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fontes: ABW • CAPES • Google (N • L • A) (Novembro de 2014)
Cesare Lombroso
Biografia
Vida e obra
Lombroso nasceu em uma abastada família judaica[1] em 6 de novembro de
1835, filho de Aronne Lombroso, mercador de Verona, e Zeffora Levia,
de Chieri, cidade próxima a Turim.
Iniciou seus estudos em medicina em 1852 na Universidade de Pavia,
estudando também em Pádua e Viena. Durante seus estudos, se inclinou aos
pensamentos do positivismo francês e italiano, do materialismo alemão e
do evolucionismo inglês, direcionando-o para direção divergente das doutrinas
filosóficas então prevalecentes, em especial à ainda dominante teoria clássica
do crime desenvolvida por Cesare Beccaria cem anos antes de sua época.[2]
Recebe seu diploma de médico em 1858, aos 23 anos, pela Universidade de
Pavia e entre 1859 e 1865 foi médico voluntário no recém-formado exército
nacional. Sua carreira percorreu inúmeros hospitais e vinculação a
universidades. Entre 1863 e 1872, foi responsável pelo bem-estar dos
pacientes mentais dos hospitais de Pavia, Pesaro e Reggio Emilia.
Em 1876 manteve posto nas cátedras de medicina legal e higiene
pública da Universidade de Turim, onde posteriormente se tornaria professor
de psiquiatria em 1896 e de antropologia em 1906. Sua experiência psiquiátrica
foi muito influente em sua associação da demência com a delinquência. [3]
Contribuição teórica
Lombroso é creditado como sendo o criador da antropologia criminal e suas
ideias inovadoras deram nascimento à Escola Positiva de Direito Penal, mais
precisamente a que se refere ao positivismo evolucionista, que baseava sua
interpretação em fatos e investigações científicas.
Em 1880 funda juntamente com Enrico Ferri e Raffaele Garofalo o
jornal “Archivio I Psichiatria, antropologia criminale e scienza penale” que se
tornou o grande porta-voz do movimento positivista penal.[2] Desenvolveu a
teoria de que o criminoso é vítima principalmente de influências atávicas, isso
é, uma regressão hereditária a estágios mais primitivos da evolução,
justificando sua tese com base nos estudos científicos de Charles Darwin. Uma
de suas conclusões é possibilitar a equivalência do criminoso a um doente que
não pode responder por seus atos por lhe faltarem forças para lutar contra os
ímpetos naturais.[3]
De fato, para ele o crime é uma circunstância natural por ser de caráter
primariamente hereditário, porém inaceitável socialmente e acabou por se
mostrar favorável à pena de morte e prisão perpétua como verificado em “As
mais recentes descobertas e aplicações da psiquiatria e antropologia
criminal” de 1893.
Seus principais sucessores foram Raffaelle Garofalo (cujos estudos
colaboraram na formação da Psicologia Criminal), Enrico Ferri e principalmente
Gina e Paola, filhas de Lombroso que juntas formaram grandes expoentes da
Escola Positiva de Direito Penal.
Morte
Cesare Lombroso morreu em 19 de outubro de 1909 em Turim, deixando
inúmeros legados científicos para os estudos das Ciências antropológicas,
criminológicas, psicológicas, médicas e espirituais. Foi sepultado no Cimitero
Monumentale di Torino, Piemonte na Itália.[4]
Obras
• 1874 - Gênio e Loucura
• 1876 - O Homem Delinquente
• 1890 - O Crime Político e as Revoluções[14]
• 1891 - O Delito
• 1891 - O Antissemitismo e as ciências modernas
• 1893 - A Mulher Delinquente, a Prostituta e a Mulher Normal
• 1893 - As mais recentes descobertas e aplicações da psiquiatria e
antropologia criminal
• 1894 - Os anarquistas
• 1894 - O crime, causas e remédios[9]
O homem delinquente
Lombroso em sua análise da aplicação dos estudos zoológicos na ciência
penal conclui que as mesmas relações de hierarquia, dominação e busca por
liderança observadas, bem como os sentimentos de rivalidade, ambição,
cobiça, exclusão e disputa por fêmeas são razões para agressões e mesmo
morte nos integrantes inferiores do reino animal, tal qual para o homem
delinquente. Percebe que os atos reputados mais criminosos pelos homens em
sociedade são aqueles mais naturais.
