crê Beccaria, de que o juiz


age com completa vinculação à lei, sem margens para discricionariedade e
seletividade.

3.3. Francesco Carrara


É de 1859 sua obra Programa de Direito Criminal. Para ele, o crime
não é um ente de fato, mas sim um ente jurídico. Ou seja, só existe crime
porque há uma norma dizendo que tal fato é um crime. O crime possui um
elemento físico (elemento objetivo) e um elemento moral (elemento sub-
jetivo). O crime não é uma ação, mas sim uma infração, uma violação do
direito7. Os indivíduos possuem livre-arbítrio e decidem se comportar de
maneira contrária à lei, sendo a pena uma retribuição jurídica que pretende
restabelecer a ordem externa violada, castigando a responsabilidade moral
do infrator. Se o crime é um ente jurídico, deve ser estudado a partir das
normas, em obediência a um método dedutivo, lógico-abstrato. Recordem
que no método dedutivo, típico do Direito Penal e não da Criminologia,
parte-se de uma premissa geral (lei) para uma premissa particular (caso
concreto ao qual a lei deve ser aplicada).
PALAVRAS-CHAVE SOBRE A ESCOLA CLÁSSICA
Século XVIII
Feuerbach
Marquês de Beccaria – Cesare Bonesana – Dos Delitos e das Penas
Francesco Carrara
Crime é ente jurídico: infração à lei
Livre-arbítrio
Delinquente e não-delinquente são essencialmente iguais
Preocupação com penas justas, proporcionais e previstas em lei
Método dedutivo e abstrato
Política criminal baseada em princípios como legalidade, humanidade e dignidade
Pena como retribuição ao mal causado
Pena baseada na responsabilidade moral

7. SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 7. ed. São Paulo: RT, 2018, p. 92.
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4. ESCOLA POSITIVISTA

Antes de falar da Criminologia Positivista, vamos analisar brevemente


o Positivismo de maneira geral. O Positivismo foi uma corrente filosófica
formulada pelo francês Auguste Comte, no início do século XIX. A Europa
passava por uma transição rumo à modernidade, com urbanização e indus-
trialização. Comte defendia que, para enfrentar essas mudanças, os seres
humanos também deveriam passar por uma reforma, nesse caso intelectual.
Nessa transformação de pensamento, era necessário passar a explicar os
fenômenos, naturais e sociais, por meio da sua observação (emprego dos
sentidos humanos) e por meio da compreensão das leis naturais que os
regem. A humanidade já havia passado pelo estado teológico (em que se
pensava que deuses e seres sobrenaturais seriam responsáveis por reger o
mundo); pelo estado metafísico (típico do pensamento clássico, em que se
pensava que com argumentações lógicas, abstratas e racionais seria possível
compreender o mundo); e agora estava pronta para ingressar no estado po-
sitivo, em que o ser humano empregaria a observação e o trabalho empírico
(concreto, que se vê, positivo) para, de maneira científica, compreender a
natureza e a sociedade, rumo ao progresso.
Visto isso, fica mais fácil compreender o positivismo criminológico, ou
Escola Positivista, ou simplesmente Escola Positiva.
Opondo-se ao racionalismo dedutivo dos clássicos, os positivistas
defendiam a observação dos fenômenos criminais, com primazia para a
experiência sensitiva humana. A ideia era aplicar, nas ciências humanas,
métodos oriundos das ciências naturais. Como não era possível realizar essa
observação em relação às normas (grande objeto de estudo dos penalistas
clássicos), começou-se a estudar o próprio delinquente.
No Positivismo, não há grande preocupação com a definição legal de cri-
me, como ocorria na era clássica. Até mesmo porque, para a Escola Positiva,
o crime existe ontologicamente, ou seja, independentemente de definições
legais, em todas as épocas e sociedades. O positivista acha que age com
neutralidade e que o crime, como realidade ontológica, existe por si só, é
uma realidade indiscutível, visível, de simples constatação8. O que importa,

