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INSTITUTO POLITÉCNICO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DO CURSO DE DIREITO

TRABALHO DE HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA

“CONTRIBUIÇÃO DE JOSEPH FLETCHER NA ESCOLA CARTO


GRÁFICA DA CRIMINOLOGIA”

GRUPO: 01
TURMA: 1M
TURNO: 32
SALA: 32
ANO: Iº

Luanda, 2023/2024
INSTITUTO POLITÉCNICO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DO CURSO DE DIREITO

TRABALHO DE HISTÓRIA DA CRIMINOLOGIA

“CONTRIBUIÇÃO DE JOSEPH FLETCHER NA ESCOLA CARTO


GRÁFICA DA CRIMINOLOGIA”
Nº NOME COMPLETO Nº DE PAUTA COTAÇÃO
01 Domingos Chingonji 230170
02 Vitariana Dungui 23087
Luanda, 2023/2024
03 Carla Manuela 231305
04 Alberto Dias 230855
05 José Catraio 2300010
06 Angelina Sebastião 231014
07 Elsa Nhanga 230962
08 Bruno Mussenho 230232
09 Osvaldo Capui 230795
10 Madalena Baptista 230886
11 Luísa Kimbundo 230884
12 Hernani Miranda 230946
INTRODUÇÃO
 Antes de começar a desenvolver este magno e importantíssimo
tema para área de criminologia, devemos primeiramente saber
que Joseph Francis Fletcher (10 de abril de 1905 em Newark, Nova
Jersey - 28 de outubro de 1991 em Charlottesville, Virgínia) foi um
professor americano que fundou a teoria da ética situacional na
década de 1960 e foi pioneiro no campo da bioética. Fletcher foi
um dos principais proponentes acadêmicos dos benefícios
potenciais do aborto, infanticídio, eutanásia, eugenia e clonagem.
Ordenado como um padre episcopal, ele mais tarde se identificou
como um ateu.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
 A criminologia é o conjunto de conhecimentos a respeito do crime, da
criminalidade e suas causas, da vítima, do controle social do ato criminoso, bem
como da personalidade do criminoso e da maneira de ressocializá-lo.
Etimologicamente o termo deriva do latim crimino ("crime") e do grego logos
("tratado" ou "estudo"), seria portanto o "estudo do crime".
 É uma ciência empírica, por basear-se na experiência da observação, nos fatos e na
prática, mais do que em opiniões e argumentos, e também interdisciplinar, por ser
formada pelo diálogo de uma série de ciências e disciplinas, tais como a biologia, a
psicopatologia, a sociologia, política, a antropologia, o direito, a criminalística, a
filosofia e outros.
 A palavra "Criminologia" foi empregada pela primeira vez por Paul Topinard em
1883, e aplicada internacionalmente pelo italiano Raffaele Garofalo em 1885, em
sua obra Criminologia.
 Criminologia (do latim crimen, "acusação", e do grego antigo -λογία, -logia, de
λόγος logos que significa: "palavra, razão") é o estudo do crime e do
comportamento humano desviante. A criminologia é um campo interdisciplinar nas
ciências comportamentais e sociais, que se baseia principalmente na pesquisa de
sociólogos, cientistas políticos, economistas, psicólogos, filósofos, psiquiatras,
biólogos, antropólogos sociais, bem como estudiosos do direito.
 Criminologistas são as pessoas que trabalham e pesquisam o estudo
do crime e a resposta da sociedade ao crime. Alguns criminologistas
examinam padrões comportamentais de possíveis criminosos.
Geralmente, os criminologistas realizam pesquisas e investigações,
desenvolvendo teorias e analisando padrões empíricos.
 Os interesses dos criminologistas incluem o estudo da natureza do
crime e dos criminosos, origens do direito penal, etiologia do crime,
reação social ao crime e o funcionamento das agências de aplicação
da lei e das instituições penais.
 Pode-se dizer amplamente que a criminologia orienta suas
investigações em três linhas: primeiro, investiga a natureza do
direito penal e sua administração e as condições em que se
desenvolve; segundo, analisa a causação do crime e a personalidade
dos criminosos; e terceiro, estuda o controle do crime e a
reabilitação dos infratores. Assim, a criminologia inclui no seu
âmbito as atividades dos órgãos legislativos, agências de aplicação
da lei, instituições judiciárias, instituições correcionais e agências
sociais educacionais, privadas e públicas.
Escola de Chicago
 A escola de Chicago surgiu no início do século XX, através do trabalho de Robert E. Park, Ernest
Burgess e outros sociólogos urbanos da Universidade de Chicago. Na década de 1920, Park e
Burgess identificaram cinco zonas concêntricas que muitas vezes existem à medida que as
cidades crescem, incluindo a " zona de transição ", que foi identificada como a mais volátil e
sujeita à desordem. Na década de 1940, Henry McKay e Clifford R. Shaw concentraram-se em
delinquentes juvenis, constatando que estavam concentrados na zona de transição.
 A Escola de Chicago de Criminologia foi uma escola de pensamento desenvolvida que culpa as
estruturas sociais pelos comportamentos humanos. Esse pensamento pode ser associado ou
utilizado dentro da criminologia, pois assume essencialmente a postura de defesa de criminosos
e de condutas criminosas. A defesa e o argumento residem no pensamento de que essas pessoas
e seus atos não são culpas delas, mas na verdade o resultado da sociedade (ou seja,
