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Criminologia

A Criminologia Sociológica ou Sociologia


Criminal e as Escolas Sociológicas

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Me. Cássio Vinicius Dal Castel Veronezzi Lazzari Prestes

Revisão Técnica:
Prof. Dr. Reinaldo Zychan

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
A Criminologia Sociológica
ou Sociologia Criminal e
as Escolas Sociológicas

• Noções Introdutórias: A Transição do Positivismo


Criminológico para a Sociologia Criminal;
• A Escola Eclética;
• A Sociologia Criminal;
• As Teorias do Conflito.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Desenvolver análise pormenorizada sobre diversas teorias elaboradas acerca da origem so-
cial do delito;
• Compreender os diversos processos de interação social enquanto gênese multifatorial do crime.
UNIDADE A Criminologia Sociológica ou Sociologia
Criminal e as Escolas Sociológicas

Noções Introdutórias: A Transição


do Positivismo Criminológico
para a Sociologia Criminal
Como vimos na unidade anterior, com a edição da obra O Homem Delinquente,
de Cesare Lombroso, o modelo da análise criminológica começa a ser transferido
do foco teórico da Escola Clássica, baseado no livre arbítrio do indivíduo, para o
enfoque empírico do determinismo biológico Lombrosiano e, posteriormente, socio-
lógico, de Enrico Ferri.

Aludidas teorias eram visivelmente antagônicas e confrontantes. Em consequên-


cia, na transição do século XIX até meados do século XX eclodem novas formas de
pensar o fenômeno da criminalidade, dentre as quais destacamos a Escola Eclética
e a Sociologia Criminal.

A Escola Eclética
Como dito, o positivismo surgiu em contrariedade à manifestação classicista, que,
por seu turno, apontava a livre manifestação de vontade como causa da conduta
criminosa. Em razão dessa dicotomia, novos pensadores trouxeram à lume posicio-
namento misto buscando conciliar os postulados teóricos da Escola Clássica com o
empirismo da Escola Positiva: eis a Escola Eclética ou Intermediária!

Neste sentido, leciona Nestor Sampaio Penteado Filho que

as Escolas Clássica e Positiva foram as únicas correntes do pensamento


criminal que, em sua época, assumiram posições extremadas e bem di-
ferentes filosoficamente. Depois delas apareceram outras correntes que
procuraram conciliar seus preceitos. (PENTEADO FILHO, 2020, p. 40)

Em Síntese
A Escola Eclética buscava conjugar os postulados teóricos do Classicismo com o empiris-
mo do Positivismo.

Iremos dividi-la em três vertentes: A Terceira Escola Italiana, A Escola de Lyon e


A Escola da Defesa Social.

A Terceira Escola Italiana (Terza Scuola ou Positivismo Crítico)


Surge na transição dos séculos XIX e XX focalizando os estudos e pesquisas na
figura do criminoso e na resposta ao delito (controle social), deixando de lado por-
menores sobre o delito em si e sobre a vítima.

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Como ponto central, realçou a dualidade entre os indivíduos com autodetermina-
ção de vontade (o que chamou de responsabilidade moral ou determinismo psicoló-
gico), e aqueles desprovidos de tal aptidão. Os primeiros, por possuírem capacidade
intelectiva e volitiva para guiar suas condutas, eram considerados imputáveis, e, por-
tanto, poderiam ser penalmente responsabilizados e, em consequência, submetidos
à aplicação de pena; os outros, por serem inimputáveis, e dotados de periculosidade
social, estariam sujeitos às medidas de segurança.

Destarte, somente o indivíduo guiado pela vontade, que conduz seus comporta-
mentos conforme suas razões e motivos, deveria ser subjugado às agruras da pena,
os demais, por força de sua incapacidade cognitiva ou volitiva e de sua periculosidade
social, seriam submetidos a medidas de natureza curativa.

Artigo 26 caput e parágrafo 1º do Código Penal. Disponível em: https://bit.ly/3cCz5Fz

De bom grado reafirmar que a medida de segurança, de caráter terapêutico, pos-


sui, em nosso Código Penal atual, duas espécies: internação e o tratamento ambula-
torial (acompanhamento clínico).

À época, a pena de prisão tinha como função primordial castigar o apenado (ca-
ráter retributivo da pena), mas já se começava falar que referida reprimenda deveria
assumir também o desiderato de promover a correção do indivíduo (o que pode ser
entendido como um esboço da finalidade ressocializadora) (GARCIA-PABLOS DE
MOLINA; GOMES, 2002. p. 204).

Você Sabia?
Que até a reforma do Código Penal, ocorrida em 1984, nossa legislação previa o sistema do
duplo binário, em que eram aplicados, sucessivamente, medida de segurança e pena privativa
de liberdade? E que atualmente, em nova sistemática, no chamado sistema de dois trilhos, se
prevê a cisão entre pena e medida de segurança; a primeira aplicável aos agentes imputáveis
e a segunda aos inimputáveis por doença mental (Artigos 26 e 96 a 99 do Código Penal)?

Figura 1 Figura 2
Fonte: Getty Images Fonte: Getty Images

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Criminal e as Escolas Sociológicas

Em geral, seus adeptos também desenvolveram tipologia de criminosos classifi-


cando-os em habituais, ocasionais e anormais, rechaçando as demais espécies arro-
ladas pelos positivistas. Essa redução na categorização dos delinquentes se deu em
razão dos postulados da Terza Scuola cindirem a reposta ao crime em duas espécies:
pena destinada aos imputáveis (aqui os habituais e ocasionais) e medida de segurança
voltada aos inimputáveis por doença mental (aqui os anormais).