8. ALVES, Fábio Wellington Ataíde. Caracterizações e Base Teórica da Criminologia Multifa-


torial. In: Revista Transgressões: Ciências Criminais em Debate. v. 2, n. 2, pp. 121-132, 10 dez.
2014.
Cap. 2 – NASCIMENTO DA CRIMINOLOGIA
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agora, é saber por que alguém comete crimes. Como já dissemos, o objeto
principal de estudo passa a ser o criminoso, sobretudo aquele que pratica o
delito mais observável: o crime violento ou relacionado à integridade física
ou patrimonial.
Muitos autores identificam que aí nasce, verdadeiramente, a Crimino-
logia como ciência. Afinal, é nesse momento que a Criminologia começa a
se valer do método indutivo, empírico e multidisciplinar. Há, também, uma
abordagem de forte viés quantitativo. Os livros de Cesare Lombroso – o pai
do Positivismo criminológico –, por exemplo, são repletos de tabelas, com
medições e números sobre os corpos dos delinquentes.
Para os positivistas, o livre-arbítrio era uma ilusão. O delinquente era
escravo do determinismo biológico ou do determinismo social. No determi-
nismo biológico, acreditava-se que diferenças genéticas entre os indivíduos
os tornavam mais propensos ao crime. Trata-se de doenças, patologias que
levavam o indivíduo a se tornar um delinquente. No determinismo social,
eram as características do ambiente social que levavam um indivíduo ao
crime. Em ambos os casos, não há espaço para a escolha do indivíduo. Há,
nessa Escola, muito interesse pelo estudo da etiologia do delito. Ou seja,
com o positivismo, a Criminologia, que nascia como ciência, buscava tentar
entender a razão pela qual uma pessoa comete um crime. A Criminologia
nasce como uma ciência causal-explicativa da criminalidade.
É típica do pensamento clássico a adoção de penas proporcionais ao mal
causado. Como vimos, a pena, para os clássicos, é sobretudo retribuição. É
característica do pensamento positivista a adoção de medidas de segurança
com finalidade curativa, pelo tempo em que persistisse a patologia. A medida
de segurança é uma medida de defesa social (defesa da sociedade) contra o
criminoso, que será sempre psicologicamente anormal. Priorizam-se, assim,
no positivismo, os interesses da sociedade, em detrimento, por exemplo, dos
direitos e garantias dos delinquentes.
Os autores positivistas foram bastante influenciados pelo pensamento
evolucionista de Charles Darwin, que acreditava que alguns seres eram mais
evoluídos que outros. Depois de Darwin demonstrar a teoria da evolução das
espécies, o antropólogo inglês Herbert Spencer (século XIX) defendeu que
os pobres, os incapazes, os imprudentes, eram inaptos para o crescimento
intelectual e seriam superados pelos indivíduos mais aptos. Seu pensamento
evolucionista buscava justificar o neocolonialismo: os colonos, dos países
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ocupados, seriam seres inferiores, que não haviam passado por uma evolução
completa. As raças inferiores teriam menos sensibilidade. Era inútil ofertar
a elas muita educação ou instrução, sendo mais lógico reservar-lhes os tra-
balhos manuais. As ideias de Darwin e de Spencer influenciaram bastante os
positivistas, para quem, como veremos, os indivíduos não eram todos iguais.
O Positivismo, de maneira geral, foi crucial para a Criminologia: era es-
sencialmente interdisciplinar, tendo construído seu pensamento a partir da
aglutinação de várias ciências; abandonou a perspectiva fortemente centrada
nos saberes jurídicos dos clássicos; trouxe, portanto, o método indutivo,
empírico e interdisciplinar para o centro dos estudos; e transformou o de-
linquente em objeto de profunda análise.
Como problemas comuns aos teóricos positivistas podem ser citadas a
patologização do fenômeno delitivo e a concepção do entorno social como
mero fator desencadeante da criminalidade. Houve, ademais, um erro meto-
dológico cometido pelos positivistas, que consistiu em analisar clinicamente
pessoas que já haviam sido selecionadas pelo sistema sucessivo de freios
que é o Direito Penal. Lombroso, por exemplo, fez suas análises e medições
sobre os presos, que são apenas uma parcela de todos os criminosos e que
já trazem em seus corpos os efeitos da prisionização (marcas que o cárcere
deixa nos corpos e espíritos de seus internos).
Vamos, agora, analisar o pensamento dos principais autores positivistas
e suas três fases principais: antropológica (de Cesare Lombroso), jurídica
(de Raffaele Garofalo) e sociológica (de Enrico Ferri).