desemprego, pobreza, etc.), e essas pessoas estão, de fato, se comportando corretamente.
 Os sociólogos da escola de Chicago adotaram uma abordagem de ecologia social para estudar as
cidades e postularam que os bairros urbanos com altos níveis de pobreza muitas vezes
experimentam um colapso na estrutura social e nas instituições , como família e escolas. Isso
resulta em desorganização social, o que reduz a capacidade dessas instituições de controlar o
comportamento e cria um ambiente propício para o comportamento desviante. Outros
pesquisadores sugeriram uma ligação social-psicológica adicional. Edwin Sutherland sugeriu que
as pessoas aprendam o comportamento criminoso de criminosos mais velhos e experientes com
quem possam se associar.
 Perspectivas teóricas usadas em criminologia incluem psicanálise, funcionalismo,
interacionismo, marxismo, econometria, teoria de sistemas, pós- modernismo, genética,
neuropsicologia, psicologia evolutiva, etc.
 Ética Situacional: Joseph Fletcher e um novo conjunto de valores para o homem moderno
 Não demorou muito para que o ocidente abandonasse as idéias éticas tradicionais do
cristianismo. O homem moderno distanciou-se de Deus, e ao distanciar-se perdeu também
seus valores éticos, e consequentemente teve que partir em busca de uma nova moralidade.
É esse novo conjunto de valores do homem moderno que nós denominamos ética situacional.
 Com raízes que penetram os princípios éticos de homens como Karl Barth, Rudolf Bultmann e
Paul Tillich, com princípios teológicos mais existencialistas que puritanos, mais neo-ortodoxos
do que propriamente ortodoxos, o movimento chamou a atenção da opinião publica em 1966,
quando o Dr. Joseph Fletcher, professor de ética social no Seminário Episcopal de Cambridge,
Massachusetts, publicou o livro Situation Ethics. O livro de Robinson, Honest to God, também
ajudou a propagar as idéias do movimento.
 A popularidade da ética situacional como sistema teológico não teve tanta influência nos
seminários teológicos protestantes do Brasil, embora como sistema filosófico, suas idéias
tenham sido rapidamente implantadas nas universidades brasileiras. Quanto aos pressupostos
da ética situacional, Fletcher definiu esses pressupostos como sendo:
 Pragmatismo – Doutrina segundo a qual o valor da verdade é determindado pela
funcionabilidade.
 Relativismo – Conceito filosófico segundo a qual a verdade é um valor subjetivo, não
havendo imposição moral absoluta.
 Positivismo – Segundo essa cosmovisão, as declarações de fé são voluntaristas e não
racionais.
 Existencialismo – Filosofia que coloca o homem no centro do universo. O importante não são
os valores objetivos, mas a maneira como o ser humano experimenta esses valores.
 Essa nova moralidade religiosa, ou ética situacional, se opõe grave e abertamente a
muitas formas da “ética tradicional”. Ela é uma reação às leis, normas e princípios morais
da velha moralidade, sustentada como modo ideal de conduta. Robinson diz que a velha
moralidade é dedutiva, começando a partir de normas absolutas, eternamente validadas e
imutáveis. A nova moralidade, por sua vez, é indutiva, começando com a própria pessoa, o
que denota, segundo ele mesmo, a prioridade da pessoa sobre os princípios. Com isso, a
ética situacional exalta o homem sobre a lei.
 O critério fundamental e único de conduta para o situacionista, não é um código ético, e
sim o amor ágape, um amor desinteressado e sacrificado, porém tal amor é impossível
dentro de uma teologia pragmática, em que os fins justificam os meios. Para Robinson e
Fletcher, o único mal intrínseco é a falta de amor e o único bem e virtude é
exclusivamente o amor. A nova moralidade da qual o homem moderno se vê vestido tende
a ver toda a moralidade cristã como um conjunto de tabus que devem ser quebrados a
todo custo. Não há nela nenhuma menção a pureza sexual, ao contrário, ela promove a
sensualidade. Ao afirmar que aquilo que é feito com amor não é pecado, a nova ética
transforma o amor ágape em eros.
 A principal característica da ética situacional é que o fim justifica os meios. Pode um bom
fim ser anulado por um meio mau? Para a ética situacional, a resposta é não. Certo e
errado dependem da nossa decisão neste mundo relativista. Por exemplo: “se o bem estar
emocional e espiritual do casal e dos filhos será promovido com a separação do casal,
então, neste caso, o amor exige o divórcio”.
 O certo e o errado, segundo a cosmovisão situacionista, é uma questão subjetiva,
pragmática, existencial e deve estar baseada no amor. Em outras palavras, para Fletcher e
os demais teólogos da situação, ao avaliar a veracidade de um determinado
comportamento a pergunta a ser feita não é “o que a Bíblia diz?”, mas: “o que eu acho
disso?”, “de que forma isso pode me dar prazer?”, “dará certo?” e por último “eu estou
fazendo por amor?”. É claro que esses conceitos são demasiadamente ingênuos e
conduzem fatalmente à imoralidade.
Conhecendo os pressupostos da nova moralidade.

