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Rev. Univer. Bras., v.X, n.X.

0XX-0XX (20XX)

Revista Universitária Brasileira


Exemplo et al

A relação entre a teoria da anomia e a teoria da subcultura da


OPENdelinquência na explicação da criminalidade juvenil.
JOURNAL
SYSTEMS
RESUMO
ISSN: 2965-3215
O trabalho que ora se apresenta visa discorrer em breves linhas, sobre a Teoria da Anomia de Robert
Merton, fazendo uma associação com a Teoria da Subcultura da Delinquência de A. Cohen, no que se
refere à explicar a delinquência juvenil e neste contexto, demonstrar, à luz das referidas correntes
sociológicas, que a impossibilidade de alcance de metas culturais impostas à sociedade, resulta na
produção de comportamentos desviantes, especificamente, da delinquência juvenil, visualizada no
contexto de uma subcultura, a qual é caracterizada como reação ao sentimento de frustração
vivenciado pelos indivíduos não possuidores de meios legítimos para atingir os referidos padrões
sociais.

Palavras – chave: Anomia. Criminologia. Delinquência

The relationship between anomie theory and delinquency subculture


theory in explaining juvenile crime.

RESUMEN
The work presented here aims to briefly discuss Robert Merton's Theory of Anomie, making an
association with A. Cohen's Theory of the Subculture of Delinquency, with regard to explaining
juvenile delinquency and in this context, demonstrating , in light of the aforementioned sociological
currents, that the impossibility of achieving cultural goals imposed on society, results in the
production of deviant behaviors, specifically, juvenile delinquency, viewed in the context of a
subculture, which is characterized as a reaction to the feeling of frustration experienced by individuals
who do not have legitimate means to achieve the aforementioned social standards.

Keywords: Anomie. Criminology. Delinquency

1. Introdução
O fenômeno do crime pode ser compreendido sob diversos enfoques e
suas respostas são analisadas por teorias e análises que buscam não só compreendê-
lo, como também, encontrar respostas eficazes para modelos de prevenção e
repressão.
Sob a presente ótica, a criminologia possibilita a pesquisa
comportamental da prática criminosa sob um ângulo de análise múltiplo, visto que
permeia o viés do criminoso, da vítima e das ferramentas de controle social, bem
como, a repercussão das condutas na sociedade.
O presente trabalho procura analisar a Teoria da Anomia, a qual, sob a
ótica de Robert K. Merton procurou relacionar o fenômeno criminológico ao
desequilíbrio apresentado em grupos sociais, nas quais se verifica a
supervalorização de metas culturalmente impostas na sociedade, restando aos que
não obtém meios legítimos para atingir tais objetivos, buscá-los através de
condutas desviantes.

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Ainda é feita uma relação da Teoria da Anomia de Robert K.Merton com


a Teoria da Subcultura da Delinquência, consagrada pela obra Delinquent Boys de
Albert Cohen, considerando-se o comportamento da delinquência juvenil como
resposta ante a frustração dos objetivos não alcançados perante a sociedade e seu
conjunto de regras e valores de sucesso.
Para tais análises, foi utilizada a revisão bibliográfica através de artigos e
obras relacionadas ao tema, traçando uma análise da evolução das teorias
criminológicas para a compreensão do assunto em análise.
Por fim, são elencadas sugestões de políticas públicas voltadas à inclusão
do jovem na sociedade, dentro de uma concepção de inclusão e pertencimento
coletivo, visando com tais medidas, à redução dos números da criminalidade entre
o referido grupo.

2. Desenvolvimento

A criminologia pode ser compreendida como uma ciência que tem por
vetores, a análise do crime, do criminoso, as circunstâncias que levam o indivíduo
ao cometimento do crime, bem como, as formas de prevenção do delito.
Neste contexto, o crime e suas causas dão escopo à referida ciência, a
qual pode assim ser definida como¹:
Uma ciência empírica e interdisciplinar, que se preocupa do estudo do crime, da
pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que
trata de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e
variáveis principais do crime – contemplado este como problema individual e como
problema social - assim como sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e
técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos modelos ou
sistemas de respostas do delito.