4.1. Cesare Lombroso


Foi autor da célebre obra O homem delinquente, de 1876. Muito cobrada
em provas, essa é obra é considerada um dos marcos do nascimento da Cri-
minologia. Lombroso foi responsável por desenvolver a fase antropológica
do Positivismo.
Ele também era médico e estudou profundamente os caracteres físicos e
fisiológicos dos criminosos, para tentar estabelecer uma correlação entre as
características corporais e as tendências delitivas. Ele é tido como o pai da
Criminologia e, mais especificamente, da Antropologia criminal: estudava
a história natural, a anatomia e a fisiologia dos criminosos, considerados
uma espécie distinta de seres humanos. Ele utilizou, largamente e de modo
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6. RESUMO – NASCIMENTO DA CRIMINOLOGIA

NASCIMENTO DA CRIMINOLOGIA

 Precursores
» Oftalmoscopia: explicação do caráter das pessoas pela observação dos olhos.
» Metoposcopia: análise das rugas.
» Fisionomistas: estudo da aparência externa do indivíduo para deduzir seus ca-
racteres psíquicos.
• Giovanni Della Porta (Itália, séc. XVI e XVII): perfeita correspondência entre
os aspectos interiores e a forma externa de uma pessoa.
• Petrus Camper (Holanda, séc. XVIII): escala de perfeição dos seres, partindo
do macaco até chegar a Apolo.
• Johann Lavater (Suíça, séc. XVIII): o temperamento da pessoa pode ser lido
pelos contornos da face e o delinquente tem maldade natural.
• Juiz Marquês de Moscardi, Itália: ressurgimento do Édito de Valério: na dúvida,
condena-se o mais feio.
» Frenologia: estudo do cérebro humano.
• Franz Joseph Gall (Alemanha, séc. XVIII e XIX): o crime é resultado de desen-
volvimento parcial do cérebro.
• Johann Spurzheim, (Alemanha, discípulo de Gall): carta cranioscópica.
• Mariano Cubí y Soler (Espanha, séc. XIX): foi um dos primeiros a falar em
criminoso nato, um enfermo que necessita de tratamento.
» Psiquiatria: estudo das enfermidades mentais.
• Philippe Pinel (França, séc. XVIII e XIX): ideias humanitárias de tratamento
das doenças mentais.
• Jean Esquirol (França, séc. XVIII e XIX): ato criminal somente podia ser reali-
zado sob estado delirante. Não deve haver punição, mas sim tratamento.
• Bénédict-Augustin Morel (França e Áustria, séc. XIX): crime é uma forma de-
terminada de degeneração hereditária, de regressão.
» Antropologia: estudo do ser humano delinquente em seus aspectos biológicos e
comportamentais.
• Prosper Lucas (França, séc. XIX): definiu atavismo como o reaparecimento, em
um descendente, de caráter não presente em ascendentes imediatos, mas em
ascendentes remotos.
» Preocupados com questões prisionais:
• John Howard (Inglaterra, séc. XVIII): denunciou o estado miserável das prisões.
• Jeremy Bentham (Inglaterra, séc. XVIII e XIX): pai do utilitarismo, defendeu a
construção de panópticos.
» Escola Cartográfica
• Adolphe Quetelet (Bélgica, séc. XVIII e XIX) defendia a existência de uma “lei
dos grandes números”: o crime apresentaria uma regularidade constante e
seria representável em funções matemáticas.
Cap. 2 – NASCIMENTO DA CRIMINOLOGIA
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 Iluminismo
Antigo Regime (séculos XV a XVIII): Monarquias absolutistas. Visão teocêntrica do
mundo. Sistema penal cruel, arbitrário e caótico.
Iluminismo (século XVIII): movimento filosófico que exaltou o poder da razão em
detrimento do poder da religião. É considerado base para a Escola Clássica e a
Escola Positivista, que formam a Criminologia tradicional.

 Escola Clássica (Itália, séc. XVIII)


Crença no livre arbítrio. Delinquente e não delinquente são pessoas essencialmente
iguais. O crime, ente jurídico que significa quebra do pacto social, é o principal objeto
de estudo. Utilização do método dedutivo e abstrato. Preocupação com as normais
penais, que devem ser justas. A etiologia criminal não era o foco. As penas devem
ser proporcionais, legítimas e delimitadas e devem estar previstas em leis. Pena é
retribuição pela escolha da via delitiva.
• Feuerbach – Fundador da moderna dogmática penal. Delineou a autonomia do
Direito Penal. Deu ênfase ao princípio da legalidade.
• Marquês de Beccaria – Dos delitos e das penas, 1764. Valorização da dignidade
das pessoas. Humanização das penas.
• Francesco Carrara – Programa de Direito Criminal, 1859. Crime é um ente jurí-
dico. As pessoas escolhem se comportar contrariamente à lei. A pena pretende
restabelecer a ordem violada.