 Quanto ao pragmatismo como tendência evangélica, John F. McArthur diz o seguinte:


“Oponho-me ao pragmatismo tão freqüentemente defendido por especialistas em
crescimentos de igreja, que colocam o crescimento numérico acima do crescimento
espiritual, crendo que podem induzir esse crescimento numérico por seguirem quaisquer
técnicas que parecem produzir resultados naquele momento”.
 O pior de tudo não é quando as tendências pragmáticas são usadas para construir o
crescimento de igrejas – ainda que o pragmatismo já seja um conceito escandaloso em si
mesmo – mas sim, quando a ética cristã é comprometida no afã alcançar as massas,
conforme diz C. Peter Wagner, que também é um pragmático: “A Bíblia não nos consente
pecar, a fim de que a graça seja mais abundante, ou não permite usarmos quaisquer meios
que Deus tenha proibido, a fim de alcançarmos os fins que Ele nos recomendou”. É
justamente esse tipo de pragmatismo imoral e anti-cristão que Fletcher propõe em sua
teologia. É tolice pensar que alguém pode ser bíblico e pragamático, ao mesmo tempo. O
pragmatista deseja saber o que produzirá resultados. O pensador bíblico, por outro lado, se
importa tão-somente com o que a Bíblia ordena. As duas filosofias se opõem mutuamente no
nível mais básico.
 O pragmatismo também foi a maior tendência da igreja ocidental na segunda metade do
século vinte. Em 1955, de um modo quase profético, o estudioso A.W. Tozer discorreu sobre
o futuro da igreja nestes termos: “Digo sem hesitação que uma grande parte das atividades
existentes hoje nos círculos evangélicos não são apenas influenciadas pelo pragmatismo,
mas parecem totalmente dominados por ele”. Este mesmo escritor acrescenta, em tom de
desabafo: “A filosofia pragmática […] não faz perguntas embaraçosas a respeito da
sabedoria daquilo que estamos realizando ou a respeito de sua moralidade. Aceita como
corretos e bons nossos alvos escolhidos, buscando meios e maneiras eficientes para alcançá-
los”.
 Qualquer filosofia de ministério do tipo “fins-que-justificam-os-meios” inevitavelmente
comprometerá a doutrina, a despeito de qualquer proposição em contrário. Se a eficácia se
tornar o indicador do que é certo ou errado, sem a menor dúvida nossa doutrina será
diluída. Em última análise, o conceito de verdade para um pragmatista é moldado pelo que
parece ser eficaz e não pela revelação objetiva das Escrituras.
 Assim como o pragmatismo, o relativismo também é uma afronta ao cristianismo. Não há
nenhuma possibilidade de ser um indivíduo cristão e ao mesmo tempo relativista, visto que as
duas cosmovisões são mutuamente excludentes. Além disso, o relativismo deve ser rejeitado
por várias questões. Se todas as reivindicações de verdade são de um mesmo valor, todas as
proposições de verdade são verdadeiras, e consequentemente, não há verdade nenhuma.
 Dentro de um sistema relativista o assassínio, o estupro e o genocídio possuem o mesmo valor
dos ideais cristão da caridade, perdão e respeito mútuo. Se a verdade é apenas uma questão
relativa, não há razão nenhuma no estudo da verdade. Do mesmo modo, se a verdade em
moralidade é uma questão pragmática e relativa, a única razão para ser bom é a vantagem
que eu posso tirar da situação.
 Porém, ao contrário do que ensina o relativismo, a verdade não é uma questão relativa, mas
extremamente absoluta que tem seu ápice na pessoa de Jesus (João 14.6). A Bíblia nos
apresenta um conjunto de imposições morais que devem ditar o nosso modo de viver, e não
apenas idéias pragmáticas e relativas (Mateus 5.44-48). Qualquer tentativa de conciliar o
relativismo com o cristianismo constitui irracionalidade e fraude.
 O existencialismo é uma filosofia centrada no eu, portanto, como doutrina teológica ela
comete erros graves. Ao propor um antropocentrismo teológico, o existencialismo se