São citados como expoentes dessa corrente, dentre outros, Emanuel Carnevale,
Bernardino Alimena e Impallomeni.

A Escola de Lyon
Por conjugar na gênese do delito caracteres biológicos e fatores sociais, era tam-
bém conhecida como Escola Antropossocial.

Seu maior expoente foi o médico francês Alexandre Lacassagne (1843-1924), o


qual ressaltou a influência do ambiente em que o agente se encontrava como elemen-
to fomentador da prática delitiva, utilizando-se, inclusive, da metáfora do contágio
por microrganismos, como vírus e bactérias, para figuradamente explicar a forma de
disseminação do comportamento criminoso em uma comunidade.

Neste sentido afirmava “O micróbio é o criminoso, um ser que permanece sem


importância até o dia em que encontra o caldo de cultivo que lhe permite brotar”
(GARCIA-PABLOS DE MOLINA; GOMES, 2002. p. 202).

Figura 3
Fonte: Getty Images

Em outros termos, referiu que o criminoso já possuía uma propensão biológica à


prática desviante, como, por exemplo, algum tipo de anomalia ou distúrbio mental,
mas, o ambiente em que se encontrava seria o estopim para tanto.

Por conjugar fatores biológicos e ambientais na gênese do delito, atribuindo clara-


mente maior importância causal a este último, também foi conhecida como Escola
do Meio.

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A Escola da Defesa Social
Seu maior expoente foi o magistrado e jurista francês Marc Ancel (1902-1990),
podendo ainda ser citado o italiano Filippo Gramática.

Enfatizou a interdisciplinaridade da Criminologia, visto que desenvolveu linha de


raciocínio pregando ação conjunta desta com outras ciências como Sociologia, Eco-
nomia, Direito Penal e Penitenciário. Entendia que esses ramos de estudo deveriam
promover o bem estar do homem, atuando conjugadamente com orientação reedu-
cadora e não punitiva.

Filippo Gramática, inclusive, chegou a propor a substituição do Direito Penal por um novo
sistema jurídico atuante na prevenção do crime, através de estratégias educativas. Vale a
pena pesquisar sobre sua doutrina!

Na esteira deste raciocínio, a pena somente poderia ter finalidade ressocializado-


ra, atuando como único meio de defesa da sociedade contra a parcela da população
entregue à criminalidade. Assim sendo, ao não a enxergar como mero castigo, refu-
tava, veementemente, o caráter meramente punitivo da pena.

Importante!
A reinserção social provocada pela aplicação da pena era o único instrumento apto para
defender a sociedade contra a delinquência. A finalidade da pena era evitar a reincidên-
cia através da reeducação do condenado.

Percebe-se claro enfoque no estudo do controle social do crime, sobretudo quanto


ao objetivo de reinserir socialmente o condenado através de medidas não-penais,
preterindo outros fatores envolvendo a criminalidade, como o delito em si, a vítima
e o delinquente.

A finalidade do controle social do crime é evitar a reincidência através da reinser-


ção social do delinquente. O foco recai na chamada prevenção especial, e não em
questões gerais atinentes à sociedade como um todo (VIANA, 2018, p. 108/111).

A Sociologia Criminal
Da mesma forma que as vertentes da Escola Eclética, a Sociologia Criminal vem
à tona após os embates doutrinários produzidos pelos extremismos e antagonismos
teóricos gerados entre os postulados da Escola Clássica e da Escola Positiva. No en-
tanto, os teóricos da Sociologia Criminal, diferentemente dos pensadores da Escola
Eclética, não visaram harmonizar as premissas do Classicismo e do Positivismo, e
procederam à verdadeira mudança de paradigma.

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Criminal e as Escolas Sociológicas

Isto posto, verifica-se o abandono do ponto de vista individual pregado pelo Positi-
vismo Biológico de Cesare Lombroso, passando-se à análise de teorias que enxerga-
vam o crime enquanto fato social genericamente considerado, já que entendiam que
o próprio meio social operava como fator impulsionador da prática delitiva.
Seus desdobramentos reportam a uma análise da criminalidade em um contexto
social global e não pessoal, no qual a sociedade em geral é, de per se, causa e meio
da conduta delitiva.

Em Síntese!
O meio social origina a conduta criminosa e, ao mesmo tempo, sofre suas nocivas consequências.

Premissas da sociologia criminal:


• Crime é fato comumente praticado no cotidiano;
• Variedade de condições e situações distintas como causa do delito (multifatoriedade);
• Influência de fatores sócio-econômicos e ambientais na gênese delitiva;
• Delinquente é pessoa normal.
Doutrinariamente, divide-se em duas vertentes: As Teorias do consenso e as Te-
orias do conflito.

As Teorias do Consenso
Sob esta ótica, a sociedade é harmoniosa, já que seus membros, costumeiramen-
te, acatam os regulamentos vigentes em evidente deferência aos princípios ético-mo-
rais propagados na sociedade. Há sinergia entre os cidadãos, os quais, por vontade
própria, compactuam dos valores tutelados e respeitam os princípios e regramentos
daquela comunidade, todos se comportando em prol de um convívio sadio.

