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Cesare Lombroso

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Cesare Lombroso

Nascimento 6 de novembro de 1835


Verona, Reino Lombardo-Vêneto

Morte 19 de outubro de 1909 (73 anos)


Turim, Reino da Itália
Nacionalidade italiano

Ocupação Psiquiatra, Cirurgião, Higienista,


Criminologista, Antropólogo e
Cientista.

Escola/tradição Positivismo do Direito Penal


Positivismo Evolucionista

Cesare Lombroso [ˈtʃeːzare lomˈbroːzo] (Verona, 6 de


novembro de 1835 — Turim, 19 de outubro de 1909) foi
um psiquiatra, cirurgião, higienista, criminologista, antropólogo e cientista italian
o.

Biografia
Vida e obra
Lombroso nasceu em uma abastada família judaica[1] em 6 de novembro de
1835, filho de Aronne Lombroso, mercador de Verona, e Zeffora Levia,
de Chieri, cidade próxima a Turim.
Iniciou seus estudos em medicina em 1852 na Universidade de Pavia,
estudando também em Pádua e Viena. Durante seus estudos, se inclinou aos
pensamentos do positivismo francês e italiano, do materialismo alemão e
do evolucionismo inglês, direcionando-o para direção divergente das doutrinas
filosóficas então prevalecentes, em especial à ainda dominante teoria clássica
do crime desenvolvida por Cesare Beccaria cem anos antes de sua época.[2]
Recebe seu diploma de médico em 1858, aos 23 anos, pela Universidade de
Pavia e entre 1859 e 1865 foi médico voluntário no recém-formado exército
nacional. Sua carreira percorreu inúmeros hospitais e vinculação a
universidades. Entre 1863 e 1872, foi responsável pelo bem-estar dos
pacientes mentais dos hospitais de Pavia, Pesaro e Reggio Emilia.
Em 1876 manteve posto nas cátedras de medicina legal e higiene
pública da Universidade de Turim, onde posteriormente se tornaria professor
de psiquiatria em 1896 e de antropologia em 1906. Sua experiência psiquiátrica
foi muito influente em sua associação da demência com a delinquência. [3]
Contribuição teórica
Lombroso é creditado como sendo o criador da antropologia criminal e suas
ideias inovadoras deram nascimento à Escola Positiva de Direito Penal, mais
precisamente a que se refere ao positivismo evolucionista, que baseava sua
interpretação em fatos e investigações científicas.
Em 1880 funda juntamente com Enrico Ferri e Raffaele Garofalo o
jornal “Archivio I Psichiatria, antropologia criminale e scienza penale” que se
tornou o grande porta-voz do movimento positivista penal.[2] Desenvolveu a
teoria de que o criminoso é vítima principalmente de influências atávicas, isso
é, uma regressão hereditária a estágios mais primitivos da evolução,
justificando sua tese com base nos estudos científicos de Charles Darwin. Uma
de suas conclusões é possibilitar a equivalência do criminoso a um doente que
não pode responder por seus atos por lhe faltarem forças para lutar contra os
ímpetos naturais.[3]
De fato, para ele o crime é uma circunstância natural por ser de caráter
primariamente hereditário, porém inaceitável socialmente e acabou por se
mostrar favorável à pena de morte e prisão perpétua como verificado em “As
mais recentes descobertas e aplicações da psiquiatria e antropologia
criminal” de 1893.
Seus principais sucessores foram Raffaelle Garofalo (cujos estudos
colaboraram na formação da Psicologia Criminal), Enrico Ferri e principalmente
Gina e Paola, filhas de Lombroso que juntas formaram grandes expoentes da
Escola Positiva de Direito Penal.
Morte
Cesare Lombroso morreu em 19 de outubro de 1909 em Turim, deixando
inúmeros legados científicos para os estudos das Ciências antropológicas,
criminológicas, psicológicas, médicas e espirituais. Foi sepultado no Cimitero
Monumentale di Torino, Piemonte na Itália.[4]