descaracteriza completamente como proposta bíblico-teológica. Deus é a pessoa central para
quem todas as coisas convergem, e não o homem (Romanos 11.36). Essa tendência de
interpretar a Bíblia em termos existenciais tem sua origem muito antes de Fletcher, no
pensamento do dinamarquês Soren Kierkgaard, bem como na teologia de Friedrich
Scheleiermacher, e está sempre reaparecendo na teologia contemporânea.
 Com idéias que remontam ao Romantismo, o existencialismo é uma forte tendência na teologia
contemporânea. O positivismo, por sua vez, é um fideísmo exagerado e anti-bíblico. Como
corrente teológica, tem sua maior abrangência nos círculos místicos, onde às vezes a
ignorância pretensamente se veste de autoridade espiritual.
Uma análise da nova moralidade religiosa.
 A ética situacional elabora seu programa sem dar nenhuma atenção ao
arrependimento, ao juízo, à fé e à redenção. Robinson deixa a
impressão de que o homem moderno é tão maduro que precisa de
muito pouca – e talvez nenhuma – ajuda espiritual fora dos seus
próprios recursos naturais, expressando, sem nenhuma dúvida, a
religiosidade idealizada pelo homem moderno. O sistema ético
situacional é um sistema que não pede nada em termos éticos e
teológicos. As implicações surgem em vários aspectos, desde
desonestidade a imoralidade sexual. Poderia haver sistema melhor
para o homem natural?
 A conclusão quanto ao referido capítulo é aparentemente óbvia:
qualquer teologia do tipo “fins-que-justificam-os-meios”
inevitavelmente comprometerá a doutrina, a despeito de qualquer
proposição em contrário. Se a eficácia se tornar o indicador do que é
certo ou errado, sem a menor dúvida nossa doutrina será diluída. Em
última análise, o conceito de verdade para um pragmatista/relativista
é moldado pelo que parece ser eficaz e não pela revelação objetiva
das Escrituras.
Teoria da Ecologia Humana
 A Teoria da Ecologia Humana ou Teoria Ecológica defende que a sociedade e o espaço
têm uma participação importante na gênese da criminalidade. Foi desenvolvida por
Robert Park (1979), na Escola de Chicago, e influenciou muitos estudos subsequentes
sobre a relação entre crime e espaço urbano:
 Em termos recentes a cidade tem sido estudada segundo o ponto de vista de sua
geografia, e ainda mais recentemente segundo o ponto de vista de sua ecologia.
Existem forças atuando dentro dos limites da comunidade urbana – na verdade,
dentro dos limites de qualquer área de habitação humana – forças que tendem a
ocasionar um agrupamento típico e ordenado de sua população e instituições. À
ciência que procura isolar estes fatores, e descrever as constelações típicas de
pessoas e instituições produzidas pela operação conjunta de tais forças, chama-se
Ecologia Humana, que se distingue da Ecologia dos animais e plantas (PARK, 1979, p.
26-27).
 Segundo Freitas (2004), Park influenciou o desenvolvimento de trabalhos de cientistas
que ficaram conhecidos como “estatísticos morais” ou “médicos sociais”. Merecem
destaque André-Michel Guerry, advogado e estatístico francês, autor do Ensaio sobre a
estatística moral da França (1833) e Lambert Adolphe Jacques Quetelet, matemático
e astrônomo belga, que escreveu Physique Sociale (1835). Estes precursores
estudaram os efeitos de fatores demográficos, ambientais e situacionais sobre a
criminalidade, chegando à conclusão de que eram as condições sociais que causavam
esse fenômeno, e não os fatores individuais, biológicos.
 André-Michel Guerry apresentou o primeiro trabalho de ecologia social do crime a
partir de uma abordagem geográfica, utilizando-se de mapas para relacionar as
ocorrências criminais com a localidade e os fatores sociais. Tais mapas produzidos na
época apresentavam algumas limitações, como a ausência de escala e legenda,
importantes para a compreensão da informação espacializada. Os mapas revelaram