 Escola Positivista (Itália, séc. XIX)


Aplicação, nas ciências humanas, de métodos oriundos das ciências naturais. Crimi-
noso passa a ser o principal objeto de estudo. Crença no determinismo, em oposição
ao livre-arbítrio. O crime possui natureza ontológica e é considerado um fenômeno
biológico e social. Emprego do método indutivo, experimental e interdisciplinar.
Nascimento da Criminologia como ciência. Preocupação com a etiologia dos crimes.
Criminoso é doente, anormal, essencialmente diferente do não delinquente. Influên-
cia do pensamento evolucionista de Charles Darwin. Pena como medida de defesa
social. As penas ideais são as medidas de segurança por tempo indeterminado. Possui
três vertentes principais: antropológica (de Cesare Lombroso), jurídica (de Raffaele
Garofalo) e sociológica (de Enrico Ferri).
• Cesare Lombroso – O homem delinquente, 1876. Análise de características cor-
porais. Crime é fenômeno biológico. Criminoso possui epilepsia. Negação do
livre-arbítrio. Ampla utilização dos conceitos de criminoso nato e de atavismo.
Visão preconceituosa da mulher. Categorias de criminoso: criminoso nato; louco
moral; epilético; criminoso louco; criminoso ocasional; e criminoso passional.
• Raffaele Garofalo – Criminologia, 1885. Crime é revelação da natureza degenerada.
Conceito de temibilidade justifica a aplicação de medidas de segurança por prazo
indeterminado. Conceito de crime natural. Código Penal Internacional. Criminosos
assassinos, violentos, ímprobos e lascivos.
• Enrico Ferri – Sociologia criminal, 1900. Livre-arbítrio é ficção. Fatores antropológi-
cos, físicos e sociais determinam o delinquente, que pode ser nato, louco, habitual,
ocasional e passional. Pai da Sociologia Criminal. Delinquente é um anormal que
somente comete crimes porque vive em sociedade. Lei da saturação criminal.
Manual de Criminologia • Mariana Barros Barreiras
138

 Positivistas brasileiros:
• Tobias Barreto - Menores e loucos em direito criminal, 1884. Possui concepção
humanista, mas afirma que o direito de punir é consequência de uma fórmula
científica, algébrica.
• Nina Rodrigues – As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil, 1894.
Negou o livre-arbítrio invocando a heterogeneidade da cultura mental dos bra-
sileiros. Postulados racistas. 4 Códigos Penais.
• Afrânio Peixoto – Hygiene, de 1917, e Criminologia, de 1933. Defensor da eugenia.
Disposição ao crime é hereditária.

ESCOLAS INTERMEDIÁRIAS

» Escola correcionalista (Alemanha e Espanha): Karl Röeder, Francisco Giner de los