Importante!
Essa confluência de valores é imprescindível para a sobrevivência e manutenção da so-
ciedade como um todo. O cerne da sociedade é a conexão entre os cidadãos através da
assunção deliberada dos princípios e valores nela difundidos.

Figura 4 Figura 5
Fonte: Getty Images Fonte: Getty Images

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O funcionamento do próprio Estado e a estabilidade da sociedade como um todo
dependem dessa coesão social acerca das premissas e normas a serem seguidas, o que
somente se dá nas ocasiões em que as pessoas, deliberadamente, aceitam, respeitam
e praticam os valores, princípios e regras vigentes (SHECAIRA, 2004, p. 134-135).

Em Síntese
A coesão é o pilar de qualquer sociedade sadia!

Nesse ambiente de integração entre as pessoas, os índices de criminalidade serão


mais baixos, haja vista a pequena probabilidade de ocorrência de conflitos. Por sua
vez, contrariamente a dita coesão social, o crime externaria uma ação violadora dessa
convivência harmônica, destoando nitidamente dos parâmetros sociais básicos.
Podem ser citadas como suas vertentes: A Escola de Chicago, a Teoria da Asso-
ciação Diferencial e a Teoria da Subcultura Criminal, que serão aqui desenvolvidas,
além da Teoria da Anomia.

Sobre as Teorias da Anomia, proceder à seguinte leitura: BARATTA, A. Criminologia Crítica


e crítica ao Direito Penal. Introdução à sociologia do Direito Penal. Coleção pensamento
criminológico. Tradução Juarez Cirino dos Santos. 3ª Ed. Rio de Janeiro Ed. Revan: Instituto
carioca de Criminologia, 2002 p. 59 a 67.

A Escola de Chicago e os Desdobramentos


da Chamada Ecologia Criminal
Dentre seus diversos estudiosos, destacam-se os sociólogos norte-americanos
Henry Donald Mckay (1899-1980) e Clifford Robe Shaw (1895-1957) que, em 1929,
publicaram a obra Delinquency áreas: A study of the Geographic Distribution of
School Truants, Juvenile Delinquents, and Adult Offenders in Chicago, podendo
ainda ser citados Robert Park e Ernest Burgess.
Em razão da revolução industrial, do consequente êxodo rural e também da imigra-
ção, verificou-se, em meados do século XX, o desenvolvimento desordenado da cidade
de Chicago (EUA), a qual passou a receber uma horda de indivíduos de culturas, clas-
ses sociais e nacionalidades diferentes, transformando-a em uma cidade cosmopolita.

Figura 6 Figura 7
Fonte: Getty Images Fonte: Getty Images

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Criminal e as Escolas Sociológicas

Os grandes centros se tornaram um caldeirão multiforme de culturas, etnias e religi-


ões. A tônica nessa sociedade pós-industrial era a diversidade decorrente do novo po-
voamento. Observou-se uma marcha de pessoas da zona rural para os centros urbanos
em busca de melhores empregos e condições de vida (êxodo rural). A industrialização
também foi responsável pela imigração. Posto isto, novas etnias, nacionalidades e cul-
turas de diversos países, na ânsia de melhorar o padrão de vida, passaram a habitar a
cidade de Chicago, elevando sobremaneira os índices demográficos.

Figura 8
Fonte: Wikimedia Commons

A Escola de Chicago, ao inferir a influência do desenvolvimento urbano desenfreado


nas taxas de criminalidade, elevou essa desorganização social ao patamar de principal
causa do delito. Seu foco recaiu no impacto que as mudanças sociais podem provocar
nos índices de determinadas espécies de crimes, pois, perquiriu o modo como a indus-
trialização e a miscigenação, por gerarem conflitos entre diferentes culturas e grupos
sociais, influenciariam nas estatísticas criminais.

O convívio, em razão da alta densidade demográfica, nem sempre foi harmônico


e, constantemente, gerava choques entre as diferentes nacionalidades, etnias e cul-
turas, agora assentadas no mesmo espaço urbano, pois, a chegada desenfreada de
migrantes e imigrantes causou problemas econômicos (desemprego) e habitacionais
(falta de moradia e infraestrutura), dentre outros.

Ademais, a urbe não estava apta a receber e proporcionar a todos os meios ne-
cessários para a tão sonhada melhoria de vida.

Importante!
Para os teóricos da Escola de Chicago, esse incremento na densidade demográfica pro-
vocado pelo êxodo rural e pelas imigrações, ambos em razão da ascensão da indústria,
somados à consequente desorganização das cidades, foram considerados o estopim da
criminalidade à época.

Os centros urbanos, agora tomados por conflitos, se tornaram o substrato fecundo


para a proliferação de diversas espécies de crimes como furtos, roubos, estelionatos,
lesões corporais, homicídios, injúrias, falsificações, de natureza sexual e envolvendo
drogas ilícitas.

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Impende afirmar com a melhor doutrina que a criminalidade, à época, apresentava
distribuição geográfica assimétrica com maior incidência nos arredores do centro das
cidades e, a medida que destinava-se aos bairros mais afastados com menor densidade
demográfica (periferias), os índices iam baixando. O que se mostrava lógico, haja vista,
tanto a migração quanto a imigração voltarem-se para os centros das grandes cidades
onde se localizavam as novas oportunidades de empregos e negócios.
região central = indústrias,
comércio, negócios; maior
aglomeração de pessoas

alto índice de
criminalidade

periferia, menor
densidade demográfica,
baixos índices de criminalidade

Figura 9

Imprescindível o magistério de GONZAGA, C. Manual de criminologia. São Paulo: Saraiva


Educação, 2018. p. 92 e 93.