que as taxas de crime contra pessoa e contra o patrimônio permaneceram estáveis ao
longo do tempo, quando desagregadas por sexo, idade e região.
 Lambert Adolphe Jacques Quetelet, num estudo sobre criminalidade, Development on the
Propensity to Crime (1831), identificou que as relações faixa etária, gênero e
criminalidade eram fortes, e constatou, também, que outros fatores como clima epobreza,
educação e consumo de álcool influenciavam nas ocorrências. Dois outros nomes surgem
na Inglaterra, Joseph Fletcher (1848) e Jonh Glyde (1856), que sob uma perspectiva
geográfica, mapearam a distribuição e a demografia do crime, comparando índices de
criminalidade com outros indicadores sociais, a partir de dados censitários.
 A Teoria da Ecologia Humana, de acordo com Freitas (2004), fundamenta-se em dois
conceitos da ciência natural: 1) simbiose e 2) invasão, dominação e sucessão, a partir dos
quais o crime passa a ser considerado um fenômeno ambiental que envolve aspectos
físicos, sociais e culturais. Simbiose é um conceito das ciências naturais referente à
convivência de diferentes espécies para o benefício mútuo de cada uma delas.
 Assim, “Park via a cidade não apenas como um fenômeno geográfico, mas como um tipo de
'super-organismo' que tinha 'unidade orgânica' derivada das inter-relações simbióticas das
pessoas que nela vivem” (FREITAS, 2004, p. 48).
 O conceito de invasão, dominação e sucessão, por sua vez, envolve o processo através do
qual o equilíbrio da natureza de um dado local pode sofrer modificações quando uma nova
espécie surge e afasta outras formas de vida. Robert Park percebeu que isso também
ocorre nas sociedades humanas.
 Freitas (2004, p. 69) exemplifica dizendo que “[...] a história das Américas é marcada por
um processo de invasão, dominação e sucessão pelos europeus no território das populações
nativas americanas”. Em outro exemplo, diz: “[...] nas cidades, um grupo cultural ou
étnico pode tomar um bairro inteiro de outro grupo, podendo esse processo ter início com
a mudança de apenas um ou alguns moradores”.
 A partir de 1930, a Teoria Ecológica perdeu espaço para outras abordagens teóricas, e
somente na década de 1970, na Inglaterra, e em 1980, nos Estados Unidos, é que a
ecologia humana ganhou um novo impulso, devido: 1) À redescoberta do crime, ou seja,
dos novos enfoques criminológicos, que transferiram o foco do infrator para a infração
penal e; 2) Às estatísticas sobre criminosos (FREITAS, 2004).
 A redescoberta do crime incluiu pesquisas de vitimização, como as do governo, que
tratavam do crime como oportunidade, e que levavam à perspectiva criminológica
definida como prevenção situacional do crime, desenvolvida por Ronald Clarke, e
baseada na premissa de que o crime pode ser prevenido de forma eficaz, reduzindo-se
as oportunidades existentes no ambiente, que favorecem sua prática, e aumentando
os riscos da atividade criminosa.
 O segundo fator, relacionado às estatísticas sobre criminalidade, teve como precursor
Terence Morris, com a obra The Criminal Área, publicada em 1957. Em seus estudos, o
referido autor chegou à conclusão de que não são apenas as condições espaciais que
levam alguém a cometer crime, mas “[...] os processos ecológicos naturais de invasão-
dominação-sucessão estão sujeitos a serem severamente modificados por políticas
sociais” (MORRIS, 1956, p.130 apud FREITAS, 2004, p.105).
 Seus pressupostos teóricos foram confirmados e aplicados por Jonh Baldwin e Anthony
Bottoms, no trabalho intitulado The Urban Criminal, publicado em 1976, que
pesquisou a relação entre a área de residência de criminosos e a de ocorrência de
crimes, verificando que as mesmas não coincidiam.
 Freitas (2004) comenta que seguindo essa mesma linha de investigação, Susan Smith