Adepto da escola positivista da psicologia criminal, procura estabelecer
características anatômicas, bem como manifestações de traços psicológicos
comuns e predominantes, ao homem delinquente.
Na visão de Lombroso – baseada em Moreau, Perez e Bain – os germens do
delinquente são notáveis logo nos primeiros anos de um ser humano. Para
comprovar seu estudo, ele exemplifica 13 características de crianças que
podem contribuir para desenvolver um delinquente: cólera, vingança, ciúmes,
mentiras, senso moral, afeto, crueldade, preguiça e ócio, gíria, vaidade,
alcoolismo e jogo, tendências obscenas e imitação.
A falta de freio desses hábitos refletem a má educação dada pelos pais,
possibilitando então a delinquência nestas crianças, embora – segundo
Lombroso – nem mesmo a boa educação salve as crianças pré-dispostas a
esse mal.
Sobre as penas, Lombroso considera que o conceito de pena é consequência
do delito. Sem delito, então, não há sanção.
A respeito do suicídio, o autor aponta que a insensibilidade dos delinquentes
leva a uma maior frequência na prática desse ato. Deve-se adicionar o fato da
imprevidência e impaciência que os domina. Para eles, diz Lombroso, é
preferível suportar um mal gravíssimo e rápido a um mal leve por muito tempo.
Eles acham menos dura a morte, do que ver insatisfeitas as próprias paixões
momentâneas. Em diversos deles, principalmente em casos de alcoólatras, o
suicídio ocorre quase que automaticamente, quase sem causa, por um
capricho.
Nem todos os sentidos foram extirpados dos criminosos. Para suportar sua
tese, Lombroso cita diversos casos estudados por ele que demonstram
afetividade dos criminosos para com indivíduos, seja da família ou conhecidos
deles. Porém, não é raro que tais sentimentos tomem um traço doentio,
excessivo e instável. Os delinquentes também são extremamente vaidosos,
mais do que artistas, literatos e das mulheres galantes. Satisfazer a própria
vaidade e brilhar do mundo é o que se chama figurar; é a causa mais comum
dos modernos delitos.
Lombroso não deixa de falar sobre a inteligência e a instrução dos
delinquentes, e a medida pela qual elas influenciam em cada tipo de criminoso.
Ele defende que, apesar de haver delinquentes geniais, a média intelectual
deles é inferior ao normal ou, pelo menos, há uma parte defeituosa em sua
inteligência. Entre as características típicas, ele menciona a preguiça, a
inconstância moral e a imprevidência.
Sobre a reincidência, o autor parte da premissa de que não há sistema
carcerário que salve os reincidentes, mas, pelo contrário, elas são as causas
principais deles.
Lombroso pontua a equivalência que comumente se aplicava aos dementes
morais e os delinquentes-dementes. Assim, por diversos motivos – tal qual o
medo do perigo social e a temibilidade- considerava-se, no princípio, a
diferenciação entre demência e crime. Porém, estudos da época, de autores
como Krafft-Ebbing, Hollander, Savage, Mendel e do próprio Lombroso, a
respeito das características da demência moral, descobertos na própria
demência-nata, mudaram a opinião do autor.
Primeiramente passou-se a aceitar a identidade da demência moral com a
criminalidade, como prova indireta de tal fato tem-se a presença em maior
número de dementes morais em cárceres do que em manicômios. Enfim, após
uma pesquisa rebuscada das características dos dementes morais, pode-se
observar uma reprodução de tais características na conceituação do próprio
delinquente.
Dentre as características estudadas na demência moral, tem-se: peso, crânio,
fisionomia, insensibilidade à dor, tato, tatuagem, reação etílica, agilidade,
sexualidade, senso moral, afetividade, altruísmo, vaidade excessiva,
inteligência, astúcia, preguiça, premeditação, espírito de associação, vaidade
do delito, simulação, sintomatologia da demência moral e hereditariedade.