Por força do crescimento acelerado e desproporcional das cidades, auferiu-se a


ausência, ou, no mínimo, a inefetividade do sistema de controle formal da crimina-
lidade. Quer se dizer que as agências formais de controle do crime (polícias, justiça
penal, sistema carcerário) não davam conta dos altos índices de criminalidade. Por
conseguinte, a aposta recaiu nas agências informais de controle.

Uma das maiores contribuições da Escola de Chicago foi a identificação de bol-


sões das grandes cidades que apresentavam altas taxas de criminalidade, as chama-
das áreas criminógenas ou áreas de delinquência.

Mas por que referidas áreas se formaram?

Para salvaguarda das identidades culturais de determinados subgrupos sociais, eis


os guetos! O movimento de guetização e a consequente transmissibilidade de uma
cultura criminal, produziu como efeito nocivo a eclosão, também não muito organi-
zada, das áreas de delinquência.

Observou-se nesses bairros a ausência ou, no mínimo, a ineficácia das instâncias for-
mais e também informais na função primordial de evitar a propagação da criminalidade.

Profícuo o magistério de Nestor Sampaio Penteado Filho, a inércia do Estado (não


há delegacias, escolas, hospitais, creches, moradia etc.) nutre uma sensação genera-
lizada de insegurança, favorecendo o nascedouro de bandos armados, matadores de
aluguel que se intitulam mantenedores da ordem (SHECAIRA, 2004, p. 82).

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Você Sabia?
Eduardo Viana “Nas áreas urbanas em que os indivíduos compartilham os mesmos con-
ceitos sobre valores há maior controle social informal e isso impacta e reduz os índices
de criminalidade (por exemplo valores familiares sólidos; existência de igrejas e associa-
ções de vizinhos); nas áreas urbanas com maior desorganziação social há significativa
ausência dessas instâncias informais de controle e isso explica os maiores índices de
criminalidade” (VIANA, 2018, p. 219).

A Escola de Chicago passou a estudar quais seriam as condições presentes nas


áreas de deliquência que impulsionavam as estatísticas criminais e contribuíam para
a disseminação da cultura criminosa, podendo ser citadas: precariedade da infra-
estrutura de saúde, saneamento básico e educacional; desestruturação e atuação
inefetiva dos órgãos de polícia; e deterioração das instâncias informais de controle
do delito (laços familiares e princípios religiosos) com perceptível perda da identidade
cultural, consectário lógico da diversidade cultural inerente à superpopulação.

Em Síntese
Tanto as agências formais quanto as instâncias informais de controle não se mostravam
aptas a deter a criminalidade!

No que diz respeito à luta contra a criminalidade, a aposta da Escola de Chicago foi
na reestruturação do planejamento urbano. No trancorrer das décadas de 1940/50,
no que nominou de estudo da área social, seus adeptos vislumbraram que a forma e
delineamento das edificações, bem como o estado de conservação dos espaços pú-
blicos, poderiam favorecer a prática de certos crimes, seja franqueando o acesso a
estranhos (muros baixos ou até mesmo falta de muros e portões, janelas e portas dire-
tamente na calçada, varandas etc.), seja restringindo a vigilância (terrenos baldios, vias,
parques e praças mal iluminadas, ruas abandonadas, matagais, locais ermos em geral
etc.) (GARCIA-PABLOS DE MOLINA; GOMES, p. 347)

Figura 10 Figura 11
Fonte: Getty Images Fonte: Getty Images

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Nesta perspectiva, a mudança dos traçados arquitetônicos e até mesmo do planeja-
mento urbanístico, poderia evitar a prática de crimes. A proposta era que a melhoria do
estado de conservação do imobiliário urbano poderia ter contundente função preventiva.
Desta feita, ascendeu o repaginar urbanístico ao patamar de ferramenta de prevenção da
criminalidade recomendando medidas de reordenação da cidade como: reurbanização
de bairros carentes, iluminação das ruas, pavimentação, infra-estrutura educacional, polí-
ticas sociais de esporte e lazer, revitalização de áreas abandonadas, além da organização
estratégica das agências formais de controle da criminalidade como delegacias.

Com qual grau de certeza poderíamos afirmar que o desenho arquitetônico ou reurbani-
zação de certar áreas, por exemplo, seriam instrumentos eficazes na luta contra a crimina-
lidade? Qual a real influência dessas medidas nas estatísticas criminais? Quais espécies de
delitos seriam afetados pelas soluções propostas (patrimoniais, sexuais, contra a vida etc.)?
Você concorda com essa teoria?

A principal crítica tecida à Escola de Chicago refere-se à sua limitação, qual seja,
ao fato de não explicar, nem mesmo discorrer, sobre a criminalidade praticada fora
das áreas de delinquência, bem como de não mencionar a vítima em seus estudos.

Teoria da Associação Diferencial


Seu expoente foi o sociólogo americano Edwin Hardin Shuterland (1883-1950),
o qual, em sua obra White Collar Criminality (1949), eternizou a expressão crime de
colarinho branco.

Figura 12 Figura 13
Fonte: Wikimedia Commons Fonte: Wikimedia Commons

Desenvolveu estudos criminológicos voltados para a criminalidade perpetrada por


pessoas pertencentes às classes sociais financeiramente abastadas e politicamente
pertencentes aos mais altos escalões de poder como políticos, empresários, indus-
triais e homens de negócio, asseverando que essa casta social utilizava a função
pública ou a profissão para prática de crimes de natureza distinta daquelas cometidas
pela população em geral.