Lombroso e a Escola Positivista


Contexto histórico
A Escola Positiva se insere em meados do século XIX. As ideias liberais,
juntamente com a Revolução Industrial, consolidaram a nova ordem social:
o capitalismo burguês. Os Estados da Europa se encontravam em um forte
ímpeto de expansionismo, na busca de novos recursos para um crescimento
econômico. Nesse passo, a concentração de riqueza monopolizava-se
pelas grandes corporações, geralmente localizadas em Estados
preponderantes à época, como Inglaterra e França. A desigualdade social se
intensificou, pois enquanto a minoria fazia fortunas, a maioria da população se
encontrava na pobreza, haja vista a abundante mão de obra em detrimento a
pequenos salários.
Diante desse panorama, a Itália se viu prejudicada devido à
sua unificação tardia e conflituosa. O que antes eram problemas dispersos em
pequenos territórios, depois da constituição do Estado Italiano, se centralizou
em um único governo. Com o industrialismo pouco desenvolvido quando
comparado ao restante da Europa, os problemas sociais se agravaram,
fazendo com que os índices de criminalidade subissem de forma alarmante.
Nesse momento, em paralelo à crise socioeconômica europeia, os estudos
científicos ganharam notória relevância, dada a obra “A Origem das Espécies”,
de Charles Darwin, que introduziu a Teoria Evolucionista, a seleção natural e a
influência de características hereditárias sobre os seres vivos. Os demais
ramos da ciência seguiram os passos do cientificismo, aplicando o método
empírico em seus estudos. No âmbito do Direito Penal, não foi diferente diante
da efervescência de pesquisas empíricas. Nesse passo, a Escola Positiva
Penal representa a adoção dos métodos científicos desenvolvidos em outras
áreas.
Contraposição à Escola Clássica do Direito Penal
Embora ambas as escolas (Clássica e Positiva) tenham a criminalidade como
foco de estudo, suas considerações e conclusões são divergentes.
A Escola Clássica do Direito Penal se insere dentro do Iluminismo, tendo como
seu principal ícone Cesare Beccaria. Dentre as características desta linha de
pensamento, estão: 1) a ideia de que o crime é um ente jurídico - infração - e
não ação; 2) o pressuposto de normas transcendentais do Direito, emanadas
de uma lei natural e 3) a ideia de livre-arbítrio como justificativa da punibilidade
dos infratores.
Assim, para a Escola Clássica, o direito de punir está baseado na escolha que
o indivíduo fez ao cometer o delito e tal punição tem caráter retributivo, ou seja,
a sanção se configura como castigo.
Já para a Escola Positiva, o cerne do estudo está no sujeito como delinquente.
E nesse ponto consiste a uma crítica desta última escola frente à primeira: o
foco no sujeito aproxima os estudos à realidade e aos resultados práticos; dar
ênfase apenas ao delito seria uma forma de estudar a criminalidade
abstratamente, sem conclusões reais. Já a segunda crítica se perfaz no caráter
apenas retributivo da pena dentro da Escola Clássica, enquanto a Positiva teria
a prevenção como objetivo principal do estudo.
Embora críticas sejam feitas, a Escola Clássica teve importância significativa,
popularizando a Ciência Penal e trazendo a noção de proporção entre delito e
pena. Válido ressaltar, portanto, que ambas as escolas trouxeram
consequências importantes ao estudo do Direito Penal e devem ser analisadas
à luz de seu contexto histórico, não prevalecendo nenhuma sobre a outra.
Características da Escola Positiva Penal
Ao passo que a ciência jurídica se fazia carente em estudos empíricos devido
ao seu caráter circunstancial, o homem como objeto de pesquisa possibilitava a
pesquisa experimental. Influenciada por doutrinas evolucionistas, materialistas
e sociológicas e inserida dentro da pesquisa científica, a Escola Positiva, como
descrita anteriormente, tem a observação e a investigação como ferramentas
principais para seu desenvolvimento empírico. O objeto de estudo era o
homem e seu comportamento; a motivação de sua delinquência, e não mais o
delito em si ou a sociedade / Estado punidor. Cezar Roberto Bitencourt em sua
obra “Tratado de Direito Penal I”, arrematando esta ideia, sintetiza: “Ao abstrato
individualismo da Escola Clássica, a Escola Positiva opôs a necessidade de
defender mais enfaticamente o corpo social contra a ação do delinquente,
priorizando os interesses sociais em relação aos individuais. [...] O Fundamento
do direito de punir assume uma posição secundária, e o problema da
responsabilidade perde importância, sendo indiferente a liberdade de ação e de
decisão no cometimento do fato punível. Admitindo o delito e o delinquente
como patologias sociais, dispensava a necessidade de a responsabilidade
penal fundar-se em conceitos morais. A pena perde seu tradicional caráter
vindicativo-retributivo, reduzindo-se a um provimento utilitarista; seus
fundamentos não são a natureza e a gravidade do crime, mas a personalidade
do réu, sua capacidade de adaptação e especialmente sua
perigosidade”.(2013, p. 103)[5]
A pena se configuraria um instrumento de defesa da sociedade frente aos
criminosos e uma forma de recuperação destes. O homem delinquente não
mais seria livre, vez que estão submetidos à força irresistível de sua mente.
Lombroso, em sua obra “O Homem Delinquente”, cita: “Nas pessoas sãs, é
livre a vontade, como diz a metafísica, mas os atos são determinados por
motivos que contrastam como bem-estar social. Quando surgem, são mais ou
menos freados por outros motivos, como o prazer do horror, o temor da
sanção, da infâmia, da Igreja, ou da hereditariedade, ou de prudentes hábitos
impostos por uma ginástica mental continuada, motivo que não valem mais nos
dementes morais ou nos delinquentes natos, que logo caem na reincidência”. [6]
As principais contribuições da escola positiva, portanto, são: “a) a descoberta
de novos fatos e a realização de experiências, ampliando o conteúdo do
Direito; b) o nascimento de uma nova ciência casual-explicativa: a criminologia;
c) a preocupação com o delinquente e com a vítima; d) uma melhor
individualização das penas (legal, judicial e executiva); e) o conceito de
periculosidade; f) o desenvolvimento de institutos, como a medida de
segurança, a suspensão condicional da pena, o livramento condicional e o
tratamento tutelar ou assistencial do menor”.[7]
A Escola Positiva, para fins didáticos, é dividida em três etapas: a
antropológica, de Cesare Lombroso; a sociológica, de Enrico Ferri e a jurídica,
de Raffaele Garofalo.
A primeira enfatiza a figura do delinquente e suas qualidades naturais,
estabelecendo nexos entre as características em comum dos indivíduos e de
que maneira isso. Já a segunda analisa como o ambiente também influencia no
comportamento dos criminosos. A terceira, por fim, desenvolve de que modo
tais características refletem na periculosidade do indivíduo, possibilitando que o
Direito seja uma ferramenta de prevenção de crimes e de defesa da sociedade.