(1986) realizou uma pesquisa na cidade inglesa de Birmingham, e verificou que havia
uma elevada concentração de criminosos residindo na área pobre adjacente ao centro
da cidade, chegando à conclusão de que essa concentração se dava em decorrência da
distribuição desigual da riqueza e das oportunidades, fator que levava os pobres a
residirem ali. Ela pesquisou a relação entre a situação de emprego, oportunidades de
moradia, classe social e o alto índice de criminosos no local, constatando que estes
fatores poderiam explicar a concentração de criminosos na área.
 A Teoria da Ecologia Humana vê a cidade como um elemento motivador da
criminalidade, pois para ela convergem fatores que trazem em si elementos
predisponentes à incidência de atos violentos.
 Conforme Dahlberg e Krug (2007), o primeiro nível do modelo ecológico,
caracterizado pelo indivíduo, identifica tanto os fatores biológicos como também os
da história pessoal que um indivíduo traz para o seu comportamento. Neste nível,
são levados em consideração fatores como a impulsividade, o baixo nível
educacional, o abuso de substância química e a história de agressão e abuso vividos
pelo indivíduo. Em resumo, ele focaliza as características do indivíduo que possam
vir a aumentar a probabilidade de ele se tornar vítima ou agressor no contexto
violento.
 O segundo nível explora como as relações sociais próximas – aquelas estabelecidas
entre companheiros, parceiros íntimos e membros da família - aumentam o risco de
vitimização ou agressão. Os referidos autores afirmam que, em se tratando de
agressão estabelecida entre parceiros e de maus tratos a crianças, a interação
cotidiana com o agressor, em domicílio comum, aumenta a oportunidade de ataques
violentos. Essa situação de convívio cotidiano incide, também, na ocorrência
contínua de agressão, como no caso dos estupros.
 O terceiro nível do modelo ecológico – a comunidade – examina os contextos
comunitários nos quais estão inseridas as relações sociais, como escolas, locais de
trabalho e bairros, e a partir disso, procura identificar as características dos
cenários associados às vítimas e agressores. Dahlberg e Krug (2007) comentam que a
pesquisa sobre a violência demonstra que as oportunidades para que ela ocorra são
maiores em alguns contextos do que em outros como, por exemplo, em áreas de
pobreza ou deterioração física, ou onde há escasso apoio institucional.
 Talvez por isso, alguns trabalhos insistem em relacionar crime e pobreza,
defendendo a premissa de que os pobres são os principais perpetradores
da criminalidade. Conforme os referidos autores,
 Um alto nível de mobilidade residencial (em que as pessoas não
permanecem por muito tempo numa mesma residência, mas se mudam
com frequência), heterogeneidade (população altamente diversificada,
com pouco do adesivo social que mantém as comunidades unidas) e alta
densidade populacional são exemplos daquelas características, e cada
uma delas tem sido associada à violência. Do mesmo modo, comunidades
envolvidas com tráfico de drogas, alto nível de desemprego ou isolamento
social generalizado (locais onde as pessoas não conhecem seus vizinhos ou
não se envolvem com a comunidade) têm mais probabilidade de viver
experiências violentas (DAHLBERG; KRUG, 2007, p.1124).
 O quarto nível do modelo ecológico analisa os fatores mais significativos
da sociedade que influenciam as taxas de violência. Há fatores que criam
um ambiente propício à violência, e outros que sustentam divisões entre
diferentes segmentos da sociedade, dentre eles citam-se as normas
culturais que veem a violência como uma forma aceitável para resolver
conflitos, normas que fixam o domínio masculino sobre as mulheres e
crianças e normas que apoiam o uso abusivo da força pela polícia contra
os cidadãos (DAHLBERG; KRUG, 2007, p. 1173).
 CONCLUSÃO