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Figura 14
Fonte: Getty Images

Não se ocupou da criminalidade ordinária, cotidianamente praticada pelas classes


sociais economicamente desfavorecidas.

Importante!
Estamos falando, portanto, da complexa criminalidade econômica, de intrincada logís-
tica, atualmente representada pela corrupção, peculato (apropriação funcional de bens
e valores públicos), fraudes à licitação, lavagem de valores, fraudes tributárias e evasão
de divisas, por exemplo.

Veja o vídeo “Sentença dá detalhes de como funcionava o mensalão do DEM para dis-
tritais”. Disponível em: https://glo.bo/30jWfLN

Mas o que leva uma pessoa com status social, político e econômico, componente
dos altos estratos da sociedade, a cometer crimes dessa natureza?

Podem ser indicadas as seguintes causas: sentimento de impunidade em razão da


posição socioeconômica que ocupam, ganância, premente necessidade decorrente
de adversidades econômicas como aquisição de altas dívidas, falência ou recupera-
ção judicial, recessão econômica, variações mercadológicas etc.

Luciano e 8 encontrados. Disponível em: https://bit.ly/33ZsOzy


Lucky Luciano entrando na prisão Sing. Disponível em: https://bit.ly/36dObQx

Apesar disso tudo, a aprendizagem é apontada como a principal origem desses


delitos, o que se nominou de associação diferencial.

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Mas o que seria exatamente essa associação diferencial?

Nada mais é do que o aprendizado, ou seja, a absorção das técnicas empregadas


nessa espécie de crimes como consequência da convivência cotidiana no ambiente
de trabalho ou em estreitos círculos sociais (parentes, amigos íntimos) com indivíduos
que já os praticam. Obviamente esses esquemas não são bradados ao vento, mas, ao
contrário, transmitidos e ensinados de forma velada e sub-reptícia, intimamente, em
pequenos grupos nos quais a confiabilidade impera.
Com poucas palavras: ninguém pode comportar-se como um criminoso
sem que tenha tido contato com grupos específicos, os quais apresentam
o comportamento desviante ao indivíduo. (VIANA, 2018, p. 274)

Em outros termos, a criminalidade de colarinho branco tem como fonte primá-


ria os processos espúrios de socialização, encontrando seu nascedouro em alguns
círculos ímprobos do convívio pessoal, os quais, em evidente técnica de sedução,
fascinam, atraem e impulsionam o indivíduo a esta forma de delinquência.

Para melhor entendimento da relação entre tal teoria e a aprendizagem, ler GARCIA-PA-
BLOS DE MOLINA. A.; GOMES, L. F. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos:
introdução às bases criminológicas da Lei 9099/95, lei dos juizados especiais criminais. 4ª
Ed. ver e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 374-376.

Pode–se dizer, decerto, que se estribou no mimetismo, pois, o indivíduo, em razão


da convivência, passa a reproduzir a prática ilícita aprendida com outros, em eviden-
te situação de imitação do comportamento criminoso.

Mimetismo é o processo pelo qual um ser se ajusta a uma nova situação.

Essa aprendizagem por imitação dos comportamentos só se verifica nos crimes de colari-
nho branco? Não poderia ser ela também a causa da criminalidade comum perpetrada por
membros das classes sociais desfavorecidas? A convivência nos subúrbios, guetos e favelas
não poderia também ser citada como gênese de crimes praticados pelos mais carentes em
evidente transmissão de uma cultura criminal? Poderíamos tecer uma crítica à parcialidade
dos estudos desenvolvidos pela teoria da associação diferencial, haja vista não analisar, pro-
fundamente, a etiologia dos crimes comuns?

Essa forma de criminalidade possui lesividade difusa, não atingindo bens, direitos
ou interesses particulares, ou seja, suas danosas consequências não vitimizam direta
e individualmente os membros da comunidade, mas a coletividade como um todo.

Recomenda-se a leitura de Shecaira, S. S. Op., cit. p. 199-201.

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Criminal e as Escolas Sociológicas

Você Saiba?
Que em nosso atual e vigente Direito Penal são chamados de crimes vagos os delitos que
não possuem vítima determinada, mas cujo sujeito passivo é a coletividade indetermi-
nada de indivíduos?

No que diz respeito ao controle social, a legislação penal vigente à época não se
mostrava tão rigorosa, prevendo a possibilidade de aplicação de penas restritivas de
direitos ou até mesmo de multa.

Interessante notar que o ordenamento jurídico penal pátrio vigente, destoando do abrandamento
das sanções previstas à época, direciona-se a um maior punitivismo cominando altas penas pri-
vativas de liberdade para delitos dessa natureza, as quais, frequentemente, inviabilizam a substi-
tuição por penas alternativas ou meramente pecuniárias. A título de exemplos podem ser citados
os artigos 312 (peculato), 317 (corrupção passiva) e 333 (corrupção ativa), todos do Código Penal,
prevendo penas de reclusão de 2 a 12 anos; a Lei 12850/13 comina pena de reclusão de 2 a 8 anos
ao crime de organização criminosa; a Lei 9613/98, ao tipificar as formas de lavagem de bens e
valores, prevê pena de reclusão de 3 a 10 anos e, por fim, a Lei 7492/86 define os crimes contra o
sistema financeiro nacional e, em seu artigo 22, ao tipificar o delito de evasão de divisas, comina
pena de reclusão de 2 a 6 anos.