Neste diapasão, diversas correntes doutrinárias se propuseram a


identificar as razões do crime, de forma que a criminologia tradicional, analisou o
delito a partir de três teorias básicas: a da escola clássica, a da escola positivista e a
da sociologia criminal².
A Escola Clássica baseava-se em ideais filosóficos e humanistas-
racionalistas e teve como um de seus representantes, Cesare Beccaria (1764), o
qual, com a clássica obra “Dos delitos e das penas”, segundo lições de Roque de
Brito Alves³, “humanizou o Direito Penal e a própria aplicação da Justiça
Criminal”. A referida escola analisava o crime como a ruptura do pacto social, não
se preocupando, contudo, com a etiologia do delito, elencando ainda o livre-arbítrio
do homem em relação às suas ações e que este se tornava criminoso por vontade
própria.
Em sentido oposto, a Escola Positivista destava a personalidade do
delinquente como nexo do fenômeno criminal e se caracterizava pela influência
dos estudos biológicos e psicológicos, destacando-se as teorias de Enrico Ferri,
Rafale Garófalo e César Lombroso.
O primeiro destacou-se pela condicionante sociológica, Garófalo foi o
pioneiro na utilização da expressão "Criminologia" para as ciências penais e
realizou estudos sobre o crime, o delinquente e a pena e Lombroso notabilizou-se
por ser considerado o criador da Antropologia Criminal, tendo pesquisado o delito
como fenômeno biológico e destacado-se pela obra L´uomo Delinquente (1876),
inaugurando a Escola Positiva Italiana.

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Em relação à referida escola doutrinária, discorre Lélio Braga Calhau⁴:

As idéias de Lombroso sustentaram um momento de rompimento de paradigmas no


Direito Penal e o surgimento da fase científica da Criminologia. Lombroso e os
adeptos da Escola Positiva de Direito Penal rebateram a tese da Escola Clássica da
responsabilidade penal lastreada no livre-arbítrio.

Em seguida, surge a fase da Sociologia Criminal, com teorias contrárias


às idéias defendidas pelo Positivismo, sendo o 3º Congresso de Antropologia
Criminal em Bruxelas (1892) considerado como marco inicial do predomínio das
teorias sociológicas.
A teoria Sociológica destaca-se pela abordagem do crime como um
fenômeno de ordem coletiva, sujeito ao viés do determinismo sociológico e
suscetível de previsibilidade, reconhecendo a miséria, ambiente moral e educação.
Dentre os representantes da Sociologia Criminal, Émile Durkheim,
destacou-se em virtude de sua generalidade, de forma que o crime seria um
fenômeno presente em todas as sociedades.Neste sentido, Durkheim afasta o
caráter patológico do delito, analisando-o como resultante das relações sociais e
traz para a análise do comportamento social o conceito de anomia.
A expressão “anomia” tem origem grega, vem de anomos (a representa
ausência, inexistência, privação de; nomos, é lei formal) e em sua concepção
etimológica, define a falta de lei ou falta de norma de conduta e reflete a corrente
teórica surgida em um momento onde se apresentavam mudanças sociais e crise
nos modelos e normas das sociedades, destacando-se como principais
representantes: Durkheim, Merton, Cloward e Ohlin, enfatizando-se, no trabalho
em tela, as teorias dos dois primeiros autores mencionados⁵.
Foi Émile Durkheim o pioneiro à utilizar a referida expressão
associando-a como uma explicação de fenômenos sociais em seu estudo acerca da
divisão do trabalho social e do suicídio. Depois dele, diversos autores vieram
abordar o conceito de anomia, contudo, apresentando variações acerca do conceito
exato no que se refere aos pontos de vista rigorosamente científico e sociológico⁶
Frente às concepções tradicionais, a tese de Durkheim significa, em
suma, admitir que o delito é um comportamento normal, à luz de supostas
anomalias do sujeito, mas, inserido na própria estrutura da sociedade, como se
representasse “outra face da moeda” em relação ao grupo social disciplinado por
regras norteadoras de conduta.
E nesse diapasão, a concepção da “Anomia”, segundo Durkheim⁷, resulta
na falta de efetividade ou desmoronamento de normas e valores em vigor na
sociedade, em decorrência do célere desenvolvimento da economia e as alterações
sociais decorrentes destas situações, o que resulta no enfraquecimento da
consciência coletiva, por uma sensação de desconexão, não pertencimento.
De forma que, com a perda da visão de obra comum e do seu sentido,
resulta em um enfraquecimento da interação, obstaculizando, por consequência, a
existência de relações baseadas no consenso, na idéia de conjunto, o que, em suma,
reflete que o conjunto de normas comuns que constitui o principal mecanismo para
a regulação das relações entre os componentes de um sistema social se desmorona.