Por fim, Lombroso quis provar a diferença existente entre os delinquentes-
dementes e os dementes morais e a aproximação destes últimos aos próprios
delinquentes e delinquentes natos. Assim, pretendeu-se provar a ligação entre
o demente moral e o crime através de suas características físicas e
psíquicas.[15]
Os anarquistas
A obra, datada do final do século XIX, consiste em breves ensaios nos quais
Lombroso busca primeiramente entender as causas do anarquismo,
características dos anarquistas – e quais dessas características os tornam
próximos aos criminosos – e os fins buscados pelos anarquistas, dentre os
quais são listados: a fundação de um domínio de classe; fundação de uma
sociedade livremente constituída e baseada na comunhão de bens;
organização perfeita da produção; livre troca de produtos equivalentes;
organização da educação por bases científicas, não religiosas e sem distinção
sexual; além de utilização de tratados para relação de todos os assuntos
públicos. O próprio autor, todavia, enxerga que a maioria desses objetivos são
impossíveis de serem atingidos de maneira completa. Também, ao fim da obra,
há sugestões de medidas de cura da anarquia.
Iniciam-se comparações entre anarquistas e criminosos, levando em
consideração suas características subjetivas e fisionômicas, como já abordado,
a título de exemplo, na obra “O Homem Delinquente”, bem como a prática de
delitos políticos. Das características mencionadas, há por exemplo a utilização
de gírias entre anarquistas – comumente as mesmas utilizadas por
delinquentes; tatuagens, falta de sentido ético e lirismo, exemplificado nas
músicas com tom pejorativo; prazer de praticar o mal. Ravachol, codinome
de François Claudius Koënigstein, é um anarquista tido como criminoso nato na
análise lombrosiana, porque possui diversas dessas características subjetivas,
bem como físicas: mandíbula inferior enorme e rosto irregular.
Outra questão abordada por Lombroso diz respeito à relação entre
criminalidade e política, já que o autor demonstra que há grande aumento na
criminalidade no momento em que se principiam revoluções e levantes.
Tratando como exemplo as revoluções ocorridas no final da década de 1840,
a Comuna de Paris e a Revolução Francesa, ele considerou que a paixão
política frequentemente gera uma aproximação para o crime. Posteriormente, o
autor faz relações entre a criminalidade congênita e a denominada “epilepsia
política” ou histeria, que é tida como comum nos réus políticos: ela se identifica
com o momento de insight – também entendido como da própria descrição das
ideias chamadas revolucionárias.
Prosseguindo a análise de características, menciona-se a loucura política, que
está relacionada à indignação pelas condições políticas e religiosas do período,
e o suicídio indireto, trazendo a figura do réu político por paixão, que atenta
contra a vida de outrem por uma ânsia suicida e de desvalorização a si próprio,
muitas vezes para ser condenado à morte, como nos casos de Mandsley e
Oliva y Moncusi.[16] Os anarquistas, inclusive, são vistos como portadores de
uma neurose, sendo criminosos políticos perpétuos, “que encontram no motim
o meio de desafogar suas paixões e ser aclamado, por uma vez, pelo grande
público”.
Surge então uma análise específica dos “presos por paixão”, sendo Hamlet de
Shakespeare o exemplo máximo dessa modalidade criminosa. Nesses crimes,
há uma grande influência do fanatismo econômico e social, unido a uma paixão
e consecução criminosa. Configuram-se a antítese do criminoso nato, pois são
revolucionários dotados de simpatia e de cuidado com a sua aparência, como
os niilistas e revolucionários franceses, bem como o já mencionado Hamlet.
Entretanto, a predominância desse tipo de crime se concentra no sexo
feminino, não havendo presença de cúmplices, sendo os indivíduos praticantes
do crime extremamente honrados, com moralidade e virtude acentuadas. A
despeito dessas características, a figura do exagero é uma marca constante:
seja pela dor alheia (hiperestesia), ou pela natureza epiléptica política.
Ligado diretamente à modalidade dos crimes de paixão, o altruísmo é
analisado por Lombroso, que se surpreende com o fato de que anarquistas são
dotados de extremo altruísmo, algo não verificável inclusive nos homens
normais não-criminosos. Entretanto, aqui há uma zona de divergência em
relação aos criminosos natos, bem como loucos, que são extremamente
egoístas. De todo modo, a análise proposta por Lombroso se firma em
discursos anarquistas, comumente proferidos nos julgamentos em júri, surgindo
com grande fanatismo e entusiasmo. No ensaio, há transcrições de Ravachol e
Henry. Ambos são dotados de grande senso ético, sendo que Ravachol
entende que os seus atos são uma consequência ipso facto da sociedade em
que vive: “em uma sociedade que se dão semelhantes feitos, não devem ser
surpresa atos esses que me são imputados, consequência lógica da luta pela
existência latente entre todos os homens”. E completa: “Me tornei
contrabandista, falsificador de dinheiro, ladrão e assassino. Poderia ter sido
pedinte, mas isso é uma atividade vil e degradante, e está castigada pelas
nossas leis, que fazem da miséria um delito”. Nesse sentido, o criminoso
entende que o “gérmen do delito” é a miséria, que deve ser combatida. No
outro discurso, Henry faz uma crítica às instituições sociais de seu tempo, as
quais considera “mentiras”: “o deputado, o ministro, cujas mãos estão sempre
abertas para receber suborno, eram os encarregados de prezar pelo bem
público. [...] Tudo isso sublevou meu espírito e me fez criticar a organização
social”.