Contribuição científica de Lombroso


Lombroso no anseio de buscar as motivações das práticas criminosas,
concentrou-se no estudo da essência do criminoso, desenvolvendo uma
extensa pesquisa empírica de traços físicos e mentais com indivíduos
encarcerados, doentes mentais e soldados, denominada Antropologia Criminal.
Considerando tais elementos, a pesquisa de Lombroso estabeleceu esses
traços em “estigmas” passíveis de determinação de um potencial delitivo. Neste
sentido, despida de qualquer tipo de livre arbítrio, a prática criminosa estaria
sujeita apenas às características patológicas do indivíduo.
Sua obra teve direta influência da Frenologia, estudo realizado por Franz
Joseph Gall no século XIX, o qual pretendia determinar a personalidade
individual a partir de análises craniana. Apesar da falta de credibilidade dada a
tal teoria, Lombroso a adotou no desenvolvimento de sua obra.
O autor restringiu sua pesquisa à caracterização e dedução de tendências
criminosas conforme a figura do delinquente, focando a análise empírica de
diferentes fatores: composição física (como fisionomia, sensibilidade, agilidade,
sexualidade, peso e idade), anomalias cranianas, composição biológica (como
hereditariedade, reação etílica) e psicológica (como senso moral, inteligência,
vaidade, preguiça e astúcia).
Os conceitos de Lombroso, fundamentados na pesquisa das características do
indivíduo delituoso, a denominada “Antropologia Criminal”, acabou por definir o
“Delinquente Nato”, o agente criminoso símbolo do trabalho lombrosiano.
Tendo como principal fonte conceitual o livro “O Homem Delinquente”, o dito
“Delinquente Nato” teria como origem comportamental o atavismo, levando-se
em conta a teoria evolucionista de Charles Darwin, pela qual o sujeito atávico é
aquele menos desenvolvido na escala evolutiva, sendo ele ainda submetido ao
estado selvagem. Neste contexto, era objeto de atenção de Lombroso na
determinação do criminoso nato, por exemplo, a tatuagem, sendo ela um
indício de sua insensibilidade e selvageria, fatores intrínsecos ao atavismo.
Assim, o desenho, a região do corpo, o número de tatuagens presente no
indivíduo podem revelar muito de sua vida e personalidade, levando-nos a
traçar o seu potencial delitivo.
Para a complementação de sua pesquisa, no ímpeto de traçar a essência do
Delinquente nato, o autor também estudou outras características físicas e
psíquicas do criminoso, relacionando-as e complementando-as. Conforme foi
se aprofundando nos seus estudos, Lombroso gradativamente ampliou sua
teoria de modo a fundamentar a potencialidade delitiva de forma complexa e
variável. Neste sentido Cezar Roberto Bitencourt, em seu livro “Tratado de
Direito, Penal Parte Geral”, 2013, p. 104: “Ao longo dos seus estudos foi
modificando sucessivamente a sua teoria (atavismo, epilepsia, loucura moral).
Em seus últimos estudos, Lombroso reconhecia que o crime pode ser
consequência de múltiplas causas, que podem ser convergentes ou
independentes. Todas essas causas como ocorre com qualquer fenômeno
humano, devem ser consideradas, e não atribuir causa única. Essa evolução
no seu pensamento permitiu-lhe ampliar sua tipologia de delinquentes: a) nato;
b) por paixão; c)louco; d)de ocasião; e)epilético”. [8]
A loucura moral, por exemplo, considerando os estudos de Lombroso, seriam
uma espécie de atrofia do senso moral a qual impele o sujeito a práticas
criminosas. Na epilepsia, por sua vez, muito tratada no livro "Os Anarquistas", o
autor encontra nas crises epiléticas um dos fundamentos para caracterizar o
criminoso.
Diante das definições médico-científicas dada por Lombroso, dizia ele ser mais
adequado encaminhar os delinquentes para médicos ao invés de manda-los a
juízes, pois aqueles poderiam determinar a real potencialidade delitiva do
indivíduo através da complexa relação das características físicas e mentais
cientificamente definidas.
Com a finalidade de trazer o estudo da realidade e da essência da delinquência
para medidas de manutenção da ordem social, depreende-se da opinião de
Lombroso, apesar de seus esforços para evitar polêmicas e de sua promessa
de cura da criminalidade, possíveis medidas práticas para a prevenção da
delinquência, como a educação das crianças cujo potencial delitivo não se
manifestou por inteiro, ou ainda, o isolamento perpétuo dos indivíduos com
potencial de características criminosas, conforme seus conceitos e estudos, da
convivência com a sociedade ou a própria morte. Neste sentido, Lombroso, em
um opúsculo de 1893 denominado “As mais recentes descobertas e aplicações
de psiquiatria e antropologia criminal” (Introdução do livro “O homem
Delinquente”, Ícone Editora, 2ª reimpressão, 2013), diz: “Na realidade, para os
delinquentes-natos adultos não há muitos remédios; é necessário isolá-los para
sempre, nos casos incorrigíveis, e suprimi-los quando a incorrigibilidade os
torna demasiado perigosos”.[9]
Criminologia
Lombroso ansiou detectar as causas da criminalidade, e o fez através de
pesquisas científico-empíricas das características físicas, fisiológicas e
psicológicas do indivíduo criminoso. Nasceu, a partir daí, o que chamamos hoje
de Criminologia, uma ciência autônoma que se propõe a estudar o crime e as
suas motivações a partir do indivíduo.