Por derradeiro, na esteira da melhor doutrina, compactuamos com as duas prin-


cipais críticas desferidas contra a Teoria da associação diferencial:

Teoria da
associação diferencial

Críticas

Ausência de análise Não explica os indíviduos


da criminalidade comum das classes altas que
das classes desfavorecidas não são criminosos

Figura 15

Em 1929, em razão de diversos fatores, ocorreu a quebra da bolsa de valores de Nova York,
agravando sobremaneira a recessão econômica nos Estados Unidos da América. E. H.
Shuterland desenvolveu seus estudos sobre os crimes de colarinho branco à partir das décadas
de 1920/30. Em sua opinião, seria possível verificar uma relação de causa e efeito entre o crack
do mercado financeiro e o pensamento desenvolvido pela Teoria da Associação Diferencial?

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A Teoria da Subcultura Criminal
Primeiramente, cabe ressaltar que sua premissa básica é a mesma da Teoria da
Associação Diferencial, o processo de aprendizagem da conduta delitiva culturalmente
transmitido em um certo grupo social, o que muda é o foco, aqui a criminalidade juve-
nil, lá os crimes de colarinho branco.

Seu expoente foi o sociólogo norte-americano Albert K. Cohen (1918-2014) que,


em 1955, publicou a obra Delinquent Boys, versando sobre a delinquência juvenil.

Ao estudar a dinâmica da sociedade estadunidense das décadas de 1950/60, cons-


tatou que a construção principiológica, ética e moral da comunidade se encontrava ba-
lizada em premissas e valores culturais sólidos e homogêneos. Isto significa que estava
claramente estabelecido um padrão social a ser observado, imperando, à época, uma
cultura dominante, comumente aceita, respeitada e praticada na comunidade.

Pesquisar na internet sobre a cultura e o modo de vida W.A.S.P. (white, anglo saxon and
protestant) praticado durante as décadas de 1950/60 no Estados Unidos da América.

Durante aludido período, foi cultuado na sociedade norte-americana um estilo


de vida fundado nas tradições da família patriarcal estável, em princípios religiosos
inarredáveis e na busca por melhoria da condição financeira (estabilidade econômica)
a ser auferida através do rigor acadêmico, presente em todo o sistema educacional,
e da acessibilidade geral ao mercado de trabalho (pleno emprego).

Podemos dizer que se tratava de um estilo de vida “quadrada”, sustentado por 4


incontestáveis pilares: família, religião, educação e trabalho.

A submissão a esse estilo de vida era rigorosamente imposta pela própria estrutura
social, familiar, religiosa e mercadológica (profissional). Desta feita, qualquer comporta-
mento, ou até mesmo opinião, que andasse às suas margens, transgredindo tais premis-
sas, seria considerada ofensiva à cultura dominante e, por conseguinte, criminalizada.

Figura 16 Figura 17
Fonte: historydaily.org Fonte: publishing.cdlib.org

A meritocracia da sociedade impôs à juventude o propósito irrenunciável de conse-


cução de certos valores culturalmente propalados como, riqueza (casa, dinheiro, e carro

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UNIDADE A Criminologia Sociológica ou Sociologia
Criminal e as Escolas Sociológicas

próprios), sucesso e status social, no entanto, o Estado não providenciava a todos os


meios necessários (educação, pleno emprego) para o alcance das metas enunciadas.

À vista disso, havia clara disparidade entre os jovens das classes sociais alta, média
e baixa. As duas primeiras, com amplo acesso ao aparato legitimamente ofertado pelo
Estado para ir ao encalço dos objetivos sociais e patrimoniais impostos; a última não!
Tal situação resultou em injusta disputa na busca por melhores condições de vida.

No que diz respeito a uma específica parcela da juventude, a cultura socialmente


pregada de busca pelo chamado American Dream (riqueza, status social, melhores
condições de vida em geral), e a real acessibilidade ao aparato estatal e social que o
tornaria viável (educação de qualidade, qualificação profissional), são linhas paralelas
cujos traçados não se cruzam, tolhendo ou, no mínimo, embaraçando sobremaneira
a consecução de tal objetivo.

Importante!
Para a Teoria da Subcultura criminal, essa divergência entre disponibilização dos meios e ob-
jetivos proclamados é elevada à condição de causa primária da criminalidade infanto-juvenil.

Em outros dizeres, o Estado não era capaz de prover o instrumental suficiente para
que todos atingissem os parâmetros pré-estabelecidos pela cultura dominante (riqueza
e pleno emprego, por exemplo), dando azo a um grande vácuo na busca do sonho
americano e, por consequência, suscitando um sentimento de impotência, insatisfação
e frustração na parcela mais frágil e carente da juventude (SHECAIRA, 2004, p. 247).

É nessa conjuntura de diária exclusão socioeconômica que determinados jovens


(repita-se, os mais pobres e negros) buscaram a criminalidade como meio de se
verem aceitos em um subgrupo social, haja vista, se sentirem, injustamente, alija-
dos do acesso aos meios sociais disponibilizados para ascender na pirâmide social.
Eis a subcultura criminal; cujo ingresso nem sempre se deu por livre e espontânea
vontade, mas porque o jovem, diuturnamente, percebeu que estava cada vez mais
longe dos caminhos e recursos ofertados pela sociedade para alcançar os objetivos
culturalmente impostos (sonho americano) (BARATTA, 2002. p. 74).