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Durkheim qualificou tal situação por anomia, relacionando ao um


estado de ausência de normas.
O conceito “anômico” porque ocorre em um estado excepcional que só se
dá quando há uma crise doentia, um estado de desregramento da sociedade, "a
partir do momento em que nada nos detém," escreve Durkheim, "deixamos de ser
capazes de nos determos a nós próprios."
Neste compasso, a teoria da Anomia de Durkheim é reelaborada pela
sociologia norte- americana, destacando a teoria elaborada por Robert K.Merton, o
qual procura dar explicação ao comportamento desviado, através da análise da
sociedade norte-americana, enfatizando que a anomia não se enquadraria apenas no
desmoronamento ou crise de valores ou normas sociais em determinadas
circunstâncias, mas, retrata ainda o sintoma ou expressão de vazio que se produz
quando os meios socioculturais existentes não servem para fazer as expectativas
culturais de uma sociedade.

2.1 A Teoria da Anomia sob a Ótica de Robert K. Merton

Robert Merton analisou a anomia sob a ênfase que esta não seria
resultante do desmoronamento ou uma crise de valores e normas em razão das
circunstâncias sociais, conforme Durkheim, mas, que esta seria decorrente de
fatores sócio-culturais existentes na sociedade, em decorrência de uma disfunção
estrutural, crônica, endêmica e inerente a certo modelo de sociedade¹º.
Segundo o referido autor, a situação de anomia é verificada quando se
constata uma tensão entre as metas culturalmente existentes na sociedade e a
impossibilidade de o indivíduo alcançar estes objetivos utilizando-se de meios
legitimamente aceitos, levando-o, por consequência, à criminalidade como forma
de obter êxito em relação a seus propósitos.
Neste contexto, a anomia pode ser compreendida como uma situação de
rompimento entre as metas e valores tidos como objetivos sociais a serem
alcançados pelo indivíduo e a incapacidade de atingi-los, levando-o ao
comportamento desviante.
A anomia é então concebida como uma ruptura na estrutura cultural,
ocorrendo, particularmente, quando há uma disjunção aguda entre as normas e
metas culturais e as capacidades socialmente estruturadas dos membros do grupo
em agir de acordo com as primeiras. Conforme essa concepção, os valores culturais
podem ajudar a produzir um comportamento que esteja em oposição aos mandatos
dos próprios valores
Segundo a teoria do referido autor, o grau de anomia de um sistema
social pode ser verificado a partir da ausência de consenso quanto à aplicação e
preservação das normas tidas como legítimas, ressaltando que o descumprimento
destas normas, leva a um estado de insegurança nas relações sociais.
Robert Merton explica em sua tese, que a anomia “é o conflito entre os
objetivos culturais e a possibilidade de usar os meios institucionais – qualquer que
seja o caráter do objetivo – que produz uma tensão em direção à anomia”.
A teoria de Merton baseou-se na sociedade norte-americana, inserida na
filosofia do sonho americano (american dream) e veio a observar que todo
contexto sociocultural desenvolve metas culturais, as quais norteiam a vida dos
indivíduos, ao mesmo tempo, que este mesmo grupo social, determina os meios
institucionalizados para que estas metas sejam atingidas.
E em seu estudo, para elaboração da citada teoria, o referido autor foi

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buscar as metas mais importantes da sociedade norte-americana: status social,


sucesso na vida, riqueza e prestígio e que estes objetivos, tidos como padrões,
deveriam ser almejados por toda coletividade, sem exceção. Contudo, em sua tese,
analisou que muito embora existissem tais objetivos, estes não eram permitidos
serem alcançados por todos do grupo social, resultando em um desajuste entre os
objetivos tidos como mais importantes do grupo social e os meios legítimos para
consegui-los.
De forma que, segundo a referida análise, a discrepância entre as metas
impostas socialmente e os recursos para o êxito do indivíduo, levaria o indivíduo
ao cometimento de condutas desviantes¹¹.
Disso resulta um desajustamento entre os fins sugeridos a todos os
cidadãos e os recursos oferecidos para a sociedade para o alcance destes objetivos
alcançá-los Como resultado, surgem os comportamentos individuais e mesmo de
grupos, a encontrar outros meios para atingir as metas, mesmo que contrários ás
normas estabelecidas pela sociedade como válidos para isso.