Criminologia no Direito Penal brasileiro


As ideias do Direito Penal Positivo de Lombroso tiveram certa influência na Era
Vargas para a criação da legislação penal brasileira.
O pensamento lombrosiano na Criminologia e no Direito
Penal brasileiro
As ideias positivas Lombrosianas se difundiram mundialmente. No Brasil, a
repercussão não foi diferente. Dentre os estudiosos que se dedicaram à
pesquisa do Positivismo Penal, destacam-se: Braz Florentino, Tomaz Alves,
Joaquim Augusto Camargo, Lima Drummond, Vieira de Araújo, Pedro Lessa.
Tais estudos lombrosianos influenciaram nos mais diversos níveis os teóricos
brasileiros. Havia aqueles que seguiam suas ideias com afinco, e outros que
mantinham certa cautela quanto às concepções lombrosianas.
Dentre os estudos desenvolvidos pelos brasileiros, a partir do trabalho de
Lombroso, destaca-se um episódio de Raimundo Nina Rodrigues. Este
estudioso, logo após a Guerra de Canudos, solicitou a cabeça de Antônio
Conselheiro, a fim de analisar seu crânio e procurar indícios de atavismo,
embora sem êxito. Esse mesmo autor também realizou demais estudos, alguns
até com conteúdo racista, como a conclusão de que negros e “mulatos”
possuíam capacidade mental incompleta, e, diante disso, eles deveriam se
submeter a outras normas.
Pedro Lessa também foi responsável pela propagação das ideias de Lombroso,
apesar das constantes ressalvas quanto à falta de comprovação e
inconvenientes excessos.
O Código Penal de 1940
O Código Penal Brasileiro de 1940 foi elaborado em meio a uma crise
econômico-político-social, na qual o índice de criminalidade aumentava e a
repressão do Estado Novo de Vargas tomava enormes proporções. Dessa
forma, um novo ordenamento penal se fazia necessário frente ao cenário
brasileiro. A teoria positivista lombrosiana influenciou em muito na estrutura do
Código, na quantidade da pena e na caracterização do criminoso. É impossível
ignorar que o Código era carregado de preconceito e segregação, não
quebrando com os costumes brasileiros anteriores de diferenciação clara da
população conforme condições econômicas e sociais. Assim, os indivíduos
indesejáveis – os de classe inferior – eram tidos como alienados. Vale ressaltar
também que, levadas às últimas consequências, as penas dos crimes
corriqueiros contra o patrimônio privado e público atingem de forma mais
severa quando comparadas às sanções de crimes maiores,
como corrupção e sonegação de altos impostos, embora ambos versem sobre
o mesmo bem jurídico.
A teoria Lombrosiana, no CP/1940, é muito notória no que tange à qualificação
da personalidade do delinquente, à periculosidade e às medidas de segurança
que mais funcionam como pena indeterminada.
Personalidade do delinquente e seu grau de periculosidade
É fato que deve-se analisar a personalidade do indivíduo delinquente, a fim de
entender os motivos que o levaram a cometer o crime e possibilitar uma
alteração na sociedade para a diminuição da criminalidade. Entretanto, a
observância do indivíduo apenas serviu para manter o status quo.
A personalidade do agente era vista de uma perspectiva determinista e serve
como influência direta na dosimetria da pena,[10] influenciando em qual tipo de
regime estará sujeito o criminoso. Atualmente, o Código Penal prevê no artigo
59: “Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta
social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e
consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime”[11]. Portanto, cabe ao juiz analisar a personalidade do
agente e como isso influi para quantidade de pena que cabe a ele.
O grau de periculosidade é outro ponto enraizado nas normas penais
brasileiras. A periculosidade posterior (aludindo ao instituto da reincidência),
por exemplo, aponta para aquilo que Lombroso chamava de possibilidade do
indivíduo voltar a delinquir (potencial delitivo). A lei 12.654, sancionada em
2012, por exemplo, prevê coleta e mapeamento do perfil genético dos
indivíduos presos no cárcere brasileiro. Já a periculosidade anterior, trabalhada
por Lombroso, é observada nos crimes tentados por exemplo, pois embora o
crime não tenha se consumado, a execução foi iniciada, mas interrompida por
circunstâncias alheias à sua vontade.[12] E assim, pune-se pela probabilidade de
ela voltar a se repetir.
Medidas de segurança
Este instituto consolida dois fatores muito discutidos na obra de Lombroso: a
periculosidade – já trabalhada no item anterior, mas que também motiva a
medida de segurança – e a indeterminação da pena.
A Medida de segurança é o tratamento aplicado àqueles indivíduos
inimputáveis que cometem um delito penal.[13]. Assim, os indivíduos cometem o
delito, mas ao tempo da ação ou da omissão, eram inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato, devido à doença mental ou ao
desenvolvimento mental incompleto.
Esses indivíduos, embora isentos de pena comum, podem se sujeitar às
medidas de segurança, sendo estas a internação em hospital de custódia,
tratamento psiquiátrico e sujeição ao tratamento ambulatorial.
A indeterminação da pena é vista como consequência inevitável, pois perdura
enquanto a notificação de cessação dos efeitos psíquicos (solicitada pelo
próprio paciente ou constatada pelo médico responsável) não for admitida.
Esse fato aponta para a perpetuidade dos manicômios jurídicos, visto que o
interno geralmente perde laços familiares e sociais, ficando privado de qualquer
perspectiva de vida e sendo sujeito ao cotidiano dos hospitais de custódia por
tempo indeterminado. Tal recorte das medidas de segurança remete à
sugestão de Lombroso de afastamento infindo do delinquente da convivência
com a sociedade.
Com o avanço dos estudos da Ciência Penal, algumas ideias lombrosianas
caíram por terra. Entretanto, é inegável que as teses de Lombroso perduraram
por gerações, em razão de serem inerentes à constituição do Código Penal de
1940, vigente até os dias de hoje.