Rios e Pedro Dorado Montero. O criminoso é um fraco, uma pessoa cuja vontade
deve ser direcionada. Ideia de tratamento penal individualizado. O delinquente
teria o direito de exigir da sociedade que o eduque e o proteja.
» Escola de Lyon (França): Oposição a Lombroso. Alexandre Lacassagne (cada
sociedade tem o criminoso que merece, conforme sua desorganização social)
e Gabriel Tarde (as causas sociais e as leis da imitação influenciam as taxas
criminais). Viés sociológico.
» Escola de Marburgo (Alemanha): Escola Sociológica Alemã, Escola Moderna Ale-
mã ou Jovem Escola Alemã de Política Criminal. Franz Von Liszt. Ciência total
do Direito Penal. Integração da Política Criminal ao Direito Penal. Emprego da
Criminologia, Antropologia, Sociologia, com o método indutivo-experimental
Superação do monismo no tocante às penalidades: possibilidade de emprego de
penas (imputáveis) e medidas de segurança (inimputáveis). Oposição às penas
privativas de liberdade de curta duração. Pena vista sobretudo como prevenção
especial: intimidação para o criminoso ocasional; ressocialização para o corrigível;
ou neutralização para o habitual. Crime como fenômeno humano, social e jurídico.
» Escola Técnico-Jurídica (Itália e Alemanha): Arturo Rocco e Karl von Binding. Reação
ao positivismo. Importância dos aspectos jurídicos do crime, e não das variantes
antropológicas ou sociais. Delito é pura relação jurídica, para a qual são previstas
penas (direcionadas aos imputáveis) e medidas de segurança (direcionadas aos
inimputáveis). Autores conectados com a Escola Clássica do Direito Penal.
» Terza Scuola (Itália): Bernardino Alimena, Manuel Carnevale e Giovanni (João)
Battista Impallomeni. Delito é produto de uma pluralidade muito complexa de
fatores endógenos e exógenos. Possibilidade de se usar tanto a pena, fundamen-
tada na responsabilidade moral dos imputáveis, quanto a medida de segurança,
fundamentada na temibilidade do inimputável. Responsabilidade moral calcada
no determinismo psíquico, e não no livre-arbítrio. Dualidade de métodos (lógico-
-jurídico para o Direito Penal e empírico, experimental para as demais ciências
penais). Crime como fenômeno individual e social. Pena que visava a defesa social,
com caráter aflitivo para alguns autores, e preventivo para outros.
» Escola de Defesa Social (França e Itália): Adolph Prins, Filippo Gramatica (radical)
e Marc Ancel (nova ou moderada). Articular a defesa da sociedade mediante a
ação coordenada do Direito Penal, da Criminologia e da Ciência Penitenciária.
Proteger eficazmente a sociedade do crime e o criminoso da reincidência.
Cap. 2 – NASCIMENTO DA CRIMINOLOGIA
139

» Defesa Social Radical: Filippo Gramatica. Antissociabilidade subjetiva no lugar da


responsabilidade pelo dano causado. Sistema penal deve gravitar em torno dos
indivíduos e não do bem jurídico. Medidas de defesa social diferentes para cada
pessoa. Medidas de defesa social como elemento de socialização.
» Defesa Social Moderada (Nova Defesa Social): Marc Ancel. Programa Mínimo. De-
fender a sociedade dos criminosos, mas também defender o criminoso do crime,
afastá-lo da reincidência. Minimização do aspecto jurídico do crime. Valorização
das demais ciências criminais. Eliminação do sentido retributivo da pena.
» Novíssima Defesa Social (Adendo, 1985): permanente exame crítico das instituições
penais vigentes, que devem ser mutáveis (preterpenalismo); antidogmatismo; en-
xugamento da legislação penal; promoção da criminalização de infrações contra
a economia e infrações estatais; desenvolvimento de atividades ressocializadoras;
promoção da reforma penitenciária.
» Críticas à Defesa Social: é uma ideologia empregada para justificar o Direito
Penal. Para Baratta, a ideologia de Defesa Social baseia-se nos seguintes princí-
pios: legitimidade (sistema penal é legítimo); bem e mal (crime e criminoso são
males); culpabilidade (crime é expressão de uma atitude interior reprovável ou
fruto da periculosidade); finalidade ou prevenção (pena deve prevenir o delito,
seja como contramotivação ou ressocialização); interesse social ou delito natural
(crime é ofensa a condições essenciais à existência de toda sociedade). Salo de
Carvalho é muito crítico do caráter universalista, totalizante do programa re-
pressivo dessa Escola, para a qual seria possível estabelecer modelos universais
de reforma das instituições e leis penais, já que o fenômeno criminal é humano
e desconhece fronteiras.

7. QUESTÕES DE CONCURSO

1. (CEFET-BA/2008/PC-BA Delegado de Polícia) Na concepção positivista,


o crime é entendido como
a) uma realidade culturalmente definida.
b) uma construção social.
c) uma conduta violenta.
d) uma realidade ontológica.
e) um fato social problemático.

2. (PC-SP/2010/PC-SP Escrivão de Polícia Civil) A Escola Clássica


a) Tem em Garófalo um dos seus precursores.
b) baseia-se no método empírico-indutivo.
c) crê no livre arbítrio.
d) surge na etapa científica da Criminologia.
e) criou a figura do criminoso nato.
Manual de Criminologia • Mariana Barros Barreiras
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3. (PC-SP/2010/PC-SP Escrivão de Polícia Civil) A Escola Positiva:


a) crê no determinismo e defende o tratamento do criminoso.
b) tem em Bentham um de seus precursores.
c) foi consolidada por Carrara.
d) baseia-se no método dogmático e dedutivo.
e) surgiu na etapa pré-científica da Criminologia.