2.2 A relação entre a teoria da anomia e teoria da subcultura da delinquência de


Cohen.

Albert Cohen, autor da obra Delinquent Boys, utilizou-se da Teoria da


Anomia de Robert Merton, para explicar a delinquência juvenil, partindo da
premissa que existência de uma estrutura de classes é causadora da delinquência, a
qual se apresenta como um produto de soluções coletivas para os problemas de
status, necessidades e frustrações das classes baixas num mundo de valores de
classe média, sendo vista como “uma cultura dentro da cultura”:
Neste contexto, pode-se se compreender que¹²:
A subcultura advém de uma certa reação conflituosa e de rejeição às normas
instauradas na comunidade. Deste conflito, que gera frustrações face à cultura
dominante surgem as subculturas delinquentes. Assim, nesta nova cultura que nasce
dentro mas de forma oposta à cultura dominante, os elementos convertem-se a um
sistema de crenças e valores em ação.

Assim, na visão de Cohen, a delinquência juvenil seria resultante da rejeição


dos valores das classes dominantes, vez que estes valores não fazem parte da
realidade dos jovens que pertencem à classes de menor poder aquisitivo e assim,a
formação de um bando é o desfecho natural para os indivíduos daquelas classes,
que se reúnem por seus sentimentos comuns de hostilidade.
Neste diapasão, a subcultura da delinquência, portanto, emerge dos extratos
inferiores da sociedade, do jovem de classe baixa, baseado no sentimento de
frustração por não ter alcançado os objetivos culturalmente valorados e essa
frustração resulta na negação desses valores predominantes, fazendo com que se
construa um conjunto de valores próprios daquele grupo (subcultura) harmonizados
com sua realidade, de forma que a subcultura da delinquência surge como uma
reação contra a sociedade, em decorrência do sentimento de exclusão.

Conforme Albegaria¹³ o menor da classe baixa assume uma virtude


ambivalente ante os valores da classe alta e os valores da classe baixa. Essa atitude
de ambivalência resolve-se de três modos:

a) o menor abandona o seu modo de vida original em favor do padrão de educação da

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classe média, ao torna-se colegial;


b) o menor permanece conformista: aceita suas limitações e faz melhor para seguir os
padrões da classe baixa. Evita as frustrações ou desapontamento do colegial, que
abandona o seu meio;
c) o menor adota a solução do delinquente, rompendo com valores tradicionais. Esses
menores constroem a subcultura delinquente com suas normas e valores, que se
opõem às normas e valores da classe média: suas normas são certas e justas porque
consideram erradas e injustas as normas da classe média: estas normas mostram a sua
polaridade negativa. As normas de subcultura justificam o furto, o vandalismo e a
violência, porque são condenados pela classe média.

Quanto ao surgimento da referida Teoria, Molina¹⁴ analisa que o


primeiro momento da teoria, é de democratização do denominado american dream,
cujos valores se disseminam tanto no âmbito das classes com poder aquisitivo
quanto nas classes baixas:
O primeiro momento a teoria é a idéia da total democratização do chamado american
dream: tanto os jovens das classes possidentes como os jovens das classes baixas
ineriorizam e começam por aderir à ética do sucesso que preside a toda a sociedade
americana. Tanto uns como outros participam, com igual legitimidade, na competição
pela realização pessoal, pelo sucesso, peça aquisição de status, em síntese, pela subida. E
é ainda por obediência á mesma ideologia igualitária e democrática que a todos se aplicam
os mesmos critérios de sucesso e distribuição de status.