Obras
• 1874 - Gênio e Loucura
• 1876 - O Homem Delinquente
• 1890 - O Crime Político e as Revoluções[14]
• 1891 - O Delito
• 1891 - O Antissemitismo e as ciências modernas
• 1893 - A Mulher Delinquente, a Prostituta e a Mulher Normal
• 1893 - As mais recentes descobertas e aplicações da psiquiatria e
antropologia criminal
• 1894 - Os anarquistas
• 1894 - O crime, causas e remédios[9]
O homem delinquente
Lombroso em sua análise da aplicação dos estudos zoológicos na ciência
penal conclui que as mesmas relações de hierarquia, dominação e busca por
liderança observadas, bem como os sentimentos de rivalidade, ambição,
cobiça, exclusão e disputa por fêmeas são razões para agressões e mesmo
morte nos integrantes inferiores do reino animal, tal qual para o homem
delinquente. Percebe que os atos reputados mais criminosos pelos homens em
sociedade são aqueles mais naturais.
Adepto da escola positivista da psicologia criminal, procura estabelecer
características anatômicas, bem como manifestações de traços psicológicos
comuns e predominantes, ao homem delinquente.
Na visão de Lombroso – baseada em Moreau, Perez e Bain – os germens do
delinquente são notáveis logo nos primeiros anos de um ser humano. Para
comprovar seu estudo, ele exemplifica 13 características de crianças que
podem contribuir para desenvolver um delinquente: cólera, vingança, ciúmes,
mentiras, senso moral, afeto, crueldade, preguiça e ócio, gíria, vaidade,
alcoolismo e jogo, tendências obscenas e imitação.
A falta de freio desses hábitos refletem a má educação dada pelos pais,
possibilitando então a delinquência nestas crianças, embora – segundo
Lombroso – nem mesmo a boa educação salve as crianças pré-dispostas a
esse mal.
Sobre as penas, Lombroso considera que o conceito de pena é consequência
do delito. Sem delito, então, não há sanção.
A respeito do suicídio, o autor aponta que a insensibilidade dos delinquentes
leva a uma maior frequência na prática desse ato. Deve-se adicionar o fato da
imprevidência e impaciência que os domina. Para eles, diz Lombroso, é
preferível suportar um mal gravíssimo e rápido a um mal leve por muito tempo.
Eles acham menos dura a morte, do que ver insatisfeitas as próprias paixões
momentâneas. Em diversos deles, principalmente em casos de alcoólatras, o
suicídio ocorre quase que automaticamente, quase sem causa, por um
capricho.
Nem todos os sentidos foram extirpados dos criminosos. Para suportar sua
tese, Lombroso cita diversos casos estudados por ele que demonstram
afetividade dos criminosos para com indivíduos, seja da família ou conhecidos
deles. Porém, não é raro que tais sentimentos tomem um traço doentio,
excessivo e instável. Os delinquentes também são extremamente vaidosos,
mais do que artistas, literatos e das mulheres galantes. Satisfazer a própria
vaidade e brilhar do mundo é o que se chama figurar; é a causa mais comum
dos modernos delitos.
Lombroso não deixa de falar sobre a inteligência e a instrução dos
delinquentes, e a medida pela qual elas influenciam em cada tipo de criminoso.
Ele defende que, apesar de haver delinquentes geniais, a média intelectual
deles é inferior ao normal ou, pelo menos, há uma parte defeituosa em sua
inteligência. Entre as características típicas, ele menciona a preguiça, a
inconstância moral e a imprevidência.
Sobre a reincidência, o autor parte da premissa de que não há sistema
carcerário que salve os reincidentes, mas, pelo contrário, elas são as causas
principais deles.
Lombroso pontua a equivalência que comumente se aplicava aos dementes
morais e os delinquentes-dementes. Assim, por diversos motivos – tal qual o
medo do perigo social e a temibilidade- considerava-se, no princípio, a
diferenciação entre demência e crime. Porém, estudos da época, de autores
como Krafft-Ebbing, Hollander, Savage, Mendel e do próprio Lombroso, a
respeito das características da demência moral, descobertos na própria
demência-nata, mudaram a opinião do autor.
Primeiramente passou-se a aceitar a identidade da demência moral com a
criminalidade, como prova indireta de tal fato tem-se a presença em maior
número de dementes morais em cárceres do que em manicômios. Enfim, após