Figura 18 Figura 19
Fonte: Getty Images Fonte: Getty Images

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Assim, esses jovens não detêm o poder de escolha entre o legítimo e a ilegalidade,
pois sua condição pessoal e a disposição da estrutura político-social determinam,
peremptoriamente, se eles pertencem ou não ao submundo do crime.

Veja o vídeo “Direitor degase – menor infrator”.


Disponível em: https://youtu.be/TVNQV1P-x2k

Em outros termos, ao se verem excluídos da dinâmica proposta pela sociedade


normal, em posição negacionista, desafiadora e até mesmo acintosa, esses jovens
criam um novo habitat social com regras, valores e culturas próprias. Eis o surgimen-
to das gangues!

Os novos hábitos são adquiridos e transmitidos pelos entrelaçamentos do convívio


cotidiano, em claro mecanismo de aprendizagem desse novo estilo de vida fugidio
da cultura dominante. É o momento de surgimento e agigantamento das gangues,
com regras, hábitos, postura e até mesmo, linguajar e vestimenta próprias, que lhe
são inerentes. Neste contexto, o delito é uma importante ferramenta para obtenção,
perante seus pares, da fama, respeito e sucesso a que sempre se viram negados na
sociedade dita normal.

Para entender melhor sobre o movimento social de formação das gangues neste contexto,
indispensável a leitura de GONZAGA, C. Manual de criminologia. São Paulo: Saraiva Educação,
2018, p. 117 - 118.

Figura 20
Fonte: Getty Images

Neste ponto, questiona-se: o que levaria um jovem a buscar a cultura do crime?

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UNIDADE A Criminologia Sociológica ou Sociologia
Criminal e as Escolas Sociológicas

Os teóricos da Subcultura criminal desenvolveram interessante estudo acerca das


razões que os levariam a praticar essa gama de delitos, composta principalmente
daqueles de ínfima lesividade como pequenos furtos, agressões leves, uso de drogas,
pichações, atos de vandalismo com depredações do patrimônio público, xingamen-
tos generalizados em vias públicas e perturbações da ordem de toda natureza, apon-
tando as seguintes causas:

Teoria da
subcultura criminal

Causas

Indignação e rebeldia Desânimo, desilusão Moral, status com o


Adrenalina
contra o sistema quanto ao futuro novo grupo social

Figura 21

Sobre as razões que levam a parcela da juventude a delinquir, indispensável a leitura de


SHECAIRA, S. S. Criminologia. Ed RT, 2004 p. 251 - 266.

O controle social, até mesmo pelas condições pessoais dos autores dos crimes (juven-
tude desfavorecida), não caberia, logicamente, ao Direito Penal, face à cristalina defici-
ência de ação preventiva e eficácia reeducadora. Efetivamente, as sanções penais acen-
tuam a finalidade repressiva e punitiva da pena mostrando-se inadequada e insuficiente
ao propósito de afastar os jovens da criminalidade. Desta forma, aposta suas fichas em
medidas extrapenais não punitivas, empregadas pelas instâncias informais de controle
do crime e voltadas para a reinserção social desses jovens, visando retirá-los do sórdido
e sem futuro submundo do crime, redirecionando-os à sociedade produtiva através do
sistema educacional e da realocação no mercado de trabalho (VIANA, 2018, p. 256).

Pequenos infratores. Disponivel em: https://youtu.be/qls_DHn8tkg

Em última análise, pelo menos teoricamente, a Teoria da Subcultura Criminal


aguarda, esperançosamente, que “a disputa por um lugar ao sol” ocorra em condi-
ções paritárias, franqueando a todos os estratos sociais a busca pelas metas e valores
impostos pela cultura dominante.

Para cumprimento de tal desiderato seria imperativa uma reforma estrutural da socieda-
de proporcionando à juventude delinquente os mesmos instrumentos e caminhos postos à
mão das outras classes sociais (média/alta), para que assim se veja equalizada a persecução
dos objetivos e parâmetros culturalmente propostos. Na sua opinião, isso seria possível?
Seria factível tal reforma de toda estrutura educacional e empregatícia na sociedade?

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Por derradeiro, nota-se que a Teoria em testilha enfoca sua pesquisa, em primeiro
lugar, na figura do criminoso e nas causas que o levam a delinquir, por segundo, no
controle social do crime, enfatizando o relevante papel preventivo e reeducador das
instâncias informais, relegando ao segundo plano a análise do crime em si e da vítima.

As Teorias do Conflito
Por outro lado, para a Teoria do Conflito, a heterogeneidade é inerente a qualquer
sociedade, a qual é composta por culturas e valores distintos e frequentemente con-
flitantes. As parcelas da sociedade discordam sobre os princípios, valores e regras
vigentes, e um determinado grupo, por divergir de outro, é por este compelido a
aceitar referidas premissas.

Suas vertentes entendiam inexistir coesão social voluntária e que, em razão de


diversidade ideológica e cultural, haveria situação de coerção entre as classes sociais,
ou seja, haveria submissão de um grupo de indivíduos a outro, sendo que aqueles
se sujeitam a estes, não em razão de sua vontade, mas por força da coação política,
econômica e social a que são subjugados.