Finalmente, o autor busca identificar a profilaxia do anarquismo, entendido
finalmente como uma neurose. Apesar de defender medidas enérgicas, é
contra a perseguição realizada na França e Espanha, muitas vezes aplicando-
se a pena capital para anarquistas. Como eles são geralmente loucos, devem
ser levados aos manicômios. Como criminosos, o altruísmo deve ser levado em
consideração, bem como a pouca idade: Langs, citado como exemplo, possuía
20 anos de idade, momento em que a audácia atravessa o zênite, para
enfraquecer-se depois. Além desses fatores, condenar à morte um anarquista
apenas irá transformá-lo em um mártir, citando-se como exemplo da Rússia,
onde não diminuíram os atentados – na realidade, aumentaram, mesmo com
leis severas, como por exemplo, o envio de anarquistas à Sibéria.
Para acabar com o anarquismo, na noção de Lombroso, a luta “deve ser mais
elevada, rica, poderosa e instruída, dando exemplo de racionalidade, calma e
sangue frio, sem recorrer cegamente ao perigo, ao terror e à guilhotina, que
criam mártires e estimulam o partido cujo espírito de luta e resistência se quer
destruir”. Portanto, além do envio de anarquistas à manicômios, o autor
também sugere a proibição de divulgação dos processos anarquistas em
periódicos, a demonstração popular de que essas ideias anarquistas são
falsas, dentre várias outras medidas, embora todas essas fossem paliativas.
Para mudanças mais radicais, seguindo a linha de Ravachol, o autor entende
que devem ser cortadas as raízes do empobrecimento geral, com mudanças na
área econômica, evitando-se a concentração excessiva de propriedade, “para
que, os que possuem talento e condições para o trabalho, possam determinar a
sua vida”. Dentre outras medidas polêmicas, o autor inclusive chega a sugerir
imposto sobre grandes riquezas e expropriação forçada de propriedades rurais.
Em 1891, um artigo intitulado “Uma resposta de um anarquista convicto ao
professor Lombroso”,[17] de Michael Schwab foi publicado na obra “The Monist”,
vol. 1, apontando possíveis erros na análise lombrosiana, embora o artigo
tenha um caráter respeitoso. Lombroso também foi criticado por sua análise ter
sido considerada estritamente política,[18] gerando repercussões dentre grupos
anarquistas existentes até os dias de hoje.[19]
Espiritismo
Inicialmente, Lombroso ridicularizava pesquisas e textos sobre a mediunidade,
considerando-os charlatanice e credulidade simplória, como em seu
opúsculo Studi sull'ipnotismo (Turim, 1882). Entretanto, a convite do conde
Ercole Chiaia para que estudasse melhor o assunto, em 1891 conheceu e
participou de sessões com a médium italiana Eusápia Paladino, vindo a
considerar como autênticas a produção dos fenômenos e manifestações
espíritas, e iniciando as suas pesquisas; no mesmo ano registrou em uma
carta: "Estou muito envergonhado e desgostoso por haver combatido com tanta
persistência a possibilidade dos fatos chamados espiríticos; mas os fatos
existem e eu deles me orgulho de ser escravo".[20] Já em julho de 1888,
publicava no jornal Fanfulla della Domenica (n° 29) um artigo
intitulado L'inflenza della civilta e dell ocasione, em que assumia seu erros
quanto ao que dissera acerca do espiritismo. Torna-se então um adepto e
defensor do espiritismo na Itália de seu tempo. Suas principais pesquisas
relacionadas ao assunto encontram-se publicadas na obra "Ricerche sui
fenomeni ipnotici e spiritic" (Turim, 1909).[21][22]