uma pesquisa rebuscada das características dos dementes morais, pode-se
observar uma reprodução de tais características na conceituação do próprio
delinquente.
Dentre as características estudadas na demência moral, tem-se: peso, crânio,
fisionomia, insensibilidade à dor, tato, tatuagem, reação etílica, agilidade,
sexualidade, senso moral, afetividade, altruísmo, vaidade excessiva,
inteligência, astúcia, preguiça, premeditação, espírito de associação, vaidade
do delito, simulação, sintomatologia da demência moral e hereditariedade.
Por fim, Lombroso quis provar a diferença existente entre os delinquentes-
dementes e os dementes morais e a aproximação destes últimos aos próprios
delinquentes e delinquentes natos. Assim, pretendeu-se provar a ligação entre
o demente moral e o crime através de suas características físicas e
psíquicas.[15]
Os anarquistas
A obra, datada do final do século XIX, consiste em breves ensaios nos quais
Lombroso busca primeiramente entender as causas do anarquismo,
características dos anarquistas – e quais dessas características os tornam
próximos aos criminosos – e os fins buscados pelos anarquistas, dentre os
quais são listados: a fundação de um domínio de classe; fundação de uma
sociedade livremente constituída e baseada na comunhão de bens;
organização perfeita da produção; livre troca de produtos equivalentes;
organização da educação por bases científicas, não religiosas e sem distinção
sexual; além de utilização de tratados para relação de todos os assuntos
públicos. O próprio autor, todavia, enxerga que a maioria desses objetivos são
impossíveis de serem atingidos de maneira completa. Também, ao fim da obra,
há sugestões de medidas de cura da anarquia.
Iniciam-se comparações entre anarquistas e criminosos, levando em
consideração suas características subjetivas e fisionômicas, como já abordado,
a título de exemplo, na obra “O Homem Delinquente”, bem como a prática de
delitos políticos. Das características mencionadas, há por exemplo a utilização
de gírias entre anarquistas – comumente as mesmas utilizadas por
delinquentes; tatuagens, falta de sentido ético e lirismo, exemplificado nas
músicas com tom pejorativo; prazer de praticar o mal. Ravachol, codinome
de François Claudius Koënigstein, é um anarquista tido como criminoso nato na
análise lombrosiana, porque possui diversas dessas características subjetivas,
bem como físicas: mandíbula inferior enorme e rosto irregular.
Outra questão abordada por Lombroso diz respeito à relação entre
criminalidade e política, já que o autor demonstra que há grande aumento na
criminalidade no momento em que se principiam revoluções e levantes.
Tratando como exemplo as revoluções ocorridas no final da década de 1840,
a Comuna de Paris e a Revolução Francesa, ele considerou que a paixão
política frequentemente gera uma aproximação para o crime. Posteriormente, o
autor faz relações entre a criminalidade congênita e a denominada “epilepsia
política” ou histeria, que é tida como comum nos réus políticos: ela se identifica
com o momento de insight – também entendido como da própria descrição das
ideias chamadas revolucionárias.
Prosseguindo a análise de características, menciona-se a loucura política, que
está relacionada à indignação pelas condições políticas e religiosas do período,
e o suicídio indireto, trazendo a figura do réu político por paixão, que atenta
contra a vida de outrem por uma ânsia suicida e de desvalorização a si próprio,
muitas vezes para ser condenado à morte, como nos casos de Mandsley e
Oliva y Moncusi.[16] Os anarquistas, inclusive, são vistos como portadores de
uma neurose, sendo criminosos políticos perpétuos, “que encontram no motim
o meio de desafogar suas paixões e ser aclamado, por uma vez, pelo grande
público”.
Surge então uma análise específica dos “presos por paixão”, sendo Hamlet de
Shakespeare o exemplo máximo dessa modalidade criminosa. Nesses crimes,
há uma grande influência do fanatismo econômico e social, unido a uma paixão
e consecução criminosa. Configuram-se a antítese do criminoso nato, pois são
revolucionários dotados de simpatia e de cuidado com a sua aparência, como
os niilistas e revolucionários franceses, bem como o já mencionado Hamlet.