 Em resumo, Fletcher foi um prolífico acadêmico, ensinando,


participando de simpósios e completando dez livros, e centenas de
artigos, resenhas de livros e traduções. Ele ensinou Ética Cristã na
Episcopal Divinity School, Cambridge, Massachusetts, e na Harvard
Divinity School de 1944 a 1970. Ele foi o primeiro professor de
ética médica na Universidade da Virgínia e co-fundou o Programa
em Biologia e Sociedade lá. Ele se aposentou do ensino em 1977.
 Em 1974, a Associação Humanista Americana o nomeou Humanista
do Ano. Ele foi um dos signatários do Manifesto Humanista. Ele
serviu como presidente da Eutanásia Society of America (mais
tarde renomeada Sociedade para o Direito de Morrer) de 1974 a
1976. Ele também era membro da American Eugenics Society e da
Association for Voluntary Sterilization. Um de seus filhos, Joseph F.
Fletcher Jr. era um historiador.
 BIBLIOGRAFIA
 ARIZA, J. J. M.El control social del delito a través de la prevención
situacional. Revista de Derecho Penal y Criminología, n. 2, p. 281-
326,1998.
 BEATO FILHO, C. C.; PEIXOTO, B. T.; ANDRADE, M. V. Crime, oportunidade
e vitimização. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 19, n. 55, p.73-
90,2004.
 BONDARUK, R. L. A prevenção do crime através do desenho urbano.
Curitiba, Edição do Autor, 2007.
 BURTON JR., V. S.; CULLEN, F. T.The Empirical Status of Strain Theory.
Crime and Justice, v. 15,1992.
 CALDEIRA, T. P. do R. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em
São Paulo. São Paulo, Editora 34/EDUSP, 2003.
 CRESSEY, D. P. Crime: causes of crime in International. Encyclopedia of
The Social Sciences, v. 3. The Macmillian Company & The Free Press Ed.
(David L. Sills ed.), 1968.
 DAHLBERG, L. L.; KRUG, E. G. Violência: um problema global de saúde
pública. Ciência & Saúde Coletiva, v. 11, pp. 1163-1178, 2007.
(Suplemento).
 DALY, M., MARGO, W. The truth about Cinderella: a Darwinian view of
parental love. New Haven, Conn., Yale University Press, 1999.

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