4. (PC-SP/2010/PC-SP Escrivão de Polícia Civil) Complete com a alternativa


correta:
Considerado o principal idealizador da Sociologia Criminal ............ tem
como obra principal ............... .
a) Lombroso – “O Homem Delinquente”
b) Garofalo – “O Ambiente Criminal”
c) Ferri – “Sociologia Criminal”
d) Carrara – “Sociedade e Crime”
e) Lacassagne – “Sociedade e Miséria”

5. (PC-SP/2010/PC-SP Escrivão de Polícia Civil) O período antropológico de


estudo da criminalidade foi iniciado pelo médico
a) Enrico Ferri.
b) Cesare Lombroso.
c) Cesare Bonesana.
d) Emile Durkheim.
e) Hans von Hentig.

6. (PC-SP/2012/PC-SP Delegado de Polícia) O Positivismo Criminológico,


com a Scuola Positiva italiana, foi encabeçado por
a) Lombroso, Garofolo e Ferri
b) Luchini, Ferri e Del Vecchio
c) Dupuy, Ferri e Vidal.
d) Lombroso, Dupuy e Garofolo.
e) Baratta, Adolphe e Vidal.

7. (Vunesp/2013/PC-SP Auxiliar de papiloscopista) A _________surgiu na


Europa, influenciada pelos fisiocratas e iluministas; possui três fases:
antropológica, sociológica e jurídica; priorizou os interesses sociais aos
individuais. Em 1876, foi publicado o livro “O homem delinquente”, que
Cap. 2 – NASCIMENTO DA CRIMINOLOGIA
153

c) A criminologia tradicional examina a pessoa do infrator como uma


unidade biopsicossocial, considerando suas interdependências so-
ciais.
d) A criminologia tradicional examina a pessoa do infrator como um
sujeito determinado pelas estruturas econômicas excludentes, sendo
uma vítima do sistema capitalista.
e) A criminologia tradicional examina a pessoa do infrator como alguém
que fez mau uso da sua liberdade embora devesse respeitar a lei.

46. (FCC/2019/DPE-SP Defensor Público) A ideologia da defesa social abarca


o Princípio
a) do interesse social, segundo o qual os interesses protegidos pelo
direito penal são essencialmente aqueles pertences à classe eco-
nomicamente dominante, que detém o poder de definição.
b) da proporcionalidade, segundo o qual a sanção imposta ao conde-
nado deve ser proporcional à gravidade do dano social causado pela
prática do delito.
c) da finalidade, segundo o qual a pena tem a finalidade primordial de
retribuir o mal causado pela prática do delito, não exercendo função
preventiva, seja por ser incapaz de ressocializar o “delinquente” ou
desestimular o comportamento ilícito.
d) do bem e do mal, segundo o qual o delito é um mal necessário para
a sociedade e o “delinquente” um elemento funcional e essencial ao
sistema, pois a violação da norma faz a sociedade reafirmar o seu
valor, reforçando a coesão social.
e) do delito natural, segundo o qual o núcleo central dos delitos defini-
dos nas legislações penais das nações civilizadas representa violação
de interesses fundamentais, comuns a todos os cidadãos.

8. GABARITO COMENTADO

QUESTÃO 01. LETRA D. No Positivismo, não há grande preocupação com a de-


finição legal de crime, até mesmo porque, para a Escola Positiva, o crime existe
ontologicamente, ou seja, por si próprio, a priori, independentemente de defini-
ções legais, em todas as épocas e sociedades. O positivista acha que age com
neutralidade e que o crime, como realidade ontológica, existe por si só, é uma
realidade indiscutível, visível, de simples constatação. O objeto principal de estudo,
no Positivismo, passa a ser o criminoso, sobretudo aquele que pratica o delito mais
observável: o crime violento ou relacionado à integridade física ou patrimonial.
Na letra A, para o Positivismo o crime existe em todas as sociedades e culturas,
independendo dessas definições. Na letra B, o Positivismo começa a estudar a

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