Entretanto, a predominância desse tipo de crime se concentra no sexo
feminino, não havendo presença de cúmplices, sendo os indivíduos praticantes
do crime extremamente honrados, com moralidade e virtude acentuadas. A
despeito dessas características, a figura do exagero é uma marca constante:
seja pela dor alheia (hiperestesia), ou pela natureza epiléptica política.
Ligado diretamente à modalidade dos crimes de paixão, o altruísmo é
analisado por Lombroso, que se surpreende com o fato de que anarquistas são
dotados de extremo altruísmo, algo não verificável inclusive nos homens
normais não-criminosos. Entretanto, aqui há uma zona de divergência em
relação aos criminosos natos, bem como loucos, que são extremamente
egoístas. De todo modo, a análise proposta por Lombroso se firma em
discursos anarquistas, comumente proferidos nos julgamentos em júri, surgindo
com grande fanatismo e entusiasmo. No ensaio, há transcrições de Ravachol e
Henry. Ambos são dotados de grande senso ético, sendo que Ravachol
entende que os seus atos são uma consequência ipso facto da sociedade em
que vive: “em uma sociedade que se dão semelhantes feitos, não devem ser
surpresa atos esses que me são imputados, consequência lógica da luta pela
existência latente entre todos os homens”. E completa: “Me tornei
contrabandista, falsificador de dinheiro, ladrão e assassino. Poderia ter sido
pedinte, mas isso é uma atividade vil e degradante, e está castigada pelas
nossas leis, que fazem da miséria um delito”. Nesse sentido, o criminoso
entende que o “gérmen do delito” é a miséria, que deve ser combatida. No
outro discurso, Henry faz uma crítica às instituições sociais de seu tempo, as
quais considera “mentiras”: “o deputado, o ministro, cujas mãos estão sempre
abertas para receber suborno, eram os encarregados de prezar pelo bem
público. [...] Tudo isso sublevou meu espírito e me fez criticar a organização
social”.
Finalmente, o autor busca identificar a profilaxia do anarquismo, entendido
finalmente como uma neurose. Apesar de defender medidas enérgicas, é
contra a perseguição realizada na França e Espanha, muitas vezes aplicando-
se a pena capital para anarquistas. Como eles são geralmente loucos, devem
ser levados aos manicômios. Como criminosos, o altruísmo deve ser levado em
consideração, bem como a pouca idade: Langs, citado como exemplo, possuía
20 anos de idade, momento em que a audácia atravessa o zênite, para
enfraquecer-se depois. Além desses fatores, condenar à morte um anarquista
apenas irá transformá-lo em um mártir, citando-se como exemplo da Rússia,
onde não diminuíram os atentados – na realidade, aumentaram, mesmo com
leis severas, como por exemplo, o envio de anarquistas à Sibéria.
Para acabar com o anarquismo, na noção de Lombroso, a luta “deve ser mais
elevada, rica, poderosa e instruída, dando exemplo de racionalidade, calma e
sangue frio, sem recorrer cegamente ao perigo, ao terror e à guilhotina, que
criam mártires e estimulam o partido cujo espírito de luta e resistência se quer
destruir”. Portanto, além do envio de anarquistas à manicômios, o autor
também sugere a proibição de divulgação dos processos anarquistas em
periódicos, a demonstração popular de que essas ideias anarquistas são
falsas, dentre várias outras medidas, embora todas essas fossem paliativas.
Para mudanças mais radicais, seguindo a linha de Ravachol, o autor entende
que devem ser cortadas as raízes do empobrecimento geral, com mudanças na
área econômica, evitando-se a concentração excessiva de propriedade, “para
que, os que possuem talento e condições para o trabalho, possam determinar a
sua vida”. Dentre outras medidas polêmicas, o autor inclusive chega a sugerir
imposto sobre grandes riquezas e expropriação forçada de propriedades rurais.
Em 1891, um artigo intitulado “Uma resposta de um anarquista convicto ao
professor Lombroso”,[17] de Michael Schwab foi publicado na obra “The Monist”,
vol. 1, apontando possíveis erros na análise lombrosiana, embora o artigo
tenha um caráter respeitoso. Lombroso também foi criticado por sua análise ter
sido considerada estritamente política,[18] gerando repercussões dentre grupos
anarquistas existentes até os dias de hoje.[19]