Contudo, este critério democrático, na prática, apresenta-se extremamente


discriminatório, pois são típicos critérios da classe média, de forma que estes
valores seriam aplicados a todos do grupo social, denotando, contudo, as
desvantagens enfrentadas pelos jovens das classes trabalhadoras, haja vista, a
redução de oportunidades, mesmo diante de objetivos e padrões impostos sem
observância quanto à viabilização de alcance das referidas metas por todos, através
dos meios considerados legítimos.
Ocorre que, os menores dessa classe, não têm os meios e oportunidades
para lograr êxito e tem na escola, o ambiente propício à constatação do insucesso e
tal percepção se enfatiza no ambiente escolar, local onde o contraste se torna mais
nítido e mais condicionante da sorte dos jovens das classes trabalhadoras, visto que
no referido ambiente, o jovem passa a ser julgado segundo os mesmos padrões,
embora em status e condições diferentes.
Assim, tem-se por consequência a evidente sensação de humilhação,
angústia e culpa suportados pelos jovens de classes trabalhadoras, devido à
assimilação da cultura do (in) sucesso, de forma que, os jovens de classe baixa, que
vivem em áreas pobres, não alcançam, pelos meios convencionais, o sucesso
almejado dentro das metas socialmente definidas, vindo a desenvolver, portanto,
sentimentos de anomia pela tensão, vivendo em um conjunto único de valores
culturais e símbolos.
Logo, os sentimentos de inferioridade e de exclusão, evidenciam a
motivação do agrupamento de jovens das camadas excluídas da sociedade,
funcionando como uma resposta à sociedade.
Os jovens de classes trabalhadores se encontram em flagrante
desvantagem na corrida pelos bens escassos, desvantagem esta, sobretudo pelo teor
da socialização, uma vez que é no processo de socialização que se distingue uma
classe social da outra. Neste contexto, os oriundos das camadas excluídas estão
fadados ao fracasso, que por sua vez, provoca um forte sentimento de frustração e
humilhação, angústia e culpa. Uma possível saída é repudiar o jogo e sair dele,

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criando um novo jogo com próprias regras e critérios possíveis de se realizar. O


agrupamento de um número considerável de jovens nesta situação é inevitável,
criando-se assim, uma cultura delinquente. O processo é de reação-formação, ou
seja, a ruptura da cultura e de acolhimento da nova subcultura.
E nesta associação, a prática de delitos será compreendido como um
resultado da identificação destes jovens em relação às práticas e valores inerentes à
subcultura delinquente.
Ressalte-se que, nessa subcultura, compreendida como uma cultura que
nasce no interior de outra, mas com valores opostos àquela que se apresenta como
dominante, existe o processo de aprendizagem, socialização e assimilação de
valores, surgindo uma espécie de código interno que regulará as ações daqueles
indivíduos, inclusive, valorizando condutas criminosas
Este processo leva à interiorização de um código moral específico ou
cultural permitindo e favorecendo a ocorrência do crime. O delinquente vai, dentro
da subcultura, querer corresponder às expectativas dos outros elementos integrantes
que incentivam atos delinquentes. Desta forma o delinquente pretende atingir
dentro do seu grupo o status que lhe foi negado ou dificultado dentro da cultura
dominante.
Este processo leva à interiorização de um código moral específico ou
cultural permitindo e favorecendo a ocorrência do crime. O delinquente vai, dentro
da subcultura, querer corresponder às expectativas dos outros elementos integrantes
que incentivam atos delinquentes.
Desta forma o delinquente pretende atingir dentro do seu grupo o status
que lhe foi negado ou dificultado dentro da cultura dominante. A dificuldade do
delinquente em enveredar pela aceitação das normas da sociedade em que se insere
parte de uma desigualdade e descriminação que sofre dentro dela. Ou seja, a
cultura dominante impõe um código de conduta para a procura do sucesso que não
está ao alcance de todas as classes.
Em conformidade ao texto de Liberati¹⁵, a anomia em relação aos valores
da classe média estimula a formação da subcultura delinquente: “Ao invés de
aspirarem a ser "mauricinhos" e "patricinhas", ou mesmo “yuppies, eles se
empenham em ser valentões, arruaceiros e espertos, malandros das ruas”. Em
outras palavras, sentimento de anomia e exclusão encorajam os cidadãos de classe
baixa a formarem uma subcultura independente, que se tornará sua base de
sustentação. Eles podem falhar na interação com a sociedade convencional, mas
são os reis e rainhas da vizinhança.
Logo, compreende-se que a subcultura da delinquência, sob a ótica da
teoria de Cohen, resulta àqueles indivíduos que participam do grupo, uma sensação
de êxito, de status, que a cultura dominante não reconhece, uma espécie de êxito às
avessas, pois o sucesso social é alcançado dentro de regras que vigoram na
subcultura e não, perante os códigos de conduta e valores da cultura em vigor.
Em relação ao perfil do grupo delinquente, na visão de Cohen, aquele é
composto de jovens masculinos das classes mais baixas e o crime não é praticado
para a realização de qualquer finalidade, cometendo-se o crime pelo próprio crime
e seus atos se destacam pela malignidade, pois na conduta dos delinquentes, são
revelados o prazer em agredir ou molestar pessoas. A participação no grupo
representa uma válvula para a agressão, aliviando a sua frustração.
De forma que, estes grupos convivem sob regras e valores de conduta
específicos, alheios aos valores que norteiam as relações da sociedade em geral,
notadamente, no âmbito da classe média e classe média alta, resultando em um