Alguns grupos sociais divergem das normas e valores propagados na sociedade e


somente acatam as regras, pois são a tanto impelidos.

Resumidamente, a sociedade se estrutura e organiza, não pela coesão, mas pela


coerção social de um grupo subordinando outros a seus ditames.

Entende que toda e qualquer sociedade é conflituosa, ou seja, constituída por


contendas sobre os valores, princípios e regras vigentes. Tais embates, como por
exemplo: questões armamentistas, ambientais, descriminalização da maconha, po-
líticas econômicas ou educacionais, por se encontrarem arraigados no seio social,
desvelam um invariável duelo ideológico pelo poder.

Podem ser mencionadas como suas vertentes o Labelling Approach e a Criminologia


Crítica ou Radical, as quais serão pormenorizadamente analisadas em Unidade posterior.

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UNIDADE A Criminologia Sociológica ou Sociologia
Criminal e as Escolas Sociológicas

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Manual de criminologia
GONZAGA, C. Manual de criminologia. São Paulo: Saraiva Educação, 2018,
p. 91 - 114, que discorre sobre duas teorias: Teoria dos testículos despedaçados e
das janelas quebradas.
Criminologia
VIANA, E. Criminologia. 6 ed. ver. Atual e ampl. Salvador: JusPODIVM, 2018,
p. 267 - 270, que discorre sobre as leis da imitação de Gabriel Tarde como
fundamento da Teoria da Associação Diferencial.
Criminologia
SHECAIRA, S. S. Criminologia. Ed RT, 2004, p. 188 a 193, que discorre sobre
seus antecedentes fáticos
Criminologia Crítica e crítica ao Direito Penal
BARATTA, A. Criminologia Crítica e crítica ao Direito Penal. Introdução
à sociologia do Direito Penal. Coleção pensamento criminológico. Tradução
Juarez Cirino dos Santos. 3ª Ed. Rio de Janeiro Ed. Revan: Instituto carioca de
Criminologia, 2002, p. 69 - 76.
Difíceis ganhos fáceis – drogas e juventude pobre no Rio de Janeiro.
BATISTA, V. M. Difíceis ganhos fáceis – drogas e juventude pobre no Rio de
Janeiro. Coleção pensamento criminológico. 2ª Ed. Rio de Janeiro Ed. Revan:
Instituto carioca de Criminologia, 2003.

 Vídeos
Jovens Infratores
https://youtu.be/cA2t4uruwZM

 Filmes
O Mecanismo
Marco Ruffo (Selton Mello) é um delegado aposentado da Polícia Federal obcecado
pelo caso que está investigando. Quando menos espera, ele e sua aprendiz, Verena
Cardoni (Carol Abras), já estão mergulhados em uma das maiores investigações de
desvio e lavagem de dinheiro da história do Brasil. A proporção é tamanha que o
rumo das investigações muda completamente a vida de todos os envolvidos.
https://youtu.be/80NBF4O-guM
Cidade de Deus
Buscapé (Alexandre Rodrigues) é um jovem pobre, negro e muito sensível, que cresce em
um universo de muita violência. Buscapé vive na Cidade de Deus, favela carioca conhecida
por ser um dos locais mais violentos da cidade. Amedrontado com a possibilidade de se
tornar um bandido, Buscapé acaba sendo salvo de seu destino por causa de seu talento
como fotógrafo, o qual permite que siga carreira na profissão. É através de seu olhar atrás

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da câmera que Buscapé analisa o dia-a-dia da favela onde vive, onde a violência aparenta
ser infinita.
https://youtu.be/pUt-yPxOZqk
Juízo
Juízo acompanha a trajetória de jovens pobres com menos de 18 anos de idade
diante da lei, entre o instante da prisão e o do julgamento por roubo, tráfico,
homicídio. Com sequências filmadas em audiências reais e durante visitas ao
Instituto Padre Severino, local de reclusão dos menores infratores, as imagens
revelam as conseqüências de uma sociedade que manda os filhos ter “juízo”, mas
não o pratica.
https://youtu.be/OFIChJPrL4g

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UNIDADE A Criminologia Sociológica ou Sociologia
Criminal e as Escolas Sociológicas

Referências
BARATTA, A. Criminologia Crítica e crítica ao Direito Penal. Introdução à socio-
logia do Direito Penal. Coleção pensamento criminológico. Tradução Juarez Cirino
dos Santos. 3ª Ed. Rio de Janeiro Ed. Revan: Instituto carioca de Criminologia, 2002.

GARCIA-PABLOS DE MOLINA. A.; GOMES, L. F. Criminologia: introdução a


seus fundamentos teóricos: introdução às bases criminológicas da Lei 9099/95, lei
dos juizados especiais criminais. 4ª Ed. ver e ampl. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2002.

GOMES, L. F. MOLINA, A. G. de. BIANCHINI, A. Direito Penal. vol. 1 Introdu-


ção e princípios fundamentais: São Paulo. Ed Revista dos Tribunais, 2007.

GONZAGA, C. Manual de criminologia. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

PENTEADO FILHO, N; S. Manual esquemático de criminologia. 10. ed. São


Paulo: Saraiva Educação, 2020.

SÁ, A. A. de. Criminologia clínica e execução penal: proposta de um modelo de


terceira geração. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. (e-book)

SHECAIRA, S. S. Criminologia. Ed RT, 2004.

VIANA, E. Criminologia. 6ª. ed. ver. Atual e ampl. Salvador: JusPODIVM, 2018.

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