Opiniões divergentes da obra lombrosiana


Apesar da grande repercussão de Lombroso na criminologia mundial, sua obra
não é despida de críticas e controvérsias, as quais se fizeram presentes desde
a contemporaneidade do autor. Uma questão levantada é que, apesar da
ausência de livre-arbítrio no sujeito do criminoso, o autor se omite quanto à
responsabilidade do delinquente, levando-nos a concluir a sua complacência
com a responsabilização do criminoso apesar de não ter feito uma escolha no
ato delituoso. Além disso, muito da sua teoria perdeu credibilidade devido ao
fato de não ter se comprovado a existência do criminoso nato, argumento muito
utilizado por seus adversários. Outro ponto objeto de descrédito é a própria
generalização de sua teoria, que no intuito de convalidá-la, acabou por ampliá-
la demasiadamente, de modo que qualquer um poderia se caracterizar como
um criminoso nato.
Em um artigo desenvolvido por Alfred Lindesmith e Yale Levin, no Chicago
Journals, questionou-se a caracterização de Lombroso como um mito da
criminologia científica na literatura americana. Ignoram-se quase que por
completo, segundo o artigo, as produções e pesquisas criminológicas,
compiladas de forma séria e ampla, anteriores a Lombroso.
São exemplos de estudos em meados do século XIX (anteriores às teorias de
Lombroso) de ampla importância aqueles desenvolvidos por A. Quételet (1796-
1874), cuja influência chegou a Europa como uma possibilidade de se estudar
o crime sob o ponto de vista do fenômeno social. Outro autor de grande
relevância neste contexto foi A. M. Guerry (1802-1866), que criou um “método
cartográfico” para o estudo do crime e da “estatística moral”. Tal método,
adotado por estudiosos diversos e até por Estados em suas estatísticas
internas, consistia na comparação da incidência do crime entre diferentes
períodos de tempo, distritos e legislações. Muitos assuntos voltados para a
criminologia, abordados de forma a considerar as ciências sociológicas, foram
objeto de ampla discussão, pesquisa e produção literária antes da teoria
lombrosiana vir à tona. A delinquência na juventude, por exemplo, foi um
assunto no qual se deu grande atenção e se admitiu a responsabilidade social
na formação de jovens infratores, como se defendeu em movimentos para
reforma de delinquentes juvenis na Europa. Ao crime profissional também foi
dado muita importância, onde se destacou o trabalho de Avé-Lallemant, o qual
considerava que tal espécie criminal compunha organicamente a estrutura
social, sendo uma de suas instituições.
Entretanto, Lombroso, ao inserir na discussão da criminologia uma abordagem
científica, com base no determinismo biológico, na anatomia do ser humano
vinculada ao evolucionismo de Darwin, ele acaba por reduzir as causas do
fenômeno delituoso à natureza do criminoso. Desta forma, ele rompe com a
corrente sociológica atribuída a criminologia desenvolvida até então, ao
desconsiderar qualquer vínculo entre a sociedade e o delinquente, ponto
abordado posteriormente por Enrico Ferri.
Por fim o artigo defende que a ascensão das ideias de Lombroso se deu
basicamente devido à sua relação com a recém- descoberta teoria Darwinista,
a qual era fonte de muito prestígio e valor em uma sociedade extasiada pela
evolução científica da época. Além disso, o caráter científico atribuía à
criminologia lombrosiana uma “majestade” e sua sequência lógica de raciocínio
acabava por passar a sensação de aproximação com a verdade.

Espiritismo
Inicialmente, Lombroso ridicularizava pesquisas e textos sobre a mediunidade,
considerando-os charlatanice e credulidade simplória, como em seu
opúsculo Studi sull'ipnotismo (Turim, 1882). Entretanto, a convite do conde
Ercole Chiaia para que estudasse melhor o assunto, em 1891 conheceu e
participou de sessões com a médium italiana Eusápia Paladino, vindo a
considerar como autênticas a produção dos fenômenos e manifestações
espíritas, e iniciando as suas pesquisas; no mesmo ano registrou em uma
carta: "Estou muito envergonhado e desgostoso por haver combatido com tanta
persistência a possibilidade dos fatos chamados espiríticos; mas os fatos
existem e eu deles me orgulho de ser escravo".[20] Já em julho de 1888,
publicava no jornal Fanfulla della Domenica (n° 29) um artigo
intitulado L'inflenza della civilta e dell ocasione, em que assumia seu erros
quanto ao que dissera acerca do espiritismo. Torna-se então um adepto e
defensor do espiritismo na Itália de seu tempo. Suas principais pesquisas
relacionadas ao assunto encontram-se publicadas na obra "Ricerche sui
fenomeni ipnotici e spiritic" (Turim, 1909).[21][22]

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