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estado de anomia, bem como, esta reação, se enquadra em um sentimento de reação


à frustração do não alcance das metas e objetivos, que diante da ausência de meios
institucionais para atingir o êxito almejado, são considerados impossíveis.

3. Considerações Finais

Através das referidas teorias, é possível relacionar o fenômeno da


criminalidade juvenil, como resposta à modelos sociais inalcançáveis pela sua
maioria, vistas as desigualdades de meios e oportunidades para seu atingimento.
A aplicação de políticas públicas inclusivas ao jovem, serve como um
caminho de transformação social, no sentido de possibilitar o alcance de recursos
em condições igualitárias, que promovam a sua insersão nas áreas de educação,
lazer cultura, atividades profissionalizantes, bem como, ações que possam fazer
com que o jovem seja visto como um sujeito de direitos e deveres na coletividade e
que deve também desempenhar um papel protagonista no cenário em que vive.
Além disso, construir ferramentas de diálogo com participação da
família, escola, sociedade civil em geral, para que surjam mecanismos coletivos de
inclusão, a fim de que os jovens, passem a ter um olhar de pertencimento ao grupo
e possam olhar o futuro com perspectivas positivas e cientes de sua capacidade de
agente transformador, longe de violência e criminalidade.

4. Agradecimentos

Agradeço à Deus por sempre estar à frente de todos os projetos de minha


vida, agradeço ao Centro Universitário UNIBRA, bem como, ao Coordenador do
Curso de Direito João Roberto, pelo apoio e oportunidade e aos meus parceiros de
artigo João Alberto Marques e Maria Lago por aceitarem mais um desafio.

5. Referências Bibliográficas:

[1] GARCÍA, Pablos de Molina. A Criminologia: Introdução e seus fundamentos.


2ª ed. ver. atual. e ampl., São Paulo: Editora dos Tribunais,1997.

[2] ANTUNES,Laudelina Inácio. O Egresso do Sistema Prisional e a rotulação.


Disponivel<http://www.revistapersona.com.ar/Persona51/51Laudelina.htm.>Acess
o: 01 dez. 2023.

[3] ALVES, Roque de Brito. Programa de direito penal (parte geral). Pernambuco:
Ed. FASA, 1997. p.28-29.

[4] CALHAU, Lélio Braga. Cesare Lombroso. Criminologia e a escola positiva do


direito penal. Disponível em: <www.jusbrasil.com.br/.../comentarios-cesare-
lombroso-criminologia-e-a-escola-positiva-de-direito-penal>.Acesso em 01
dez.2023.

[5] ALBERGARIA, Jason. Criminologia. Teoria e Prática 2º ed. Edta. AIDE, 1988.

[6] ROSA, F.A de Miranda. Sociologia do direito: O fenômeno jurídico como fato
social. 7ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981.

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[7] FABRETTI, Humberto Barrionuevo.Teoria do Crime e da Pena em Durkheim:Uma


concepção Peculiar do Delito Disponível em
www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/.../humbertorevisado.pdf> Acesso em 02 dez. 2023.

[8] GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, A. op. cit, p. 254

[9] LIBERATI, Wilson Donizeti. Teoria da subcultura delinquente: Como surgem as


ganguesjuvenis.Disponívelem:http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevCiencJurid/article/
view/8993/5030> Acesso em 05 dez 2023.

[10] Liberati, op.cit..

[11] SOARES, Janine Borges Soares. O garantismo no sistema infanto-juvenil.Disponível em


http://www.mp.rs.gov.br/infancia/doutrina/id214.htm.Acesso em 03 dez. 2023.

[12] GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, A. op. cit. p. 289.

[13] ALBEGARIA, Jason. op cit. p..132.

[14] GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, A. op. cit. p. 287.

[15] Liberati, op.cit..

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